segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Entrudo, Sachas ou Carnaval e o jogo do pau em Ansião!


As sachasDança ancestral do uso do pau em jeito de andarilho à pala do Entrudo - ainda hoje se revezam raízes  nele a dança do Fandango do Ribatejo e Pauliteiros de MirandaO nome não sei de onde lhe advêm, será do ato de sachar o milho, no jeito da enxada na roda dos pés das plantas ao acalcar a terra junto do pé ou,  na dança os pés e o pau firme no chão a fazer toada para dar nas vistas a exibição?
Em tempos de antanho era tradição na Moita Redonda, uma aldeia da freguesia de Pousaflores no concelho de Ansião o uso de um "Pau" por cada rapaz na aldeia,  no mesmo ritual nas redondezas. Chamavam-lhe os caceteirosNa Moita Redonda juntavam-se ao domingo rapazes e raparigas em redondel  ao largo do aqueduto do ribeiro com o entroncamento da quelha do Vale onde se bailava-, velhas mulheres vestidas de preto, enfeitadas de lenço surrado pela cabeça e na boca desdentadas, o seu festim era espiolhar os namoricos das filhas, atrevidas chegavam-se  de mansinho aos rapazes e os espicaçavam- "olhe lá vossemecê quer bailar? Puxe aquela ali..."
Quando iam à missa levavam o pau e deixavam-no atrás da porta da igreja, mas houve padres a proibir e assim o deixavam antes de entrar nas vilas escondido.

Paus  e queimbos que foram da Moita Redonda
"O Jogo do Pau é o sistema tradicional Português de combate e defesa pessoal, com origem e principal incidência no combate em inferioridade numérica".
"num país em que, até há pouco tempo, se caraterizava fundamentalmente pela prevalência dos ambientes rurais sobre os urbanos, ocorreu a manutenção do pau / cajado, como utensílio de caminhada e, simultaneamente, como ferramenta de defesa pessoal".
" esta arte, outrora aplicada a toda e qualquer arma medieval e outros instrumentos de fácil acesso, como os agrícolas, veio a ser conotada como exclusiva de paus, ao ponto da recente designação que surgiu para a identificar transmitir essa mesma ideia: Jogo do Pau".
"a origem e história do Jogo do Pau, enquanto tal, baseia-se um pouco numa interpretação lógica da relação entre caraterísticas socais e ténicas de combate criadas mas, acima de tudo, assenta no fato objetivo de, num dos livros escritos pelo Rei D.Duarte no século XV (Ensinança de bem cavalgar a toda a sela), o nomes apresentados para designar as ténicas de ataque, assim como as suas trajetórias, corresponderem aos nomes e trajetórias que nos chegaram pela prática do Jogo do Pau".


Desenho do jogo do pau na região de Alfredo Keil do seu Livro Tojos e Rosmaninhos  do século XIX quando se deslocava à região para caçar com o Rei D. Carlos e costumavam ficar na Estalagem de Ferreira do Zêzere.
Confesso não aprecio o Carnaval  dos nossos dias em jeito arremedado dos Brasis...
Em geral naquele tempo de antanho rapaz que se prezasse andava sempre com o seu fiel companheiro -  o pau, servia para se encostar, apoiar e defender, hoje ainda perdura o seu uso pelos pastores. Quando se deslocavam a outras terras tinham sítios para os deixar guardados, nem sempre andavam com eles. Pelo Entrudo, deles faziam uso nos bailes, onde a  traulitada  e o cantar ao desafio era permitido para libertação da alma de ditos e mexericos - as cegadas ou pulhas - testemunhos de vida na essência a declamar acontecimentos cómicos vividos na aldeia no pretexto de os vincarem ,em alto e bom som, a respeito de todas as pessoas, sobre  o que não se aprovava e falava por trás, com eles andavam entalados na garganta durante um ano, no suposto seria -,  não se querer voltar a falar...Os que tinham este perfil e  arte para desempenhar tal papel eram as pulhas-  ao fazerem uso do palco, o terreiro à ponte do ribeiro onde se concentrava o ajuntamento e convívio de gentes, onde a festa acontecia no deixar a aldeia sonza e desnorteada com  tamanha paulitada-, que fazer era coisa que lhes estava na " massa do sangue"...Fosse o jeito do gozo, escárnio, maldizer, e sátira, - sendo que este estar no Entrudo na Moita Redonda era sagrado.Por Lisboinha no lembrar do meu bom amigo João Patrício. Ah!!!As Pulhas na minha aldeia...Iam para o monte da Ovelha dizer bem alto: A Maria tem um amante! E outras tentações do demónio ...
No melhor toda a gente dançava na quelha do Vale junto ao ribeiro ao som da concertina que o meu tio Alberto Lucas tocava - depois dele - apareceram uns irmãos do Pobral, o Alberto e o João a tocar harmónio. Haviam  rapazes bonitos na aldeia: Acácio, Zé Serra, João, Américo, João, José e irmãos das Hortas, João Medeiros, irmãos e, …Também aqui acorriam rapazes vindos das bandas de Alvaiázere, Vale do Rio, Ribeira Velha, Pardinheira, Mó, Lisboinha, Pereiro e, …E as raparigas desempenadas e bonitas: Alice, Ermelinda, Josefina, Hermínia, Maria Medeiros, Maria, Clotilde, Rosaria, Ricardina e, … Bem se mostravam no varandim de madeira da casa da Ti Joaquina onde também se bailou muito com vistas para o sol soalheiro a cair sobre o ribeiro a sul a espreitar por entre os choupos... Acredito se roubavam beijos à conta de ninguém levar a mal...E se comiam os velozes de abóbora, depois da Quaresma de novo só pela Páscoa se as eleitas  " de raça menina" se aguentassem... Deste modo simples, no intuito em não deixar morrer a tradição, contei um pouco do que ouvi do que  foram  as sachas em outros tempos vividas na Moita Redonda, onde  a paulada era de meia-noite quando não dava em zaragata, ou por intriga aguçada e mordaz "partida pregada à laia da má sorte do visado" . A fazer fé no ditado " quem não se pica (ofende) não é filho de boa gente" apesar de dizerem que pelo Entrudo ninguém leva a mal… 
Ora o que mais era senão a ingestão de um copanero a mais de tintol, ou de aguardente, muitos na roda  do tacho de esmalte azul de bolinhas brancas, que serviu no casamento do filho mais velho, o Carlos, com a  cachola repleta de lascas de fígado entalado na brasa, armados de garfo de ferro em punho dele picavam e numa palangana de faiança  na outra borda do balcão havia sonhos, feitos pela Zaira, a loira em corpo robusta, tudo à venda na taberna do meu avô Zé Lucas, conferido pela guardiã das contas a fiado, a Clotilde , porque a minha mãe era ainda cachopa, da escada de madeira de ligação da loja à casa os via  respingões, a dizer asneiras no bater de paus que não largavam, lhe havia de despertar  no seu ver ingénuo, tal espetáculo ao querer espreitar.
Se sobrasse alguma moeda no fundilho dos bolsos alguns em fila ainda se iam "aliviar na mulata" coitada dela e da má sorte ditada pelo pai "Ervilha"que  na ida ao Brasil à procura de boa fortuna, no regresso trouxe dois filhos mulatos, um par de meias de seda, e uns cobres para fazer a casa que era ao tempo boa e grande com um par de janelas de guilhotina , e segura na companhia de Seguros Bonança ...O irmão morreu cedo afogado no poço do quintal na borda do caminho,já ela votada ao abandono sem ninguém nesta vida para lhe acudir, senão os vizinhos sobreviveu a saciar prazeres, sem prazer...Ainda me lembro do seu olhar triste!
Gosto da tradição das nossas gentes ainda vivas nalgumas terras - daquilo que é realmente PORTUGUÊS!
 

