quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Os Bombeiros Voluntários de Ansião nas minhas lembranças...


Prefaciando D. Quixote... Ah, memória, inimiga mortal do meu repouso! 
Eis chegada a hora  de chamar ao consciente todas as memórias que me perturbaram e incomodaram no passado. A decisão de as relatar , sem as aceitar, retiro-lhes o poder nefasto que sobre mim tiveram.
Em criança sentia aflição ao apito forte da sirene, então na frontaria dos  Paços do Concelho de Ansião. Quantas vezes sentados à volta da mesa da cozinha, ou da sala, a tomar as refeições quando irrompia aquele toque ensurdecedor, ato imediato o meu pai se levantava e em passo de corrida saia a caminho do quartel. Descuidado, muitas vezes nem mudava os sapatos, o pior é que na sapataria do Sr. Gaspar o seu número, quarenta e quatro, tinha de ser encomendado de propósito, na vila ninguém calçava um número tão alto. 
Sempre conheci o meu pai Fernando Rodrigues Valente como funcionário Judicial e bombeiro voluntário. Tantos fogos combatidos por terras de Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pera, Pedrogão Grande, Ourém e,… 
A  escritura da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ansião foi despoletada pelo grande incêndio em 1957 ocorrido no solar de gaveto da D. Alice Veiga, sito por detrás da Praça do Peixe, hoje Biblioteca,  onde vivia com o seu filho Armando Cardoso, escrivão no Tribunal. Telefonaram para os Bombeiros de Pombal, ouviram mal o nome Ansião, que foi deturpado por Ançã . Chegaram tarde a Ansião, o fogo foi apagado pelo povo, no tardoz da casa, onde ainda é visível a reconstrução com novas janelas. A Ti Augusta Tarouca, ainda se lembra de ver as roupas queimadas... Grave incidente originado pela deficiente transmissão desencadeou num grupo de bons homens de Ansião, apostar na Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ansião a 19.12.1957. Funcionou provisoriamente numa casa alta na vila doada aos Bombeiros pelas manas "Gloritas", adoçada à casa da "São gorda", imóvel mais tarde comprado em leilão pelo Sr. "António Bernardino dos Munhos". Ainda recordo desse tempo, pela altura do Carnaval, de lá saírem os cabeçudos contratados para o entrudo no desfile pela vila. 

A 1ª pedra para a edificação do novo quartel ocorreu no dia 07.08.65 
Houve grande festa com pompa e circunstancia onde estive presente. 
Foto de Ricardo Jorge
Dei os meus primeiros passos neste carro dos Bombeiros, hoje património da Instituição .
Parado ao Ribeiro da Vide, os  Bombeiros vinham ao chamamento do meu pai para nos aprovisionar de água em casa, ligando mangueiras do poço camarário do Ribeiro da Vide. Enquanto decorria o enchimento do tanque das uvas, petiscavam e bebiam bom vinho , até se ouvir gritos  do transbordo de água ...  
O maior incêndio que assisti …  
No termo da vila, para sul, a 22 de julho de 1973 pelas 14 horas. A sirene não parava de tocar...era aflição e grande! Falava-se de quatro frentes , de fogo posto, dizia à boca cheia o povo, avançava desde as Alminhas do Escampado, Fonte da Costa, Pinhal, Barroca, Carvalhal, Casal das Peras, Barranco, Matos, Carril e, … Os mais velhos davam ordens aos cachopos para distribuíam leite pelos Bombeiros, nesse dia aprendi os benefícios -, combate à intoxicação provocada pela inalação de fumos.
Carvalhal do Bairro 
Grande o aparato na estrada ao Carvalhal, em frente à casa da "Maria entrevada", mãe das minhas sempre amigas Idalina e Helena Carvalho, ainda do irmão Júlio, boa gente quando reparei no Mercedes, o carro da chefia dos Bombeiros, julgo oferta de um benemérito emigrante da terra. Sentado ao volante o Sr. Fernando Silva, visivelmente inquieto pelo descomunal fogo de grandes proporções e fundados receios de cerco pelas altas labaredas crepitantes a rondar por perto, sem vontade de dar tréguas... assistia ao aparato do vaivém da multidão… com baldes, caldeiros, barris de água nas mãos ... incrédulo, apático, o Sr. Silva parecia eletrificado, não reagia como eu esperava, tomando as rédeas do controlo da situação! 
Senti um impulso repentino -, um chamamento de clarividência, ao jus do meu pai num fogo idêntico em Vale do Rio, que rondava os cabos de alta tensão, perante o embaraço total do comandante Artur Paz, não se coadunar com medidas urgentes a serem tomadas, o meu pai pediu  aros de dorna, que jogou alto contra os fios para provocar curto-circuito, e assim se livraram de outros males maiores . Episódio que o "Carlitos Parolo" seu colega voluntário no mesmo incendio me contou. 
De fato, a minha personalidade foi herança do meu querido pai,  pese os meus dezasseis anos, o momento exigia tomar posições e, sem me dar conta abeirei-me e soltei a voz " Sr. Fernando Silva se não pediu ajuda a outras cooperações tem de o fazer imediatamente -, Alvaiázere tem de travar o fogo do lado das Cavadas para não alastrar mais, é o momento de virem...". O bom homem segurava um retransmissor de contato ligado ao quartel, em ato instantâneo solicitou ajuda, tomando energicamente o comando das operações. Do mal, o menos, todas as ajudas foram determinantes. 
Grande susto e grande a vasta área de floresta ardida e casas -, mais não foram porque o povo juntou-se, todos ajudaram como puderam em as manter bem regadas, o fogo em labaredas altas rondava a casa do Augusto Lopes no Carvalhal, de mangueira na mão ajudei a regar paredes e telhado, outros faziam regos à volta do pinhal para circundar as chamas, as minhas oliveiras ardiam na Barroca do Bairro, com baldes de água do poço do Ti Narciso as salvei, a casa do Manuel Borralheiro pegou fogo. Ardeu completamente a casa do cunhado Ti Jacinto -, o azeite fervilhava em descida rápida pelo caminho, o pai da Adelaide, teimava não arredar pé da sua casa, apesar do esforço dos Bombeiros em o querer retirar... em vão, enfiou-se no tanque de pedra do quintal, também ardeu a casa do "Ti Américo Pau Preto"... Estas pessoas depois foram viver para o Salgueiro.
Incompreensível  é o facto do nome do meu pai e do "Carlos Parolo" não sei se de outros, terem sido esquecidos para sempre, ao não constarem na estela de mármore patente no átrio do quartel...
Alguém me sabe explicar a razão e o porquê? Tantas as vezes que ficámos sem a sua companhia, horas de "coração nas mãos, roupa queimada, cansaço, preocupações a troco de ajudar os outros" sinto que não merecia tal esquecimento! 

A cooperação de Bombeiros e do staf em frente dos Paços do Concelho 
                              
Incómodo do passado ainda a marcar-me negativamente. Porque uma Instituição Humanitária devia ter privilegiado o seu arquivo , devia ter igualmente estela com quem lhes fez doações.
Registo negativo o desconhecimento de quem foi voluntário, de quem agraciou monetariamente a cooperação, que pagava quota, mas, na hora da listagem, foi esquecido, com  visibilidade a outros, acaso eram melhores? A ser um dia rica, por causa deste lamentável lapso, em falta a registo de memoria para o presente e vindouros, jamais serei filantropa.

Retirado de https://agc.sg.mai.gov.pt/details?id=633082Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ansião

Nível de descrição

Documento composto   Documento composto

Código de referência

PT/SGMAI/GCLRA/H-B/001/02468

Tipo de título

Formal

Título

Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ansião

Datas de produção

1957-12-19   a  1958-04-18  

Dimensão e suporte

11 f.; papel

Âmbito e conteúdo

Sediada na freguesia e concelho de Ansião. Estatutos aprovados por alvará nº 28 do Governo Civil de Leiria em 1958-04-18. Natureza da Associação: humanitária. Data da constituição da Associação: 19 de dezembro de 1957.

