segunda-feira, 17 de junho de 2013

Cozinhar ao lume na Mouta Redonda sem medo de estragar o verniz!

No meu julgar olhando para mim, para o meu padrão de vida mundana nos dias d'hoje, o fato de se nascer Mulher -, é ter a capacidade de se mostrar versátil em todas as situações que se lhe apresentem, conjugadas com bom senso, nunca abdicando de o ser prática, racional, perspicaz, dinâmica, e amiga de fazer e de ofertar sem olhar a quem. 
No meu juízo assim a entendo numa postura camaleónica! 
Citando um pensamento que não sei de quem será ...uma Mulher com "M" grande -, deve apresentar-se na rua como uma senhora, em casa zeladora da economia doméstica, no campo exímia na execução de afazeres rurais -, que saiba mexer no lume e na terra sem pensar em estragar as unhas, e claro na cama uma amante fervorosa, privilegiando o diálogo com o companheiro, sendo sensual e demoníaca - , deixar de vez de ser amante passiva -, a fazer jus ao calão popular, uma fera irresistível! 
Qualquer mulher inteligente, é sensível , criativa, imaginativa, eficaz e romântica -, sem delongas, consegue transformar-se numa panóplia de facetas diferentes num mesmo dia -, beleza maior -, as que reúnem essa conjugação -, seja do uso e abuso da sua sensualidade, sabedoria , e eficácia no trabalho rematam a oiro o cúmulo de êxitos na ambição da felicidade, ganhadoras do desafio que é saber viver bem esta Vida com mente saudável! 
Considero ser uma simples aspirante, apesar dos meus 56 anos... 
Adoro sair da minha zona de conforto e partir à aventura, apesar de medos e inseguranças, desafiar-me é um ato avassalador! 
Outra vez, mais uma vez fui até há província. Deixei a SCUT no cruzamento da barragem do Castelo de Bode , seguindo pela estrada nacional parei no mercado de Tomar que está fechado ( o espaço é central, interessante para nele apostarem numa superfície como o Lidler em paralelo com o mercado como se vê noutras terras a funcionar com êxito. No estacionamento montaram uma tenda para os fregueses se aviarem como eu gosto.O Nabão graças ao afluente do Agroal seguia no seu leito de lençol abundante.No céu azul olhei ao longe o património do Convento de Cristo. Os lagares do rei D. Dinis ainda não estão reestruturados (?), tal como o antigo Colégio masculino Nuno Álvares Pereira que o meu pai frequentou considerado até ao 25 de abril o melhor colégio do País. 
Comprei sardinha a 7€...boa de Peniche, bom pão caseiro, cerejas de Ferreira do Zêzere, tomate, pepino, pimento, cebola nova, alface e batatinhas novas dum produtor de Alvaiázere. 
A senhora de cabelos grisalhos com o marido e a filha pouco mais nova do que eu dizia-me-, quando tenho uma freguesa como a senhora que não chateia até atendo com simpatia, ajudo a escolher o que mais fresco tenho e ainda lhe faço desconto.Sou pouco insegura, no mercado sei sempre escolher porque conheço os produtos da terra - , aprendi a plantar, regar, e colher em tempos de antanho que continuo a privilegiar, sem pudor, antes feliz por entrar num quintal, sentir a horta com canteiros em jeito de jardins. 
Cheguei à casa rural, mudei de fato num ápice, logo abri a arca de pinho que outrora guardou milho e agora guarda lenha para acender o lume sem medo de estragar o verniz! 
A panela preta de alumínio com as batatinhas cozidas, a cafeteira do café que foi a minha primeira quando casei...sou muito poupadinha e as sardinhas a assar. 
Na mesa os pratos, copos e chávenas em pirex -, os primeiros comprados em Badajoz em 75 na euforia do após 25 de abril quando o escudo valia o dobro da peseta. 
Sardinhas servidas numa travessa da Lusitânia, as batatinhas numa bacia em cerâmica do artesanato do Redondo, a salada numa bacia da OAL, o vinho numa jarra de vidro oferta de casamento há 35 anos, o açucareiro chinês, o cálice canelado da Marinha Grande e aguardente do nosso lavrado aromatizada com medronhos que apanhámos, no almoço se finou, tal a pomada licorosa amarelinha que se transformou! 
Lavada a loiça no terraço em alguidares, à antiga  por falta de ligação para o lava loiças que caricatamente até tenho... 
Cozinha que se prese tem sempre vinagre - logo 2 garrafões, nem que seja para acalmar as dores em água fria com sal 
E um mosqueiro, porque dantes não havia frigorífico e aqui também não. 
O fogareiro a petróleo já não deve funcionar... 
Aqui só há panelas pretas, barros e loiça com mazelas...mas tudo lavadinho, aboquinado com lixívia! 
Tenho 5 cozinhas....Esta a pobre, feita numa antiga pocilga, em chão de cimento, telha vâ, sem água canalizada, tenho de ir à torneira do terraço.O inverno deixou a cal das paredes em mau estado. 
O espólio desta cozinha é o mais velho e usado que tenho . Aqui só se cozinha ao lume. Por isso a graça e o fetiche que esta cozinha exerce em mim. 
Nas noites de verão no terraço à luz de velas é maravilhoso jantar...
O meu marido é muito lento...ainda a por o chapéu que fica sempre pendurado no cabide, já eu tinha o almoço a caminho da mesa...
Zelador, a meu pedido a tratar dos paus que sustentam o salgueiro,e a podar o limoeiro, que o S. João já tido passado, já das roseiras tive de ser eu...o mesmo a fazer borralheiras!