Na feira da ladra encontrei há tempos um caderno de capa preta de folhas quadriculado comprado na Papelaria Vasconcelos no nº 268 na Rua da Prata em Lisboa, escrito com sonetos em letra elaborada de  Maria Regina , por volta dos vinte anos de idade ...1926.


SONETO

O que é o Carnaval?!Frouxa risada 
D'ironia ao que vai pelo ano fora
Soluço disfarçado em gargalhada
Escuridão mascarada em luz de aurora. 

É miséria vestida de brocado
Alegria fictícia que consome
É aquele garoto esfarrapado 
Que vês a rir para disfarçar a fome 

É a torpe mentira que nos choca
É a própria mentira que a provoca 
É aquela criança quase nua… 

São três dias que duram o Carnaval, eles
Mas eles passam...vão-se...e afinal 
...O Carnaval da vida continua...

O tema retratado me parece tão atual...Incrível já passou quase um século!

Há outro soneto intitulado - P'ra quê ?  com um apontamento a lápis - " lidos por 
Ana Trindade em 3 de setembro de 1947."


P'ra que me deste um coração, Senhor...
P'ra que m'deste assim como este meu?!
P'ra não poder passar alheia a dor...
Para sangrar como sangrou o teu?

Para que foi, Senhor, que tu me deste
A mim,simples mortal, um coração?.
..Olhai aquela flor que o vento agreste
Derruba sucumbida para o chão..

A vossa cruz!eu sei, foi bem pesada
Mas junto a vós, Senhor, eu não sou nada
Por isso que me esmaga a cruz da vida..

