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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ponte de Sôr na minha primeira feira de velharias

Recebi convite da minha colega Isabel Rute de Carcavelos - valeu a insistência, desta vez no sábado rumei até Ponte de Sôr. A minha primeira vez que aqui passei foi em 75 ficou-me na memória um antiquário com um grande portão e na sua frente - velharias a chamar a clientela antes da ponte  romana que lhe daria para sempre a graça do seu nome e do rio que lhe passa debaixo dos arcos.Havia de aqui voltar a passar outras vezes - a última o ano passado na rota que fiz no dia de aniversário da minha mãe, descansámos deitadas no relvado da zona ribeirinha, a comporta no rio Sôr confere ao espaço uma fresquidão imensurável naquele Alentejo que mais me pareceu ser uma Beira arraiana ou mediana (?) - a fazer jus a outras : alta,  baixa e litoral...

Saí bem cedo. Amei contemplar os arrozais do Vale do Sorraia - verdes - a perder de vista, lindos serpenteados por grandes cegonhas nos ninhos altivas ou no chão à procura de alimento. Na lezíria de Coruche ao amanhecer já andavam dois balões de hélio a deambular pelos céus, bem lhes quis tirar uma foto...ficaram pequeninos...

Senti escassa sinalética, sobretudo no entroncamento para o Couço - merecia um entroncamento ou rotunda bem sinalizada. Já em Mora gostei de apreciar as avenidas novas a circundar a cidade, nunca pensei que o fluviário ficasse fora de portas, junto ao rio, faz sentido. Amei revisitar a barragem de Montargil, vi alguns pescadores, e barquinhos ancorados  numa baía .Paisagens lindas com o sol a raiar e bandos de rolas e pardais pelos céus...uma calmaria. Parei para desembrulhar as pernas e verter águas, enterrei-me até ao joelho - tal a fofura das terras roteadas ao longo da estrada para prevenir os incêndios - fez-me lembrar os anos 75 quando fui a 1ª vez a Badajoz - via este lavrado quilómetros sem fim sem saber tal significado.Tão verde esta extensa faixa de terras de regadio : arroz e milho na maioria.Deveria-se apostar mais na agricultura - a paisagem é magnífica nesta altura do ano.
Ganhei a feira no prejuízo.Havia uma ligeira brisa, o suporte do prato de porcelana China finais do século  XVIII não aguentou a agrura e viria a estatelar-se na calçada em mil pedaços...cheio de borboletas pintadas à mão...aqui ainda está na banca o penúltimo do lado esquerdo - vêem-se alguns de Macau maiores e bem diferentes, este era autêntico - valeu que o tinha comprado por uma pechincha por o vendedor não se ter apercebido ou nem tal saberia...
Senti que as gentes de Ponte de Sôr vão à feira com gosto de comprar. Passavam de mãos a abanar e vinham com sacos cheios...de coisas embrulhadas em jornais.
A menina que organiza os feirantes é muito acessível e simpática. Não se paga terrado, o espaço é o que se queira.Nos cafés o chamariz são as tigeladas de Abrantes - doce típico "roubado" ...maravilhosas!
A feira desenrola-se ao longo da calçada do jardim junto à avenida. Relva bem cuidada com rega automática, muito espaço de lazer. Florido. Muito bem cuidado com casas de banho públicas subterrâneas de 1971 com um azulejo alusivo a "menina e menino" que me recordei logo deles assim que os vi...Nos dias de feira podia ter papel e sabão, ainda um autoclismo avariado - só depois vi o balde junto à torneira no hall...
Senti que as gentes pouco usufruem destes belos espaços sombrios e acolhedores, junto ao rio um leque de aparelhos de ginástica - excelentes para exercícios de manutenção - ouvi comentar que alguns gostavam, todos os dias logo de manhã faziam ali a  sua ginástica. Muito bom saber.

