sexta-feira, 8 de junho de 2018

Cem anos da expulsão de Ansião do Padre Manuel Sousa Ribeiro

Lamentavelmente acabei por perder esta crónica depois de publicada, algo acontece de nefasto neste sistema de postar no blog  com momentos e situações que não entendo...Teimosa bastante para de novo na vontade em a refazer com o propósito em deslindar a razão do actual topónimo Moinho das Moutas, em Ansião. Não foi dificil a descoberta graças aos testemunhos da São Tojo, filha do Ti Estêvão nascida a escassos metros dos moinhos de água, cuja levada beijava a casa dos seus pais e do Chico Serra do Escampado de Belchior que conheceu o último dono do moinho (s) Abílio Moita, seu quase vizinho do Escampado da Lagoa.
Escampado da Lagoa numa bela foto do Dr Leonel Antunes 
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A casa dos pais de Abílio Moita era na esquerda da lagoa
O nome do topónimo Moinhos das Moitas advêm  de duas palavras; a primeira dada pela existência dos moinhos de água e a segunda pelo apelido da família de Abílio Moita seu donatário que o povo apelidava toda a família no plural "Moitas" hábito generalizado de que conheci  este uso acrescido da corruptela de moitas que em 1721 assim ainda se escrevia em relação à instituição de uma capela neste lugar, para hoje se escrever o topónimo Moinho das Moutas. Tive o privilégio de ter frequentado a escola com as filhas de Abílio Moita - a Gracinda e a Arlinda, coitada desta por a vida não lhe ter ditado boa sorte, infelizmente já falecida. As conheci quando os pais emigraram para a antiga Rodésia, recordo apenas o dia que me convidaram para ir a casa da sua avô paterna que morava num grande casarão na esquerda da lagoa (Escampado) onde defronte outra casa havia de sobrado em abandono que ainda continua como na foto se documenta que julgo era de alguém com lagares no Marquinho. Tenho uma grande propriedade com a minha irmã nas Lameiras a entestar com a ribeira do Nabão, no meu tempo de miúda em ambas as margens da ribeira do Nabão haviam terras de gente dos Escampados - um irmão do Chico Serra emigrado no Brasil tem uma propriedade em Além da Ponte e outra família detém outra grande propriedade junto da serração que foi do Sr. Carlos Antunes.Por certo outras houveram e ainda hajam.
Onde acaba o Fundo da Rua para nascente e começa o Moinho das Moutas?
Quiça sejam nos ombrais em pedra esculpidos em covinhas o mote estético de bom gosto a ditar a divisão...
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No dia de Páscoa depois da missa parti em caminhada com o meu marido e o nosso compadre Fernando Moreira para o restaurante dos Olhos d' Água para almoçar no convite dirigido pelos avós do meu genro, a D Helena e Sr João Silva da Lagoa da Ameixieira. 

Excerto das Memórias Paroquiais das Informações do concelho de Ansião pelo seu juiz Manuel Rodrigues em 1721 «Morgado que instituiu o Reverendo Vigário que foi na Igreja desta vila de Ansião Agostinho Vas de Almeida de que é Administrador do dito Morgado de parte dele Manuel Carvalho, morador nesta dita vila» . «A Capela que instituiu Manuel Vas do Moinho das Moitas deste termo; é possuidor dela Heitor de Ssa Gonsalues; dez missas manda dizer cada ano»
Segundo o «Padre Manuel Ventura Pinho a palavra "instituir" não significa que tenha sido erguida. » Contudo outra pista é tentar saber se viveu alguém no Moinho das Moutas de apelido "Gonçalves" até que encontrei  o testemunho de Américo Antunes « Tinha sido inaugurada a moderna fábrica de azeite (lagar), perto dos Olhos d'Água, propriedade de Fernando José da Silva, dotada de um revolucionário engenho movido a água, para movimentação da moderna maquinaria do lagar, que incluía prensas hidráulicas controladas por manómetros de pressão de água. O lagar estava ainda dotado de um potente motor a eletricidade, que entrava em funcionamento quando fraquejava a força da água. Por ocasião foi registada uma foto com Acácio Costa (Serralheiro), Zé Cristóvão alcunha "Zé Mau", Mário André Gonçalves Oliveira e o pequeno o Adelino José da Silva, faltando identificar quatro.
Segundo a Odete Antunes  « Os "Oliveiras " seriam da família da Lurdes Simões que o pai dela era Mário,  o sobrinho também é Mário filho do "Ti Mário Zé Mau."

Foto de Américo Antunes da inauguração do Engenho de Francisco José da Silva de Ansião
Possa ditar que a capela  existiu mesmo!
Em mente deslindar onde teria sido o seu chão na caminhada para os Olhos d'Água...A primeira casa que encontrei com traços de arquitectura antiga foi esta onde fotografei as janelas de avental no gaveto para o quintal, que bonitas teriam ficado para a estrada...

Deslindar na arquitectura do Moinho das Moitas antiguidade
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A sacada com janelas de avental
Defronte uns metros encontra-se uma ruína de outra casa que pela volumetria foi grande. Outra probabilidade do palco da Capela aqui no Moinho das Moitas foi com muita certeza aqui porque ainda nela se deslinda arquitectura da centúria dos finais de 600 início de 700 alindada com balcão - cada vez mais raro em Ansião a serem demolidos para alargar bermas ou porque nem sabem o que é um balcão, quando é marco arquitectónico e revela sinonimo dos testemunhos do passado do povo  judaico que aqui viveu.
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Soberbo o balcão em graça para deleite dos amantes da arquitectura ancestral. 
O passeio contemplo-o e muito bem - NÃO O DESTRUIU .
Em Medelim na Beira Baixa encontram-se preservados mais de 250.Um marco do património!
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Balcão provêm do latim podĭu
Nesta foto distingue-se uma janela grande e mais à frente um grande portão com portada em madeira.
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O que teria sido aqui?

