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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Alcaçarias de Alfama de águas termais quentes e frias

Lisboa, na Rua do Cais de Santarém, a quem por ali  passa não é alheio a volumetria do vistoso Chafariz e do Palacete no seu tardoz. A situação que mais me indignou e embaraçou em pleno dia foi constatar uma mulher jovem a baixar as calças e sem modos ou vergonha fez a sua necessidade fisiológica em frente do chafariz em pleno dia...

Inicialmente conhecido por Chafariz de S. João da Praça, adquiriu a sua atual designação, em virtude das obras empreendidas por D. Dinis. Referenciado desde 1220, é o mais antigo chafariz de Lisboa e foi, durante muito tempo, a principal e quase exclusiva fonte de água potável da cidade.

O Palacete do Chafariz D'El Rei também conhecido por Palacete das Ratas, foi iniciado em 1907 sob a ruína do Palácio do Marquês de Angeja, destruído pelo terramoto de 1755. Trata-se de um edifício eclético de estilo neo-mourisco  com interiores bem ao estilo da chamada Arte Nova Brasileira, muito em voga no virar de século. Excerto A.Vieira da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa, vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 114 "Duarte Nunes Leão, na “Descrição do Reino de Portugal” de 1610, descreve que as Alcaçarias “serviam às mulheres de serviço para ensaboarem a roupa, por escusarem aquentar a água, a qual se se bebesse, parecia que faria algum bom efeito.”Excerto Júlio de Castilho, Lisboa Antiga – Bairros Orientais, 2ª ed., vol. I, Câmara Municipal de Lisboa, 1935, p. 302 "Em 1868, a Companhia das Águas de Lisboa tomou posse da nascente e do tanque, vedando os dois extremos do Beco das Barrelas, sendo o tanque posteriormente destruído na década de 1880, por transformação em depósito coberto, que se encontra no subsolo do Largo das Alcaçarias; a nascente, com água brotando a 23ºC e totalmente desperdiçada na atualidade, permanece conhecida por baixo do pavimento do prédio nº 1 da Travessa do Terreiro do Trigo.Cerca de 1868, a demolição de um muro no limite sul do Largo das Alcaçarias pôs a descoberto uma nascente a que o povo chamou Fonte das Ratas, de forte caudal; correu em Lisboa que a água desta Fonte teria propriedades curativas, tornando-a de tal modo popular que se faziam filas para recolha da sua água, o que chegou a ocorrer a um ritmo de cerca de 360 garrafões por hora; em 1963 foi decretado o seu encerramento, alegadamente por estar a água inquinada, originando forte revolta da população; desconhecemos se o facto de a água não se encontrar apropriada ao consumo humano seria verdadeiro ou se o encerramento se deveu aos interesses económicos monopolistas da Companhia das Águas de Lisboa (hoje denominada EPAL), uma vez que não nos chegaram quaisquer comprovativos de doenças causadas pelo seu consumo. "
Excerto da sua história  http://www.lisbonlovers.com/ «Mandado construir por dois irmãos portugueses emigrados no Brasil que ao decidir voltar para Portugal e se instalarem em Lisboa, na frenética vontade de ostentar a riqueza conquistada em Minas Gerais. De arquitetura excêntrica e exótica a casa de pedra cor-de-rosa decorada com vitrais lindíssimos, desperta sempre curiosidade, pela mescla da mistura de materiais e estilos, completada no belo quadro pelas cores cerise e escarlate das trepadeiras de buganbílias sempre floridas.
"Na altura da sua construção, os lisboetas, pouco habituados a gostos tão exóticos, não gostavam da obra. A Câmara quis travar a construção, tendo instalado um processo que obrigava a destruir o imóvel.Durante o desenrolar do processo, um dos irmãos faleceu, sendo que o outro prosseguiu o sonho e venceu. A sua casa tinha autorização para ser terminada. E assim acontece em 1909.

Só que a vida dá muitas voltas e mal se sabia que nenhum dos irmãos ali iria viver! 

