sábado, 25 de junho de 2016

Festival do chícharo em Alvaiázere 2016

Mais uma semana por terras de Ansião. Depois de um bom cozido que a minha mãe nos brindou à chegada, a minha irmã lançou-me o mote à sobremesa " porque não levas esta tarde a mãe a Alvaiázere, ao Festival do chícharo?". 
Carro de mão em madeira com chícharo
De imediato marquei encontro às 5 horas, mas cheguei por volta das 4, na premissa ir mais cedo no regresso ainda de dia, já estava quase pronta, ainda assim lança-me um repto em desagravo " não estou com muita vontade..." ripostei em voz grossa-, não seja por isso, se não queres ir não vás por nós, que também estamos cansados ...nada mais do que o costume do jogo da imposturice, versus idade farta no uso de voz impulsiva em teimosar abrir a boca sem pensar, sem apelar ao bom senso, com isso perder oportunidades, ora quase sempre por casa, o certo era saber aproveitar convites , o que acabou por fazer sem favor, no final se mostrava muito feliz, demasiado emocionada, seja também pelo passeio equestre que a brindei e que a deixou completamente nas nuvens...
Agrada-me substancialmente a paisagem do sopé da serra de Alvaiázere a partir do Casal da Rainha e Vale da Couda, onde instantaneamente parto na divagação medieval, seja a pensar nos primeiros reis e rainhas deste nosso Portugal, nesta região andantes assim como outros viandantes reais e nobres,  como o Chantre de Évora que em 1625 veio visitar o Santuário de Nossa Senhora dos Covões, relatado em crónica por Severim Faria, considerado por alguns como o primeiro jornalista, visitou também Maças de D. Maria onde comeram e beberam em casa de uma sua irmã, também do Conde de Médicis a revitalizar forças depois do abandono da amada que se baldeou para a corte de Versalhes, cujo pai rico lhe abonou a viagem a Portugal em 1669, e pouco mais mereceu honras estas terras em crónicas, sendo que também houve gente que sentiu este ar fatal, remediados com destino ou sem norte, por certo todos sentiram a agrura da pedra calcária nua e crua esculpida pela erosão e pelo vento que o sol e a chuva enegrece e serpenteia de cinzento semeada à toa por todo o lado e em fartura de todos os tamanhos, terra quase estéril e pobre que dá vida a vegetação rasteira dominante de alecrim e tomilho, a erva de Santa Maria de aromas densos que se concentram no vale estreito e cego de costado abrupto  na ribanceira da estrada e no  costado em  frente se revela num quadro com palcos de meia lua debruados a muros de pedra seca, terreiro de oliveiras raquiticas deixadas pela herança dos romanos-, idílico contexto serrano que me deixa queda e muda, sem palavras eloquentes que descrevam este apego a estes locais de elixir exótico que sempre me apetece em todas as vezes descobrir, sentir e amar sem limites, cada vez mais. 
Em cheganças avistei cavalos para o passeio equestre ainda tão vivo na região
Entroncamento irregular(?) merecia uma rotunda para distribuição do trânsito . Na vinda do recinto da festa para se cortar para Ansião, fica-se sem saber se é permitido cortar logo à esquerda(?), ainda por cima estavam dois polícias e por via das dúvidas tomámos a direção da saída para Relvas...engate desengatilhado em suposta contra ordenação !

