quarta-feira, 20 de outubro de 2021

A Confraria de Nossa Senhora da Paz na Constantina, Ansião

Resumo publicado no Jornal Serras de Ansião em outubro de 2021


Primazia do primeiro conhecimento no livro Perspetiva Global da Arqueologia Histórica e Arte da Vila e do Concelho de Ansião, de 1986, do Padre José Eduardo Reis Coutinho.
Seguido do livro da Confraria do Dr. Manuel Augusto Dias, que o meu amigo Henrique Dias, enviou em PDF em 2019. Mais tarde, a Dra. Teresa Falcão ofertou-me um exemplar na biblioteca.

                       

Exaltar júbilo às suas mesárias, fiéis guardiãs, do seu egrégio espólio;  Alvará de 1624 do rei Filipe III e, o das Feiras Francas de 1697, Compromissos e, Estatutos assinados por apelidos vivos - Freire, Fernandes, Rego, Nunes, Afonso, Viegas, Antunes, Cardoso, Roiz (Rodrigues) Pires, Simões, Borges, André, Mateus, Neno, Luís, Dias. 

Em 1996, o Dr. Manuel Dias correlacionou o arquivo da Confraria. Em crer, missão difícil e trabalhosa com muitas horas a interpretar caligrafias. Cuja transcrição documental, me permitiu conhecer e coligir mais  (…) documentos muito incompletos, sem a morada de onde vinham os novos confrades, nem de quem dava a esmola, pese a grande dificuldade da ortografia e falta de folhas conseguiu-se fazer levantamento por sexo entre 1661 e 1716 (…) Ao longo de 39 anos analisados, foram identificados 334 Lugares de origem de 2236 confrades (...) Conseguimos apurar 334 Lugares dos quais 254 são de fora do concelho de Ansião. A que correspondem 1578 confrades, dos quais só 29% são da freguesia de Ansião - a que correspondem 426 confrades e 51% das restantes freguesias do concelho, a que correspondem 212 confrades, isto é 9,4% da entrada de novos irmãos com morada conhecida (...) Ao longo de 39 anos analisados , destaque aos 10 Lugares que fornecem maior número de confrades:

                                                                      Pedrogão com 51 

Minde com 149 
Lousã com 81 
Ansião com 64 
Sarzedela com 63 
Sertã com 63 
Constantina com 62
Mira d'Aire com 54  (diz o autor este nome nunca é referenciado mas como os confrades de Mira se  inscrevem sempre com os de Minde, e pela proximidade se concluir que se trata de Mirad'Aire)
Pedrogão Pequeno com 43
Coimbra com 40
Além dos 10 lugares fora de Ansião , podemos apresentar o numero de terras de fora do concelho, de onde , no período referido se inscreveram 20 ou mais confrades 
Pombal 26
Palheiros 25
S Frutuoso - Ceira  25 
Cernache do Bonjardim 25 
Arega 22
Almalaguês 20 
Águas Belas 20 
Reguengo 20
As terras mais distantes indicada como morada dos confrades: Londres e Angola fora de Portugal,
Estremoz , Avis, Abrantes, Coruche, Golegã, Lisboa, e Oliveira do Conde - Carregal do Sal,) que o autor não correlacionou 
(…)  conhecimento mais profundo da comunidade que lhe deu vida (…) na forma de fazer uma “história total” que não exclui nada nem ninguém (...) um dado interessantíssimo em que se escreveu o maior numero de confrades em 1668 com 256 novos confrades, os quais vieram de terras fora do concelho de Ansião- diz o autor que o facto de tanta gente ter vindo à Constantina a Nossa Senhora da Paz esteja relacionado com o Tratado que acabava com as guerras da Restauração, que duravam desde 1640 e foi assinado a 5 de janeiro de 1668 em Madrid.

