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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Quintais do Bairro de Santo António e as suas gentes


Permitam-me que privilegie a casa dos meus pais edificada em 57 num talho de herança recebida do meu avô paterno "Zé do Bairro” aqui nascido com mais dois irmãos -, Maria e António. Todo o quarteirão do seu nome original assim reza na escritura pública.
Nome que quis perpetuar num painel de azulejos aplicado na vivenda da minha mãe, património de família.
Quintais do Bairro 
Nasceram ao adro da capela e se estendia até ao terreiro que chamam de Largo do Bairro. Cresceu e floresceu na confluência da estrada real, fácil foi acrescentar o nome do orago do Santo António da capela, patrono dos viandantes, edificada em 1647 sobre ligeiro promontório e adro farto que foi acampamento de comitivas.
No meu tempo todos os caminhos que davam para o Largo eram lamacentos com a chuva variavam desde os tons branco, amarelo, arroxeado e lilás na estrada real, na barreira da Cerca pertença da Santa Casa da Misericórdia, em frente ao Ti “Parolo” onde havia a prensa, mais abaixo no gaveto da Cerca, com o caminho na direção ao Ribeiro da Vide já era avermelhado . Supostamente da abundância de tanta variedade de barro, derivou o nome Bairro (?), com o seu Largo em saibro onde a norte floresceu de forma circular um aglomerado de casario concentrado.
Adorava aqui fazer um Espaço Museológico!
Tanta hora perdida a mirar cada pedra, na esperança de encontrar um tesoiro…Encontrei restos de uma almotolia de azeite, ainda hoje se vendem em barro verde, igualmente verde restos de um rebordo de alguidar grosso…
Poço de chafurdo
Poço de formato adulterado, era no meu tempo de criança em formato ovalado a fazer lembrar um caixão (?) nunca antes vira nada igual por Ansião, com escadaria em pedra. Nele se brincava em câmaras pretas de grandes pneus que as camionetas "Serras de Ansião" abandonavam ao largo do Ribeiro da Vide, que era atado ao meio em jeito de um oito fazia de barco, que se remava com as vassouras de piaçaba...
Mais tarde a falar com a D. Maria José Nogueira disse-me que era uma mina de água. Outro assim do género com escada e com túnel havia onde hoje é o Intermaché numa fazenda do Artur Paz, onde descia em miúdo no verão...
O que resta dos barracões que foram cavalariças e outras funções no tempo que o poder politico esteve aqui sediado na Cabeça do Bairro.
Resistente também no quintal da minha mãe uma oliveira milenar de tronco muito largo, havia também uma frondosa nogueira que teve de ser cortada porque ninguém a queria varejar, com medo de a subir pelos seus altos ramos.
Perdeu-se a velha amendoeira da tia Maria do tronco gemia uma pasta pegajosa, eu e a minha irmã fazíamos cola derretendo-a ao lume, no outro extremo do quintal havia uma ameixeira Rainha Cláudia, pêssegos de roer amarelos, nêsperas azedas, figos pardos, a de pingo mel foi cortada, o resto morreu… 
A taberna do Ti António Moreira 
O poiso de encontro dos homens aos domingos de tarde. O Ti Moreira sendo do Casal aqui se estabeleceu numa casa de caras para os quintais do Bairro, alcunha ficou o filho de -,“Cara” radicado há décadas no Brasil… 
Ainda me lembro dele e da mulher Ti Maria -, velhotes, as vezes que a casa deles acorri de garrafa na mão comprar vinho ou buscar salsa, entrava pelo corredor dentro só parava junto ao poço onde nunca a pobre mulher a deixava acabar.Na taberna junto à janela havia o “Burro” para se jogar, e duas mesas, o balcão era corrido, no terreiro do largo da encruzilhada dos caminhos e do quelho do Vale Mosteiro os homens jogavam o chinquilho, quantas vezes vi a malha a derrubar os pinos ao pé da velha mimosa na quina da Cerca...
Capela de Santo António
Festa do Santo António nos tempos de antanho…
Em junho nos treze dias antes da festa pedia-se o terço -, chamada trezena, depois do jantar na capela que enchia, vinha gente da vila, do Cimo da Rua, Carvalhal, Ribeiro da Vide e do Bairro. A Mena do “Marnifas” que morava na casa da cadeia atrasava o relógio à mãe e vinha brincar no escorrega da escadaria antes do terço, tal como eu rompia as cuecas, aos buraquinhos!
