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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Quem "embruxou" Coina para a deixar morrer no esquecimento?

O meu marido acordou na breve paragem em Coina no regresso das festas da Moita, tinha a vontade em descobrir o sítio da Fábrica Real de Vidros, apesar da tarde de calor abrasador se mostrou longa de 4 H entre conversa com o dono do café e passeio a refrescar com boa cerveja e tremoços, a primeira vez na minha vida que a ingeri em tão grande quantidade, e ainda bebia mais, francamente soube-me bem!
A placa toponímica da Real Fábrica de Vidro de Coina não se encontra defronte do terreiro onde a mesma laborou, (que se chama Rua do Mercado) ...estranho constatar  a sua colocação num Largo de extenso areal, sito entre estradas com umas três casas ...

A Real Fábrica do vidro de Coina laborou  entre 1719 e 1747 para daqui se mudar para a Marinha Grande pela falta combustível resulto das constantes reclamações dos lisboetas que se queixavam da falta de lenha para consumo, ao tempo a sua única fonte de energia.Os fornos consumiam muita lenha-, além destes fornos de vidro, haviam também os fornos do biscoito, fornos da cal, fornos de cerâmica e os estaleiros que gastavam muita madeira de pinho para a construção naval. Foi o administrador da fábrica John Bear que em 1748 decidiu a mudança para a Marinha Grande pela abundância de matérias primas como a areia, e o material carburante do pinhal do Rei , conhecido pelo pinhal de Leiria.
Existe um forno da era romana em Pedrogão Grande ao género  destes subterrâneos , o que leva a supor tenham sido um reaproveitamento do tempo dos romanos nesta terra evidente a sua grande importância deixada na história com o nome de Equabona. A importância histórica e arqueológica deste achado em Coina levou a Câmara do Barreiro a solicitar a sua classificação como Imóvel de Interesse Público ao Instituto Português do Património Arqueológico em 31 de Dezembro de 1997.Entre 1983 e 1990 realizaram-se várias campanhas arqueológicas dirigidas cientificamente por Jorge Custódio, e apoiadas técnica e financeiramente pela Associação Portuguesa de Arqueologia e pela Câmara Municipal do Barreiro. Porém, o local depois das escavações foi deixado completamente ao Deus dará...apenas resulto de uma edição em Livro temático que tenho na minha coleção.
Foto do Livro que comprei na feira de velharias da Figueira da Foz
Foto das escavações retirada do Google
Escadas largas de acesso a um forno
 Aspeto geral de um forno, cave e a planta
Lamentavelmente tudo foi deixado ao abandono em total desmazelo se mostra ainda aos dias d'hoje!

Há muitos anos pouco ou nenhum investimento tem sido feito em Coina, cujas autarquias desde o 25 de abril a tem descuidado, com que intenção? A meu ver tem vasto e diversificado manancial para ser motivo de atração turística pelo valor histórico que encerra em vários locais. O sítio da Fábrica Real de Coina bastava ser devidamente limpo, telhado, delimitado com vedação e a margem do rio Coina desinfestada de canavial evasivo, com carreiro pedonal de acesso a possíveis túneis (?) acompanhando a margem do rio até à ponte de Coina, devendo a desmatação das margens acontecer até à entrada do esteiro no Mar da Palha na vontade maior em desafogara Coina, e assim poder voltar a brilhar nos seus 500 anos de vila, sendo que o foi fulcral e de interesse desde os romanos,  povo de visão em prol d'hoje brutalmente cegos!
 
Setembro de 2016, assim me deparei com o sítio da Fábrica de Vidros de Coina a olhos vistos fatal paradigma em total desprezo do seu terreiro semeado a cardos secos, apesar dos cães presos a ladrar junto a uma ruína da antiga Fábrica de estamparia cercada de montes de lixo aventurei em seguir até à margem do rio Coina,  acredito muitos o desconhecem por estar quase entupido por canavial e outra vegetação, e por nada encontrar naquela parovela, teimei em voltar a enxergar para à direita deslindar um amontoado de entulhos ao meio do terrado que quis ir ver pelo que pedi ao meu marido para me acompanhar por temor aos cães-, caminhei por entre cardos ressequidos picavam como agulhas as pernas, para com satisfação ter descoberto o que restam dos fornos semi entupidos para não se caírem neles (?), com paus, rede velha, pneus, telhas acrílicas, num deles o aproveitam para poço, com água e balde debruado a avencas verdes no rebordo cerâmico, noutro se espraiava uma linda aboboreira de grandes folhas verdes...