Condições de acesso

Livre

Cota descritiva

34

Cota original

Ansião

Cota antiga

Ansião

Idioma e escrita

Português

Características físicas e requisitos técnicos

Mau

Unidades de descrição relacionadas

Relação completiva: Portugal, Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, Governo Civil do Distrito de Leiria (F), Inspeção, Licenciamento, Fiscalização e Segurança (SC), Associações, Atividades lúdicas, Espetáculos (SSC) Processos de aquisição, alteração ou extinção de personalidade jurídica de associações (SR), Processo nº 01882 (PT/SGMAI/GCLRA/H-B/001/01882) e Processo nº 01912 (PT/SGMAI/GCLRA/H-B/001/01912)

Data da constituição da Associação

19 de dezembro de 1957

Natureza da associação

humanitária

Sede

Avenida Dr. Vítor Faveiro

Freguesia

Ansião

Concelho

Ansião

Distrito

Leiria

Congratulo-me do presente Comandante da Cooperação ser o meu bom amigo António Neves Marques, sempre tratei por "Toino Trinta" - um dos heróis da cachopada do Bairro de Santo António do meu tempo. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Feira de velharias em S. Martinho do Porto

O dia acordou no crepúsculo do madrugar, a meio caminho de S. Martinho do Porto  captei o sol  a querer resplandecer em raios radiosos.

 A pensar no festival do chocolate a decorrer em Óbidos fiquei com água na boca...
Óbidos , registo de pendura no carro
A vila de S. Martinho do Porto pauta-se por casario típico finais do século XIX com graciosos challets de veraneio -, o ambiente  que senti é aprazível no culminar da encantadora baía em forma de concha cujo cariz romântico se desenvolve sonhador...
A organização da feira  a meu ver apresenta lacunas: julgo por ser apenas uma pessoa a tomar conta do certame -, também se a mesma se rege por normas a que devem estar sujeitos os feirantes -, em caso de faltas consecutivas acaso compreenderão a perda do lugar , e não entre eles o dividam sem "dar cavaco a ninguém dando azo ao acordo verbal entre amigos ...amanhã não vou, podes ocupar o meu lugar porque está pago"...
Assisti a um desaguisado com um colega que argumentou exatamente isso, mostrou na conversa ser muito deselegante com a organizadora - diria mesmo um homem sem carater, mal educado, uma "cavalgadura"  -, só acalmei porque na verdade felizmente não tenho encontrado gente desta estirpe...fato que não aprovei tão pouco gostei de constatar.
Calhou-me de lugar quase o fim da linha, entre o Manuel Peneda e o João Paulo que conheci neste dia - homem de olhar azul a reivindicar heranças de etnia cigana (?), simpático, afável com site internacional onde vende fósseis e livros, tem casa com piscina  e lareira na Praia de Santa Cruz - na sua banca artigos de bijutaria e conchas.Passa um ucraniano "de rodas baixas" sotaque brasuca, pega num búzio da cesta e diz " estes búzios quando esfregados sobre órgãos,afugentam doenças..."
Em jeito de surpresa no corredor de bicicletas surpreende-me  o Pimpão de Tomar - em tom alegre diz -me "ontem passou por mim na feira da ladra e não me viu, estava entre o largo de cima e o de baixo..." fiquei a pensar - pena não ter sido audaz , dar azo no romper com a timidez...numa de estrebuchar emoções! A esposa a Ana Bela foi desta vez para o Algarve fazer duas feiras,- Vila Real de Santo António e Almancil.

A manhã fazia-se sentir alta a lembrar fominha para o almoço quando vejo na banca do Manuel Peneda -, este trouxe por companhia a sua querida esposa -, Celeste de seu nome a fazer jus à sua beleza e personalidade - fez-se eco a conversa dum cliente de vinil que o instigava com a pergunta - a sua colega ali ao lado é a bloguista ?...
Constatei ser um fervoroso amigo da Ana Bela Pimpão e do seu marido - confidenciou-me que neles incutira o entusiasmo e vício das feiras, apesar de funcionários públicos -, de seu nome José Carlos Luís também de Tomar - previamente avisado pelo Pimpão  "está a sair da casca"  que eu estava na feira,  por isso a alta espetativa do conhecimento (?), - para surpresa minha teceu-me dois rasgados elogios: o primeiro sobre a forma como descrevi tão fielmente o casal seu amigo na Expoeste,  admirando a capacidade de análise tão certeira que teci sobre os mesmos que confidenciou conhecer desde sempre - já do outro invocou  sentir uma crescente evolução na minha escrita pois há muito que me segue por a sua ex -, senhora da Marzugueira do costado da serra de Alvaiázere - claro, sobre esta serra  e outras que adoro vou escrevendo histórias...já leu algumas... sem contudo me conhecer...neste espaço é a segunda pessoa ligada por laços afetivos desfeitos  a terras de Sicó-, que ousaram afirmar gostar de me  ler ... só posso dizer que achei os desabafos hilariantes - uma vez apaixonados por alguém destas terras, mesmo no desenlace a paixão permanece acesa nos seus íntimos -, sentindo-se presos à região para sempre. Fatalmente o que senti!



Apesar do frio agreste trazido pela nortada  o sol aquecia -, só na sua frente se aguentava o ar gélido da corrente fria que se fazia sentir...

Segundo colegas residentes havia pouca gente no longo passeio defronte da baía, contrariamente  achei haver muita  mesmo na hora do almoço. A feira saldou-se positiva no mote para repetir. Espero que a organizadora D. Helena consiga nas desistências um lugar bem mais central, abrigado, onde o frio se faça sentir mais ameno. Reencontrei o Pedro  sempre vendeu o prato de faiança  de José Reis de Alcobaça 1880 (?) que vira na véspera na feira da ladra...ainda bem que registei a foto. Inconfundível o barro branco da melhor qualidade numa decoração tipo minimalista (?) diria aos olhos d'hoje apresenta uma tarja  em tom azul mar na bordadura com motivo floral em todo o centro estendendo-se pelas abas de flores em policromia graciosas com pétalas a terminar em jeito de coração ornadas por folhas verde ervilha a lembrar o agrião e outras em manganês pontiagudas. Em excelente estado de conservação.


 No domingo não encontrei quase nada que me alegrasse as vistas...de faiança!


Por isso deixei-me partir em sonhos e deambular...na paixão  que a grande duna desnudada de plantas do lado sul a caminho de Salir do Porto...tal despertar d' apetites quentes como se fosse numa qualquer praia deserta e paradisíaca do Brasil e lamento só conhecer da televisão...romântico o moinho  branco de vento que se vê no outeiro que lhe fica atrás. Qualquer alma sensível ao ver tão doida paisagem fica na vontade de a descobrir na companhia de alguém sensível e mui apaixonado. Acredito será uma viagem a dois onde o calor tórrido no viver sensações e emoções abrasadoras numa de rebolar na duna, tal intensidade só comparável com a fúria  das ondas no ecoar forte a quebrar nas rochas...

A feira vista do fim com o Manuel Peneda na sua banca. Reencontrei a Fernanda que comigo esteve estreante no jardim das Caldas - está na mesma com aquela pele de seda. Outro reencontro feliz com a  Ana Pimenta que conheci há mais de 8 anos na feira de Setúbal -, e a deixou de fazer, agora anda por outros lados. Tinha uma tampa de terrina em faiança que me encantou - mais uma para a minha coleção.

Logo a minha mente fervilhou seria fabrico de Coimbra ou José Reis de Alcobaça(?). Quando a lavei em casa reparei que o barro é avermelhado sendo o de Alcobaça de primeira qualidade "ando às voltas"...no ser ou não ser, eis a questão!
Gostei francamente da decoração: casario, paisagem, vela do moinho, e do ziguezague da linha em vermelho nos cantos tão usada no cantão popular.