Clérigos e Famílias mais importantes que se inscreveram na Confraria
1663 Fr e Pª frei (como aparece nos livros - Talvez  Frei Freire Pereira ? 
1663 Capitão José Antunes e esposa Antónia Francisca de Minde - 40 réis
1663 Padre Gregório Miz 10 réis
1666 Dr. Manuel Dias da Silva e sua mulher D Mariana de  Ansião - 50 réis
1666 Padre Manuel Antunes - 10 réis da paroquia de e Pedrogão
1666 Padre D Leandro do Paraíso, frade de Satan Cruz de Coimbra  -20 réis
1666 Padre Luís Domingos Tavares - 20 réis, Tojal Sertã
1667 Padre Manuel Mateus - 20 réis
1667 Padre Gregório Roiz(da paroquia de Havis e se assentou com a sua mãe) de Pedrogão 
1667 Padre Manuel Lopes - 20 réis da paroquia da Aguda
1667 Padre Tomé Antunes -20 réis, da paroquia de Areias
1668 D. Velasquez Sarmento e mãe D. Sebastiana de Almeida e seu filho Dom João Sarmento -100 réis
1668 Prelado Simão Dias 2 oliveiras 
1668 Padre António de Queiroz - 20 réis da paroquia de Miranda
1668 Padre Manuel Roiz - uma oliveira
1669 Padre Manuel Curado - 20 réis da paroquia da Lousã
1672 Padre Gregório Martins de Pedrogão, 50 réis de esmola da paroquia de Palhais (Chão de Couce)
1673 Padre Manuel Pessoa Durão -200 de Ourém 
1674 Francisco de Carvalho (almoxarife das 5 vilas) 250 réis de Chão de Couce 
1675 Padre João - 50 réis de Pedrogão Pequeno
1676 Padre João Alures  200 réis de Miranda do Corvo
1676 Francisco Ferraz Coelho, D Antónia da Costa sua mulher, João Ferraz Velho, seu filho, Francisco Ribeiro? da Azambuja , seu filho, D Isabel da Azambuja, sua filha, Fernando Ribeiro? da Azambuja, seu filho; Helena Coelha sua criada ; Mara dos Santos sua criada; e Domingos Francos eu criado - 450 réis
1676 Padre António Travassos - 50 réis, de Águas Belas 

Prefácio do livro da Confraria de NSPaz pelo Dr. Vítor Faveiro  (...) A história de uma terra e suas gentes, passa, indubitavelmente pelas suas instituições (…) por contribuir, por certo, para um conhecimento mais profundo da comunidade que lhe deu vida (…) na forma de fazer uma “história total” que não exclui nada nem ninguém. A Confraria que, apesar de ser laica, tinha objetivos pios; organizar a devoção a NSPaz.

Aos meus olhos o que extraí da leitura do livro:

Registo bibliográfico aquém da temática que a meu ver já devia ter merecido Dissertação de Mestrado, com muita matéria para desbravar, sobre o milagre, os judeus, os emprestimos, etc, sem coligir informação nem presumir considerações nas lacunas documentais. A leitura desenvolve-se com a transcrição dos manuscritos por ordem sequencial de acontecimentos. Ressalta o ceio da Confraria, com realidades até hoje em penumbra, que não foram postas a descoberto, quiçá suscetível a alguns de fé mais arreigada, que em Democracia, muito se respeita. Mas, o passado é o que foi e devia ser contado, sem medo! 
Na verdade muitos livros não se venderam, com exemplares pela Biblioteca depois de terem andado pelo Centro Cultural e,...

Em ênfase a sociedade laica  que instituiu a Confraria

Jamais abordada a chegada de judeus  fugidos de Espanha depois de 1492, os chamados cristãos novos. A mistura de genes em gerações de cruzamento, persiste na região. 
Evocar povoadores vindos da Galiza, os judeus sefarditas, os primeiros na região e depois clãs judaicos na centuria de 500. A minha bisavó materna Brízida Ferreira, da Mouta Redonda, Pousaflores, transmitiu ao seu neto: Alberto Afonso Lucas, colónias de Fariseus e Galileus nas Cinco Vilas, com menção na Crónica da História de Pousaflores.