A ruína na sua eloquente decadência com a portada que foi bonita ornada de ferrolho que a hera atrevida, deliciosamente o enfeita!
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O ferrolho abria para???
Falei com a Lucinda Silva, filha do "Ti Abílio Ferreiro" , mora ao lado , confidenciou-me que dentro do portão há uma coluna revestida de pedrinhas.
Outra caracteristica que se deslinda na ruína é acima da porta a estrutura em lajes de cerâmica uma herança dos romanos continuada pelos visigodos e judeus.
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O casario em ruína pertence a familiares do "Serralheiro" que estão julgo a viver na Venezuela.
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Acima do lintel em formato de crescente
A melhor aposta em tratar  a herança do  património familiar 
Bonita casa ainda ostenta a bela escadaria em meia lua muito bem preservada onde as janelas de guilhotina engalanadas com belas cortinas de folhos apanhadas de lado a lembrar os grandes solares, ostenta a larga cimalha ao telhado repleta de finos relevos para fechar a decoração a cor de vinho nas laterais e na barra a beijar a porta no convite de entrada onde mora gente de bom gosto com sentido de estética em valorizar o património, as  tradições e sobretudo em preservar a sua manutenção.
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Casa a marcar a traça antiga

Segundo o testemunho da Odete Antunes« João Antunes era pai do meu pai António Antunes, do meu tio Carlos Antunes, da Maria José, mulher do António Gaspar da sapataria, e de mais dois filhos que emigraram para o Brasil e para Moçambique.» A  casa foi herança da filha  a Dra Carmita Antunes, irmã da saudosa  Prof Fernanda Antunes que bem conheci, depois de sair dos escritórios da CUF voltou ao professorado na Escola da Barreira. Segundo me confidenciou a sua querida irmã "gostou muito do tempo que lá foi professora", e eu a via todos os dias às mesmas horas num tempo que os carros se contavam pelas mãos nas suas deslocações de casa para a Escola e vice versa à boleia do seu elegante BMW azul bebe . Sentadas na pastelaria "Bastiorra" a reviver recordações de grande emoção no nosso encontro ocasional que jamais tinha falado com a Dra Carmita Antunes, em que a Lurdes Simões se juntou, ofereceu chá e lesmas em mais de uma hora onde a cumplicidade da terra e das suas gentes foi tamanha, contudo não me conhecia, mas disse-me que a sua irmã falou-lhe da minha a quem teceu rasgado elogio. Ainda se queixou do salitre nas paredes da cave do tempo que os pais tinham salgadeira...Ainda me confidenciou em tempos quis comprar o moinho entestante com o muro do  seu quintal mas os donos na altura não quiseram vender.Acredito se tivessem efectuado a transação estaria hoje revitalizado a dignificar e a enriquecer o património ancestral deste local enigmático.Confidenciou-me que gosta muito do Padre José Eduardo Coutinho, do tempo que o ouvia em Santa Cruz ...

Casa onde viveu o Sr .Carlos Antunes e a esposa.
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Escadaria que se mostra um  monumento!
Beco para os Moinhos a ditar o nome  Moinhos das Moutas
Foram pelo menos três Moinhos que aqui laboraram a que se junta um Lagar alimentados pela força motriz da água de um ribeiro artificial aberto a partir do ribeiro do Olho da Sancha e da ribeira do Nabão, a mãos pelos judeus muito caracteristicos na região no aproveitamento da parca água, a existência de moinhos documentada numa contenda arquivada na Torre do Tombo com os almocatés de 1359. Revela que os judeus já aqui viviam e não apenas após o êxodo de 1492 de Espanha.
Existiram Moinhos de água na Ribeira da Mata desde a Lagoa do Pito, Fonte Carvalho, Ribeira do Açor, Constantina, Além da Ponte e na Ribeira do Nabão nos Olhos d'Água havia um grande moinho e pequenas azenhas alimentadas pelos seus ribeiros que me recordo do meu tempo de adolescente. Os Moinhos das Moitas inicialmente seriam dois, um deles encontra-se com telhado moderno, apesar do choque estético o seja para o preservar da ruína sendo que o adoçado já se mostra em derrocada. O outro moinho inserido no casario do Beco com data posterior de 1864 se perdeu.
Na casita recuperada para churrascos na Requalificação do Nabão o teria sido também um moinho por distar uns metros de uma propriedade minha e da minha irmã onde recordo na extrema da mesma em frente da ribeira onde tomávamos banho escondidas pelos milheirais havia um amontoado de terra alta e pedras, que em mais lado nenhum do leito da ribeira se enxergava assim igual o que dita a possibilidade de também ter sido um pequeno açude para o desvio de água para o moinho, que nos séculos se perdeu o ribeiro aberto tendo sido entupido para aproveitamento do chão para milho. Seguem-se os Moinhos de João da Serra, um maior que  a pequena azenha já na margem da ribeira, seguido do grande moinho ao Marquinho com o ribeiro em paralelo à ribeira, outro moinho depois da foz do Ribeiro de Albarrol e uma ruína antes do Rebolo. No Ribeirinho ao Casal Soeiro também encontrei outro e mais haveria no seu seguimento entre o Vale Perrim e Vale Penela deles resta na toponímia de Mato das Mós e Outeiro do Moinho.
Os moinhos de água em Ansião que já encontrei  antes jamais investigados nesta importante perspectiva do que foi o seu rico passado .E ao Ribeiro da Vide havia uma atafona, um moinho num ribeiro que se forma com as chuvas movido por um animal - um burro e no seu seguimento havia um grande barracão que o ribeiro passava por baixo dele, em criança era a delicia de brincadeiras. Pode evidenciar ter sido no passado também um moinho.
Moinhos João da Serra
O Beco ao Moinho das Moitas
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Sem placa de toponímia
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Aqui foi um moinho
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Resta a data no lintel
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Os moinhos que ditaram o nome Moinhos das Moitas
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Lado norte a saída da água

