terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Falar sobre práticas da Medicina alternativa

Texto elaborado no âmbito das Novas Oportunidades em 2005, sobre as práticas de Medicinas Alternativas-, termo usado para descrever práticas médicas diversas, da medicina prioritariamente baseada em evidência que difere das medicinas antigas, baseadas em tradição. Do leque entre outras, são consideradas como principais : Acupunctura; Aromoterapia; Arteterapia; Auriculoterapia; Ayurveda; Biodança; Bioenergologia; Cromoterapia; Essência floral ou elixir floral; Homeopatia; Iridologia; Magnetoterapia; Quiropraxia; Tratamento espiritual, Medicina ortomolecular; Reiki; Curandeirismo e Medicina popular.
Acupunctura - Prática milenar  chinesa, sendo que, enquanto esta é uma forma de terapia reconhecida como especialidade médica e de outras profissões de saúde as citadas formas de reflexoterapia não o são.
Pontos de acupunctura na Dinastia Ming

Aromoterapia – Um ramo da  osmologia, consiste no tratamento baseado no efeito dos aromas de plantas, e os efeitos capazes de provocar no indivíduo. Dos vegetais é extraída a essência aplicada isoladamente ou em combinação com outros aromas, dependendo das enfermidades e do indivíduo. É considerada uma terapia alternativa ou complementar, embora seja um tratamento bastante antigo, que surgiu da fitoterapia e que é geralmente usada em conjunto com esta. É utilizada no tratamento das mais variadas enfermidades e desequilíbrios, sendo considerada uma terapia holística.
Como exemplos
Óleo de Camomila – refrescante, indicado para dores de cabeça e depressão; Óleo de Cânfora – refrescante e estimulante, indicado em resfriados, reumatismos, acne, insónia; Óleo de Cedro – sedativo, usado para angústia, bronquite e tosse; Óleo de Limão – refrescante e estimulante, para problemas circulatórios, hipertensão e acne; Óleo de Eucalipto – liberta a cabeça, indicado para edemas e dores musculares; Óleo de Gerânio – refrescante e antiespasmódico, para problemas urinários e infecções virais; Óleo de Jasmim – relaxante e calmante, serve para tratar apatia e pele seca; Óleo de Manjerona – fortificante, indicado em enxaquecas, cólicas e equimoses; Óleo de Patchouli – relaxante,indicado na depressão e pele seca. Óleo de Pimenta Cinza – estimulante, usado em problemas digestivos, resfriados e diarreia. 
A obra que perpetuou o nome de Garcia de Orta 
O médico e naturista Garcia de Orta, escreveu o livro Colóquio dos Simples e Drogas e Coisas Medicinais da Índia, editado em Goa em 1563. Os Colóquios incluem 57 capítulos onde se estuda um número aproximadamente igual de drogas orientais, principalmente de origem vegetal, como o aloés, o benjoim, a cânfora, a cana fístula, oópio, o rui barbo, os tamarindos e muitas outras. Nesses capítulos, Garcia de Orta apresenta a primeira descrição rigorosa feita por um europeu das características botânicas (tamanho e forma da planta), origem e propriedades terapêuticas de muitasplantas medicinais que, apesar de conhecidas anteriormente na Europa, o eram de maneira errada ou muito incompleta e apenas na forma da droga, ou seja, na forma de parte da planta colhida e seca.
Ayurveda – Nome dado à ciência médica desenvolvida na Índia há cerca de 7 mil anos, o que faz dela um dos mais antigos sistemas medicinais da humanidade. Significa, em sâncrito, Ciência (veda) da vida. A medicina ayurvédica é conhecida como a mãe da medicina, por os seus princípios e estudos constituírem a base para, posteriormente, integrarem o desenvolvimento da medicina tradicional chinesa, árabe, romana, grega e japonesa. A medicina japonesa tem muita influência nos conceitos de ayurvédica, na alimentação adequada, fito terapia, yoga e outras técnicas, como as massagens. Uma das principais técnicas utilizadas pelos médicos e terapeutas ayurvédicos, por ser de baixo custo.
O termo Medicinas Alternativas ...é vulgarmente usado para descrever práticas médicas diversas da  alopatia, (sistema de medicina que combate as doenças por meios contrários a elas), a chamada medicina ocidental. Indicam que uma definição mais adequada para a medicina alternativa seria o conjunto de práticas de diagnóstico e terapia sem a apropriada validação científica, ou que sejam consideradas inacessíveis ao método científico experimental, o que neste último caso pode ocorrer nas práticas de cura via métodos metafísicos e espirituais, diferentes das práticas médicas convencionais. A Medicina oficial, tem como princípio adoptar novos tratamentos apenas quando os mesmos têm eficácia, indicações e segurança comprovados cientificamente. O uso de terapias por médicos sem o reconhecimento científico adequado pelos órgãos competentes é proibido. A postura da Organização Mundial de Saúde frente à utilização de tratamentos alternativos é a de orientar no sentido de ter cautela, devido ao facto de existirem muitos terapeutas menos escrupulosos seguindo teorias relacionadas a  crenças, que se valem da boa fé e falta de informação para ludibriar e obter benefícios próprios (?). 
Para alguns a “Medicina Alternativa”, está a ganhar um espaço significativo, soa como a última alternativa nos casos que a medicina oficial não dá respostas. Compreende-se e entende-se que não há soluções mágicas nas várias práticas de Medicina alternativa, não são mais que ciências que trabalham com o que o corpo e a mente podem proporcionar, não fazem milagres, embora comportem a sensação da salvação milagrosa, algo que está fora do nosso alcance e que a ciência não consegue explicar, porque é alternativa. É a esperança de algo oposto à Medicina Moderna, e, que esta não consegue fazer, a outra consegue.
Pelo que se entende que a medicina oficial se complementa com a medicina alternativa, por esta apelar e incitar comportamentos do foro psíquico levando a acreditar que a cura é possível. O doente segue à risca as prescrições de dietas, massagens, efusões de ervas, técnicas de acunpucultura, homeopatia, entre outras, para os mais variados sintomas, que se registam casos de sucesso cada vez maiores, também porque está na “onda”, na ”moda”, demasiada publicidade, da globalização na troca de experiências pessoais, que os mais desesperados, ou, com a esperança de soluções mais rápidas, não hesitam em experimentar. 
As mezinhas... são quase tão antigas como a existência da humanidade. Desde sempre os povos viveram daquilo que a natureza lhes proporcionava para alimento e para tratar dos males do corpo. Ao seu jeito, catalogaram plantas diversas que evidenciavam propriedades para combater os seus problemas de saúde, e foram-nas transmitindo às sucessivas gerações, chegando até nós. Foi a partir da conjugação de inúmeras plantas medicinais, não tóxicas, que surgiram grandes remédios caseiros que, tomados nas doses certas, faziam autênticos milagres. Chás infalíveis, poções mágicas e unguentos milagrosos, com efeitos cicatrizantes; anti-inflamatórios; anticoagulantes; antibacterianos; antivirais; analgésicos; antialérgicos etc., que passaram para segundo plano com o culto da medicina oficial, com os remédios alopáticos. No entanto existem ainda resquícios dessas práticas nos mais velhos, que, por força da vivência com os mais novos, as fazem perdurar nas nossas casas, ainda hoje. Quem não conhece os efeitos do chá de limão com mel para a gripe, batatas às rodelas na testa para alívio das dores fortes de cabeça? Curiosidade: o açúcar no sangue atrai os mosquitos e o fato de se comer alho afasta-os. Em miúda apareceu-me uma borbulhagem por detrás do joelho. Fui ao médico, fiz o tratamento prescrito e a borbulhagem em vez de diminuir, alastrava. Foi a minha tia Maria que me mandou ir à casa da ti Jezulinda que ficava no Carvalhal, quando lá cheguei começou ali à minha frente no chão de cimento da cozinha, a fazer o unguento, com palhas de alho, enxofre, sal e azeite, tudo amassado com o martelo. E logo ali aplicado com que cobriu toda a borbulhagem e tapou com uma compressa feita no momento. O que é certo é que resultou! Coisa em que a medicina oficial neste caso não teve sucesso. Se são mezinhas caseiras, se não estão cientificamente provadas, eu não quero saber – o que interessa foi o resultado, foi barato (grátis) e eficaz, e quando assim acontece, fazem-me dormir em paz! 