Deste-me um coração;p'ra quê Senhor?!
Se eu sou a própria imagem dessa flor
Que ao menor sopro, cai desfalecida...
O Jogo do Entrudo no Bairro de Santo António em Ansião nos meus tempos de miúda… 
A minha  prima Júlia Silva corria às arcas de onde tirava saias compridas, grossas e rodadas para jogarmos o Entrudo -, naquele dia tirou o vestido branco do casamento da sua irmã Tina, e o vestiu a fazer de noiva que nunca quis ser - apesar dos belos atributos de peito farto em altar e altura desempenada. Não me lembro quem fez de noivo -, acho que foi o "Carlitos Parolo" ou o "Toino da Ti Peleira". Cortejo abrilhantado com música que saia dos foles da pequena concertina do Ti Inácio que a tinha comprado na feira da ladra onde foi feirante anos a fio. Convidados foram todos  os cachopos do Bairro: "Eu e a minha irmã; os Trinta; os Cunha; os da Alice do Pego; os da Augusta do Chico; os da Robertina; os da Carmita; os da Mavilde, Mocho e,..."à mistura  com graúdos no desfile pelo Ribeiro a Vide, a caminho do Cimo da Rua e da vila no auge o Fundo da Rua onde se concentravam a nata da sociedade ansianense... Ano houve que joguei ao Entrudo vestida de padeira. No armário do vestiário da padaria dos meus avós  fui buscar a indumentária e vestida de branco, armei o cesto de alforges de verga de fundos rotos na pasteleira, e de corneta na mão desfilei pela vila até ao Fundo da Rua numa de apitar para chamar à atenção... Coitada de mim julgo os rapazes não me reconheceram...Ou sim e para tristeza minha não me deram atenção -, seria por ser magrinha sem dotes de arregalar o olho?
Ao tempo não havia máscaras tapava a cara com uma meia de vidro, no caso uma da minha mãe nº 8,5, e a sua maquilhagem  fez milagres..e a boina branca rematou a cabeça.
Pelo Entrudo sempre gostei muito de ir até aos Escampados com a comandita da cachopada no atalho pela quelha do Vale no endireito da ladeira , e às  Almitas  direitos ao Escampado Belchior à casa do Serra, depois na direção de Santa Marta sentados nos muros da capela de Santa Marta a conversar e a rir -, em seguida no caminho da Lagoa, com nova paragem na casa da avó da Arminda e da Gracinda ,de caras para  a lagoa que lhe deu o nome, brincadeira farta à  sua roda ,e a apanhar canas para varejar nas águas -, claro e a brincar no  molha molha...
Cansados, a comandita seguia  para o de  S. Miguel onde na casa da Elvira André junto à capela  de S.Miguel e da casa dos avós do Carlos  Cotrim havia de novo alarido. As pessoas gostavam de nos ver pelos caminhos cheios de  alegria e o descaramento de pedirmos alguma coisinha para comer, como se fosse no tempo dos Santos na cantilenga - "Ti Maria dá bolinhos por alma dos seus Santinhos"  as mulheres ofereciam ovos, chouriças, pão escuro de trigo e centeio, laranjas, passas de figo e nozes. 
De regresso a casa o redondel  fazia-se no Largo do Bairro onde a festa acontecia, todos comiam e bebiam, se faltasse alguma coisa alguém ia  buscar a casa, ou comprava-se, se para tal tivéssemos recebido moedas! 
Recordações tenho da azáfama nas vésperas do Carnaval no Correio velho de Ansião, no turno da meia noite,  de ver a  minha Titi com a minha mãe -  mais pareciam mãe e filha, e na realidade eram irmãs com diferença de 24 anos -, na folga dos assinantes no dar à manivela para pedir chamadas locais e interurbanas, matavam o tempo a remendar fatos  guardados anos a fio no sótão do solar da D. Maria Amélia Rego que a traça não perdoou. A bondosa senhora os emprestou a contento, tinham sido  usados pelas suas filhas, já senhoras. Belo, era o  traje madeirense e outro de cigana , de saia rodada até aos pés puxada na roda por flores cerise, com  cesta na mão com elástico e fita de nastro fazia de vendedora de retrosaria. Vestida com eles me passeei até aos Olhos d’ Água onde rebenta o Nabão, por aqui em dia de Entrudo a água jorra em fúria da gruta pelo poço aberto nos anos 40, e segue viagem sempre  a fugir em pujança da eira pela porta aberta repleta de agriões floridos...
Deleite maior sentir a água correr debaixo da pequena e linda
Ano houve que pelo Entrudo na vila enxerguei cabeçudos altos de grandes beiças esfaceladas, e saias de chita rodadas, que abrilhantavam as ruas com a  comandita de zés-pereiras, foguetes, e gente à sua beira…
Tempo de troça, de gozar com tudo e com todos, extravasar alegrias, rir à gargalhada com humores carregados de sarcasmo, de fazer o que durante o ano não era permitido. Atrás dos cabeçudos os cachopos faziam  corrupio -, para nos assustar davam corridas largas, as saias voavam, as cabeças grandes batiam umas nas outros...Risada, muito rir descontraído, solto e aberto de folia.Na véspera tive o privilégio de os ver chegar em cima de uma camioneta e a serem acomodados na casa onde funcionavam no início os Bombeiros antes do quartel - agora a casa do António dos Munhos, ainda assisti ao despique dos homens que os queriam vestir para  rodopiarem pelas ruas!  
A última vez que o joguei ao Entrudo foi com a minha grande amiga Lála da quelha da Atafona, ela vestia camuflado da tropa, eu fazia de madrinha de guerra  grávida, vestida de saia que ela fez enquanto aprendiz de costureira de uma colcha de seda azul-bebé da minha mãe a que pôs um elástico na cintura, a fazer de barriga uma almofada presa com um lenço, de braço dado fomos até à vila desfilar, na placa  do Município encostado a um banco esperava um táxi o Zé Emídio Moreira para ir até à Serra do Mouro namorar… O nosso estar era premeditado de o atazanar com escolha em tantas escolhas!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Queijo denominado Rabaçal em terras do Maciço de Sicó!

Rotulado Rabaçal, no tempo do Senhorio do Duque do Cadaval
O duque do Cadaval, no século XVIII, recomendava ao seu foreiro, mais tarde Visconde de Degracias que lhe enviasse “uns queijinhos do Rabaçal”.
A meu ver a designação correta passa por ser identificado por  Terras de Sicó ou Ladeia, porque o seu palco afinal se estendeu do Rabaçal, Pombalinho a Formigais.

 
Queijo dito do Rabaçal 
Denominação comum que perdura nos tempos compreendida nos concelhos das abas da serra de Sicó: Alvaiázere, Penela, Ansião, Pombal, Soure e Condeixa a Nova .
É um queijo curado de pasta mole, semi-dura a muito dura. A arte em reconhecer este queijo com bastante qualidade com fabrico nas regiões antes assinaladas de terra rossa,  calcária, pobre, onde predomina um tomilho por aqui chamado erva de Santa Maria  ao ser ingerida pelos animais, o leite absorve o seu  travo especial  que vai caraterizar o queijo na mistura certa de leite de ovelha (3/4) com o de cabra (1/4) e o uso do cardo seco este o fabrico artesanal  bem cinchado com poucos ou nenhuns buracos  na massa branca  Salgados os queijos devem ser lavados dia sim, dia não, durante alguns dias, no meu tempo era com uma folha de figueira seguindo-se a cura por um período mínimo de 20 dias em tábua em arejamento.
Trata-se de alimento completo, rico em gordura, proteína de alto valor biológico, ácidos aminados, ácidos orgânicos, elementos minerais, cloro, sódio, cálcio, fósforo e vitaminas A, B2 e B1.
O melhor queijo é o do mês de abril.