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Um dos moinhos em ruína
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Vista das hortas sobre o Beco
Casa do Sr. Alberto Simões alcunha "Melado"
Ostenta uma sóbria chaminé.
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Vista para o Beco
A casa de família sita no Moinho das Moitas ostenta ainda uma sala de varanda com um  lindo conjunto de cinco janelas de caixilho airoso e romântico ao tempo usada para o sol  e as boas energias entrarem para as plantas interiores se darem bem, quiçá também bordar e namorar... A casa revela ser antiga tendo sofrido remodelação à posterior. O uso de varões de ferro na varanda e no terraço implícita terem sido feitas na mesma altura da pensão que explorou na vila (?).
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Vista da frente para a estrada
Pensão "Melado"
Sediada de paredes meias com a escola primária masculina. Os donos, o Sr. Alberto Simões homem de baixa estatura e cabelo farto e cerrado e a D. Laurinda  natural de Abiul, tiveram cinco lindas filhas. Casa de hóspedes, comidas e dormidas. A minha mãe chegou a hospedar-se na sua pensão.A "Pensão Simões" porque "Melado" julgo ser alcunha era frequentada pelos cachopos da escola, os que tinham dinheiro para comprar rebuçados , prefaciando o meu amigo Dr Manuel Dias "onde eu ia comprar rebuçados com dinheiro que me dava o Prof. Albino Simões a premiar os meus bons resultados, enquanto os outros, coitados, apanhavam porrada de "meia noite" ...
Nesta pensão/café reunia-se um grupo de ansianenses, os iluminados sobre os destinos do progresso da vila de Ansião à volta da mesa discutiam os substanciais interesses no papel de representantes dos supostos interessados nas mudanças fulcrais da vila, fosse na venda dos seus terrenos a bom preço à câmara ou tirar proveito por outras vias no ganho e vantagens pela continuada tradição familiar implantada pelo menos desde 1875 com a fundação da Comarca da vila de Ansião, à laia de reunião mensal da assembleia da câmara na mesa da Pensão Melado, ao sabor do prazer do café na tertúlia dos "Trinta e Um"...!
Sem saber a origem do algarismo, acaso seria o numero de pessoas que compunha o grupo ou a escolha em rivalizar o titulo do Jornal 31 de janeiro vendido na loja do Jaime Paz... Apenas sei que o Padre Filipe Antunes fazia parte. Por altura da escolha para implantar o novo edifício dos CTT nos anos 70 recordo de ouvir falar do gaveto do Dr Faria à Avª Dr Vitor Faveiro com a com a Rua Dr Domingos Botelho de Queiroz, que gente com poder decidiu alterar o local mais a caminho do Fundo da Rua, na certa o conseguiram em prol da escolha de um lote da cunhada a  Sr D Maria Amélia Rego,  sem reforma, supostamente sobrevivia dos lotes que ia vendendo da sua quinta...
Pensão Melado
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Edifício  estilo português suave
 Hoje Adega típica de Ansião
As Lesmas
Bolo típico de Ansião, julgo nascido no Casal de S. Brás.
A minha avó Piedade da Cruz que foi padeira em Ansião fazia bolos pelas festas no formato redondo cortados ao meio como fazia no pão coroa e ferraduras.

A receita básica da minha avó Piedade
Preparar a massa lêveda com um monte de farinha  numa bacia larga e nela fazer um buraco ao meio onde se põe um pouco de sal e fermento de padeiro dissolvido num pouco de água morna. Amassar e deixar levedar cerca de 15 minutos até a massa apresentar um aspeto rendilhado no interior. Volta-se a fazer outro buraco na massa e junta-se  mais farinha, canela,  erva-doce, bicarbonato de sódio, açúcar e raspa de limões. Amassar novamente e aos poucos juntar azeite, banha ou manteiga a ferver. Por fim juntar o sumo dos limões e amassar muito bem, acrescentando aos poucos a água necessária para obter uma massa boa para tender que deve ter uma consistência ligeiramente mais dura que a massa do pão. Cobrir a massa com azeite sem esquecer de fazer a cruz feita com  a mão ao alto, a massa mostra-se levedada quando  ao fim de 3 horas desaparecer a cruz . Tender os bolos  no formato que se quiser e pincelar com ovo ou leite. Untar com azeite os tabuleiros e polvilhar com farinha .
Na região centro fazem-se com formatos diferentes; em Dornes pela festa de agosto havia uma velhota muito enfeitada em oiros que os vendia caros em formato de bonecas e redondos achatados.
Em Abiul na festa do Bodo fazia-se o bolo, igual nas festas do Avelar.
Em Pombal e Palmela chamam-lhe fogaça.
E há anos em Ansião lhe chamam  ferraduras e lesmas, nome ganho pelo aspecto que lhe deram!
Os meus bolos no papel de aprendiz , tinha uns 9 anos quando a minha avó faleceu...
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Os meus bolos típicos  
Casa do Sr. Mário Oliveira  alcunha o "Bastiorra"  seria do lugar onde nasceu ou ...
A mulher julgo seja do Casal S.Brás. Foi emigrado ao Brasil de onde regressou supostamente com capital para ter adquirido a casa, ou seria da família, porque antes aqui viveu de aluguer um padre.