Não devemos subestimar a sabedoria popular, quem teve acesso aos estudos, tem um pouco a mania de gozar com este e outro tipo de " curas" inventadas da sabedoria popular apesar de existirem há séculos. Onde há muita gente há criatividade, e se existem estas mezinhas há muitos anos, de certeza que só se mantiveram porque funcionam mesmo! 
Hoje está muito em voga o uso deste tipo de medicamentos de origem vegetal, classificados como produtos naturais de venda livre em farmácias, herbanárias, e afins. São medicamentos que por não serem químicos, são amigos do nosso corpo, por não provocarem efeitos secundários. 
Contudo, existem muitas ervas medicinais de conhecido uso popular com propriedades tóxicas, que justificam todo o cuidado nas dosagens administradas, pois apresentarem contra indicações que podem despoletar complicações graves, sintomas de alucinações e mesmo induzir à morte. Quem não se lembra dos célebres envenenamentos do tempo dos romanos? Antes de comerem eram os provadores humanos que testavam se a comida estava boa ou envenenada. No meu tempo de miúda falava-se na colher de prata, se oxidava, havia veneno, ou com alho(?). Recordo que em minha casa, o meu pai por vezes também a usava no intuito de intimidar…
Lista negra das plantas medicinais mais perigosas: Arnica; Artemísia; Comigo-ninguém-pode; Espinheira; Erva de Sta. Maria; Fedegoso; Pinhão; Trombeta; Pó-de-mico; Buchinha-do-norte e Mamona e a planta do tabaco, o hábito de fumar provoca na maioria dos viciados do cigarro doenças graves e cancro do pulmão. Outra planta de cariz alucinogénico ou depressivo como a cannabis, a mais popular das drogas ilegais, é conhecida por diferentes nomes de rua: charro, chamon, liamba, erva, chocolate, tablete, taco, curro, gansa, hax, hash, maconha, óleo (óleo de haxixe), boi ou cânhamo. Os canabinóides são derivados da planta Cannabis Sativa e são considerados drogas psicadélicas (leves).
Os medicamentos à base de ervas podem provocar complicações no caso de um doente ter que ser operado. Os médicos deveriam sempre perguntar se estão a tomar qualquer tipo de remédios à base ervas quando estes vão ser submetidos a uma intervenção cirúrgica. É que estas substâncias podem causar complicações durante a operação. Por exemplo, o uso de suplementos com alho deve ser suprimido uma semana antes da cirurgia, porque pode aumentar a hemorragia e ter efeito nos restantes medicamentos. 
Outro caso a ter cuidado é a reacção de sobredosagem, porque se corre o risco de fazer uso de uma mesma substância na forma química e natural. Por exemplo, o ácido acetil salicílico e o chá de salgueiro; o chá contém a substância de forma natural, podendo ocorrer uma hemorragia.
Nunca se deve usar remédios naturais (como chás, cremes, etc.) sem o prévio conhecimento sobre as ervas utilizadas. Em todos os casos deve consultar sempre um especialista. Deve tomar cuidado ao manusear qualquer tipo de ervas medicinais, caso não as consiga identificar, e mantê-las longe das crianças.
Por fim, cuidado com os anúncios de publicidade de “charlatães”, curandeiros e vendedores da “banha da cobra” nas feiras e agora nas televisões. Não se deixem ludibriar com as aparências. Não corram riscos desnecessários; procurem sempre um serviço de atendimento certificado que dê segurança na aquisição do produto. Já me alonguei, recordo-me em miúda aos sábados no mercado ao ar livre, na vila, da presença do vendedor da banha da cobra, apregoava uma pomada para todas as maleitas. Comprei várias vezes, e de facto, aquelas caixinhas brancas sem rótulo, cujo creme aplicava sobre feridas, queimaduras, impinges, pele seca e até cortes, dava para tudo, modernizou-se no tempo, agora a dar cartas são outros vindos dos trópicos com lábia para as vendas...
As células estaminais... do cordão umbilical começaram a ser utilizadas em 1988 para o tratamento de um grande número de doenças, em Inglaterra. Em Portugal a Crioestaminal – Saúde e Tecnologia, SA criada em 2003, em Coimbra é pioneira e líder no isolamento e criopreservação de células estaminais do sangue umbilical. Estas células têm a capacidade de se diferenciar em diversos tipos de células tendo igualmente a capacidade de se auto renovar e dividir indefinidamente. O objectivo é a eventual utilização no tratamento de diversas doenças ao longo da vida do próprio recém – nascido e também dos seus familiares. Entretanto, em 2006, a empresa fundou a Genelab – Diagnóstico Molecular, para se dedicar ao diagnóstico de doenças em fase precoce por técnicas de biologia molecular, representando o primeiro passo para a diversificação do portefólio de produtos e serviços do Grupo. A empresa investe uma parte significativa das suas receitas no desenvolvimento de projectos de investigação, com o objectivo de alargar o âmbito de aplicações terapêuticas das células estaminais do sangue do cordão umbilical. O processo de recolha de células estaminais é totalmente seguro, indolor e não invasivo. A investigação sobre as células estaminais embrionárias despertou um debate na comunidade científica internacional sobre a licitude ética de matar embriões humanos com fins experimentais.
Por um lado, alguns cientistas justificam a morte dos embriões alegando que servirá para curar doenças ou simplesmente negam que os embriões concebidos sejam seres humanos. Por outro lado, especialistas explicam que não é necessário matar para conseguir as mesmas células, e defendem a vida na sua fase inicial. Entretanto, até agora muitos se perguntam por que um debate tão específico tem alcançado magnitude mundial, o que são estas células estaminais e para que servem. As células estaminais também conhecidas como células-base, ou germinativas - são células mestras que têm a capacidade de se transformar noutros tipos de células, como as do cérebro, do coração, dos ossos, dos músculos e da pele. Até ao momento foi confirmado que há células estaminais no cordão umbilical, placenta, medula óssea e nos embriões. Estas células estaminais estão contidas nos embriões humanos recém concebidos. Este tipo de células são chamadas pluripotenciais porque podem ser convertidas em praticamente qualquer órgão e permitem ao embrião desenvolver-se e converter-se num corpo totalmente formado. Cada blastocisto ou blástula, quer dizer, um embrião de cinco dias de concebido, é uma esfera oca formada por cerca de 100 células. As células da capa externa formarão a placenta e outros órgãos necessários para sustentar o desenvolvimento fetal no útero. Enquanto isto, as células internas formarão quase todos os tecidos do corpo. É por isso que, teoricamente, aprendendo como fazê-las crescer e manipulando-as, poderiam ser originados tecidos ou órgãos novos em laboratório para implantá-los em pacientes e curar doenças. Neste caso, a ciência aproveita as células que são desfeitas naturalmente pela mãe no momento do parto. Nem a placenta nem o cordão umbilical são vitais para o ser humano e podem ser utilizadas sem nenhum problema ético. Além disso, há experiências com células estaminais da medula óssea que têm alcançado êxito. Estas células são obtidas de bebés ou pessoas adultas que não são afectados por serem dadores. Ainda não se conseguiu provar êxito algum do uso de células estaminais embrionárias, entretanto há estudos de células estaminais de adultos que apontam fortes indícios sobre a possibilidade de utilizá-las para tratar determinadas doenças. A intenção dos cientistas é controlar as características de transformação das células-mãe para substituir tecidos e órgãos afectados por doenças ou por lesão a fim de restabelecer uma função normal. 
Por exemplo, nas pessoas com mal de Parkinson, injectam-se células-mãe na área do cérebro que controla o movimento muscular, onde a doença mata as células nervosas. Acredita-se que as aplicações terapêuticas das células estaminais também poderiam ajudar a tratar doenças como a diabetes, Alzheimer, os acidentes cerebro-vasculares, o enfarte do miocárdio, a esclerose múltipla, doenças vinculadas ao sangue, aos ossos e à medula óssea, assim como queimaduras graves com enxertos de pele, lesões da medula espinhal, e tratamentos para pacientes com cancro que perderam células e tecido por radiação e quimioterapia. 
Entretanto, tudo isto fica ainda no plano das promessas.