O pedido do terço foi durante anos feito pela Ti São, do Cimo da Rua -, senhora velhota, por fim já sem forças, e por eu ter frequentado um colégio religioso foi-me conferido o estatuto de pessoa credenciada nas doutrinas de cariz religioso, nesse pressuposto fui convidada a substitui-la pela minha tia Maria que me obsequiou com um conjunto de atoalhados, e no ano seguinte com uma linda camisa de dormir.
Recordo-me do prazer que senti por ter assumido tão grande responsabilidade. 
Adorava ouvir a minha voz, sonante, clara, a pedir o terço naquela capela apinhada, num silêncio cheio de gente. Ah, os cachopos incluindo eu todos a puxar o pingarelho do sino, para chamar o povo. Adorava no final a cançoneta ao Santo -, de nada me lembro, só sei que era imponente, enchia-me de prazer, nem sei cantar, mas dava-lhe o tom… Honra, que aceitei e jamais esqueci! 
Na véspera da festa no adro faziam-se os preparativos, flores e bandeirolas cortadas em papel de todas as cores. Mulheres estendiam cordel pelo recinto do adro e escadaria, os cachopos colavam-nas com cola feita de farinha e vinagre. 
Os homens montavam os arcos, grandes em pinho, pesados eram postos no ar depois de abertos os buracos fundos. 
Os rapazes à nossa beira -, graçolas, o que nos fartávamos de rir, tal a paródia de tanta galhofa a brincar já a pensar em namoriscar. 
As mulheres lavavam a capela, enfeitavam o altar. As moçoilas entretinham-se a fazer tapetes de malmequeres amarelos nas escadas limpas e raspadas pelos cachopos. Um rancho deles ia buscar lenha para a fogueira na burra de serviço, a que estivesse de folga, ou da tia Maria, a “Gerica” ou o burro da Ti Virgínia -, atracados de mãos nos fueiros caminho fora à procura de lenha, carroça atulhada mal arrumada a fugir por entre os varais era montada a fogueira no adro ao lado da tasca dos comes e bebes, ajeitava-se a música para o bailarico, acendiam-se as luzes, finalmente o arraial estava pronto para começar a festa. Predileção sentia por a minha casa ser logo ao sair do adro e, logo entrar nela, inveja tinham todos -, eu e a minha irmã umas felizardas. À volta da fogueira reunia-se uma mão cheia de gente nova que comia petingas assadas e chouriça regadas com vinho e cervejas, todos ali passávamos a noite dentro a deitar conversa fora, onde havia tempo para encantamentos e deslumbramentos. Tudo era pecado naquele tempo, tudo era proibido, ia para casa desgastada com a sensação de não ter gozado quase nada, e havia tanto para gozar. Tudo por causa dos costumes na época serem tão apertados para os jovens… Rapazes bonitos, o Fernando do Pinhal, o Zé Emídio Moreira, o Toino “Tarouca”, o Alberto e o Nito da Carmita e, …Tantos... Fora os que se chegavam aqui vindos de outras bandas, não me lembro mais o nome deles. Em 75 eu e a minha irmã estreamos fatos iguais, calças brancas e camisas com cavalos-marinhos brancos em fundo azul. Tanto atazanamos a nossa mãe para nos comprar a vestimenta quando trabalhava na altura em Ourém defronte do pronto-a-vestir. O dinheiro era contado, vivíamos tempos difíceis, o que nós a moemos, suplicámos, e manipulámos nas tarefas domésticas -, arreliada deu-nos o dinheiro, abalámos na véspera de carro, andava a minha irmã a tirar a carta de condução, tudo correu bem, de regresso a casa, felizes com a roupa nova desiludida fiquei, as minhas calças estavam largas, num ápice fui a casa da minha amiga Lala, aprendiz de costura que as apertou. Levantei-me cedo para me aperaltar, usei as pinturas da minha mãe na maquilhagem, ao passar junto da porta da sacristia a prima do meu pai, a São, olhou para mim e disse-me ” oh cachopa estás muito bonita com os olhos pintados”. Adorava sentir os meus cabelos pretos longos soltos ao vento, davam-me tanta segurança, um brilho reluzente a que alguns chamavam “asa de corvo”. Confiante, vaidosa, e fresca, dirigia-me à igreja matriz buscar os paramentos de empréstimo para a missa e procissão. A capela enchia-se de gente que transbordava para a rua, a filarmónica Santa Cecília abrilhantava com instrumentos cintilantes ao sol em contraste com a farda azul e os rasgados sons, as janelas enchiam-se de colchas brancas, e de seda para a procissão passar, era o começo da festa, abria a quermesse, em frente dava-se de caras com o pregoeiro que ajeitava o poleiro para se fazer ouvir no frete de licitar as oferendas dadas ao Santo -, as fogaças.Havia jogos tradicionais a decorrer pelo adro, a Irmandade refastelava-se a comer caldo verde, feijoada, carne assada, torresmos e couratos, tudo regado com bom vinho a sair dos pipos, e de volta atestados, em flecha.O som do altifalante da música convidava a bailarico pela tardinha, apareciam sempre os desocupados, embriagados, tristes, solitários e claro bons rapazes, bonitões, atrevidotes, malandrecos de outras paragens também. Atenta, muito se desconfiava naquele tempo de tudo e de todos, de ficar "falada", infelizmente, não tinha já pai, o recato para mim senti-o redobrado. Queria tanto conversar, adorava rir-me, fazer festa!
