Foto de família de Polibio com a mãe, a irmã e o avô paterno (?) por certo foi tirada no atelier do fotografo Manuel Freire Paz, pelo enquadramento do atelier, para enviar ao marido em África, um hábito para não se esquecerem da família...
Foto do pai do Polibio em África, julgo Moçâmedes (?), quando emigrou com outros conterrâneos que voltaram ricos. O fotógrafo é francês.
Foto tirada no atelier fotográfico do amador Adriano Freire Paz e Cª filho do 1º fotografo de Ansião que aprendeu a arte no Brasil.
Esta foto diz-nos ainda que o Manuel Freire da Paz já tinha deixado a arte de fotografo e passado ao filho que ainda conheci conhecido por "Adrianito da praça".
Políbio Gomes dos Santos após concluir o ensino primário em Ansião frequentou o Colégio
Militar dos Pupilos do Exército, em Lisboa, como aluno interno, no
período de 1922 a 1925. Interrompeu os estudos por motivo de doença,
regressando então a Ansião, para se restabelecer.
Retoma os estudos liceais, desta vez em Coimbra, no liceu Dr. Júlio
Henriques no ano de 1928. Mais tarde, entre 1933 e 1937, frequenta os
cursos de Direito e de Letras da Universidade de Coimbra.
Este predio foi a albergaria
Suposto dizer que foi com o dinheiro trazido de África que o pai de Políbio comprou o lote de gaveto e construiu a casa em arquitetura romântica, airosa, onde não falta o telheiro no tardoz e as pedras laterais nas janelas.Na verdade naquele tempo os que voltavam da emigração com dinheiro as suas casas mostravam a diferença, em contraditório da década de 60, em que os novos emigrantes construiriam aberrações...
Homem
de grande habilidade manual e na arte do desenho. Nasceu num
casario atrás da taberna que no meu tempo era explorada pelo Carlos Antunes, e haviam no tardoz uns barracões da antiga estalagem que
aqui existiu na vila junto da ermida de Nossa Senhora da Conceição.
Construiu esta casa ao estilo art déco, quando se avizinhava fazer a
avenida. A filha Paulete começou por ser professora na Ameixieira, no seu funeral apreciei antigas alunas do Ribeirinho.
Um episódio que me contou a D. Piedade Lopes- a sua filha Tininha teve um azedume com a D.Laura Simões e não queria voltar à
escola, era o marido Sr Diamantino que a levava à Ameixieira dando boleia também à
professora D.Paulete.
Textos- Políbio escrevia em qualquer papel
Citar excerto de https://terrasdaribeirinha.wordpress.com/category/polibio-gomes-dos-santos
"Apesar de uma vida curta e de uma obra não muito extensa, não deixa de ser reconhecido como um grande poeta. Segundo os críticos, a sua poesia possuía influências presencistas caracterizada pelo seu tom intimista. Apesar destas influências não deixou de fazer emergir uma intenção social, o que o aproximou do Neo-Realismo.Apesar de uma vida curta e de uma obra não muito extensa, não deixa
de ser reconhecido como um grande poeta. Segundo os críticos, a sua
poesia possuía influências presencistas caracterizada pelo seu tom
intimista. Apesar destas influências não deixou de fazer emergir uma
intenção social, o que o aproximou do Neo-Realismo.
O movimento do Novo Cancioneiro constituiu-se a partir da publicação
de uma colecção de poemas, por parte de um grupo de jovens poetas que,
enquadrados no movimento do Neo-Realismo, tentaram criar uma poesia de
carácter social de oposição ao regime de Salazar. Deste grupo faziam
parte: Políbio Gomes dos Santos, Manuel da Fonseca, Fernando Namora,
Joaquim Namorado, João José Cochofel, Mário Dionísio, Sidónio Muralha,
Álvaro Feijó e Francisco José Tenreiro."
Tem dois livros publicados
Um, em vida, “As Três Pessoas”, editado em
1938
A “Voz que Escuta” publicado postumamente em 1944, pelo
grupo do Novo Cancioneiro.
Era um tempo novo com gente ilustre
Jovens escritores e poetas, como o nosso ansianense Políbio Gomes dos Santos, em cada terra pelas desigualdades, começaram a fazer eco a um mundo novo ( em Ansião, o pai do poeta insurgiu-se com a mudança do Pelourinho da frente dos Paços do Concelho) .