Vários médicos advertiram que estão ser criadas muitas expectativas a este respeito. A cura de todas as doenças não existe, por isso é totalmente inadequado aumentar as esperanças de enfermos e familiares dizendo-lhes que se fosse permitida a manipulação de embriões, se curariam muitas enfermidades, coisa que pode ser totalmente falsa. Os médicos provida estão a favor da pesquisa das células estaminais de adultos. Muitos já trabalham usando célula-mãe de adultos em transplantes de medula óssea para pacientes com cancro, sem afectar o embrião humano. A alternativa radica em extrair estas células de pessoas adultas. O problema é que não são tão abundantes e não se reproduzem tão facilmente como a dos embriões, mas a resposta é a necessidade de mais pesquisa nesta área para que isso seja possível. 

Fecho a crónica com enxerto do artigo do jornal 24 Horas de Clara Pinto Correia em “Histórias do meu Mundo” " Se é verdade que em todo o mundo já se fizeram cerca de 8000 de transplantes para acudir a problemas tão diversos como a diabetes, os linfomas, ou a anemia, o problema é que não vem dito em lado algum quantos casos de sucesso resultaram destas intervenções – e até agora, comprovados mesmo, até pelo teste do tempo, foram muito poucos. Eu sei, porque estudo estas coisas: as células estaminais do cordão umbilical do recém-nascido AINDA não são nenhum seguro de vida. E embora o processo de recolha e congelamento seja rápido e indolor, custa balúrdios aos pais incautos, sem qualquer garantia – para já – de que venha mesmo a funcionar quando for preciso. – Acho sempre indecente que se venda gato por lebre. Quando é a saúde que está em causa, acho mesmo revoltante."

Ora é bem de perceber esta temática e não mudar radicalmente a atitude perante a cura , anulando os químicos, em detrimento doutras substâncias, porque tudo o que se tomar poderá ter contra indicações, (?) e assim sendo, o certo é saber mediar não ir do 8 ao 80, no meu opinar.

FONTES
Bibliografia Wilkipédia – Medicinas Alternativas
Http://www.crioestaminal.pt/web/pt/main.aspx
Http://www.acidigital.com/clonagem/estaminais.htm
Http://www.amigosgospel.com/novo/viewtopic.php
Www.psicologia.com.pt/instrumentos/drogas/ver_ficha.php?cod=canabinoides
Fotos google

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A obra do Dr. Bacalhau na serra do Espinhal !

