Mostrando postagens com marcador Cruzei-me com peregrino no caminho de Santiago:Maciço de Sicó Fonte Coberta. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cruzei-me com peregrino no caminho de Santiago:Maciço de Sicó Fonte Coberta. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Fonte Coberta no Maciço de Sicó,cruzei-me com perigrino no caminho de Santiago de Compostela


Feriado no dia da Assunção de Nossa Senhora no 15 de agosto. Acordei com a vista esquerda enferma – na véspera uma pedra saltou acidentalmente da máquina de roçar - podia-me ter cegado! Todo o cuidado é pouco – julgamos que só acontece aos demais…
Tinha programa previsto para o gozo deste dia  com um banho nas termas do Agroal com a minha mãe e marido com piquenique em Rio de Couros. Tudo pronto, não quis partir sem primeiro ir à farmácia . Em abono da verdade a assistente encaminhou-me de imediato para o Centro Médico em frente. Aqui, o médico sem delongas por falta de equipamento oftalmológico mandou-me com missiva para os Covões em Coimbra, antes já tinha seguido de ambulância outro utente, depois de mim lá encontrei mais duas inglesas...
Na nova variante em Cernache para outros destinos - no caso Covões - deparei-me com esta destruição do património...
Ninguém se condoeu em deceptar o aqueduto grandioso de belos arcos...é o que nos vem logo à cabeça. Mas foi destruído há 200 anos pelos desertores do Buçaco, os franceses. Um monumento lindíssimo, servia o Convento de Santa Clara a Nova de Coimbra . A nova variante da estrada em nada mexeu nas pedras, apenas limpou o espaço inundado de silvas, segundo opiniões de pessoas que viveram junto do mesmo. Mas que fere a vista a todos que amam o património, fere. Podiam repor o que falta  na ligação em ferro (?) como na casa dos Bicos em Lisboa, ostenta na fachada, repondo a forma antiga e assim complementar o viaduto, minimizando o impato brutal destrutivo que choca os que passam pelo local. Porque quando fizeram o estudo da via, o certo, era o estudo ter balançado a reposição do que falta.
Felizmente tenho andado afastada dos meios de cuidados médicos, constatei uma eficiência no sistema de atendimento. Uma vez paga a urgência no Centro de Ansião já não paguei mais nada. Senti substanciais melhorias de eficácia e rapidez com o sistema informático – os rais X depois de analizados pelo médico estão disponíveis para o colega que os mandou efetuar. Único senão – achei os médicos de “Banco” naquele dia...muito pacíficos numa lentidão ao retardador, não acompanharam a evolução tecnológica, mantém o mesmo ritmo de tempos de antanho…e, não gostei! Há que ter mais respeito pelo utente que espera horas num corredor de urgências com gente em macas com todo o tipo de maleitas...


