segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Revisitar a rota de paneiro do meu avô Zé Lucas pelo Alentejo com a minha querida ma

Aniversário da minha mãe quase sempre se pautou por ser um dia especial com muitas surpresas, este ano mais uma em que juntei o útil ao agradável com o voucher "A vida é bela" que a minha irmã lhe ofereceu no Natal, apeteceu-me presenteá-la a voltar a terras alentejanas, ao giro do seu pai com anos na arte de paneiro ambulante a vender chitas, riscado de Santo Tirso, Vila do Conde, cotim, serrubeco e, sedas !
De véspera fui de comboio para Pombal esperava-me a minha irmã com nova partida para enganar o estômago no Manjar do Marquês em Pombal, o empregado homem bonito de olhar azul do Mogadouro, há tempos que não o via em dois dedos de conversa disse-nos que estávamos giras, a sopa de feijão com couve galega a fazer lembrar a da minha mãe, uma maravilha, no balcão ao lado servia-se arroz de tomate malandrinho com pataniscas, reparei  numa mesa em que estavam homens, um deles já foi Procurador da República, bem olhou para as beldades... A caminho de casa combinámos tomar o pequeno almoço com a nossa mãe no seu dia de aniversário, a primeira surpresa, não faltou o Pão de Ló, especialidade da casa, mal bebeu o café de cevada a minha irmã zarpa com o carro para atestar o depósito de combustível, regular o ar dos pneus e ditar votos de boa viagem.  Prontas ficámos num ápice com a prima Júlia ao adro para nos desejar boa viagem, de malas feitas abalámos na nossa aventura, no caso, a minha grande primeira viagem a conduzir, antes só Almada Ansião e vice versa...No IC 8 encontrei obras junto à ponte sobre o Zêzere em Pedrogão Pequeno, parámos em Proença no primeiro e único susto, dúvidas se o voucher vinha no saco ou teria ficado em cima da mesa? Sorte, estava no saco, que nem o via no meu desespero só de pensar em voltar atrás, aliviamos águas entre giestas ressequidas, cujo aroma não enganava.Entrei no IP2 a caminho do Fratel com sinalética insuficiente, a barragem há anos que não a via está na mesma.Passei por Arez não distingui o pedestal à beira da estrada de nicho com o Santo em pedra que há 20 anos fiquei com vontade tive de o trazer comigo... Em Nisa, tomámos café e degustámos uma empada,entrámos nas lojas de artesanato, cestaria, barros decorados a pedrinhas, trapologia e queijos em espera de fregueses que não sei se virão, na orla da praça de cara lavada estilo cor partidária camarária de esquerda só vi desocupados, pensionistas em conversas de nada a fazer horas de voltar a casa para o almoço... tirei fotos, percorremos o centro a pé apesar do calor insuportável, fomos à matriz, vimos os restos da muralha do castelo, a destilar íamos a caminho do carro, demos mais uma volta pela cidade ate encontrar o rumo de Alpalhão para nova paragem junto à enorme anta que atesta nesta raia portuguesa os muitos vestígios fúnebres primitivos; dolmenes, menhires e sepulturas escavadas nos blocos de formas arredondadas graníticas,também apreciei a escultura natural do bloco oval esventrado por dentro em crateras de cristais de mármore, o pior, a máquina ficou sem bateria...
Nova paragem no convento Flor da Rosa, o sol escaldava, fotos com o telemóvel, claustros lindos, o túmulo do D. Nuno Alvares Pereira, aqui o seu pai foi Prior do Crato, não deu para mais nada estava na hora de fechar, no arraial fora de portas do convento procurei pelo fontanário imponente estilo barroco ao lado uma sepultura romana a servir de bebedouro aos animais que no tempo foi adaptada e iguais encontrei em Castelo de Vide...na primeira vez que as vi há anos. Estradas de retas e mais retas com salpico de blocos enormes graníticos semeados à toa na paisagem com paragem no Crato, na zona histórica em frente aos Paços do concelho, linda a varanda gótica em granito rendilhada e arcos a imitar a Pax Júlia de Beja, achei tudo na mesma, há anos que aqui não vinha e não vi nada de diferente, as mesmas ruas  infindáveis, desertas, vazias de gente, de carros, de barulho com o Museu fechado em obras e o outro em horário de almoço, muitos solares, brasões e portas de ogiva tudo fechado. Almoçamos numa praça com Mós, ao jus de mesas e bancos em pedra, comida frugal a pensar na fácil digestão para a piscina, medo senti de subir a ruela de calhaus de xisto a caminho das ruínas do castelo ao que parece foi uma concessão de 100 anos nas mãos de um particular que ali se desloca de helicóptero com  obras iniciadas para...?Pelos vistos estão paradas, gostei de rever as pedras das muralhas pintadas de branco dão-lhe um carisma ingénuo, a vista deslumbrante que se desfruta na nesga da muralha derrubada é bonita, ao fundo no vale uma pequena ermida e um grande fontanário de parede alta frondosa típico nesta região ornado de amarelo ocre, o castelo altaneiro edificado na colina sul do morro vê-se bem quando disse adeus à vila rumo a caminho de Alter do Chão, curiosamente junto à estrada dei conta do frágil muro em lajes de xisto soltas muito frágil, nem parece que um dia fez fronteira à cidadela...Atravessei a ribeira da Seda na ponte romana, nome que me ficou a bailar na cabeça,senti uma forte ligação deste nome com outro num largo do Crato, alguma coisa referente a seda aqui existiu quem sabe do tempo que foi ocupada pelos Cartagineses ou do tempo que houve daqui gente na Índia.Chegámos ao destino Alter do Chão pelas 2,30 com o burgo a crescer, reconheci o grande fontanário com o nome dos beneméritos que o mandaram erigir. Na estalagem fomos muito bem recebidas, com pressa de vestir o fato de banho, na piscina ficámos até perto das sete, lanchamos jesuítas e banhos uns atrás dos outros, mais de vinte, só tivemos companhia por volta das 5 horas. Vestidas a rigor para o jantar. Salão decorado a meu gosto com alfaias agrícolas, arados e chocalhos.O repasto:bacalhau à conventual que eu chamo à Crato com uma variante muito interessante e vou passar a fazer, leva cenoura ralada e couve, coberto com molho bechamel, o segundo prato, carne de porco à portuguesa com coentros,uma maravilha, tão delicadamente confecionados, sobremesas para acalmar o calor um chá de menta com gelo.Decidimos  regalar o olhar com o por do sol que nestas terras a sua  abalada é tardia e em  caminhada à volta do grande gaveto da estalagem com vivendas muito bonitas e passeios com jardins de oliveiras, do outro lado da estrada na herdade grandes rebanhos com chocalhos a tilintar pastavam àquela hora.De novo na estalagem, cansaditas, decidi abater umas calorias,teimei em comer mousse de chocolate...fomos ao ginásio para andar de bicicleta e não fui de modas pus a minha mãe na passadeira para experimentar apesar de ter vestido o seu lindo fato que lhe ofereci o tecido, o dia era de festa e de fazer coisas diferentes, mas para mal dos meus pecados reparei eu não chegava aos pedais, e na passadeira a minha mãe ficou estendida, aflita fiquei para a desligar e a tirar sem se magoar, sem fôlego para mais nada, melhor ir  dormir o que fizemos,quarto fresco,uma soneca direta.