Lembro em adolescente a viagem com a minha mãe a caminho de Miranda do Corvo para degustar uma boa chanfana sem deixar de apreciar a brutal alteração da paisagem serrana depois da saída de Ansião a caminho da Lagarteira até às Taliscas e descida ao vale do Dueça, o deslumbre do serpenteado do rio em abundância de águas no inverno e de leito seco no verão em contraste ao forte costado a poente crespo de vegetação com salpico de casario em viragem ao cruzamento ao Pastor se mostrar  grande várzea verdejante em ligeira subida até à vila do Espinhal, e no caminho mais à frente da terra que ouvia desde criança falar "da bruxa da Godinhela" famosa na região de Sicó, ao que sei com a idade passou o condão e varinha mágica a uma familiar...
Já não me recordo como soube das "obras megalómanas na serra do Espinhal do Dr Bacalhau", quiçá  o foi em Ansião...O Prof. Dr. José Bacalhau eminente médico e professor da Universidade de Coimbra teimou construir uma unidade hoteleira de luxo no desertificado interior, dinamizando dessa forma o turismo na sua terra. Projeto iniciado nos finais dos anos 50 do séc. XX, no Monte Calvário, onde veio a encontrar oposição local acabou por decidir construir no sítio do Penedo Gordo, na Serra de Santa Maria no Espinhal, debalde não se deu conta que os terrenos onde foi edificada parte da sua obra não eram totalmente seus, e mais tarde  gerou outro imbróglio, solucionado em 1973, pela doação por parte da sua herdeira, à Junta de Freguesia.
Não deixa de ser interessante a extraordinária vontade que teve em adquirir pedras aprumadas de cantaria, colunas, fonte e outras, oriundas de várias demolições, entre as quais do Hotel Avis, onde Calouste Gulbenkian viveu em Lisboa, o que daria a este edifício um cariz erudito, também do antigo hotel Sherton e de um palacete na linha do Estoril, como antes, o que ficou conhecido como o "Rei do Lixo" compilou na Quinta da Trindade no Seixal, o que restava de mosteiros abandonados, estátuas, uma grande pedra de brasão e também mandou edificar uma pequena torre com ameias

As obras foram iniciadas nos anos 60 do sec. XX, mas nunca chegaram a ser concluídas. Quando escrevi pela primeira vez aventei a falta de capacidade financeira, que foi destronada pelo comentário de Ritaki em 23.05.2019 ; Não sei se terá sido por falta de condições financeiras. O Dr. Bacalhau, o velho, por exemplo, deixou um salário vitalício para o porteiro. O problemas foi mesmo a revolução. O meu pai ainda tentou, na altura, entrar em contacto com o governador civil em Coimbra para acabar com aquela pilhagem mas em vão.
Posteriormente, para homenagear o seu "tutor" e tio, juntamente com outros indivíduos, angariou dinheiro de toda a comunidade e construiu as represas Naturais do Dr Bacalhau que foram, mais tarde, mais uma vez, património reclamado como projeto da autarquia.
Pelo que sei, a primeira sala é a sala dos espelhos, espelhos estes que eram venezianos e que eram monstruosos. Existem estruturas que foram construídas posteriormente pela Associação Le Patriarche onde habitavam pessoas com doenças infeciosas (sida). Apesar de tudo as pessoas da associação patriarche eram simpáticas e conviviam com as populações locais. Belos tempos.


O grande plano turístico no interior veio a merecer uma singela inauguração no dia 23 de Maio de 1968, numa Quinta Feira da Ascensão com uma reunião de Confrarias da região, presidida pelo Bispo - Conde de Coimbra, tendo sido um sucesso social.

Em  agosto de 2023
Entrada
Com a morte do Dr. Bacalhau em 1972, sem descendentes diretos, deixou a " D. Francelina de Jesus, sua governanta e fiel servidora, a legatária em preterimento dos restantes familiares a herança da propriedade.  Sendo uma pessoa humilde e com a melhor índole, resolveu-se pela doação do imóvel e pela venda do mobiliário para angariar os fundos necessários para a construção de uma Biblioteca Museu Prof. Doutor José Bacalhau, o que nunca passou do projecto... A Câmara Municipal de Penela em 2010 começou a restaurar e catalogar o espólio do Doutor Bacalhau, julgo estará depositado na Casa da Cultura do Espinhal (?). 
No entanto após o 25 de abril,  por o empreendimento estar localizado estrategicamente no colo da aba da serra com uma vista deslumbrante sobre os outeiros a poente do Rabaçal e Ateanha , foi vandalizado e saqueado de tudo o que era possível retirar do edifício central: ferragens, estatuária, estuques decorativos dos tetos, espelhos, mosaicos, madeiras, materiais de construção e, …em 1977 visitei o local , o portão estava aberto com entrada para o farto  terreiro,  ao meio uma grande fonte em pedra antiga , e em redor do lado esquerdo um aglomerado em banda seria alojamento do complexo turístico, o edifício central mostrava-se com fileira de arcadas no r/c, ao centro escadaria monumental em pedra, ladeada por colunatas encimadas supostamente pelos vasos em pedra tipo cálice ( casas baixas na vila, sem qualquer graça, vaidosas com os mesmos em ostentação nos jardins , sem perceberem o cenário desenquadrando pelo tamanho descomunal... Pior, a Junta de Freguesia nada faz para os recuperar (?) fácil perceber foram furtados daqui - segundo se fala, sabe-se que o paradeiro de parte do espólio anima de facto alguns jardins de particulares. A frontaria do edifício central lembrava um panteão romano com óculo, mas afinal mais tarde  noutra visita ao Espinhal, foi fácil interpretar que é semelhante à frontaria da capela desativada de 1893 na vila, não sei se morou perto dela e daí o prazer de a copiar (?).
Outro local melhor não haveria do que esta capela, com merecido restauro, para nela albergar o espólio do Dr. Bacalhau, o seu pequeno grande Museu, que lhe era bem merecido, mas sou eu a dizer.
Julgo será a capela do Senhor dos Aflitos (?) Foto tirada em 2014
Foto no site da Junta de Freguesia do Espinhal; tiraram as grades das janelas e caixilhos,  a meia lua em ferro forjado da porta, a placa em pedra com o nome do Largo? Os canteiros e supostamente os pináculos no tardoz.
                             
