quinta-feira, 30 de junho de 2016

Ao entardecer a procissão do S. João em Almada

A fechar mais uma semana em vivência diária com os netos em Lisboa de regresso pela tardinha  a caminho de casa ponderei a decisão de irmos até ao castelo de Almada assistir à chegada da procissão do S. João.

Espreitei o Tejo e a Quinta da Cerca
A Igreja de São Tiago de Almada foi construída nos primórdios da reconquista cristã.
Neste agora foi alvo de restauro no telhado, chão, tetos e altares, ficando apenas uma capela com telas para recuperar.
Os dourados saltam à vista em demasia, porventura deveriam ter apostado num dourado velho (?).
Nitidamente a capela mor será mais antiga que o corpo da Igreja que sofreu com os terramotos de 1531 e 1755. Deslumbre a contemplação do seu teto em abóbada de pedra, construído em estilo manuelino. O altar-mor detém algumas lápides sepulcrais e valiosos azulejos do século XVIII. Escavações arqueológicas puseram a descoberto sepulturas datadas desde o século XII.
Teto
Transparece beleza o jogo dos arcos em pedra com os painéis azulejares em azul no contrate austero do altar mor a imitar um pórtico romano ladeado por uma dupla de colunatas em mármore rosa.


Interessante são as 4 portas com grade que se encontram nas laterais-, daqui as freiras assistiam à missa. Almada foi profícua em conventos femininos. Ouvi dizer que vão regressar em setembro.
Perguntei onde se instalavam, por não ver jeito de instalações conventuais(?), logo me mostraram salas ao correr da lateral e no tardoz da igreja.E a cozinha perguntei a pensar nos doces?
- Vão fazer o que é preciso...
 Capela por recuperar
 
 Outra capela
Tradicional coroa florida com os frutos da época
 
A coroa de flores com frutos foi leiloada por 20€, a senhora que a arrematou apenas tirou algumas ameixas e a ofereceu à organização. Ritual a invocar o tempo de antanho da Quinta da Ramalha, que naquele tempo era fora de portas de Almada, onde o Santo se dirigia de véspera em procissão com o padre sentado em carroça (?) para não se fatigar, geralmente abonados de carnes, sendo que ambos ali ficavam hospedados, o Santo a fazer companhia à Santa na capela, já o padre acredito bem aressuado de boa comida e do bom vinho produzido nas Quintas do Pombal onde dormia  em lençóis frescos, na brancura do fino linho em alarido ressono. No dia seguinte partiam de novo em procissão para Almada com a carroça abarrotar de fruta e vinho...atrás seguiam homens sem eira nem beira, trabalhadores agrícolas, mal pagos, a cambalear de bêbados tocando música em canas rachadas-, vivia-se o profano em contraditório ao religioso que havia de ditar a ausência deste ritual mas não o matou, felizmente foi retomado há anos.
Quinta da Ramalha
Também acabou desde o ano passado o ritual da distribuição das flores do andor que acontecia no final da procissão, agora só no dia seguinte com hora marcada...ora se era tradição que deixava as pessoas satisfeitas  como se fosse um prémio a título de pagamento de  quase 3 horas andantes em procissão...
Ainda fui espreitar o pôr do sol ao miradouro do castelo, debalde nem vê-lo.
A noite caia e arrefecia . Chegados a casa vestimos casacos e fomos à procura de sardinha que não havia na Ramalha, nem no Pragal, só mais à frente onde vimos duas potentes motas da polícia-, ora se lá comiam policias, sinónimo de boa comida e preço em conta...
Por se terem esgotado as sobremesas voltámos ao arraial do Pragal para comer duas farturas saborosas que nem azia nos deu.
De volta a casa, alegretes, o meu marido acedia aos meus pedidos para imitar os "amuos" do Vicente-, mote para soltar forte risada em plena rua, afinal é preciso tão pouco para nos sentirmos felizes.
Mas o melhor veio depois e ainda tinha resquícios pela manhã!
Julgo que foi da amarelinha, malvada cachaça!
Rua Capitão Leitão
Pragal , a música fazia-se ouvir num ambiente quase às moscas...e com resmas de gente nos Bairros periféricos, sobretudo a poente...

domingo, 26 de junho de 2016

O mistério do Hospital de Arroios à Praça do Chile

Praça do Chile a partir de 1928, oferta do Governo Chileno da estátua idêntica à do navegador Fernão de Magalhães, localizada em Punta Arenas no Chile .
Na Praça do Chile em plena Avª Almirante Reis ( o local junto do Hospital onde apareceu morto, em 4 de Outubro de 1910, o almirante Cândido dos Reis-, motivo que mereceu homenagem de atribuição do seu nome à avenida em detrimento do nome - Estrada de Sacavém.
Apesar do profundo abandono o antigo Hospital de Arroios onde na década de 80 me dirigi pela primeira vez para tirar uma micro aos pulmões para despiste da tuberculose, e havia de voltar no âmbito da medicina do trabalho para o Banco.Tenho uma nítida sensação que ao local se chamava outro nome, porque Hospital de Arroios, nunca antes tinha ouvido dele falar.
Mais um roteiro com o meu marido e os dois netos a redescobrir Lisboa.