Estes jovens solitários começaram por se agrupar em cafés; Coimbra, Vila Franca de Xira, Lisboa, Porto etc, por esse pais fora, onde se discutiam ideias a um novo movimento ou acontecimento, nascido pela espontaneidade, assente na pobreza e profunda injustiça que se vivia em Portugal, emergido na Europa e Américas, nos anos 30 do séc. XX. As obras do Neorrealismo social representam os oprimidos na sociedade, sendo imortalizado na fotografia, escultura, teatro, cinema , desenho e na pintura : O trabalho infantil, os ferroviários, as varinas, as carquejeiras, a mulher e a criança em sofrimento pelo desemparo do homem ir para o mar, os Trolhas...Etc
Temos de ler os poemas do Políbio, para perceber o seu neorrealismo. Os seus poemas são espolio no Museu do Neorrealismo de Vila Franca de Xira. Já o livro Gaibéus - com um herói coletivo - de Alves Redol, o texto que me saiu no exame de português do 5ºano. A minha primeira visão a um mundo de trabalho, sacrifício e dor!
O quadro O Carrossel, de Rui Filipe de 1961, pintado numa fase tardia do neorrealismo, mostra a esperança do futuro de um mundo melhor com a menina de cabelos soltos ao vento.
Museu de Vila Franca de Xira



Poema Radiografia deste poeta maior ansianense, escrito em Fevereiro de 1939
Interprete: Maria Barroso Ano: 1966
Radiografia
Não sei se era uma esplêndida loucura.
Porém a noite escura, àquela hora,
Veio pôr-me nos olhos
Uma super-visão de Raios X.
Tudo transparente e sombrio!:
Nas caves os criados trintanários,
Sonolentos, senis, alquebrados,
Como em pego profundo, no fundo dum rio,
Deitados.
E em sobrados nos altos das casas
Pessoas suspensas e presas
Nas invisíveis asas.
O clarão dos escuros e silêncios
Apunhalava as coisas indefesas
E era o meu guia.
E eu via, via tudo, entretinha-me a ver,
Aplaudindo em meus olhos
A tragédia funérea de ser.
A mulher que eu amava dormia.
E lá estava perdendo a magia
Das formas,
O mistério das coisas opacas.
Ai, eu via os seus órgãos medonhos, eu via,
Comprimidos boiando em fluidos
De estranha alquimia.
As donzelas! as puras donzelas!
– Como eram iguais seus esqueletos
E gesto de guardar a virgindade
Num halo,
Fechadas nas casas, sonhando!
E aqui, ali, além, de quando em quando
As cenas abismais,
Infiltrações letais – promiscuidade!:
Nos ângulos mornos de alcovas solenes,
Dormiam, jaziam casados,
Ventrudos, coitados, casais de burgueses!:
Um respirava o ar que o outro expira,
Cantado, resfolgado,
Como o vapor em máquinas cansadas
Ou moléstias em papos de reses;
E na parede, sobre a mesa de pau-santo,
O cuco do relógio veniava
Quatro vezes.
E ó ruas, ó ruas viscosas,
Dormindo venenosas, como cobras
Digerindo!
Ó casas leprosas,
Envenenando o ar amigo meu e deles!
– O ar já gás emagrecido, manso mas cansado,
Azul e quente,
Pairando sobre as camas a gemer,
Piedosamente!
Ó gente,……………….
E lá vinha, e lá vinha a elevar-se do rio,
Um calmo doentio nevoeiro grosso!
Tão velho rio!
Cantado pelos bárbaros poetas…
Tão límpido!
Mostrando-me as enguias nas buracas
E os cadáveres inchados
De afogados,
Espetados nas estacas.
E o silêncio!
Eu e uma cidade!
Apenas o rumor de traças infernais,
A roerem humanos, ocultas, danadas,
Como caruncho em madeiras
De casas abandonadas.
Eu e uma cidade…
Que a lava da noite veio sepultar
Dentro de mim…
Esta Pompeia que me entrou plos olhos,
Com suas mil estátuas e cenas do fim…
Este burgo dos ídolos partidos e painéis
Cruéis, sumidos,
Que a minha alma ansiosa anda a escavar,
E que o loiro dinheiro dos Lords
Não pode comprar.
Em
1938 é internado no Sanatório Sousa Martins (Guarda) com tuberculose,
doença que o levaria, prematuramente, à morte apenas com 27 anos de
idade a 3 de Agosto de 1939.
Vitorino
Nemésio
Dedica a Políbio um poema, integrado na obra “Eu, Comovido a
Oeste”. É muito significativo do afeto e da consideração que por ele
sente.Este poema está escrito na sua sepultura.