Quando entrei no edifício central deparei-me com tamanha ruína de fazer dó, só de imaginar  os outrora estuques trabalhados que tinham sido cuidadosamente retirados, o mesmo de mosaicos e azulejos, o que mais me impressionou a magia como o foi conseguido, tendo sido encastrados no cimento (?), que lhes vi as marcas, o salão de baile deveria ter sido fantástico pela beleza do estuque trabalhado em relevos com grinaldas nos tetos e por cima das portas, que disso era nota evidente as marcas,  paredes estucadas em marmoreado, vitrais, ferros forjados com desenhos de finura delicados, corações, sítios de espelhos, fez-me recordar o salão do palácio de Queluz, virado a sul uma torre encimada com pedras trabalhadas a fechar com ameias, uma carateristica de todo o empreendimento que a ela se perfilha e no mesmo remate o torreão do edifício principal.

O contraste do empreendimento no antes  retiradas  do blog Ruinarte
Contraste com o agora
Para sul um pequeno lago a contornar o rebordo da serra ladeado de pedras com buraquinhos, memórias do passado marinho que neste concelho e , de Ansião, ainda são muito notórias. Julgo ainda há outro lago artificial maior que chegou a ter gaivotas para se pedalar (?).
Nos finais do passado século, instalou-se no espaço, o Patriarche - instituição para recuperação de toxicodependentes, que se propuseram a recuperar o local, mas supostamente o deixaram ainda em pior estado, voltando o espaço de novo ao abandono. Recentemente entregue à Associação Portuguesa de Medicina Preventiva, sem fins lucrativos, com todo o mérito e esforço está neste momento a recuperar todo o complexo, onde se prevê a instalação de uma clínica de medicina preventiva, projeto da APMP, na serra do Espinhal, incluirá: Total de 25 quartos ; consultórios médicos ; gabinetes de fisioterapia e hidroterapia; sala de conferências : restaurante vegetariano; piscina coberta para hidroginástica ; ginásio e capela. Também pretende promover programas como:10 Dias para a saúde ; fins de semana saudáveis; estadias prolongadas ; programa de reabilitação cardíaca ; consultas médicas externas ; medicina física e reabilitação em regime de ambulatório e curso de promotores de estilos de vida saudáveis. Tudo isto tem a finalidade da prevenção e cura de enfermidades, inserido em local estratégico e de grande beleza, rodeado de grandes áreas florestais e de montanha, de aragem perfumada dada pelas flores silvestres; urze, alecrim, rosmaninho, esteva , carqueja, também pelo eucalipto e pinheiro com paisagens verdes de contrastes que convidam ao exercício físico e a passeios por caminhos pedonais, sempre rodeado pela natureza em estado puro.
As obras de recuperação já decorrem há cerca de cinco anos, a maior parte da mão de obra utilizada no restauro dos imóveis, provém de pessoas que voluntariamente dão o seu contributo a este projeto, que tem muitas semelhanças com aquilo com que o Dr. Bacalhau sonhara para este local. Embora tardiamente, se fará justiça ao projeto inicial de grande semelhança ao sonho realizado pelo medico fazendo fé e acreditar que onde quer que esteja algures no horizonte, velará pelo seu sucesso!

Curiosidade -, numa feira de velharias em Évora encontrei bilhetes-postais dos CTT de 1895,  faziam parte do espólio de uma biblioteca vendida a um antiquário que durante anos bateu esta região à caça de tesouros, e muita coisa não deveria sair das suas terras, por serem tesouros das suas gentes.

FONTES

http://ruinarte.blogspot.pt/2010/10/as-obras-do-dr-bacalhau-espinhal.html

sábado, 9 de janeiro de 2016

Maças de D.Maria casório da família de Acílio Alves da Costa

No livro escrito no inicio de 1909(?) por Alberto Pimentel, sem o saber se tem alguma ligação à casa nobre dos Pimentéis Teixeira(?)  de Maças de D. Maria disse desta vila que está situada no alto da serra de Santa Helena, com orago a S. Paulo, com 2.825 habitantes, fazendo parte integrante das Cinco Vilas até 1836 e até 1855 cabeça de concelho, fala ainda do uso das murças-, capas de burel com muita roda que descem abaixo da cintura, com capuz que agasalha do frio frigíssimo que sopra das neves do alto Trevim. 
O burel é um tecido artesanal português feito totalmente de lã preta, proveniente dos rebanhos que pastoreavam estas serras.
O preceito do burel-, depois de carmeada e cardada a lã é fiada em mecha e torcida com roca e fuso, para dar novelos de fio para ser dobado, depois a lã é urdida ao passar pela urdideira, passa no pisão , uma tarefa de bater e escaldar a lã para tornar o pano mais duro e apertado em teias pisoadas, que no tear se transforma em xerga, passa pelo batano, para se transformar finalmente em burel, que é um tecido muito resistente de fabrico caseiro, que o alfaiate fazia casacos, calças,  coletes e capas, que estas, as mulheres também as sabiam fazer  e capuças, por aqui chamadas de murças com capuz, cuja origem se julga vinda do médio oriente dada pelo uso dos mantos que cobriam muitas Imagens de Santos, que no tempo se foi alterando pelas gentes trazida pelos árabes.
Na alusão a tempos de antanho havia uma maioria de casamentos contratados, entre famílias por conveniência, os pais é que escolhiam e não os noivos-, mostro um prato de faiança falante com a legenda Amor Ingrato, fabrico de Coimbra ou Tavarede da fábrica Senhor do Arieiro (?).
Eis que em dia chuvoso me deixo surpresa na leitura descritiva destes casamentos, da parte festiva do trajeto, da igreja à residência dos noivos, num trecho extraído do Grupo fechado de Maças de D. Maria, do facebook partilhado pelo Henrique Dias retirado do Guia de Portugal de Raúl Proença escrito por volta de 1920.
https://www.facebook.com/media/set/?set=oa.1007902475919965&type=1
 O texto exalta a ler a parábola  do óbolo da viúva segundo (Marcos cap. XII, v.41-44).
"Jesus e seus discípulos estavam reunidos defronte ao grande templo de Jerusalém, perto do vaso onde se recolhiam as oferendas – o gasofilácio. Muitas pessoas iam e vinham, depositando ali seus donativos. Eram moedas, tecidos, peças de ouro e prata, jóias, enfeites variados, tudo muito bonito e caro. O Mestre observava.Dali a pouco, uma pobre mulher viúva aproximou-se do vaso de oferendas e depositou nele, timidamente, duas pequeninas moedas no valor de dez centavos cada uma. Os ricos em torno se riram da humilde oferta, e ela se afastou silenciosamente, talvez envergonhada pelo pouco que dera. Jesus, porém, observando-a, chamou os discípulos e lhes disse: – “Observem esta mulher. Digo-lhes que, mesmo sendo tão pequeno o valor das moedas que deu, ela ofereceu muito mais que todos. Os outros deram muito porque tinham muito, e ainda lhes sobrou muito, depois de haverem feito a sua oferta. Ela, porém, deu tudo o que tinha, deu o que lhe era necessário, e não as sobras. Assim demonstrou o seu amor e a sua boa-vontade, e por isso e sua doação é muito preciosa aos olhos de Deus.”
No Sacramento do matrimónio, no amor humano, como no divino-, a misericórdia é fundamental.
Foto retirada do google
Seja o dissertar verve a mostra de duas belas fotografias de um casamento  em Maças de D.Maria, datadas do início do século XX (1905-1910) a rondar a altura que o Alberto Pimentel passou por aqui e conviveu com as suas gentes, e mais, a meu ver,  poderia ter deixado escrito em credenciar a terra(?). 

