quarta-feira, 31 de julho de 2013

A minha visita à Quinta da Torre da Ladeia no Alvorge no concelho de Ansião

Na companhia da minha querida mãe em dia de rota ao Rabaçal para comprar queijo. 
De regresso antes do Ramal do Alvorge, vontade de rever a ruína do Solar dos Carneiros Figueiredos .
O novo traçado da estrada Ansião/ Rabaçal roteada  inicio do XX cortou a  quinta pelo meio. O ribeiro que se forma no inverno na Fonte do Alvorge a poente foi canalizado debaixo da nova via, na parte de baixo resiste ainda a ruína do que foi o lagar da quinta.Sem saber se tiveram no mesmo ribeiro azenha(s), o sendo provável para a moenga.
A Ladeia
O Dr Salvador Dias Arnaut 
Bem se esforçou  para perceber os contornos da Ladeia, Ladera , quiça sem interpretação ao Tombo de Soure de 1508  e suas Comendas - Pombal, Redinha e Soure, com Tavarede e a marinha de sal e quinze canais. E a  Ladeia com a Comenda de Ega  a norte a Fonte Coberta ,Serra da Barca, Serra do Rabaçal, Mouta Santa de Cima,Granja, Vale de Todos, Aljazede, Chão de Ourique, Rabarrabos, Chainça, Alfafar  até Podentes, a sul Miranda, Caneve, Aldeia da Ameixieira e Pousafoles o Velho. A  poente Casmilho, Pombalinho, Ulmar, ainda Vagos,  Torres Novas, e Santarém. Por fim a Comenda de Dornes no rio Zêzere, a determinar Ansião e o palco da Ladeia, grande ISLADO entre Comendas. Acresce a problemática dos topónimos primitivos nos séculos desaparecidos,  substituídos em terras domínios das Ordens . As Comendas cobravam  impostos:“portagem”, “açougagem”,  “mordomado”, a renda do verde( quem danifica plantio de qulaquer espécie  , “conhecenças” dízimas pessoais, e ainda  a dízima do pão, vinho, azeite, linho, gado, lã, queijos, manteigas, mel e legumes. 

Aparece no Tombo um Pedro Figueiredo na Comenda de Ega a pagar 12 moios de cereal, 1352 alqueires de cereal e 2 alqueires de linhaça.
Indicia  futura descendência nesta quinta que hoje se pretende abordar.

Na década de 60 do séc. XX, no alto dos meus 9 anos fui à festa de agosto ao Alvorge na companhia dos meus pais. Apeados ao ramal do Alvorge, a pé a subir a ladeira com descanso num talvegue de pedra, onde o meu pai nos fala do solar. Onde nos levou  mais à frente por um atalho em descida ao vale onde saciámos a sede na fonte do Alvorge. Distinguimos para norte, em aparente ruína o solar. 
Foi o  primeiro conhecimento, a que se seguiu as muitas viagens para Coimbra na camioneta, certo e sabido ao passar na estrada recordava essa visita  a um passado esquecido que foi de fausto...

Caminho em terra batida foi percorrido a pé com a minha mãe
 O caminho limita com o ribeiro, entupido de ervas secas, porque só corre no inverno seguindo para a Mata,  onde toma o nome Ribeira da Mata, com forte leito de inverno, transborda e se faz em cheganças à Lagoa do Pito, na Lagarteira, Fonte Carvalho, Ribeira do Açor e Nabão, em Além da Ponte, Ansião.
Caminho para a Fonte do Alvorge que contorna a antiga  quinta da Ladeia 
Estava em reconstrução a pequena casita em pedra que sempre a conheci arruinada. 
A primeira ideia que se formou na minha cabeça - ali tinha sido a torre - fatal mote inspirador  ao seu formato quadrado... debalde, foi localizada  a sul do solar, mais tarde adoçada para a capela. 
Assim vista de longe, bem indiciava a possibilidade de ter sido uma torre...
Homens armados de brocas de ferro
Furavam o terreno árido para a colocação de postes de vedação 
                               
Outros operários colocavam  estruturas metálicas para  estufas 
Visão do sistema de irrigação na quinta da Ladeia
Avistei interessante sistema de rega com condutas,  canais  e aqueduto para encher  grandes tanques de pedra , ainda em estado impecável.
Arquitectura ancestral a ser preservada, retrata a realidade da falta de água de verão , em sistema de cisternas e tanques, trazida do passado, antes dos romanos e por estes reutilizada em terra cársica.                                  
                            

                       
Cancelas abertas ao longo da quinta
Na maioria ( apodreceram ) restam as portadas de pedra abertas...inspiradoras ao seu tempo áureo...
                        
                    
    Arquitectura de irrigação com técnica romana
    A água na força do inverno transborda da fonte, entra neste viaduto e segue o caminho em canal lajeado ao longo da quinta limitado pelo muro de pedra com o caminho para encher  os  tanques da quinta .
                                                                       



    Charneca de cima a poente
    O ano passado o terreno a norte da quinta foi remexido com maquinaria para plantio de novo olival.                                                                                                   
    Escada de ligação do cerrado do solar à várzea 




    Olival em socalcos, ou leirões, arroteados à custa de mãos pelos primeiros povoadores que se distinguem a norte da quinta e na parte baixa , a várzea em plano para cultivo de trigo e horta.