No dia em que tudo estava pronto e que se mudaria para o seu novo palacete, a sua esposa parou à porta e recusou-se a entrar. Porquê? As portas eram demasiado estreitas (mas diz o povo que a senhora é que seria um pouco larga demais)! 
Que fazer? Vender a casa foi a solução encontrada! 
A família do Padre Cruz adquiriu-a e aí viveu até aos anos 1980. Depois, foi alugada a Despachantes Oficiais devido à sua localização e mais tarde foi comprada e transformada neste magnífico, surpreendente, mágico Hotel!
Se a construção da casa levou dois anos, o restauro levou três!
Espreitar o terraço, com as pequenas fontes, as esculturas de pedra, a torneira em forma de pássaro e a gruta decorada com embrechados de porcelanas da Companhia das Índias, que supostamente são do antigo Palácio do Marquês de Angeja!
A capela, totalmente original: do chão, ao altar ... O quarto parece-se com um pequeno apartamento, que por sua vez parece-se com um palacete em miniatura pelos tons das paredes, o mobiliário escolhido, os tetos trabalhados em estuque, as janelas que abrem de par em par para uma vista de rio magnífica!
Se vai celebrar uma data importante, acredite, este é o local perfeito que o acolhe como um Rei/Rainha!"
Fotos
Entrada pela porta do Chafariz D'El Rei

Pedras escavadas na muralha onde a porta encaixava na dobradiça
O Beco do Marquês de Angeja a prevalecer na memória do sitio do seu Palácio.
Contornando o gaveto do baixo edifício da CML 
À direita  através da grade da porta ao fundo deslindei uma banheira em mármore ao alto.
 
 No Beco pias de pedra a fazer de floreiras, supostamente foram tanques dos balneários(?).
Alfama
No grande edifício recentemente requalificado de gaveto com a escadaria da Travessa do Chafariz de El-Rei com frontaria em azulejo para a Rua S.João da Praça  com um grande poço
 
De paredes meias o edifício de gaveto com a escadaria pintado a branco com portas fechadas, pode ser eventualmente o sítio das minas de água fria e água quente e banhos (?).
 
 Visto de lado
 
 A Boca da Mina do Chafariz com a data de 1700 devidamente assinalada por lápide em pedra.
 
A requalificação do prédio onde estarão as minas a nascente  também  aqui foram fechadas portas e janelas, algumas com grades  evidenciam aqui no passado ter havido tanques para banhos(?). Porque aqui também havia uma mina de água quente. No inverno ali tomavam banho nos tanques  com a água superior a 24º sulfúrea ou sulfurosa, a cachopada que morava na zona. Quem me contou foi o Sr. Adriano, segurança do Infantário dos meus netos, homem de muita leitura, amante de Lisboa e do seu passado, com quem é sempre gratificante falar, confidencio-me que em miúdo com outros tomavam banhos indo por ali adentro por uma porta do palacete do Chafariz...
Encontrei referencia nos arquivos da Universidade  cartas trocadas por João Pereira Ramos de Azeredo Coutinho em Lisboa a seu irmão D Francisco de Lemos Faria Pereira Coutinho reitor e bispo em Coimbra que o rei D. José enfermo com problemas nas pernas, depois do terramoto de 1755 passou temporadas em Salvaterra e veio aqui ás Alcaçarias de Alfama a banhos para melhorar.
Excerto Elsa Cristina Ramalho e Maria Carla Lourenço, As Águas de Alfama como património hidrogeológico de Lisboa, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, em http://www.lneg.pt/download/3822/39.pdf, p. 1-4
Chafariz de El-Rei (interior - arca de água
Pela frente  o Chafariz D'El Rei 
Distingui o Palacete adoçado ao edifício baixo de gaveto pertença da Câmara com uma parte aberta que termina com  uma parede forrada a embrechado de porcelana chinesa, resquícios do antigo Palácio (?), já os dois pontões de torres em bico devem ser do palacete ao estilo neo mourisco (?).
 "A imagem atual do chafariz corresponde a várias intervenções ocorridas desde o século XVI e sobretudo a obras de embelezamento realizadas no século XIX. A sua água nasce a 27ºC de uma mina situada a norte, junto ao Palácio do Marquês de Angeja, e tem como característica hidroquímica ser bicarbonatada cloretada cálcica; a mina não se encontra atualmente aberta ao público, por motivos de segurança, estando a Câmara Municipal a tentar a sua recuperação; existe ainda numa arca de água, visitável, que ocupa as traseiras do chafariz, coberta por abóbodas de berço do séc.XVI, podendo observar-se também a estrutura hidráulica de canalização para abastecimento das bicas."Excerto - Câmara Municipal de Lisboa, Águas Termais da Alfama – Património Secular (Brochura de apoio à visita guiada desenvolvida pelo Museu da Cidade em colaboração com a Direcção Geral de Energia e Geologia e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia), 2012 "Tudo indicia que no período romano existiu algum aproveitamento das águas que brotavam das entranhas de Lisboa  numa área de falhas geológicas, águas quentes sulfurosas na parte baixa da Alfama, precisamente aqui junto da mina de água fria  havia também uma mina de águas sulfúreas-, bicarbonatada cálcica com temperatura de 25,5ºC a mais de 30 graus ."
"Em 2005, foi encontrada no Palácio uma estrutura hidráulica constituída por uma conduta abobadada de distribuição de água de nascente, provavelmente seiscentista e uma estrutura hidráulica que poderá corresponder a um compartimento de um edifício termal da época romana (séc. I / II d.C.). Uma parte do palácio foi posteriormente transformada no palacete do início do séc. XX de características arquitectónicas peculiares que encima atualmente o chafariz; na intervenção de 2005 foi aí descoberta uma estrutura que poderá corresponder a um tanque de águas frias de um balneário romano que esteve em funcionamento até ao séc. IV d.C."
"Vestígios dessa utilização, encontramos algumas estruturas hidráulicas que poderão corresponder a um edifício termal romano do séc. I /II d.c. na Rua de S. João da Praça; uma estrutura para banhos que poderá corresponder a um tanque de águas frias de um balneário romano em funcionamento até ao séc. IV d.c. no Beco do Marquês de Angeja, um tanque no Largo das Alcaçarias e o fato de poder eventualmente atribuir-se a primitiva construção do Chafariz de Dentro ao período romano."
Defronte da mina  no baixo edifício de gaveto da CML  não sei o que a lápide retirada dizia...
Espreitei pelo buraco da fechadura...
Supostamente a água vinda da BOCA DA MINA corria em viaduto debaixo da calçada da Travessa, seguindo em frente para este pequeno edifício pertença da CML adoçado ao palacete do Chafariz D'Rei  e depois daqui para o Chafariz (?) .Distingui infraestruturas complementares; canal em pedra por onde a água corria, um arco, parede de pedra, quiçá restos do balneário romano(?) .
Imagens possíveis pelo buraco da fechadura
 