Segundo excerto do Livro Ilustres Ansianenses do Dr Manuel Dias sobre o Padre Manuel Sousa Ribeiro«(...) este padre, enquanto permaneceu na paroquia de Ansião, preocupou-se, sobretudo, em alterar a opinião do povo que era favorável à República. Par tanto, exteriorizou algum "ódio" à Filarmónica de Ansião, que tinha sido uma colectividade fundada,  dirigida e integrada por republicanos, alguns deles apenas casados pelo registo civil, a quem o padre Sousa Ribeiro apelidava de "Maçons". Por tais motivos, o padre Manuel de Sousa Ribeiro, «do pulpito lançou-lhe a interdição, à missa conventual, pedindo ainda aos seus correligionários, colegas e amigos, que para festejos religiosos, nas suas freguesias, nunca chamassem a Filarmónica dos maçons, dos ateus, a Filarmónica excomungada!»
«Uma outra acusação diz respeito ao casamento civil, que o padre sempre escarneceu e contra o qual alimentou várias campanhas difamatórias. «Para o reverendo só o casamento na egreja é legal e sagrado. Dois seres que se desejam e que numa comunhão de idéas e anhelos sabtificam pela idolatria e pelo amor a sua união, indo ali ao Civil, conspurcaram a sua dignidade, a sua puresa se não vão igualmente à egreja»
«Nos actos religiosos que implicavam "padrinhos", só aceitava como tais, aqueles que se confessassem, ou que fossem seus amigos (acusa O Imparcial Jornal de Pombal). 
Na via pública «passeando livremente, o padre Ribeiro ao passar por um cidadão republicano, indignadamente, velhacamente, apertava o casaco e apalpava a carteira, Foi acusado, ainda,de ter sido expulso da Misericórdia de Ansião, onde durante algum tempo celebrou missas, »porque chamava a si as esmolas destinadas a auxiliar os pobres do concelho, e aplicando-as, disia ele, á sustentação da boa imprensa (...).»
« A histórica expulsão na noite de 15 para 16 de abril de 1919 (...) De ha muito que contra o parocho d'esta freguezia se vem exercendo as maiores vilanias,chegando até os democraticos um dia d'estes a dynamitarem a casa onde residia o sr, padre Manuel de Sousa Ribeiro, estilhaçando os vidros das janelas e disparando bastantes tiros de revolver. Na terça feira, à noite, estando este ilustre sacerdote com o sr. dr. Adriano Rego, médico municipal, e com o sr. Alberto Lima, notário, no Clube Recreativo, foi este assaltado por uma multidão de mais de 50 indivíduos, todos eles democráticos, que, armados de varapaus e revolveres, intimaram o sr, padre Manuel Ribeiro a sahir imediatamente da freguezia, tendo n'essa ocasião sido disparado um tiro de revolver contra o parocho, que, felizmente, o não atingiu. Fez frente aos manifestantes o sr. Adriano Rego, que lhes disse que não comprehendia a hostilidade manifestada contra o parocho de Ancião, nem achava motivo que justificasse tal violência. Os democráticos, perante os concelhos de cordura que lhes dava o médico, desataram n'um berreiro ensurcedor, obrigando o parocho a entrar n'uma carroça, e, devidamente escoltado,mandaram tocar para Chão de Couce, freguezia d'este concelho, a fim de para ali conduzirem o parocho. O sr. dr..Adriano Rego mandou então buscar o seu carro e n'ele transportou o seu amigo, sr padre Manuel Ribeiro, para casa de seu  pae, na mesma freguezia de Chão de Couce.Nada justifica a atitude dos democraticos de Ancião. Este caso deixou-nos pela lama, pois que o povo d'esta localidade, crente e bom, condenna o caso asperamente e está resolvido a castigar os mandões de tamanha arbitrariedade, indo buscar o seu parocho e obrigando-o a residir n'esta vila (...) Tres dias após a expulsão, no dia 18 de abril de 1919, sexta feira Santa um numeroso grupo de católicos, entre 3 a 5 mil pessoas,da freguesia de Ansião e vizinhas, foram a Chão de Couce e trouxeram o Padre Manuel sw Sousa Ribeiro de regresso a Ansião.
Mas, «o entrarem na villa, porém, receberam ordem do administrador do concelho, o sr. Adolpho Leopoldo de Figueiredo, para não avançarem do sitio denominado o Moinho das Moutas, sob pena de mandar dar fogo pela guarda republicana que a toda a pressa requesitou de Leiria e que já mandou reforçar.O povo de Ancião, a instâncias então do seu parocho que por Deus rogava que não fizessem violências e evitassem todo e qualquer desastre, resolveu não resistir  às ordens da auctoridade, visto essa resistência poder ocasionar graves desastres, atenta a atitude da guarda, que estava já de armas apontadas para a multidão.O sr. padre Manuel de Sousa Ribeiro agradeceu comovido ao seu bom povo a manifestação que lhe fizeram e as boas intenções que o animavam, e, rogando-lhes que fossem ordeiramente para suas casas, retirou-se novamente para Chão de Couce, para casa de seu pae, rodeado sempre de bons e leais amigos.À manhã, domingo de Paschoa, não haverá missa aqui em Ancião, podendo este caso trazer consequencias desastradissimas»Nesse dia, o padre teve de refugiar-se na casa que então servia de residência paroquial , a do centro da vila, havia sido nacionalizada após a revolução do 5 de outubro, e serviu para nela instalar os correios locais, ali mesmo ao Moinho das Moutas (à entrada da vila), e depois, teve de regressar a casa dos pais, na Pedra do Ouro em Chão de Couce.O povo, nessa mesma data, enviou, ao Ministro do Interior, um telegrama com 300 assinaturas, dando conta do sucedido, protestando energicamente contra a utilização da violencia na expulsão do padre, e exigindo medidas urgentes no sentido de serem salvaguardados os direitos individuais.O telegrama  dizia exatamente o seguinte:«Exmo Ministro do Interior: - Abaixo assinados, moradores freguezia Ancião, abstraindo qualquer ideia partidarismo politico ou crenças reigiosas, protestam indignamente contra violencia praticada noite 15 contra paroco daquela freguezia por um grupo indivíduos armados que impuseram saida imediata sob ameaças graves, rogando V.Exª as mais urgentes e energicas providencias para que seja assegurado respeito pelas liberdades individuaes»Segundo os relatos exarados no Jornal A Epoca o Secretário da Presidencia da Relação de Coimbra, Dr. Rosa Falcão, que se encontrava de férias no Avelar, enviou um mensageiro a Ansião, com uma carta, em que aquele intransigente e prestigiado republicano se declarava solidário com a manifestação de protesto, e favorável ao pároco, seu amigo.A carta foi apreendida e o seu portador preso.Ansião esteve em pé de guerra, e segundo um testemunho oral que recolhemos, que não foi encontrada qualquer versão escrita a comprovar a versão, chegou a haver mesmo cenas de tiroteio:os partidários do Padre Manuel de Sousa Ribeiro escolheram as melhores posições de tiro no sótão da casa onde se refugiara o padre; e os adversários entrincheiraram-se atrás de um muro, na propriedade de Manuel Duarte, no sentido do centro da vila. No meio, era "terra de ninguém". Felizmente, não se registaram ferimentos graves, com um dos poucos feridos do Casal o Sr Álvaro Mendes da Silva, mas os danos materiais foram avultados:o espigão da casa do Padre desapareceu por efeito da intensidade do fogo que esteve sujeito. Na expulsão do padre foram culpabilizados os comerciantes e o Administrador Adolfo de Figueiredo, apenas de ter negado...O Padre Manuel de Sousa Ribeiro, esse nunca mais foi admitido a paroquiar Ansião, algum serviço religioso relativo a esta freguesia como casamentos e batizados fê-lo noutros lugares como na Ameixieira e no Alqueidão. 
Com a saída do Padre de Ansião só mais tarde em 1922 foi substituído pelo Padre Manuel Maria Gaspar Furtado  ».