Origem do nome deste queijo ?
Segundo o Dicionário Enciclopédico, Lello Universal, editado pela primeira vez na década de 1930, com uma amostragem de uma foto de queijos, entre os quais o do Rabaçal, envolvido em corpo de cestaria.

Eça de Queiroz, tão atento a dimensões de identidade  pontua o queijo do Rabaçal na sua obra “A Cidade e as Serras”.

O nome  dado ao queijo Rabaçal  quando era produzido noutras terras limítrofes?
Julgo, sob melhor opinar que a celebrização do nome Rabaçal  depois do Senhorio do Rabaçal  foi continuado no século XX pelo itinerário da carreira do Pereira Marques, partia todos os dias de manhã da garagem em Chão de Couce, a caminho de Coimbra, durante décadas o único transporte destas gentes por onde ainda hoje o percurso passa, para as queijeiras das imediações do Rabaçal , sobretudo do Zambujal, souberam tão bem aproveitar como modo de escoamento o seu  queijo para suprir o seu sustento na venda no mercado diário de Coimbra. Tantas foram as vezes que também apanhei a carreira, mal chegada ao Largo do Zambujal havia sempre fila de mulheres em pé com canastras no chão tapadas com panos brancos de estoupa e  apressado o cobrador subia com as canastras  nas mãos para o tejadilho da carreira - difícil esquecer os cheiros dos queijos frescos, meia cura e secos até Coimbra...
Fotos retiradas de de http://astiascamelas.blogspot.pt/2015_09_01_archive.html
Portagem em Coimbra a Carreira na Portela 
Mal chegadas à baixa Coimbrã as mulheres com rodilhas à cabeça carregavam as canastras em correpio apressado no abanico de ancas a graça ao laço do avental na direção do mercado onde montavam a banca e começavam os pregões ...
" bom queijo curado e meia cura do Rabaçal" 
" oh freguesa veja os meus queijos".
" queijinho fresco" a clientela questionava a proveniência delas, de onde vinham - as queijeiras respondiam a pensar no paladar, no travo que as pastagens de tomilho confere ao queijo uma distinção especial e de boca cheia respondiam "queijo do Rabaçal minha senhora" por ser a terra mais sonante em detrimento doutras: Santiago da Guarda, Junqueira, Alvorge, Ribeira de Alcalamouque, Penela, Pombalinho , Cotas e,…
                                      Gosto de saborear o queijo em fatias finíssimas...  
A fermentação
Tem uma série de rituais de que, ainda hoje, existem vestígios: devem ser sempre brancos os panos que com os queijos contatem, fresco o local onde repousa o leite, frias, bem frias mesmo, as mãos de quem lhe toque no momento de o fazer , assim reza o ditado. 
No pote assado verde, também chamado açucareiro do almece, côa-se com o pano de estopa a mistura dos leites de ovelha e cabra a que se junta o coalho, flor de cardo ou de compra onde fica a coalhar à roda de uma hora junto à quentura do lume. Pronta a coalhada é despejada para uma bacia de faiança, há quem use a francela de madeira, recebi uma de herança, pasta bem espremida com as mãos para retirar o excesso de soro para a massa ficar mais compacta, por fim é enformada em cinchos ou acinchos em folha-de-flandres com buraquinhos por onde escorre o soro. Deixa-se o queijo repousar duas a três horas, por fim são cobertos de sal pelos dois lados e colocados a secar em lugar arejado e frio à roda de dois meses.
Ordenha
Recordações de ver a  minha tia Maria e a filha Júlia Silva no Bairro de Santo António diariamente  no curral de porta encostada a mugirem as tetas das ovelhas e da cabra para o açucareiro  e logo o punham na beira do lume a coalhar com o cardo que apanhavam junto ao poço velho do quintal e secavam. Adorava na cozinha assistir quase todos os dias ao ritual da sua feitura. Com os frangalhos de leite de ovelha faziam o almece que se comia com açúcar amarelo ou na malga em sopas com pão duro. Havia dias que a empreitada surdia mais, faziam um queijinho pequenino para nos regalarmos ao fim da tardinha -, gostava de ir buscar o sal à taça de esmalte, com os dedos esfarripar os cristais no queijinho e sentir na boca aquele sabor puxado a sal - os queijos maiores  punha-os na queijeira em fila sobre numa tábua de cantos arredondados suspensa com cordas presas no teto do hall de ligação da casa de baixo a caminho do sobrado. Dia sim, dia não os lavava com uma folha de figueira, depois secava com um pano de estopa e os punha de novo na queijeira, por fim já só os virava para curarem bem.  A minha mãe gostava de os comprar  às mulheres de Albarrol e da Portela de S. Lourenço - os mais afamados da região em meia cura no mês de abril - o ponto alto para o melhor  queijo do ano, os conservava com uma mistura de colorau doce e azeite,  quem também tinha uma mão divinal para os fazer como outra nunca conheci igual era a prima Albertina Lucas do Escampado Belchior , durante anos nos oferecia uma dezena pelo prado da Ferranha - queijos de forma redonda, limpissimos, alvos, e textura fina sem rendilhados...a derreter manteiga em 72 no colégio salesiano do Monte Estoril recebi uma encomenda pelos meus anos em maio que trazia um exemplar - mal chegou para aguçar o paladar das bocas em meu redor que se abeiraram, tal iguaria desconheciam, e se fartaram de tecer elogios...
Antigamente também havia gente que os guardavam depois de secos no mosqueiro, e se conservavam em talhas de azeite, a avó Rosa do meu marido os misturava na  arca do milho, que tinha na sala - ainda cheguei a enfiar o braço arca dentro à procura de um queijo do Rabaçal. 
Tempos de antanho via as mulheres na tosquia nas tardes quentes recolhidas na sombra de alpendres - as ovelhas, uma a seguir à outra, a todas elas tiravam o casaco à tesourada. Os animais eram dóceis, apesar de afogueadas queriam ver-se livres da lã. Vaidosas, e aliviadas davam saltos de contentes a passearem-se no adro de casaca nova, branca, com rasgos profundos de cortes desniveladas à toa disseminados pelo dorso, coisa da conversa  ... também das ovelhas  que não gostavam de estar amarradas na tosquia. Também é deste leite de ovelha que se faz o requeijão que adoro comer com doce de abóbora. No Carvalhal, na Nexebra e noutras aldeias de Sicó havia quem fizesse a sua produção caseira de queijo à base de leite de cabra, por ter mais cabras e menos ovelhas no rebanho. Estes queijos com mais mistura de cabra ao ser tragado " chia na boca ", sente-se no corte, parece mais plástico.
Maravilhoso desde o fresco, meia cura, e o seco que adoro, "rijo que nem corno" em sopas de café como a minha avó da Mouta Redonda comia, por não ter dentes assim o amolecia, eu tomei-lhe o gosto e ainda faço e adoro.