No entanto a minha primeira compra foi na última banca -,da Maria, rapariga açoriana que na sua alegria me dizia ser a sua 3ª feira . Comprei barato estes pratos da VA ...só para quem conhece, ela desabafava -, "na Expoeste vendi a um colega um grande prato de Estremoz com gatos que ele desvalorizou, baixei dos 50 para os 40 €"...ainda bem que percebeu que foi enganada... enganada fiquei eu porque nem na banca dela dei conta de ter reparado...muito menos no prato.Pelos vistos perdi a oportunidade de fazer a minha primeira aquisição de faiança de Estremoz!
Mais tarde vinda da voltinha da feira ateimava comigo que um prato Mandarim na minha banca não era Companhia das Índias...já tinha vendido um serviço,- nem ateimei, afinal era a sua 3ª feira, tão pouco conhece vidros VA que dizer faiança de Estremoz, claro que só pode ter vendido um serviço replica de Mandarim daqueles trazidos no tempo que Macau era português...o que me pareceu!
Numa banca de livros e postais antigos haveria de encontrar um de ANCIÃO  a um preço de luxo - 25€ - , curiosamente no post anterior a este mereceu honras de eleição.Ainda me confidenciou que há tempos vendeu muitos a um senhor, quero acreditar um apaixonado por Ansião na aba de Sicó.
De volta da feira vinha um casal -,a senhora trazia nas mãos alguns pratos da VA da coleção Natal embrulhados a jornal quando repara nos meus... sobre o preço solicitado com grande desplante diz-me"ainda agora comprei estes todos ali em baixo a 6 euros cada um" argumentei na defesa que o colega até lhe os podia ter dado, que até tinha baixado o preço este ano, não seria ético os vender a preço abaixo de custo da VA ...o senhor que a acompanhava, seria marido(?) me pareceu simpático - em gesto de a presentear diz-lhe" ofereço-tos"...fiquei com a nítida sensação do bom gosto, melhor na aposta que tal gesto de hombridade despertaria na recompensa que dela esperava ter ao anoitecer...também de mim do bom desconto que fiz!

Na volta de despedida da feira encontrei a Ermelinda de Alcanena...diz-me "olha a Isabelinha"...tenho de ir andando  "o meu marido não gosta que me ausente da banca" voltaria a ouvir tão bom achego de carinho mais tarde quando se faziam horas do  meu marido perdido na fuga em reconhecimento da vila  e me diz "estive a falar com o cego marido da tua amiga...quando lhe disse que era o marido da Isabel disseram em uníssono Isabelinha..."
Comprei uma boa travessa em pirex opaco a imitar VA muito interessante apenas por um euro...nova em folha! 
Ainda vendi duas ferraduras...para dar sorte ao seu dono de etnia cigana, rapaz novo com dedos escanzelados repletos de anelões em ouro - usados nos anos 50... devia ter ficado com uma ferradura para mim, isso sim!

Bem agasalhada a fazer medo ao frio -, sob cariz alegre de feirante por um dia , levantada às 5 da matina! Tal transformação me deixa incrédula,acaso me instigo " serei eu ?". Sinto-me tão irreconhecível...mas feliz ,e isso é o que conta na balança dos porquês!
A fazer eco no que ouvi num café um homem sentado na esplanada pedir um chá verde...talvez por achar que um homem nunca bebe chá -, só se estiver doentinho... e no caso só de limão, não foi o caso de me parecer...estarei desatualizada com a loucura das velharias!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A feira de velharias na Expoeste nas Caldas da Rainha

Acordei com a vontade desenfreada em dobar as minhas memórias vividas no certame da Expoeste nas Caldas da Rainha no abrir em tom "sem medos" -, sinónimo de coragem  apanágio que comungo.Quis a sorte presentear-me em participar no evento pela mão da minha querida irmã, ao estar temporariamente a trabalhar na cidade me endereçou a publicidade alusiva ao evento, facultando hospedaria. Como chamada de atenção alerto para a deficiente sinalética na cidade, demorei quase uma hora no pára, arranca, e perguntas tipo: escuta e olha, e nada de ver setas de indicação ...num reboliço andei em correria desde as Termas, Centro Cultural, Praça de Toiros, Booling, Escolas, Continente, Moviflor até descobrir a ponte que passa por cima da linha férrea e em baixo no telhado do pavilhão vejo as letras garrafais EXPOESTE ...numa sexta feira com muitos carros e gente por todo o lado...seria tão fácil aos intervenientes auscultados dar a indicação mais assertiva da localização dizendo simplesmente - junto ao AKI...inegavelmente o melhor seria a instituição camarária ter a disponibilidade para providenciar as referidas indicações sinaléticas em falta, julgo mui pertinentes que muito honrariam todos os que aqui se deslocam no colmatar maçadas com tempo perdido.O que vi e não aprovei foi na rotunda da saída da A8 a GNR na fiscalização da carga dos colegas para auscultar se os mesmos estavam credenciados com as guias de transporte -, tarefa premeditada, e só por isso não me agradou, apesar de sempre privilegiar a lei. A receção no local foi praseirosa com a Ana Reis da Costa de Caparica, e a Susana que se mostraram no decorrer da inscrição atentas e expeditas no bom desempenho profissional que me deferiram.Também uma nota para o segurança, homem com idade, tantas horas de pé, sempre de sorriso franco e disponível. As casas de banho asseadas, com papel e produto para lavar as mãos, constantemente a serem limpas, e o recinto também.
A hora de abrir ao público fazia-se curta no arrumar do estaminé improvisado de chão. Em conversa com a minha mãe que me veio visitar,  a minha primeira cliente a fazer jus ao dito popular "para me dar sorte nas vendas" dou de caras com um homem parado em frente da banca que me parecia olhar para mim, e não lhe conferi atenção apesar da minha mente o seu olhar  martelar - num instante o questiono "não é o Hector?" sim era ele -, questionava-me a razão porque não lhe enderecei um email como me tinha solicitado quando o conheci na minha primeira feira no Jardim das Caldas...pois tive de ser sincera e dizer que o cartão que gentilmente me oferecera tinha deitado fora -, claro inadvertidamente, porque tal procedimento teimo continuar fazer na mudança de carteiras ...logo no preciso momento me deu outro -, reparei que é licenciado  e no e-mail que desta vez não esqueci de enviar rematou endereçado Boa noite Dra Isabel...devo esclarecer que não sou licenciada, terminei o 12º ano nas Novas Oportunidades num curso EFA de 1150 horas por ninguém licenciado na altura perceber que deveria ter feito um  RVCC, atendendo ao meu passado profissional... o voltar à escola foi o  mote de força e encorajamento para apostar na escrita pela mão de uma professora que no seu achar a catalogava como  queirosiana pela mesma denotar fartas memórias, poder de observação, sobretudo pela inclusão e riqueza dos pormenores com constantes devaneios com epílogos em perdas inusitadas nos enredos para me voltar a encontrar no fim das estórias ...confesso aos poucos estou a reaprender a escrever motivada por vícios do meu passado profissional na emissão de pareceres de crédito tipo mensagens , na realidade ainda não existiam nos telemóveis, por estar sujeita a  número restrito de carateres , sobretudo no meu querer de enaltecer o cliente e com isso ganhar as operações. Fazia uso e abuso do meu poder de sedução com o jogo de palavras nos pareceres que emitia para encantar (?) o analista de crédito -, enaltecendo sempre o cliente, fosse da sua faixa etária pelo engrandecimento que o mesmo daria na população residente existente no Balcão, do seu valor credetício, da  boa impressão resultado da conversa nas horas que com eles tabelava, sempre no intuito do maior conhecimento -, para conclusão, ilações de valia, e risco, na aposta das operações com margem de segurança, desvirtuando estigmas aparentes ou outros em jeito de ponderação, e bom senso, como ditam as regras, no equilíbrio da balança  prós e contras... 
Argumentos suficientes que no meu entender seriam abonatórios para ganhar a aprovação, no meu julgar fazia fé que o analista de crédito não o conhecendo, não lhe sentir o olhar ,- porque a proposta  lhe surgia no sistema informático aleatória e fria pelo historial bancário ( quase sempre fraco,paga juros quem não tem dinheiro) em abono de consciência sentia no meu ego serem fatores bastantes para o meu triunfo, acreditando na intuição do meu 6º sentido de mulher "que estaria mal disposto , teria dormido mal, a mulher disse-lhe que tinha dores de cabeça , virou-lhe as costas e...outras chatices" ...
Prazer mayor era viver nessa esperança em fazer nascer nele uma vontade de reler o parecer, voltar atrás, antes de reprovar a operação... houve muitos casos que telefonavam para tirar dúvidas, mas também porque de certa forma admiravam as minhas substanciais diferenças, comparativamente aos pareceres clássicos de outros colegas numa antítese quase total ...
Vivi momentos efervescentes de coragem e luta guerreira ao telefone numa batalha fenomenal - , eles no seu papel faziam perguntas tipo inspector, para ver se me contradizia , mentia, ou ocultava dados... 
Sei que adorava quando saia ganhadora, tal era o orgasmo inteletual que sentia, só possível porque sou lutadora em prol daquilo que acredito. Quem me via  neste palco atuar ficava roído de inveja pela minha tenacidade -, e não é falta de modéstia, antes obstinação no querer, honrar e saber da coisa (banco) para o poder defender o meu cliente! 
Claro na esmagadora maioria aprovavam as minhas operações, essa a verdade do meu sucesso. Com isso deixava os meus colegas gerentes num azedume de ciumeira e inveja...não enxergavam o meu poder na  defesa de comuns interesses fazendo uso prático da minha capacidade em ser uma nata sedutora para o Bem! 
Desculpem se me aproveitei e dei azo ao brio que ainda sinto em ter sido bancária!
 