Foto cortesia de Rui Batista
Em flecha assim acordada a recordação de casamentos que  vivi como convidada, para logo de seguida me deixar completamente rendida em contemplação, que me deixa deslaçada em tremenda e frenética felicidade, por  a foto merecer honras de Museu, ao evidenciar os costumes e usos das suas gentes à época; a noiva com teara ornada de grinalda com flores presa em fausto e volumoso véu, vestida de branco na sua virtude, de menina e moça, ornada de grande gola, já nas mãos é imperceptível perceber se tem algo? O noivo vestido de fraque pelo corte na frente do casaco em forma redonda, usa colete e camisa branca, outros homens se apresentam de calça e jaqueta, ainda alguns de fato, não faltam homens vaidosos de laço escuro, outro sentado com ele branco, e os há com gravata,  e muitos de lenço branco na lapela, onde a peça fundamental no traje é o relógio de bolso, com corrente em oiro rematado por medalha, já as mulheres denotam o uso de vestuário diverso; saias de corte enviesadas, compridas, ornadas com barras em relevo ou com aplicações, engalanadas de blusas requintadas de mangas abertas em folhos, uma outra se mostra de gola pequena, e há uma de gola grande debruada a passamanaria, em cordão de ondas quebrado, outra de colarinho alto no remate pregadeira ao pescoço e ainda de cordão a dar ênfase ao altar enfeitado do vistoso colete em pele que lhe cobre o peito e os ombros com lapela, todas na maioria se pavoneiam no enfeite a oiro, sejam brincos, fios, cordões e medalhas. Poucos homens de cara lavada, na maioria usam bigode farto, a imitar o rei D. Carlos , no tempo que por aqui passava na companhia de Alfredo Keil , nas suas voltas em caçadas ou em romaria, entre Ferreira do Zêzere até ao Avelar, outros homens com barba e ainda há quem se apresente de patilhas grossas, as chamadas suíças, curioso só um homem com chapéu de coco, e uma mulher com lenço pela cabeça, ainda outra com ele descaído ao limite da nuca, as mais idosas dos convivas. Se revelam graciosas e puras as aias ou damas de honor, crianças em imitar a noiva vestidas de tearas, apenas uma delas, de cabelos soltos, supervisionadas por três criadas vestidas de grande avental alvo de peito alto. Destaca-se na primeira linha, ao cimo, um homem que descansa o braço no ombro de outro
( eventualmente será um filho a abraçar o pai ?), seja este fechar em oiro da descrição, onde os afetos , que já eram importantes nesta época, o são bem visível no noivo, que enfiou o braço na sua noiva, o que evidencia casar por gosto, e não por influência dos progenitores,  na frenética vontade de a levar para casa e a abraçar no recato do lar.

Foto de cortesia de Rui Batista
Nesta segunda foto vislumbra-se a igreja antiga, onde a comitiva sem peneiras, se peneira em fazer uso do palco do adro, para presentear os convivas após a cerimónia com requintado banquete, ali ao ar livre na clareira das árvores frondosas, onde não faltou mesa engalanada com fausta toalha branca rendada, que se viu repleta de garrafas de vinho com rótulo,  e outras de vidro relevado, de corpo bojudo da Marinha Grande, devem haver também licores de laranja ou tangerina, e no lamento por não conseguir discernir a doçaria, seja o palpite  haver cestas de roscas de azeite e de vinagre, ferraduras ou fogaças aromatizadas de erva doce, queijadas de chicharo, merendeiras de nozes e passas de uva, cavacas de cova para se encherem de vinho na vez de copo, sendo o bolo dos noivos um grande Pão de Ló húmido de tempo infinito no bater da massa, de muitos ovos, cozido em forma de alguidar não vidrado e no final coberto com claras batidas em castelo para de novo na quentura do forno alourar, que se comia no preceito em  se tirar um pedaço com a mão -, já de salgados; lascas de presunto que esta gente sabe curtir e no mesmo palanganas com enchidos; morcela assada  com cominhos, chouriça picante com colorau e  ainda farinheira, e outras com queijos fatiados; curado, meia cura ou fresco, de sabor a erva de Santa Maria, revolto de espargos tenros apanhados pelos pinhais, a omelete amarelinha e verde com receita aprendida pelos "ratinhos nas ceifas do Alentejo", e cachola, a carne de porco com fressuras  e sangue fresco da matança do porco para a festa, e aqui no tacho de barro picado de garfo em punho no degustar, e claro o bom pão de trigo cozido em forno de lenha, estando os noivos ao centro, rodeados pelos convivas sob os olhares enternecidos daqueles que se atropelam em amontoado na porta da igreja, para não deixar de apreciar tão deliciosa imagem ainda que a salivar, espantados com a arte do fotografo no registo deste momento deixado para a posteridade, supostamente jamais por eles assim vista tanta farta riqueza de boda, nem alheios miúdos vestidos de barrete, outros de saco de pano a tiracolo, e ainda alguns de olhos pregados na mesa, no mesmo estar mulheres vestidas de saia e avental, com lenços atados na nuca ou ao alto da cabeça com franjado e na roda das suas saias crianças achegadas, que se regalam em consolo com as criadas de cestas de verga branca que lhes distribui rebuçados de mel, feitos de véspera na cozinha em caçoila de cobre aromatizados de limão, enrolados nas sobras do papel fino de enfeitar o arco dos noivos. Já atrás do banquete se fizeram à fotografia duas carroças com três homens sentados no poleiro em cada uma delas-, na da esquerda se apresentam vestidos de chapéu de aba larga , já na outra despidos deles, mas na mesma armados de pau, e de rédeas presas nas mãos, supostamente cada uma pertença à casa dos pais de cada um dos noivos-, donatários compadres que em casa se abasteceram em levar na carroça, além da mesa, cadeiras, repasto dos comes e bebes para a boda, e o arco dos nubentes, enfeitado de bolas de papel fino, amarfanhadas nas pontas com flores, e ao alto pendureza de fitas de seda soltas ao vento a imitar o estandarte da felicidade, ditado ao rubro por todos os presentes de cariz feliz ao adro, onde é evidente a superior qualidade das cadeiras, a reivindicar a madeira de cerejeira, árvore tão carteristica de Maças de D. Maria, criadas com perícia de mãos por artistas de marcenaria, de alto gabarito  e de valor reconhecido,  homens da  vizinha Aguda.
Por ser tempo primaveril já não haviam cogumelos, muito menos pintavam as cerejas, nem haviam camélias.