Agilizar o terreno para se fazer uma calçada com bom tempo, porque o muro na extrema foi feito por nós

O quintal florido de malmequeres...quem vai cortar esta erva? 
Roubada foi a máquina no ano passado. 
O pior são os assaltos para venderem ao desbarato.Uma morte lhes desse...A quem rouba o mesmo aos recetores!
A rega dos vasos suspensos sujou-me a cara e o sobrolho -, nem por isso me tirou brilho... 
Sempre feliz apesar de muito trabalho árduo 
As minhas sardinheiras aguentam a agrura da seca, esperam e desesperam que chegue para me encantar com elas floridas. 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Casais nas serras Alqueidão e Ameixieira em Ansião, tradições e suas gentes


Lugares com casario implantado pelos flancos montesinos por entre pedras, calhaus em laje alva, salpicado de veredas verdes, ao longo do contraforte das serras do Alqueidão e da Ameixieira -, serpenteados nas abas e costados, por ali e além semeados: Sousas, Braz, Viegas, e vereda das Manguinhas. Paraíso construído pela mão do homem com a ajuda das suas mulheres, resguardado de ventos, ares amenos de cheiros a vegetação mediterrânica, onde a alvorada e o entardecer se transforma em cenário idílico para sonhar e viver!
Outro Lugar, assim igual de clima -, só nos Escampados! 
Por aqui viveu muita boa gente, e ainda vive, de cariz religioso -, um dos mais devotos do concelho de Ansião. Do chão calcário ajeitaram montes e montinhos em pirâmide de cascalho a que chamavam “maroços” na vez de dizerem morouços (monte de pedras) para conseguir tirar parco sustento de sequeiro à porta de casa. De regadio tinham as courelas das hortas férteis na margem do Nabão e no Salgueiro ainda a sobressair na paisagem com belos balanços de pé, e noras com alcatruzes. 
Ainda persiste algum casario com balcão, traça antiga em pedra, muito comum no Maciço de Sicó: frontaria com escada, telheiro, varandim e por baixo currais com cobertura a telha mourisca. O progresso está a mudar a paisagem -, que não fere o olhar, de veredas verdes, e muita pedra -, hoje o contraforte dos Casais avista-se no baixio a espraiar-se pelo Salgueiro visto da melhor vista no Escampado da Costa com muita casa grande de cariz minimalista. 
No meu tempo os caminhos eram muito maus, pedregosos, esburacados, íngremes, sempre a subir ladeados por muros de pedra seca -, coitado do “Zé “carteiro” quantos anos a caminho do Correio, beatas a caminho da missa da manhã, cachopos da escola, rapazes e raparigas do turno da CUF, homens de enxada às costas para andar ao dia fora, pedreiros como o Ti Henrique, e …outros vinham de boleia na carroça puxada pelo burro.
Havia o alambique do barbeiro Fernando Calado onde se fez muita aguardente de medronho; ameixa; maçã; figo e claro de uva. 
Lembrar  do Casal S. Brás algumas das suas gentes... 
O Ti ” Zé Pirão”, a mulher Marquitas, e os filhos. Gente muito boa, obsequiadora, sincera, e amiga de ajudar: Fernando (o meu compadre, Carlos foi meu colega de profissão já degustei uma sardinhada em sua casa, Arlindo meu colega no Externato, Alfredo, e o Henrique.