A raiz do plátano junto da escadaria hoje quase subterrado, fazia as nossas delícias nas brincadeiras "do cavalinho"...
Gentes do Bairro …
Uns mais velhos, mais novos, outros da mesma idade, preciso falar nos seus nomes: São e Chico Borges, eram recatados-, o pai Ti Raul Borges, era exigente demais com eles, não os deixou viver a mocidade e fez mal no meu ver." Tina Pregueira" atrevida e folgazona, rapariga de festa e a sua linda filha Natalie tão cedo Deus a levou desta vida; filhas do Roberto e da Robertina, humildes e simpáticas, moravam na casa do cedro na quinta do Dr Faria, mas a proximidade do cemitério incutia medo à ti Robertina, decidiram fazer uma casita num pardieiro onde antes tinha sido o galinheiro da avó Olímpia… Pobrezinhas, até mudarem para melhor vida para Tomar; Zeca, Leonor, Fernanda e a Dália. 
Deolinda, Artur, Carlos Alberto e Fernando Silva ”da Alice Pego” -, meninos inocentes, simples de aspeto amedrontado e doce, participavam nas brincadeiras e tropelias que encetávamos, fosse no roubo de fruta, andar de bicicleta, ou em rancho a caminho do Escampado Belchior a cada ano apanhar alecrim para os Ramos -, coisa de paixão pela aragem e clima ameno, a Deolinda aí construiu a sua casa tal e qual os seus vizinhos, o Alberto e o João, irmãos da Dália que quase vi nascer empoleirada que estive na janela, irmã também do Fernando e da Célia Silva, filhos ”da Augusta do Chico” tímidos, meigos, de olhar doce, o Alberto, que sempre me pareceu ser de todos o mais endiabrado, irrequieto,e com menos graça, se revelou ser um homem trabalhador,casou, tem uma bela casa com uma linda vida, com filhos, se mostra aos dias d'hoje muito simpático e bonito, de tal maneira que me arrependo de no passado assim ter pensado dele, as impressões iludem, lá diz o ditado. As brincadeiras com eles finavam-se pelo Largo do Bairro.
Toino e Mena Marques “da Carolina do Trinta” uma amizade sem fim, ao portão a linda e cheirosa trepadeira, de belos cachos lilazes, a glícinia, que seria do tempo da estalagem eram miúdos alegres,danados para a brincadeira, cúmplices, a minha irmã destemida e rebelde ditava ordens e obedeciam; Zé Manel (Nécas) e o irmão Fernando Cunha, mais novos, tímidos, alinhavam nalgumas brincadeiras com as primas, sobretudo a Isabel Neves que vivia em Pombal; 
Elvira, era muito bonita e alta, foi minha colega de estudos em Pombal, recatada, dava ares de superioridade; 
Cristina e Zé Manel a viver em Lisboa de férias, na casa dos avós Ti Ermelinha e Ti Néco, brincavam no Largo até ao escurecer;
Adriano Valente o “Mocho” rapaz tímido de voz forte, torcido nas tropelias no caminho da escola...
