Rica estória com muita história graças a todos que se descriminam
A capela de S José
Extraordinária valia que acrescenta ao Lugar dos Netos
Partilha de Norberto Marques
Filho de José António Lopes Marques, do Freixo, trabalhou na Repatriação de Finanças de Ansião. Dele recordo tantas vezes que o vi a entrar para o seu carro, garboso, de alta silhueta e belo bigode requintado à monárquico, um homem distinto, inegavelmente com linhagem.
"Sobre a antiga capela de São José, nos Netos, era uma copia exata da atual capela de S. Marta no Escampado, localizada mais junto à estrada (zona do alpendre atual) em patamar superior orientada para poente, na frontaria possuía a portada com duas pequenas janelas em fresta e no beiral esquerdo o arco sineiro de pedra (ainda existe) na frente um pequeno adro ladeado por muro de cerca de 1,50 cm de altura com escadaria de seis ou sete degraus, na traseira lateral direita uma pequena porta direta para o altar, em madeira - ainda me lembro de o ver guardado la na casa.
As pedras dos degraus da escada não tenho certeza se são da capela antiga, foram colocadas nos anos 80 com as obras do aparador para as festas.
A capela não pertencia à residência mas sim à igreja de Ansião, a devoção a S. José, a sua construção à muito anterior à casa, 1694."
Em 1769 o padre José Fernandes da Serra faz relação de igrejas e capelas na vila e seus subúrbios, onde se fazia administração de sacramentos
Debalde esquece-se de referir as públicas das particulares.
A única referencia que existe nas Memórias Paroquiais, pelo menos que tivesse encontrado sobre esta capela dos Netos, faz referencia ao S José que é de pau bem esculpida e ao retábulo todo pintado de incarnado com tintas muito, e já desmaiado, tem pedra de ara grosseiras, dois castiçais em estanho, dois de pau preto e cruz com Santo Cristo em metal, duas galhetas e prato de estanho, boas, uma lâmpada. Corre o seu reparo pelo povo; tem cálice, patena, e colher de prata e o pé do cálice em estanho fino.
No altar uma Imagem pequena e uma Senhora sentada com o Menino ao colo. Poderia ter sido pertença do altar de madeira da capela primitiva, que foi particular.
A norte, no tardoz da atual capela de S José resta chão da grande quinta com a ruína do solar
Desconhece-se o nome primitivo talvez exista nalguma escritura por ter sido dividida por vários.
A nascente do solar de 1716 foi palco de uma capela, cuja ruína ainda existe. Não se sabe se foi a primitiva a S José de 1694, particular .
Desconhece-se a data que a capela foi mudada para o palco atual, seria depois da República, para ser pública na administração de sacramentos fazendo parte dos bens da igreja. Se foi doado pela benemérita Maria Rosa Lopes o mínimo era ter sido o seu nome atestado na toponímia. Pelos vistos está esquecida. E não devia.
A capela veio a ser alvo de requalificação total em 1972, atestado no degrau, no tempo do Dr. Filipe, a partilha do Sr Padre Manuel Ventura Pinho "Ao princípio a capela podia ser particular, sim e de alguma família com um padre - a capela já estava naquele sítio atual mas a sua estrutura foi completamente mudada. Devia ser virada para o oriente. Na frontaria do solar existe uma grande Cruz em pedra implantada na parede abaixo onde foi a capela, como sinal que quem aqui viveu era cristão novo (?).
Simbologia de afirmação de cristão novo
Lápide na Portela de S Lourenço, Pousaflores com a data de 1756 ladeada por duas pequenas Cruzes
De quem teria sido este solar e a sua grande quinta? Pois não se sabe
Desse tempo nada ficou documentado. Hoje apenas se pode juntar o pouco que se sabe e especular. Tomando a relação de Mordomos na Confraria de Nossa Senhora da Paz do livro do Dr Manuel Dias (...) Os Netos pertenceram ao concelho da Sarzedela, em 1702 era Capelão o Padre Manuel Simões da Paz e os Mordomos de Nossa Senhora da Paz Francisco Freire e o irmão Manuel Freire dos Netos e em 1725 Manuel Neto, da Areosa.
Verossímil a família que em 1716 viveu neste solar, nos Netos, seria abastada, debalde sem se saber quem foi e a sua descendência, se alvitre à época ter tido um descendente de apelido Freire, um seu neto, que veio a ser padre e enquadrar o Padre João Gomes Freire da Silva, filho de António Gomes. Foi capelão da Capela de NSPaz na Constantina em 1876 .
Acresce por correr na oralidade que nesta casa viveu um padre, ou bispo . O povo chamava-lhe casa da bispa. Nos Matos existe casario com apelido ou alcunha Bispo.