A casa do "Bastiorra" foi palco dos tiroteios ao Moinho das Moutas
Não sei em que ano o  Sr. Mário Oliveira  alcunha o "Bastiorra" regressou do Brasil . E por isso não sei a data em que adquiriu esta casa ou se a herdou de família.
Se o Padre  Manuel Sousa Ribeiro foi expulso de Ansião em 1919 , implícita dizer que após a nacionalização da residência afecta ao padre na vila para aqui veio viver em regime de aluguer . O que falta saber é se o senhorio já era o "Sr Bastiorra" já instalado como comerciante abrindo uma  taberna  no r/c em que nas paredes ainda persistem marcas das balas e « os danos materiais foram avultados:o espigão da casa do Padre desapareceu por efeito da intensidade do fogo que esteve sujeito.» E neste pressuposto aventar que nesta casa antes foi palco de uma capela.
Hoje o espaço é explorado pela neta a Lurdes Simões tem a sua pastelaria.
Quem teria sido o dono desta casa antes do  Sr. Mário Oliveira  alcunha o "Bastiorra" ?

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Quem teria sido o seu primitivo dono? Manuel Vas do Moinho das Moitas institui a capela sendo dela possuidor - Heitor de Ssa Gonsalues ?
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Sempre me fascinou o jardim alto onde vinha pedir "bolinhos"...
Transcrevendo um excerto do Livro «os adversários (do padre) entrincheiraram-se atrás de um muro, na propriedade de Manuel Duarte, no sentido do centro da vila» 
Manuel Duarte, julgo seja do avô ou pai da D. Helena Duarte Silva que mora na Lagoa da Ameixieira atendendo a seus familiares foram aqui  proprietários com terrenos desde o ribeiro do Olho da Sancha que nas heranças se foram vendendo, restam apenas umas hortas precisamente defronte do casario onde nasceu o lugar o Moinho das Moutas, com acesso pelo Beco.
Quando voltar a Ansião ainda vou desmistificar mais deste passado.
Casa onde morou o Sr. António Gaspar
Homem de baixa estatura, astuto, dono da sapataria Gaspar na vila, que bem conheci.
Aguarda requalificação...Espero que seja mantida a traça e a escadaria.
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Em agonia...
Ribeira do Nabão com água em abril a passar pelos campos mais férteis das redondezas da vila
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Ribeira do Nabão
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Já com agriões floridos

Ribeiro do Olho da Sancha
A 1ª foto dá o mote da nascente nos costados a norte dos Casais.
A 2º foto dá a dimensão onde foi o ribeiro aberto para o Lagar e para os Moinhos das Moitas que foi entupido por altura dos anos 40 quando foi aberta a estrada para a Constantina tinha uma ponte em madeira cujo tabuado era comprido e lindo a cobrir a ribeira do Nabão e se estendia para sul para cobrir o ribeiro artificial , a levada de água que ainda dela se lembra a São Tojo, filha do Ti Estevão que morou defronte do muro desse ribeiro que beijava a casa dos seus pais.
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Ribeiro da Sancha
Hortas da ribeira do Nabão à estrada que foram da família Duarte
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A levada de água passava por aqui para abastecer o Lagar
Lagar do Sr Duarte, avô da minha colega Fátima Duarte
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Lagar do Sr. Duarte
A estrada para a Constantina aberta nos anos 40, hoje fechada pelo IC8 . A foto indica onde passaria o ribeiro artificial da levada de água depois de passar pelo Lagar que se encontra na esquina seguia para a esquerda no correr onde se encontra o poste seguindo onde vai o meu marido cujo muro parte ainda lá está.
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O ribeiro fazia ligeira curva que se nota no jardim da casa da irmã da São Tojo casada com o Mário Freire nascido no Cimo da Rua. Ao fundo a casa do Ti Estevão Tojo, pela frente seguia o ribeiro da levada de água para os moinhos.
Rua de Angola
Desconheço a ligação de Angola  aqui no Moinho das Moutas para ficar atestada na toponímia...
No sitio desta casa era a  adega seguida de uma grande vinha, mais tarde foi um pomar do Prof Albino Simões.
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Antes foi a adega do Prof Albino Simões
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Nora  marcar o ritual do passado onde não faltam os alcatruzes