As árvores altas acompanham a margem do rio Coina que nasce nas faldas da Arrábida. Ao meio da foto no terreiro vislumbram-se os buracos onde foram os fornos.
O sítio o poço, agora fechado que pertenceu à laboração da fábrica de vidro

Outra perspetiva do poço na diagonal com os fornos e ao fundo o rio Coina
 Rio Coina atual na melhor parte, a partir daqui completamente escondido....
Foto antiga -, não muito, porque já existem postes de eletricidade e de telecomunicações, com as margens verdadeiramente limpas...com muita certeza foi tirada junto do terreiro da feira onde se denota o casario antigo ainda existente com a igreja de Nossa Senhora dos Remédios e ao longe um Moinho de Maré.
Como foi possível tanto abandono e desprezo ?
 Ponte romana (?) de Coina

 Coina o movimento de Fragatas a descarregar no Cais da Viscondessa...seria em Vale Zebro?
Fábrica Real de Vidro de Coina
O que resta dos fornos subterrâneos tapados com todo o tipo de material, supostamente para não se cair dentro deles...
A perigosidade deste forno onde nasceu um grande cardo,o mais incauto nele pode cair...
 Forno aproveitado como poço

O acesso aos fornos para fabrico de vidro era feito por escadaria quase deitada, uma vez que os fornos eram subterrâneos, notam-se no terreno algumas estruturas de paredes compridas que dão essa sensação de suposta escadaria de acesso. O povo fala da existência de um túnel que até à pouco tempo ainda se via a entrada junto da margem do rio...
Na semana seguinte na minha habitual visita a Lisboa encontrei num antiquário da baixa um copo desse tempo fabricado na real manufatura que constituiu um exemplo de exaltação e poder absoluto do monarca D. João V expresso nas peças fabricadas em seu louvor ou através de poemas de escritores contemporâneos, o que se enquadra perfeitamente no espírito barroco da época joanina e do ouro vindo do Brasil.Exemplar, uma réplica  encomendada por Salazar à Marinha Grande em 1940 por altura da Exposição Mundial, em que teimou mostrar os feitos, glória e riqueza dos portugueses nos séculos antecedentes.
Em Coina, dedicaram-se ao fabrico de cristalaria, a vidraria e a coparia, o vidro plano e a garrafaria .
O desperdício de sobras de vidro  seguiam para a COVA DOS VIDROS, sita hoje na Quinta do Conde, no atual Jardim na beira da estrada, onde havia um grande armazém do Xavier de Lima. Desconheço se fizeram escavações no local (?) para os fragmentos poderem ser expostos numa ala museológica...
Copo das reservas da CMB supostamente encontrado nas escavações(?). Um verdadeiro copo fabricado em Coina.A Marinha Grande também o reproduziu.
"Peças no Livro numa reapreciação dos catálogos de Carlos Barros. em 1969, em função dos achados em Coina permitiu olhar de forma diferente aquele reportório de vidros desenhados dos meados do século XVIII..."
Há anos comprei uma peça igual a esta, sem tampa, era belíssima, numa tonalidade diferente da tradicional "casca de cebola", canelada, ainda cheguei a utiliza-la para fazer um presépio no natal, mas como estava brucinada no rebordo resolvi vende-la...quando vi esta foto no livro fiquei francamente triste, pois eu sabia que era diferente de tudo o que conhecia...
Provável fabrico de Coina(?)
 Um frasco e um  garrafão "bola"
Albarrada, jarra para flores, coleção do Palácio Nacional de Mafra
Tive um jarro tipo galheta  com um bico muito bem delineado em grande cujo vidro era muito semelhante a este, mas por dentro tinha manchas a que se dá o nome "cancro do vidro" por isso a vendi. Foi em Setúbal que mal a vi a comprei para depois outra ver igual como nova...
 
 
Quando me dirigia para explorar o sítio vinha ao longe talvez do rio, um casal de patos de andar vagaroso, quando dei a última olhadela ao local os enxerguei junto a monos de lixo no fechar do sítio da Fábrica Real do Vidro de Coina...

Ainda dei uma voltinha pelo largo descobri mais coisas enigmáticas!

Rua do Pelourinho-, debalde não o vi!
"Naciolinda Silvestre, Presidente da União de Freguesias de Palhais e Coina,  no decorrer de uma sessão sobre os 500 anos do Foral de Coina, divulgou que no dia 15 de Fevereiro de 2017, será reposto o Pelourinho, na sua reconstituição, ou uma réplica, evento que encerra as comemorações."

No mesmo o moinho do Alimo (será o do século XV(?)
Igreja Matriz Salvador do Mundo de Coina  abalada com o terramoto de 1755 , na foto parece ter sido depois deixada ao abandono, até que quase desapareceu, no entanto o belo fontanário deveria ter sido daqui retirado (?) era então envolto numa cercadura de sebe, seria um local bem mais bonito daquele que aqui hoje persiste.
Ruína da igreja matriz e um pedaço da sua parede lateral-, se não acodem à torre, estando a desmoronar na quina norte/sul, vai perder-se para sempre e não devia, fará parte da tradição oral que existiam em Coina sete igrejas...
  • Ermida de S.Pedro de Coina a Velha de 1620 carta de colação  a Luís Afonso
  • Ermida de Nossa Senhora da Conceição da quinta de Coina a Velha a Isabel de Sá em 1662
  • Ermida de Santo Amaro da quinta de Coina a Velha a Francisco Pinto Pereira
  • Capela da Quinta do Manique destruída pelo "Rei do Lixo" por ser ateu para dela fazer estábulos e armazéns.
  • Capela Nossa Senhora dos Remédios que ainda existe.
  • Matriz abalada com o terramoto de 1755 .
  • Na saída de Coina para Covas de Coina à direita havia uma capela, não sei se alguma das acima referidas será esta (?) ,a ser talvez a sétima fosse no palácio Hipólito (?).
Vale Zebro na época romana Coina  conhecida por Equabona, pela ligação ao "cavalo zebro" predominante nesta região e na Península Ibérica",desconheço se aqui havia capela no conjunto da Fábrica do biscoito (?).
  