Cavacas para beber o vinho
Neste porquê  fácil de se perceber, seja na forma do vestuário, da riqueza do mobiliário que ao tempo só o havia em casas ricas, no mesmo preceito a  rica toalha, os predicados da boda pela variedade, e ainda vinho de qualidade, engarrafado, que nas aldeias da região, o povo sendo na maioria pobre, o punha frugal em cima das arcas, outros mais remediados faziam uma pequena boda para os mais chegados com cadeiras  e bancos, por serem peças em casa escassas e rudimentares em pinho; nem usavam garrafas, eram infusas de cerâmica, sendo por estas ocasiões de festa a loiça adicional comprada em vésperas na feira do Avelar ou Ansião (  terrina para a sopa,  assadeira de barro, palanganas e pratos para servir...em 51, o avô do meu marido na Moita Redonda (Pousaflores) comprou 12 pratos e duas travessas  Sacavém, um grande prato com um galo pintado do Outeiro, Águeda, que me veio a oferecer, e três terrinas, por falta de loiceiro esteve anos arrumada numa prateleira suspensa no soalho da  adega. As oferendas dos convidados eram rosquilhas feitas com espigas de milho, prato com chouriças, queijos, taleigo de farinha, azeite e vinho, o que tinham de mais abundante nas suas casas.
A fazer fé na opulência do banquete que as fotos documentam-,do fausto como se apresentam os convidados com direito a fotografo que veio de Figueiró, é de acreditar que a receita recolhida do obúlo ou espórtula, pelos noivos seria abastada.
O fotógrafo é indicado como Manuel S. Telhada de Figueiró dos Vinhos, e o Padre Manuel Mendes Gaspar.
Agradeço incondicionalmente ao Rui Batista a autorização da publicação das fotos, pois as fotografias em verdade pertencem supostamente por herança, à sua mãe e ao seu tio.
Faiança portuguesa alusiva aos noivos 
Em complemento da beleza  das gentes e do banquete ao adro, o saltitar em prazer e rever como era a igreja antiga antes da remodelação.

Foto de Beatriz Rodrigues
Apresentação do autor, Élio Marques.
A Igreja de Maças de D.Maria... o antes e o agora.
A contracapa
Obviamente que estas fotos  vem credenciar vivências de requinte na ilustração do passado desta terra que dignifica o presente , e o enaltece ao serem partilhadas.
Voltando a  citar Raul Brandão

Como nota final falar do Casal Novo que se ergue ao alto da colina de Vale Tábuas, em dia de festa do Senhor dos Aflitos, onde me mostrei apeada um domingo de calor da carreira, antes da curva em "S", na companhia da Ti Florinda e a filha Tina, minha amiga, vizinhas de Ansião-, mulher de gosto apurado e coscuvilheiro aqui devota na mira encontrar noivo rico para a sua morgada? Atravessada a ribeira d'Alge de parco regato, tomámos o caminho sempre a subir até que deixei de ver as cúpulas dos eucaliptos que emergiam das profundezas do vale de xisto reluzente e se erguiam pelos costados íngremes, para no alto enxergar com clareza salpico de aldeias perdidas, em brutal contraste de outeiros e serranias, enquadradas em belo cenário idílico, que me deixou o coração dilacerado em total êxtase pela beleza deslumbrante infinita-, supostamente o Mestre Malhoa aqui nunca veio (?) aquando na sua habitual passagem por Almofala a caminho de Chão de Couce e o devia-, quiçá, assim  hoje teríamos obra famosa alusiva a esta terra -, fosse o mote captar o olhar intrigante em glória humilde, destas mulheres vestidas de murças, das fogaçeiras, ou de mulheres de descendência "Ribeirinha" belas de corpo em cabelos fulvos, porque motivos nesta terra não lhe faltavam, no enfado rivalizar com o quadro do Fado de Lisboa! 
Fotos de fogaçeiras retiradas da página do facebook das Cinco Vilas
Procissão do Senhor de Aflitos com as fogaças ou tabuleiros à cabeça
As fogaçeiras  uma tradição típica das Cinco Vilas, em finais da década de 30, na foto abaixo a minha mãe, ainda criança, a segurar o tabuleiro ou fogaça ao adro da igreja de Pousaflores com os irmãos, interessante a irmã mais velha na direita, a Maria Augusta, ao tempo estudante em Coimbra que se apresenta de chapéu.
Anos mais tarde havia de voltar ao Casal Novo a casa de uma criada em 74-, a Georgina que viu a mãe partir cedo e teve de ir servir, boa rapariga um pouco mais velha do que eu, a puxar genes à belezura da "Ribeirinha" , rapariga loira que gostava de se baldar ao trabalho, em prol de namorar ao muro do adro, por isso um dia lhe pregámos uma partida no convite para ir às casinhas que eu e a minha irmã tínhamos para brincar com os vizinhos, onde não faltava a adega com pipos feitos de lata do Milo, ingénua na loucura da festa se deixou enfrascar em demasia e assim ludibriada,  sofria com o estômago revolto, a regurgitar em vómito a sopa, em rasgado pranto a entoar gritos  " a minha mãe sempre me dizia, Georgina, não comas sopa de grão" mas na glória me ensinou o que as mães deveriam ensinar às suas filhas, apesar de usar termos em calão, que mais tarde fui eu a enganada ao ler o primeiro livro sobre sexo, que o meu namorado me ofereceu, e veio a ser o meu marido, por ser indecifrável o conteúdo, sobretudo palavras que antes nunca ouvira e com isso me deixei de estar agoniada, sendo bem fácil de perceber, no livro estavam escritos os nomes verdadeiros, e os que ela me ensinou eram os da gíria, falados na boca do povo, que me deixou de cabeça baralhada...Infelizmente esta boa criatura não teve a sorte que merecia e veio a morrer cedo.