    Fonte do Alvorge
    A transcrição das Memórias Paroquiais de 1758 
    É acompanhada de uma nota em que Pedro de Azevedo diz ser "talvez difícil de provar" ( a fonte defendida pela torre, foi mudada em 1880, quando a câmara de Ansião a mandou reedificar um pouco mais acima do primitivo local) a origem romana daquele putativo forte que, com efeito, nada evidencia de referente à ocupação romana,todavia,há algumas analogias e factos históricos-arqueológicos que, devidamente ponderados, permitem supor, ou, até, provar ali a existência de estruturas romanas. Nos terrenos vizinhos, é notória a dispersão tegular. A pedra epigráfica imperial, sempre evocada para a pretendida origem romana, jamais foi encontrada em qualquer das muitas pesquisas lá efectuadas, e dela não se conhece a mínima transcrição.A ter existido, teria desaparecido aquando da reedificação da álcaçova, ou, ulteriormente? 
    Encontrei a fonte do Alvorge  numa lástima com a última requalificação, ao perder a sua traça  antiga, sem a  graça e função do que foi no passado, triste sina  de adulterar testemunhos históricos...por falta de conhecimento histórico e cultural.
    A terra em parte fértil pela água  que nasce na Fonte - antes tenha sido um poço  de chafurdo ou fonte de mergulho, tradicional no Maciço de Sicó, herança deixada pela proto-história, continuada pelos romanos, com suportes a escadaria de pedra para à medida que a cota de água desce no verão se poder aceder à água. 
    A torre fazia a defesa à maior riqueza a água!
    Cuja função era defesa e proteção da estrada e da fonte, porque a água em terras cársicas é rara no verão, por isso de grande valia, sem água, o povo morre .

    O caminho que passa na frente do solar foi um carreteiro da proto historia reutilizado pelos romanos, já a torre, a requalificação da atual ruína, se saberá acaso a escolha dos arqueologos de estirpe em identificar se é do período da proto historia ou romano. 
    Esta via romana tornou-se  medieval chamada estrada real e Caminho de Santiago de Compostela.
                           
    Junto da fonte distingui estas pedras que falam; duas em forma cilíndrica que me reportaram no imediato para colunas romanas e uma pedra aparelhada  que me pareceu um pedestal aqui posto na vertical. Entretanto à posterior desapareceram...
                                  
            
      Excertos retirados das Memórias Paroquiais pelo Padre João Currin de 1758 
      “ (...) Se há na terra, ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas águas tem alguma especial virtude? Há a fonte junto à quinta da Torre da Ladeia que corre perennemente, e com tanta copia de agoa que entrando pelo Pomar da mesma quinta e dahi para hums Lagares de Azeite que faz moer no Lugar chamado Azenha e de Verão não passão dahi as agoas; porem de Inverno ahi principia a Ribeira chamada de Azenha, que se passa na Estrada que vay p.ª Coimbra em duas partes, em huma por sima de pedras aonde antigamente estava huma ponte de cantaria; em outra parte se passa por huma ponte de cantaria já damnificada, e muito precisa de reparo, por estar na Estrada real de Lisboa, e passar por ella o Correio cada semana duas vezes. Chegando esta Ribeyra ao lugar de Alcalamouque perde o primeiro nome da Azenha, e se intitula Ribeyra de Alcalamouque. E no mesmo sitio entrão nella as agoas da fonte do mesmo Lugar, que nasce nas raízes de hum Monte chamado Marfallo em terras da mesma Universidadede que he Emphiteuta o Capitão Mor de Tomar João da Motta Garcia e Amorim, e serega com a mesma agoa, e no fundo do ditto Prazo estam humas Azenhas e hum Lagar de Azeite que tudo he do mesmo Prazo e sahindo delle, entrão para outra Azenha que he Prazo dos Religiosos Carmelitas Calçados da Cidade de Coimbra. E dahi regão varias fazendas, the chegarem a outra Azenha, que está no Lugar chamado Ribeyra de Alcalamouque que tambem he da Universidade e destas agoas se não paga foro algum; Mas paga se de todos estes engenhos certa quantia de dinheiro, que chamão con licença; e dahi regão as terras contíguas á mesma Ribeyra the a villa de Rabasal que são ferteis de trigo, milho, e Legumes. Daqui por diante poderão dar noticia os R.dos Parochos das freguezias por onde passa a ditta Ribeyra por lhe pertencer o conhecimento della. A agoa desta fonte bebem os moradores do Lugar do Alvorge,e outros lugares vezinhos; E quando he anno de seca se utilizão della Povos mais de legoa distantes, he grossa mas salutifera, a gente que dela bebem, não padece mordinariamente achaque algum habitual; mas sim são sadios e robustos, e entre elles ha velhos de mais de noventa annos. Eu assisti como Parocho ao recebimento de hum que tinha 84 annos, e casou com huma rapariga de vinte e três, ainda estam vivos, e ha oito annos que se receberão Tambem notas e q os que bebem desta agoa ordinariamente tem boa voz p.ª cantar”    
      Fitei o olhar nas infra estruturas metálicas da quinta e do grande poço para armazenamento de águas na parte de cima- quiçá um investimento supostamente subsidiado (?).
      Deixei a fonte com os olhos postos nas ruínas imponentes do solar...implantado em plena charneca.
                                                
        Vista de sul da Quinta da Ladeia
        Caminhante em estrada romana, medieval e por fim estrada real, na direção ao norte, cuja ligeira subida  permitiu contemplar as ruínas vestidas de muita vegetação.
        A sul nota-se uma parte estreita, talvez seja a torre  com dois pisos, o terceiro foi arrasado,  coberta de vegetação De caras para o caminho a poente dois lanços de escadaria - a sul e a norte; com entrada para a capela, a parte mais recente do solar, que ligava ao solar. A parte norte e a nascente do solar, as primitivas, por isso mais degradadas. 
        Excertos retiradas do Livro Alvorge Terra Alta de Jaime Tomás de 2012 
        Gentilmente cedido pelo meu amigo Dr Américo Oliveira com raízes no Casal da Mata e Quinta de Sarzedas em Ansião 
        «As terras da Ladeia, a que chamam « o franquido do Alvorge» estiveram na posse do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra durante 396 anos, até ao ano de 1537, data em que D João III as mandou transferir para a posse da Universidade de Coimbra. Em 18 de maio de 1546 foi a data da tomada de posse , por parte da Universidade, das terras do Alvorge mas a sua posse legal só passou a ser efectiva após o ano de 1611, no reinado de Filipe II , dado que o mosteiro interpõs uma ação judicial contra esta decisão que durou cerca de 65 anos a ser resolvida e só o foi porque o monarca espanhol, em 30 de setembro de 1606, fez um pedido directo ao mosteiro para desistir da contenda propondo-lhe uma renda anual de 200 mil réis. Apesar disso a contenda só foi encerrada, cinco anos depois. Cerca do ano de 1438, durante o reinado de D Afonso V, instalou-se na quinta da Ladeia junto da estrada medieval, que foi romana, onde já existia uma torre de defesa romana, um fidalgo chamado D Pedro da Guerra, descendente de D Pedro I e de D Inês de Castro, mandando construir o solar junto da torre da ladeia a norte.