Não sei o nome do orago desta capela mesmo no cento da vila, se outrora foi incorporada em quinta (?)
Defronte do adro da capela a minha mãe prestes a completar 83 anos
Não resisti a tirar uma foto junto desta charrete de passeio que estava aqui estacionada
Mesmo no inicio do certame da festa  não faltava o tradicional peixe do rio frito
Crianças aproveitam para passear na albarda de burros em cima de mantas do Ribatejo
Tenda da confraria do chícharo onde decorriam entrevistas aos feirantes participantes
O estádio  municipal com vista privilegiada a poente para a serra
Inevitável era conhecer o Museu. Perguntei a um segurança privado sediado no recinto sobre a sua localização, que não sabia, mas logo entrou num estabelecimento para me ser dada a indicação.
Há falta de sinalética.
Percurso pedonal  a olhar o património edificado. Gosto sobretudo de fachadas, ferro forjado, azulejos e chaminés, precisamente ao contemplar uma de grande porte com um círculo relevado eis que me deparei com um imprevisto-, abominável à vista,nada mais do que um fausto pinheiro bravo de porte nascido num beirado de telhado, numa grande casa de gaveto com frontaria para a Rua principal .Gostaria de ver a sua raiz onde se alimenta...
Na Rua principal uma bela casa estilo Art Deco que a minha mãe me falou ser de uma família rica do Carregal, que tinham um Lagar.
Os silêncios quebraram com o trepidar em trote de cavalos-, uma charrete com chaffeur vestido a preceito e atrás dois gaiatos na mesma.Passeio equestre a favor dos Bombeiros Voluntários-, 1.5€ por pessoa.
Casa sóbria com pormenores de interesse foi de um grande amigo do meu pai, supostamente do Tribunal(?) mas a minha mãe lamentavelmente não se lembrava do seu nome.
Nesta casa viveu hospedada a irmã da minha mãe, Maria da Luz, quando veio trabalhar para os Correios.
Avistei um pórtico ao cimo da nova estrada para a rotunda de acessibilidades da SCUT, a rivalizar os romanos que nesta terra deixaram testemunhos, e Rominha.
Continua a hipocrisia e a falta de interesse do poder central em fazer o que quer com este povo em relação às acessibilidades, sendo que continuam a passar a quilómetros da vila, quando desde os romanos, época medieval e dos mouros, as vias privilegiavam o centro nevrálgico de Alvaiázere.
Alvaiázere, terra onde um carrasco de Inês de Castro se refugiou para ganhar forças antes de rumar a Espanha.
A vila expande-se . 
O Museu localizado a sul, junto do Cine Teatro no gaveto a poente, desnivelado a norte, escondido  pelo muro da primitiva quinta, ao nível dos telhados. 

Gostei muito do enquadramento das janelas abertas nos muros como era uso no século XIX,  se as fizessem a norte, daria mais visibilidade ao Museu.
A frontaria com espelhos de água a rivalizar o antigo tanque, que bem o poderiam ter deixado, por ser tradicional nestas terras.
A casa primitiva da quinta, não sei o nome, bem o perguntei aos funcionários, fatalmente o desconhecem,  falaram-me que era do "gata branca", supostamente alcunha do dono...
Ao lado do edifício primitivo para sul foi feito outro para o Museu de arquitetura igual.
Faltava um quarto de hora para fechar, a visita foi a correr. Mas vou voltar. Gosto sempre de voltar aos locais mais do que uma vez.
Visita do Paleolítico até à Idade MédiaAzulejo árabe
Sala com espólio encontrado nas antas do Rego da Murta

Doações
Mostra de alguns ofícios tradicionais na região até meados do século XX
Conheço sobejamente todos eles.
Costureira
Agricultura-, os arados
 Tecelagem
Sapateiro
O alicante que o sapateiro tem na mão é de serralheiro...
Canteiro, a arte de esculpir a pedra da região-, o calcário

Carpintaria/Marcenaria
Outra arte-, a de trabalhar o ferro para fazer ferramentas, sendo que falta a arte de ferrador, de fazer rodas para as carroças, arte de serralheiro nos Cabaços, e acredito deveria haver no concelho a arte de funileiro, latoeiro, correeiro, queijaria artesanal no fabrico de queijo com a mistura de leites-, ovelha e cabra, de fazer a broa, o ritual da matança do porco,  tosquia de ovelhas, ritual de fazer o vinho, do azeite, das nozes e,...