A certificação do queijo 
Qualidade na Produção
Desde os primórdios o fabrico familiar para governo da sua  casa , a venda servia para suprir a compra de açúcar, café, bacalhau, arroz, petróleo etc.  No meu tempo via aos sábados as mulheres chegarem com cestas de queijos e os vendiam por atacado em Ansião ao Sr Daniel, à irmã do Casal de S Braz e ao Sr Margarido de Santiago da Guarda,  intermediários que os traziam para Lisboa.
Hoje o que existe são marcas registadas com nomes de variantes de queijos ditos Rabaçal. 
O que falta? Denominação deste queijo. O rigor das qualidades do leite, uso de cardo e ritual de feitura. Claro de outros queijos também, sendo mais baratos, apelativos para quem tem menos posses.
Nos programas televisivos onde se mostra a produção de queijo Rabaçal nas várias fábricas o que se constata é a chegada de camions cisterna com leite trazido de outras origens, de vaca, essa a verdade.Numa reportagem na Feira dos Pinhões, em Ansião, uma produtora de uma fábrica afirmou gastar diariamente entre 10.000 a 11.000 litros de leite, o que explica a mistura de outros leites vindos de fora, e isto não é que seja mau. A falta de leite de ovelha e cabra da região, para se perceber a chegada diária de excedentes de leite com outra origem  às  fábricas,  para a confecção de queijos variados. Apesar da ostentação de nomes  de marcas certificadas quase toda a produção com derivados do puro queijo do Rabaçal, para mim que o conheço desde sempre, o sei reconhecer . Há contudo queijeiras certificadas que produzem o queijo em pequenas quantidades e o vendem a retalho, mas até esse pode ter falsificação porque só pensam no lucro, em faturar, querem lá saber da tradição e do preceito na mistura certa dos leites, fiquei horrorizada ao saber há  anos chegaram a misturar leite em  pó...Pior é as queijeiras certificadas darem uso a bacias de plástico em detrimento de recipientes em barro vidrados. O certo!
O plástico com o uso vai libertando partículas que se entram no leite e claro nos queijos...
Em rigor devem existir várias qualidades de queijo na relação  preço/qualidade. O  verdadeiro, o genuíno, o mais caro com outros até ao mais barato com mistura de leite de vaca, aliás como outras congénitas fazem, em que o consumidor não deve ser jamais enganado.
Por fim a meu ver não foi ganha a  aposta  do genuíno ao falhar a angariação de grandes rebanhos para pastoreio com produção suficiente de leites para a feitura do queijo. Na região existem por volta de 1000 animais, nitidamente insuficiente e rebanhos deviam ser aposta  na região a  incrementar o turismo, além da produção do verdadeiro queijo, a ser  certificado, o novo título - Terras de Sicó ou Ladeia! 

Há anos que não apanho um verdadeiro queijo do Rabaçal! 
Os que apresento comprei-os a uma queijeira certificada no mercado de Ansião que os tinha frescos e meia cura, deles tenho andado ocupada com lavagens para secarem - porque adoro o queijo bem rijo - não é "mau", pelo menos é de pasta compata sem rendilhados, cujo travo para quem reconhece, não é genuíno. Não julguem que é só por aqui que se aldraba a feitura do queijo - pensem em todos os outros queijos neste nosso Portugal . Houve um tempo que o excedente de leite de Trás os Montes era escoado para a Serra de Estrela, para fazerem dele o queijo mais caro de Portugal, até ao dia que os transmontanos se lembraram de o certificar como queijo Terrincho e fizeram muito bem.
Acaso continuasse a  especular, outras descobertas acredito me espantariam!
Pior é o preço exorbitante à roda dos 16€ no mercado de Ansião - Francamente é roubar.
  • Numa das fábricas no Rabaçal  a caminho do Pombalinho ronda os 11 € o dito genuíno de mistura cabra e ovelha.
  • O queijo de 2ª escolha tira-se a 5 €, é francamente bom.
  • O fresco a unidade custa 3€ e é grande e o requeijão 1€!
  • Os queijos da 1º escolha  custa o quilo 6,50€.
  • Por estas terras do Maciço de Sicó oferece-se queijo -  o meu  amanteigado foi comprado na fábrica do Rabaçal, o aprecio com bom pão, também se come chouriça e um bom copo de vinho a quem apareça de surpresa, por sorte ainda Pão-de-ló , os lesmas, as fazem sempre ao domingo.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Virgílio Rodrigues Valente, ao Fundo da Rua em Ansião!