Acordámos bem de manhãzinha para degustar no salão do 1º andar o nosso pequeno almoço que só não foi mais à vontade pela constante presença do empregado a fazer de estátua e na saída dois dedos de conversa com a dona da estalagem a falar das lindas tapeçarias em ponto de Arraiolos que decoram as paredes, conversa puxa conversa confidenciou que uma filha morava em Almada, falou da sua casa na Charneca da Caparica e dos problemas graves com o diretor da estalagem que tinham apenas contratado há 3 meses para os libertar e começar a passear, desfrutar da vida e só lhe tem dado problemas e que problemas!
Hora de despedida com vontade de regressar.Tempo de visitar o burgo de Alter, lindo o castelo com torres finas e cúpulas em cone tão típicas aqui a fazer lembrar a sempre noiva de Arraiolos, perdi tempos à procura de pão alentejano que não encontrei nem tão pouco havia queijo para encontrar junto da pequena praça outra vez arraial de homens barrigudos, desocupados a revirarem olhares...coitados!
Maravilhosa a paisagem que a barragem do Maranhão proporciona em Benavila uma das paragens do meu avô que jamais tinha ouvido falar com idílicos recantos lagunares ao jeito de pequenas penínsulas com belos cavalos na margem a pastar, pena não ter máquina para registar tão belo cenário, ao longe comecei a avistar o morro de Avis pelas altas ruínas do paço e do castelo.Terra onde senti nostalgia com ruas quase desertas, sem vivalma, pouco comércio em cidade morta apesar de tanto casario, incrível andava uma carrinha de Abrantes a vender pão, chamava a clientela ao toque da buzina, comprei uma carcaça com maminhas, perguntei a uma velhota onde poderia comprar vinho, apontou em direção da cooperativa fechada... coitada queria ela dizer mini mercado...apercebi-me na conversa que travei com um homem da idade da minha mãe cujo filho mecânico estava de volta de um carro com conversa sobre a vida de antigamente também ele um emigrante de Mora aqui radicado desde os 16 anos. De saída encontrei a cooperativa de azeite,acredito que seja bom porque o preço foi caro, 20€ 5 litros, de seguida parei numa herdade onde se produz o vinho de Alter, apesar de muito caro trouxe vinho para as férias e ofertas.
Horas de seguir viagem a caminho de Casa Branca onde a emoção tomou conta de nós na mesma estrada onde o meu avô tantas vezes passou, irresistível a reza que irrompeu no silêncio em sua memória... na padaria antiga de armário encastrada na quina da parede onde acredito ele ter entrado havia de comprar o verdadeiro pão alentejano por 1,20€ que achei carote, ao fundo uma velhota de avental a rondar o chão caiava a barra da casa em azul.Passou por mim um velhote de bicicleta que nos disse adeus de lenço aberto preso na boina  que o protegia do sol no pescoço. Tomei a estrada em direção ao Cano, muito grande esta terra, seguindo para Sousel que me deu ares de estar em Espanha, o carro parou-me em plena via do caminho de ferro abandonada, uma pena,seria uma mais valia naquele fim de mundo... Almoço em Ervedal, tanta comida, uma boa feijoada com sabor a hortelã, o bacalhau com cebolada trouxe para o jantar.Travamos conversa com pessoas da terra, disseram-nos que se lembram de um tendeiro que andava com duas malas a vender fazenda, o Sr Coimbra...interessante ao tempo o hábito de falar que era de Coimbra, terra de nome sonante em detrimento da sua aldeia de Mouta Redonda que ninguém conhecia...O bom homem que connosco almoçava ainda disse que ele era loiro e isso bate certo, também que se alojava na estalagem da Ti Joana onde as mulas descansavam, comiam e bebiam e ele também que era miúdo e acompanhava o pai também vendedor.Adorámos saber, a minha mãe sabia que havia uma estalagem onde ele pernoitava e vivia enquanto andava nas suas andanças e desandanças por terras alentejanas,de facto as terras que falava ficam todas muito perto umas das outras num circuito quase fechado, o giro, como outros tendeiros tinham - cada  um tinha o seu.A paisagem alentejana está em mudança e não é só a caminho do Algarve, por estas bandas também se encontram grandes olivais, vinhedos , nogueiral e milheiral, quem diria!
Calor, muito calor a caminho de Avis novamente onde avistei uma raposa morta em plena estrada, lindo o rabo ainda tive vontade de parar e traze-la, foi a pensar no cheiro das vísceras me acalmou...mais à frente um gineto, lindo de rabo comprido atravessava a estrada a caminho de Santo António de Alconrrego onde o meu avô chegou a ter uma casa alugada que deixou ao filho mais velho, o Carlos quando este se casou, a aldeia está irreconhecível, na boca da minha mãe, que aqui veio visitá-lo depois de instalado. Percebi que o nome lhe advêm da ribeira que lhe passa aos pés com muito casario e estradas, a minha mãe meio perdida no norte, descobriu a casa branca ornada de azul com grande chaminé e data 1893 no alto com o grande quintal em rampa a escassos 4 km de Avis onde voltei para dizer adeus à albufeira do Maranhão, atravessei duas pontes, grande o lençol de águas a caminho de Galveias e lindo o solar apalaçado junto à igreja para a chegada a Ponte de Sôr onde parámos e fomos passear até à zona ribeirinha, lindo a represa das águas, a relva fresquinha, ainda nos deitamos para depois mais uma voltita à cidade que cresceu muito, quase a não reconheci a caminho de Abrantes, atravessei o Tejo, subi a cidade até encontrar o norte junto ao quartel, mais à frente entrei na Scut a caminho de Constância onde sai na parte norte, alta onde parei junto a uma grande igreja a olhar o Tejo, ao descer reparei que era o cemitério, linda vista os defuntos tem, invejável, igual, só mesmo a do cemitério de Dornes a mirar a península do Zêzere.Nunca tinha feito uma descida tão acentuada a pique onde vi jeito do carro capotar...até que reconheci a estrada e atinei com o caminho em direção a Tomar, então não vi a ponte sobre o Zêzere? Último reduto da viagem do meu avô passamos na Matrena com as antigas fábricas de papel do Prado, tudo desativado, no cimo Santa Cita, no ramal para o Castelo de Bode, parei e comprei melão e melancias para ofertas.O Nabão corria direito à foz por entre salgueiros a escassos km de casa para num instante chegarmos cansaditas e muito satisfeitas. Adorei a viagem sem sobressaltos, sem enganos, sem pressas nem tormentos tudo à minha medida e da minha mãe.Quanto a ela nem se fala, adorou a piscina, só falava que ia fazer uma no seu quintal no lugar da capoeira, pior ficou quando falei nos custos da sua manutenção. O fascínio de voltar ao Alentejo onde tinha vindo em criança e pouco se lembrava e teimava voltar ás terras onde o seu pai andou sabe Deus como a ganhar freguesia, no dizer do povo passou as passas do Algarve,conviveu com ciganos, fugiu de ladrões...comeu o pão que o diabo amassou... Bem - ganhou umas coroas, a carteira cheia de notas a atava com um elástico...de volta trazia na carroça o belo torrão de Alicante, enchidos, queijos e... Também aprendeu a fazer um bom gaspacho e sericaia.
Assim foi o festejo dos seus belos 77 anos, o meu pai se fosse vivo teria festejado 76, faziam anos no mesmo dia com um ano de diferença. Inesquecível este passeio, voltava sem custo a faze-lo outra vez, mais uma vez, sempre!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Cuidado com a nova vaga de clínicas dentárias!