Pavoneavam-se duas senhoras na feira - à partida parecia nada terem haver uma com a outra de tão diferentes que eram ou talvez tenham... quiçá não quis dar "a mão à palmatória ao meu instinto"...nestas coisas os homens são mais afoitos -, na feira de Setúbal na semana anterior vi passar um garanhão altarrão pela feira  com o braço a arrematar contra ele o companheiro pequeno e loirinho -cena ternurenta...
Mulher vivaça,  fanfarrona de conversa ligeira vestia calças de ganga -  larga traseira parecia um sofá e mamas verdadeiras que de silicone não vi nem um par. Tabelei conversa com ela e os demais para "dois dedos de conversa" tirou os óculos de sol - constatei  lindos olhos, no imediato me fiz ouvir, nem agradeceu... do longo cabelo fez farta trança de ponta loira e raiz branca a rondar as costas - enquanto a outra mais alta, tipo intelectual, recatada e tímida vestia saia escura e blusa de seda às riscas azul e branca, de poucas falas - amedrontada... me pareceu apesar da altura. Calcorrearam a feira acima e abaixo, num repente  a vivaça sentou-se à sombra de uma árvore na frente do estaminé do Sr Manel das Caldas onde este abancou a mesa para o almoço, antes entrosavam alegre cavaqueira sobre a faiança atrevida que se fabrica e ainda  se vende para os turistas nas Caldas -, até gostou de contar que quando se casou e lá foi em visita, afirmou tal loiça não conhecia...estava dado o mote para conversa farta - cena caricata que se criou com um vendedor de souvenirs...o Sr Manel e o filho jeitosos para o negócio aproveitaram o ensejo dela se ter sentado na sua beira a fazer que descansava - nisto ofereceu-lhes comida - comeram sandes, que não se fizeram "caras" em aceitar. A amiga também se sentou ao seu lado - então não vi o filho dele a correr a pedir emprestadas cadeiras a outro colega... comeram na rua com aquela gente sem modéstia - afinal tinham feito 40 km para vir à feira. No íntimo do Sr Manel gravitava negócio, pensava para com os seus botões - "estão no papo para começar a vender"...e, vendeu - completamente extasiada com o brilho das latas, ferros e latões, estava a vivaça. Foram buscar o carro para junto do estaminé, nele meteram uma trempe triangular para a lareira em ferro forjado, um invólucro de munição de 90 cm  em latão  reluzente- apenas desmontada, nunca foi utilizada - um perigo se ousarem mexer na espoleta - vão sentir uma pequena explosão, ou se vão, ainda se assustam, ou então não...senti que a amiga estava à distância, talvez se sentisse incomodada com tal à vontade, ainda se entusiasmou com uma pequena enxada de cabo torcido em aço...e tantas outras peças que ficaram de reserva para comprar na próxima feira: braseira em cobre, hélice e dois tachos de asas em latão...ainda trocaram contactos para quando forem a banhos para os lados das Caldas irem almoçar a casa dele.Um conhecimento de mais valia - sorte grande,. já que só tinha enfeirado coisa de 30€...senti que o filho do Sr Manel estava hilariante com a sua tática da venda e lábia para a seduzir e do abaixar preço pelo pai para faturar - fazia a contabilidade depois das despedidas - de manhã vi um colega de Coimbra descarregar na sua camioneta de caixa aberta pias e suportes em  pedra que um dia aguentaram grandes pipas de vinho - um comprador ficou encantado com as esculturas para a sua quinta em Viseu a quem  o vendedor respondeu " pense, se as quiser todas vou lá levar-lhas, agora só uma, não...".
Fiquei surpresa por reencontrar a colega Maria Helena dos lados de Fátima que conheci na feira de Pombal e Miranda do Corvo - mulher franzina a quem a vida nunca agraciou tamanha bondade, de tarde passava ela pela minha banca, dizia-me "fui à procura de farturas para o meu home, a mulher costuma estar ali ao fundo a vender, hoje não a vi" - disse-lhe - por não lhe comprou uma tigelada, responde - " primeiro tenho de lhe dizer..." coitada uma sofredora, tal o medo que tem do marido um "brutamontes" - não imaginava que se deslocasse tão longe - afinal é mais perto do que o meu caminho...também reencontrei a Ermelinda com quem estive na feira de Torres Novas - coitada anda a reboque com o marido, doente diabético, mal se descuida na hora do pequeno almoço, o açúcar sobe...arrelias de meia noite e gastos com uma reforma de 300€... gostei de voltar a ver o prato de grandes dimensões de Coimbra  todo ele decorado a motivos florais em verde ervilha com reservas de ondinhas ovais sucessivas em manganês -  afinal ainda anda na banca - marcado 250 fazia-me por 100 - da 1ª vez que o vi  na sua banca disse-me que tinha um comprador em Óbidos que lhe ficava com todos...comprei-lhe umas peças a um euro muito interessantes.Também estava a D. Isabel e o marido Antero que conheço da feira de Setúbal e Montemor o Novo. Entre eles o grande estaminé pelo chão do colega "cigano" ruivo e sardento que dantes fazia Azeitão esteve em Montemor onde não faturou e agora julgo que também não, dizia ao meu marido "amanhã vou fazer a feira de Castelo Branco". As peças dele na maioria boas - estatuetas em granito, latões, cerâmica e ferro - são muito muito caras.O pai dele faz nos sábados - Estremoz com um estaminé de pratos e a neta igual - peças muito boas. Na minha voltinha o netinho do sardento disse-me " então não me está a conhecer?" respondi - sim, da feira de Montemor...levanta-se e diz-me " compre aqui qualquer coisinha na minha banca" e, dirigiu-se comigo até ao estaminé prostrado no chão onde tinha: frascos de todas as cores, pratinhos de faiança de Aveiro e outras miniaturas...disse-lhe "se queres vender tens de por preços como a colega lá do fundo...desde 1 a 5 € porque quinquilharia as pessoas compram...senti que não me deu ouvidos...habituado que está com a família a pedir sempre muito.A primeira pessoa conhecida que vi e que cumprimentei -  a Isabel, o marido e a filha linda de 17 aninhos - sobretudo ela muito enérgica, uma lutadora. Depois vi mais acima o Sr Henrique e a esposa Ilda da Marinha Grande que tinham estado ao meu lado na feira de Montemor o Novo.
O meu marido viu no colega de Coimbra uma taça de Sacavém para a marmelada com a publicidade da "confeitaria Aviz de Coimbra" -e comprou-a. Havia uma taça do crescente - de tender a broa  com filetes a manganês - tenho uma igual, pedia caro, ao almoço levantou a banca e foi embora...