Casa onde viveu o taxista Sr. Estrela 
Foi casado com uma filha de Virgílio Rodrigues Valente julgo que se chamava Claudemira . No meu tempo de arquitectura moderna era a mais bonita para mim que havia em Ansião em paralelo com a casa do Dr Travassos. Novamente em remodelação mostra uma parte de pedra o que pode ter sido já uma casa quando a comprou, pois antes vivia na Igreja velha. 
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Outro belo exemplar de casario.
Árvores no quintal e  passeio estão-lhe a deteriorar o telhado...
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Casa dos Profs D Laura Dias  e Albino Simões

Casa  de António Antunes e Ti Lucinda
Pais da Odete e Américo Antunes.

Testemunhos da Odete Antunes «O meu avô paterno comprou a minha casa já construída onde se dizia tinha vivido um juiz e era proprietário daqueles terrenos entre essa casa e a do meu tio Gaspar.»
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Abri e fecho a cronica com pedra trabalhada





Na parede do quintal não falta a pedra esculpida igual em rivalizar as que se encontram a poente.
Um poço requalificado nas antigas hortas do Nabão.

Portolargo
No meu tempo eu escrevia Porto Largo.
Testemunho de Américo Antunes «Este era o Portolargo dos milheirais, das papoilas perdidas, do cantar dos motores de rega, dos bandos de pardais, dos mantos coloridos das flores de margaça, do ronronar da ribeira que ia correndo até poder em curvas graciosas por entre figueiras, vimieiros, amoras e pereiros, e a bela terra que tudo dava, Santo Deus .As hortas do Nabão, o Portolargo e o Poisão eram uma espécie de celeiro de Ansião; sem dúvidas as melhores terras agrícolas na redondeza da vila »

Definição de Poisão e Portolargo
Não encontrei definição para o topónimo "Poisão" comum na região em Pousaflores, Miranda do Corvo e Foz de Arouce. 
E  Portolargo, qual será a origem deste topónimo? Seja dificil admitir tenha havido um porto na ribeira do Nabão, que só corre de inverno.
A palavra Poisão pode derivar de POIO, terra perto de Pontevedra na Galiza quiçá herança trazida pelos judeus aqui aportados ao se depararem com a imensa campina rasgada por duas ribeiras lhe tenham chamado um poio grande que ditou Poisão e Portolargo tenham sido os romanos depois de passar a planura quase estéril do Rabaçal e Aljazede e dos costados da Constantina a caminho de Ansião se depararam com campo a perder de vista rasgado por duas ribeiras em abundância de águas no inverno que se alagam as margens e inundam os campos a lhes ditar o mote de exclamarem em êxtase até que enfim um  portolargo!


FONTES
Memorias de Odete Antunes e de Américo Antunes com três fotos
Testemunhos da Dra Carmita Antunes, Chico Serra , São Tojoe Lurdes Simões
Livro de Memorias Paroquiais Setecentistas
I Livro e Ilustres Ansianenses do Dr Manuel Dias \

quarta-feira, 6 de junho de 2018

O mágico Luís de Matos com raízes em Ansião

Os meandros enigmáticos da  magia na minha memória é pura fascinação onde a hipnose me deixava de boca aberta a contraste com atos de feitiçaria, onde a superstição, o mistério e artes obscuras é premissa!

O que é a magia ?
No passado  não teve a mesma conotação d' hoje  que se divide noutras categorias. 
Para mim, desde criança a Magia é Ilusionismo.

Ilusionismo ou Prestidigitação
«Arte performativa que tem como objetivo entreter o público dando a ilusão de que algo impossível ou sobrenatural ocorreu. Os praticantes desta atividade designam-se por ilusionistas ou mágicos
"Embora os ilusionistas aparentem desafiar as leis da física, na realidade os números por eles criados nada têm de sobrenatural, tratando-se de ilusões realizadas através de meios naturais."
 
O nosso maior Mágico com genes no concelho de Ansião 
Luís Manuel Curcialeiro Godinho de Matos
Os pais são do concelho de Ansião, o seu  pai frequentou o Externato António Soares Barbosa em Ansião, tendo sido colega da minha mãe. 
Após o 25 de abril veio com os pais de Moçambique , moraram julgo na Serra do Mouro, em Chão de Couce, onde conheceu julgo no Clube da vila - um Afonso, carpinteiro, que o ensinou nas artes da Magia - o Ilusionismo. 
AFONSO - apelido antigo que dele tenho costado materno nesta região em que três irmãos com este apelido em 1601 decidem escrever ao Papa para instituir uma Igreja no Avelar, porque a da Aguda lhes ficava distante, só possível porque eram letrados, inteligentes, visionários, determinados, sem medo e de empreendedorismo. Aventam ter sido judeus!

Luís de Matos estudou no colégio de Avelar e quando foi estudar para Coimbra, viveu num apartamento com os filhos do Dr. Condorcet , que foi meu professor em explicações do 5º ano, no colégio do Avelar. 
Segundo o meu amigo Henrique Caseiro, o pai dele  Júlio Condorcet, foi Radiologista na Praça 8 Maio-Coimbra. Tinha vocação para ilusionista .
Em crer, Chão de Couce e Coimbra aguçaram o ilusionismo ao mágico Luís de Matos.