Nasci com dentadura maciça e certinha.Um privilegio!

A primeira vez que fui ao dentista tinha 12 anos, levada pelo meu pai que na altura funcionava um dia por semana em Ansião - vila da Beira Litoral do distrito de Leiria - tiraram-me dois molares. Aprendi a lição. Vangloriava-me nas festas de anos perante todos em abrir as garrafas da gasosa e laranjada com os dentes -, à falta de abre latas, gracinhas de miúda. A partir dessa altura nunca mais descuidei a boca, porque interiorizei cedo o que é uma "dentadura artificial". A Ti Otília -, velha solteirona do Casal das Pêras quando passava ao adro à nossa porta vinda da casa do irmão, meu tio Manel,atazanava-me a mim e à minha irmã , gesticulando a dentadura para fora e para dentro da boca, há mais de 45 anos. Ficávamos assustadas,a mulher metia medo, alta,feia, enrugada, cabelo desalinhado mais parecia uma bruxa ou vampiro, era com certeza uma personagem dos filmes do Drácula !Só mais tarde percebemos que tinha as gengivas mirradas com a idade, a dentadura estaria larga...naquele tempo em 60 -, quem diria que ela já usava uma, um luxo só de alguns, possivelmente teria sido em Lisboa onde tinha uma irmã a residir, e na vila seria a primeira  pessoa com dentadura?
Voltaria ao dentista para arrancar os dentes do siso, foram quatro, depois dos 20 anos em Lisboa. Desde cedo que interiorizei o que era uma dentadura postiça...sempre senti o horror da descaracterização do sorriso, da malícia sensual perdida...não há nada que chegue aos nossos dentes estimados e bem tratados -, ao nosso sorriso !
Durante anos fui assídua nos consultórios da especialidade, ainda hoje. Aqui começa o dilema!
No início de março senti a  gengiva superior esquerda mole - a empolar -, num ímpeto tomei uma semana um anti-inflamatório. Feliz fiquei porque a situação normalizou.Passados dias o mesmo aconteceu na gengiva de baixo, facto que estranhei, retomei a medicação mas não satisfeita com este aparato anormal decidi marcar uma consulta gratuita nestes novos consultórios que agora proliferam. Dia marcado - fizeram-me uma entrevista e um raio X panorâmico à boca. De seguida fui vista por uma dentista, analisou a boca e me informa que tenho uns bons dentes, só tinha o 47 cariado, falhas nos dois dentes da frente que precisavam de restauro(partidos a segurar cabides quando passo a ferro...)e falta de higienação, tudo com orçamento a rondar 380€. Sai do consultório aliviada, afinal não havia nada de grave...assim pensava eu!
Marquei consulta para o meu dentista habitual para tratar do dente cariado no dia marcado - 29 de março levei o raio X para ele tomar notas na ficha. Analisado diz " a minha colega não deve estar boa, não há nenhuma cárie no dente 47, só precisa de fazer a higiene oral, venha em junho para se retocarem os dentes da frente que agora não tenho massa dessa cor." Mais uma vez vim embora descansada.
Em princípios de junho comecei a sentir uma moinha - coisa pouca noutra gengiva - mais uns comprimidos anti inflamatório ...entretanto fui passar uma semana ao algarve, a dor persistia, sentada na mesa e com o espelho deu-me para observar a boca - achei a cor da gengiva mais escura, o pior mesmo detetei dois dentes a abanar sem razão aparente no maxilar superior esquerdo....nem dormi nessa noite tal o medo de os perder, ou ainda pior a razão de tal enfermidade.No dia seguinte passei por uma para-farmácia, a primeira na Rocha ainda arrumava o stock para o verão - não tinha nada - na segunda, a balconista de meia idade, vendeu-me o único anti inflamatório que tinha na prateleira - Ananase - fraquito - o que sempre tomei e cuja validade expirava ao fim de dois meses, e uma solução anti sética. De regresso a casa marquei nova consulta noutro consultório análogo ao primeiro, ao telefone expliquei a situação - a rececionista agendou o dia de acordo com a dentista especialista em periodontia - o que em abono da verdade me deixou até tranquila, pelo cuidado com o utente em o dirigir para a especialidade.Dia agendado - atualização de dados pessoais. Na entrevista - reparei que tem na sua frente uma folha com os meus dados pessoais e em relação a eles fala e orienta a conversa, o que facilmente constatei. Novo raio X e nova avaliação bocal.
Pior fiquei - entrei no consultório com dois dentes a abanar e sai com três. O pânico generalizou-se em mim. No caso a falta de dentes muito nova, aos 12 anos, fez com que as gengivas começassem a mirrar, também a idade contribui, por isso a higiene bocal fica aquém ao combate das batérias que se vão instalando por debaixo das gengivas, ganham fissuras que acabam por destruir o osso e por fim a  perda do dentes. Logo eu tão preocupada com a dentição, esmerada todos os dias não falho três lavagens, ainda uso a solução anti sética oral, a minha saliva brutalmente mineralizada, contribui grandemente para a deterioração dos meus dentes...acho, enquanto noutros provoca cáries.


Alerto ao cuidado com esta moda de consultórios dentários.Sabem vender o produto. Então não apreciei enquanto esperava no balcão -  apercebi-me que faziam o mesmo a outro cliente...a arte do negócio, a lábia, a destreza, a rapidez de atacar logo de frente...coitados dos incautos que assinam de cruz empréstimos, só mais tarde é que acordam!
Aparte disso pude constatar que este tipo de consultórios trabalha em regime de franchinsing são em tudo semelhantes em toda a tramitação negocial. Além da rececionista, existe um elemento de relações públicas, o elo negociador - calibre vendedor, se não vende, não há produção para a clínica, é por ele que passa todo o negócio. Tratam da boca no total e não isoladamente como é hábito se recorrer.
No gabinete a dentista analisa com o apoio do raio X a boca do paciente - vai dizendo em voz alta as mazelas e o que se apraz fazer, atrás dela a "vendedora " toma notas no papel que tem nas mãos e ainda trocam impressões. Depois saí com o elo negociador e de novo ao gabinete do negócio a vi inserir os dados no PC - software adequado a preçário em dois minutos tive nota do orçamento total e até o valor da prestação no caso de não querer pagar na totalidade.Quando pergunto se em caso de pagamento total tenho desconto, responde "depois falo com o meu diretor"...
O orçamento só de implantes num total a rondar os 5.000€. Quando falei em próteses fez por alto sem vontade o precário - coisa de pouco mais de 200€...que achou estranho tão barato, até voltou a fazer - revelou não ter interesse em fazer este tipo de serviço, porque dá pouca rentabilidade à clínica - o negócio é a implantologia. Aflita, perguntei-lhe se não havia ainda a hipótese de um tratamento com antibiótico - disse-me que não...claro é vendedora, não é dentista!
Sem delongas saí apressada , ao dobrar a esquina, chateada pensei, "vou a uma urgência ao Centro de Saúde, mesmo que o médico me diga que não é dentista - ou que não se trata de doença com carater de urgência, tem de me ouvir, resmungava eu com os meus botões..."
Na minha vez expliquei o assunto, a médica não me queria deixar falar, teimei em querer explicar a odisseia e o tempo que ela durava, no PC acompanhava  para sorte minha o relato, e batia certo - constatou a consulta  que fiz no serviço nacional de saúde -, interessante tudo estar registado - disse-lhe que já tinha nova consulta no dentista agendada para meados de julho. Sai  do Centro Médico mais aliviada, ainda tomo a medicação prescrita. Sinto ligeiras melhoras, já posso mastigar. Apesar dos dentes ainda abanarem...

A caminho de casa deu-me uma raiva de explodir. Não sei como este episódio vai terminar. O que sei é que fui a tempo em inicio de março a um desses consultórios modernistas - disseram que estava tudo bem, quando efetivamente não estava, andei enrolada estes meses, a infeção a generalizar-se e a provocar estragos irremediáveis - a perda de dentes, o mais certo causado pela gengivite (?).
Pior, seria se acatasse logo o arranque dos dentes e a sua substituição por implantes !
Sinto um horror a estas novas modas de negócio de imposição - sem olhar ao interesse do cliente!

