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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Arquitetura no dormitório da morte em Almada velha

Ao passar no Campo de S. Paulo deu-me para entrar no cemitério de Almada, um dos dois que conheço neste País, de vistas privilegiadas sobre rios, nomeadamente sobre o Tejo e o outro na península de Dornes, rodeado de água pela albufeira da barragem do Castelo de Bode, no Zêzere.
Fascinante pensar a arte de cantaria de antigamente, homens artífices, canteiros armados de escopro e martelo, das suas mãos sairam belas obras de requinte e muita arte. 
Distingui ramalhetes de flores em pedra como se fossem verdadeiras,tal beleza me reportou a monumentos com séculos, ainda estilos figurativos, laços, Cruzes, árvores, arcas tumulares, pedregulho encimado pela árvore de Jessé-, fiquei boquiaberta ...
Dizeres como a palavra "ERETO POR " O MESMO QUE DIZER, MANDADO ERIGIR POR...
Estava uma tarde de sol com muito brilho, por isso as fotos são a possíveis atendendo ao cenário  de silêncios interrompidos pela sombra de cedros esguios, neste dormitório de mortos ...
" palavra que nasceu com origem no grego koimetérion que era simplesmente "dormitório, quarto dormir latim coemiterium ou cemeterium (este já no latim medieval) ". 
Os cristãos consideram que os mortos na graça de Deus não estão mortos, mas sim adormecidos até à ressurreição (Apocalipse, 14;13). Preferiram, por isso, "cemitério" como lugar do seu repouso, em vez de outras palavras latinas que expressavam a ideia de enterramento eterno."
Nas laterais é zona de ossários com telhados tipo Lusalite que não se enquadram no cenário. 
Vistas sobre o Mar da Palha e da torre da antiga igreja da Misericórdia de Almada que restou do terramoto(?) e ao fundo da igreja de Santiago enquadrada no miradouro do castelo.
Torre do Seminário, antigo Convento dos Dominicanos, de paredes extremas , há séculos por aqui  passava o Manuel de Sousa Coutinho, imortalizado por Garrett, como Frei Luís de Sousa.
Em 1600 grassava a peste em Lisboa com o cerco dos espanhóis, muitos nobres fugiram para as suas quintas de Almada de bons ares, ele sabendo que os espanhóis queriam vir ocupar o palácio do seu pai, o Prior do Crato, o incendiou por razões pessoais dizendo com humor "para os alumiar na vinda"...
Foto de 1950 da frontaria do que resta do Pátio do Prior do Crato em Almada velha, em cima do arco do portal  placa de mármore, mandada colocar por volta de 1940 por altura da Exposição Mundial ocorrida em Lisboa, em que Salazar mandou que se evocassem as efemérides dos feitos dos portugueses e descobrimentos. 
Conta-se que ao tempo que viveu em Almada tinha o hábito de sair todos os dias para visitar os frades seus amigos, deslumbrando-se com as vistas do Tejo e de Lisboa, tal como eu quando o visitei. Aqui a metros da extrema com o cemitério para nascente onde os azulejos pombalinos que vieram de Lisboa das arrecadações do Patriarcado, quando o Seminário foi sua pertença por volta de 30, que haveriam de ser convertidos de novo em painéis  e silhares, sendo o que restou foram aqui  nos muros do miradouro colocados a esmo.
Mais tarde Manuel  de Sousa Coutinho veio com a esposa a abraçar a ordem em S. Domingos de Benfica, viria a escrever nas suas memórias: "como o sítio he no mais alto do monte e pendurado sobre o mar (...) senhor de hum tão fermoso, e tão bem assombrado horizonte, que confiadamente, e sem parecer encarecimento, podemos afirmar que não há outro tal em toda a redondeza da terra:o que fica bem de crer, pois se sabe que tem diante dos olhos por painel a cidade de Lisboa,estendida sobre a ribeira direita do Tejo, e que de nenhum outro ponto se pode ver e julgar sus grandeza toda junta, como deste".
Uma das duas alamedas  do cemitério ladeada de belos exemplares de jazigos,na maioria com mais de cem anos ou muito perto, na maioria mandados esculpir numa empresa sediada no Alto de S. João, em Lisboa.
 Topo da falésia a vista abrangente sobre  o Tejo e Lisboa
Há dias um ator de teatro, que vive desde sempre no Bairro Operário do Olho de Boi na casa dos pais, sita ao fundo da falésia do cemitério e do jardim do Seminário, na foto distingue-se pelos telhados junto do Tejo, depois de encerrado o estaleiro, ao que parece se esqueceram das pessoas e, neste agora, o suposto dono, reivindica o espaço, porque julgo está em marcha, finalmente, a requalificação da zona ribeirinha-, dizia o ator na entrevista "acordar de manhã e ver esta vista até dá vontade de trabalhar"...Eu não diria o mesmo, teria receio de um sismo, ou simplesmente receio das infiltrações de águas que ao longo dos anos vão desagregando toneladas de massa em brecha de fosseis e argila, como aliás são visíveis a uns metros do Bairro, na Quinta da Arialva, ao longo da estrada de acesso no que foi um dia um palacete, por isso aqui é previsível uma derrocada valente e, consequentemente o que resta dos mortos, caírem de bandeja na cabeceira da cama de alguém...Deus queira que jamais aconteça, mas é de prever o imprevisto macabro!
Capela do cemitério construída em finais de 1800, por certo a data de construção do cemitério no mesmo preceito em todo o País.
Um jazigo em forma de árvores entrelaçadas
Havia um jazigo com ferramentas encastaradas na fachada, distingui muita arte em ferro forjado.
Na entrada o jazigo do grande industrial António José Gomes na Cova da Piedade
Faz lembrar a outra sua casa estilo da Suiça ao lado do palacete na Cova da Piedade
O seu palacete onde hoje funciona a SFUAP, depois da sua sede ter sofrido um grande incêndio que a destruiu por completo.
Industrial da cortiça e no Caramujo da Fábrica da Farinha, benemérito, mandou construir as escolas primárias, amante das novas tecnologias no tempo áureo do ferro forjado, na sua quinta no tardoz ainda existem as duas noras e,...

FONTES
In "Dicionário da Origem das Palavras", Orlando Neves, Editorial Notícias
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