Vi alguns que entraram de maca e sairam pelo pé, ainda filhos a acompanhar os pais.Uma imigrante de sotaque francês questionava o pai enfermo sobre o acidente que tinha sido vítima numa das vistas com um ferro…o pobre homem olhou para ela em jeito de se desculpar "foi a tua mãe" –  atenta a filha repenica -  “ Se você nunca escutou a mãe para nada porque razão a escutou desta vez?” …o pobre homem ficou "entalado" por esta resposta afoita não esperava... é o que faz viver em países mais avançados...
Havia outro caso - neste um filho com a mãe enferma, velhota, muito mandona "senhora do seu nariz"  rejeitou a comida oferecida pelo hospital , mandou o filho  comprar uma bucha ao café. Trazia ele num saco de papel um pão de leite com fiambre, e um iogurte líquido -  a pobre mulher na primeira trinca dizia-lhe “ o croissant está a saber-me muito bem…come um bocadinho"...não se calava a perguntar pelo neto que estava na sala de espera...o filho, com muita calma dizia-lhe " só pode estar aqui um de cada vez"... naquilo passa a auxiliar, e questiona-a “ então não quis a minha sopa e está a comer doces?...”com sorriso estrebuchado diz-lhe… sabe, ou muito gulosa…” - senti que o filho "estava pelos cabelos" com a mãe -  esta dizia-lhe que se queria ir embora para casa a todo o momento, precisava tomar banho – este, confortava-a dizendo “ quem manda é o médico, não é a mãe…”naquilo passa o doutor, ela levanta-se num repente, e pergunta-lhe “ então sr Doutor dá-me alta?” – ele começa a arranjar as palavras certas para a conversa a três - enrolar-se a escolhê-las devagarinho…"pode ir para casa mas tem de voltar mais assiduamente porque há valores que se alteraram, e temos de estar atentos…” ela remata – " o Sr doutor é quem sabe, se achar que devo ficar - fico"….
Desvairado, o filho ficou pálido com esta atitude e diz-lhe por entre dentes... "se a mãe não se porta bem não volto a traze-la ao hospital”.
Entretanto a médica  de oftalmologia tinha ido visitar os doentes da enfermaria, almoçou, e claro esqueceu-se de mim. Vali-me ao intervir instigando a enfermeira da triagem, num repente ela aparece e sem desculpas, diz-me que está tudo bem, já passavam das três da tarde…com o estômago a bater horas e a anestesia a deixar de surtir efeito, as dores malditas atacaram-me, e de que maneira!
Saímos a caminho de Conímbriga para degustar o nosso piquenique no parque de merendas porque em Condeixa no  Parque verde não deslumbrei mesas…muita gente estrangeira na visita das ruínas - brasileiros. Valeu o repasto, o café no termo que foi da minha filha...e, o digestivo fresquinho para acalmar!
Doentinha, fizeram-me vontades sem contestar. De regresso impus  passar pela aldeia de Fonte Coberta para fotografar a Ponte Filipina e também apreciar os outeiros cobertos de vegetação crespa mediterrânica em contrastes de verdes fortes . Aqui gosto de pensar nos tempos de antanho  - onde romanos e Reis sentiram os mesmos ares que eu…
Fazia calor de volta à estrada reparei que vinha a caminhar um homem alto vestido de calções e passada certa, solitário, de mochila às costas – na minha mente criativa pensei... se calhar é aquele que andou a percorrer a pé - Portugal - que me falou um casal de Valongo que fez comigo o cruzeiro no Douro - http://portugalape.blogspot.com …mais à frente pedi ao meu marido para virar de itinerário, contornar a aldeia para falar com ele. Acedeu sem pestanejar. Parámos o carro, perguntei-lhe quem era – respondeu ser espanhol , tinha partido de Lisboa a caminho de Santiago de Compostela no seu dizer “um passeiozito de 700 km”...
Um peregrino do caminho de Santiago junto de um carro alegórico dos Netos (?) nas festas do povo em Ansião
Disse-lhe que era de Ansião – respondeu com satisfação "dormi lá esta noite, gostei muito da comida tal e qual como agora do almoço no Rabaçal em todo o caminho já percorrido foi a paisagem que mais gostei, de Ansião até aqui…(muito simpático, mesmo!) – ainda perguntei se não tinha medo – 
respondeu " - não - ser espanhol em Portugal é como estar em casa! 
Disse-me que ia dormir a Coimbra,  o que quer dizer que percorre diariamente uma média de 40 a 45 km.

Na mochila trazia uma gaita de foles pequena com as hastes de madeira de fora com franjas…fiquei com pena de não lhe perguntar a sua terra de origem. De qualquer das maneiras gostei desta minha teimosia em falar com gente anónima.Percebi-o perfeitamente.
O peregrino caminhava a escassos metros de entrar junto à ponte Filipina no caminho de terra  batida na direção de Conímbriga  - um vale com algum casario disperso contornado do lado esquerdo por colinas dos outeiros muito verdes como companhia - acredito amou pela exuberância - tal paisagem exala a todos que se derretem a contempla-las - acredito!
Se há rota que ainda hei-de fazer a pé desta peregrinação será do Vale da Couda na Serra de Alvaiázere Ariques, Venda do Negro, Ansião, Rabaçal e Conímbriga – e também de bicicleta. Lindo é o contraste das serras com as pedras calcárias semeadas à toa por todo o lado, as flores e as ervas aromáticas, tomilhos, oregãos, e os muros de pedra seca a contornar courelas incultas como se fossem currais nas ilhas a guardar vinhas - infelizmente estas pedras secas continuam a ser vendidas para Espanha lá para o norte, tal e qual capelas que depois se erguem de novo em Madrid...por estas terras as pedras ainda preservadas...por enquanto. A vegetação , todo o cenário é de encher o coração ao caminhante pela diversidade e tranquilidade.
Ponte Filipina 

Euzinha sentada num muro da ponte
 Abril de 2013...a 1ª vez que aqui vi tanta água!