        O termo Franquido do Alvorge
        Venha do tempo que pertenceu ao Mosteiro de S. Jorge e ao  Mosteiro de Santa Cruz, com as terras de uns que se metiam nas dos noutros, as muitas contendas e demarcação de extremas, e pelo meio - ISLADOS - nome espanhol, cujotopónimo em Pombal Ilha, seja dum tempo que o mar cobria a região. Já no Alvorge  a Herdade das Franquidas  e o  Franquido do Alvorge,  ainda por esclarecer a razão da origem do topónimo - Franquida, se tem origem no povo franco, de um seu  foreiro( arrendatário)? 

        Fotos retiradas do Livro Alvorge Terra Alta de Jaime Tomás de 2012 
        Portão da quinta a poente
        Era encimado por brasão dos Figueiredo/Carneiro, cujo paradeiro se desconhece- roubado ou vendido!
        O portal com a data de 1690 gravada na coluna esquerda e a data de 1952 gravada na coluna direita,supondo-se que a primeira corresponda à data da sua construção original e a segunda corresponda à data da sua recolocação no local.
                                  
        Lado poente os finais do séc XIX
        Da direita para a esquerda o contexto ruinal do solar com a  capela ainda com o brasão e sua escadaria , a parte mais recente mandada edificar em 1671, por D Filipa Carneiro de Sotto Mayordo, o solar mais antigo da centúria de 500 estende-se para a esquerda com maior ruína , alguns vestígios de janelas e a entrada da quinta com um portal  foi encimado por outro brasão semelhante ao portal dos Vasconcelos Ribeiro do Prado e Sousa em Santiago da Guarda, da mesma época.
        Mesmo enquadramento ruinal junto da estrada do solar dos Guerra , ao fundo a capela e antes da foto seria a entrada com o portal de entrada.
        Santiago da Guarda (Ansião)
        Até hoje nenhum historiador ou investigador se apercebeu na brutal  semelhança dos solares do Alvorge dos Carneiro Figueiredo da Guerra, com o de Santiago da Guarda dos Vasconcelos Ribeiro do Prado e Sousa, pela aposta ao reaproveitamento de uma torre de defesa, a que adoçaram um solar, usando à época o mesmo tipo de portal largo, encimado por brasão.
        Foto do Inventário Artístico de 1955 cedida por JCMarques
        Fachada do paço com torre da família Vasconcelos Ribeiro do Prado e Sousa de 1544.
                                       
        Reutilizações de materiais da quinta da Ladeia 
        Diz-se que esta coluna fez parte da Misericórdia do Alvorge. Parece evidente que  fez parte do varandim  do solar  dos Guerra e as remanescentes fazem parte de outro varandim numa bela casa no Alvorge. A  pirâmide teria sido do términos da torre, havia uma  igual no paço de Santiago da Guarda a sul.A foto não é muito explicita, foi retirada do livro citado do Alvorge, Terra Alta. Ao lado da coluna enxerga-se um azulejo, pintado em azul, será antigo?E as pedras no chão o que seriam? De um banco tradicional na região usado na frontaria das casas para se descansar? 
         Rua principal da igreja do Alvorge
        Uma casa que foi de um juiz disse-me a então proprietária D. Clementina as colunas do seu alpendre vieram do solar dos Carneiro Figueiredo da Guerra, de facto o portal da capela  com o mesmo frisado esculpido na pedra e as ombreiras a ladear o brasão ainda existente.
        O varandim no solar dos Guerra só podia ter sido a nascente ou a sul.
         
        Frontaria da capela de Nossa Senhora do Pilar
        Ereção da capela de Nossa Senhora do Pilar
        Excertos retirados das Memórias Paroquiais da Torre da Ladeia de 1758 «(...) Mandada edificar em 1671, por D Filipa Carneiro de Sotto Mayor,Esta fidalga deixou em testamento de 18 de abril de 1703 a sua intenção de ser sepultada na sua capela, o que veio a acontecer em 1707.Também nesta capela veio a ser batizado a 11 de janeiro de 1672 o seu filho Belchior Carneiro Sotto Mayor de Figueiredo da Guerra, que mais tarde em 1693, mandou colocar o seu brasão de armas no frontisdpício da capela e no portão da quinta.»

        “ (...) Este Lugar não he murado, nem he Praça de Armas. Junto ao Lugar está a Torre da Ladeia q está na quinta, em pouca distancia da qual, nasce a mencionada fonte. Os Romanos no tempo de Trajano fizerão esta Torre, e Casa forte para defeza da fonte, pois então,como ainda era e he de grande utilidade para os dilatados Povos que se utilizão das suas agoas, para os seos gados e limpeza das suas roupas, e the para fazerem as suas Eyras. Esta Torre principal tinha no tempo de Pedro de Figueiredo da Guerra três andares, e pela demasiada altura a reduzio a somente dois que ainda existem, com quatro Pirâmides nos cantos; e o resto da Fortaleza a deixou ficar em hum so sobrado fazendo lhe galaria e ornandoa com a Varanda na Entrada; sempre foi habitada por pessoas muito destinctas. E hoje está de posse della Pedro Jose de Salazar Jordão, da Cunha, de Eça, de Sousa, de Azambuja, Senhor da Casa de Salazar na Villa de Penella do mesmo Bispado e Commarca de Thomar. Junto a esta Torre e Casas está a Capella da Senhora do Pilar, de que já se fez menção. E tudo se acha situado no meyo de huma formosa herdade, na quinta,do que os senhores della colhem copiosos fructos de toda a qualidade, de pão, azeites,fructas, e hortaliças, com huma grande deveza para os gados da mesma quinta, a qual se fertiliza com a agoa da fonte que nasce na mesma de que já se fallou. Conservandoaos Senhores da mesma Torre e quinta na posse de não pagar dizima ou renda alguma da ditta quinta, cuja liberdade he antiquíssima e só à Universidade de Coimbra pagam hum limitado foro, e sua conhecença ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra que vem a serhum capão ou dous."
        O bloco novo da capela  edificado em 1683 com ligação ao interior do solar a norte cuja frontaria apresenta o resto do que foi uma grande janela , abre-se em espaço desafogado onde ainda existe de pé um grande arco de divisão e nas paredes  frechas a sul e a norte  uma janela estreita e alta e estreita, teria sido antes da requalificação a cavalariça ou celeiro e depois salão? Procurei por lareira , sem descodificar resquícios. Esta alteração seguramente fez parte da  reedificação de todo o alcácer, fizeram demolir o terceiro andar do torreão, ficando este reduzido a dois, com tecto em cúpula piramidal e uma pirâmide em cada canto, enquanto todo o conjunto habitacional ficou com um único pavimento.