O Ti “João do Sol Posto” e o seu rancho de filhos onde destaco a Genoveva (nome dado pelo pai em alusão ao folhetim no jornal Amigo do Povo em que a protagonista tinha o mesmo nome -, foi minha colega de escola; Amélia, João, Fátima, Adelaide, Manuela, Zé Emídio, Alfredo e Arlinda.

O “ Ti Dias Lavado “ (um dia o Carlos do “Ti Zé Pirão” foi a casa dele dar-lhe um recado e chama – o por “ Ti Lavado” (alcunha que trouxe do Escampado de S. Miguel de onde era natural) …vem a mulher deste, diz-lhe “ não é lavado nem sujo, é Dias “ -, pais do meu bom amigo Dr. Manuel Dias e irmãos Judite, Maria Anália, António Alberto, Maria Otília, Ana Maria, Maria da Luz e João Paulo.

O Ti Zé Carteiro e os filhos: Rosa, Manuel, Carlos, Alberto e Vítor.

O Ti Godinho e os filhos de olhos azuis bem bonitos: Júlio, Toino e Zé Carlos.

O Ti Tomé e as belas e sedutoras filhas: Leonor, Fátima, Alice e Isabel. 

O Ti Calado e dos filhos: Humberto, Fátima e Irene. 

O Ti Murtinho os filhos: Aurora e Zé Manel. 

O Ti António Bicho e os filhos: Luísa minha colega de escola, Armindo, Isaurinda, Olívia e Lucinda. 

O Ti “Zé Mau” e os filhos: Valentina muito bonita, Idalina, Isabel, e Mário. 

O Ti ” Rato” e os filhos: Almira, Saul, Carlos, Albertino, Manuel, Júlio e Henrique que Deus chamou a si tão cedo. 

Os “Pessegueiros do Casal das Sousas e os 4 filhos: Aires,Henrique, Deolinda e,... 

O Ti Henrique pedreiro, mulher Maria Isaura e os filhos:Alfredo e Capitolina.

Mais gente humilde e séria destes Lugares que conheci estabelecidos na vila: a papelaria da D. Arminda, a taberna do Ti Alfredito a mercearia do Ti Daniel.
Colegas de escola Alice, Lucília , Fátima Tomé , Luísa, Genoveva, como chumbei dois anos na foto da 4ª classe só está a Fátima Tomé, a Lucília e a Alice
Colegas do Externato
Lucília alta de mãos frias,  na foto à esquerda ao meu lado
Também foram colegas  o Arlindo , Adriano e o Silvestre

Outros ; Luís Miguel, Armindo, Graça e Fátima; Luís, Isaurinda, Armindo, Laurinda, Luz e João Alfredo; Arménio, Filomena, Luís Miguel, Armindo, Graça e Fátima e, …

Casal das Sousas: Hélder, Filomena e Célia; Mário Cassiano; Isaura, Helena, Afonso e Antero Costa de lânguidos olhares azuis. 