Possível estrada medieval(?) ladeada por muros de pedra seca
Impressionante - pedra sobre pedra e não caiem há décadas!
Nestas paragens há ainda vestígios lagunares com abundância. Algumas lagoas tem sido assoreadas... por falta de conhecimento - por aqui se encontram muitos vestígios marinhos, e pedras com buracos graciosas para ornamentar jardins
Possivelmente um dos invasores francês ao desertar do Buçaco quando aqui passou engravidou uma das aldeãs cuja descendência é notória nesta querida mulher  - uns km mais à frente engravidou outra cuja descendência é a minha mãe - de tanto que são parecidas ( no ar de bondade, pele branca e cabelos oiro) e ainda outras - claro!
Pastora de 79 anos - linda ainda com a cor do cabelo virgem...no seu dizer igual aos irmãos
Passear pela Chanca  - cume da serra, e descer a colina a caminho do Rabaçal - a vista do planalto quase desértico aqui, e ali semeada por cedros que demoram décadas a crescer onde o salpico de aldeias castiças se misturam com as ruínas do castelejo do Jurumelo pelo permeio com  outeiros vestidos de vegetação, outros desnudados, ainda outros salpicados -  tal a pobreza do solo - contrastes de arrepiar só de pensar nas batalhas por aqui travadas com o D. Afonso Henriques a demandar os sarracenos!
Painel inaugurado por...quem o decidiu aqui pôr.(?) ...bem - o nome das terras nem se percebem pela pequenez - acaso se descuidam as silvas em redor só o fogo as domina!
Em miúda recordo-me de ver plantar cedros - já estão crescidos - finalmente!
Amei a pia esculpida com figura de anjo
Entrei na igreja do Rabaçal com a ideia de ver os Santos em pedra encontrados soterrados há relativamente meia dúzia de anos  na atual estrada na sua frente - foram pelo povo enterrados no tempo das Invasões francesas. Não os vi - julgo poderem estar no Museu(?)
A Villa Romana do Rabaçal datada do século IV D.C situa-se a 12 km de Coimbra.Outrora fez parte do território da antiga civitas - a via romana passava por Conímbriga nesta zona se bifurcava em duas estradas - uma ligava Olisipo Lisboa  a Bracara Augusta - Braga e, a outra  a Sellium - Tomar.
Muito perto daqui fica o Castellum de Alcabideque - a mãe d'água que abastecia Conímbriga.
Esta descoberta de um património único completa-se com o complexo monumental de Santiago da Guarda no concelho de Ansião  - Casa do Conde Castelo Melhor edificada sob uma Villa romana com lindos painéis de mosaicos - ainda  nas imediações troços da via romana mal estimados, sem qualquer identificação - o que se lastima!
Alzazede uma aldeia pitoresca no alto do planalto em frente do morro altaneiro da Ateanha ( Ansião) aqui já houve um castelejo, no sopé há quem diga - eu acredito se travou a batalha de Ourique (?) que houve batalha houve - alguns historiadores  atribuem tenha sido travada no Alentejo - para mim duas batalhas diferentes com a simbologia da atribuição do mesmo nome que existe nas duas terras...adoro esta paisagem semi agreste e crespa de verdes. Por aqui encontrei pedras que se descascam como se fosse uma laranja aos gomos . O fenómeno geológico tem uma justificação - Geoformas de Sicó.Na estrada agora asfaltada no sopé do planalto  mais à frente morros desnudados e a aldeia de Casas Novas - já pertence a Soure quase em paralelo com a Ribeira de Alcalamouque a caminho do Vale Florido onde o Fernando Namora passou férias na casa de uma das avós - já no Alvorge muito casario de traça antiga.
Degracias, em plena serra, e descer à Redinha onde o rio Anços  brota  das faldas da serra de Sicó...e,...

Pedra, muita pedra calcária esculpida pelo tempo, uma presença marcante na paisagem que foi abrigo de seres humanos continuadamente desde o Neolítico, alguns vestígios desse passado como machados em pedra , e outros marinhos numa faixa de poucos km que se podem visitar no Museu do Rabaçal, e na Casa Museu na Granja junto às ruínas do Paço do Bispado de Coimbra na freguesia de Santiago da Guarda.

Porque eu nunca me canso de voltar.
Vale a pena  visitar !
 Há tanto para visitar e descobrir  nestas terras de Sicó!

Seguidores

Arquivo do blog