Um vídeo, já com alguns anos do Pai do seu Professor

O mágico Luís de Matos 
O ano passado abriu as portas do seu Estúdio 33,  localizado no que foi o Reguengo do Camporês, dos Corte Real, em Ansião. A  RTP emitiu uma série de programas onde não faltava uma entrevista com o famoso colega David Copperfield que ele foi entrevistar aos EUA. No imediato senti tamanha  cumplicidade e afinidade em ambos, quiça, ambos com suposta ascendência judaica. 

Sem muito mais explanar adianto que o apelido "Cursialeiro" natural do Cursial (S Bento) e o apelido "Godinho", oriundos da Lagarteira (Ansião), são conotados de origem judaica no que foi o Couto de Torre de Vale de Todos. 
O apelido "Matos"  não foge à mesma  regra. 
Acresce a ambos os mágicos o extraordinário talento com poderes de magia, homens nascidos sob o mesmo signo da Virgem, considerado o mais inteligente do zodiacal, abençoados de alta e elegante silhueta, de belos e fortes cabelos, donos de olhar intenso penetrante e sorriso encantador. 
Verossímil afirmar que os ascendentes do David Copperfield sejam judeus que não se quiseram converter em cristãos novos emigrando para os Estados Unidos em 1500, como muitos o fizeram, a que ainda lhe acresce o nome - David. 
Óbvio que esta apreciação é demasiado simplista, compete a cada um se assim o entender fazer a sua árvore genealógica, quanto a mim deixo-me aqui ficar nesta curiosa e simpática teoria.
Sendo que me desculpo se causo quiçá algum constrangimento!

Os mágicos Luís de Matos e David Copperfield

FONTES
Ricardo Pessa de Oliveira Doutorado em História Moderna pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Pobres e Perseguidos os Mágicos em Pombal séculos XVII e /I. relativo aos séculos XVII/I no concelho de Pombal.
Wikipédia
Fotos Google
Cortesia de Henrique Caseiro

sábado, 26 de maio de 2018

Arte de respigar o rebusco do desperdicio dos outros!

Há filmes que nos deixam a pensar como o de ontem na TV2 de Agnès  Varda - Os respigadores e a respigadora de 2000.
A grosso modo respigar é a apanha dos restos após efectuada a colheita de legumes, fruta ou cereais cujos donos deixam ficar nos campos,  árvores e nas estufas, pela falta de calibre, defeito ou excedentário para as cotas de mercado porque baixa o preço.
A palavra rebusco surge no mesmo âmbito que o respigo, mas opõe-se-lhe num sentido, pois refere-se ao que vem do arbusto ou da árvore e não ao que vem directamente da terra ;cereais, batatas, e das estufas; tomate, pepinos, pimentos, morangos.
Rabiscar é o respigar e rebuscar de gente pobre para se alimentar do desperdício bom que outros deixam. Em França são sobretudo comunidades de minorias entre as quais ciganas e desempregados que vivem em auto caravanas.

Agnès Varda, a autora do filme
Pode a  imitar uma respigadora
A autora partiu de um célebre quadro do pintor francês Jean-François Millet.
As respigadoras na apanha da espiga para  fazerem pão . 

Quadro de Silva Porto - Ceifeiras
Rodado em França dando uma visão dos respigadores de campos, de todas as idades, homens velhos, e mulheres jovens em que alguns cantam e outros em silêncio solitário apanham desperdícios, rebuscam nas sobras dos mercados, procuram os restos nos caixotes do lixo para se alimentarem (são deitados para o lixo produtos embalados com datas fora de validade mas que na realidade tem mais uma semana para se consumirem), tudo isto acontece no meio rural e urbano e o fazem por variadas razões: necessidade, prazer, hábito cultural transmitido de geração em geração e,..Respigadores contemporâneos indignados perante o desperdício dos excedentes da superprodução, em abono da verdade muito se poderia reaproveitar, como baixar preços em +produtos com pouca validade e baixar na fruta quando está a ficar passada e o mesmo noutros artigos e nos campos é um atentado deixar na terra toneladas de batatas, melões, tomates etc quando o Mundo com milhões de pessoas a morrer de fome. Que aflição!
Fatal despertar para esta realidade moderna em respigar breves momentos de lembranças da minha meninice com a  da  "velha da Pereira"  mulher que conheci a caminhar ao longo da estrada, descalça, vestida de avental com o laço a baloiçar pelo andar forte, lenço na cabeça e taleigo no braço, ar sisudo, dela falava o povo  que fazia rebusco " depois das vindimas apanhava os bagos e fazia uma pipa de vinho" ...Por altura das vindimas dos meus pais os mais velhos transmitiam  ensinamentos como o dever em me baixar e apanhar todos os bagos, apenas deixar os galhos, há quem lhe chame cadetes, se os pássaros não tiverem fome ainda se comem no tempo da apanha da azeitona ... Ritual bem aprendido, ainda hoje tenho dificuldade em desperdiçar  seja o que for, ao jus do ditado popular da minha avó materna Maria da Luz da Moita Redonda, Pousaflores " aproveita o que não presta, saberás o que te é preciso" já me aconteceu deixar de ser tão guardadora de coisas para em rotina de limpezas depois de tanto tempo comigo chegar o dia de as deitar para lixo, para repensar melhor e voltar a guardar, e outras vezes concretizar para dias depois sentir o que tinha deitado fora o que me fazia falta!
Na minha infância e adolescencia havia muita pobreza numa região de minifúndio, onde tudo era aproveitado, porque todos tinham animais domésticos, nada se deixava de fruta por colher nas árvores nem na terra. Ainda assim existia o rebusco sobretudo nas vindimas e na azeitona.E se pudessem apanhar nozes não as deixavam ficar no chão. Óbvio que esta tradição de respigar em grandes campos em França mostra-se outra realidade bem diferente pelas cotas de mercado em que nos vinhos os produtores só podem produzir uma cota estabelecida em anos de grande produção optam por deixar os cachos nas vinhas... que depois outros respigam.
Sinto-me indubitalmente uma respigadora ao não resistir em reaproveitar sobras de comida e praticamente tudo em casa e parte-me o coração ver constantemente na rua que os demais não sejam assim...Apanho de quando em vez  alguma coisa a que de todo não consiga resistir debalde sempre com grande pena em deixar outras valiosissimas, na verdade o meu marido assusta-se com este meu ímpeto, já eu acho que é sinonimo de liberdade, saber reconhecer valor ao que outros desprezaram, seja por não terem espaço ou cansados, no ganho de novo brilho e estima que o meu olhar agraciou.
Desde sempre objectos guardados em sótãos até ao dia que foram parar a feiras da ladra onde alguém com olho clínico lhes distinguiu o valor merecido ...«Um  Renoir comprado a cinco euros por uma Professora que gostou da moldura da pequena pintura que comprou juntamente com bonecos de plástico numa feira da ladra. Descobriu depois que tinha sido roubada do Museu de Arte de Baltimore e que valia cerca de 70 mil euros, foi devolvido ao museu.»
O quadro trazido por um emigrante de França vendido na feira da ladra em Lisboa por uma bagatela, veio-se a descobrir que tinha sido pintado sobre outro valioso de metal...
E  lembrar o tempo da pobreza das crónicas medievais da feira dos cereais  na Praça do Comércio  em que o cronista relatava " os pobres esgravatavam o chão para apanhar grãos... "