                    Ampla escadaria de lanços opostos com degraus compridos em parte desmoronada...
        Convergem  ao patamar de acesso à capela que se fazia por porta larga rectangular, sobreposta por óculo redondo e um grande brasão que ainda existe.
                                     A minha mãe a subir a escada no lanço norte
                                               
        Parede e dentro do corpo da Capela com o óculo de iluminação, acima da ombreira do portal uma cavidade oval, nicho de pequena imagem ?A minha mãe deixou-se ficar sentada no rebate da porta da capela a contemplar a destruição...Concavidades de fechaduras na ombreira da porta da capela tendo pela frente  esculpido frisos rectilíneos. Não distingui no chão da capela a lápide sepulcral de Dona Filipa falecida  em 1707  conforme dispôs por testamento de 18 de abril de 1703. Será que está lá e não a vi ou desapareceu?
        O brasão dos Carneiros Figueiredo
        Foto de Henrique Dias em maio de 2020
         SIPA 2010 "1698, Maio - Belchior Carneiro Sottomayor de Figueiredo da Guerra casa com Dona Francisca Luisa Pereira de Sampaio. É colocado no frontispício da Capela de Nossa Senhora do Pilar, por este concluída, bem como no portal da quinta o brasão de armas Carneiro Figueiredo;"
        No Livro Alvorge, Terra Alta de Jaime Tomás 2012
        «(...) Este brasão é constituído por escudo de cavaleiro português partido, tendo na parte direita cinco folhas de figueira com as letras A e I sobre o campo de prata dos Figueiredo e a parte esquerda é terciada em barra co as figuras de dois carneiros passantes,representando a família Carneiro. Sobre o escudo apresenta um elmo virado para a esquerda de cavaleiro bastardo.Os Guerra eram descendentes bastardos de D Pedro I , daí o elmo estar virado para a esquerda.Do cimo do elmo sai um virol em forma de pluma com pequena flor na ponta e um paquife florido com duas rosas abotoadas e com folhado invertido.Tem ainda legenda com a data de 1693 e é orlado por listão repartido em seis partes representando uma cota de armas dos cavaleiros medievais.»
        Excerto retirado das Memórias Paroquiais
        «(...)Houve na Quinta da Torre da Ladeia homens valorosos nas armas da muito antiga e ilustre família dos Figueiredo da Guerra dos ques acompanhou hum a el Rey D Sebastião na lamentável Batalha de África, que ficando captivo,se resgatou a sua própria custa, e deste descendeo Pedro de Figueiredo homem insigne valor e por esta causa foi muito estimado dos Reys, e com especialidade del Rey D Pedro segundo;José António de Figueiredo da Guerra cavalleiro professo na Ordem de Christo que assiste na sua Quinta de São Thome junto de Condeixa he neto deste valerossíssimo Pedro de Figueiredo.»
        Na frontaria do solar a poente o portal da capela  encimado pelo grande brasão parcialmente coberto com hera. De repente o único e raro exemplar que se encontra ainda no concelho, além do brasão dos Câmara de Lobos encastrado no tecto da capela da Casa Senhorial dos Condes Castelo Melhor,  os demais foram retirados e vendidos...Desde criança que me recordo de andarem antiquários em Ansião à procura de tesouros, há anos travei conhecimento com alguns que me contaram histórias de aquisições nesta região. Um deles ficava numa pensão em Pombal, corria Abiul, Santiago da Guarda, Junqueira de onde levou mobiliário, objectos em pedra e,...Outro disse-me que havia um receptor na Junqueira, e ainda a governanta de um solar vendeu a prata da casa, preta por a deixar de limpar , passando a perna ao dono movida pela pobreza, atitudes a ditar  nas gentes a oportunidade de ganho extra aliada ao analfabetismo cultural.
        A minha foto da minha visita
        O chapéu do brasão ainda estava inteiro. Depois disso hoje encontra-se deteriorado, possivelmente outros que ali vão para o fotografar tentem com paus afastar as heras, com isso destroem a pedra que está fragilizada pela erosão e os séculos.
                              
        Solar da Quinta da Ladeia 
        De arquitectura residencial, quatrocentista, compreende ruínas de solar e capela privada de nave única e capela mor, classificada no SIPA desde 2011 PT 21003010017
        Cúpula do tecto da capela mor piramidal 
        Capela de planta rectangular poente/ nascente com ligação a norte por porta interior ao solar.
        A cúpula era do altar mor da  Capela de Nossa Senhora do Pilar.
        Há mais de 60 anos ainda aqui se celebrava missa.
        No início da decadência da quinta; a imagem de Nossa Senhora do Pilar, padroeira da capela, recolhe à Quinta de São Tomé em Condeixa-a-Nova.
                                       
        Quinta de S Tomé em Condeixa, parte lateral da capela
        Para onde veio transferida a imagem de Nossa Senhora do Pilar

        Quinta adquirida pela autarquia de Condeixa foi transformada no Museu Multimédia Portugal Romano e Sicó (POROS), inaugurado em 2016. Pretendendo ser um pólo complementar às Ruínas Romanas de Conímbriga, apresenta informação interativa e tridimensional acerca da romanização da Lusitânia.
        A Imagem da Senhora do Pilar devia voltar à sua origem ao Alvorge, a Ansião, para o futuro Museu!
        Pese o levantamento ruinal pelo SIPA em 2000 nada foi feito até à actualidade.