Primeiro, apareceram os economistas que não tinham trabalho - associados se instalaram no mercado com negócios paralelos à banca, trabalhando a par com esta na defesa diziam eles do cliente que carregado de dividas os ajudavam a resolver, juntando todas numa só...haviam até bancos que aceitavam todo o tipo de clientes com créditos em mora, até contencioso, porque a fome em ter um rácio de solvabilidade no produto estrela era de tal forma brutal que não olhavam a meios para atingir os fins.
Hoje, alguns bancos estão na penúria por tantas transferências feitas em cima do joelho...também essas empresas praticamente saíram do mercado...sem o protetor do banco que confia, e negoceia a transação, não há ajuda na concessão do crédito .

Agora apareceu a nova vertente dos dentistas que também se associam em clínicas com o método igual de tratar da boca total do cliente.
Incauto seria acatar tal loucura sem antes ouvir outra opinião, no caso de tratamento o cliente fica fidelizado de seis em seis meses, para o negócio perdurar e no meu caso seria de três em três meses...
O pior? Altos preços cobrados sem iva, só eles ganham.Falo dos orçamentos que me deram.
Que se lixe,o bolso do cliente, as seguradoras ou o estado!

Haverá outras empresas do género por ai a proliferar a encontrar filões, lacunas no mercado, a encontrar sempre oportunidades em tempos de crise ...tolos aqueles que vão atrás e lhe enchem os bolsos.

Precisei escrever em jeito de desabafo porque odeio ser enganada a olhos vistos...nem todos somos tolos ou patetas ou ainda incultos ou limitados.Devemos saber como as coisas se processam, devemos analisar e ponderar para melhor decidir e não embarcar em opiniões de comercias que ganham à comissão sobre os objetivos da empresa para quem trabalham.
Sou antiquada. Privilegio a medicina tradicional, mais honesta e barata!
Vamos ver como este episódio termina...no caso assunto para monografia!

E não é que foi mesmo!

http://quintaisisa.blogspot.pt/2012/05/faculdade-de-medicina-dentaria-do-monte.html

sábado, 28 de maio de 2011

Emoções pela Arrábida na península de Setúbal!

Em final de sexta feira a minha filha presenteou os pais com a sua visita de fim de semana.
Mal abri a porta senti um sorriso enorme a dizer "que saudades deste cheirinho,assado no forno..."
Jantar:Cachaço de porco à italiana assado com batatinhas,acompanhamento de legumes salteados: brócolos, feijão verde, cenoura, pimento vermelho, cenoura e cogumelos inteiro e arroz integral.
Depois de uma voltinha noturna pela cidade em velocidade cruzeiro para conversa amena. A noite estava agradabilíssima.
Sábado. Passeio combinado na companhia da avó paterna a caminho da serra da Arrábida. com magníficas paisagens e bermas repletas de florzinhas cor de rosa. Fel da terra como a conheço, terá o seu nome cientifico.Muito usada para infusão de chá para diarreias e baixar a febre.
Paragem na serra a contemplar o mar e Tróia com a sua fina península ladeada de águas cristalinas muito azuis. Um fotógrafo amador com grande objetiva tirava grandes planos às flores.Passeios pedestres de jovens na rota do convento dos Capuchos da Arrábida.
Encosta acima capelinhas da via sacra do convento dos Capuchos.
Foto tirada do carro, notam-se as tiras de aquecimento do vidro traseiro...eheheh
Marco de pedra, merece maior plano do que a torre revestida a azulejo do convento. A estrada cortou o território dos capuchinhos que privilegiaram a encosta até ao céu...
Setúbal.Praceta com um solar em total abandono à venda de gaveto.
Incrível o brasão semi partido,mal se nota o elmo de cavaleiro envolto em ervas e cordas que deveriam sustentar o slogan de venda...digo eu.
Sem telhado, vislumbra-se o céu por entre as portadas semi abertas de vidros partidos e cortinas rotas.
Programa Polis contemplou no urbanismo da cidade árvores de Jacarandá, raiz profunda não estragam passeios, decorativas,flores lilazes,dão um ar à cidade magnífico.As primeiras que conheci no Funchal em maio quando festejei no barco dos Beatles os meus 30 anos.
Por força das alterações climatéricas florescem mais cedo.
No alto da colina a pousada de S. Filipe instalada no forte com o mesmo nome. Ofereci o almoço em dia de aniversário ao meu marido quando festejou 30 anos.
Na altura tínhamos um carocha 1303, a nossa filha pequenina.
O 1º restaurante que não tinha preçário afixado na entrada.
Passadeira vermelha. Entramos confiantes com outros que chegavam.
Ao meio da caminhada fomos interpelados por uma assistente, na mão mostrava a ementa e os preços.
Mulher de coisa pensada, nem pestanejei, continuei a caminhada ao invés de todos que voltaram para trás. No salão só estrangeiros. O meu marido por ter olhos azuis e a minha filha julgaram que seriamos também conterrâneos britânicos.
Lembro-me da loiça em porcelana brasonada, talheres que pareciam prata, muitos copos e carrinhos com a comida para se manter quente, finais de outubro, e ainda o carrinho com as sobremesas.
Vista sobre o rio e Tróia desafogada, magia de infinito, azuis,verdes e...
A minha filhota portou-se como se fosse uma princesa, comportamento de gente grande numa idade tão tenra. Coisa de nascença.
Paguei com o cartão, não sei quanto foi. Não voltei pela sostificação, julgo!
Uma chaminé de um antigo paço, seria a casa da Soledade que em 1750 acolhia órfãos e viúvas.Casa mandada construir por D João V tipo conventual com igreja na frontaria da casa, agora de cara lavada.Estranha,sempre que olho para ela me interrogo o porquê de tão estranha construção, deve ter na cozinha um grande chapéu.
Almoçamos numa praceta petinga, curiosamente em Setúbal chamam-lhe outro nome, por ser tão estranho nem decorei.Bom repasto!
De volta apanhámos uma trovoada de chuva grossa. Não se via nada no auto estrada, todos de pisca acesos...não me lembro de uma coisa destas!