Respigar batatas
Toneladas de batatas de calibre inferior, grande ou pequeno deixadas para apodrecer, amontoam-se por entre rastos de  tratores e de arrastadeiras  em terreno macio onde resvalam deixando muita batata na terra, que os respigadores apanham para a sua subsistência. A autora encontrou batatas gémeas que chamou "coração" na ligação aos afectos!
A autora a filmar o desperdício de toneladas de batata.Num hiato de 18 anos para começarem a aparecer no mercado  baratas de calibre muito grande,a preço convidativo, ainda assim o devia ser mais barato porque as pequenas já há anos que aparecem para os assados e são bem caras.
Se alguns produtores se manifestam receosos face ao rebusco nas suas propriedades, um advogado elucida que o Código Penal Francês autoriza o respigo nos campos e nas estufas após colheita, do por ao nascer do sol, a todos os que o façam por necessidade, incluindo os que o fazem por prazer, pois este será sempre considerado uma necessidade.   
Os catadores de lixo 
Respigadores contemporâneos, os catadores que se dedicam a recuperar e a reciclar sobras e detritos nos caixotes do lixo e monos deixados na rua onde todo o abandono é considerado sem dono, logo quem se quiser dele apossar está no direito de o fazer.  Não gosto de ver gente que vasculha os monos apenas para partir em plena rua televisores e outros objectos com o fim de lhes retirar o cobre deixando ficar no chão todo o despautério de cacos e vidros...
Artista plástico russo a viver em França com objectos que apanha no lixo, sobretudo bonecas, fez estas esculturas de arte reciclada surgindo assim associada à recuperação de objectos com criatividade na escultura,  pintura (técnica mista) mas também na bricolage  na recuperação e reciclagem, integrando o domínio da descoberta e prazer do respigo, do rebusco, do consumo ou o processo criativo por todos fazerem parte da experiência nova em reinventar ocupando uma forma de preencher o vazio causado pela reforma, ou a falta dela, na sua espera por exemplo-
Respigadores da sociedade, tão distintos e tão semelhantes aos que aparecem nos quadros expostos nos museus. 
 Um relógio sem ponteiros que rebuscou numa lixeira
«Decide trazer do lixo para sua própria casa duas cadeiras e um relógio sem ponteiros o mote das mais belas metáforas do filme: as cadeiras remetem para a quietude e espera, ao contrário do relógio sem ponteiros que evoca o desejo de parar o correr do tempo, reter a memória e o envelhecimento, despistar a morte que ronda seus passos e ameaça retirá-la de cena – tanto do cinema quanto da própria vida.»
Varda brinca cria ilusão óptica ao apanhar camiões com a sua mão enquanto conduz na autoestrada...
Encanta-nos a autora Agnès Varda com um gesto tão simples e divertido através de suas mãos enrugadas como se elas próprias fossem uma lente de câmara, ao captar os camiões que passam na estrada,como se fosse um gesto de uma criança...
Por último o filme dá a noção de rebusco também aplicado em sentido figurado às coisas do espírito e da alma ao rebuscar factos, gestos, e memórias. Agnès Varda também se rebusca a si, num exercício de auto-retrato. O seu projecto tal como ela nos dá a conhecer consiste em “com uma mão filmar a outra” As memórias de uma mulher que, aos 72 anos, lê nas suas mãos enrugadas as marcas implacáveis da passagem do tempo e o anúncio inconfundível do fim, mas sem fim, em que a idade não a limita em se sentir eternamente jovem, apesar dos efeitos da velhice estes não colidem na sua necessidade de criar.

Julgo que as palavras Respigar e Rebusco tenham dado origem ao Refugo- nome que se dá nos Correios a correspondência com nome e moradas insuficientes , em espera de ser reclamada. E à palavra Restolho - nome dado ao que sobra depois de cortado o milho, os canoilos,e outros caules secos para os animais.

Reconheci-me extraordinariamente nas atitudes e no elixir da juventude em idade madura da autora !

Fontes
Filme
https://pordentrodemim.wordpress.com/2015/03/19/les-glaneurs-et-la-glaneuse/ 

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