O pior mesmo as formigas! A colega do lado teve de ir aos chineses comprar uns sapatos antes que elas lhe comessem os pés, também a D. Isabel lá teve de ir comprar uma camisa para o marido que de manhã num recheio que comprou se sujou a carregar sozinho - camisa apertada - o Sr Antero passeava-se com o peito o léu...feliz tinha vendido uns pratos de Sacavém do chinês...( o meu marido percebeu dos chineses, debalde o bom homem quereria dizer com o motivo chinês do pagode: amarelos, castanhos com toques de azul, dos meus preferidos.
Honras teve um prato na minha banca de Sacavém com a bordadura em relevo de espigas de trigo e ao centro dois miúdos de África a fazer que pilam mandioca...passa uma senhora, pergunta-me se sabia alguma coisa sobre este modelo...respondi -"tenho alguns exemplares com outros motivos: ceifeiras; caçadores; flores; pesca milagrosa e motivos africanos com canoas e este em particular o que gosto mais pela exuberância do desenho" - naquilo diz-me " foi o Salazar que mandou fazer estes motivos à fábrica de Sacavém no tempo do Estado Novo - sobre as actividades do povo e claro das províncias ultramarinas."
Pois são conversas como esta que se partilham e fazem das feiras lugares apaixonantes!
No regresso fiz um trajecto novo de alternativa - segui a indicação do Couço sem passar por Mora. Curva contra curva do "katano - sicha penico" a ponte sem laterais...apenas uma corrente em ondinhas, frágil,  o rio assoreado de regatos, regateiras e murteiras verdes mais me pareceu o Mondego velho em Montemor o Velho...
Pior mesmo foi um funeral sem carreta de defunto - comandita de carros que não ultrapassavam em rota de cruzeiro a 70...levaram uma buzinadela...vi o da frente do pelotão, velhote de cabelos grisalhos em cima do guiador com medo de sair da estrada...uma frota de carros de fazer inveja ao meu velho Ford com mais de 20 anos - abriu sinal para passarmos em segurança e, assim chegámos a casa sãos e salvos.

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