sábado, 14 de maio de 2011

Sábado passado em Lisboa, mais um na rota da feira da ladra

Optámos por estacionar junto ao cais das colunas,gratuito.
Caminhada com sentido na feira da ladra. O costume, um vício.
Horta em plena baixa lisboeta de um restaurante logo a seguir à casa dos Bicos.
Couve galega, viçosas.
Feijão verde a enlearem pelas canas, para a semana devem florir.
Tomateiros, ao tocar na ramagem o aroma é mesmo biológico.
A feira não estava no seu auge.Concorria com outras nomeadamente com a primeira a realizar-se na av. da Liberdade.Dois dedos de conversa com o Miguel e a esposa, casal jovem simpático onde se compram na maioria das vezes pechinchas.
Comprei-lhes um prato cantão, colado por 5€, outro de Massarelos, raro encontrar em tonalidade de verde por preço igual. Lindíssimos. Ainda um lote por 3€, duas tampas, uma vista alegre e outra pintada à mão encimada com um leão em dourado ainda uma malga de faiança possivelmente de Gaia.
Hoje reparei em peças iguais em dois vendedores. Revela que foram à mesma origem comprar. Uma prova é algumas peças trazerem etiquetas brancas com preços e nº de lote.
A diferença é que o Miguel vende a última escolha do espólio e o outro vendedor, que por acaso não é nada simpático, sisudo, a penúltima escolha, mais caro claro.
O 1º tinha um bule mandarim grande em quadrado com o bico partido sem asa. O outro tinha um bule igual só lhe faltava a asa, esta seria de bambu.
Naquilo assisti a uma brutal discussão, um homem de idade abeirou-se de uma banca a abarrotar de livros e quinquelharia a 50 cêntimos. Caiu parte. Partiu-se alguma coisa. Visivelmente nervosos o pobre homem não se livrou de ser maltratado pelo vendedor um jovem, pouco educado. Também não simpatizo nada com ele nem com a mãe. Mania de atafulhar tanto a banca. O material frágil não resiste.
Parei junto a um estaminé de ciganos. Tinham talhas de cerâmica e boas peças de faiança de Coimbra. Dois belos pratos grandes. Um deles todo em azul ajudou-me a certificar no caso duas peças minhas. O 1º que vi com parras pintadas, outro com umas flores iguais a uma travessa que não tinha a certeza ser de Coimbra.
Mais valia,ajudam e muito na certificação encontrar pinturas raras, que fogem ao tradicional e mais banal nas feiras, no caso nunca tinham vindo até à capital.
Comprei-lhes um penico igualzinho a um que a Maria Andrade postou à tempos. Irresistível não o comprar. Lindo.Vou sonhar com ele. Não é Coimbra, parece ser Cavaco, tal o brilho do esmalte na mistura da branco tem laivos de azul,azul cobalto das riscas, rebordo tão requintado, muito semelhante a uma infusa da mesma época.
Noutra banca, duas palanganas uma grande e outra mais pequena "ratinho". Curiosamente a maior gateada tinha o rebordo deliciosamente entrançado, nesta faiança nunca tinha visto. A outra tinha um grande cabelo com restauro, se a tivesse comprado tinha de a por em água para lhe devolver a traça antiga.
O vendedor afirmava que eram do alentejo. Tive de intervir, claro.Dei-lhe uma lição de ratinhos...à borla!
Comprei uma moldura antiga,ao retirar a foto do casal reparei que tinha a data de 1954. Quantos anos esteve ela a ornamentar uma mesinha de cabeceira ou cómoda?
No chão vendiam-se livros antigos .Pessoas com eles de baixo do braço, boas lombadas de carneira.Cheguei havia um muito antigo as primeiras folhas corroídas pelo bicho, nem consegui ver datas, só 2 €,fiquei interessada num catálogo Aechéologie, collecttion Jean-Alain Mariaud de Serres et à Divers Amateurs de 2000 em francês, o que me desmotivou a compra. Vinha embora o rapaz com ele na mão a fazer-me metade do preço, 1€. Não tive como não o trazer. Excelente coleção de arte.
Horas de almoço , descemos à baixa,junto à igreja de S. Vicente de Fora eram demais os turistas e os eléctricos cheios deles.
Almoçamos nas Portas de Sto Antao, numa transversal uma sardinha assada com salada, pimento, tomate, cebola e pepino. O vinho de Torres Vedras uma pomada. O queijo meio seco uma maravilha.A televisão passava um documentário sobre a floresta nas ilhas da Bretanha...na Papua de uma beleza ímpar,quedas de água a jorrar de gruta estonteante. Barato repasto, o empregado bonito.
Rumámos à av da Liberdade. De um lado feira do artesanato, do outro velharias.
Comprei uns belos brincos de pérola por 3.30€.
Travei conversa com o vendedor Manuel, uma banca só com material e do bom, muitas peças Cavaco, assinadas,faiança, companhia das índias.
O sócio foi passar férias ao Brasil, coisa de 2 meses, tem lá casa em Natal.
Ainda dizem que não dá...vou-me meter nisto, oh se vou!
Confidenciou-nos que tinha feito bom dinheiro.
A seguir a banca de uma também habitué, comprei-lhe um azulejo com a flor de Lis, 2 €.
Irrequieta, a freguesa fina queria saber o preço de um prato cheio de rolhas em vidro. Só uma delas era bonita, oca em casca de cebola. Curiosa, perguntei porque queria tantas rolhas. Visivelmente louca, apaixonada, tal como eu com outras peças, disse-me " adoro vê-las na vitrina em cima do prato sentir os reflexos das cores com a luz". Sem comentários.
Mais uma conversa com outro vendedor que conhecemos da feira de Belém, costuma ser alfarrabista, hoje faiança de Massarelos, da última fase, nada bonita. Um grande prato de faiança de Aveiro, nem conhecia.
Vi um bule de doentes por 300€ fazia 200. Sem dizer nada um abatimento de 100€.
Noutra banca a vendedora ruiva com 3 lindos pratos tipo cantão popular, recortados no rebordo, nunca antes nada assim visto, todos em azul e diferentes. Nem tenho palavras para atestar tanta rara beleza. Ainda um lindo pratão com um peixe.
Alguns vendedores com lojas de antiquários, e claro peças de coleção, caríssimas.
Encontro com a vendedora das rolhas, ria-se para nós, então não as vendi a bom preço, nem pestanejou...
Cansada sentei-me num banco de uma paragem de autocarros
A manifestação intitulada" abaixo a classe política"...tinha menos de meia dúzia de gatos pingados e um carro de polícia. Julgo que os outros estariam no tribunal no caso dos apanhados esta madrugada...Ossos do oficio!
Junto ao rio apanhei mais um quilo de caquinhos de azulejos para o meu painel contemporâneo. Vantagem. Lavadinhos e roladinhos...
O melhor do dia foi gozado em casa a dois.
O meu Sporting ganha ao Braga e assegura o 3º lugar.
Posso dizer, um sábado digno de registo!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Massa sovada no meu aniversário de 54 primaveras

Massa sovada à Moda da Ilha da Terceira. Invenção minha esta de a abrir para levar a carne à mesa, como se usa com o bacalhau.

