O desafio em voltar à festa de Santa Marta em caminhada desde o Bairro de Santo António pelo quelho do Vale Mosteiro. A Junta de Freguesia deve proceder à sua limpeza porque ao valorizar o ancestral caminho na Rota das Carmelitas, uma vida assoreado pelas enxurradas onde cresce vegetação sem averiguar se estava transitável, pior em tempo de chuva sem escoamento de águas, desde que foi interceptado com a avenida Sá Carneiro na continuação para o Vale Cerejeira com bifurcação pelo tardoz da Fonte da Costa. Para em alívio e espanto constatar este pequeno troço se encontra finalmente limpo, a limitar a quinta do Dr Calado, sem dúvida um grande atalho para o Escampado.
Ao chegar às Alminhas estupefacta com o nome atribuído ao caminho que lhe corre na esquerda - Rua do Depósito de água, feito para os incêndios...Deixaram cair escolhas assertivas como Rua das Alminhas ou outra designação mais aliciante alusiva ao local antigo.Fiquei chocada com a atribuição do nome Rua Principal do Escampado de S. Miguel logo no começo ao entroncamento na avenida e o Vale Mosteiro, com uns aviados 2 km (?) estando a escassos 100 metros da emblemática Fonte da Costa. No século XXI a incorreta atribuição de toponímia ... Ao conjunto de seis Lugares que constituem os Escampados (Calados, Belchior, Santa Marta, Lagoa do Castelo, S. Miguel e Costa ) porque razão a rua ostenta o nome deste, em detrimento dos demais? Porque tem mais moradores?Porque é mais antigo? Quando este caminho, o mais recente apenas roteado no principio do século XX.
O certo seria Rua do Vale Cerejeira ou Rua da Fonte da Costa.
Neste meu falar em tom exclamado no meu direito de cidadania, mas no respeito. Os Escampados, território dos mais antigos do concelho, cuja toponímia Lagoa do Castelo por onde digo eu, falta certificar, passou uma estrada romana vinda do Vale de Boi, onde foi catalogado um troço de calçada com 150 metros a caminho do sul, Ourém. Os moradores dos Escampados com outros do termo de Ansião juntos para obter o estatuto de vila (perto de 100 moradores) para vir a ser doada ao Senhor de Ansião D. Luís de Menezes, que apenas se formalizou em 1673.
Rua do Escampado Belchior
Enfeites em flores de papel em policromia com folhas de nespereira. Reminiscências celtas, dos primeiros povoadores.
Bom muro em pedra feito de novo em manter a traça antiga
Bela eira circular em pedra
Recuperação de casario antigo
Na paisagem um belo cardo maduro, não foi apanhado para fazer queijo...
Casario restaurado na traça antiga em pedra com duplo beirado português e pial ao lado da janela para o vaso da sardinheira
A beleza que a ruína exala...
Que me desculpe o dono ao fotografar o alpendre-, a piada foi dada pelo inusitado de ali ver uma" 4L" em escarlate-, a ser restaurada ficaria a "matar" ...
Abside de profundidade, vulgo guaritas em pedra, as prateleiras no tempo de antanho que as casas ostentavam por falta de mobiliário.
A capela de Santa Marta
Sita a sul na bifurcação de dois caminhos; à direita na direção do Marquinho e para a esquerda Albarrol. Neste caminho para Albarrol precisamente a escassos metros da capela existe uma laje soterrada incisa com uma
"Cruz" pequena, a conheci em garota quando aqui vinha em comandita com os cachopos do Bairro de Santo António apanhar alecrim e loureiro para o ramo do Domingo de Ramos, voltei a descobri-la décadas mais tarde, raspando a erva. havia de voltar para fotografar, debalde o caminho tinha sido roteado e o que restava da calçada de grandes pedras, enfiadas acima e abaixo na terra, descarnadas, um troço de calçada romana (?), nivelado no meu olho ligeiro ao perfilhar o traçado da Lagoa do Castelo onde também distingui pedras na frente da lagoa no seguimento para o Escampado de S. Miguel, Lagoa, na direção de Santa Marta . A falta de conhecimento dos empreiteiros sem formação básica e de quem manda executa as obras no mesmo deficiente conhecimento histórico, nem de o suspeitar, se fosse atento para se chamar um arqueólogo que há anos está destacado na câmara, para vir averiguar... e com a inacção continua-se a perder património valioso que deixa qualquer um com dois dedos de testa, perplexo!
