segunda-feira, 24 de junho de 2013

Viva o clima do S. João no Porto...Vamos vender tudo e mudar para o Porto...

Na cidade Invicta PORTO, nos Jardins do Palácio Cristal reparei no busto desterrado de Adelino Amaro da Costa onde me prendeu o olhar o pensamento de Péricles
"O segredo da felicidade está na liberdade".
"O segredo da liberdade está na coragem".
A liberdade é o direito de fazermos por nós, aquilo que for possível sem, no entanto, jamais prejudicar alguém... O meu estar imprevisível prostrada no chão, em pose de fazer sempre o que me dá na real gana, atos de gozo e nato prazer a rir mote da criança, que nunca há-de sair de mim...
O meu amigo Manuel Peneda, homem nascido no Porto, cicerone horas a fio na sua cidade , que conhece de olhos fechados. Dizia-me "marcaste um bom roteiro, mas esqueceste-te de dois pontos fulcrais: a casa da Música e a Livraria Lello."
Um excelente anfitrião na sua cidade. Manel és grande, um grande amigo. Enviei um breve e-mal a dizer que chegara bem...Haveria perto da uma da manhã me ligar, já dormitava a ferros  depois de ter acordado sobressaltada com o fogo de artificio de Almada que não sei o motivo só se fez sentir pelas 12,37...
 
A minha primeira vez de desembarque na Estação de comboios de S. Bento. Edificada no início do século XX no local onde existiu o Convento de S. Bento de Avé-Maria.
O átrio totalmente revestido a painéis de belos painéis de azulejos -, 20.000, do pintor Jorge Colaço (1864-1942).
Ilustram a história dos transportes,aspectos etnográficos e acontecimentos celebres da história portuguesa...
    Ruína altaneira com  o "Mundo em ferro forjado" serão resquícios do Convento?
O Douro e a travessia entre Vila Nova de Gaia e o Porto fazia-se pela Ponte Pênsil inaugurada em 1843 e desativada em 1887, ainda restam dois pilares em granito da ponte suspensa que se vêem na foto e ruína da casa do guarda militar .
    Entre 1881 e 1888 no mesmo local onde foi substituída pela obra magnífica em metal de dois tabuleiros a que deram o nome de Ponte D. Luís I .
    A Ponte D. Luís I foi obra do discípulo de Eifel o belga Théophile Seyrig.
    Muitos atribuem a obra a Gustavo Eifel ( talvez pela antiga rua dos Guinfais, que se estende ao longo do rio ter agora o seu nome) que foi o autor da Ponte ferroviária D. Maria.
    Corropio o vaivém de ida e vinda dos muitos passeios em barcos turísticos. Também já fiz o batismo no trajeto Ribeira/ Afurada e Régua /Barca d'Alba. Ainda quero fazer Porto/ Régua.
A caminho da feira da ladra
Vandoma ( nome da calçada na frente da Sé onde começou por se realizar) e há tempos transferida para os lados das Fontainhas antes vimos umas ruínas romanas que fizeram parte da escola que o Manel frequentou...numa espera sem data de serem revigoradas(?) teimei no registo desta foto, com dificuldade me sentei no muro...
Por todos os sítios há feirantes a vender de tudo...sem rey nem roque. Até ovos!
Nem a calçada que imortalizou o filme de Manoel Oliveira -, Aniqui Bobó escapa à fúria dos vendedores de ocasião!
De volta da Vandoma e das Fontainhas antes da Batalha o Manel mostrou-me o edifício onde começou o ginásio do Clube do Porto, julgo tinham a modalidade de canoagem -, ainda de bandeira hasteada.

Teatro S. João em obras de requalificação nas fachadas.
No tempo que o Dr Santana Lopes foi ministro da Cultura o mandou pintar de amarelo ( a cor da fome)...prédio lindíssimo em pedra até um "burro" percebe que jamais haveria de ser pintado... o Sr continua a ter poleiro em cargos de administração, e com isso já levou um dos filhos e,... assim caminha o nosso País a dar poleiro a filhos, enteados e afilhados -, por nossa culpa!
O edifício sofreu várias remodelações desde que foi construído em finais do século XVIII , sendo o último projeto do teatro do arquiteto Marques da Silva que introduziu novos aspetos da aquitetura portuense -, como o cimento natural no revestimento exterior.
A UNESCO atribuiu ao Centro do PORTO a condição de Património Cultural da Humanidade.
Acabou de ser agraciado pela 2ª vez com a menção " um dos 10 melhores destinos europeus."
A zona histórica está toda ela a renascer com obras de requalificação, limpeza de fachadas, calcetamentos de ruas, belos jardins, vasto património de inigualável valor, seja a catedral e a Bolsa em estilo neoclássico e a Igreja de Santa Clara, construída ao estilo manuelino .
Não vi "graffitts" nem lixo, muito menos maus cheiros... odores a urinóis como os sinto na calçada na zona do Cais do Sodré, Santa Apolónia e ...por quase toda a Lisboa.
Até o Porto Canal mostra conteúdos de cariz interessante, cultural, didáctico e divertido do que quaisquer estações pública ou privadas nos possa presentear ...para pensar!

Funicular dos Guindais  
Muralha Fernandina assim chamada por ter sido terminada em 1376 no reinado de D. Fernando.

Alvitrei ao Manel que no dia de S. João debaixo do arco da ponte ia ser rodado o vídeo clip da nova canção "Toma conta de mim" de Pedro Abrunhosa, diz-me ele - esse Abrunhosa é um lascivo quando canta parece que está a ejacular...Pode até parecer!
Certo e sabido o prazer de o ouvir a sua voz entra em mim, acredito em muitas outras mulheres de grande sensibilidade e romantismo, tem o dom de nos transportar e elevar em sonhos, e divagações loucas neste querer mayor de  viver  ardentmente!
Pedro Abrunhosa - Genuíno homem signo fogo, com pronúncia do norte, belo de corpo, e atrevido andar, voz semi rouca, sedutor nato, e lábios carnudos para beijar.
    Um turista ao ver-me tirar a mim própria uma foto logo me tirou esta...
O carro fez-me lembrar o do Prof Albino Simões de Ansião no meu tempo de escola primária na alegria que sentia quando de manhã não o via...
Almoço na esplanada oferecido pelo meu bom amigo Manuel Peneda...dizia ele para a dona que servia nas mesas "então o vinho do Porto branco que disse nos oferecia, traga dois para os meus amigos já que eu não posso beber..."
Por ter vivido na Suíça onde foi casado, na hora da comida dizia para o filho  

"J'ai bien mangé; J'ai bien bu; Jái la peau du ventre bien tendu. Merci petit Jesus" 
Traduzindo -, comi bem, bebi bem. Tenho a pele da barriga bem estendida. Obrigado pequeno Jesus.
Descubram na Ribeira a feitoria do Pestana Hotel.