O meu marido surpreendeu-me com o primeiro beijo de parabéns. Meia noite e meia,meio sonâmbula..."balbuciava ainda faltam 12 horas para fazer anos, teimou e insistiu docemente, mas já é dia 5...
Insónias, não dormi muito bem.A ansiedade as tarefas programadas eram muitas.
Levantei-me passava pouco das 7.Tomei o pequeno almoço e em seguida fui tratar de fazer a massa sovada à moda da Terceira.Não dispenso o meu alguidar vidrado verde. Peneirei 1 kg de farinha, juntei 6 ovos inteiros, 250 gr de açúcar, 200 gr de manteiga açoriana e uma colher de sopa de canela, amassei bem, finalmente juntei o fermento feito de véspera; uma batata cozida com a pele reduzida a puré, juntei um ovo, 20 gr de levedura de padeiro e 125 gr de farinha.Bem amassada até ficar com a consistência de bola, empoei-a de farinha, benzi-a com a mão, fiz uma cruz para levedar bem como a minha avó me ensinou, não faltou a reza da ladainha, "São Vicente te acrescente, Santa Inês te dê boa vez. Em nome do pai, do filho e do Espírito Santo".
Antes de vir para aqui deixei-a pela segunda vez a levedar,de tarde faço a cozedura da massa sovada, que não é mais do que um pão doce.
Decidi ir descansando ao longo das tarefas. A melhor ideia foi sentar-me aqui, relatando o meu dia.
Intervalei a cozinha com outras tarefas de arrumação.Meio da manhã, horas de um bom duche,meio vestida ligou a minha filha para dar os parabéns, uma graça canta-los ao telefone tal como sempre o fiz a ela quando vivia cá em casa. Disse-me para ir passear, o dia estava lindo.Tinha em mente passar pelo banco e dar os parabéns à minha amiga de longa data, Isabel Picamilho, hoje tal como eu também é bebé. Mal dobrava a esquina do prédio, toca o telemóvel, era ela.Cumprimentamos-nos efusivamente, fomos até uma esplanada desenferrujar a língua, beber um garoto "à nossa saúde, comemoração de mais um ano, eu 54, ela 58"!
Despedimos-nos com promessas de um resto de dia muito feliz.
Horas de ir às cerejas.Saco na mão dei de caras com um mendigo norueguês, louro olho bem azul, homem que conheço há anos geralmente sentado à porta do mini preço, vestido de calções,ferida na perna a sarar,num ímpeto faz-me uma vénia tirando a cartola preta da cabeça ao mesmo tempo que emana um sorriso maroto irradiando luz azul mui doce no olhar. Adorei. Em tempos ao passar por mim deu-me um pernadinha de sardinheira que teria roubado de uma varanda.
De volta a casa, mudei de farda, espreitei o email,choviam parabéns do meu mui amigo Dr Manel Dias, no facebook da Ana Mestre e da Susana de Paris, toca o telefone fixo, a vez da minha mãe a chamar-me pequenina, "eras tão pequenina quando nasceste..."nisto toca o telemóvel a minha amiga Leonor Ceia a perguntar se tinha mudado a fralda...
Horas de retomar à cozinha, fazer o Pão de Ló. Depois de frio faço uma cobertura com merengue suíço regado com caramelo e decorado com granjeias minúsculas a imitar a barriga de freira da minha Coimbra.
No tabuleiro armei o pão de massa sovada em oval tal como na receita da Terceira,mais um nadita de repouso, já vão três as vezes de levedura, é obra, o alguidar estava lindo com a massa a querer sair pelo rebordo...
Sorri com a surpresa da equipa do Cellulem Block de Almada em se lembrar de me endereçar parabéns.
Etapa de pôr o pão no forno. Num repente ficou enorme, muito bonito.De seguida bati as claras que me tinham sobrado do arroz doce do Dia da Mãe e com açúcar fiz o merengue,nem usei a seringa de pasteleiro, foi mesmo com a colher.
Para uma das entradas cozi mexilhões 8 mn, dispus-os na assadeira de barro cobertos com uma mistura de gengibre, piri piri, ralei alho e queijo, juntei pão ralado à falta de miolo de broa e pus umas nozinhas de manteiga. Esta com a mistura do pão ralado é que faz a capa crocante.Servi esta entrada num prato lindissimo da SP de Coimbra. Outra entrada não me estava a correr de feição, com a forma dos canapés quis fazer cilindros de queijo do Rabaçal, escolhi mal a cura do queijo, devia ter comprado um de pasta mais mole.Exagero, ficaram cilindros sim, ao centro bacon tostado no forno, sobra do que meti no tacho. Servi num prato de acepipes da Vista Alegre. Noutro da mesma fábrica servi canapés em tosta integral para segurar o palito enfiei uma bolinha de melão encimada com presunto alternei com bola de mamão e mortadela de peru com azeitonas verdes.Esta entrada foi excelente, fresca para colmatar o picante do mexilhão crocante.
O meu amigo João de Hamburgo também não se esqueceu de me enviar uma mensagem privada pelo facebook.
Tacho barrado com banha e louro, à volta colei tiras de bacon, despejei a vinha d'alhos , tapei com folha de alumínio.Expectante, a minha aventura num prato não típico no continente, a minha primeira vez. Alcatra no forno, começava a lenta assadura da carne regada só com vinho rosé, cebola roxa, alho e uma mistura de condimentos, pimenta, paprika, cominhos, noz moscada, piri piri africano, tudo isto à falta de pimenta da Jamaica.
Tempo de acabar a arrumação da casa,outra vez o telefone, a Lurdes Matos, há um ano que não falávamos, pusemos a conversa em dia, mal retomei o trabalho toca novamente o outro, a minha irmã com as mariquice dela..."tens de começar a alterar hábitos alimentares.. e resto de um bom e agradável dia, não te mando a prenda, depois dou..." Esquece-se quase sempre...maldade!
Parabéns do meu amigo Dr. Luís Montalvão do blog Velharias. Também de amigos virtuais blogistas; Dra Maria Andrade, Dra Maria Paula e uma Maria amiga da Marília que me mandou uma longa mensagem de véspera,também um anónimo habitué nos comentários do blog do Luís o IF .
Surpresa,a Leilões Net e a senhora da limpeza do prédio, a D. Julieta estava eu de telefone na mão quando esta me bateu à porta, desejando-me parabéns.
Chegou a hora de engalanar a mesa para o jantar.
O apetite avassalou-me, tirei uma pontita de carne...picante e muito macia.
Hora de tomar conta de mim, outro duche, do guarda fato tirei um vestido.
Deixei por último o papelote de frutas, bolinhas de melão e de mamão, uvas, cerejas e ananás com um nadita de mel e uma folhas de hortelã para dar um sabor fresco,no forno coisa de 10 minutos para servir com bolas de gelado de chocolate.Contraste de morno com frio...
Ainda receberia mais surpresas.Desta vez uma mensagem no telemóvel do meu bom amigo e conterrâneo a viver em Ermesinde Dr Manel Dias, de manhã enviou um email, e ainda haveria de enviar outro com a minha prenda de aniversário, a correcção da primeira parte do livro de memórias que um dia destes será publicado.Atrevo-me a dizer...Manel você é um homem soberbo,ter frequentado o Seminário talvez o tenha toldado num jeito requintado que não passa despercebido a nenhuma mulher de bom gosto!
O dia todo foi fantástico.À noitinha ainda uma mensagem de parabéns no telemóvel do meu marido da minha amiga Dra Alcina Leitão.
Adorei ter todo este trabalho, tudo feito com muito carinho e com a ajuda daqueles que se lembraram de mim e foram muitos ao longo do dia.
Dois ou três por razões que conheço bem, nem lhes passou pela cabeça.O importante é que sabemos que estamos sempre no coração uns dos outros e isso é o mais importante.
Mágoas?
Apenas uma...
Alguém de quem fui muito amiga, optou por não falar comigo neste dia tão especial.
Adiante com a procissão. Cantam 54 anos!
Tal maturidade engrandece-me, faz-me sentir ser Mayor!
Ainda parabéns de um amigo no facebook o Jonas Alexandre.
Bem hajam a todos sem excepção amigos de coração.
Acreditem,nesta idade senti ao longo do dia um misto de orgasmos:aventura, sem medos de falhas,mistério,invenção, grumet, até intelectual!
Só possível com a panóplia de amigos que tenho e da família que adoro.
Uma achega, a carne acho que se chama alcatra porque fica muitíssimo tenra.Comparei-a com a nossa chanfana. Melhor porque não tem ossos nem gorduras, servia-a dentro do pão de massa sovada, não é mais do que um bolo festivo muito tradicional nas festas e que varia com a adição de erva doce,também de nome e consistência.A manteiga deu-lhe macieza, a canela um aroma agradável.Talvez estranho acompanhar a carne com este pão adocicado. Eu francamente gostei.
O meu marido vaidoso repetia incessantemente..."a carne está maravilhosa"
Uma nota em jeito de remate.
Gosto de programar, no caso escolhi a ementa aproveitando o tempo do forno que foi de 3 horas e nele fiz quase tudo.
A todos sem excepção o meu bem haja por fazerem parte da minha vida!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Pombal continua a fazer-me sonhar!