Perda irrecuperável o património que nos fala do nosso passado.
Na beira da estrada agora roteada, mais larga resta a ruína de uma casita com a frontaria derrubada, de porta aberta pintada a cal e silvas a invadir, entrei na sala , ainda tinha na parede pregado um cabide manual castiço com dois quartitos minúsculos em tabique onde acredito terem sido gerados e paridos sem prazer filhos, como na época era normal -, sufoco só de pensar. Ao fundo depois da cozinha ainda lenha no alpendre com o forno de cozer a broa em barro abobadado com abertura em
"V" judaica
Nas Memórias Paroquiais encontrei nomes de gente que aqui habitou na centúria de 700
«João Silueiro do Escampado; he possuidor della (capela).
João Mendes do mesmo lugar; manda dizer 20 missas; será instituída há 50 anos» =
1671.
A Capela foi instituída com frontaria para poente, seria particular , desse tempo resta o portal que se vislumbra no actual tardoz. com a casa agora de ingleses com data de 1696 e no meu tempo da família "Mendes" da Lucinda Mendes, lindíssima, aos genes gregos, mudou-se para Évora.
O apelido Mendes a reportar para já existir em Ansião antes de 1175, quando Pedro Mendes vendeu a sua quinta ao Mosteiro de Santa Cruz Para se tornar pública na bifurcação de caminhos com frontaria para nascente como se encontra depois de 37 anos da sua erecção, em 1708 .
Outra «Capella que instituiu a molher do dito Silueiro, ha os ditos annos he possuidor della Luis dos Santos do dito lugar; manda dizer 20 missas cada'hum anno».
Pois não sei onde teria sido o palco da capela, porque a ter missas anualmente foi instituída. Na estrada para Albarrol a nascente da capela de Santa Marta ao fundo do lado direito ainda resiste uma grande casa com janela de avental e tinha balcão com varandim suportado por colunas e telheiro, podia ter sido a capela aqui? Há poucos anos o dono retirou as colunas em calcário que sustentavam o alpendre antes que as roubassem, digo eu. No pátio por entre muros uma grande pia de pedra, ainda resiste o caixilho minúsculo de uma janela outrora com vidro que conheci e há muito que se perdeu, agora escaqueirada mal se nota a cor original em ocre, resta o avental em pedra calcária, linda num estilo que me prende o olhar. A foto ficou tremida e mal se nota...
Quem morou nesta casa?
Seria aqui a outra capela que no tempo se perdeu?
O orago devia ser Santa Luzia, uma Imagem que se encontra na capela de Santa Marta?
Uma vez fui com o
Chico Serra e a sua mulher Júlia ver uma pedra grande sita numa das suas propriedades nas imediações a nascente da capela, a julgar ter sido um miliário, e na verdade é uma pedra larga de certa altura não lhe distingui nada esculpido, julgo a marcar uma extrema antiga com séculos, como outras ainda resistem pelo Alvorge e Santiago da Guarda
Sepultura na igreja de Torre de Vale de Todos
O canteiro artista que esculpiu a data na ombreira da porta, supostamente o mesmo que esculpiu no exemplo o algarismo "8" igual em aberto numa sepultura na igreja da Torre de Vale de Todos.
Andor com a imagem do orago da capela Santa Marta
Em pedra, pesa 30 quilos e conserva a policromia antiga. Das mais antigas do património religioso de Ansião.
Em miúda punham no orifício da mão da Santa uma açucena ou cajado de S. José.
Altar em madeira
Ergue-se em duplo arco ladeado por duas colunatas com terminais, pintado de branco com decorações relevadas a dourado, ao centro o Sagrado Coração de Jesus com resplendor aos três nichos; no central , o maior, é o lugar da Imagem de Santa Marta, na direita uma Virgem com o Menino, e no lado esquerdo uma pequena imagem sentada num cadeirão, também com um Menino ao colo, ao meio do altar uma imagem da Santíssima Trindade.
