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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Tradição do Dia de Santos no meu tempo de criança por Ansião

Ritual do pedir os bolinhos
Ti Maria dá bolinhos por alma dos seus Santinhos?
Ou
Vimos pedir os bolinhos em louvor de todos os Santinhos

ou
Bolinhos e bolinhós,
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À porta daquela cruz.
Truz! Truz! Truz!
A senhora que está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de vir cá fora
Para nos dar um tostãozinho.
Se a porta se abrisse cantava-se:
Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.
Se a porta não se abrisse cantava-se:
Esta casa cheira a alho
Aqui mora algum bandalho.
Esta casa cheira a unto,
Aqui mora algum defunto.
Portas abertas as mulheres vinham ao som da cantilena com as mãos a segurar a aba do avental carregada de nozes, passas de figo pingo mel, castanhas, chouriça, romãs, macãs, e bolinhos dos Santos ,merendeiras típicas desta época do ano feitas com passas de uva e nozes com aroma a erva-doce. Muitas vezes entravamos na cozinha  em cima da mesa não faltava o alguidar verde cheio de tremoços...E atiçavam os cachopos "então não querem tremoços, olhem que estão bem demolhados"...atabalhoados os cachopos atropelavam-se com os talegos abertos para os encher na mistura de merendeiras, nozes e nas lojas recebíamos algum dinheiro , o Carlos Antunes dava-nos sempre moedas.
A única vez que fomos à casa da D. Paulete, irmã do saudoso poeta falecido com a pneumónica Políbio Gomes dos Santos, ilustre conterrâneo da nossa terra entrámos em fila pelo portão do lado da Misericórdia, em frente da porta debaixo do telheiro entoámos a cantilena... Ti Maria dá bolinhos por alma dos seus Santinhos...aparcem visivelmente emocionadas a mãe, senhora de idade, baixinha vestida de negro, de cabelo branco que logo entrou em casa para buscar o porta moedas deu-nos uma nota de 20$00  em contraste com a filha alta, forte, um mulherão ficou extasiada com a alegria da cachopada. A viverem em Lisboa vinham passar os "Santos" à terra...deixou a cachopada radiante com a simpatia das senhoras.
Ao fim do dia cansaditos de tanto cantarolar e andar por todo o lado ao final do dia  ao Ribeiro da Vide  a hora de se acender uma fogueira com os cavacos dos plátanos para no brasido se assarem chouriças enquanto outros iam à procura de pão e sumo...Grande o momento de partilha, de alegria, de muitos sorrisos sem malícia, todos abriam os talegos, todos partilhavam o que tinham recebido...
Grande momento de união que jamais esqueço... Toino e Mena do Trinta, Natércia, Augusta, Lucília do Murtinho, Alberto, Nito e TóZé da Carmita, Adriano do Mocho, e...
Saudades de ir de porta em porta...Ti Maria dá bolinhos, por alma dos seus santinhos?

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