Casal Viegas… Fernando Ladeira. Adelino e, … 

Alqueidão: Sérgio, Rogério, Amândio e Celso Nunes e, … 

Desculpem de quem me esqueci! 

A Capela do S. Bráz continua todos os anos a ser engalanada com um grande arco enfeitado a papel de seda colorido como manda a tradição. 
Amigos de fazer arraial no adro da Capela do S Brás onde se juntam em convívio de encontro e reencontro de gente que daqui partiu na procura de melhor vida, onde não falta o bailarico, comes e bebes e fartura de conversa. 
Em miúda fui a convite de colegas da escola à festa do S. Bras. Passei às Almitas no entroncamento do Casal das Sousas com o Casal S. Bras, falei com a mãe do Helder e da Filomena para aportar ao cimo da ladeira na casa do Ti Tomé, a convite da Alice , lembro-me da escadaria em pedra onde estavam as outras belas irmãs - nem sei se não serão as mulheres mais bonitas dos Casais .Saímos na direção da casa do Zé Murtinho do outro lado do caminho onde conheci um irmão deficiente, que nunca antes tinha visto, nem sabia que existiam -, perturbação que havia de se instalar na minha cabeça anos e anos ao lembrar o tanto azar deste rapaz e de outros que depois me apercebi no tempo acorrerem com maior frequência...
Caminho acima encontrámos a Lucília, alta de mãos frias, num ápice estávamos no adro da Capela onde havia mais gente que conhecia - Silvestre, Genoveva, Fernando Ladeira, João Bicho e... 
Todos me fizeram sentir em casa! 
Falar da Couve-galega... e o seu tributo no sustento em tempos de antanho por terras de Ansião 
Couves galegas iguais a tantas outras que sempre vi pelos quintais de Ansião -, sendo muito maiores, de semente a mesma. 
O sustento das famílias todo o ano na nossa terra - só posta em segundo plano pelos nabos que devem ser semeados na poeira de agosto, também das couves asa de cântaro e tronchudas devem sentir o mesmo luar. Na boa gastronomia ansianense a couve-galega deve ser servida: 
Sopa de caldo verde 
Aferventado onde se acrescenta o que de melhor calhar no verão: feijão de debulhar ou chícharos verdes -, no inverno feijão-frade, feijão “da velha” ou chícharos demolhados, a que se acrescenta rodelas de batata ou de nabo. 
Esparregado ou migas com broa frita na frigideira. 
Saudades hoje, tal como ontem da falta do cheirinho do aferventado que saia da panela de ferro na beira do lume. 
Recordo sobretudo aos domingos de inverno quando chegava a casa depois da missa,mal entrava ao portão sentia o cheiro do entrecosto a grelhar, junto ao lume o fertungado acabadinho de fazer -, iguaria que teimo em continuar a fazer ainda hoje. Ao tempo de miúda era feito ao lume em tacho de barro com o fundo alagado em azeite a estalar dentes de alho e folhas de louro a que se juntava a sobra do aferventado de véspera chamado "escoado" (couve ou nabos migados com migas de broa ensopadas no caldo) com a colher de pau tudo no tacho envolvido, mexido em meia desfeita, até ficar no ponto a ser servido de paladar a alho e a louro irresistível. 
Couves galegas de porte imponente e folhas grandes -, quantas mais se apanham do talo, mais crescem -, verdes, frescas, viçosas, de talhe fácil com a mão no quintal da minha mãe ou agora da minha Dina e do Samuel em plena Lisboa -, sendo a semente do Casal, plantada pelo meu compadre um homem casaleiro -, o Fernando Moreira. 
Nos dias d'hoje no arraial da festa do S. Braz servem-se aos forasteiros couves-galegas migadas com chícharos como se comiam no tempo de antanho em muita casa no concelho.
Gosto desta tradição, de a manterem -, mudou o conduto que passou a ser porco assado no espeto como no tempo medieval -, em cachopa ouvia dizer que na bacia de faiança com o aferventado regado de azeite se punha em cima uma postita de bacalhau, uma sardinha para três, dentes d'alho ou azeitonas, o que houvesse de governo em casa. 
...e boca calada que a fome era negra, em muita casa só se comia couves com feijões e feijões com couves. Os cachopos gritavam com as mães 
Inh'ma mãe onde está a carne ou o peixe ? 
Respondia ela, no fundo da bacia... 
Pois estava...mas pintado! 
Fosse um galo , peixe ou pássaros...o que revela um poder criativo dos pintores de faiança num tempo de extrema pobreza! 
Quem se lembra desta loiça? Adoro! Estas peças são minhas. 

