terça-feira, 20 de setembro de 2022

Pedestal de pedra esculpido com simbologia cristã e maçónica em Ansião

Crónica com resumo publicado no Jornal Serras de Ansião em setembro de 2022

Ostenta o Cimo da Rua do passado medieval ,a casa da Ti Zulmira Portela.

A conheci peixeira, e recordo armada de carro de madeira, balança de pratos a redor de gatos a cheiro de guelras. Impressiona a fachada austera de sobrado, vestida a pedra nas janelas com aventais pequenos, piais, óculo e escada interior, grande que enxergava quando tinha a porta aberta. 

                             
                                       
O largo do terreiro do Cruzeiro foi palco de muitos bailaricos das gentes da geração anterior à minha
Em 1902, o meu bisavô Francisco Rodrigues Valente foi o mestre-de-obras da rede de fontanários na vila. Artista de muita obra camarária no concelho, limpava as areias do canal da mina da Garreaza, até ao castelinho, para a água se manter cristalina e pura.
Embelezou com ameias o depósito no tardoz do Cruzeiro, a jus de castelinho. A razão? Das viagens a Lisboa e do Brasil.
                  
Pasmei estupefacta com a autorização da construção da casa que abafa o castelinho...
Há falta de valores a proteger o nosso património!
A mãe da minha amiga da escola, Irene Freire recorda ouvir um sino...No buraco do Cruzeiro, onde foi incisa a pequena Cruz, passou a ser firmada a Bandeira da Misericórdia, quando voltava a procissão de NSPranto ao badalar do sino pelo sacristão, seguindo para Além da Ponte. A Cruz desapareceu possivelmente com os invasores franceses, que acamparam no Cimo da Rua , sendo de encaixe, era fácil de tirar.

Em 2015 identifiquei nas faces do pedestal simbologia Católica e Maçónica, que divulguei neste Blogue.

Simbologia à Fé Cristã :
Cálice  e Coroa de espinhos
Símbolo jesuíta de três setas da Companhia Jesuíta de IGNCIO DE LOYOLA na Granja
Coração de Viana do Castelo na ligação aos afetos, do Minho vieram povoadores  e a veneração ao culto ao Sagrado Coração de Jesus,  o coração ostenta um buraco ao meio onde devia estar uma seta, o culto  foi incrementado no século XVIII em Portugal. E a lança.

Simbologia ligada à  Maçonaria
Utensílios de pedreiro em alusão aos maçons- pedreiro; escada, picareta,  turquez e martelo. 

Já antes escrevi sobre esta temática
https://quintaisisa.blogspot.com/2018/10/maconaria-na-regiao-de-ansiao.html https://quintaisisa.blogspot.com/2018/10/maconaria-na-regiao-de-ansiao.html

Na frente para norte Cálice alusivo á fé católica e em baixo escada alusivo à maçonaria

                                                       

Culto ao Sagrado Coração de Jesus, já lhe falta a seta, resta o buraco onde enfiava
Lança
Coroa de Espinhos

Símbolo jesuíta  de três setas
Encontrei  este símbolo no lintel do paço da Granja , Santiago da Guarda  "IGNCIO DE LOYOLA (_) DA COMP.A DE IHS ROGAI POR NOS"

Portal do paço na Granja que foi dos Jesuítas de Évora
Picareta alusiva à Maçonaria
Turquez
Após a divulgação em 2015 a limpeza dos líquenes as esculturas mostram-se mais percetíveis

Benfeitoria com arte urbana

Subia a rua para sul quando enxerguei a pintura, alegre, vestida de amarelo com margaridas às cores que no imediato me reportaram para a casa de Amália Rodrigues, no Brejão. 

A minha critica construtiva-  "velhinho" pese de cara bem retratado, o baixo ventre foi mal equacionado, pela evidencia de uma dobra a mais...o que reclama o meu olhar como o copo na mão, não faz sentido, que foi e é uso termal, aqui na fonte a água saciava-se com as mãos em conchinha ou em caneco cerâmico de aparar a resina...

César Nogueira aborda num dos seus livros "o marco de pedra secular com o buraco onde teria estado enfiada a cruz, fazendo alusão à crucificação de Cristo. Em alto-relevo e nas quatro faces vários instrumentos com que foi pregado à cruz."

Agracio o leitor a relembrar excertos de dois dos seus contos que lhes cruzei ligação a Ti Faustina dizia que foi no 5 de outubro de 1810, que chegaram os franceses por volta do meio-dia cheios de fome, escolheram a quinta que era num alto, cortaram as oliveiras e fizeram uma muralha em redor do acampamento. Roubaram tudo o que encontraram de comer nas casas, menos animais que o povo soltou, das talhas tiraram o azeite para torcidas feitas com os lençóis das arcas, parecendo dia na noite fria. No dia seguinte andaram por toda a vila e roubaram o que puderam. Nem a igreja respeitaram. Um pobre homem que apanharam e se recusou a dar-lhe dinheiro, o tinham sacrificado. Despiram-no e enfiaram-lhe no cu uma vela a arder que o fazia gritar de dor, cada vez que a cera, ao derreter, o queimava. Dizia mais tarde “ E eu que não tinha dinheiro, do cu me fizeram candeeiro”. Passados dias, abalaram com as mochilas cheias. Passaram uns anos e o boticário Portela comprou, algures, umas papeladas velhas para embrulhar os preparos dos remédios, encontrando um rol com trastes de ouro, roubados, e que dizia, pelos jeitos, estarem escondidos na casa da eira da quinta onde estiveram acampados os franceses. Por alguma razão se esqueceram de levar aquele ouro, ou quem o escondeu tenha morrido. O Portela calou-se bem calado, e tratou de comprar a Quinta. E, dizia-se por aí à boca pequena, que realmente o tesouro, tal, como dizia o papel, estava lá. E o que é certo, é que dum momento pró outro, desatou a comprar tudo o que aparecia. Mais tarde vendeu a quinta ao Sr. Chico do Fundo da Rua.

Conto que entronca no do Francês “amalandado. Em crer, quem roubou o ouro da igreja que embrulhou em papéis do seu cartório e o escondeu na casa da eira, adiante se verá que foi morto, por isso foi descoberto mais tarde (…) o carreiro dos Verdinegros antes de fugir de casa escondeu no peal da cozinha 30 libras da venda da junta de bois. Com o dinheiro no pensamento, no outro dia antes do sol fora, ouviu a gralhida dentro da sua casa com os franceses e uma magana, que também palrava - “de súpeto”, vai-se a virar, e ficou sem pinga de sangue, na sua frente, um “Diab’alma” dum grande francês façanhudo, que viria verter águas ou dar de corpo. Arregalou os olhos e já a abrir a boca, sem tempo de a fechar – espeta-lhe no bandulho a vara de picar os bois, de zambujo, com aguilhão afilhadinho, que nem uma lanceta. Calhou ao lado estar a cova de caldar o bagaço, para onde o empurrou e tapou com palha. Dai a pouco ouviu uma grande algaraviada à procura dele e nada…depois de abalarem fez-lhe em cima uma borralheira e plantou uma figueira pedral, a “figueira do francês”.

Sugere-se estudo à catalogação do pedestal, admito ser setecentista, sendo reposta à época a Cruz, a jus do que existiu no Montijo e foi retratado na aguarela de 1669 de Pier Baldi.

De momento não encontro a foto do Cruzeiro que existiu no Montijo semelhante ao nosso, logo que possa, virei aqui publicar.

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