Refastelados deixamos Gaia a caminho da Ribeira vendo o desfile do teleférico...e dos imensos turistas.
Beirais em faiança, supostamente da fábrica de Gaia, Santo António do Vale da Piedade(?).

Na minha foto o altar não está florido, sendo S. João...estranhei!

Baixo relevo executado em 1897 obra de Teixeira Lopes (pai) representa a tragédia da Ponte das Barcas ocorrida em 1809. Aquando do cerco da cidade pelas tropas francesas do Marechal Soult.

Muita gente tentou a fuga pela ponte -, sendo de barcas, com o peso não resistiu, nela pereceram milhares de almas em aflição para se salvar...
Nasceu o mito “Salve-se quem puder!”

Local de devoção na Ribeira
Numa destas bancas o meu bom amigo Manel Peneda comprou-me um martelo azul e branco.
Antigos armazéns de cargas e descargas de vinho , faiança e,...ganharam nova vida com bons restaurantes e tabernas como o D.Tonho que foi do Rui Veloso e o Peter famoso café açoriano ,a taberna do Bebe Ovos e...
 
Este tipo caraterístico da Ribeira onde a lata e a ardósia se encaixa com azulejos e granito foi escolha para um calendário Suíço. A Praça da Ribeira ficou no tempo com o nome do antigo mercado medieval. No século XVIII foi aberta a Rua de S. João no antigo leito do  rio da Villa para ligação à parte alta .
Na Ribeira prédios antigos recuperados e transformados em Hotel Pestana -, o pormenor da ligação entre si na ruela.

Casa do Infante D. Henrique -, monumental granítico onde se diz nasceu em 1394 .
Praça do Infante D. Henrique
Na esquerda o Palácio da Bolsa instalado no antigo Convento de S. Francisco, com o seu riquíssimo salão árabe inspirado no Palácio de Alhambra, e esculturas de Soares dos Reis e Teixeira Lopes.
Igreja Conventual de S. Francisco construida no século XIV de estilo gótico e reminiscências do estilo românico. Rico interior em talha dourada , o retábulo do altar de Nossa Senhora da Conceição em madeira polícroma representado a Árvore de Jessé assim como a capela de S. João Batista.
Mercado Ferreira Borges construído em 1885 para substituir o antigo da Ribeira.O mercado homenageia José Ferreira Borges, um jurisconsulto e político portuense que esteve na génese da implantação do regime liberal em Portugal.
Em Ansião , a minha terra adotiva, também há um jurisconsulto de nome Pascoal José de Melo -, que eu saiba só teve direito a nome de rua em Lisboa e na terra natal...quiçá por ter assinado a sentença de morte dos Távoras, fazendo a vontade ao amigo Marquês de Pombal...
O Manel queria levar-nos a lanchar num Tasco perto dos Lóis numa esquina para uma ruela a descer-, no seu farto dizer " servem os melhores cachorros do país". Chegámos-, estava fechado. No dizer do Manel "ganha fama , põe - te a dormir...".
Na Av. dos Aliados numa esplanada bebemos um fino e pastelinhos de bacalhau acabadinhos de fritar...o empregado duma elegância em simpatia tal como os pastelinhos.
Decorria uma manifestação contra a não realização da Feira do Livro onde vi um antigo presidente da edilidade que parece de novo se vai candidatar, também lá vi o Miguel Cadilhe filho -, sem manias de estirpe. Gostei. O Manel ainda se levantou para ver se via a Agustina Bessa Luís...debalde não a viu....
Reparem no Infante D. Henrique no alto do pedestal vestido de guerreiro junto de um globo terrestre de braço esticado para o mar -, simbolicamente apontando o caminho para os descobridores portugueses...
Ironicamente o meu amigo Manuel Peneda sorriu "ele queria dizer não vão por aí que eu não vos vou lá buscar"...na justa falta de nunca ter sido marinheiro, antes aos dias d'hoje sim, um cientista.

As fachadas de azulejos relevados estão a ser limpas. São de fato tão bons que até tive dificuldade em perceber que são os antigos -,em Lisboa por não terem tanta qualidade tem optado por reproduzir o desenho...mas nota-se e muito.
Marquises revestidas a laminas de ardósia a imitar escamas convivem elegantemente com ferro forjado.
Um brasão decepado...
Fachada da igreja da Santa Casa da Misericórdia sofreu várias remodelações.

O património religioso de longe o favoritismo em relação à capital. Tal riqueza de talha dourada só igual em S. Roque em Lisboa. Junto do Palácio da Bolsa a Igreja do Convento de S. Francisco.
Na foto abaixo as cúpulas da Sé construída no século XXII. 
Numa das torres há um baixo relevo com caravela do séc. XIV 
Símbolo da vocação marítima da cidade
    Livraria Lello
    Apinhada de gente que entra, sobe e desce a escadaria emblemática...Os degraus em cerise...românticos
    Os tetos imitam madeira e são em gesso...
    Antigo Mercado Lisboa numa faceta moderna ...
     A fazer lembrar o CCB com o parque de oliveiras 
    A Torre dos Clérigos em pano de fundo muito elegante
    Um espaço moderno muito bem enquadrado com a história do local.
    Na descoberta da Quinta da Macieirinha e do passeio do romântico..
    O Manel e o meu marido na frente onde ainda há muitos vestígios da muralha Fernandina -, o ambiente faz lembrar SINTRA, pelos muros de pedra altos e pelo verdejante, camélias e fresquidão.


    O Museu e os jardins ocupam uma zona romântica e bucólica dentro de muralhas antigas  resquícios da muralha da cidade, com vista privilegiada sobre o Douro.Casa burguesa do século XIX da família Pinto Basto que estava vazia. Todo o recheio foi sendo adquirido de outras casas abastadas do Porto. A escadaria para o 1º andar com pintura a escanhola, vulgarmente chamamos de marmoreado. Capela, quarto de crianças, dos senhores da casa, salões.
    Ex-libris - , o quarto onde  viveu exilado durante 2 meses o rei  de Piemonte e da Sardenha -, Carlos Alberto que aqui faleceu em  28.07.1849.
    O seu corpo foi após dois meses   trasladado para Turim .



Painel com o brasão do rei sem trono Carlos Alberto
As vistas da Macieirinha sobre Massarelos, o rio e Gaia são lindíssimas 


Os alhos porros junto da Boavista e na Feira da Vandoma. 
Na tradição afastam o mau olhado.