Interessante como se volta sempre a preceitos tão antigos! 
Vivam as gentes dos Casais -, no nosso tempo de cachopos os chamava-mos de Casaleiros-Bons amigos, gente de bom íntimo e coração!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Falar da minha mãe Ricardina Ferreira Afonso de Ansião

Foto do primeiro BI da minha mãe
Fotografia oferecida pela cortesia da  Dra Teresa Fernandes,  à minha mãe, e já o foi  há anos quando atingiu o limite de Arquivo na Conservatória. No seu dizer " a fotografia é tão bonita, achei que ia gostar de a ter na vez de a deitar para o lixo". Só gente de boa índole, como este ato simples desta mulher, nos pode deixar de orgulho a sua aposta e escolha , acreditando o mesmo a outras. Actualmente apresenta-se como independente na candidatura às próximas eleições pelo Partido Socialista por Ansião, como muito mérito.

A minha mãe com o cabelo cortado à tigela pelo barbeiro da Mata Serrada
Com a irmã Clotilde e outras duas amigas, em Pousaflores numa foto à la minut. 
Restauro da foto verdadeira  pelo meu primo Afonso Lucas

A minha mãe com as irmãs, a Clotilde, a Maria Augusta e a Rosária
15 de agosto em Pousaflores na festa de Nossa Senhora das Neves, finais dos anos 30
O seu casamento em Pousaflores em 10.02.1957
Com 40 anos

Ricardina a graça da minha mãe, no seu tempo de menina, moça, hoje com 81 anos em Lisboa

A minha mãe nasceu em tempos de menopausa, no dia de S. Pantanleão, a feira anual em Figueiró dos Vinhos,  com muito sol e passarinhos a chilrear no ribeiro da Nexebra, no Vale na Mouta Redonda. O seu pai tinha saído ao alvorar da madrugada para a feira e chegou pela noitinha com a carroça aflito, a correr para lhe dar a notícia o que viria a ser o  meu sogro Fernando Coimbra  e o chamava  -" Ti Zé Lucas, venha depressa ver a sua menina branquinha, muito bonita"...
Recebeu de nome a graça da sua madrinha das Ferrarias ,ao tempo paneira de profissão e nas feiras armava a banca de panos ao lado dos meus avós e do outro lado, a banca do ourives Sr. Diamantino Monteiro. Todos os anos recebia de presente da madrinha um corte para fazer um vestido. 
Que me desculpem os meus tios e tias que infelizmente já não estão entre nós. De todos os filhos, a mais bonita: loira, olhos verdes, graciosa, muito branquinha, até diziam..."tão linda, quem havia de dizer que é filha da Ti Luz..." por a minha avó ser muito trigueira e a ter tido numa idade acima dos 50 anos.  Menina sortuda viveu na "mão das bruxas" com fartura de mimo. O seu pai Zé Lucas, pela altura das festas gostava de presentear as filhas com um bom tecido para dele fazerem vestidos novos, as mais velhas na procura de noivo com ciumeira diziam -lhe " ela não precisa ter vestido novo, é ainda uma miúda" naquilo o pai respondia-lhes " é para todas iguais, são todas minhas filhas". Nesta época na aldeia não se compravam os vestidos. No caso elas espreitavam os figurinos que o pai lhes comprava em Coimbra para depois de escolhido o tecido na loja do pai ,  a minha mãe por ter nascido mais tarde teve a sorte da irmã Clotilde ser a modista da freguesia da casa, tinha como ajudantes as outras irmãs, Zaira e Titi nos acabamentos das bainhas, pospontos, pregar botões, rendas e,…
Esta máquina é minha