Imagem de Santa Luzia
Estava prostrada no chão...Avento foi pertença da outra capela instituída pela mulher de João Silveiro, e já acima abordada, perdeu a policromia, merece restauro e recolocada no altar, no lugar da imagem mais pequena e esta numa mísula lateral e o mesmo com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, as duas a ladear o altar, ou outra solução a contento, no meu achar.
Quando perguntava o nome da Imagem no chão a uma rapariga, chega-se outra minha prima, a Isabel casada com o meu primo Tó, vivem na Garreaza, junto da mina-, agora Rua Principal do Casal das Peras, aqui quis vir com a sua filha Marta - o nome da Santa, em dia de festa.
Um bom mote visitar as festas cujo orago foi escolha em batismo a dar aos filhos. Gostei muito de as ver.
Dizia outra rapariga que limpou o altar " deu-me trabalho de duas horas e meia, todo o cuidado é pouco"
Sentado num banco na capela estava um jovem com quem tabelei conversa que me disse ser filho da professora de inglês, a ...lamento não recordar o seu nome. Conversa solta sobre a capela, num repente disse-lhe há qualquer coisa no seu olhar que me diz que o conheço, não é por acaso filho do Alberto Silva ? Ora que alegria ali ter encontrado sem esperar por acaso, um primo em 4º grau com genes no Bairro de Santo António-, Daniel, lembro-me dele em pequeno, nunca tínhamos falado, e me surpreende ao dizer
" ontem estive no seu Blog"...Quando saí da capela voltei atrás e perguntei, "oh Daniel acha que devo continuar a fazer crónicas?"
Resposta escorreita na ponta da língua.
- Sim, tenho aprendido muito!
O campanário do sino
Na remodelação da acpela no interior senti a falta da pequena lanterna que havia ao centro pendurada no teto e alumiava a capela, tinha corrente para içar, julgo eu.
Adro no tardoz da capela
Já em tempos abordei os vestígios da parede das pedras do portal primitivo da capela virada a poente, em dar mote para na obra recente as deixaram ficar à vista, a legitimar e demarcar sua propriedade. O que restava do seu adro no tempo foi sendo absorvido por casario, seria inicialmente do donatário que instituiu a capela porque recordo a nascente haviam ruínas com portas entaipadas de pedra.
O terreiro do adro voltou à origem, à capela , um marco histórico ganho por este povo, descendente do povo que a instituiu!
Encontramos o Carlos Silva da Lagoa da Ameixieira, aqui veio ver o seu filho Simão Castela, o maestro da filarmónica convidada a abrilhantar a procissão, disso tive pena de não assistir.Prontamente aceitou o nosso convite para tomar um copo no bar, fomos servidos pelo meu primo Alberto, rapaz com uns 45 anos(?) pai do Daniel.Já tinha esvaziado o meu copo e eles na conversa...
Fui à quermesse ver se me saia uma rifa do saco de traquitanas que ofertei ao Chico Serra, um dia viu-me a caminho de casa afrouxou o trator, disse-me "olha lá tu que és boa cachopa arranja umas coisitas para a quermesse da festa de Santa Marta no domingo e deixa na Fátima do café" sendo bem mandada assim fiz.Azar na escolha, saiu-me na rifa uma banheira de loiça que deixei para a nova quermesse...
Os meus primos, pai e filho, o mesmo sorriso , o mesmo olhar, sobretudo gente de bem e trabalhadora.
Juntinho à Capela onde foi a casa de quem a instituiu comprada por estrangeiros, restaurada de 1696, e a capela foi instituída em 1671 .
O
“stranger” sempre de roda das pedras, delas faz diariamente canteiros altos e muros sem qualquer argamassa…estes estavam em construção.
Deixei o recinto quando o Daniel foi acender o carvão para a sardinhada...
De volta a casa dizia o meu marido, "o Daniel nem parece um jovem deste tempo, grande a paixão pelo património, tradições e gentes". De se ficar maravilhado.Corroboro na íntegra!
Os apelidos ?
Silveiro, não sei se ainda existe.
Mendes, ainda existe.
Santos, não sei se ainda existe
Roriz, se perdeu
Freyre, vigora
e,...
Alertas:
O património religioso deve ser inventariado, fotografado e seguro.
Fiquei a pensar na sardinha, cresceu-me água na boca, tive de a fechar senão babava...
Fontes
Livro de Memórias Paroquiais