     
    Praça da Boavista 
    Assim já era conhecida  na década de oitocentos, mas na história  quis perpetuar o nome do grande militar Mouzinho de Albuquerque governador de Moçambique -, na gíria o povo  chama rotunda da Boavista. O mais interessante apreciar  é o  Obelisco comemorativo da guerra Peninsular -, comemorando os bravos, os corajosos heróis destas batalhas travadas entre os exércitos adversários. Curiosamente é encimada pelo leão a esmagar a águia -,  na nítida alegoria  do símbolo dos países; Inglaterra e França -, quando os 1ºs expulsaram os invasores franceses de Portugal, sendo o leão símbolo dos ingleses sem medos esmagaram tenazmente os franceses !

    A Casa da Música onde vi desfiles de tunas vestidos a rigor com os instrumentos às costas
    Por todo o lado Armazéns onde sempre houve de tudo para o lar e vestir.
    Ao tempo a minha mãe gastou fortunas nos Armazéns do Norte e Marques Soares, este ainda resiste.Em 60 já tinham catálogo.Vi outros:Cunhas, Castelo e,...
    Casa da Vista Alegre com peças da Fábrica Bordalo Pinheiro -,foto que registei pela meia noite enquanto o meu marido estava na fila do multibanco.
    Perto de Santa Catarina apreciei o términos deste prédio engalanado com um rocambolesco pagode em ferro forjado , resquícios da escola do grande Gustavo Eiffel e dos seus discípulos.
    Na Cova da Piedade há uma muito semelhante, maior, que servia de nora hoje enquadrado num recinto na escola secundária.
    Adorei o comércio tradicional de mercearias à antiga. Bolos deliciosos estampados nas vitrinas.
    Fiquei sem bateria em frente do Café carismático Magestic...um ícone do Porto!
    Deixo um quadro com uma pintura do Porto que apreciei no Museu Soares dos Reis - faz lembrar o oriente com a cúpula de proteção. Agora o caricato -,accionei o vídeo...sem o saber ...Sorte levei 2 máquinas, rapidamente fui fazer a troca , parti rumo ao Castelo do Queijo na mira de ir sonhar com o por do sol. A praia numa extensão de 140 metros, é dominada por afloramentos rochosos. Deve o seu nome ao facto de estar localizada junto ao Forte de São Francisco Xavier -, antiga fortificação defensiva construída no século XV, mais conhecido por Castelo do Queijo por ter sido edificado num local onde havia uma enorme pedra de forma arredondada, semelhante a um queijo.
    Passava um jovem a passear o cão ofereceu-se para nos tirar a foto.
    O tempo por aqui apresentava-se enublado e com frio...cheguei na hora da final do Circuito renovado da Boavista. Gostei de ver que a Kasa da Praia de janelas altas sempre abertas em remodelação - segundo o segurança foi um mosteiro...
     
    Inadvertidamente liguei o dispositivo de vídeo...sem o saber, na tentativa de fotografar os bólides antigos que corriam a grande velocidade.
    Mais tarde o meu marido viu sem ver, desligou um botão para voltarmos a ter máquina...
    Atravessamos o Parque da Cidade e ainda ouvimos o hino alemão.
    Grande era o aparato de tendas para acolher o certame -, imensamente grande a perder de vista.
    Na espera do autocarro que foi de uma hora...viemos com dois amantes da modalidade de Cascais -, um francamente muito simpático já o outro um "saloio rico" hospedados em Matosinhos foram jantar na Ribeira, tal cmo nós.
      O Porto até nas corridas é grande -, senti estar a ver o Rali do Mónaco na televisão na década dos finais de 60/70...o circuito em Lisboa fica no Estoril ,e de Estoril não tem nada...apenas a vista da serra de Sintra que também sendo bela nada se compara com as vistas do Castelo do Queijo ao pôr do sol com a brisa do Atlântico a bater de mansinho nos cabelos como que a desfolhá-los pedindo umas mãos doces para os acariciar...
      Chique o casario de vivendas na maioria de luxo, pena senti do antigo Clube da Foz challet de cariz romântico votado ao abandono...já vistosa se mostra vaidosa a frente ribeirinha de Matosinhos de prédios fantásticos com belas fachadas , e finalmente o Parque da cidade que se abre a nascente com um par de colunatas ao estilo do império romano -, não há nada neste País que se iguale -, sequer chegue, aos calcanhares do PORTO!

        O Parque da cidade ao estilo francês com a introdução de falsas ruínas já introduzidas na cidade no jardim do Palácio Cristal no início da década de 70, com portas abertas -, foto que quis perpetuar com os meus bons amigos Manel Peneda e esposa Celeste -, gente de bom coração, humana e muito simpática, teimaram vir de propósito após o cozido de ontem para estar connosco, sem se condoerem de fazer 80 km, estando no gozo de fim de semana prolongado na quinta de vinhedos da irmã do Manel -, ontem aniversariante, a quem daqui desejo Parabéns!

        Deleitada sobre um muro de granito no Parque da Cidade do Porto sob bordadura de rosinhas de Portugal em cerise, iguais às minhas da casa rural...
        O PÔR DO SOL...

        Mesmo ao vir embora o sol não quis partir sem se mostrar belo para nós...
        Fiquei de novo sem máquina...a foto seguinte foi no telemóvel onde se vislumbram as nuvens a dissipar imitando fumo a deambular...tal como a minha alegria em estar no Porto!
        Carpia para o mar como se fosse um VULCÃO EM ERUPÇÃO!

        Taberna do Bebe Ovos com alvará de 18.. assim chamada por servir copos d' ovos com vinho do Porto aos homens que desciam o Douro na manobra dos Rabelos carregados de pipas de vinho generoso . Mal chegados à Ribeira revigoravam forças bebendo esta bebida forte ( gemada) no meu tempo a bebia com café de cevada.
        Deliciamos uma francesinha especial...notório o cansaço das cozinheiras já passava das 10 H -,esqueceram-se dos ovos estrelados...só faltaram as velas num ambiente romântico com vista sobre o Douro e Gaia.Atendimento 5*!
        No varandim registei esta belíssima foto com as luzes a bater no rio.
        Difícil atinar com a escolha do arraial: Fontainhas, Miragaia, Massarelos, e tantos havia em cada FREGUESIA no Porto.
        Caricatamente não vi nenhuma cascata de S.João...vi sim gente muito alegre, gente de festa e vendedores de tudo!
        Deambulamos por ruas apinhadas de gente -, grande a faixa etária jovem .Muito bailarico. Também dei o meu pezinho de dança ali antes dos Clérigos, havia carrinhos de choque, farturas e,...
        Entramos num espaço onde havia música africana ao vivo. Tomamos uma bebida forte - vodca!
        Eletrocutada  com o charme do dançarino que do corpo lhe saia -, e bem a destilar, vomitava farta fantasia no jogo sedutor, ora frenético ora calmo o andarilho de passos  eróticos ... ARREPIEI!
        O meu marido azamboado com o álcool a quem  aticei por não saber dançar lança-me o repto na grande praça  da Cadeia apinhada de gente...eu sei dançar, nisto começou a dar à anca, de mansinho e ligeiro dançou morna tal qual o tal dançarino negro...fiquei de boca aberta, porque eu não sei!
        Na rua paralela à minha hospedaria havia um palco da Yorn onde atuou a Ana Malhoa...interroguei-me como é possível haver gente que gosta de gritaria, pulos, andar de trás paar a frente e para os lados em parceria com mulheres que se mostram para cativar público fingindo que bailam para eles...eu se fosse homem, e sou fogosa -, acredito não teria nenhum clímax!
        Quanto não vale um homem cantador com pronúncia do norte ao sabor de Best Of... Abrunhosa, Rui Reininho, Rui Veloso ou o vocalista dos Táxi João grande(?)