Foto tirada a norte da Rua Direita de costas para Além da Ponte 
O grande prédio de gaveto em forma de L da Família "Rodrigues Valente" com letreiro publicitário pintado na quina .
O candeeiro a petróleo; lampião na quina do prédio. Candeeiros com braço de ferro forjado, foi obra do Dr. Domingos Botelho de Queiroz . Só chegou a eletricidade por volta de 1938.
Deslumbra-se ainda a norte grande mimosa na esquerda.
O Padrão e,...

De que data será o postal? 
O prédio Valente" em 1903 já existia segundo Alberto Pimentel no seu Livro Estremadura Portuguesa hospedou-se no "Hotel do Valente". 


O painel azulejar com o nome de Ancião
Colocado a norte do prédio "Valente" pelo Automóvel Club de Portugal fundado em 1903 com  a primeira edição do Mapa das Estradas em 1928. 


Origem do nome Fundo da Rua
 
A construção da Ponte da Cal  cujo contrato de adjudicação encontrei em 1648, veio a  proporcionar a ativação da antiga via romana, agora medieval chamada Rua  Direita, que seguia na direção da atual igreja, para o Cimo da Rua. 
Nos finais do séc. XIX, altura crucial  em Ansião de grande empreendedorismo com o rasgo de novas estradas. A estrada distrital Vieira/Pedrogão, cotou a Rua Direita , nascendo um cruzamento, criando dois novos topónimos; Fundo da Rua e Cimo da Rua ( Direita). 
Seguida da abertura da  Rua Combatentes da Grande Guerra em 1903.

A origem dos apelidos compostos 
Rodrigues Valente ao Fundo da Rua, na vila de Ansião 

Na boca do genealogista de Ansião Henrique Dias
" São tantos os Rodrigues Valente em várias épocas e Lugares que é possível ter o puzzle familiar engatilhado. Mas quanto mais peças se encontrarem, mais fácil é de o tirar a limpo. "
Verifica-se a quem nos pede ajuda a mim ou ao Henrique na procura da sua ascendência com estes apelidos e já foram vários - todos se referem à sua suposta ligação ao Café Valente do Fundo da Rua. A importância da referência, por ter sido de todos o que se estabeleceu na vila e do seu estatuto enquanto fundador do primeiro Café na vila de Ansião, poiso da intelectualidade onde se falava e discutia a globalização e se recitava poesia.
O elo de onde irradiou o apelido Rodrigues Valente, alcunha Frigideiras,  foi na Constantina, na entrada do lado esquerdo para sul.Onde alguns filhos partiram por casamento e  passaram a morar na terra das mulheres.

O meu trisavô paterno Nicolau Rodrigues Valente , casou com Emília da Conceição
Tiveram um filho Francisco Rodrigues Valente, o meu bisavô nascido no Canto ( onde é a casa do Zé Júlio), hoje Rua Políbio Gomes dos Santos .

Maximiano Rodrigues Valente casou na Fonte Galega
Casimiro Rodrigues Valente, solteiro, negociante em Lisboa
Joaquim Rodrigues Valente , sapateiro
Manuel Rodrigues Valente, casado, sapateiro em Albarrol
Mamede Rodrigues Valente, solteiro, de Albarrol, sapateiro em Olhalvo
António Rodrigues Valente, solteiro, sapateiro, em Leiria 
João Rodrigues Valente casou nos Nogueiros . Perguntei ao Sr. João, sacristão, nascido nos Nogueiros, se conhecia a casa onde os pais de Virgílio Rodrigues Valente teriam vivido - disse-me também já lhe tinham perguntado sobre isso, mas desconhecia.
e,...

Pedidos de Passaporte

O meu bisavô Francisco Rodrigues Valente
Pediu passaporte em 1906, como a esposa estava grávida do meu avô José Rodrigues Valente, só emigrou em 1908. 
Outros que pediram, seriam primos; 
Adelino dos Nogueiros  em 1908 
António dos Nogueiros, em 1909, quiçá irmãos de Virgílio.
E João da Constantina em 1909, seria primo de ambos. 

Virgílio Rodrigues Valente 
Data de Produção 1912-05-24
Idade: 15 anos
Filiação: João Rodrigues Valente / Maria Angélica Valente
; pais, 
Constantino Freire da Paz e Maria da Conceição Duarte, ambos de Ansião
Naturalidade: Vila / Ansião
Residência: Vila / Ansião
Destino: Santos ( Brasil )
Observações: Escreve


Pelos dados do registo presume ter nascido em 1887. Não localizei o registo de batismo em Ansião nesse ano. Teria nascido antes de 1887. Regressou do Brasil em finais do século XIX. Porque o café já existia em 1902, onde esteve hospedado Alberto Pimentel.  Presume ainda que em 1912, pediu de novo passaporte, mas, os dados estão mal e sim, nesta altura já vivia na vila. 

O Fundo da Rua 
Já existia a pensão dos pais da sua futura esposa  "Maria das Caldas". 
A  alcunha  indicia origem nas Caldas da Rainha, onde ainda há família.
Encontrei tradição de gente de Ansião ir a banhos às Caldas, num livro da Misericórdia de Ansião. Tenha sido essa a origem da Maria das Caldas, a regressar com os pais à terra pelo quinhão na herança? ou não para viverem da pensão . 

Virgílio Rodrigues Valente compra o lote de gaveto onde sediou o Café Valente, ao Dr. Domingos Botelho de Queiroz, favorecido pela nova estrada , adoçado ao prédio dos sogros .
 