A estação da CP em Pombal no seguimento da quina da estação onde a carruagem 23 pára...
No meu tempo de estudante nos anos 76/77 na escola secundaria, por aqui deambulei minutos, horas...
Habitualmente apanhava no terrado da frente da estação a carreira para Ansião. 
A fazer tempo conversava com colegas de Vila Nova de Anços, Soure , Vermoil e Albergaria dos Doze...Isabel, Lurdes, Ana Duque, Benbinda,Júlia, Adélia, Serrano e...
Mal havia eu de pensar...de me lembrar destes tempos que os colegas usavam aquele meio de transporte e no futuro eu também o haveria de usar para embarque ou desembarque... continuo a sonhar no compasso dos segundos do relógio, e a estremecer todinha com a passagem rápida do alfa...
Pormenor da casa defronte da estação com a parede forrada a ardósia.
Continua a fascinar-me este revestimento nas casas.
Há qualquer coisa de encantador na imitação de escamas pretas a luzir ao sol...
Frondoso sabugueiro em flor no que resta do quintal desta casa abandonada.
Lindo arbusto, geralmente encontra-se nas margens dos rios, ribeiros ou terras húmidas como neste caso.
Sabem que tem imensas qualidades medicinais?
O famoso chá de sabugueiro, especialmente das suas flores, pode e deve tomar-se para tudo, em especial para combater o reumatismo, pneumonia, gripe e doenças da garganta.
Tomado bem quente é excelente para combater o frio que se sente no peito, sobretudo nas mulheres, também usado como desinfectante seguro para irrigações vaginais, tal e qual como o vinagre no passado uma mezinha barata, igual à infusão de malvas.
Duma maneira em geral qualquer casa tinha na arrecadação vinagreiras em barro ou grés.
Lembro-me em miúda fazer cola com farinha e vinagre.
Pensavam que o usavam apenas para temperar a salada?
Mulheres e homens lavavam-se com vinagre contra as infecções...
Embora as propriedades funcionais do vinagre não estejam totalmente esclarecidas, propala-se o seu efeito positivo no controle da pressão arterial e do pH do estômago para combater a gastrite, tem efeito bactericida, e acção antioxidante nas células ataca os radicais livres, evitando a manifestação de certos tipos de cancro. As manhas amarelas da roupa branca tiram-se numa infusão de água fria com vinagre branco. E na comida quando está adocicada pelo tomate e pimento põe-se vinagre.

Lembranças saudosas da grande taberna de paredes meias com esta casa. Valadas!
Os pipos a rondar o soalho da casa com letras vermelhas. Nos anos sessenta, sentada nos mouchos de madeira com as pernitas a abanar...comia amendoins.Serviam travessas ovais de faiança com carapaus e sardinhas de escabeche. Os meus pais saciavam-se com os amigos.Enquanto eu e a minha irmã comíamos sandes de atum e bebíamos copos altos com laranjada.
Nos bolsos guloseimas escolhidas no expositor giratório na quina do alto balcão.
Ao sairmos olhava sempre para trás...
Os pipos fascinavam-me de que maneira pela imponência...Adorava aqueles pipos.
A mesa ficava imunda marcada com o lastro dos copos de três saídos da torneira de madeira a transbordar, emborcados num virote enquanto o diabo esfregava um olho...
Voltei à taberna em 76/77 com os colegas beber sumos e comprar pastilhas elásticas.
Nesse tempo ainda era exactamente como a tinha conhecido.
Até ao dia que a deitaram abaixo...
Continua o espaço vazio, feio, sem graça, num tempo que foi tão castiça!
Continuo a sonhar naquela estação...Tantas vezes Pombal,Coimbra,Lisboa...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Museu da Casa Rego Vasconcelos em Almofala de Cima