        Oratório na frontaria do Convento das Carmelitas. Além da imagem de Nossa Senhora do Carmo com os escapulários apreciei as lindas jarras de altar em faiança de olarias de Gaia ou Miragaia. Os azulejos são lindíssimos com vasos de flores.
         Havia à mesma hora missa nesta igreja e na do lado...
        Hospital Santo António - edifício emblemático , sóbrio, muito bonito, ao estilo do panteon romano-, interroguei-me, onde é que em Lisboa temos um hospital com tal envergadura arquitectar?
        Palácio dos Carrancas onde funciona o Museu Soares dos Reis

        A espada  do D. Afonso Henriques esteve durante muitos anos exposta numa vitrine do Museu Soares dos Reis, tendo passado depois para o Museu Militar no Porto.
         Estátua de de D. Afonso Henriques em Guimarães é obra de Soares dos Reis

         

         http://sorumbatico.blogspot.pt/2007/02/espada-de-d-afonso-henriques-cont.html
        [Imagem e informações: «Homens, Espadas e Tomates», de Rainer Daehnhardt, pág. 194 e seguintes]


        O meu amigo Manel tinha-me deixado um repto na véspera " não te esqueças de ver a espada do D. Afonso Henriques...como a conseguiria elevar...deve pesar uns 10 kg..."                                   
          Faiança de Fervença

                                          Faiança de Darque Viana Castelo
          Travei conversa com um funcionário a quem disse que à 1ª impressão e quase sem dúvidas a coleção apresentada de faiança é maior que a do MUSEU DE ARTE ANTIGA,com a vantagem de se apresentar catalogada por vitrinas...diz-ele "sabe a senhora conservadora adora faiança e depois em Lisboa só há uma coisa boa que fica na 2ª circular"...

        Fabrica do Vale de Santo António da Piedade
        Facilmente se atribuiria o seu fabrico a Fervença -, e é Fábrica BANDEIRA

        MIRAGAIA

        Coimbra
        Faiança de AVEIRO
        Par de aros em oiro encontrados em Santo Tirso - da idade do ferro 600 anos AC
        Exposição temporária  ENTRE MARGENS 
        Se pudesse ter escolhido um quadro  trazia este de Amadeu Sousa Cardoso intitulado Amarante.
        Havia um quadro com o Tejo e a ponte 25 de abril a unir as duas margens que catapultou o meu marido para o tempo que foi feita na década de 60, andava ele na Escola Industrial de Almada -, o Prof de desenho mandou-os ir para um local à sua escolha e pintar comoviam a ponte que estava ainda incompleta. O desenho dele mereceu honras de menção no placar, depois nunca mais lhe pôs a vista em cima...dizia ele para a linda zeladora desta exposição - um dia destes volto a vê-lo numa exposição como esta...acredito,  ele desenha muito bem.



        Peças compradas na feira que deu o mote à exposição temporária FEIRA DA LADRA,  de um colecionador. Muito interessante.  No caso  só registei este painel  com material cirúrgico com os fórceps que ajudaram muita criança a nascer. Tentem descobrir onde estão!
        Comprei o livro de Faiança da Fábrica Miragaia, ficou pela metade por ter aproveitado a borla com os bilhetes de entrada!
        Paço Episcopal defronte do Palácio Cristal


        O calor tomou conta de mim de chapéu à turista e pérolas ao pescoço e nas orelhas... 
        Confesso teimei viver, não sei se o consegui -, tal o grau de exigência que me pauto, quiçá tive momentos a quem chamam "Lua de Mel" -, fiz o que quis, andei por onde me apeteceu, comi o que quis, tirei as fotos que me deu na real gana, dancei, fui a um bar, comi numa taberna, e...teimei em deleites, fosse ao deitar e no acordar... 
        Vivências sem um reparo, uma voz alta, avisos ou arrufos...será que é suficiente? 
        Lamento dizer a mim mesma que por mais que ria, fale e me divirta -, o vazio dentro de mim é perene, quem sabe pela busca exaustiva de algo impossível...quiçá influências do verde que me recordam jade... [Palcio-Cristal.55.jpg]

          Foto do antigo Palácio Cristal.
          Na envolvente do parque há jardins temáticos: Plantas Aromáticas, Plantas Medicinais, o jardim dos Sentimentos, o jardim das Rosas, o Bosque... onde curiosamente vi muita gente a desfrutar das sombras sentados ou deitados na relva apanhando sol, o dia era de imenso e abrasador calor.
          Fontes, estátuas, um lago e vários edifícios: Biblioteca Municipal Almeida Garrett, a Galeria do Palácio, a Concha Acústica, a Quinta Tait, a capela Carlos Alberto, assim como um bar-café e zona para crianças.
          O edifício mais impressionante é o próprio Palácio de Cristal, que dá nome ao parque, muito pela sua atual forma semicircular e cúpula verde. Foi construído para a Exposição Internacional de 1865. Em 1934 decorreu aqui a Exposição Colonial.
            [Exposi%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520Colonial.4%255B5%255D.jpg]
             http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/09/palacio-de-cristal-portuense.html

            Hoje em dia é utilizado para a celebração de eventos e concertos.
            Intenso foi o orgasmo inteletual sentido no Porto...aliás, quis juntar outros colossais, a fazer jus à dureza do granito que impera na cidade -, também pela simpatia das suas gentes em saber receber, e no querer ajudar e ao carinho e atenção do meu grande e bom amigo Manuel Peneda.
            Amazing!