Os judeus foram obrigados a professar a religião cristã, em Portugal. Muitos não se mostraram disponiveis para essa variante e foram expulsos de Portugal pelo rei D.Manuel I. Em 1500, o 1º navio após a descoberta do Brazil levou 500 judeus. Povo de cariz inteligente e letrado, deliberadamente muitos dos que ficaram profanaram a Fé Católica, sem a assumir e, a igreja nem se deu conta, ou deu, mas, como lhe era propicio dada a riqueza que granjeava, tenha fechado olhos...E outros foram denunciados e tiveram má sorte com a inquisição. Foi uma vida dura. Povo judaico, de oposição ferrenha ao Cristianismo, que se rendeu no tempos numa figura de fanáticos e hipócritas que apenas manipulavam as leis para seu interesse a fomento de riqueza. Esse comportamento e modo de viver, deu origem ao termo "fariseu" para explicar a razão de tanto milagre e romaria no séc. XVII, com suporte na esperança encapuçada de cura milagrosa, em gente beatizada e analfabeta, por isso algum êxito.

O livro da Confraria do Dr. Manuel Dias, foi suporte ao pedido da Câmara de Ansião, ao IGPAR, para classificação da Capela da Constantina, como Imóvel de Interesse Público

Saiu no Diário de Notícias em 24 de abril de 2013 (…) o valor da Capela enquanto testemunho simbólico ou religioso, estético, técnico e material intrínseco e, a sua conceção arquitetónica e paisagística. Severim Faria, na sua visita em 1625 - chamou-lhe Igreja.

Contudo desvendar o passado obriga a falar direito do que realmente aconteceu. 
Na Cronologia dos Monumentos Nacionais não há menção de escavação arqueológica ao morro do sítio da capela que aponta para possível podium romano? E ainda sobre as colunas do alpendre que foram esculpidas em 4 meses ? O tempo diminuto de 4 meses que demorou ampliar a ermida na capela atual? Quiçá, as colunas ou são reutilização ou, vindas de outro podium do sítio da atual matriz, ou não, trata-se de arte de lavrante quinhentista, ao jus do nicho do altar da Senhora e arco triunfal esculpido com a simbologia aos afetos nos anjos alados. Como faltou aprofundar em âmbito antropológico a voz do povo, das suas memórias ao eclético ; túneis de mouros e de um Menino Jesus em ouro, enterrado à passagem dos franceses....o que parece existe é outro Menino Jesus de terracota... Jaz no adro uma grande pia de água benta, a servidão de lava-mãos – teria sido da primitiva matriz de Ansião - em 1807, as pias de água benta foram consertadas…

Tantas vezes para visitar a Constantina, aconteceu em agosto de 1990
Pasmei, ao galilé de colossal colunata, à laia do rico templo de Diana!



O rei D. Filipe III, de Espanha, assinou os Estatutos da Confraria, em Lisboa e, jamais passou na Constantina, nem em 1669, o príncipe Cosme de Médicis.

Dissecar excertos  do livro de 1996 a Confraria de Nossa Senhora da Paz 

(...) Em 1786 roubo na capela, vários objectos em ouro foram roubados da NS da Paz durante a noite com arrombamento da porta a norte.» Sem  especificar os objectos roubados.

(...) Em 1811 as invasões francesas na sua passagem a feira de 24 de janeiro não se realizou, nem missas, as casas e alpendes da confraria foram incendiados. 
O autor não fez menção das duas marcas de fogueira, uma no lajeado do alpendre e outra no corpo da capela.

No “O Inventário Artístico de Portugal” de 1955  
A respeito, o seguinte desabafo: O sacristão disse que o templo estava muito desmoralizado, e os inventariantes estiveram de acordo. 