A casa dos Netos sempre foi um mistério na família, da sua historia pouco conheço
"Dizem que foi de um padre, há quem diz era jesuíta outros bispo, por chamarem à sua criada Mavilde - a bispa, e ainda dizem que morreu miseravelmente muito velho e abandonado pela família mais direta. A casa possuía uma grande quinta nas imediações. Uma grande parte dos terrenos foram repartidos e doados aos que trabalhavam nessas terras. A casa e os terrenos de frente e nas traseiras ficaram ao cargo de Gaudêncio Jorge e sua mulher Emília, (caseiros). A criada do Ti Gaudêncio que o amparou até à sua morte foi a minha avó Maria Rosa Lopes, que foi do Escampado de S Miguel e herdou estes bens - casa e terrenos, mais tarde doou à igreja uma parcela dos terrenos da frente para construção da nova capela, a atual capela de São José!
Sobre a descendência do solar
"O nome desse padre, aqui na família ninguém sabe ou não se lembram...o meu trisavô, ou seja o padre teve um filho com a sua criada , caseira - o meu bisavô - Elói dos Santos. Falei com a minha mãe confirmou quando um padre tinha um filho , nessa atura podia ser condenado ou mesmo morto, por isso o caso foi encoberto e arranjava-se um pai para dar o nome, dai o meu bisavô se chamar Elói dos Santos, teve dois filhos, António dos Santos que viveu em Trás-de-Figueiró e o meu avô materno José Bebiano dos Santos, conhecido por Zé do Elói, teve 4 filhas (2 já falecidas), das a quais a minha mãe. O ti Gaudêncio foi o último habitante da casa, sem filhos, era como o pai adoptivo da minha avó para quem trabalhou e cuidou cerca de 16 anos até à sua morte. O meu pai chama-lhe tio."
O livro sobre o Património Religioso do Concelho de Ansião do Dr Manuel Dias
Infelizmente ao não falar com ninguém, não avançou sobre a existência da capela primitiva, apenas aventa ter havido pelo degrau do escadatório de acesso à nova capela com a data de 1694.
Além deste degrau do lintel da capela primitiva , abaixo outro da nova capela 1972 . Ambos deviam ser aposta a sua retirada, para não se perderem, por a pedra ser calcária e com a erosão se perder. Incito ao talento e sentido de estética da Associação de Amigos dos Netos para os recolocarem em escultura encastrada em pedra, no adro, a que juntam no conjunto, as perdidas a um canto, ao Deus dará da primitiva.
Segundo o comentário do Padre Armando Duarte em 16.04.2020
"A casa seria a residência do capelão, aliás assinalada com uma Cruz na esquina do lado direito. Depois há que relacioná- la com a capela cuja data está documentada no último degrau , ao cimo da escada de acesso."
Degrau da escadaria da capela dos Netos
Degrau que foi o lintel da primitiva porta da capela com a data de 1694 e outro com a data de 1972, da edificação da atual capela sugere-se a serem retirados e recolocados em airoso apontamento estético, em conjunto de pedra no recinto do adro para evocar a sua ancestralidade, e dignificar o passado do que aqui se viveu.
Graças à cortesia de vários testemunhos mais se enxergou em genealogia
Há anos corria na oralidade segundo José Grunho da Sarzedela - casa da bispa.
Silvina Gomes - cheguei estar à lareira dessa casa, conheci bem os donos já velhinhos, eu era afilhada dos herdeiros! Sei que ele se chamava Gaudêncio, não sei o resto do nome,nem o nome da esposa, também sei que não tiveram filhos, e fizeram os seus bens,a uma empregada, que se chamava Maria Rosa ,veio a casar com um Sr da Constantina, que se chamava, João Marques,e que por sinal foram meus padrinhos,do Crisma, e do casamento, eram pessoas muito amigas de todos, tiveram um filho que se chama , António Marques,casou no Freixo,sei que tem filhos, ele trabalhou na câmara de Ansião, e têm uma filha que atualmente é enfermeira no centro de saúde de Ansião, é de salientar que os meus padrinhos, moravam na Constantina, e levaram para sua casa os idosos , que trataram muito bem até à morte!
O apodo (alcunha) Freire
Justifica que o onomato surge a seguir ao nome próprio, quem pertencia a Ordens Religiosas .
Fica claro que o apelido Freire sendo muito comum na região centro a partir da centúria de 500 quer na Comenda de Soure quer na de Ega, ambas a limitar Ansião e ainda a nascente com Pedrogão Grande, na família de Pedro Miguel Leitão Freire d' Andrada, cujas ramificações quer a trabalho em comandos de Ordenanças e afins quer por casamento aportaram e se fixaram em Ansião.
Cortesia de Henrique Dias
Registo de João Gomes Freire da Silva, filho de António Gomes, natural de Ansião inscrito em Teologia em Coimbra.