Passo a transcrever o texto que me enviou na certeza que o Hector não se ofende comigo: Vamos deixar o “Dr.” de lado! Não ligo a este pormenor. Lá por ter um canudo, continuo a ser o mesmo de sempre. Inclusive o meu banco começou a enviar correspondência com o Dr. e pedi para omitirem. Reconheço que há pessoas que fazem questão e até sentem orgulho, mas eu não me incluo nesse grupo..." adorei esta franqueza sincera ,fácil é perceber que nesse meu tempo de bancária senti o mesmo - isto leva-me a recordar um colega que se licenciou à "conta do banco", no dia da licenciatura chegou-se ao balcão da sede e para desplante dos demais escreve uma carta a solicitar a inclusão da sigla DR nos cheques...ainda outra cena desta feita com um cliente quando telefonava fazia-se anunciar  "daqui fala o Dr Ferroz" -, o Dr não tinha canudo, um simples técnico de contas num tempo que a profissão ainda não conferia tal  diploma...raro era aquele que tinha uma postura de zelo e bom senso sem hipocrisias de nobreza falsas, ao invés deste meu novo amigo, assim determinadamente o considero Hector! Já sabia ser amante fervoroso da Loiça de Sacavém. Nas minhas voltas de cortesia pelo certame encontrei três pratos que achei muito interessantes pela raridade na banca de outro amigo -, o Luís do Cadaval que me contou a estória deles...eram da Mariazinha cujo avô foi no tempo um dono da fábrica, para ela fazia pratos com o seu nome - não é o caso destes -, que se consta só terem feito dois serviços. A Mariazinha pela fartura  de menina mimada dava-se ao desplante no fim do jantar partir o seu prato e com aquela carinha de troça a sorrir dizia para o avô..."vovô amanhã tem de fazer um novo para mim"...mote que me fez lembrar um dos netos da família Champallimaud na viagem fim de curso do 12º ano em Loreto del Mar onde a minha filha também esteve fez-se constar que supostamente se dava ao desfrute de queimar notas de 50 euros nas mesas de café para demonstrar aos demais o seu poder...dinheiro que a maior parte não tinha, sendo que a algumas miúdas pagou a entrada nas discotecas...mia culpa, pagou também à  minha porque sempre lhe dei pouco dinheiro, e mesada nunca! Mas hoje colho os louros -, aos 30 anos é poupadíssima, comprou com o namorado a pronto a sua casinha em Lisboa.Claro,  durante toda a vida a ajudei e muito, sendo durante anos a minha única mulher a dias ao fim do ano lhe pagava e bem , dinheiro que nunca viu  a cara pois crescia na poupança !
Voltaria a encontrar o Hector na companhia de um amigo que conheço de vista e até de lhe comprar faiança em Tomar, com aquele sorriso aberto lhe diz " Vasco é a Isa..." , claro soltei um sorriso e disse, já o conheço...ao sair do recinto da feira na banca do corredor do meio estavam dois outros seus amigos, ao despedir-me deles oiço o mais alto a dizer para o simpático mas um kadito obeso "aquela senhora é ..."- esta uma das suas bancas, com artigos de luxo!
Tive o prazer inusitado de me calhar em sorte um lugar na exposição ao lado de um colega que não conhecia do Porto , de seu nome Manuel Peneda -, cavalheiro educado, simpático, pronúncia do norte, mui facilitador na inter ajuda com imprevisíveis arremessos de humor sarcástico à laia do Pinto da Costa e de estrangeirismos vividos na Suíssa, França, Marrocos e,...
O meu bom amigo Manuel Peneda - um homem de fibra do norte!
Adorei o seu power e fibra de homem com pronúncia do norte, mui inteligente, de bom intelecto e cultura literária numa idade invejável -, 71 anos, bem estimado de porte elegante ornado de belos cabelos alvos que lhe conferem o charme de um nato  sedutor  a fazer fé na conversa que estabeleceu comigo -, confidência de vários casamentos e uniões, um aventureiro que mal sentia problemas escapava-se em fuga...teria percebido mal(?) -,talvez por ser um "virgeano"... me admirou dizer que gosta de Lisboa, do sul, sendo um homem do norte, tal bipolaridade não deixa de lhe conferir um estatuto de bom vivan. Quis intervir a meu favor na indicação de um bom romance a uma senhora que se abeirou da minha banca, debalde a mesma redondamente disse que não apreciava, só procurava literatura sobre teatro ...prefaciando o seu comentário "ainda agora encontrei brochuras a 50 cêntimos numa banca que mandei guardar..." nisto pega num livro meu, cujo título " VARIA",  começa a desfolhar , achei que no seu ar doutoral para mostrar a sua intelectualidade remata " são cadernos sobre teatro que alguém mandou encadernar, abri logo num do Teatro do Trabalhador - O Hóspede Indesejado
... muito procurados para teses de teatro e,...em qualquer alfarrabista não o tirava por menos de 25 euros, estando marcado 2 € vou levar..." dei corda à minha propositura em tom suave e doce numa de virar a intelectualidade a meu favor - "ontem vendi outros de encadernação em carneira, ficou apenas este que o meu marido desvalorizou pela capa, e por lapso deixou ficar no lote dos demais mas o preço não é este"...fitou em mim o olhar, e disse-me " já percebi a sua sensibilidade vou deixa-lo de lado, quando voltar a dar outra volta se não estiver na banca -, o retirou para si, não me importo mesmo nada..."  foi o que fiz - nisto, o bom do Manuel diz-me "detesto mulheres inteletuais  só podem fazer masturbação inteletual  ... é como comparar o Benfica ao Sporting, ela não gosta, deita abaixo - mal baisé " em francês quer dizer mal fod...considerem tal expressão desabafo! 
Em jeito de remate devo confessar que a Dra credenciada em teatro se encantou mais com o meu charme do que com o dele ...e, isso a mim deixou-me triste , porque na verdade há anos que não tive tantos elogios e palavras gentis sobre a minha pessoa como nestes dias - e sempre de homens -, inclusive propostas que me soaram a desonestas (?) -, tal só possível pelas emoções fortes geradas que despoletei nos meus jogos de sedução tal como o fazia em adolescente para me fazerem esquecer os problemas...
 
Comecei por pôr cabresto em tal pensar despropositado que por instantes me cercou a mente, mas ao que me parece "saiu-me o tiro pela colatra"...ao conversar com o Alexandre ... a fazer fé no que me disse "nunca outra mulher me diferenciou com tanto carinho"...apreensiva fiquei com tão inusitada atitude, no imediato em jeito acelerado gravitavam ideias  que em turbilhão se chocavam na minha cabeça e me deixaram de certa forma confusa até encontrar a origem de tal atitude -, nisto fez-se luz sendo ele um "carneirinho" vive as paixões de forma  arrebatadora e fulminantes - posto isto acalmei e desfiz a  louca impressão se porventura tinha exagerado na minha postura quando o abordei anonimamente na sua banca sobre questões de faiança, indubitavelmente tabelei conversa sobre a riqueza das suas peças de arte sacra e faiança.Em abono da verdade sei que até nem me abri muito... aflita fiquei como desfazer tão boa impressão que lhe causei -, se o pensei melhor o fiz ao endereçar-lhe as minhas desculpas por nele ter criado aparente e súbito encantamento...nada mais foi que o encadear de ânimos que naquele espaço se levantaram em exaltação, sendo que alguns, felizmente poucos, se sentiram confusos, tiveram necessidade de estrebuchar emoções...esqueceram barreiras, e tempos ,e na primeira oportunidade me dirigiram parcas frases e nelas palavras sofridas, mui sentidas...fatalmente o que senti -, carências!

