quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Feira ancestral dos pinhões em Ansião em janeiro

Duas feiras anuais em Ansião que começam estrategicamente por "P"
Pinhões e Poceiros
Feira dos Pinhõeso seu dia a dia 24 de janeiro."segundo o Dr. Manuel Dias que fez um Livro da Confraria de Nossa Senhora da Paz, esta feira nasceu na Constantina na 1.ª metade do século XVII, dia de grande peregrinação a Nossa Senhora da Paz, e nos finais do século XIX a Câmara a transferiu para vila de Ansião" .Mudada recentemente pela mesma Câmara para o sábado seguinte ao seu dia de antanho. Adorava no meu tempo de adolescente percorrer a feira vezes sem conta, com tantos feirantes e tanta gente que vinha de todos os Lugares...Desde o ano passado decorre com grande animação na Praça do Município renovada, onde não falta a visita da televisão que dá uma retrospectiva do concelho para o Mundo.
Boas Vindas ao evento turístico
Pinheiro manso, por cá se chama "pinheira" 
Com mancha na Costa do Escampado, Constantina e Pinheiro e e na foto as da  Mata Municipal
Para mim teorizo a semente veio com povoadores na centúria de 500 da Grécia que o plantaram entre Ansião e mais tarde Soure para aqui nascer a Feira dos Pinhões e mais tarde na centúria de 800 nascer o Ramo de Pinhões ao Divino Espírito Santo em Assamassa em Soure.
Em miúda com a minha irmã íamos armadas de saco de serapilheira às costas pela  subida espinhosa e pedregosa do costado da serra da Fonte da Costa até ao cume onde se situa uma das nossas propriedades para a apanha de pinhas resinosas, verdes e pesadas, em casa se abriam ao calor do forno para saltar pinhões com o martelo se partiam para comer.Curioso por terras de Ansião no meu tempo sem se dar valia a este produto, sendo que havia muita mancha de pinheiro manso pelos Anacos, Pinheiro, Escampados e,...As minhas pinheiras produzem pinhas mais largas que as da foto.
Medidas de madeira servem para vender os pinhões que não se vendem à fiada
Noutros tempos as vendedoras de pinhões se faziam chegar das bandas da Gândara de Vieira de Leiria.As mulheres se faziam apresentar vestidas em traje típico da sua região; na cabeça chapelinho pequeno em veludo preto, redondo, enfeitados na orla por pena preta, nas mãos carregos de fiadas de pinhões.A tradição dizia que seria os rapazes a fazer a compra e os oferecer às raparigas.
Na minha geração eram muito envergonhados, tímidos, reservados, e sem tostão nos bolsos...
O mesmo uso noutras regiões do centro do País.
Hoje só restam recordações como no Rancho de Leiria
Chapéu da Gândara da Bairrada em veludo com pena de pavão traje de Cantanhede
Trajes da gândara de Aveiro
Trajes da região de Oliveira de Azeméis
A vendedeira de frutos secos e tremoços da região que vende no mercado de Ansião
Quando andava no Externato António Soares Barbosa em Ansião , vulgarmente  conhecido por colégio, este dia era um delírio no calcorrear as ruas  vezes sem conta sempre de passagem pela Praça do Município, por onde desfilavam as tendas e tendeiros, ao almoço e nos intervalos  o mesmo vaivém -, e nunca se via toda, sempre de bata vestida, atrevidas, no prazer dar nas vistas, chamar a atenção, e ouvir comentários -, "são as meninas do colégio" algumas colegas abençoadas de peito farto, que o sol  nelas se estatelava em glória, quão abundantes proeminências resplandecentes na bata ensebada...

Feira dos Poceiros… 

                        
Também chamada de S. Lourenço que se realizava a dez de agosto por altura das Festas  do Povo, o certame decorria na Avª Vitor Faveiro, com estaminés prostrados no chão, onde os havia de todos os tamanhos; cestos para as vindimas de vários feitios, tamanhos e cores, cestas de mão, cabazes, cestas de costura, fruteiras, garrafões empalhados, onde não faltavam também os carateristicos da região feitos em cana, que ainda existe uma artesã da Bairrada-, a Flor, que os faz muito bem, e dela tenho alguns exemplares. O meu bisavô Elias do Alto, a recordação que tenho dele num sábado em cima do almoço que o vi no seu passo lento avir da Praça do Peixe a descer a rua a caminho de casa , e cesta de cana  na mão com a sardinha. 
O meu cabaz de verga branco feito na região de Ansião
O meu pai gostava de os encomendar em Aquém da Ponte da Cal, no cesteiro artesanal ,o "Ti Zé Mau" -, que trabalhava na sua fazenda defronte para a estrada debaixo dum parco alpendre, levantado por troncos frágeis e secos, sem paredes, onde o dia se via por todos os lados, se mostrava castiço em telha vã...
Onde o vi muitas vezes sentado a trabalhar.
Fez-nos vários em tamanho pequeno, de apenas um quilo, para eu e a minha irmã com eles pelas mãos airosas caminho fora para a "vinha", nome da fazenda que também tinha oliveiras, nas férias de Natal íamos fazer de conta que apanhamos azeitona...Julgo nunca os enchemos!
Lembro os poceiros grandes usados nas vindimas, que depois de encher algumas vezes se tornavam pesados por ficarem molhados com o mosto, havia quem os usasse para carregar o estrume à cabeça e outras tarefas.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Peregrina ao Santuário de Fátima em 1972