Nesses tempos de antanho o costume era da costureira vir a casa, trazia na cesta a cabeça de máquina, ficava os dias tantos os necessários até acabar a roupa. Interessante verificar que a moda "feita de quase nada" apesar dos bons tecidos correspondia ao mais elevado grau da imaginação e criatividade humanas . Lindos os vestidos, as blusas, saias, tudo a condizer com tanto requinte no vestir que a minha mãe sempre toda a vida privilegiou .Costura de alta confeção: da irmã Clotilde continuada pelas modistas de Ansião -"Celeste Marnifas" com curso tirado em Coimbra; Lucinda do Fundo da Rua; "Lurdes Cardosa"; "Albertina do António da Olinda"; Júlia Caseira; Rosa Maneira;D. Ivone ainda apesar da farta idade e, …O que prova não é necessário muito para fazer um estilo atraente, ao mesmo tempo apelativo no campo económico a contrastar nas modas que vão aparecendo e felizmente desaparecendo, onde impera o mau gosto de mão dada com a excentricidade e o excesso. Diz gente deste tempo ido "A moda é como um cesto quando fica cheio, vira-se e começa tudo de novo". Concordo com esta citação, claro que há adaptações mas a essência mantém-se.
A Chanel dizia qualquer coisa com o mesmo sentido "La mode se démode, le style jamais"… 
A minha mãe andou com "a casa às costas"… assim passou todo o tempo de estudos a bem dizer com a camita de ferro e o colchão...
Em jeito de aparte em casa da minha avó havia vários colchões feitos de estopa grossa cheios de folhelho de milho, a carapela ou palha de centeio que dava aquele ar de fofura enganosa quando se olhava para uma cama feita de fresco. Quando me deitava na casa da minha avó Maria da Luz a Mouta Redonda , onde a minha mãe nasceu, sentia a frescura áspera e seca dos lençóis de linho fiado em casa, uma sensação fantástica que hoje em dia desapareceu, mas de que ainda restam resquícios em quem teve algo a ver com a vida do campo de outrora como eu, mas aquilo que antes prometia ser tudo fofo tornava-se rapidamente numa cova onde se penetrava e de onde se saía com o corpo ligeiramente moído, ainda que retemperado. A arte seja ela de fazer vestidos, seja de encher colchões, ou fiar lençóis de linho faz mais sentido quando concorre para acordar em nós ideias e lembranças que, doutra forma, ficariam para sempre sepultadas sob o peso dos anos, a poeira da memória e os afazeres do dia-a-dia. Menina criada com mimo, nada no tempo lhe faltou, viveu anos de fartura na casa, excessiva atenção, presentes e, …
Junto da vedação da escola primária que frequentou na primeira classe no Pereiro de Cima que hoje se encontra à venda

A minha mãe continuou os estudos por Albarrol onde a sua irmã Zaira ali foi  Regente escolar, onde a  minha mãe viu um jeito de penico, no púcaro da medida de litro…Viviam numa casita perto do Ti Reboleira onde no inverno passavam os serões, ainda recebiam a visita do irmão Alberto Lucas. Confidenciou-me gratas recordações destas gentes amigas de dar. 
Concluiu o exame da 3ª classe na escola do Casal Novo, hoje S. João de Brito.
Andou a reboque da irmã Zaira, com quem diz aprendeu muito) pelas escolas: Vale Senhor em Maças de D. Maria, Carapinhal, Moninhos Fundeiros, terminando na escola de Maças de D. Maria com 10 alunas com a Prof. Maria José Sousa Pinto.