Ana Bela Pimpão, uma deusa!
Na frente da minha banca estava um casal que adorei conhecer -, a família Pimpão - Ana Bela, cinquentona, silhueta 36, voz forte e andar sexy, olhar à matador sentada na chaisse long de veludo raiado a vermelhos e amarelos desafiava as hostes a fumar em recinto fechado -  mulher com porte de princesa, uma senhora com porte de diva! Sob o olhar reservado e doce do marido que depois de acordar do anonimato, se abriu na parceria na conversa e se revelou um homem encantador de boa onda, apesar de tímido e sensível, uma carateristica dos "carneirinhos" no contraste  da personalidade dela mais histriónica por ser "peixinhos" - para mim que gosto de ajuizar sobre o tema diria que não será uma junção feliz por serem signos incompatíveis, será (?) Deixo o tema para eles se questionarem se estarei certa ou errada, quero fazer fé que estou errada, porque na verdade gostei imenso do casal. Tudo começou na cumplicidade da sua  notória presença sendo dona de um olhar de mulher fatal me abeirei dela numa de conversa porque causa da venda dos leões ... num instante se fundiu e extravasou em conhecimento aberto como se fosse de toda uma vida. Uma coisa destas deve acontecer poucas vezes, dizem ser química -, pois que seja. Mulher trabalhadora  sete dias por semana, com o marido fazem aos fins de semana 4 feiras em locais diferentes -, é de se lhe tirar o chapéu. Francamente fiquei fã do casal ,e deles senti o mesmo.Gente de fibra, só me questiono com tanto trabalho se tem tempo para eles, que sinto merecem!
No tardoz da minha banca o espaço pertencia a dois casais -, os homens obesos, elas jeitosonas de corpo, ornadas de grandes cabeças ripadas oxigenadas aos caracóis, gente pouco ou nada simpática. Além de não cumprimentarem praticamente ninguém, me pareceu se tratar de gente com pouca formação e estofo para fazerem o seu trabalho conjuntamente ao lado de outros colegas, no 2º dia tiveram o desplante de tapar com uma cadeira a passagem do seu stand para o meu, e assim impedir as pessoas de contornar a banca, fazendo "gato sapato" da passagem aberta no stand do Manuel Peneda ao meu lado onde eu tinha a minha cadeira porque lhe pedi autorização, por não estar habituada a fazer feiras em locais fechados e não dispus a minha bancada com o layout desejável...pior, foi no domingo quando se atreveram a por a dita cadeira para a frente no corredor, para impedir os clientes de ver a minha bancada quando vinham no seguimento da deles - julgo "lhes saiu o tiro pela culatra" - pouco ou nada venderam, o que me pareceu...eu nada disse , muito menos fiz,- sou uma senhora, não me irrito com gentalha sem noções de etiqueta, detesto conviver com gente mesquinha , iletrada , de cabelo ensebado.. estaria a dar-lhes valor que não tem!
Gosto de vender, na volta da feira adoro trazer uma peça comprada -, isto numa de continuidade em alimentar o ego. Na feira houve três peças que comecei a namorar: um prato em Cantão Popular de Coimbra; outro maior com motivo casario em verde atribuído a Vilar de Mouros ou Coimbra (?) o último partido e colado de Fervença com um pássaro e umas bolinhas a preto brilhante que me fascinou . Desta feita as minhas voltinhas na feira que faço a toda a hora servem para os ir namorando -, só que no sábado o prato Cantão já lá não estava, tinha sido vendido, assim fiquei com duas escolhas , atendendo ao preço decidi-me pelo verde, motivo casario. No domingo tragava a minha sandes quando me deu um impulso de o ir buscar para junto de mim - fui à banca do Carlos ,o seu dono e num repente fiz-lhe uma proposta " só te dou..ripostou ele..."levas-me sempre à certa"...
Atribuo fabrico a faiança de Coimbra(?)
Vaidosa vinha com o meu prato nas mãos a pensar se seria Vilar de Mouros ou Coimbra (?). Na verdade este motivo de challets com capela nasceu da vaga dos primeiros emigrantes regressados ricos do Brasil no gosto de os mandar construir acima de Coimbra, e tanto haviam de inspirar pintores na cidade, Alcobaça e Vilar de Mouros. Mas também há quem diga que são cópias do motivo inglês Roselle, ainda outros que simplesmente lhe chamam Casario. Decidi pô-lo estrategicamente na bancada. Mal me sentei para continuar a degustar a minha sandes de carne assada com agriões que tinha interrompido nessa vontade louca que resultou na sua compra e me dou conta de pelas costas me aparecer um dos homens da banca do tardoz, o tal de cara de mal disposto que me questiona quanto queria por ele - respondi com um sorriso "não é para vender é para a minha coleção"...se fosse da laia dele pedia 200 euros...só para o irritar numa de o deixar calado - e se ripostasse tinha concerteza argumentação suficiente para o debelar...mais tarde, viria de novo abordar-me quanto queria por um Santo - respondi "está marcado" ..."diz-me ele não faz por menos?"  respirei fundo para manter a postura argumentando que se tratava do S. Francisco Xavier com as insígnias: caveira aos pés, cruz ao peito e aureola na cabeça, até era barato...depois pega num prato motivo Mandarim que lhe falta no rebordo um bocado e pergunta quanto quero por ele - respondi é um prato século XVIII está marcado mas posso baixar - ato imediato oferece 5€ a que respondi - está a gozar comigo? aliás nem percebo a sua atitude desde sexta que nunca me cumprimentou nem me dirigiu a palavra e agora está interessado nas minhas peças?...de voz engasgada diz-me - "eu sou assim...sou eu que faço as compras"...mas o que tem haver a falta de educação e ar sisudo com o fato de comprar ? Haveria logo de o entender pelo lado da sua mulher da Póvoa do Varzim de "pelo na benta" com ar de boazona... apesar de alguma lindura no exterior me pareceu por dentro apagada de brilho sábio -, mesmo de ter sido a única no clã que um dia ao passar na passagem proibida com a panela da sopa me dirigiu a palavra "quer uma sopinha, está muito boa..." - a única boa ação, já sobre o meu cavalo branco me perguntou se era VA...quem não sabe distinguir Alcobaça deve estar a quilómetros de distância de  perceber seja o que for...pior for ouvi-la dizer a um cliente que apreciava um grande prato em azul "sabe o que isso é?" ...perante o seu abanar de cabeça lhe diz - Delf" - pois era -, mas reprodução!...bem, no caso do meu Santinho vi-a junto da mesa ao centro onde se reuniam e comiam a remexer uma pasta onde supostamente nos cardápios do marido queria identificar a marca impressa na terracota do Santo, num ímpeto abeira-se de nós e em tom desplante e apressado no abrir de boca pronuncia "madine portugal" na vez de o dizer à inglesa...que não era , antes de uma Estatuária, como nunca falei que o Santo seria de origem estrangeira, rematei que os clientes na presença de duas peças, sendo uma com marca e a outra sem ela, preferem a marcada, naquilo lança-me um repto de humor mordaz e irónico que em abono da verdade não consegui assimilar, só lembro das palavras" olhe isso das marcas é como o cu..." dispersei...não é gente da minha estirpe, acabei por perceber se tratar de personas non gratas...(?) quero fazer fé que exagerei!