(...) A erecção da Confraria de NS da Paz , resultou da necessidade que se sentia, na freguesia de Ansião, de cuidar do culto a N S da Paz e de dar boa arrecadação às esmolas , que eram ofertadas em grande número , em virtude de muita gente que ia, em romagem , à Constantina e Fonte Santa. Foi em Ansião a 17 de outubro de 1623 , estando presentes o juiz do lugar e o juiz da igreja mais «outo homens dos Acordos dos ditos Concelho de Ancião(...) e por elles juizes foi dito aos outo homens dos Acordos, e ao pouo que presente estaua que pois a Sra da Paz lhes fazia tantas merces sendo seruda de os fauorecer comtantos; tam cõntinuos milagres; por essa causa auer muito grande concurso de gente devota que aella vem com suas esmolas e procissões que também vinhão a Senhora ; por conuir ao serviço da dita Senhora ; bem espiritual das suas almas, disserão elles os juizes aos dito outo homens do concelho; mais povo queera bem de todos juntos instituissem ,  ordenasse Confraria à dita Senhora e se escrevessem por seus irmãos e confrades, e de todos se elegessem oficiais.
Logo aí foram empossados pelo juiz do Lugar Thomé Roriz lhes deu juramento dos Santos Evangelhos em que puzerão as mãos , os primeiros oficiais que serviram a Confaria.
Juiz João Freire  o velho. 
Mordomos Gaspar Nunez de Ancian 
Gregório Roriz da Ribeira (da Mata que vem do Alvorge para a Lagarteira)
Escrivão - António Jorge da Constantina.

Os Oficiais da Confraria e, 8 homens dos Acordos. 

(...) A Confraria fundou-se com 70 Irmãos  sempre com numero crescente de confrades sem fazer exigência aos critérios de admissão e aos estatutos  na distinção de irmãos e de irmãs como outra Confraria da mesma Diocese - Marmeleira , em Mortágua.

Irmãos fundadores da Irmandade de NSPaz 
Pista importante que documenta os mais ilustres nessa época.
(...) A  crónica de Severim Faria, na visita à Constantina, com o tio, o Chantre de Évora, tendo ficado na vila na casa de D. Cristóvão Manoel, quem tinha a comenda de Ansião, em 1625. 
Fala de João Freire o velho - o juiz com o poder na igreja, que instituiu uma capela em 1603, descrita nas Memórias Paroquiais. 

Os Mordomos da Confraria: Gaspar Nunez de Ansião e Gregório Roiz da Ribeira(Açor) 

O escrivão António Jorge da Constantina.  Lhes deu juramento o juiz da vintena da Sarzedela a que a comuna da Constantina estava sujeita Thomé Roiz 

(...) depois aparece Leonardo Freire mor de Ansião, depreendo capitão mor, assinaram - Leonardo Freire, André Fernandes( fez uma capela particular na matriz de Ansião, onde foi sepultado com a esposa), João Freire, Simão do Rego, Gaspar Nunez, Po (Pedro Viegas, Francisco Freire, Miguel João,João Aº (António) , Manoel Antunez, Manoel Frz queimado (pode ser alcunha),Damião Cardozo, António Roiz, Simão Pirez, Fr.co(Francisco João, António Simois, Miguel Antunez, P.o frz (Pedro Francisco?)Simão Nunez, Luís daureau Borges, Manoel Cerveira, Antº(António) Jorge, Manoel Freire, António Dias quabaço (alcunha?) , António Vicente, Domingos João de casal, Manoel Freire da Sarzedela, João Freire das Lagoas, Simão Bras, o novo, Ruy Piz o velho, Simão Matheus, António Nunez, Simão Afonso ( correlacionei-o irmão de mais dois, todos escreveram carta ao papa para fundar a igreja no Avelar julgo 1603), P.o Glz, Domingos João. 

Dissecar a Associação dos Irmãos na Confraria

A fundação da  Confraria de NSPaz aconteceu a 17 de outubro de 1623 , após 67 dias do Milagre da Fonte Santa  . Se admita alavancada com as comunidades laicas da Constantina e da vila, unidas a cimentar o milagre, sem pejo, a profanar a religião cristã a engodo de águas santas, no poço de chafurdo romano, na beira da via secundária romana, agora medieval. Honra a qualquer terra é agraciar o viajante com oferta de água fresca e jamais receber esmola a cura milagrosa encapuçada sem dó nem piedade! 