À Memória de Políbio Gomes dos Santos
O poeta que morreu entrou agora,
Não se sabe bem onde, mas entrou,
Todo coberto de demora,
No bocado de noite em que ficou.
As ervas lhe desenham
Seu espaço devido:
Depressa, venham
Lê-lo no chão os que o não tenham lido.
Que o sorriso que o veste
Já galga como um potro
As coisas tenebrosas,
E esquecido – só outro:
Este
Nem precisa de rosas
A sepulturas no cemitério de Ansião

Os pais e os dois irmãos: Paulete e Políbio Gomes dos Santos jazem lado a lado eternamente!


As Três Pessoas
Testamento Aberto
Só para ver curar minhas pernas partidas
Nas dores eternas
Dos saltos gorados,
Eu amo a aparente inconsciência dos loucos,
Embora fique aos poucos nos meus saltos
Desabridos e falhados.
Apraz-me, no espelho, esta face esmagada,
À força de querer transpor o além
Da minha porta fechada...
Porém,
Seja o que for, que seja,
Se uma CERTEZA alcanço
E uma mulher me beija.
Que importa
Que eu fique molemente olhando a minha porta
Aberta,
Ou que eu parta e a morte me espreite
Num desfiladeiro?...
E quem virá chorar e quem virá,
Se a morte que vier for a de lá
Certeira e minha...
E merecida como um sono que se dorme
Após a noite perdida?...
E que piedade anda a escrever um frágil,
Na embalagem dos ossos
Que trago emprestados...
Que deixarei ficar ao sol e à chuva
E que serão limados
No entulho dos calhaus que também foram rocha?...
Para quê, se mil vezes provoco
Os tombos do chegar e do partir?!
- A minha fragilidade
Foi-me dada
Para me servir.
Recorte do jornal Serras de Ansião (Ano XVIII, nº 206, 15 de Agosto de 2007, p. 17)
"A Câmara Municipal de Ansião instituiu e retomou este ano, no âmbito da sua política cultural, o Prémio Literário Políbio Gomes dos Santos. O prémio, dedicado exclusivamente à poesia e tendo como "patrono" aquele poeta natural de Ansião, é promovido com a colaboração da Associação Portuguesa de Escritores, que indica dois dos três membros do júri.No passado dia 13 de Agosto podia ler-se o seguinte na página de entrada do site do Município de Ansião: Foi revelado no dia 12 de Agosto, em cerimónia integrada nas Festas do Concelho 2007,o vencedor do Prémio Literário Políbio Gomes dos Santos. O vencedor foi Porfírio Simões de Carvalho e Silva, de Lisboa, com o trabalho Horas do Tempo Comum. Para além do prémio monetário de 2.500 Euros, o autor teve a satisfação de, logo no momento de revelação da sua vitória, uma editora ali representada ter manifestado interesse na publicação do seu trabalho.
Este Prémio Literário tinha 68 trabalhos admitidos a concurso, um sinal inequívoco do seu mérito e do interesse que suscitou."
Não consegui apurar se este prémio literário foi descontinuado...(?)
O poeta publicou no jornal Novo Horizonte do concelho de Ansião no dia 1 de Janeiro de 1931, o poema “Soneto”.
Placa toponímica prostrada no chão...
Agosto de 2017, o prédio de gaveto onde estava a placa toponímica com o nome do poeta foi retirada por o prédio ter sido recentemente requalificado, tendo sido a placa retirada, não fazendo sentido, só se a pretendem renovar, senti profunda tristeza ao vê-la prostrada no chão jazendo em abandono sem honra nem brilho...Anda muito mal o nível cultural de muitos, e não menos parca ou nenhuma fiscalização nesta terra!
Foi reposta uma nova em metal em finais de 2019.
FONTES
Fotos da sala museológica do poeta na biblioteca de Ansião
http://maquinaespeculativa.blogspot.pt/2007/10/prmio-literrio-polbio-gomes-dos-santos.html
http://www.coisas.com/
https://terrasdaribeirinha.wordpress.com/category/polibio-gomes-dos-santos
Jornal Serras de Ansião (Ano XVIII, nº 206, 15 de Agosto de 2007, p. 17)
https://aviagemdosargonautasdotcom.files.wordpress.com/2015/02/soneto-de-polc3adbio-gomes-dos-santos.jpg
Museu do Neorrealismod e Vila Franca de Xira