Natércia, Augusta, Lucília, Fátima e António Murtinho, participavam em muitas brincadeiras, um dia a Ti Mavilde disse à Lucília “quando a água do arroz ferver põe-lhe 2 ou 3 bagos de arroz” bem-mandada, obedeceu. Chega a mãe abre o testo do tacho, pergunta -lhe onde estava o arroz? Desculpa-se a pobre da Lucília que puxa raízes da mãe do tempo das invasões francesas -, linda, a mais bela de todas as irmãs, longos cabelos loiros e corpo escultural…”a mãe disse para por 2 ou 3 bagos…” valeu ou não o reparo, começou a fazê-lo farto, e com isso perdeu as formas…tão jeitoso que era! Outra vez a irmã Augusta, também bonita com um bom par de pernas,foi minha colega de turma, chamada ao quadro no Externato sentiu uma forte dor e caiu. Operada em Coimbra à apendicite, a visitei em casa no quarto da frente, de aviso ficámos a saber que a dor aperta do lado direito, não posso deixar de falar da mais velha a Natércia, ajudou a criar todos os irmãos, morena, a puxar raízes mouras do pai, tem um ar doce, meiga, muito trabalhadora, boa amiga de ontem e de hoje.O irmão, o Tonito, hoje médico, já não brinquei, no dia que nasceu, passei pela mãe que estava de avental de plástico castanho, a lavar roupa à fonte do Ribeiro da Vide.
Abílio, Fernanda, Alberto, Nito, Zé Carlos, Isabel filhos “da Carmita” cada um diferente do outro seja nas atitudes, ou no trato, infelizmente o Abílio e o Alberto não estão mais entre nós, e sinto falta - a Fernanda e o Nito de quem ainda hoje mais convivo e gosto, a Isabel emigrada na Suíça com o irmão Zé Carlos “ garoto de língua afiada, maldizente,um demónio de rebeldia” endiabrado ...(nota curiosa, durante anos comi os chocolates que trazia para a mãe Carmita, e que esta dava à minha, sua comadre...
Tonito Freitas “da São” primo, amigo de casa de todos os dias, de todas as horas, como se fosse irmão; Margarida a prima filha da Tina a viver em Lisboa, passou tempos na casa da avó Maria, um anjinho doce, pequenita.
João Carlos e a Isabel Silva de Tomar viviam na casa alugada da São, passavam os dias na nossa casa até ao dia que desapareceu por "arte do diabo" uma livra de ouro, que a minha mãe tinha deixado em cima do armário vermelho da cozinha.
Ribeiro da Vide 
Abel e a irmã Gabi Nogueira, com ela frequentei estudos por Pombal, quando lhe mostrei a foto do meu namorado Luís “entre dentes estrebuchou -, eh um homem…” 
Fernando, Carlos e Ana, filhos da Maria e do Abílio “Mudo” recatados, muito mais novos.
Jorge, e o irmão, filhos da Lúcia “Parolo” e do Alberto. Nas férias, tantas brincadeiras com eles; Olga e Dora filhos da Tina do “Parolo” e do Fernando Luís.
Elisabete, e irmãos, filhos do Carlitos “Parolo” e da Helena.
Filhas do Sr. Milheiro e, …a caminho do Alto ...Tó Zé Murtinho, Pedro(?) e a irmã Dina, o meu pai dizia ter sugerido o nome ao seu pai Manuel por assim o chamar à minha mãe, na altura original, veio a ser também o nome da minha filha, meninos encantadores, fora de portas do nosso arraial, encontro e conversa nos bailaricos na loja de sua casa e nos preparativos das flores para os carros alegóricos e, … Quelha da Atafona: Isabel Bandeira; Isaura Gomes ou Miguel -, a “Reala” de olhos verdes, lindos, sempre disposta à galhofa pelo Carnaval, bailaricos, e festas; Lala minha grande amiga aprendeu costura com a D. Lucinda no Fundo da Rua por minha indicação, graciosa, delicada e o irmão Jorge Rebelo mais novo também, regressados de África no 25 de abril; Tina, olhar doce, melancólico, sorriso maroto, fiel companheira nos bailaricos com a mãe Ti Florinda a fazer “pau-de-cabeleira “e,
Gente casadoira… No meu tempo de cachopa: Lúcia e Tina e Carlos “Parolo”, Carlos, Fátima e Elisa “Pego”, São, Chico, Tina e Júlia Silva, expedita, rapariga de festa, os rapazes bem andavam de volta dela e não quis nenhum, Toino “Peleiro” e,...Nenhum deles tinha pejo de os cachopos se juntarem a eles, fosse pelo terreiro do hospital, adro da capela ou Ribeiro da Vide… A maioria casadoira participava nas festas, no Carnaval alegravam as tardes de domingo nos bailaricos e no jogo da cantarinha na Quaresma, os seus filhos da geração seguinte, não cheguei, a brincar...
As casadas, mulheres de festa: Carolina do “Trinta” -, festa era com ela, a São "Mocha" e a Carmita também, embora mais recatadas.

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