Excerto - Almunime Al-Himyari (1002 – 1085), fonte bibliográfica de Abu Al-Bakri no séc. XI e Edrici no séc. XII, citados por António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, 3ª ed. Caminho, Lisboa, 2008, p.47 "Remonta, no entanto, ao período muçulmano o conhecimento de fontes de água quente em Lisboa, designadas em árabe por al-hammã, de onde deriva a palavra Alfama.Estas fontes termais encontram-se descritas do seguinte modo: "A leste, uma porta, dita Porta de Alfama, que fica próxima da fonte termal situada junto ao mar. São termas abobadadas nas quais brota água quente e água fria que a maré cheia cobre."Excerto de José Pedro Machado, Ensaios arábico-portugueses, Editorial Notícias, Lisboa, 1997, p. 255 e F. Adolpho Coelho, Manual Etymologico da Lingua Portugueza, 2º milhar, P.Plantier Editor, p. 64 "As nascentes asseguravam o abastecimento da população no Chafarizes de El-Rei e dos Cavalos (Chafariz de Dentro), nos banhos e nas Alcaçarias. 
O termo Alcaçaria deriva do árabe al-qaisariiâ ou al-kaisariya -, que significa bazar ou lojas, adoptando posteriormente o significado de oficinas de curtumes e aplicando-se à designação própria de banhos termais em Lisboa. Sabemos que, devido ao fato de existirem águas quentes e sulfúreas, as Alcaçarias foram de facto aproveitadas para banhos termais, assim como para lavagem de lãs e curtimento de peles. "Excerto João Brandão (de Buarcos), Grandeza e abastança de Lisboa em 1552, Livros Horizonte, Lisboa, 1990, p. 103-104 (...)"Analisemos em primeiro lugar a preciosa descrição de João Brandão em 1552, interpretando-a à luz da atualidade, na tentativa de ajudar o leitor e o visitante local: "Outra coisa há na dita cidade (Lisboa) mui grande, de que se faz mui pouco caso, e bem olhado parece, e é coisa lançada nela por permissão divina, porque sem ela não fora edificada no lugar em que é, nem fora em tanto crescimento. E digo que nela há 10 casas de água, em as quais nasce tanta, que estando em terra alta de queda poderiam moer oito azenhas roqueiras, e mais de admiração disto é estarem todas (a) um tiro de besta. Porque o chafariz de V. Alteza (Chafariz d’El-Rei), onde correm seis canos quotidianamente, é água que, vindo de alto, moeriam duas azenhas roqueiras. E logo (a) um tiro de pedra, um lago e casa de água, onde de contínuo ensaboam trezentas mulheres (Alcaçarias da Freguesia de S. Pedro), e é tanta que mui bem moeriam nela três azenhas roqueiras. Da qual água há adiante tanques, onde se lavam muitos couros e lãs. E logo além desta água estão sete ou oito casas, em as quais todas nasce água. E com as atrás, são por todas dez; e há nelas duzentos e cinquenta pelames e noques (tanques) de curtir couros. E destas sete casas que digo sai tamanho golpe de água que poderão moer outras duas azenhas roqueiras, tendo queda. E daí a trinta passos sai das mesmas casas outro golpe de água, que poderá moer outras duas azenhas. E logo cinquenta côvados adiante está o Chafariz dos Cavalos (Chafariz de Dentro), donde se provê muita parte da cidade, e é a água tanta que dentro da casa donde nasce está um lago, onde de contínuo lavam cinquenta mulheres. E logo arriba há outro cano que sai ao chafariz, donde bebem muitos bois e bestas, que trazem dos arrabaldes. E logo além está outro cano que vem de uma fonte pegado ao chafariz, donde levam água para casas, cada dia dois a três mil potes, de maneira que das águas perdidas que vão ao mar poderiam moer de contínuo duas azenhas, porque são águas nadíveis (nativas) da maneira sobredita, as quais tendo quedas poderiam moer mui bem nove azenhas roqueiras, como tenho dito."
Azulejos no Largo das Alcaçarias
 