Apetece-me fechar o tema prefaciando um pensamento de Simone Weil "alguma coisa misteriosa neste universo é cúmplice dos que só amam o bem". Não temos que fazer amigos no local de trabalho, mas podemos e devemos contribuir para a criação de um melhor ambiente no trabalho. No convívio salutar é importante, afinal passamos a maioria da vida uns com os outros, isto de ficar gente no seu cantinho numa atitude demasiado defensiva e matreira não me parece atitude de gente inteligente, antes lerda!
A terrina quinada com grinalda de flores séptia com pega flor de lis e o penico apontam para produção José Reis de Alcobaça
No gaveto do corredor numa das minhas frentes estava a Marisa - , menina , mulher, mãe  ao telefone dizia "filho já vendi os teus vídeos" ...uns trocados para aquela mulher tanta falta senti lhe faziam - o seu rosto deixava transparecer muita dor, tristeza e amargura, talvez também solidão...durante todo o evento, tanto o meu marido  como eu, fomos aqui e ali estabelecendo conversa com ela, também da banca quando sentadas via nela  respostas sem palavras no seu arregalar d'olhitos apagados de brilho com a nítida falta de clientes para os seus produtos...melhor sorte a minha que no domingo logo de manhã despejei o resto do açúcar do café pelo terrado da banca para me dar sorte, e deu. 
Açucareiros - pequeno já o tinha -, comprei na Marisa o maior
A Marisa na parte da tarde trouxe uma peça de Sacavém antiga que pôs estrategicamente em cima do carrinho de chá, terrina minúscula motivo "cavalinho" a quem  entusiasmei a pedir mais por ela,  expliquei os porquês, afinal há dias comprei um congénere ainda mais minúscula, embora intata, e a dela faltava-lhe o torniquete da tampa - segundo um conhecedor era usado como açucareiro. Ao anoitecer com apenas 15 euros faturados quando interpelada pelo meu marido sobre a nova peça igual à minha esta dirigi-se a ele " não a quer comprar o dinheiro faz-me muita falta". Mal ouvi estas palavras acedi que o fizesse, quando me despedi dela quase as lágrimas me rondaram as órbitas ao dizer-lhe que gostaria muito de a ajudar...mas também não posso , essa a minha grande verdade! Senti na pele as suas dores. A sua cruz é por certo igual à minha - o que muda é a Psico - sendo ela "caranguejo" é demasiado sensível, isso reflete-se na sua atitude para lutar e dissimular as dores, enquanto eu me agarro à  energia fogo que me é peculiar sendo "taurina com ascendente em leão" a fórmula resulta em ajudas de forma algo mágica...   embora lenta a minha vida trilha de forma harmoniosa , para meu espanto se desenrola perante os meus olhos em novas oportunidades, porque nunca perco a fé e a coragem! Só por isso sorrio, e muito, fazendo do meu dia a dia um palco onde a alegria que sinto na conversa que travo com conhecidos e anónimos me distrai, afugenta tristezas fazendo fé ao ditado popular - "tristezas não pagam dívidas! Recentemente senti um hellan de algo tipo "uma luz ao fundo do túnel" quero acreditar que se avizinha uma nova e melhor fase para breve! Adoro pensar positivo, sou uma sonhadora, apraz-me o espírito arquitectar que saberei o chegado momento de alcançar as  metas que desejo. Mote renovado na minha mente nesta feira no tempo que estive parada com o meu pensamento se viria a mostrar revelador e muito determinado em não permitir que mais ninguém abuse nem tão pouco me passe outra vez por cima -, por acreditar em mim, nas minhas capacidades de visão como estratega , mulher decidida e determinada em não desistir, afirmo convicta que sinto "forças imateriais" que de alguma forma me estão a amparar para me ajudarem neste processo que se arrasta no tempo, dando-me o otimismo e esperança de quando for hora de agir o sentirei , tal e qual quando o mesmo, for na hora de estar parada . Acredito, e tenho fé que saberei como e quando fazê-lo, graças ao meu "Anjinho da Guarda"  que me guia e encaminha finalmente Luz,- sem contudo sentir atrasos, recuos e, tropeços por via de alguns poucos pecaditos...para chegar onde desejo, nesse pressuposto tenho outro probleminha... diz-me o bom senso que seria bom pensar BEM no que quero realmente! Uma situação é certo e sabido o que pretendo -, já de outra tem que se lhe diga pelas dúvidas levantadas pela farta oferta, o momento exige atenção, observação, e investigação no terreno das hipóteses, numa de procurar aquilo que quero onde ainda não procurei nem tão pouco o pensei! Quem de nós não daria por uma oportunidade de ser feliz ? O problema é que muitas vezes, quando temos essa hipótese nas mãos, acabamos por desperdiça-la, ou não temos a coragem suficiente para lutar, e a viver. Por isso atenção aos detalhes, jamais dispersar quando surgem bonitas oportunidades de ser feliz !
Canga  de bois e  nela pendurados Santos sob olhar de gato amarelo
Haveria de voltar a ter outra surpresa em final de dia na despedida ao meu amigo Carlos, também ele trouxera um amigo com quem nestes dias acabei por conversar -,homem de boa estatura e silhueta, ar inteletual, dono de olhar azul bebé , na despedida ao lhe perguntar o nome com o repto de saber como tinha corrido a feira o Nelson olha para mim num tom suave , mui doce, devolve-me o repto "olhe não vendi nada, mas a feira valeu porque a conheci" confesso que tal inusitado me voltou a apanhar de surpresa, neste caso outro homem do signo fogo " leozinho" - na verdade eu é que adoro seduzir com a artimanha no jogo das palavras, no caso ele quase anónimo para mim me surpreende e de que maneira, também um gentil men, culto, educado, com aroma a snob... de fugida encaminhei-me para a casa de banho para refrescar, só ai na frente do espelho me dei conta do elogio bonito que me diferenciou e nem agradeci... não fosse por isso haveria de voltar para lhe dizer " voltei porque teceu-me um rajado elogio,parece que fugi sem agradecer, por isso merece um beijinho..."mal acabei de falar já me beijava ele na face ...quem ficou de beicinho foi o Carlos a dizer "ficas a dever-me dois"...estórias de aventureiros e corajosos provocados pela influência do raças dos vestidos (?) ao darem à minha pessoa uma sensualidade inimaginável a fazer parelha com os cabelos escorridos e ondulados nas pontas, sobretudo a minha alegria, o meu estar, a minha conversa simples, e escorreita só podia eclodir em granjear novos amigos com muito bom gosto...