Partilha de Renato Freire da Paz
O seu bisavô Constantino Freire da Paz era da vila e já o seu pai, avô e bisavô . Recebeu em batismo o mesmo nome do padrinho o Presbítero Constantino José de Paula, seu pai meu trisavô João Ignácio Freire da Paz, também de Ansião, teve por padrinho o capitão mor João da Silveira Furtado. Este presbítero teve a sua casa em chão da quinta da família. Presumo que fosse onde viveu o Sr. Nogueira, alguns se devem ainda lembrar da sua arquitetura de frontaria austera e a norte já no meu tempo tinha havido desmoronamento do que ali houve. Casa medieval o projeto de requalificação previa a manutenção da fachada- a mais antiga na vila, debalde numa noite eis que cai e se desfez...

Encontrei o batismo de Maria do Carmo 10.04.1887 do Moinho das Moutas
Outra filha de Constantino Freire da Paz, jornaleiro, e Maria da Conceição Duarte, naturais da vila. Neta paterna  de João Ignácio Freire da Paz e Thereza de Jesus. Neta materna de Francisco Duarte e Bernardina de Jesus. Padrinhos; José Rodrigues Valente, oficial de Diligencias do juízo da Comarca e Margarida da Conceição, casados, moradores na vila.

Os dados  da família de Constantino Freire da Paz casado com Maria da Conceição Duarte, sendo ela  do Moinho das Moutas, em chão que foi de um Morgadio, que se estendia ao atual Fundo da Rua. Presume com a sua extinção por lei do rei D. Luís, em parte foi adquirido  pela família Duarte no Moinho das Moutas, onde tiveram muito chão desde os Olhos d'Água e o Dr. Domingos Botelho de Queiroz, a parte a entestar com a Rua Direita que contemplava a atual Mata.  
O  Constantino é trisavô do Renato Freire da Paz, foi  batizado com o nome do padrinho, o Presbítero Constantino José de Paula. Portanto com parentesco na mesma família. Fecha a razão da  mãe da Anabela Valente ser  prima direita do marido, o comandante Artur Freire da Paz, tiveram de pedir dispensa ao bispo para casar. E ainda a razão da pensão ali, em chão que teriam herdado ? ou comprado .Outra parte da quinta ficou conhecida por quinta do Paredes, segundo se recorda o Sr. Fernando Silva.

O Patriarca Virgílio Rodrigues Valente 

O teria sido homem incompreendido, de mente sábia, sem medo, aventureiro, atravessou o oceano para absorver do Brasil o leque de oportunidades para novos negócios que o transformou num empreendedor visionário, olhando ao tamanho do prédio onde montou o primeiro Café em Ansião. Onde servia o famoso café de saco, feito na cafeteira ao lume com ciência de assentar a borra com água em prol de o coar como os brasileiros. Em miúda assim o ouvia dizer e, nesse propósito assim era feito na nossa casa, o que revela era gente de partilha. O café era feito com a água  a ferver que se retirava do lume para pôr o café , mexia-se com a colher e era  acrescentado com água fria para assentar, técnica que resulta sempre até aparecer a máquina italiana Cimbalino, nome por que veio a ficar conhecido o cafezinho "cimbalino" no Porto  e em Lisboa "bica". 

Na minha perspetiva Virgílio Rodrigues Valente foi um homem  com alma de artista, de certa forma incompreendido, com Obra feita, viveu à frente do seu tempo!
Dele se falava ser homem de silhueta entroncada com alma de artista e feitio gozão. Não o conheci. Outros  não aprovavam  o seu estar peculiar que elevo ao jus do pensar filósofo "o humor depende mais de quem o recebe do que de quem o faz" ou ainda o humor nunca é uma guerra pessoal, trata-se de piada sobre qualquer coisa para espicaçar mentalidades!
Acaso se tivesse radicado numa grande cidade por certo seria um nome a marcar os negócios nos anais da história para em Ansião ser recordado como Ilustre Ansianense!

Virgílio Rodrigues Valente e Maria das Caldas 
Tiveram seis filhos,  privilegiados de belo olhar azul e outros castanho, a puxar origem na minha teoria do povo povoador destas terras com origem franco alemã com cruzamento judaico; três raparigas e três rapazes; Virgílio, Eduardo, João, Claudemira e Fernanda

Virgílio Rodrigues Valente (Júnior)
O primogénito recebeu o mesmo nome do pai .Ainda o conheci bem, era chauffeur de táxi onde andei várias vezes, casado com a Srª D. Lucinda Leal Fonseca, uma senhora de alta silhueta, vistosa e olhar doce a matiz esverdeado com mãos de fada na arte do corte e costura. Tiveram quatro filhos em que o seu primogénito veio a receber o nome do patriarca da minha idade, o mais glamoroso pela beleza do olhar lânguido em relação aos outros igualmente bonitos e inteligentes -, a Ana Maria, Cristina e o mais novo o Pedro.

O poeta ! O grande João Rodrigues Valente!
Sem ter o seu nome atestado na toponímia de Ansião e no seguimento das minhas pesquisas com a migração para aqui e daqui para fora até ao Algarve.
A curiosa existência encontrar um nome igual atestado na toponímia - Rua João Rodrigues Valente em Quelfes - Olhão.  E em Ansião, esquecido!
Além de poeta sabia como ninguém fazer uma quadra, homem bonito , mais velho julgo 10 anos, não resistiu ao encantamento  da Srª D Aurora, quando se hospedou na pensão dos pais para trabalhar nos correios. Tão pouco o futuro sogro, cuidadoso, pressionava as outras noras na cozinha para terem a tempo e horas o almoço, porque a menina vinha almoçar a casa e tinha de cumprir horário. A menina - veio a ser a sua esposa a Srª D. Aurora, senhora de alta silhueta, bonita e vistosa ainda hoje essa beleza se evidencia,  natural de Vilarinho na Lousã . Tiveram 3 filhos a Maria João, o João  que Deus levou tão cedo e, o Rui Valente todos vestidos de olhar doce a puxar à mãe D. Aurora que tão bem conheço por ter sido colega da minha mãe nos Correios .
 
