segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Praia fluvial da Pena nas Fragas de S. Simão em Figueiró dos Vinhos

Ribeira d' Alge nas Fragas de S.Simão no concelho de Figueiró dos Vinhos numa tarde de 2011
Paraíso fresco no Pinhal Interior de paredes meias com o concelho de Ansião. Fui pela estrada velha a caminho do Pontão, Almofala e Ribeira d'Alge para em subida sinuosa das serranias eucaliptizadas em rota de curva contra curva após o fontanário à direita deparamos com um cruzamento escondido numa curva à esquerda, fechado e perigoso para se deparar em imediata descida abrupta  onde fica o miradouro. Contempla-lo é surreal, paisagem idêntica à Foz do Cobrão a caminho de Castelo Branco, para mim talqualmente gémea beleza.
Descendo existe um estacionamento com longa caminhada até ao profundo vale onde tudo se mostra aprazível por ser meio selvagem em brutais contrastes de costados íngremes de xisto reluzente que se envaidece no verde e reflecte na água transparente...
O que foi o restaurante das trutas que aqui funcionou a seguir ao 25 de abril, há anos em trespasse, também de fazer dó uma das azenhas que deveria ser dos proprietários vê-la transformada em tanques de viveiros...
Nesse tempo de antanho atrevi-me a ir conhecer pela primeira vez o local com o meu marido, não havia ponte e em modos atrevida alvitrei arregaçar as calças para atravessar a ribeira...Debalde apanhamos o maior susto das nossas vidas, as pedras cobertas de musgo pela sombra dos salgueiros escondiam fundões, os dois balançava-mo-nos a escorregar para todos os lados...o melhor foi voltar atrás. Anos mais tarde voltei para finalmente conhecer este lugar aprazível e belo para dar uma boa banhoca e até nadar.


Enternecedor percorrer o carreiro ao longo da levada de água(aqui não sei como o povo lhes chama, em Ansião balogueiro) que servia as azenhas ou moinhos de água em fila, muitas delas em ruínas com Mós abandonadas para delirar ao imaginar como teria sido a azáfama há 50 , 80 anos aqui neste vale profundo, tão belo e romântico!
 
 
As bocas dos moinhos de água ou azenhas
De inspiração visigótica em xisto
 
Pena
Pena, a câmara não comprar as azenhas na audácia maior de revitalizar o espaço, restaurando-as, fazer deste  lugar vivo todo o ano com moagem, fabrico de pão, tascas e claro um bom estacionamento adquirindo para o efeito uma encosta de eucaliptos ou melhor da vinha abandonada na costeira sobranceira à ribeira, fazer dela um soberbo parque apelativo e prático para chamar mais gente neste gosto de reviver tradições antigas em vias de extinção.
Vislumbram-se ao longo do curso da ribeira enormes pedregulhos de toneladas que ao longo dos séculos se foram despregando das encostas ao acaso semeados no leito da ribeira que permitem pitorescos recantos para fotos e inspirar romance. Água muito cristalina e com boa corrente proporciona enseadas para os veraneantes se deleitarem a banhos. Aconselho a levarem calçado adequado para não se magoarem, o piso todo ele em pedras irregulares e escorregadio.
 
 O sítio onde se começam a juntar as águas
Mais a baixo a ribeira retoma o seu leito normal de calmaria pelo meio de imenso sombrio verde a fazer jus ao cenário fresco e idilico de Sintra ou Buçaco ou mesmo a caminho da praia do Brejão na extrema da casa que foi da Amália Rodrigues pelas imagens refletidas na água ao entardecer de volta a casa, belos raios de luz que se esgueiram por entre as brechas dos choupos e dos salgueiros no espelho de água, a correr de mansinho...a caminho do Zêzere na Ribeira do Brás. Saborear tamanha frescura no contrate de tonalidades verdes em sombras  encantador e ambiente romântico a rivalizar com um quadro de Rembrandt!
 
A minha querida mãe
 
Existem alguns trilhos de caminhada sinalizados.Tenho uma vontade férrea em fazer o que nos leva até à aldeia de S. Simão agora de cara lavada com os restauros muito à época no sentido da descida, claro, até ás fragas.Adorei ir a banhos à Pena com o fato de banho de recurso na casa de Ansião!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Uma noite no Forte de S. João nas Berlengas!