            Pavão - Palácio de Cristal(Porto)

            Remato sem mais palavras, porque na verdade por mais que escrevesse sinto ter dificuldade em passar a mensagem do que realmente senti e vivi.
            Estive na minha vida várias vezes no Porto. Em vária companhia. Percorri os mesmos lugares. Senti emoções fortes.Relembrei a 1ª vez em 62 quando introduziram os "martelinhos" à festa , haveria de voltar e voltar, outras vezes...
            Citando a conversa do meu marido ao telemóvel para a nossa filha
            " vamos vender tudo e mudar para o Porto"
            Resposta dela - Também adoro o Porto, podem vender tudo só não vendam a Moita Redonda!
            Porta aberta nos jardins do Palácio Cristal sobre Gaia 
            Convento da Senhora d'a Hora no Monte da Virgem.
            Bem haja ao meu anfitrião e bom amigo Manuel Peneda extensivo à sua linda esposa Celeste que em abono da verdade o libertou para mim, sem ciumeira e sempre cuidadosa a ligar, o que revela ser uma grande senhora -, vai ser avó por estes dias, fruto do seu filho André que no largo dos Lóios remodelou um prédio na traça antiga muito interessante. O jovem empresário, não contaria com a morosidade das obras por nele terem descoberto vestígios arqueológicos que inevitavelmente lhe haveria de arruinar o negócio - aspetos que deveriam ser reanalisados pelas entidades competentes , ressarcindo os lesados do grande prejuízo.
            Situações destas deveriam ter urgência em ser revistas!
            Vi pouca mendicidade, o Manel diz que há muita, como em todas as cidades.
            Um homem novo sentado parecia frágil...levantava-se para pedir -, duas pessoas não lhe conferiram atenção -, vinha eu na subida da rua em paralelo com o Hospital Santo António. Abordei-o se precisava de alguma coisa. Dirigiu-se a mim educadamente -, " sou diabético, cego de uma vista" -, fato que constatei, " estou desempregado preciso ir à Foz ao restaurante do Miguel que me ofereceu trabalho a lavar pratos, que não me importo de fazer apesar de saber decantar, servir e trinchar" ... ainda disse " não me importo, quero é trabalhar para não perder a casa". Pedia-me..." com vergonha peço 2,40€ para carregar o andante, se não puderem dar fico grato na mesma". O meu marido deu-lhe 1€ eu dei o resto...
            No dia seguinte no Largo do Carmo vinha uma mulher escanzelada de carnes a pedir em súplica aflitiva dinheiro para comprar leite para o filho...o pedido toco-me, mas também não posso ajudar tudo e todos...disse-lhe para ir à santa Casa ou a uma paróquia. Já tinha cumprido o meu papel de ajuda ao próximo na véspera..senti que abalou de lágrimas caídas -, e isso confesso, deixou-me triste, porque devia ter ajudado! Na verdade paga o justo pelo pecador -, há mais de 30 anos em frente do Banco de Portugal um pedinte sentado na calçada a imitar Parkinson fazia-se à pedincha... quando sentia na mão algum dinheiro parava de se mexer -, quietinho o dividia pelos bolsos de dentro do casaco...eu, claro o via da vidraça do 1º andar do Sottomayor na Rua do Ouro em Lisboa...
            O Porto é por demais belo e romântico do que Lisboa ...
            NÃO FALTAM COUVES GALEGAS PARA O CALDO VERDE!
             O Porto é fascinante. Incrível pouquíssimos, quase nenhuns negros -, e todos de Cabo Verde, na tardinha de domingo ao passar na Alfandega um deles alto, a cambalear de bêbado, aborda-me carinhosamente em francês... As gentes do Porto ainda são genuínas, com pouca gente de fora -, digo com franqueza -, amei, porque as misturas atrapalham-me, deixam-me insegura.
             Sonho com a Sorte Grande no querer mayor de adquirir este solar e reabilitá-lo!
            Amo em êxtase a dinâmica do Porto e as suas gentes -,sempre disponíveis para ajudar com sorriso estatelado na face!
             
            Quando tirei esta foto com o pé no "cavalinho" nos jardins do Palácio Cristal no Porto senti que anos antes fizera o mesmo, mas sem registo...na mesma vontade desenfreada de saltar no cavalo...

            sexta-feira, 21 de junho de 2013

            Pedro Abrunhosa Toma Conta de Mim, ilumina com a tua música o meu príncipe para me espreitar...

            TOMA CONTA DE MIM...QUE EU TOMO CONTA DE TI...Uma grande homenagem ao País e aos afetos das massas, no seu coletivo. Mais uma brilhante letra e música na voz  do magnânimo Pedro Abrunhosa!
            Sentida na pele de todos aqueles em tantas idades...
            Gente forçada a partir todos os dias deste País empobrecido e de ganhos, nada!
            Na mala levam saudade na esperança do mundo novo, desconhecido!
            Longe dos que amam , do sol , dos sabores e de tudo o que aprenderam 
            Imbuídos de força mayor no trabalho para viver condignamente
            A pensar voltar um dia (?) emanam fé no querer conquistar ganhos e vitória!
            Também de todos aqueles que cá dentro se sentem longe de alguém querendo estar perto! 