        Genealogia da Quinta da Torre da Ladeia
        No Livro de 1986 do Padre Coutinho« (...) a quinta de Ladeia em Alvorge, seus donos e a Torre. 
        Há em Alvorge, uma quinta particular que, desde 1438 foi pertença de famílias nobres e que, por ter uma "torre" entre as construções, sempre esteve relacionada com a antiga e famosa torre de Ladeia, assim apelidada em conformidade com os diplomas medievais, e que remontava, segundo cream, ao tempo dos Romanos, não só pelo tipo de construção, como pela inscrição alusiva ao Imperador Trajano, que afirmavam lá existir, e em cujo tempo a torre e a casa forte foram feitas para defesa da fonte. 
        Diz o genealogista da família que, ao tempo de D Afonso V, foi senhor da torre e quinta do Alvorge, Pedro da Guerra, filho de Fernão da Guerra, da família do Arcebispo de Braga, Dom Fernando da Guerra, e neto de Dom Pedro da Guerra, filho do Infante Dom João, filho de Dom Pedro I e de Dona Inês de Castro.
        Pedro da Guerra teve uma filha, Dona Isabel da Guerra, que lhe sucedeu na casa e que casou com Gaspar Dias Preto, da Redinha. Do matrimónio nasceu Lourenço Dias Preto, que casou em segundas núpcias com Ana Soares, de Leiria ,e tiveram Jerónima Soares da Guerra, que casou com Sebastião Gomes de Abreu, teve duas filhas:Dona Luísa da Guerra e Dona Vitória da Guerra, freira do Mosteiro de Santa Ana, de Coimbra, onde professou.
        Dona Luísa da Guerra casou com João Rodrigues de Figueiredo, de Condeixa- a -Nova, em 1630, fidalgo do Duque de Bragança, que, em testamento de 20 de junho de 1658, instituíram o vínculo dos Guerra na Torre e quinta da Ladeia, em AlvorgeTiveram seis filhos, sendo o mais velho Pedro de Figueiredo da Guerra, batizado a 7 de fevereiro de 1631, fidalgo da casa do Duque de Bragança, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, senhor do morgadio de Alvorge e seu capitão-mor.Ali casou a 20 de janeiro de 1670 com Dona Filipa Carneiro de Sottomayor, da Quinta do Cidral,junto ao Penedo da Saudade, em Coimbra.Em 1683, Dona Filipa e seu marido erigiram a capela de N Senhora do Pilar junto à Torre de Ladeia , aquando da reedificação de todo o alcácer, e fizeram demolir o terceiro andar do torreão, ficando este reduzido a dois, com tecto em cúpula piramidal e uma pirâmide em cada canto, enquanto todo o conjunto habitacional ficou com um único pavimento.Dona Filipa faleceu em 1707 e jaz sepultada na sua capela, conforme dispôs por testamento de 18 de abril de 1703.
        De seus quatro filhos, foi o primogénito Belchior Carneiro Sottomayor de Figueiredo da Guerra, cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão -mor do Alvorge e senhor deste morgado;foi batizado na sua capela a 11 de janeiro de 1672. Vivendo em Alvorge, em maior de 1698 casou, com procuração, com Dona Francisca Luísa de Melo Pereira de Sampaio, de Ponte de Lima, e receberam a bênção matrimonial em Alvorge. Belchior Carneiro colocou o seu brasão de armas, com os apelidos Carneiro Figueiredo, no frontispício da capela do Pilar, que concluiu, e no portal da quinta.
        Os quatro filhos que tiveram, nasceram em Alvorge. O primogénito, José António de Figueiredo da Guerra, batizado em Alvorge a 1 de março de 1700, foi cavaleiro professo da Ordem de Cristo, familiar do Santo Ofício e residiu em Condeixa, por ser o primeiro administrador do morgado da quinta de S Tomé. Por falecimento de seus dois primeiros filhos, passaram os títulos para José de Figueiredo da Guerra Carneiro e Melo, neto do anterior e primogénito de seu filho terceiro, Pedro Alexandre de Figueiredo da Guerra, que casou em Santarém com Dona Luísa Vitória Salinas de Lacerda e Melo, e que morreu ainad em vida de seu pai, na quinta de S Tomé, em Condeixa; era fidalgo da Casa Real, bacharel formado pela Universidade, capitão-mor de Coimbra, mordomo-mor de Poiares, pela Universidade, e senhor dos vínculos de Alvorge, Leiria,e quintas de S Tomé e Cidral, em Coimbra.Dos seus vários filhos, uns morreram novos, outros, sem descendência.
        Em 1748, a quinta de Alvorge passou para Pedro José Salazar Jordão da Cunha de Eça, genro de Belchior Carneiro, todavia, extinguindo-se este ramo em 1795, com a morte de Dona Maria Josefa de Salazar Jordão, em maio desse ano,sem deixar descendência, a casa ficou abandonada e os bens voltaram para José de Figueiredo da Guerra. Em 1857, por venda ao Dr Adriano Augusto Lopes Vieira, médico, e a dois proprietários de Alvorge, passou a estranhos, caindo, desde então, em ruínas; a imagem de N Senhora do Pilar, padroeira da capela, recolheu à quinta de S Tomé, em Condeixa. »

        Interior da capela de Nossa Senhora do Pilar no Alvorge
        O que resta do mural marmoreado em amarelos e cerise do altar mor da capela de Nossa Senhora do Pilar no solar dos Carneiro Figueiredo da Guerra
         O que resta da cúpula vista de outro ângulo
        Abside de concavidade na parede a norte da capela acima da porta de acesso ao solar
        Fresta da Capela virada a sul
        Abertura minúscula em quadrado típica em construções antigas, deixadas  dos andaimes
                          