A primeira vez que visitei a Berlenga foi no início de Agosto de 1982.Adoro idealizar passeios. Convidei os meus sogros que rumaram comigo ate Peniche onde tínhamos encontro marcado com a minha mãe e irmã. Jantámos no restaurante em cima do mar!
Na vila tivemos alguma dificuldade para alugar quartos, decorriam os festejos anuais alusivos a Nossa Senhora da Boa Viagem. Ficámos numa casa com um grande largo pela frente a ver o mar...à noite fomos ver a procissão, num repente caiu uma chuvada tal que os panos das tendas abarrotavam com barrigas de água - os tendeiros com ajuda de paus altos tentavam esvaziar...claro ficámos todos molhados.
Quanto a mim ainda me recordo bem de ter dificuldade em dormir, tal era a enxaqueca.
De manhã muito cedo rumámos ao porto para apanhar o primeiro barco o "Cabo Avelar Pessoa", e rumar até a Berlenga. Confesso ia cheia de medo, de me sentir indisposta, tais eram os comentários que ouvia sobre a travessia em pleno mar aberto. O barco ia cheio, sentei-me num banco basculante junto à porta para ter mais ar e não me sentir sufocar...
Aborda-me o marinheiro de idade olhando para mim...olhe a semana passada o homem que costumava ir ai sentado morreu afogado a pescar polvos nas rochas...tal o susto, jamais o esqueci!
Chegados à ilha desfrutámos da sua beleza ingénua, singular, agreste, seca,excessivamente povoada de gaivotas salpicada por múltiplos carreirinhos -, os trilhos que devem ser usados pelos caminhantes para se percorrer a ilha em todos os sentidos de norte para sul de oeste para leste, naquela visão soberba, única, idílica, a contemplar aquele mar imensamente transparente,também os Farilhões sem nevoeiro num jeito de esculturas a emergir das águas, que falar do sussurro das ondas de espuma branca numa louca imitação de vestidos de noiva com grinaldas, do grunhido das gaivotas -, ensurdecedor... ovos sem ninho espalhados ao acaso na vegetação rasteira, magnifico foi sentir o oceano, na sua fascinaste e omnipotente grandeza!
Voltei em 2006. Decidi fazer uma reserva via Internet para um fim de semana no Forte de S.João Baptista também em Agosto. Consegui!


Aviado farnel de casa. Pensei em tudo.Foi magnífico, decorreu como sonhei...De sacos e malas térmicas nas mãos os três rumámos até Peniche. Mal chegados tomámos o nosso pequeno almoço que vinha de casa nos muros do forte. Tomámos rumo do porto para o embarque, íamos muito contentes. O pior na ilha - caminhar em subida, carregados, o trajecto para o forte só se faz em barco alugado ou a pé. Tempo era o que mais tínhamos, mas que custou lá isso custou, primeiro a eterna e grande subida, depois a descida em mil e um degraus desiguais que atrapalham o equilíbrio, baralham a mente.
A praia pequena de areia branca. Em toda a ilha uma única árvore, uma figueira numa vereda no canto da praia, por lá deixei caroços de pêssego para quando lá voltar saber se algum vingou. Foi um dia inesquecível em família.No regresso o barco vinha atarracado de gente, vim de pé, uma viagem suave, maravilhosa, sem quaisquer sobressaltos. Adorámos!
O jantar foi saboreado ao entardecer. Descobrimos que no piso do quarto havia uma porta que dava acesso a uma placa em lajes ladeada de muros onde o degustámos sob uma brisa suave que àquela hora se fazia sentir.O almoço na praia, teve um dia que comemos mesmo no quarto, recordo de ter estendido a toalha sobre a cama tipo piquenique. Idealizámos o pequeno almoço no telhado, na parte mais alta, tanta escada estreita até ao topo, valeu a pena o cenário que se avista - fenomenal.Tudo ali cheirava a inédito, único, verdadeiro.
Maravilhoso foi apreciar no dia seguinte pela manhã a chegada do primeiro barco, observar num repente os trilhos a ficar repletos de gente em fila vestidas de cores berrantes, uma imagem inesquecível.
Foi um fim de semana imensamente vivido na pobreza, mas não o foi menos imensamente fabuloso nas emoções. Alugámos um barquito para sair do forte em direcção ao ancoradouro para apanhar o barco de regresso a Peniche, desfrutar daquele mar, ver as grutas, os canais, sentir as arribas abruptas,foi das melhores sensações que até lá tinha vivido!
Jamais me esquecerei de ter dormido duas noites no forte de S.João Baptista da Berlenga!
Finalmente chegados ao Forte sentimos como se chegássemos a um castelo solene...
O quarto com janela sobre o mar tinha duas camas de espaldar tipo dos reis muito velhas, um armário, mesinha de cabeceira, lavatório e um bidé com armação em ferro forjado, o chão em tijoleira a descascar de velho, as paredes de cal brancas com escamas de tantas pinturas sem antes retirarem a camada antiga...a casa de banho era única no piso para todos...
Mote de imaginação, tão arcaica era..contudo senti e desfrutei do mar através do janelo pequeno, que falar do chuveiro, um pote em folha de Flandres com crivo munido com uma corda que se puxava para abrir a água...esta era aquecida em potes azuis de plástico de 20 litros durante o dia na janela do quarto. Digam lá que não foi uma aventura e daquelas!

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