O Tony dos discos só apareceu no sábado, já nem me lembro de o ter visto -, agora corre todo o País, teve de se sujeitar ao lugar da entrada por não haver outro para lhe darem.
Tony dos discos - A VOZ!
Quando o conheci na minha primeira feira na Costa de Caparica fiquei sua fã pela educação, amável, e mui disponível para ajudar " quer que lhe traga um cafezinho, ou alguma coisa para almoçar..." encantada havia de ficar para sempre com o seu timbre , dono e senhor de uma voz romântica, doce, quente, apelativa deveria ser locutor de rádio -, e foi esse o elogio que lhe teci e continuo...até quase ruborizar!
Quem no primeiro dia se passeava no certame e julgo nem para a minha banca olhou foi o Paulo Pereira Cristóvão -, sportinguista de gema, ex inspetor da PJ , muito magro, só o reconheci pela intensidade do olhar , sei se enfeitiçou por uns leões em pó de pedra que no momento nem hesitou comprar, segundo ouvi falar.
Leões a serem carregados com uma grua
Levantei-me da cadeira onde descansava o esqueleto  para ouvir o meu colega Manuel Peneda na sua vontade de partilhar comigo o que ouvira de um cliente " vendi agora o livro  Henrique Galvão a um fuzileiro naval  David Geraldes que libertou os últimos presos de Caxias e me confidenciou ter uma biblioteca com mais de 8.000 livros", haveria de voltar ...
De encosto à parede estava o Paulo "desdentado" ainda tão jovem até fazia aflição recebeu a visita do filhote, um menino irrequieto de ténis com rodinhas, dividia a banca com a Cátia, grávida quase em fim de gestação. Alfacinhas simpáticos, não perguntei os nomes a quem pedi para registar a foto da canga disse-me que na sexta vendeu uma jarra verde a um conde...
Quem também na sexta apareceu foi o Dr Jorge Sampaio diretor do Museu de Alcobaça. Vi numa azáfama dois homens novos cheios de sacos pelas mãos com peças de Alcobaça, na banca da família Pimpão compraram ao preço da "uva mijona" um par de jarras Art Deco lindíssimas, na Lurdes uma boleira, na banca da mãe uma fruteira, castiçais, só pratos não vi que comprassem e havia fartura.
Numa banca havia uma tampa enorme oval de faiança em esmalte melado azul e decoração floral típica do Juncal, por já ter visto uma terrina completa igual apenas pintada a manganês num antiquário na Sé, fácil foi atribuír a tampa -, mas para testar dúvidas tabelei conversa com o Carlos que me diz pouco ou nada percebe de faiança , a melhor pessoa para me esclarecer seria o Zé Russo -, com a retórica "se  ele não souber dizer a origem de uma peça desconfio que outro não haverá melhor ". Fomos até à sua banca abordá-lo nesta questão, em atitude sensata e calma sem me desconsiderar, avança " pode ser também dos irmãos Ruas de Miragaia"...dispersei a caminho da minha banca  mas fiquei a pensar na tampa -, depois de alguma luz achei que me precipitei na minha análise (?) apesar do Juncal ter pintado o azul mas ali o esmalte também era azulado -, num relance pus-me a caminho para pedir desculpas, dizer que achava ele ter razão,- para meu espanto diz-me, "olhe eu fiquei também a pensar que pode ser outra coisa - francesa, aquela fábrica que pintou Rhoen, porque Juncal nunca vi uma tampa destas..." mas eu vi -, e também sei houve fábricas que tentaram imitar congéneres estrangeiras no esmalte azul em detrimento do branco translúcido...para mim continuo a dizer que me parece ser portuguesa -, pelo estriado da pintura floral no esmalte ficar com bolinhas e não opaco...estas conversas desconcertantes são muito engraçadas, porque as dúvidas, essas continuam...o Zé Russo estreou-se a vender Companhia das Índias e faiança portuguesa...um dos que mais sorte nas vendas teve segundo se constou tal como outro de Évora vendeu faiança de Estremoz. O Zé Russo só tinha material de primeira qualidade, a fazer jus à namorada uma bela morena de olhar penetrante de seu nome Adelaide - sem dúvida uma boa escolha tal a cumplicidade senti haver nos dois "virgeneanos". Adorei tabelar conversa com o casal que conheci nesta feira,  o mundo é mesmo pequeno, sendo bisneto, neto e filho de antiquários; a sua mãe  dona do antiquário de Setúbal - então não olho sempre para a montra, da última vez tinha um prato coisa de 60 cm de diâmetro dos Meninos Gordos. Na banca da Fátima cunhada da Isabel que conheci na primeira feira no Jardim, dela escrevi por achar linda a sua relação com o companheiro Marco muito jovem,com idade para ser seu filho...ao lhe perguntar por ele espanta-me "mandei-o embora porque percebi coisas que não aceito" ,- ainda bem que enxergou! Espero que melhore da sua frágil saúde a fazer fé no que viveu com  cenas deploráveis que me confidenciou,  nada abonam em melhoras e paz.Gosto dela, e da cunhada Fátima, quando a revisitei quis vir conhecer a minha banca, num repente a altera ,- tal performance resultou em mais vendas...aprendi Fátima -, muito obrigada -, e pelo marido haveria de saber que tinha na banca uma garrafa em forma de livro de Sacavém à qual não dava o valor merecido -, ele tinha uma travessa das Devezas com um ramo de cravos cujo rebordo era martelado, mais uma achega para a catalogação, e os pratos de faiança pendurados os vendeu a um antiquário da terra .
Perturbava-me uma colega sempre sentada  de cariz muito reservada a quem tinha perguntado o preço de um prato colado de Fervença, me disse ia perguntar ao marido e depois me dizia, haveria de voltar na tarde de domingo a questioná-la, acabrunhada disse-me "enganei-me disse-lhe cem e é trezentos, ..." para a descansar soltei um sorriso "querida não faz mal, esse preço não posso chegar..." nesse instante pedi-lhe desculpa por de manhã na entrada não a ter reconhecido, talvez pelo uso do chapelinho na cabeça, reconhecendo no momento a saia vermelha pelo folhinho...sorriu...não sei que reviravolta se deu no casal, o que ela lhe disse de mim, passado um bocado o marido Raúl, homem na casa dos setenta bem aviados, alto , vestia casaco de antílope que adoro sobreposto por outro para não o sujar, o tinha visto de conversa com outros quando conversei com a esposa,  após se libertar deles vem até à minha banca conversar sobre  faiança, das peças que tem, milhares em ferro forjado, muita faiança , do seu antiquário e até que me dava peças partidas...disse gostar de fazer a feira da Avª da Liberdade, enfim uma simpatia até parecia que éramos conhecidos - fez oferta de casa na região onde tenho uma casa para dormir e assim poder ver as suas coisas, ainda acrescentou " num antiquário a gente gosta de se perder na procura de peças especiais" ora se ele não se importa o que a mim sempre me constringe não vou perder a oportunidade , ainda acrescentou, sei gosta de escrever, não sendo eu do tempo da internet " pode ser bom para mim e para si"  . Dizia-me "a feira não valeu nada, só valeu pelos contatos" logo depois haveria de mandar a esposa com um cartão com os seus. Voltaria  de novo com um prato de faiança que se tinha partido no caixote, pintado a verde, julgo numa primeira análise seja uma invocação de Cantão Popular-,deveras interessante.Vou pendurar numa das minhas casas onde tenho uma coleção de cantão à base do azul, porque julgo esta diferença na criatividade de alterar a cor padrão dá uma imagem de engrandecimento da nossa faiança que a torna ainda mais fascinante.