A chaminé contígua a norte era do crematório do hospital, segundo o comentário de Alexandre Lopes, a quem dirijo o meu bem haja, só assim se sabe mais pela saudável partilha.
 
Rua paralela à Almirante Reis situa-se a Igreja do Convento de Nossa Senhora da Conceição de Arroios. 
Em russo
A Igreja serve atualmente o culto ortodoxo
"O Hospital veio a instalar-se no antigo Convento de Nossa Senhora da Nazaré, que foi Colégio dos Jesuítas Missionários da Índia, fundado em 1705 tendo funcionado até 1755, resistindo ao terramoto, mas não à expulsão dos Jesuítas em 1759, altura em que Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal (1769), determinou a ocupação do Convento pelas freiras Concepcionistas Franciscanas, ficando o espaço a ser conhecido por Convento de Nossa Senhora da Conceição de Arroios. Devoluto em 1890, ano em que morreu a última freira e em 1892, o Estado decidiu que o seu espaço fosse convertido em Hospital e ficasse sob a administração do Hospital Real de São José.  A partir de 1898, o antigo Convento tomou o nome de Hospital Rainha Dona Amélia e destinou-se somente ao tratamento e prevenção da tuberculose, para em 1911 após a Implantação da República se passar a chamar Hospital de Arroios. Funcionou até 1993, altura em que foi definitivamente desativado, encontrando-se atualmente devoluto.
Curiosidade:
Foi na Igreja do Convento que permaneceram os restos mortais do Marquês de Pombal trasladados do Convento de Santo António de Coimbra  antes de serem transportados para a Igreja de Nossa Senhora das Mercês, ( desconhecia a trasladação de Coimbra, julgo foi sepultado na Igreja do Cardal em Pombal, a vila onde viveu exilado na sua casa e faleceu onde existe a seguinte inscrição: "Aqui estiveram depositados os restos mortaes do Grande Marquez de Pombal Sebastião Joze de Carvalho e Mello desde 1782 até 1856 em que foram trasladados p. Lisboa pelo seu Quarto Successor".)
Irónico pensar as voltas que a vida dá  a pensar nos restos mortais do Marquês de Pombal ao terem aqui vindo parar, já que foi o percursor de expulsar os Jesuítas com o António Joaquim de Aguiar, homem da minha terra, Coimbra, na história ficou conhecido por "mata frades".
O Marquês, depois de falecido ainda foi alvo o seu túmulo de profanação pelos desertores do Buçaco aquando da 3ª Invasão Francesa, para de novo vandalizado em Lisboa por altura da implantação da República,  pelo que os restos mortais foram depois  transferidos para a Igreja da Memória, à Ajuda onde hoje se encontram.
"O Jornal Público em fevereiro de 2005 anunciava que a Câmara de Lisboa autorizara a demolição do Hospital de Arroios para fazer nascer um empreendimento de apartamentos e comércio com estacionamento subterrâneo.O projeto mantinha a Igreja e os claustros do Convento, contudo veio a sofrer indeferimento por motivos vários por não ser do entendimento camarário a justificação da restante demolição sustentando que devia ser preservado também o pátio, as galerias e o sistema de corredores. Incompatibilidades que  entendiam apenas admissível "demolir dois edifícios confinantes a norte da Praça do Chile e os corpos que haviam sido adossados ao Convento nos anos 40/50 do século XX. 
Sinceramente para mim corroboro na integra. 
"O promotor da obra, a imobiliária Imofrança, considerava, porém, difícil, senão impossível, acatar estas recomendações. 
Aproveitar mais do que a igreja e os claustros é complicado". 
O processo supostamente arrasta-se a ser classificado pelo IPPAR (?). Ao que parece os painéis azulejares que existiam na consulta externa já desapareceram... Resta na toponímia a lembrança das freiras ...
Jardim na frontaria do imóvel histórico com a Travessa das Freiras, floresce garbosa planta alucinogéna.
O edifício chegou a ter cartazes " Estrelas do Areeiro"com várias tipologias de apartamentos e respectivos preços. Um T1 a partir de 170,412€. A lona publicitária na frontaria ainda se mantém enrolada pelas intempéries, mas já não se lê... O local serve agora de parque de estacionamento pago com segurança. Foto tirada da esplanada onde estivemos a retemperar forças no deguste de um abatanado com um folhado que nos soube muito bem, os miúdos dormiam.


 FONTES
 http://lisboasos.blogspot.pt/2009/06/misterios-do-hospital-de-arroios.html
 http://noticiasdobau.blogs.sapo.pt/1761.html

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