 Em pormenor a pintura com as mulheres a mexer nas águas

Excerto  Júlio de Castilho, A Ribeira de Lisboa, 2ª ed., vol. I, Câmara Municipal de Lisboa, 1940, p. 234 "As Alcaçarias do Conde de Penela são citadas em 19 de Agosto de 1502, numa carta de D. Manuel ao Hospital Real de Todos-os-Santos, na qual procede à doação de “metade de um chão em Alfama com metade da água que ali sáe, do qual é emphyteuta o Conde de Penella”; Júlio de Castilho, e Vieira da Silva no seu encalce, referem que talvez fossem as mesmas referenciadas como Alcaçarias da Freguesia de S. Pedro."Excerto - Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval – a organização a e estruturação do espaço urbano, Lisboa, Edições Colibri, 2008, p. 86, p. 96
"Situados ainda junto ao Chafariz de Dentro, no lado interior da cerca Fernandina, no local do prédio com o número 8 do Largo do Chafariz de Dentro...
Neste prédio encontravam-se os Banhos do Mosteiro de Alcobaça
"No período cristão medieval, estes banhos de Alfama estavam nas mãos dos monges cistercienses do Mosteiro de Alcobaça, tendo-se conhecimento de um litígio, em 1392, entre estes e o Senado da Câmara de Lisboa sobre o direito de administração dos banhos e de servidão do muro da cerca. Ainda no séc. XIV, existe uma referência à possessão ou administração de umas fontes na freguesia de Santo Estevão por um João Roal e à administração de outras pelo Mosteiro de Alcobaça."
Excerto - http://www.aguas.ics.ul.pt/lisboa_alcacarias.html "A descrição do edifício no século XV mostra-nos que confinava do lado sul com “uma torre e o muro da dita cidade” e do lado oriental “ com a escada de pedra que vai para o muro” (1435). Este prédio foi foreiro ao Mosteiro de Alcobaça até 1834 e ainda em 1949 se aproveitava a água da nascente, extraída com uma bomba."Excerto - A.Vieira da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa, vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 114"alguns tanques servindo à lavagem de couros e lãs. Luís Martinho de Azevedo, em 1652, critica o mau aproveitamento dado a esta “agoa salutífera” que era recolhida nos “tanques em que se pellão os couros”.Excerto - A.Vieira da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa, vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 111 "segundo o Tombo de 1573, continha no seu interior uma arca de água: “... torre que está junto do Postigo do Lavatório de Alfama, dentro da qual torre está uma casa de água."Excerto - A.Vieira da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa, vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 115"O Postigo da Alfama, também designado por postigo das Alcaçarias, Postigo da Lavagem, Postigo do Lavatório de Alfama ou Postigo de S. Miguel, corresponde à actual Travessa do Terreiro do Trigo. No séc. XVII construiu-se, para aproveitamento destas águas, um edifício no lado exterior das muralhas, provavelmente pela mão do mercador veneziano Francesco Estudenduli."Excerto - Henriques, F. F. (1726) Aquilégio Medicinal, Edição fac-similada de 1998. Instituto Geológico e Mineiro. Lisboa. p. 288, citado por Elsa Cristina Ramalho e Maria Carla Lourenço, As Águas de Alfama como património hidrogeológico de Lisboa, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, em http://www.lneg.pt/download/3822/39.pdf, p.3"Em Junho de 1716, D. Nuno Álvares Pereira de Melo, primeiro duque do Cadaval, aí abriu uns banhos, que se passaram a designar Alcaçarias do Duque ou Alcaçarias do Duque do Cadaval, pertencentes à freguesia de S. Miguel. O duque fez construir um estabelecimento termal com catorze tinas, seis para homens e oito para mulheres. Somente em 1726 se faz uma detalhada descrição médica das propriedades terapêuticas destas águas, afirmando que são “… de muita utilidade em curar as intemperanças quentes das entranhas, do sangue, do útero, dos rins e das mais partes do corpo; e os estupores e parlesias espurios; a debilidade de estômago; a fraquesa e queixas das juntas que ficam das gotas artéticas, e reumatismos; as convulsões, os acidentes do útero (…), os vómitos dos hipocôndrios; as diarreias (…). Para os achaques a que chamam do fígado, são prodigiosas, porque curam as pústulas, sarnas, impingens, lepra e todos os achaques e defedações cutâneas (…)".Excerto - Júlio de Castilho, Lisboa Antiga – Bairros Orientais, 2ª ed., vol. I, Câmara Municipal de Lisboa, 1935, p. 304-305"A casa, correspondente aos actuais nºs 52 a 60 da Rua do Terreiro do Trigo, foi reformada e forrada de azulejo em 1864, ficando com quinze quartos".
Alcaçarias do Duque do Cadaval
 Rua do Terreiro do Trigo