Fez o exame da 4ª classe em Alvaiázere com o Prof. Castelão a quem o meu avô pediu intercessão e atenção - Oh Sr. Castelão veja lá a minha filha, vai fazer exame, é muito fraquita… queria ele dizer franzina, e não trouxa de raciocínio, fatalmente o que o Professor entendeu, que seria fraca aluna, e lhe responde tá bem Sr. Zé Lucas, o que eu puder fazer, esteja descansado... Aprovada ficou no exame. Passados 15 dias o meu avô foi agradecer ao Prof. Castelão-, ao que este lhe responde - olhe lá oh Sr. Zé Lucas, por amor de Deus a sua filha não é aquela pequenita russita de olhos verdes parecida consigo?  Responde o meu avô : Sim é essa mesmo, pequenita, russita ...
- Diz o Professor Castelão  -não tem nada que me agradecer, a sua filha fez uma prova admirável, eu é que agradeço ter tido o privilégio de conhecer uma aluna brilhante como ela, até lhe digo ela deve continuar os estudosDeu continuidade aos estudos pela mão do seu primo direito Zé Lucas, por terras de Santiago da Guarda, Lagoas, e Ansião no Externato que sempre se chamou colégio . O meu avô Zé Lucas faleceu tinha a minha mãe apenas 18 anos. Com o 5º ano concorreu aos Correios onde foi admitida. Os meus pais frequentaram ao mesmo tempo o Externato em Ansião. O meu pai era um homem muito alto e bonito, namoradas não lhe faltavam, não lhe concedeu deferência, até ao dia que se cansou do namoro com a minha homónima Isabel Coimbra do Avelar-, na altura a minha mãe, foi o correio sem selo, na troca das cartas dos namorados. Viria a enamorar-se dela quando a contemplava da vidraça do Café do Calado na diagonal com a janela do Correio velho onde já trabalhava. 
Foto tirada nos Olhos d'água em Ansião

De humor fanfarrão,  lembro-me dele contar vaidoso  que  uma prima de Ansião ter cumprido promessa a Fátima para ele a namorar…verdade ou mentira (?) era de facto muito alto, a minha mãe muito baixa logo foram rotulados "estilo e perfeição"; "sorte grande e aproximação" ; " homem de pernas a granel" a minha avô Maria da Luz chamava-lhe " Pernas aranhão de mina"...na alusão aos aranhões de pernas longas que viviam e conhecia na mina da horta de S. João, coitada que sabia ela de cultura? Desconhecia que as desenvolviam por viverem em ambiente escuro...coisa que a minha mãe, Titi e Zaira lhe poderiam em tempo explicado porque estudaram. Os pais devem ensinar os filhos e os filhos devem ensinar os pais. Esta ambivalência é salutar, se assim tivesse sido no passado muita gente analfabeta teria aprendido a escrever e ler se os filhos que andaram na escola tivessem esse empenho maior!
Os meus pais viveram tórrida paixão sem limites sendo ambos do signo Leão, quentes, fogosos, atrevidos e valentes, um namoro estonteante, casou grávida de mim aos 21 anos. Esteve sempre presente na minha vida. Presenteia-me amiúde. Sempre uma boa mãe e amiga como outra julgo não haverá.Mãe desta estirpe não devia jamais partir desta vida !
Recordações de dias felizes de três gerações! Costa de Caparica 
Almada na minha varanda
No adro da capela de Santo António

Mortágua

Na minha casa
No seu quintal

Castelo de Alpedrinha
Nos Olhos D'Água

Cascais

Três gerações







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