                    Antes da capela ter sido construída o que seria aqui - cavalariça ou celeiro (?)
        A minha mãe numa porta aberta daria acesso para nascente à copa e cozinha(?)
        Um arco de pedra em berço 
        Ao chegar ao solar  subi  o lanço da escadaria norte por estar em melhores condições que o lanço a sul para ficar com a falsa sensação que entrava no solar, na verdade entrei na capela, com ligação por porta a norte onde se entra num espaço com o arco de berço e se distingue na foto, dando a impressão que estamos perante o que foi a cozinha, copa do solar, debalde não distingui jeito da lareira e absides de concavidade, o que existe são janelas estreitas  altas,  frechas, e os tais buracos quadrados minúsculos, o que me leva a dizer aqui foi o celeiro ou cavalariça, onde mais de 100 anos lhe foi no aproveitamento da torre  adoçada a sul a capela.
        Em Ansião a penúltima estalagem no Bairro tinha um grande arco para passagem dos cavalos derrubado na década de 50.O seria como este (?)-
        Parede sul com janela estreita alta
                        Parede a sul  uma frescha
                                           
        Outra frecha na horizontal na parede a sul
                              
                        
                                    
                                              
                         
        Junto do topo da cúpula da Capela reparei num pilar quadrado em pedra calcária, sem saber a sua função - teria sido do relógio de sol? 
                                                  
                                      
        Pese a informação «Em 1683, Dona Filipa e seu marido erigiram a capela de NSenhora do Pilar junto à Torre de Ladeia , aquando da reedificação de todo o alcácer, e fizeram demolir o terceiro andar do torreão, ficando este reduzido a dois, com tecto em cúpula piramidal e uma pirâmide em cada canto, enquanto todo o conjunto habitacional ficou com um único pavimento»
        A foto  com  avistamento da  fresta  da Capela mais baixa,  evidencia tratar-se do segundo patamar do torreão que ficou após a requalificação do alcácer onde me posicionei para a registar.
        Duas janelas entaipadas, cada uma apresenta apenas a falta de apenas uma pedra...seria da requalificação  do solar antigo foram entaipadas.
                                        
                                  
        O que resta do segundo piso da torre  do Alvorge onde avistei a torre da actual igreja do Alvorge. 

        Versos de José Louro retirados do Livro de Jaime Tomás - Alvorge Terra Alta de 2012
        Velha região da Ladeia
        Na história ficou esquecida
        A torre que te deu fama
        No tempo ficou perdida.

        Vigia das terras
        Chamadas mouriscas
        Juncadas de ervas
        e de rara beleza
        De Santa Maria
        e da mãe natureza.

        Terra formosa que lembra
        Tua padroeira mãe de Jesus
        Foste cobiça de Coimbra
        E terras de Santa Cruz

        Teu passado foi de glória
        De riqueza e claridade
        Ele marcou tua história
        Celeiro da Universidade

        Naquele velho solar
        uma capela, um altar
        Ali já foi venerada
        A Senhora do Pilar

        Nome mais puro e santo
        P'ra um poeta recordar
        Foi embora a sua imagem
        Para nunca mais voltar.

        Pobre e velho solar
        Esquecido e abandonado
        Só teu antigo brasão
        Testemunha o teu passado.

        és livro dos tempos idos
        Que leio a cada momento
        Para muitos esquecidos

        O lamento...O solar passou por vicissitudes e a quinta foi desmembrada e vendida a vários proprietários.Disseram-me que a parte do solar pertencia a três , debalde não me recordo dos seus nomes. O  tempo ditou abandono com perda de herdeiros que não se habilitaram.

        Não distingui intervenção arqueológica neste local pese o concelho ter sido  sujeito a acções em vários locais entre 2000/10, debalde não encontrei nada para este local da Fonte, da torre, nem da estrada...Pouco se fez e quase tudo se perdeu neste concelho de Ansião de património e este em particular, sem ninguém que se sensibilize e lhe acuda à contínua  perda, a cada minuto!

        Apesar do solar se apresentar em ruína iminente, há muitos pormenores de interesse. 
        Houvesse vontade, querer e força mayor para o limpar de vegetação e lixo com recolação das pedras caídas nas paredes que ainda se perfilham no espaço.
        Isso sim, seria uma obra digna de salvação do património histórico que muito honraria o concelho de Ansião, nomeadamente da vila do Alvorge que bem merece a restauração deste belo exemplar do século XV. em lhe dar uma digna função cultural!

        Sem esquecimento a requalificação dos muros de pedra seca na envolvente e manterem o sistema de rega, de grande beleza e engenho e a fonte - meu Deus, um caos aquele horrendo telheiro, a perder-se  tanto potencial turístico neste caminho de Santiago, em chão desde a proto historia!

        E ainda ? Outros obreiros de crónicas com suporte de informação e  fotos que circulam  na  internet,  sem contudo a sua vinda ao local, que não sentiram e cuja interpretação foi à imagem do que foi copiado...Enfim - triste sina, de não se valorizar quem se dedica com paixão, porque "roubar é mais facil!


        FONTES
        Livro de 86 do Padre José Eduardo Reis Coutinho Perspectiva Global da Arqueologia História e Arte da Vila e do Concelho de Ansião
        http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=8883
        Livro de Jaime Tomás - Alvorge Terra Alta de 2012 foi-me  gentilmente cedido pelo meu amigo Dr Américo Oliveira com raízes no Casal da Mata e Quinta de Sarzedas em Ansião
        https://repositorio.ual.pt/

        Pombal um bodo com a visita do Passos Coelho...a lembrar o Marquês

        Sai de casa fresca e no barco registei a 1º selfie...
        Aportei de comboio mais uma vez na estação de Pombal na sexta feira.
        Atravessei a praça Salgueiro Maia-, a meu ver se encere fora de contexto-, porque o local junto da estação deveria ser dedicada ao Emigrante  -, em homenagem aos milhares de todo o concelho e outros limítrofes que daqui partiram a "salto" para França e,...
        Deparei-me com o pagode das festas do Bodo com assitência quase reduzida e havia muita sombra!
        No palco a fadista jovem de voz rouca...dizia "passei a noite no hospital, pedi ao médico para vir..." cantava esta bela canção da Amália Rodrigues.
        Festas do Bodo...Bodo foi ter andado e desandado quase 5 km a puxar a mala de rodinhas pela calçada a chiar, por causa do aparato da comandita que acompanhava o primeiro ministro-, Passos Coelho!
        Pouquíssimos apoiantes...aparato reles numa câmara social democrata!
        Atrás de mim vinha o desfile da quadra de honra dos Bombeiros
        Fizeram-se à foto a meu pedido

