quarta-feira, 26 de junho de 2013

Deleite sentir Florbela Espanca no Porto ao pôr do sol no Castelo do Queijo

Soberbo o garboso sobreiro que descobri na Quinta da Macieirinha no Porto . Imponente na minha frente. Contemplei-o. Forte foi o sentir. Em jovem quis teimar no querer crescer debruçado sobre a vista do Douro a caminho da Foz para onde deleitou forte ramada  ao sabor da poesia da alma perdida de Florbela Espanca que se suicidou com barbitúricos na sua 3ª tentativa em Matosinhos no dia do seu 36º aniversário a 8 de dezembro de 1930. Paradoxo a excelência da escolha de local idílico (?) para tão fatal destino!
Na carta de despedida escreveu último e admirável soneto  que é o seu voo quebrado e que principia assim...
Não tenhas medo, não!
Tranquilamente,
Como adormece a noite pelo outono
Fecha os olhos, simples, docemente
Como à tarde uma pomba que tem sono…
Recordar a poesia da grande poetisa inspirou em mim um ímpeto, ao mesmo tempo medo da altura do muro, debalde não quis sair sem o tocar nas pontas dos dedos para sentir a súplica de libertação no seu sussurrar baixinho na urgência em se despir e querer renascer em coleiras, chapéus de chuva, malas, gravatas, cintos, rolhas, em alusão ao pai de Florbela Espanca que apesar de ter herdado a profissão de sapateiro, passou a trabalhar como antiquário e negociante de cabedais e,...A vida de Florbela Espanca de apenas trinta e seis anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo "só admite como Deus o todo, a universalidade dos seres"... Citar http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca Os versos que te fiz Florbela Espanca
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem para te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim para te oferecer
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas,meu Amor,eu não tos digo ainda.
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz
Amo-te tanto!E nunca te beijei...
E nesse beijo,Amor,que eu não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Quem não se inquieta com a solidão e o desamor? Haja alguém que já amou desalmadamente, sem jamais se sentir compreendido!
 Fanatismo - Florbela Espanca
Minhálma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és se quer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,

Que tu és como Deus: Princípio do Fim!..

Texto retirado de http://www.bertrand.pt/autores/autor?id=2198"Florbela Espanca é a imagem da mulher que sofre de ilusão em ilusão amorosa, que reitera até ao desespero a sua fatalidade, que dá expressão a uma existência irremediavelmente minada pela ansiedade e pela incompreensão, acabou por, na receção alargada da sua poesia, sobrepor-se a outros nexos temáticos com igual pertinência, como a dor de pensar e a aspiração à simplicidade" Os abençoados de inteligência compreendem a poesia de Florbela como sendo o seu porto seguro onde estancou e amenizou sofrimento-, a mensagem que senti na 1ª vez que um Prof de Português me mandou levantar e ler um seu soneto -, desalmadamente com fervor o li na minha voz forte que sei arrepiou muitos...
  
Florbela Espanca
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

               Amar! 
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém! 
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente! 
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! 
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...
Sou talvez a visão que alguém sonhou
Alguém que veio ao mundo prá me ver
E que nunca na vida me encontrou... Florbela no seu melhor!

terça-feira, 25 de junho de 2013

O meu S.João em Almada ao entardecer

Ontem um dia de extraordinário calor sai com o meu marido pelo entardecer para comemorarmos o padroeiro da cidade -, S.João em Almada na companhia do meu marido.

Degustámos ameijoas à Bulhão Pato, pãozinho torrado com manteiga e umas boas imperiais.
Fiquei numa mesa com um ângulo onde podia ver 3 televisões que davam futebol...
Levantei-me quando ouvi soar a procissão na Capitão Leitão, vinda da Capela da Ramalha . Uma estopada. 
Ainda sou do tempo da Capelinha da Ramalha estar degradada, da acessibilidade deficitária com caminhos em terra batida de argila ladeados de muita cana , aqui e ali homens bêbados-, com elas faziam toada à falta de filarmónica, alegravam a festa de cariz religioso no final da procissão até caírem de cansados numa taberna, nas muitas que havia ao tempo! 

Teimei na foto só para mostrar as duas "velhas gaiteiras" de boinas brancas e botas com um calor a rondar 38 gruas... nota-se muita mulher com farta idade que quer parecer nova -, vêem-se aberrações como esta que até mete medo ao diabo!

Ainda persiste com orgulho a tradição de colchas de rendas nas janelas 

Varandas em ferro forjado séc VXII
Na janela vaidoso com a ostentação da sua colcha branca em renda o homem que conheço condutor da Rodoviária
Janelas da igreja de Santiago no Castelo. O pormenor dos bicos das ombreiras como se fossem rendas
A filarmónica abrilhantou a procissão desde a Ramalha ao Castelo
Na frontaria da igreja as pessoas dispersaram pelo jardim do Castelo com o seu belo coreto
Coreto no jardim do castelo
Neste jardim há 31 anos tirei uma foto com a minha Dina ao colo-, ontem vaidosa com as sandálias e mala que foram dela, e 2 cravos do andor que ganhei. A árvore entretanto morreu, outra igual já leva este porte característico com as raízes à superfície.O jardim do Castelo com belos recantos para fotografar.
Miradouro do Castelo
O Tejo e Lisboa
O Ponto Final
Restaurante na beira do Tejo..
Elevador e a escadaria de acesso do rio ao miradouro da Boca do Vento
Muro da Quinta da Cerca
A torre da Câmara Municipal faz lembrar ao entardecer o Alentejo...
Pôr do sol
O caos da EDP que ganha milhões e não se compadece com os parceiros em fazer serviço bem feito. Um horror que ninguém vê e deviam atuar com leis e coimas!
Uma vergonha o azulejo alusivo ao nome da cidade estar quase encoberto - , há tanta falta de sensibilidade!
Vislumbrem a quina do antigo Salão das Carochas revitalizado
Igreja de S. Sebastião
Aqui funcionou uma taberna...a Câmara teve a honra em lhe devolver a dignidade

Pancão 
Neste local houve uma taberna e um pátio para trás onde se cantava o Fado
O meu passeio a Almada velha onde integrei a procissão. Depois na volta visitei o miradouro do Castelo a caminho de casa comemos uma fartura.
Não sei como aconteceu filmei a etapa final... a pensar que antes de deitar caia bem o caldo verde que fiz de manhã com couve galega de Ansião!

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