Curiosamente a parede é feita com pedra e blocos cerâmicos, os mesmos ou parecidos com os dos fornos do vidro, ou foram reutilizados ou teriam vindo da fábrica de cerâmica e faiança da Quinta da Machada (?).
Não sei se esta ruína junto do que foi a Igreja matriz, foi o Palácio do Hipólito (?), ou se este se situava junto ao esteiro do Rio Coina , onde hoje se encontra o novo nó rodoviário com rotunda para Coina e Barreiro, pela frente as ruínas dos Fornos da Cal, mas  hoje as suas ruínas não se distinguem a olho nu pelo denso canavial no sapal do Rio Coina.
Depois do terramoto  muitas pedras da Igreja e do palácio foram reutilizadas noutro casario de Coina.
De quem seria esta casa ?
Casa grande em ruína por estar bem enquadrada em Coina deveria ser restaurada na traça antiga para nela ser instalado um Museu que reunisse todo o material e espólio das suas gentes, e do que nesta terra foi fabricado e pertence ao espólio de outros Museus.
Reparei que na frontaria alguns adeptos do chinquilho aqui fizeram um terreiro onde nos finais de tarde domingueira jogam este jogo . Os vi a chegar. Um deles vinha no seu Mercedes com a malha, em estojo de cabedal. Interessante a reconstrução da torre da igreja com material que ainda existe adjacente e construir paredes a mediar o pedaço da existente estrutura do que foi o corpo da igreja pela  mesma altura, de porta aberta, e dentro dela fazer nascer um terreiro para perpetuar a tradição do jogo da malha, destas gentes que aqui se instalaram muitas vindas de norte e do centro do País para trabalhar nos arrozais e na quinta de S. Vicente que foi o maior pomar da Europa, muitos por cá ficaram com as suas tradições, como o jogo da malha, por isso ainda aqui  tão enraizado.

Vista do palácio de Coina, da Torre de Coina, que muitos dizem ser o símbolo heráldico do brasão de Coina (?), mas ao que parece ninguém lhe acode!
Deixei-me a pensar - será que a Câmara do Barreiro se esqueceu (?) do valor patrimonial e histórico de Coina, do sítio da Fábrica Real de Vidro de Coina? O que faz transparecer, se esquece a cada dia, de tudo o que foi importante em Coina (?) -, do tempo romano que se chamou Equabona, da ruína do seu castelo árabe, dos Fornos de Cal, dos Moinhos de maré ( quiçá particulares (?), da Ponte romana, do Rio Coina completamente entupido e assoreado de canavial, da pista das suas sete Igrejas, dos Fornos de faiança e cerâmica do século XV, os primeiros da Península Ibérica na Mata da Machada (?), e do Palácio do "Rei do Lixo" que sendo particular se tenciona intervir para não ruir? Apenas preservado Vale Zebro onde havia 27 fornos de cozer biscoito (levado pelos marinheiros para as descobertas), armazéns de trigo, cais de embarque e um moinho de maré de 8 moendas – o moinho D’El Rei, o maior da região , o terramoto destruiu praticamente tudo, havia de ser reconstruído e hoje ainda se mantém vivo! 
Forno na Mata da Machada século XV
O sol batia forte e feio de tanto brilho a dizer adeus para se ir deitar...Deixámos Coina, já passava das 7,30...tarde agradável, o café muito acolhedor de gente trabalhadora e simpática convive quase de paredes meias com uma confeitaria onde entrei e distingui muita qualidade nos bolos, mas eu tinha era sede, muita sede do  choco frito, por isso saí e entrei no café!
Nasci em Coimbra, as mesmas letras no sufixo de Coina-, seja a paixão pela minha terra que me deu azo a falar tanto desta!

O terramoto de 1755 ditou a destruição do fausto de Coina, se ergueu no início do século XX em grandeza que durou até mais de meados deste,  para se voltar a deixar morrer lentamente a olhos vistos até hoje, e não se vê ninguém com "tomates", dose de cultura  e sentido de estética para a voltar a erguer e a salvar deste maldito marasmo?

FONTES 
https://www.facebook.com/jornalrostos/photos/
http://www.rostos.pt/
reservasmuseologicascmb.wordpress.com
 http://www.alvarovelho.net/
 http://www.academia.edu/5091701/AZEIT%C3%83O_Apontamentos_para_a_hist%C3%B3ria_do_seu_patrim%C3%B3nio_religioso

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