 O interior agora vazio
Excerto - Câmara Municipal de Lisboa, Águas Termais da Alfama – Património Secular (Brochura de apoio à visita guiada desenvolvida pelo Museu da Cidade em colaboração com a Direcção Geral de Energia e Geologia e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia), 2012 "Foi-lhe concedida a concessão de “balneário público” em 1895, custando os banhos entre 200 e 300 réis e providenciando duches, irrigações, banhos comuns e venda de água termal em barris de 25 L a 40 reis a unidade."Excerto - Elsa Cristina Ramalho e Maria Carla Lourenço, As Águas de Alfama como património hidrogeológico de Lisboa, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, em http://www.lneg.pt/download/3822/39.pdf, p. 2-3 "Segundo uma classificação realizada por Charles Lepièrre em 1927, as Alcaçarias do Duque tinham duas nascentes distintas, a Grande Alcalina com características de bicarbonatada calco-sódica e temperatura de 30,8ºC e a nascente Sulfúrea ou Sulfurosa, menos mineralizada e com temperatura de 31ºC. Estas termas funcionaram até 1978, altura em que foram consideradas inquinadas e encerradas, encontrando-se atualmente abandonadas."Excerto - A.Vieira da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa, vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 114 - 116- 117 "Localizadas a sul da Cerca Fernandina temos conhecimento de umas alcaçarias pertencentes a D. Diniz, em 1299: "(...) "in collatione sancti petri quasdam domos cum suis alcaçariis, quae sunt inter murum et marem.”; contrariando a opinião de Vieira da Silva, parece-nos apropriado considerá-las como percursoras de dois estabelecimentos balneares de surgimento mais tardio e que passaremos a descrever. No lado ocidental da Travessa do Terreiro do Trigo, no atual edifício com os números 62 a 68 da Rua do Terreiro do Trigo, encontravam-se as Alcaçarias de D. Clara, estabelecimento fundado em 1759 por D. Clara Xavier de Aguiar, mulher do sargento-mor Aurélio da Silva de Castilho; as tinas dos banhos encostavam-se ao lado oriental do prédio, junto a 6 janelas com grades; foi-lhes concedido o estatuto de “balneário público” em 1894, com banhos quentes a 400 reis, terminando o seu funcionamento no final do séc. XIX ; a água desta nascente é a mais mineralizada de todo o conjunto termal, bicarbonatada cloretada cálcica, atingindo a temperatura de 24ºC a 34ºC. "Excerto -  Câmara Municipal de Lisboa, Águas Termais da Alfama – Património Secular (Brochura de apoio à visita guiada desenvolvida pelo Museu da Cidade em colaboração com a Direcção Geral de Energia e Geologia e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia), 2012 "As Alcaçarias do Baptista ou Banhos de J. A. Baptista foram fundadas, ao que parece, na segunda metade do século XIX, no prédio que ocupa os números 78 a 84 da Rua do Terreiro do Trigo, inicialmente designados por Banhos de J. A. Baptista, mais tardiamente tomando o nome de Banhos da Viúva Baptista &; Filhos; possuíam sete quartos para banhos, com estatuto de “balneário público” concedido em 1894, aproveitando uma água bicarbonatada cloretada cálcica que brota à temperatura de 24ªC a 34ºC; tiveram existência efémera, encerrando nos finais do séc. XIX."Excerto - Elsa Cristina Ramalho e Maria Carla Lourenço, As Águas de Alfama como património hidrogeológico de Lisboa, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, em http://www.lneg.pt/download/3822/39.pdf, p. 1-4 "Por estas referências, tomamos conhecimento de que em toda a área da margem do Tejo compreendida entre o Chafariz de Dentro a oriente e o Chafariz d’El-Rei a ocidente existiam várias fontes de águas quentes que se aproveitaram em épocas distintas para fins terapêuticos, designando-se em termos gerais por Alcaçarias ou Alcaçarias de Alfama. A confusão que existe na sistematização destas nascentes ao longo dos tempos é muito provavelmente derivada de modificações da localização das nascentes, que poderiam perder a totalidade do caudal para surgirem mais tarde numa outra localização próxima; este fenómeno também poderia explicar o motivo de períodos de intensa exploração dessas águas termais intercalando com períodos de esquecimento da sua existência nos quais o seu usufruto não é referenciado. Estes fenómenos de alteração no tempo e no espaço poder-se-iam justificar, segundo os técnicos da Câmara Municipal de Lisboa, por alterações geológicas profundas do local, muito provavelmente tendo como origem os fortes e periódicos sismos que têm afectado Lisboa ao longo dos séculos, causadores de modificações nas camadas geológicas do local.