                                       Oferta do Sr Raul de Abrantes

Como não há duas sem três haveria ela de  novo trazer uma malga pintada a cor de rosa que se partiu um nadica no rebordo com a dica, "o bocadinho deve estar no caixote, o meu marido vai guarda-lo para si". Esta vai para a minha casa rural, já estou a tratar do rebordo...

Peço desculpa pela foto, apesar do esmalte muito branco e translúcido, o pé confirma fabrico anos 30(?)
Quem andava no sábado de manhã a correr a feira  o Mercador Veneziano a quem cumprimentei, vinha entregar uma encomenda. Levava nas mãos um saco com algumas peças que comprou na feira  que com o seu "olho clínico" consegue descobrir. 
Correu um boato de um suposto intermediário para aquisição de faiança na sexta feira, corria o certame numa roda viva para comprar para um cliente espanhol - coisa que não aprovo,- primeiro, porque fez abordagens de desprezo nas ofertas a alguns colegas, num prato Fervença ofereceu 100 quando vale mais de 500... no pior, porque a nossa faiança que deveria ter no Mundo o mérito que merece anda a fugir para Espanha, disso francamente não gostei! Se agora passamos faturas se o cliente quiser, porque razão os Museus não as compram!!!
Constou-se que também o presidente da edilidade no sábado se passeou com amigos e não sei qual deles comprou o Frade obra Bordalo Pinheiro  na banca do Vasco tinha peças de inegável valor - Fervença, Coimbra e Bandeira, um deles com a esfinge do D. Miguel com as insígnias nos ombros e o farto bigode, umas jarras de altar pintadas a manganês que passavam por Juncal não fossem estar assinadas Viúva A. Oliveira Coimbra, três belos bules de caldo.Se eu tivesse dinheiro trazia o prato Fervença do colega do lado - maravilhoso com um preto brilhante que jamais vi igualzinho a outros dois noutras bancas. Por isso é tão interessante estes certames onde se encontram peças de raridade em muito bom estado e digamos até preço.
A Zélia e o marido João estavam tristes, a carrinha avariou no caminho tiveram de chamar o reboque e nada de vender...tal e qual com o casal Fernando e Fernanda,  e a Ermelinda e o António,- esta chama-me carinhosamente por Isabelinha - gente de Alcanena, simpáticos que conheci na minha primeira vez em Torres Novas, voltaria na segunda a vê-los em Ponte de Sôr, sendo esta a terceira, nas despedidas vi que tinham o filho a ajudá-los a quem dirigi um elogio - filho lindo com o sorriso do pai e os olhos da mãe..na banca tinha uma enfusa branca de corpo facetada de Sacavém com o bico em carranca ...lindíssima e barata! O Santiago de Setúbal , sinto que a idade já lhe pesa, no domingo só o vi na entrada quando me teceu um elogio, o que faz  sempre " estás muito gira, aliás tu és muito gira sempre"...sempre de cigarro nas mãos a caminho da rua, tal e qual com o Rafael de Alcanena o alfarrabista que conheci em Tomar e voltei a ver em Pombal.Vi também o casal da Marinha Grande o Henrique e a Ilda que só no domingo com a venda de muitas garrafas se safaram, já o Sr Cabrita - o Pedrinhas que conheci na feira da ladra e Montemor o Novo, gosta de fósseis, acompanhado da esposa que conheci, não sei se a feira lhe foi favorável tal e qual com a Lurdes e o marido João. O Alexandre de Leiria só vendeu um almofariz de cobre.
Não sei se a Rita de Carcavelos se safou, pareceu-me triste, talvez apreensiva com a frágil saúde do pai, um dia a vi a tocar viola e outra sentada no bar do "Joãozinho" rapaz alegre, falador, de olhos grandes e cabelos aos caracóis, num instante me contou a odisseia da sua vida tudo porque adorou um piropo que lhe teci...os seus rissóis eram divinais a honrar a gastronomia portuguesa, com camarão à fartazana! A Rita ficou junto do Luís do Cadaval , ao final da feira  vi ao longe a ser ajudada pela mãe Isabel Rute que não sei a razão de me ter deixado de falar, apesar das minhas insistências...
Havia um colega que quando eu passava se mostrava sorridente , demorei horas e horas para me lembrar que o conheci na feira de Tomar a quem comprei um par de pássaros de Alcobaça - o Josué - não me esqueceu!
Não faltou o Sr Manuel e a D. Helena da Batalha com a sua banca de ferro velho, estavam desanimados com as fracas vendas, a mim compraram um relógio de parede, fazem coleção.Havia um colega alto cujo estar era igualzinho a um administrador que tive no BCP o Dr Filipe Pinhal de Sesimbra. Não parei nem descansei enquanto não estabeleci conversa para tal lhe perguntar - disse-me que tem família em Setúbal; desde o corpo, o cabelo, o remoinho no curuto, olhar pequeno brilhante, e da cabeça em cima do pescoço ligeiramente inclinada ...possivelmente não haverá irmão com tais semelhanças impressionantes ,o mesmo stlyle
Na sexta vinha eu de lavar as mãos e puxava as calças quando um colega de artesanato me diz "precisa de um cinto, ofereço-lhe este" que aceitei a quem dei um beijinho de agradecimento pela atitude.Vinha vaidosa com tal gesto que ao dizê-lo à Ti Helena me deu um gatinho em latão e depois na banca da Zélia o mesmo agora em loiça e com lacinho vermelho.A Ana Bela ofereceu uma rodada de rissóis, eu outra e o Manuel ginja em copinho de chocolate , também me  ofereceu a meias um crepe .
Quase me esquecia de referenciar as amigas Paulas da Lourinhã e dos seus cães , talvez porque uma delas fala muito alto num linguarejar desnorteado sem ética com clientes e colegas, também pelo aspecto descuidado...na tardinha de sábado a mãe de um dos seus cães decide no cruzamento do corredor urinar, fazendo uma poça imensa de mijo...imediatamente o Manuel Peneda vai à organização solicitar que a empregada da limpeza viesse...naquele instante aparece um cliente e pergunta-me o preço de um relógio da sua banca que estava junto a peças marcadas a 5 € ,e foi esse o preço que lhe disse e pagou. Pior foi quando percebi no "mau estar de silencio do Pimpão" que lhe tinha ditado o preço para venda... naquele desatino, desatinada fiquei, até as lágrimas me vieram às órbitas porque na verdade senti que me deixei levar pelo entusiasmo de querer ajudar, mesmo sem ele me ter dado autorização...o cansaço a longa espera, as fracas vendas, o estar ali fechada horas...mas o Manuel Peneda foi um senhor não aceitou a diferença que lhe quis dar, ainda me deu um lenço para enxugar os olhos. Para acalmar fui à procura do homem e passado um bocado aparece na minha  frente, vou até ele e conto o sucedido, diz-me "compreendo a senhora, mas não tenho mais dinheiro e gosto do relógio" ao mesmo tempo que tira do fundilho do bolso pouco mais de um euro que queria dar...e, o Manuel Peneda não aceitou. Gentes desta índole nos dias d'hoje há poucos, por isso quando os encontramos devemos estimá-los, e apostar em preservar a amizade no tempo pelo alto gesto nobre com que me diferenciou no prejuízo que lhe dei!
Amazing  tão atitude nobre Manuel Peneda!
A maioria dos colegas safaram-se bem, outros assim assim, alguns não se estrearam e ainda se falou em altos prejuizos com peças roubadas de noite nas bancadas, alojamento e... 
Parte da minha banca
Em final da feira, indubitavelmente o domingo foi a minha "safa". Apareceu uma senhora  alta e formosa D Augusta Damião que ficou fascinada com o Santo Francisco por nunca assim ter visto outro igual, mostrando desejo de o comprar ...chama o marido, um  senhor alto, que após a insistência dela no dizer  " seria uma boa prenda para o doutor no almoço em Fátima na vez de lá comprar um Santinho novo..."  o bom senhor esfrega o Santo para ver se é velho ou lhe achar defeitos(?)... acaba por ser convencido pela esposa na sua compra mas oferece abaixo do pedido, que recusei e nisto foram-se embora contornando a banca dos do tardoz...os azedos, que também tinham arte sacra e perguntam o preço de um Santo e ficam "arrepiados"...a senhora desarvora em direção de novo da minha banca , espevita diz de novo que adora o meu  Santo - nisto já o tinha arrumado no caixote quando vejo o marido vir ao seu encalço, no meu ar alegre dirigi-lhe um comentário " olhe que a sua esposa gosta do Santo porque não lhe faz a vontade, me parece ser um homem tão decidido..." sorriu para mim, gostou do meu jeito simples  e na conversa que se aligeirou em rasgados sorrisos e perguntas " onde fazíamos mais feiras que nos visitariam" - naquilo pego numa peça de porcelana para inalar vapores nas termas e digo-lhes " na feira de Alcochete vinha uma mãe com o filho, pega nesta peça diz-lhe - é um saleiro..." tal incultura tão evidente nas mães d'hoje  como podem os seus filhos ser melhores(?) - vai daí levou os dois exemplares, um era VA para a sua cristaleira.Casal adorável, bem disposto que comprou pias de pedras e não sei mais o quê para a sua quinta...clientes destes precisam-se!

Já de banca quase arrumada vejo o João de Mafra a quem perguntei se esteve no certame, respondeu apenas que veio ajudar um amigo a levar as mobílias na sua carrinha . Se tivesse participado seria o Rey - tal a sua esbelta silhueta, rabo de cavalo loiro  e olhar amendoado castanho claro - um Celta d'gema, homem lindo de morrer( bem casado e pai de família, nada de confusões) não corresponde ao meu padrão preferido - falo no sentido de apreciar o  belo - tímido de voz doce, mas muito inteligente, amigo, e de saber!
Agora vou contar a estória do meu prato. Afinal foi comprado pelo Zé Russo que com o Carlos um dia foram na Arrábida comprar umas peças, quando entraram na  casa do homem doente, e de botija de andarilho repararam na parede repleta deles em faiança, muitos com o peixe e os talheres e instigaram-no se os vendia "abanou logo a cabeça a dizer que não porque valiam muito"... e,em ar de gozo lhes diz ainda, "venham ver o meu Santo António que tenho no quarto"...o Zé Russo antes de vir embora deixou um cartão. Passados meses o senhor morre e parece que uma sobrinha viu o cartão e  lhe ligou se estava interessado em comprar os pratos e o Santo António, quando chegou perguntou quanto queria por eles, a senhora diz-lhe uma insignificância ...o Zé Russo pagou bem mais do dobro por cada um porque na verdade é um homem sério que anda no negócio desde sempre e afinal foi ela que ditou o preço.Digo que o Santo pagou bem por ele. Dispensou alguns pratos  ao Carlos que na feira de Montemor lhe comprei um com o peixe ao centro, tinha outro motivo casario a preto. Fácil foi no domingo entender que afinal eram todos da casa do tal homem da Arrábida, os melhores esses já tinham voado da sua banca para novo poiso.
Remato a oiro no realce de gestos altruístas que abordei, por os achar de nobreza e amizade -, fiquei tão emocionada e encantada por sentir que muita gente gostou da minha presença no certame, e eu delas idem aspas, aspas!Vim mais rica. Tais valores  vividos honram a amizade e salvam de males esta porqueira de vida!
No meu melhor trouxe a alma cheia de apreciar in loco boa faiança: Estremoz, Fervença, Bandeira, Coimbra, Devezas, Darque, Bordalo Pinheiro, Juncal, Viúva A Oliveira de Coimbra, Miragaia, Alcobaça, Sacavém, Massarelos,... e outras que são difícies no primeiro impacto identificar, um regalo às vistas!

Remato este longo post  com um pensamento de Platão
"O sábio fala porque tem alguma coisa a dizer; o tolo, porque tem que dizer alguma coisa."
Será que pensei em todas as palavras que me escaparam da minha boca ? Serão elas construtivas? Chatice seria ter julgado para que me julguem também a mim... tão pouco dizer dos outros o que não quero que digam de mim... 
O melhor é pensar neste desafio de raciocínio que fiz a mim mesma com este brutal post!

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