            Poesia otimista -, no dizer do dito popular "para a frente é que é Lisboa! "...
            Adoro em paralelo o Porto a Lisboa. Amanhã logo de manhãzinha ai vou eu a caminho do S. João visitar a feira da ladra da Vandoma, os Museus: Maceirinha e Soares dos Reis, olhar de novo o Douro, interagir com as suas gentes, olhar cada recanto que já foi meu e teu, de muitos, desta feita sem ti, amálgama dor!
            Pedro Abrunhosa homem com poesia dentro de si. Adoro o seu power em palco, o stlyle, suspiros, vibratos, rouquidão doce; ora romântica ora brava, que lhe brota da voz com pronúncia do norte.
            A sua poesia e as músicas entranham em mim conforto imensurável como de outro artista não há igual!
            Fenomenal e surpreendente cantor e autor -, o MAYOR e do Porto!
            Por incompatibilidade de horário CP no domingo, apesar do convite, não vou com grande pena participar no vídeo clip de apresentação desta belíssima canção do PEDRO ABRUNHOSA que vai decorrer no tabuleiro de baixo da Ponte D. Luís e terraço do lado de Vila Nova de Gaia.
            Na véspera do S. João quando caminhava na Ponte Dom Luís com o meu anfitrião Manuel Peneda e lhe confidenciei-, solta esta frase escabrosa " esse Abrunhosa é um lascivo, quando canta parece que está a ejacular..." Não me calei e respondi, pode até parecer.E é bom. Há falta de homens doces, quentes a esbanjar romantismo nas mulheres, na cumplicidade do belo em saborear as delícias do prazer!
            Grato prazer sentido seja a diáspora em laivos e sulcos doces a poesia na amálgama paixão sensível e fogosa que delata em mim, no mesmo acredito em muitas, o seu cantar a fé em comandar o sonho de viver emoções fortes nesta vida. 
            Pedro Abrunhosa - Genuíno homem signo fogo!
            Nato sedutor, belo de corpo e atrevido andar
            Sabor a norte, com voz no sussurro de mansinho
            Boca de lábios carnudos, apetite é beijar
            Cariz garboso, inteleto de poeta apaixonado
            Sensual no jeito de ser, brasa a escaldar!
            Mirabolante sonho com partida iminente em amanhã de nevoeiro na ambição sentir um beijo louco no Porto, no rescaldo da areia quente ao pôr do sol no Castelo do Queijo a saltar nos penedos graníticos e clareiras em festejo iluminado a cores quentes do pôr do sol bem regado a champanhe, no lamento -, só por ser efémero!
             LETRA
            A tempestade há-de passar,
            ninguém se esconde
            E há quem queira voltar,
            venham sereias
            venham lobos-do-mar
            A tempestade há-de passar
            Pela manhã
            As portas têm que se abrir,
            ninguém se esquece
            Não há quem queira fugir,
            voltam cansado
            mas a pé hão-de-vir
            Pela manhã
            as porta têm que se abrir
            E há-de haver quem nos queira salvar
            Somos destino
            Donos deste lugar
            Não é o fim!
            E uns gritam
            e outros dizem
            'Toma conta de mim'
            Estamos longe do fim
            estamos longe do fundo
            só quero um segundo
            Toma conta de mim
            Por este lado,
            ainda há p'ra beber,
            há quem espere
            a vida inteira a correr,
            venham os loucos
            e poucos se hão-de vender
            por este lado
            ainda há p'ra beber
            Trazem histórias
            de um sítio melhor
            carregam feridos
            que se hão-de compor,
            voltam inteiros
            e por vezes maior
            trazem histórias
            de um sítio melhor.
            E há-de haver quem nos queira salvar,
            somos destino,
            donos deste lugar
            Não é o fim!
            E uns gritam,
            e outros dizem
            'Toma conta de mim"
            Estamos longe do fim,
            estamos longe do fundo,
            só quero um segundo,
            Toma conta de mim
            Venha quem queira ficar
            e há ainda tanta p'ra dar,
            ninguém rouba este chão
            e há lugar p'ra mais,
            para os que vêm de longe,
            e ficam de pé,
            ninguém desiste,
            que agora é que é!
            E uns gritam,
            e outros dizem
            'Toma conta de mim"
            Estamos longe do fim,
            estamos longe do fundo,
            só quero um segundo,
            Toma conta de mim