Tive conhecimento deste Museu através do meu amigo Dr. Manuel Dias, sabendo do meu agrado por estas coisas de velharias e afins, não hesitou na sua divulgação. Fez muitíssimo bem!
Surgiu a oportunidade no último sábado, uma tarde maravilhosa na companhia da minha mãe.
Tijolos burro da cerâmica de Almofala
O Museu localiza-se no limite do concelho de Ansião com o de Figueiró dos Vinhos a escassos 3 km da saída do nó do IC 8 para a Aguda na direção de Almofala de Cima em  lugar cimeiro, um paraíso envolto com milhares de árvores plantadas pelos proprietários, oliveiras, pereiras e vinha.
Deparamos com uma casa restaurada de sobrado, alva de sanefas de pedra acima das portadas, lindíssima, onde habitam os digníssimos donos do Museu, ao fundo do jardim avista-se um refúgio alpendrado, aqui e ali na parede branca pequenos painéis de azulejos século XVIII, motivos zóomorficos, flores e outros que um dia embelezaram a Quinta do Vinagre em Colares , quis o destino que ficasse famosa pela grandiosa festa ocorrida a 3 de setembro de 1968, conhecida pela festa do Schlumberge de um alemão alsaciano milionário do petróleo casado com uma portuguesa, a Saozinha que lhe pediu para comprar a quinta quinhentista ricamente decorada para o evento, mais de 1.200 convidados ilustres, rei Umberto de Itália, Duque de Bedford, princesa Ira Von Furstenberg, Vincente Minnelli, Zsa Zsa Gabor, Audrey Hepburn, Francoise Sagan, Gina Lollobrigida, rainha Soraia da Pérsia e...muito glamur e uma segurança de 250 militares da GNR e 200 criados vestidos elegantemente de libré, repórteres do Times, Paris Match, e paparazzis. Não menos celebre ficou para a história o fato do Dr. Salazar não ter autorizado nenhum Ministro participar, no entanto as filhas do almirante Tomás não faltaram...
Não me recordo da marca do faustoso automóvel que serviu para transportar os convidados do hotel Estoril Sol para a Quinta hoje pertença desta família de Almofala de Cima.
Defronte desta casa há outra mais baixa com 100 anos englobada no espaço museológico onde decorrem exposições temporárias, no momento com  A vida de Cristo. De apreciar a abertura das portas interiores bastante larga à época, tectos com remates de rosetões na sala e na entrada a escada em caracol elegante e delicada, virada a sul um largo patamar em lajes calcárias com vista luxuriante a perder de vista em múltiplos verdes matizados a espraiarem-se em deleite na pequena albufeira da propriedade.
Do antigo celeiro e adega nasceu um Museu alusivo à casa rica, remediad, e pobre da região. Uma terna homenagem aos familiares da esposa da Família Rego cujo pai foi empresário da Cerâmica de Almofala cujo retrato com a esposa está patente no espólio, assim como o dos tios solteiros -, um Professor e o irmão diretor das Estradas de Portugal, ainda de uma irmã tragicamente falecida em acidente de viação.
Muito bom gosto na disposição dos vários ciclos em exposição: Fotografia com a máquina de tirar retratos à la minute, fotos a preto e branco a contrastar com um belíssimo quadro onde o fotografo não faltou à feira, tendas e miúdos com moinhos de papel que curiosamente teimaram deixar no espaço e assim enriquecer na analogia este ciclo. Loiceiro Arte Nova recheado com peças sublimes da Companhia das Índias, talheres em prata, por cima uma caneca de parras branca com tampa da Vista Alegre, no loiceiro em frente travessa do Juncal pintada a azul, pratos em faiança falantes de Coimbra, um com flores todo a azul alusivo a Maria -, o outro alusivo à Alegria e ainda outro...arte sacra, José Franco, e uma Santa Clara lindíssima de manto escuro com dourados é arrebatador.
Jarro Vista Alegre 
VISTA ALEGRE AZUL -, PEÇA RARA
Prevalecem as paredes em xisto com mistura de calcário,barro e telhos.
Nas paredes alguns belos óleos, com o cuidado de o visitante fazer ele próprio a alegoria ao ciclo que aprecia.
TRAVESSA RARA EM AZUL DO JUNCAL E PRATO JULGO BORDALO PINHEIRO(?)
Na entrada sob a secretária um belíssimo conjunto de peças cobertas a marmoreado verde raiado de preto; mata borrão, tinteiro, suporte das canetas ainda a mala do tabelião e numa gaveta muitas escrituras antigas...
Um belo conjunto de bengalas com incrustações a prata, algumas de rapé.
Alguns instrumentos musicais, um violino vindo do Brasil Stradiuvarius? e um pequeno órgão que terá outro nome, julgo que se usava nas feiras mais no estrangeiro, feitio de caixa -, gentilmente o Dr. Vasconcelos o fez tocar para nos abrilhantar o ouvido ...soou melodia intensa que nos tocou na tarde soalheira com mais de 30 graus, sorrateira esgueirei-me a olhar pela grande vidraça a contemplar o lindo cenário, sob o parapeito cortiços ressequidos usados numa apicultura tradicional, na lateral da parede da casa um lindo painel de azulejos azuis também da quinta de Colares que já falei.
Refinado o ciclo do linho, não vi que faltasse algum dos instrumentos; fuso, roca, andarilho, maço, espadana, linho, ainda a máquina Singer e uma cabeça de máquina que a costureira transportava no alforge do burro quando andava à jorna na casa do freguês . Vários ferros de engomar e de brasas. Na parede cangas de juntas de bois desde o Minho até às usadas na região.Lindíssimas as duas colchas em seda delicadamente bordadas durante anos...oito de beleza asiática incomum ricamente bordada, fina, com espectacular buliço de cores e franjas a combinar em desenhos figurativos e florais num misto doce e encantador, uma com fundo amarelo torrado e a outra num cerise a puxar a Senhor dos Passos do século XVIII. Na outra sala improvisada uma escolinha com duas carteiras, quadro de ardósia, mapa de Portugal, livros, foto do Professor e cartas que este escrevia ao Reino com arte e sabedoria.Homem inteligente e sagaz , não falta a cana da Índia de encosto à parede tal e qual como no meu tempo ...
Enquadra o Museu uma Ara de criança em terracota visigótica, algumas notas do Mundo vivem guardadas numa gaveta.
Loiceiro com loiça de Sacavém com pratos, bacias, travessas, sob o tampo loiça do Bordado Pinheiro e gavetas com Cristos crucificados, dentes de marfim trabalhados, e...
Igualmente belo um loiceiro à pobre; alto e estreito, nele loiça de Aveiro, bacias, pratos, malgas Cavaco, bacia de Coimbra, em baixo palanganas Ratinho, talheres de ferro numa alusão ao tempo que o pessoal de fora ou contratado sazonalmente para a lavoura e ceifas nelas picavam o aferventado de couve galega com chicharo e migas de broa regadas com azeite- , o conduto um dente de alho, sardinha para três ou postita de bacalhau...
No espaço não falta o banco de carpinteiro e todos os utensílios da arte: inchós; plainas, grolopa, limas, e arca que viajou algumas vezes ao Brasil, atracou em Santos e continua inteirinha ainda visível na frente a inscrição do nome do seu dono gravado, por dentro do tampo coladas duas fotos do seu genro, o que é no mínimo curioso...expostas mantas de tear, toalhas de linho e duas vassouras artesanais de painço feitas por o último artesão em Almofala de Baixo - também tenho duas!
O culminar de êxtase foram algumas peças que foram em tempos pertença do altar mor da Aguda a igreja da freguesia. Há coisa de 30 anos o padre lembrou -se de o substituir e o vendeu a um antiquário da Vidigueira. Tinha sido obra de artesãos da terra, quis o destino que um dia o Dr. Arménio Vasconcelos o encontrasse por mero acaso numa trivial conversa com o antiquário que lhe confidenciou a sua origem -, estarrecido ficou porque naquela igreja a esposa tinha sido batizada. Entabuou conversa de negociante, ajustou preço razoável com a condição de no dia seguinte o pôr no mesmo lugar de onde um dia a tinha levado. Assim foi, o altar voltou a casa!
Com o espólio das colunas, retábulos, e outros entalhes fez uma capela na sua outra Casa Museu Maria da Fontinha em Além Rio em Castro Daire. Outras peças tem na sua quinta sobranceira ao Lis em Leiria, as restantes deixou aqui neste Museu expostas para enaltecer os artesãos da terra que um dia as fizeram, e assim o visitante poder apreciar a beleza do talhe que curiosamente se encontra igual nos tectos da casa.
Ainda um banco de rezar, um Senhor pregado na Cruz e,...
Descemos à cave e na parede uma alegoria ao cofre dos pobres, na esguelha da parede uma púcara partida e nela moedas....apreciámos o ciclo do pão, do vinho, do azeite, do milho, de outros cereais e leguminosas.Talhas em cerâmica, asados em vidrado verde, alguidares em amarelo torrado, vinagreiras em grés, alfaias,almudes, medidas em lata e madeira, alqueire, selamim, enxofradeira, máquina de sulfatar em cobre, balança de madeira, serra do serrador, regador em cobre, panelas de ferro, a grande colher de pau, o chamaril em madeira para pendurar o porco a escorrer e,...nos jardins canteiros com azulejos indicam as plantas aromáticas. Uma grande dorna de madeira no alpendre o 1º tractor que entrou em Portugal, uma carroça e dois carros marca Ford que foram pertença do sogro. Ainda uma charete de pónei. Na entrada do jardim uma furgoneta cinzenta que espera melhores dias naquele enquadramento.
Vale a pena visitar, quer pela obra apresentada, pelo brio dos donos em enaltecer as gentes da terra, os artífices, os trabalhadores da cerâmica de Almofala cujo empresário pai da benfeitora Dra Rego. Todos os seus nomes estão inscritos a preto nas paredes, sob as ripas dos tectos inclinados constam frases da Ilíada, de Atenas...Teimaram preservar e homenagear as artes; marcenaria, cerâmica, vida rural e,...
A simpatia do casal é inexcedível. A obra que teimam deixar ao presente e gente vindoura é grandiosa.Bem hajam pelo carinho com que tratam o património e as lembranças dos seus antepassados. Grandioso feito que deveria ser seguido por outros...mas isto de fazer é mote só de alguns de coração grande, dose de humanismo e simpatia.Só podiam ter raízes de nascença e adquiridas no concelho de Figueiró dos Vinhos!
Adorei conhecer tanto a senhora como o esposo que não sendo da região se encantou por esta terra da Beira Litoral inserida no Pinhal Interior.
Na garagem vi um jipe e Mercedes, apreciei o jeito desportivo do Dr ao volante da sua moto quatro, percorre calçadas estreitas e caminhos de terra batida a esvoaçar o seu chapéu tipo cowboy.
Amável, ofereceu em rota de adeus um livro de poemas, um a mim, outro a um visitante com raízes na Serra do Mouro que nos acompanhou assim como a sua esposa ribatejana.
Deixo aqui um convite!
Venham visitar. No final subam à Aguda e desçam ao Olival - , contemplem os verdes, as serranias, as aldeias perdidas nas veredas dos outeiros.
Acreditem, tal beleza emociona a sonhar, chegados ao entroncamento de Vale Tábuas se forem horas de almoço viram à esquerda a escassos 3 km algum restaurante estará aberto, trutas e não só, degustadas sob o alpendre dos varandins a mirar a água da Ribeira d'Alge a caminho do Zêzere.
Eu optei por tomar o rumo de casa direito ao Pontão. Afrouxei, existem muitas lombas para cortar a velocidade. Ao longe vi uns velhotes encostados à sombra esperando freguesia para o mini mercado.
Soltei a voz " boa tarde, em tempos vi aqui na beira da estrada umas vassouras em painço..." 
-diz o homem, "ainda aqui tenho umas duas ou três..."
Enfeirei logo duas uma grande e outra pequena, para enriquecer uma arte tradicional desta minha terra que adoro. Sorte a minha que no Museu estavam duas - logo me lembrei delas, sorte que tive, caramba!
Um reparo. A fábrica de sinalética situa-se na zona industrial do Camporês a escassos 5 km, e no entanto as placas toponímicas são manuais...Caso para perguntar o que anda a Junta de Freguesia a fazer que não repara? Afinal vale a pena fazer críticas construtivas depois de mais de 1000 visualizações temos placa!

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