        Os velhotes com fato domingueiro vieram em carrinhas dos Lares -, cruzei-me com eles em debanda para o lanche...adorei este chapéu em felpo muito criativo e decorativo usado por uma bela senhora com pérolas ao pescoço e blusa de rendas branca. Assim é que é, vaidosa sim senhor!
        D. Maria Madalena utente do Lar de Santiago de Litém, fresca que nem uma alface!
        O que vi em demasia ? Polícia de choque!

        A fazer fé no dito popular do meu avô José Lucas da Moita Redonda... nos exageros e coisas incompreensíveis que a minha avó Maria da Luz não gostava de o ouvir dizer em tom irónico.
        " Oh Marquês volta cá abaixo que eles já cá estão outra vez!"





          Chalet que conheci anos ao abandono
        Coreto
          O Marquês de Pombal morreu em Pombal, foi sepultado na igreja do Cardal e anos mais tarde transferido para Lisboa pelo seu 4º sucessor.
          Estátua do Marquês no seu pedestal no jardim da cidade
          O bodo dos pobres - a fogaça -, bolo redondo tipo arrufada oferecido ao povo nas festas da Senhora do Cardal .Em Palmela também há o uso da fogaça com feitios diversos de animais com sabor a erva doce 
          Na região centro -, Pombal, Abiul e Avelar foi sempre tradição -,que caiu em desuso.
          Este ano voltou ao Bodo em Pombal. Gostava de a ver reabilitada também em Abiul e no Avelar.
          Abiul no concelho de Pombal foi vila dos Duques de Aveiro da família Távora, assassinados por vontade do Marquês de Pombal com assinatura do jurinconsulto de Ansião Pascoal José de Melo.
          Em Abiul nasceu a primeira Praça de Toiros em Portugal em paralelo com a de Sousel no Alentejo.
          Também ainda existe ruína do forno onde era cozido um grande bolo para distribuir pelos fieis na festa em agosto em honra de Nossa Senhora das Neves que este ano faz 450 anos.
          Vila do Avelar no concelho de Ansião onde ainda existe o forno com grande escadaria, havia a tradição de cozer um bolo enorme com vários alqueires de farinha para ser destruído pelos fiéis nas festas de Nossa Senhora da Guia.

          Neste castelo fiz de "pau de cabeleira" no namoro da minha prima Isabelinha com o namorado Quim 
          ( homem lindo de morrer a fazer jus a top model, ator, belo, belíssimo...) com quem veio a casar -, beijavam-se na boca em 72, para mim inédito, só em filmes na televisão a preto e branco e raros !

          Cansada entrei numa ourivesaria para apreçar umas argolas em oiro -, um uso das mulheres dos Ramalhais-, já tive umas, as cabeleireiras se encarregaram de estragar com as escovas...
          Disse-me o homem " disso já não há...
          Trouxe um par em prata dourada, acudi ao ego de vaidade e desespero por estar transpirada!








           





          domingo, 21 de julho de 2013

          As vozes do mundo na feira de velharias de Setúbal na boca da D Laura algarvia "quando vejo a fotografia com 50 anos até choro

          • Menos calor do que da última vez -, mesmo assim calor.
            Ouvi um piropo de um admirador secreto mais novo 10 anos ..."a mulher mais gira da feira..." a rir pensei -, esqueceu-se de limpar as  lentes...
          • Frenesim o movimento de gente habitual, outras que simplesmente apostam  em novos mercados para se estrearem-, e reaparecidos na surpresa  de ausência sentida.
           Apareceu-me um espanhol com um saco enorme cheio de gravuras e manuscritos comprados ao preço da "uva mijona" na banca da Maria José e da Olga . Apreciou os 3 quadros com gravuras uma de Madrid e 2 de Lisboa à lupa...regateou que não queria as molduras só as gravuras...que eram de livros...só dava metade do valor pedido. Claro que não as vendi, até porque são da minha amiga Isasay tal e qual com 2 placas da Companhia de Seguros A Social...que também não vendi porque só me davam pelas duas 30€...e ela quer 40!
          • Um homem pegou num prato de Alcobaça da Vestal, com o dedo passava pela pintura -, ao mesmo tempo estrebuchava - esta pintura é estranha... perguntei-lhe porquê-, era de pouca conversa, queria compra-lo, mas só queria dar 20€,  não o vendi !
           Quando vendo, fico me dobro satisfeita se o cliente for simpático, casmurro -, dispenso!
          Apareceu um casal simpático que mal me viu o senhor disse-me...confundi -mo-la como uma senhora ali em cima...possivelmente nela enfeiraram bem ao avaliar a sacada ...compraram-me uma peça assinada de Barcelona, lindíssima-, uma  molheira finais do século XIX em vidro.

          Na banca da Maria das Neves e do Sr João a peça da feira -, terrina em faiança de Coimbra impecável , meados século XIX.Pintura  em arabescos em policromia vermelho e verde entre eles círculos semi- ovais com pintinhas ao centro em azul.
          O pé e os rebordos ornados a filetes finos a cor de amora.
          Pega  da tampa de corpo relevadas graciosa em botão relevada ao meio verde  ervilha e vermelha ornada a filetes em meio arco graciosos.
          • Pegas soberbas de corpo relevado em nervuras fazem lembrar a faiança do Brioso na cor azul alilazado forte.