            quinta-feira, 20 de junho de 2013

            Quintais do Bairro de Santo António e as suas gentes


            Permitam-me que privilegie a casa dos meus pais edificada em 57 num talho de herança recebida do meu avô paterno "Zé do Bairro” aqui nascido com mais dois irmãos -, Maria e António. Todo o quarteirão do seu nome original assim reza na escritura pública.
            Nome que quis perpetuar num painel de azulejos aplicado na vivenda da minha mãe, património de família.
            Quintais do Bairro 
            Nasceram ao adro da capela e se estendia até ao terreiro que chamam de Largo do Bairro. Cresceu e floresceu na confluência da estrada real, fácil foi acrescentar o nome do orago do Santo António da capela, patrono dos viandantes, edificada em 1647 sobre ligeiro promontório e adro farto que foi acampamento de comitivas.
            No meu tempo todos os caminhos que davam para o Largo eram lamacentos com a chuva variavam desde os tons branco, amarelo, arroxeado e lilás na estrada real, na barreira da Cerca pertença da Santa Casa da Misericórdia, em frente ao Ti “Parolo” onde havia a prensa, mais abaixo no gaveto da Cerca, com o caminho na direção ao Ribeiro da Vide já era avermelhado . Supostamente da abundância de tanta variedade de barro, derivou o nome Bairro (?), com o seu Largo em saibro onde a norte floresceu de forma circular um aglomerado de casario concentrado.
            Adorava aqui fazer um Espaço Museológico!
            Tanta hora perdida a mirar cada pedra, na esperança de encontrar um tesoiro…Encontrei restos de uma almotolia de azeite, ainda hoje se vendem em barro verde, igualmente verde restos de um rebordo de alguidar grosso…
            Poço de chafurdo
            Poço de formato adulterado, era no meu tempo de criança em formato ovalado a fazer lembrar um caixão (?) nunca antes vira nada igual por Ansião, com escadaria em pedra. Nele se brincava em câmaras pretas de grandes pneus que as camionetas "Serras de Ansião" abandonavam ao largo do Ribeiro da Vide, que era atado ao meio em jeito de um oito fazia de barco, que se remava com as vassouras de piaçaba...
            Mais tarde a falar com a D. Maria José Nogueira disse-me que era uma mina de água. Outro assim do género com escada e com túnel havia onde hoje é o Intermaché numa fazenda do Artur Paz, onde descia em miúdo no verão...
            O que resta dos barracões que foram cavalariças e outras funções no tempo que o poder politico esteve aqui sediado na Cabeça do Bairro.
            Resistente também no quintal da minha mãe uma oliveira milenar de tronco muito largo, havia também uma frondosa nogueira que teve de ser cortada porque ninguém a queria varejar, com medo de a subir pelos seus altos ramos.
            Perdeu-se a velha amendoeira da tia Maria do tronco gemia uma pasta pegajosa, eu e a minha irmã fazíamos cola derretendo-a ao lume, no outro extremo do quintal havia uma ameixeira Rainha Cláudia, pêssegos de roer amarelos, nêsperas azedas, figos pardos, a de pingo mel foi cortada, o resto morreu… 
            A taberna do Ti António Moreira 
            O poiso de encontro dos homens aos domingos de tarde. O Ti Moreira sendo do Casal aqui se estabeleceu numa casa de caras para os quintais do Bairro, alcunha ficou o filho de -,“Cara” radicado há décadas no Brasil… 
            Ainda me lembro dele e da mulher Ti Maria -, velhotes, as vezes que a casa deles acorri de garrafa na mão comprar vinho ou buscar salsa, entrava pelo corredor dentro só parava junto ao poço onde nunca a pobre mulher a deixava acabar.Na taberna junto à janela havia o “Burro” para se jogar, e duas mesas, o balcão era corrido, no terreiro do largo da encruzilhada dos caminhos e do quelho do Vale Mosteiro os homens jogavam o chinquilho, quantas vezes vi a malha a derrubar os pinos ao pé da velha mimosa na quina da Cerca...
            Capela de Santo António
            Festa do Santo António nos tempos de antanho…
            Em junho nos treze dias antes da festa pedia-se o terço -, chamada trezena, depois do jantar na capela que enchia, vinha gente da vila, do Cimo da Rua, Carvalhal, Ribeiro da Vide e do Bairro. A Mena do “Marnifas” que morava na casa da cadeia atrasava o relógio à mãe e vinha brincar no escorrega da escadaria antes do terço, tal como eu rompia as cuecas, aos buraquinhos!
            O pedido do terço foi durante anos feito pela Ti São, do Cimo da Rua -, senhora velhota, por fim já sem forças, e por eu ter frequentado um colégio religioso foi-me conferido o estatuto de pessoa credenciada nas doutrinas de cariz religioso, nesse pressuposto fui convidada a substitui-la pela minha tia Maria que me obsequiou com um conjunto de atoalhados, e no ano seguinte com uma linda camisa de dormir.
            Recordo-me do prazer que senti por ter assumido tão grande responsabilidade. 
            Adorava ouvir a minha voz, sonante, clara, a pedir o terço naquela capela apinhada, num silêncio cheio de gente. Ah, os cachopos incluindo eu todos a puxar o pingarelho do sino, para chamar o povo. Adorava no final a cançoneta ao Santo -, de nada me lembro, só sei que era imponente, enchia-me de prazer, nem sei cantar, mas dava-lhe o tom… Honra, que aceitei e jamais esqueci! 
            Na véspera da festa no adro faziam-se os preparativos, flores e bandeirolas cortadas em papel de todas as cores. Mulheres estendiam cordel pelo recinto do adro e escadaria, os cachopos colavam-nas com cola feita de farinha e vinagre. 
            Os homens montavam os arcos, grandes em pinho, pesados eram postos no ar depois de abertos os buracos fundos. 
            Os rapazes à nossa beira -, graçolas, o que nos fartávamos de rir, tal a paródia de tanta galhofa a brincar já a pensar em namoriscar. 
            As mulheres lavavam a capela, enfeitavam o altar. As moçoilas entretinham-se a fazer tapetes de malmequeres amarelos nas escadas limpas e raspadas pelos cachopos. Um rancho deles ia buscar lenha para a fogueira na burra de serviço, a que estivesse de folga, ou da tia Maria, a “Gerica” ou o burro da Ti Virgínia -, atracados de mãos nos fueiros caminho fora à procura de lenha, carroça atulhada mal arrumada a fugir por entre os varais era montada a fogueira no adro ao lado da tasca dos comes e bebes, ajeitava-se a música para o bailarico, acendiam-se as luzes, finalmente o arraial estava pronto para começar a festa. Predileção sentia por a minha casa ser logo ao sair do adro e, logo entrar nela, inveja tinham todos -, eu e a minha irmã umas felizardas. À volta da fogueira reunia-se uma mão cheia de gente nova que comia petingas assadas e chouriça regadas com vinho e cervejas, todos ali passávamos a noite dentro a deitar conversa fora, onde havia tempo para encantamentos e deslumbramentos. Tudo era pecado naquele tempo, tudo era proibido, ia para casa desgastada com a sensação de não ter gozado quase nada, e havia tanto para gozar. Tudo por causa dos costumes na época serem tão apertados para os jovens… Rapazes bonitos, o Fernando do Pinhal, o Zé Emídio Moreira, o Toino “Tarouca”, o Alberto e o Nito da Carmita e, …Tantos... Fora os que se chegavam aqui vindos de outras bandas, não me lembro mais o nome deles. Em 75 eu e a minha irmã estreamos fatos iguais, calças brancas e camisas com cavalos-marinhos brancos em fundo azul. Tanto atazanamos a nossa mãe para nos comprar a vestimenta quando trabalhava na altura em Ourém defronte do pronto-a-vestir. O dinheiro era contado, vivíamos tempos difíceis, o que nós a moemos, suplicámos, e manipulámos nas tarefas domésticas -, arreliada deu-nos o dinheiro, abalámos na véspera de carro, andava a minha irmã a tirar a carta de condução, tudo correu bem, de regresso a casa, felizes com a roupa nova desiludida fiquei, as minhas calças estavam largas, num ápice fui a casa da minha amiga Lala, aprendiz de costura que as apertou. Levantei-me cedo para me aperaltar, usei as pinturas da minha mãe na maquilhagem, ao passar junto da porta da sacristia a prima do meu pai, a São, olhou para mim e disse-me ” oh cachopa estás muito bonita com os olhos pintados”. Adorava sentir os meus cabelos pretos longos soltos ao vento, davam-me tanta segurança, um brilho reluzente a que alguns chamavam “asa de corvo”. Confiante, vaidosa, e fresca, dirigia-me à igreja matriz buscar os paramentos de empréstimo para a missa e procissão. A capela enchia-se de gente que transbordava para a rua, a filarmónica Santa Cecília abrilhantava com instrumentos cintilantes ao sol em contraste com a farda azul e os rasgados sons, as janelas enchiam-se de colchas brancas, e de seda para a procissão passar, era o começo da festa, abria a quermesse, em frente dava-se de caras com o pregoeiro que ajeitava o poleiro para se fazer ouvir no frete de licitar as oferendas dadas ao Santo -, as fogaças.Havia jogos tradicionais a decorrer pelo adro, a Irmandade refastelava-se a comer caldo verde, feijoada, carne assada, torresmos e couratos, tudo regado com bom vinho a sair dos pipos, e de volta atestados, em flecha.O som do altifalante da música convidava a bailarico pela tardinha, apareciam sempre os desocupados, embriagados, tristes, solitários e claro bons rapazes, bonitões, atrevidotes, malandrecos de outras paragens também. Atenta, muito se desconfiava naquele tempo de tudo e de todos, de ficar "falada", infelizmente, não tinha já pai, o recato para mim senti-o redobrado. Queria tanto conversar, adorava rir-me, fazer festa!