Já lá vão 38 anos!
Decorria o ano de 1972, frequentava o colégio religioso as Salesianas no Monte Estoril.
Romaria a Fátima em excursão,no dia 12 assisti à procissão das velas sentada no chão com as minhas colegas e Irmãs.
No dia seguinte, dia 13 , lembro de ter descoberto o meu pai junto à capelinha das Aparições, silhueta que se destacava dos demais, muito pelos seus mais de 1,96 m de altura de fato escuro e óculos Ray Ban de lentes verdes e aros dourados, procurava por mim.
Velhos tempos, tantas recordações, faleceu nesse ano em Setembro, vitima de cancro do pulmão, fumava desalmadamente.Mote para lembrança de um episódio passado lá em casa.
Tínhamos à época apenas uma casa de banho, grande e completa, com mesinha e cinzeiro, nele beatas, até a criada o limpar todas as manhãs.
A minha única irmã, mais nova, "meio rapaz" como dizíamos, só gostava de pistolas, carros e cabelo cortado. Ainda solteira. Não foi falta de pretendentes, isso teve mais do que eu!
Ela, muito à frente, gozava reacendendo as beatas com o isqueiro, e fumava-as ali mesmo na casa de banho.
Um dia, o nosso pai, visivelmente acordou mal disposto, foi mais do que uma vez à casa de banho,nesse entretanto reparou que as beatas não estavam no cinzeiro,o corropio de entrada e saída de manhã era grande, perguntou à criada se já o tinha limpo, ao que esta delicadamente respondeu "não Sr Fernando, ainda não tive oportunidade, as meninas sabe como se demoram"...
Começou o inferno!
Fugimos às perguntas,de bicicleta fomos para o colégio, ele para o Tribunal.
Ao fim do dia questionou-nos novamente quem era a fumadora, como as duas dissemos que não, quis no momento tirar a prova dos nove.
Inverno, a lareira estava acesa, meteu-nos encostadas à parede, o lume crepitava, nele pôs o espeto em ferro a queimar em brasa.
  • Nas nossas bocas pôs um cigarro. Queria testar a fumadora,claro.
Bem, eu nervosa só me lembro que o fumo me saia pelo nariz, ouvidos e boca, engasguei-me de tal maneira com o sabor amargo que logo ali viu que não era eu...
Quanto à minha irmã,atrevida gozava o momento, dizia, "Paizinho, quer que inale o fumo para dentro ou faça bolinhas?"
  • Visivelmente furioso. Tinha-se enganado, achava ele que eu por ser mais velha seria a prevaricadora, apressou-se a desculpar a minha irmã, por ser a sua menina rapaz, caçoila, meio kilo, contrapeso, meio tostão -, as alcunhas da sua menina dos seus olhos, e ali lhe perdoou naquele momento!
Lamentavelmente para nos amedrontar o espeto de ferro continuava ao lume incandescente.Mote para se dizer a verdade.Sabe-se lá o que faria se fosse eu a fumadora,ainda bem, caso fosse perder o bom senso, o que acontecia num virote, nem é bom pensar o que faria.Atenta a minha mãe quando se apercebeu, em pânico, enfiou-lhe uma panela na cabeça, antes que ele fosse acometido com um ataque tresloucado.
Fumar. Eu?
Lembro-me dos charutos de Cuba, em caixinhas de madeira com letras vermelhas. Ofertas de alguns amigos vindos do Brasil,os compravam nas Caraíbas, revestidos com papel celofane e fitinha vermelha para abrir.
Quem os fumava eu e a minha irmã. Verdade seja dita, mal os conseguíamos pôr na nossa pequena boca...
Gostávamos do cheiro, suave e forte,abri-los para apreciar as folhas hermeticamente prensadas, um trabalho manual de requinte.
Uma delícia vivida na sala de visitas, sentadas nos cadeirões de molas duras e costas de madeira com corações, perna trocada,ouvir rádio, "os Parodiantes de Lisboa"!
Dia de boas recordações em Fátima. Pior dormir no autocarro.Emoções de ver a imagem de Nossa Senhora e dos Pastorinhos.
  • Também já fui peregrina a pé, pena que num pequeno trajecto de 45 km, o tive de fazer por duas vezes, as pernas não aguentaram e os braços também não, saímos de Ansião de chapéu aberto até à Freixianda, todos ensopados, os carros davam-nos banho e de que maneira.Farnel mal aviado, não havia tasca para se comer. Passámos mal, a minha mãe ao beber água num fontanário parou-lhe a digestão, vimos o "caldo mal entornado".
Voltámos ao mesmo local para recomeçar a última etapa. Mais interessante, mais gente, muitas flores que apanhei e as deixei aos pés de Nossa Senhora.
Experiência enriquecedora, em Maio e Outubro de 2002.
Sempre tive esse sonho de a realizar!

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