          O meu amigo Arlindo vinha com a sua airosa esposa Paula -,chegou-se a mim ainda de olhos presos  nesta bela peça de faiança. Pediu-me a opinião...falei, falei, e disse  -, a mim tem de fazer o clique - tal como o olhar encadeia num homem...
          Responde-me...a fim fez clique!
          Trata-se de uma bela peça e em muito bom estado. Se ele a poder adquirir, enriquecerá por certo a sua coleção. Revela muito bom gosto.
          • Apresentaram-me um amigo da terra que conheço de vista na feira e a quem já vendi uma garrafa com incrustações a estanho -, de graça Fernando.  
          • Desta feita nada compraram...a fazer eco aos gastos do mês em matéria de velharias que me contou... pelos vistos foi alto!

          • Banca dos meus amigos Isabel e Sr Antero onde os cobres e latões brilham!
          O polícia deu em multar os carros de colegas que não tiraram o tiquete...30€ e "bico calado que vinha com os azeites..."
          • O Aroucha foi à revisão com a carrinha , dias depois foi o piston ...veio no carro do genro, teve de reduzir a banca.
          O Paulinho Filipe chama-me às pressas para dar uma opinião sobre COMPANHIA DAS ÍNDIAS a duas senhoras sobre um bule na banca da Lurdes.Peça bonita, graciosa, relevada, pintada à mão, sem pega  por 50€ - uma boa reprodução da porcelana dita Companhia das Índias.
          Nisto passado pouco tempo apareceram na minha banca onde lhe mostrei dois pratos dos finais século XVIII para no tardoz apreciarem o frete-, e no futuro conseguirem avaliar a veracidade deste tipo de peças. Perdi tempo, porque podem até ter dinheiro, cultura nenhuma...num prato molestado de cores lindíssimas marcado 25 até fiz pela metade ( pelo prejuízo da loiça, na manhã ao montar a banca parti a pega duma terrina) -, teve o descaramento de me oferecer 7,5€... 
          • Só me aguentei e não o parti nas fuças dela porque aguento seja o que for sempre firme, jamais parti fosse o que fosse com raiva!
          • Farta estou a ficar com mulheres estúpidas, burras e parvas de nariz empinocado!
          As "Paulas" traziam uma banca com tudo a 5€ e livros novos a 1,5 -, de tipografia falida, uma delas a Ana vinha com gripe, no chão belo tapetão persa-, pena na casa onde se mostrou nunca o terem virado , o brilho virou mortiço de um dos lados!

          Caminhantes na feira uma senhora esbelta de belo corpo, simpática, formada em  história  com dois filhos de idades díspares. Dizia para a filha sobre um prato motivo cantão popular-, é igual à nossa travessa.Meti-me na conversa. Gostei francamente da atenção, e da  conversa acertada da filha  sobre a criatividade dos pintores à época no copianço do motivo sem saberem a sua história, com isso os "amantes simbolizados pelos pássaros" alguns os pintaram como cruzes, outros bolinhas e,... fácil foi perceber que sabia do que eu falava, apesar da minha linguagem  não ser do mesmo calibre académico -, formada em arqueologia com mestrado em Barcelona-,  sem papas na língua tive prazer de duplicar o elogio -, de inteligência, que demonstrou sem favor, numa simplicidade estonteante .
          • Afinal os jovens não são assim tão ocos como na maioria se apraz disser à boca cheia. 
          A conversa tornou-se cúmplice, convidei-os para se recolherem no sombreiro do chapéu, as senhoras vinham aflitas com saltos altos, os pés nas correias do peito apertavam...nisto falou-se sobre fotografia, contei que na véspera  no Parque da Paz tinha reparado num sobreiro -, numa racha que a cortiça o presenteou, no nascer e crescer,  no imediato me pareceu uma vagina -, o miúdo que devia ter entre 8 a 12 anos(?) sentado na minha cadeira pergunta " mãe o que é uma vagina"...fiquei mal na imagem ao dizer abruptamente para ele, não é nada, esquece...nisto a mãe diz-lhe " então é o pipi das meninas" a irmã remata " já estudaste isso na reprodução"...
          Despediram-se na pressa da aflição dos pés e das compras no carro que aqueciam na estorreira do calor! 
          • Diz a senhora mãe de sorriso franco -, pois foram lérias e velharias!
          No final da tarde duas senhoras a rondar os 80 anos sentaram-se no banco de jardim junto do meu marido. Uma delas da cidade a carregar nos "R"-, castiça, quis comprar um quadro na minha banca...tinha gasto o parco dinheiro num galo bonito das Caldas na banca das "Paulas"... comecei a arrumar, num repente disse-lhe afinal quanto dinheiro tem? O meu marido contou-lhe as moedas...
          • Entreguei-lhe o quadro por "tuta e meia" e era bom de ourivesaria com flor banhada a prata...
          Diz-me ela" na próxima feira dou-lhe o resto". À medida que ia arrumando peguei em algumas peças e dei-lhe...ficou encantada... nisto dei-me conta que a amiga que com ela estava não a tinha agraciado...não fosse por isso também lhe dei.Vira-se e diz-me " a senhora tem pernas bonitas para andar de calções"...
          Respondi-lhe - parece a minha mãe a falar!
          • Naquilo diz a Maria Helena de Setúbal a carregar no "R"..."custa-me entender mulheres que não gostam de chouriço de sangue só pensam em arroz de grelos"...
          • Diz-lhe o meu marido-,elas não gostam de chouriço de sangue porque é  mole...
          Remata ela põe-se no frigorífico, logo entesa!
          Com sorriso maroto diz .... "São as vozes do mundo!"
          Na viagem diz-me o meu marido a outra senhora é algarvia , vivem juntas -, perdeu  a casa e tudo o que tinha...precisa de um frigorífico, até o leite se lhe azeda...veio à feira à procura de um ferro de engomar.
          • Logo pensei por vício da profissão no tempo perdida -, possivelmente fiadora de algum filho, ficou sem nada, pior sem filho!
          A D Laura Amaro fez querer que foi abençoada com uma boa vida, bonita, de olhar doce e expressivo...a destoar o lápis que usou dos "chineses"  na vez de ser preto ou castanho era avermelhado..não me contive e disse-lhe... "não me leve a mal fazer tal observação...mas é tão bonita"
          - Sei fui enganada...Bonita fui eu, quando vejo a fotografia com 50 anos até choro !

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