Agradecimentos:
Em especial ao Henrique Dias pela disponibilidade e prontidão em ter sido o vetor de ligação aos visados, no pedido que lhe formulei para solicitar autorização de publicar as fotos.
Esta crónica só foi possível compilar e romancear livremente, graças à cortesia da partilha das fotos pelo que é justa a homenagem à eloquente gente do Casal Novo de Maças de D. Maria, a Família de Acílio Alves da Costa que morou em Portas de Além ao Casal Novo pelo continuar abastado denotado já no passado da sua genealogia e aqui evidenciada, adstrito ao gosto cultural dos descendentes no presente, Rui Batista, um marco histórico para as gerações vindouras.
No mesmo agradecer ao Élio Marques pelas fotos da igreja que fazem parte da capa e contacapa do seu livro.O meu bem haja incondicional também a Raul Manuel Coelho, e outros intervenientes.

Fontes
http://maritapianaro.blogspot.pt/2011/12/parabola-do-obolo-da-viuva.html
Fotos Google
Fotos da página facebook Cinci Vilas e de Maças de D.Maria
Wikipédia, burel

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Os manos da minha mãe Ricardina da Mouta Redonda, Ansião

Recordar a infância da minha querida mãe nascida em 1934 na Mouta Redonda, na freguesia de Pousaflores no concelho de Ansião, a sorte ter nascido num tempo de pré menopausa, naquele tempo dizia-se "fora de tempo" em que os cinco irmãos já se mostravam casadoiros, tendo vivido com muito mimo.O seu nome foi-lhe dado pela madrinha Ricardina, das Ferrarias, colega  dos meus avós, com banca de paneiro na feira de Ansião, do Avelar e outras.Todos os anos pela Páscoa lhe dava um corte para fazer um vestido. 

O meu grande amigo Arnaldo Silva de Torre de Moncorvo
Amante fervoroso das fotos antigas com recolha de grande manancial, do primeiro fotografo da vila hoje guardadas no seu Espaço  Museológico da Fotografia do Alto Douro, segundo ele é um gesto talentoso guardar e publicar as raízes. Para os menos informados, colocava-se um pano branco aplicado numa parede. E era esse o cenário. E porquê? Para o fundo ficar certo e para não localizar o local onde foram tiradas, segundo o meu primo Afonso Lucas.
Na fotoà la minut será ela na esquerda de mão dada e do outro lado a irmã da minha mãe, a Clotilde, e a outra possivelmente será irmã da madrinha(?).
Destaca-se o corte de cabelo "à tigela" corte do barbeiro Manuel da Serrada da Mata e os fatos elegantes feitos em casa à época; a minha tia Clotilde de vestido de seda branco com bolinhas a condizer com laço, bolsinho com botão, cinto e fivela.As outras com belas saias, com cortes para lhes dar elegância no cair com casaquinhas de pregas nos ombros, sendo que o vestido da minha mãe se mostra escuro, de corte pesado com pequena carcela de botões e um cabeção ao peito, para a tenra idade, mas deveria ser para o contraste do cabelo muito loiro e olhos verdes...
                                            
A mesma foto retocada pelo meu primo Afonso Lucas
Foto retocada pelo meu primo Afonso Lucas
A  minha mãe Ricardina, de vestido estampado com um lenço de mulher, porque deveria estar calor,  com a irmã Clotilde na esquerda e na direita de mão dada com a Maria Augusta, Maria da Luz, sempre a tratei por Titi e a tia Rosária. A Clotilde com bela blusa com duas carreiras de  favos que ditam graciosidade a imitar elásticos, os mesmos favos mas em painel no vestido da Titi de meia manga, elegantíssimo e a blusa de laçarote da Rosária.
Festa em honra de Nossa Senhora das Neves em Pousaflores
O  irmão da minha mãe Ricardina, o Alberto à direita, a Clotilde, a minha mãe  a segurar o tabuleiro da fogaça, como manda a tradição, a Rosária e a Titi,  todos vestidos de fato à exceção da minha mãe vestida de sainha pregueda com blusa e laçarote nos cabelos, já a Titi que já estudava em Coimbra se apresentou com chapéu, afastado o Carlos de mão na algibeira.

A Clotilde com um bonito vestido estampado de virados

Casamento na Vidigueira da Titi com António Paz com a presença dos pais Zé Lucas e Maria da Luz
Comunhão solene em Pousaflores
A minha mãe Ricardina vestida no tradicional imitar  de anja ou noiva pura, de mãos juntas, serena, na cor da pureza do branco,  véu e  grinalda  segura com teara rematada por flores e laço ao pescoço. 
Com 18 anos madrinha da sobrinha Isabel Paz com o tio paterno Adolfo
Foto para o seu primeiro bilhete de identidade
O casamento dos meus pais no dia 10.02.1057 na igreja de Pousaflores
Estou na barriga da minha mãe, nasci a 5 de maio,os convidados vieram numa camioneta de aluguer

8 de agosto de 1957 dia do meu batizado na varanda da casa com a minha mãe e avó Maria da Luz

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