A escolha de um seu poema escrito em 1956, ano anterior ao meu nascimento. 
Pensamento Livre 
«Que importa que me prendam e me algemem as pernas e os braços? Que importa que me metam em cavernas e me tratem como farrapos velhos? Mesmo assim, algemado, acorrentado, com a carne a sangrar, o pensamento há-de ser livre e hei-de pensar e arquitetar o que quiser, pois não há cadeia nem corrente que evite que se pense livremente… »
No meu tempo de juventude ouvi falar que os irmãos (João e Eduardo) não deixavam " os cachopos casaleiros entrar no Café que ali acorriam ao chamamento da caixinha mágica espreitando pela persiana da vidraça, sobretudo o Eduardo corria com eles aos gritos, seus cachopos de merd"… conhecendo-se a linha de pensamento livre, seria tanto assim (?). O primeiro lugar onde comprei bons gelados "Olá" de leite e cobertura de chocolate, hoje ainda os que há, são tudo menos gelados como nesse tempo!

Eduardo Rodrigues Valente
O Eduardo era igualmente um homem bonito. Casou com a "Nikas" filha de Armando Coutinho, que vivia no Canto. Tiveram duas filhas a Nídia e Eduarda ,miúdas alegres, giras de tez morenaça e muito inteligentes.

Fernanda Valente
Senhora de linhos olhos azuis casou com Artur Freire da Paz, parece que eram primos direitos (?) tiveram de pedir autorização ao bispo, uma confidencia dum sobrinho o Renato. Tiveram uma filha a Anabela, herdou os mesmos belos olhos azuis, de menina mulher de festa ,puxou genes ao pai. homem de teatro.

Claudemira Valente  
Foi casada com o taxista Sr. Estrela e da sua bela moradia ao Moinho das Moutas. Tiveram dois filhos. Só conheço a filha a Prof Claudemira, recebeu o mesmo nome da sua querida mãe. Recordo um dia de alguma festa em que passei ao Fundo da Rua onde estavam as senhoras à  porta que fazia também de janela da que tinha sido a pensão. Casou com o Sr. Antero Morgado. Tiveram dois filhos. Um é o Dr. Leonel Morgado.

Maestro Virgílio Caseiro
Alguma dificuldade  em o relacionar porque o seu pai que bem conheci o "Sr. Alberto Estrela" pelos vistos alcunha  de apelido "Caseiro", bisneto do patriarca Virgílio Rodrigues Valente. Aos 70 anos, o Maestro Virgílio Caseiro, a morar em Coimbra. No Algarve tabelei conversa com um casal de Coimbra, falámos de Ansião, logo me perguntam se conhecia o Maestro, claro que sim o conheço de ouvir falar, o que já não é pouco. Foi agraciado com medalha em Ansião.

Foto anos 38/40 (?)  do Prédio da Família Rodrigues Valente  
 Já não ostenta o lampião olhando às letras déco Café Valente do reclame eletrificado no globo de vidro coalhado na fachada norte.
No prédio a norte estão afixados além da Caixa de Correio, reclames publicitários.
Quem será o homem na foto? Deve ser o próprio  patriarca Virgílio Rodrigues Valente!
Orgulhoso de peito cheio na frente da sua grande obra!
Café  onde se reuniam os caixeiros viajantes com as novidades, anedotas e aldrabices no melhor do carisma de cada um e ainda palco de pequenos ensaios teatrais com o Artur Paz e a D. Fernanda, os irmãos "29" D. Fernanda e o Júlio a que se juntava o César Nogueira e outros amigos de Ansião para depois no palco do Ensaio se representar a peça teatral. Nos dias d'hoje  a Anabela Paz recebeu de herança da mãe um baú com trajes dessa época e acessórios para representar esta arte há tantos anos enraizada na família para na tradição  reviver com as primas essa arte em festas de cariz especial.
O Café Valente foi ainda palco em juntar homens de saber onde se discutia política e se declamava poesia.
Por altura da instalação da luz elétrica 
O candeeiro suspenso ao meio do cruzamento .
" A Varanda da Europa"
Publicidade à dimensão  daquele tempo do conhecimento europeu aqui discutido e vivido!
No prédio foi reposto em finais do século XX o candeeiro de braço. 
Semáforos.
                               
O portão do prédio Valente a norte abria com aldraba
Entrei algumas vezes ao portão para usar a bicicleta vermelha da Anabela Paz para aprender a andar na então estrada para Pombal... Também me recordo em miúda de entrar no Café Valente onde por cima da porta na quina da parede havia uma prateleira com a televisão, um aparelho Philips com botões de lado igual à dos meus pais, no canto esquerdo havia a cabine telefónica do posto público do assinante nº 3 do PBX do Correio, ao meio não faltava a mesa de bilhar forrada a felpo verde com a parede com tacos à espera de jogador, no balcão atendia a clientela  o João ou o irmão Eduardo, embora tivesse o seu emprego na câmara como aferidor de pesos e medidas pelo meio do café haviam mesas de pé de madeira com tampo em mármore preto raiado de branco. 




FONTES
Fotos do arquivo municipal de Ansião
Fotos do google
Memórias Paroquiais
https://digitarq.adlra.arquivos.pt/details?id=1111955
Testemunhos de Henrique Dias, Renato Freire da Paz e Dr Leonel Morgado

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