            A raiz do plátano junto da escadaria hoje quase subterrado, fazia as nossas delícias nas brincadeiras "do cavalinho"...
            Gentes do Bairro …
            Uns mais velhos, mais novos, outros da mesma idade, preciso falar nos seus nomes: São e Chico Borges, eram recatados-, o pai Ti Raul Borges, era exigente demais com eles, não os deixou viver a mocidade e fez mal no meu ver." Tina Pregueira" atrevida e folgazona, rapariga de festa e a sua linda filha Natalie tão cedo Deus a levou desta vida; filhas do Roberto e da Robertina, humildes e simpáticas, moravam na casa do cedro na quinta do Dr Faria, mas a proximidade do cemitério incutia medo à ti Robertina, decidiram fazer uma casita num pardieiro onde antes tinha sido o galinheiro da avó Olímpia… Pobrezinhas, até mudarem para melhor vida para Tomar; Zeca, Leonor, Fernanda e a Dália. 
            Deolinda, Artur, Carlos Alberto e Fernando Silva ”da Alice Pego” -, meninos inocentes, simples de aspeto amedrontado e doce, participavam nas brincadeiras e tropelias que encetávamos, fosse no roubo de fruta, andar de bicicleta, ou em rancho a caminho do Escampado Belchior a cada ano apanhar alecrim para os Ramos -, coisa de paixão pela aragem e clima ameno, a Deolinda aí construiu a sua casa tal e qual os seus vizinhos, o Alberto e o João, irmãos da Dália que quase vi nascer empoleirada que estive na janela, irmã também do Fernando e da Célia Silva, filhos ”da Augusta do Chico” tímidos, meigos, de olhar doce, o Alberto, que sempre me pareceu ser de todos o mais endiabrado, irrequieto,e com menos graça, se revelou ser um homem trabalhador,casou, tem uma bela casa com uma linda vida, com filhos, se mostra aos dias d'hoje muito simpático e bonito, de tal maneira que me arrependo de no passado assim ter pensado dele, as impressões iludem, lá diz o ditado. As brincadeiras com eles finavam-se pelo Largo do Bairro.
            Toino e Mena Marques “da Carolina do Trinta” uma amizade sem fim, ao portão a linda e cheirosa trepadeira, de belos cachos lilazes, a glícinia, que seria do tempo da estalagem eram miúdos alegres,danados para a brincadeira, cúmplices, a minha irmã destemida e rebelde ditava ordens e obedeciam; Zé Manel (Nécas) e o irmão Fernando Cunha, mais novos, tímidos, alinhavam nalgumas brincadeiras com as primas, sobretudo a Isabel Neves que vivia em Pombal; 
            Elvira, era muito bonita e alta, foi minha colega de estudos em Pombal, recatada, dava ares de superioridade; 
            Cristina e Zé Manel a viver em Lisboa de férias, na casa dos avós Ti Ermelinha e Ti Néco, brincavam no Largo até ao escurecer;
            Adriano Valente o “Mocho” rapaz tímido de voz forte, torcido nas tropelias no caminho da escola...
            Natércia, Augusta, Lucília, Fátima e António Murtinho, participavam em muitas brincadeiras, um dia a Ti Mavilde disse à Lucília “quando a água do arroz ferver põe-lhe 2 ou 3 bagos de arroz” bem-mandada, obedeceu. Chega a mãe abre o testo do tacho, pergunta -lhe onde estava o arroz? Desculpa-se a pobre da Lucília que puxa raízes da mãe do tempo das invasões francesas -, linda, a mais bela de todas as irmãs, longos cabelos loiros e corpo escultural…”a mãe disse para por 2 ou 3 bagos…” valeu ou não o reparo, começou a fazê-lo farto, e com isso perdeu as formas…tão jeitoso que era! Outra vez a irmã Augusta, também bonita com um bom par de pernas,foi minha colega de turma, chamada ao quadro no Externato sentiu uma forte dor e caiu. Operada em Coimbra à apendicite, a visitei em casa no quarto da frente, de aviso ficámos a saber que a dor aperta do lado direito, não posso deixar de falar da mais velha a Natércia, ajudou a criar todos os irmãos, morena, a puxar raízes mouras do pai, tem um ar doce, meiga, muito trabalhadora, boa amiga de ontem e de hoje.O irmão, o Tonito, hoje médico, já não brinquei, no dia que nasceu, passei pela mãe que estava de avental de plástico castanho, a lavar roupa à fonte do Ribeiro da Vide.
            Abílio, Fernanda, Alberto, Nito, Zé Carlos, Isabel filhos “da Carmita” cada um diferente do outro seja nas atitudes, ou no trato, infelizmente o Abílio e o Alberto não estão mais entre nós, e sinto falta - a Fernanda e o Nito de quem ainda hoje mais convivo e gosto, a Isabel emigrada na Suíça com o irmão Zé Carlos “ garoto de língua afiada, maldizente,um demónio de rebeldia” endiabrado ...(nota curiosa, durante anos comi os chocolates que trazia para a mãe Carmita, e que esta dava à minha, sua comadre...
            Tonito Freitas “da São” primo, amigo de casa de todos os dias, de todas as horas, como se fosse irmão; Margarida a prima filha da Tina a viver em Lisboa, passou tempos na casa da avó Maria, um anjinho doce, pequenita.
            João Carlos e a Isabel Silva de Tomar viviam na casa alugada da São, passavam os dias na nossa casa até ao dia que desapareceu por "arte do diabo" uma livra de ouro, que a minha mãe tinha deixado em cima do armário vermelho da cozinha.
            Ribeiro da Vide 
            Abel e a irmã Gabi Nogueira, com ela frequentei estudos por Pombal, quando lhe mostrei a foto do meu namorado Luís “entre dentes estrebuchou -, eh um homem…” 
            Fernando, Carlos e Ana, filhos da Maria e do Abílio “Mudo” recatados, muito mais novos.
            Jorge, e o irmão, filhos da Lúcia “Parolo” e do Alberto. Nas férias, tantas brincadeiras com eles; Olga e Dora filhos da Tina do “Parolo” e do Fernando Luís.
            Elisabete, e irmãos, filhos do Carlitos “Parolo” e da Helena.
            Filhas do Sr. Milheiro e, …a caminho do Alto ...Tó Zé Murtinho, Pedro(?) e a irmã Dina, o meu pai dizia ter sugerido o nome ao seu pai Manuel por assim o chamar à minha mãe, na altura original, veio a ser também o nome da minha filha, meninos encantadores, fora de portas do nosso arraial, encontro e conversa nos bailaricos na loja de sua casa e nos preparativos das flores para os carros alegóricos e, … Quelha da Atafona: Isabel Bandeira; Isaura Gomes ou Miguel -, a “Reala” de olhos verdes, lindos, sempre disposta à galhofa pelo Carnaval, bailaricos, e festas; Lala minha grande amiga aprendeu costura com a D. Lucinda no Fundo da Rua por minha indicação, graciosa, delicada e o irmão Jorge Rebelo mais novo também, regressados de África no 25 de abril; Tina, olhar doce, melancólico, sorriso maroto, fiel companheira nos bailaricos com a mãe Ti Florinda a fazer “pau-de-cabeleira “e,
            Gente casadoira… No meu tempo de cachopa: Lúcia e Tina e Carlos “Parolo”, Carlos, Fátima e Elisa “Pego”, São, Chico, Tina e Júlia Silva, expedita, rapariga de festa, os rapazes bem andavam de volta dela e não quis nenhum, Toino “Peleiro” e,...Nenhum deles tinha pejo de os cachopos se juntarem a eles, fosse pelo terreiro do hospital, adro da capela ou Ribeiro da Vide… A maioria casadoira participava nas festas, no Carnaval alegravam as tardes de domingo nos bailaricos e no jogo da cantarinha na Quaresma, os seus filhos da geração seguinte, não cheguei, a brincar...
            As casadas, mulheres de festa: Carolina do “Trinta” -, festa era com ela, a São "Mocha" e a Carmita também, embora mais recatadas.

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