Nos tempos modernos conhece-se a existência comprovada de 6 fontes entre o Largo do Chafariz de El-Rei e o largo do Chafariz de Dentro, ao longo da Rua do Terreiro do Trigo; para além dos 2 chafarizes referenciados, fontes de água fria, existem 4 nascentes de água quente: Alcaçarias de D. Clara (24º-28ºC), Alcaçarias do Baptista (32º a 34ºC), Banhos do Doutor (27ºC) e as Alcaçarias do Duque (30ºC a 34ºC), sendo umas bicarbonatadas calco-sódica e outra sulfúrea ou sulfurosa. Actualmente, as nascentes encontram-se seladas e a água é aduzida para o Rio Tejo em condutas de localização desconhecida.[36] Algumas vozes se têm levantado nos últimos anos, no sentido de aproveitamento destas águas para utilidades diversas, o que não nos parece desprovido de sentido numa época em que a água se tornou num bem a salvaguardar e num local que é um dos mais visitados pelo turismo de Lisboa. Porém, a cidade tem-se desenvolvido de costas voltadas para o rio Tejo ao invés de lhe aproveitar as margens e prefere construir locais comerciais megalómanos em detrimento da preservação do seu património histórico. Tomemos a liberdade de mais uma vez citar João Brandão de Buarcos, escutando as suas palavras, com a vetusta idade de quinhentos anos, quando afirma “Agora digo eu mais, que parece [in]consciência deixar perder a água que vai ao mar do Chafariz dos Cavalos e de El-Rei, e das mais águas; antes, se deveriam aproveitar e repartir as águas acima ditas (...)" "Referências históricas que encontramos sobre as Alcaçarias da Alfama, podendo agora sistematizar as diversas fontes e nascentes encontradas
1.Chafariz dos Cavalos, Fonte de Alfama, Chafariz de Alfama ou Chafariz de Dentro (água fria – 19ºC)
No momento está a ser recuperada.