Escola Primária como era no meu tempo no início da década de 60. Aqui existiam esponjas de tecido para limpar a tábua ou ardósia, em Ansião onde andei não havia, era mesmo um trapo que se punha na travessa em viez debaixo da carteira.
Na minha escola haviam canas da Índia grandes de encosto na parede que as professoras usavam em demanda e pressa corrida pelas cabeças dos alunos...
Nunca usei sacolas de pano que os meus colegas tinham e fechavam com um botão. Felizmente a minha mãe comprava-me em Coimbra nos bazares da baixa malas em cabedal, no final do ano eram substituídas, sendo que as dava a colegas pobres do Casal das Peras, às gémeas Amália e Eulália, amigas de peito.
Taberna.
Ambiente que conheci bem em Ansião onde haviam como cogumelos, em cada esquina...pois só havia um Café!
Exposições temporárias
Arte de trabalhar o barro  no Minho, Barcelos : Rosa  e Júlia Ramalho , avó e  neta e outros ceramistas
Exposição de bicicletas , motociclos, motas e sta car antigas, de um colecionador de Ferreira do Zêzere
Não deslindei nenhuma bicicleta como a que tive em 2ª mão vinda de França em 68, com guarda lamas a imitar escamas prata e com mudanças .
Saímos do Museu satisfeitas apesar da visita a correr em direção da festa.
Apreciámos novas apostas em arquiteturas modernas
A creche reportou-me para as Casas das Crianças  Dr Bissaia Barreto com as colunas forradas a azulejo.
Fonte Nova - Fontanário de carantonha que logo me reportou para outra semelhante em Penela antes do hotel, supostamente ambas feitas pelo mesmo canteiro(?).
Alvaiázere a primeira terra onde a minha mãe depois do exame e do estágio começou a trabalhar nos Correios, corria o mês de maio de 1955, hóspede nesta casa de belas ombreiras em cantaria de paredes meias ao fontanário onde já vivia hóspede outra irmã a Maria da Luz.
A igreja
Casa defronte ao adro onde vivia um padre. Foi tutor da minha mãe para poder ir estudar para Santiago da Guarda com o primo direito, José Lucas. Desconhece a razão, tendo pai ainda vivo, só se lembra que aqui veio com ele pedir o favor ao Sr padre. Seria por o primo ter mais vinte anos que ela, que era ainda menor?
Provavelmente a igreja datada do século XVI (?) com alterações ao longo dos séculos de que é visível supostamente esta coluna(?) encravada atabalhoadamente na parede lateral.
Púlpito
Enquadrada no adro a norte a Escola Primária Conde Ferreira seguida da Câmara Municipal
O coreto de Alvaiázere está entre os 35 melhores coretos de Portugal, segundo a lista elaborada pelo jornal Observador.
Escultura moderna
Presenteei a minha mãe com um passeio de charrete -, adorou de tal maneira que se pôs a dizer adeus aos que passavam, supostamente ao jus do ritual da rainha de Inglaterra...
Passeio interrompido com o telefonema da minha filha com notícia triste, o Vicente estava com varicela...
Alvaiázere menos bem
Lindas papoilas a rivalizar um quadro naturista na borda de um quintal a contrastar com outros em poisio cujos proprietários se tivessem brio, os tinham limpo para a festa.
Falta um parque de estacionamento junto do cemitério para acolher os visitantes, carros e camions com geradores de apoio à festa , além de entupir a estrada, poluem o ar para não falar do barulho.
Passeios equestres mal situados (?), e de organização deficitária (?) só o mero acaso e a teimosia venceram.

Refrescados com  cerveja fresca, em pressas nos fizemos à despedida da festa pelo cansaço ainda assim privilegiados com a chegada dos arcos S. Pedro, supostamente do Rego da Murta(?) para as marchas.
Da próxima vez que voltar gostava de ter um Dona Elvira como este


Fontes
https://www.facebook.com/museu.dealvaiazere/

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