2.Nascente da torre do lado ocidental do Largo do Chafariz de Dentro

3.Nascente situada supostamente ao norte do Beco dos Cortumes, que servia ao tanque de lavagem das lãs e couros (água quente); considerada “agoa salutífera” em 1652

4.Arca de água da torre junto ao Beco dos Cortumes

5.Nascente localizada na Travessa da Rua de Alfama, Beco das Lavadeiras, Beco das Barrelas ou Largo das Alcaçarias, servindo o tanque das lavadeiras (água quente); considerada ter “algum bom efeito” quando ingerida, em 1610

6.Nascente a sul da Cerca, do lado poente do Postigo da Alfama

7.Nascente do Largo de São Rafael

8.Nascente na Rua da Judiaria / Arco do Rosário ou Fonte do Poeta (água fria)

9.Chafariz d’El-Rei (água quente); existência de banhos em 1468

Excerto - Elsa Cristina Ramalho e Maria Carla Lourenço, As Águas de Alfama como património hidrogeológico de Lisboa, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, em http://www.lneg.pt/download/3822/39.pdf, p. 1-4 "Nos tempos modernos conhece-se a existência comprovada de 6 fontes entre o Largo do Chafariz de El-Rei e o largo do Chafariz de Dentro, ao longo da Rua do Terreiro do Trigo; para além dos 2 chafarizes referenciados, fontes de água fria, existem 4 nascentes de água quente: Alcaçarias de D. Clara (24º-28ºC), Alcaçarias do Baptista (32º a 34ºC), Banhos do Doutor (27ºC) e as Alcaçarias do Duque (30ºC a 34ºC), sendo umas bicarbonatadas calco-sódica e outra sulfúrea ou sulfurosa. Atualmente, as nascentes encontram-se seladas e a água é aduzida para o Rio Tejo em condutas de localização desconhecida."Excerto - João Brandão (de Buarcos), Grandeza e abastança de Lisboa em 1552, Livros Horizonte, Lisboa, 1990, p. 105 "Algumas vozes se têm levantado nos últimos anos, no sentido de aproveitamento destas águas para utilidades diversas, o que não nos parece desprovido de sentido numa época em que a água se tornou num bem a salvaguardar e num local que é um dos mais visitados pelo turismo de Lisboa. Porém, a cidade tem-se desenvolvido de costas voltadas para o rio Tejo ao invés de lhe aproveitar as margens e prefere construir locais comerciais megalómanos em detrimento da preservação do seu património histórico. Tomemos a liberdade de mais uma vez citar João Brandão de Buarcos, escutando as suas palavras, com a vetusta idade de quinhentos anos, quando afirma “Agora digo eu mais, que parece [in]consciência deixar perder a água que vai ao mar do Chafariz dos Cavalos e de El-Rei, e das mais águas; antes, se deveriam aproveitar e repartir as águas acima ditas (...)"O conjunto do Chafariz d'El Rei, incluindo as estruturas hidráulicas conexas (reservatório, cisterna e mina de água), está classificado como Monumento de Interesse Público.

No meu direito de cidadania 
Seria interessante a Câmara abrir o espaço que detém junto do Chafariz D'Rei ao público, nem que seja  para o dar a conhecer investigando a sua história  de balneário romano(?). Bem melhor seria pôr a funcionar de novo os banhos quentes!
A crónica só foi possível com esta envergadura pela pesquisa em http://lisboaantiga.blogspot.pt/p/banhos-da-alfama-ou-alcacarias-da.html, cuja leitura em mim despertou muito interesse pelo suporte documental muito rico, de tal modo me encantou a forma descritiva, que ao pouco que sabia destas Alcaçarias foi fácil decidir transcrever informação salvaguardando as FONTES que enunciei nos excertos, em repto final dei conta que o blog é escrito por uma mulher, a Dra Cristina Moisão, mulher de muitos talentos além da medicina.A quem dedico o meu Bem haja!

Fontes
http://lisboaantiga.blogspot.pt/p/banhos-da-alfama-ou-alcacarias-da.html
http://www.lisbonlovers.com/page.php?p=390&cat=
Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra Vol. XXX Autor(es): Paiva, José Pedro (Dir.) Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/42779

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