Os Irmãos eram compostos por homens de maior estatuto financeiro e os de menor condição - os chamados Irmãos mecânicos. 

A Fundação da Confraria formou-se com homens da Constantina, Sarzedela, Casal, Lagoas, Maxial, Ribeira (Açor) e os da vila

Coligi ; 

Em 1623, era irmão da Confraria Simão Afonso; um de 3 manos que enviaram carta ao Papa para fundação da Igreja no Avelar. 

Em 1681, temos o registo de falecimento na sua casa de Ansião, de um frade da Ordem de S. Domingos. 

Quiçá vindo dos Mosteiros da sua Ordem; Pêra, ou Alge, passou por Ansião por casa do amigo, seguiria para o do Rego da Murta, debalde não sabemos se ainda nesta data estava ativo. Simão Afonso seria abastado, com moinhos de água, para acolher gente do clero.

Já o seu descendente João Afonso, da vila, na centúria de 800, foi assistido na doença várias vezes pela Casa da Misericórdia de Ansião e, depois a sua viúva. Julga-se perdido o apelido na freguesia; que o carrego da minha mãe, com origem em Pousaflores e, vivo, em Chão de Couce.

Temos em 1668 - a doação de 100 réis, de Dom Velasquez Sarmento e mãe D. Sebastiana de Almeida e, seu filho Dom João Sarmento. Família que carece de estudo genealógico com origem no Espinhal. Em Ansião, viveram na Quinta do Vale Mosteiro de Baixo, Fonte Galega e, Quinta de Além da Ponte, com jazigo no cemitério. A negação à digitalização dos sepultamentos a grande lacuna, em mais se investigar.

Admite-se que João Freire o velho, juiz da igreja foi o mentor que levou a Imagem da Virgem que fora espólio da primitiva matriz, para a Constantina, onde foi batizada ao culto de NSPaz, nascido em Toledo. A crónica de Severim Faria de 1625 retrata o episódio enviesado e distorcido da realidade, ao acusar o povo da Constantina de a ter ido de noite buscar à sacristia, para os ansos não se darem conta...o que depreendo das entrelinhas, aqui fica a ressalva da  sua ilibação.

Confraria da Constantina com o Alvará Régio de Filipe IV de 30.10.1624
1.ª página 
«Eu El Reyfaço saber aos que este Alvará virem que os officiaes da confraria da nossa senhora da paz do Lugar da Constantina na freguesia de Ansião termo da cidade de Coimbra me emviarão dizer por sua petição que a dita comfraria hia em grande augmento por causa das grandes maravilhas e mylagres que a Virgem nossa senhora obrava cada dia e pêra que o serviço da senhora se podesse conservar e se fizesse com a perfeição que comvinha ordenarão por comum consentimento de todos o Compromisso que oferecido o qual corregedor e provedor daquella comarca vira e aprovara como constava do assento que disso sejizera Pedindo me lhes fizesse merçe de lho mandar confirmar, E visto seu Requerimento e a informação que se ouve pello doutor Diogo ferreira de Carvalho dezembargador da casa da suplicação que vio o dito Compromisso e he o atras escrito em onze meãs folhas como esta e querendo lhes fazer graça e merçe hey por bem e me apraz de lhes confirmar como de feito por este Alvora confirmo hey por confirmado o dito compromisso na forma e nossa maneira que neíle se contem e quero que assise cumpra eguarde como nelíe se declara e mando a todos os dezembargadores, corregedores, provedores, ouvidores, juizes, justiças officiaes e pessoas a que o conhecimento disto pertencer que assi o cumprão e guardem ejaçam inteiramente comprir e guardar. E me praz que valha tenha Jorça e vigor como sejbra carta Jeita em meu nome por mim assinada sem embargo de ordenação do segundo Livro titolo corenta em contrario Pedro Alvarez o fez em Lisboa a trinta de Outubro de mil seiscentos e vinte e quatro. Manoel Jugundez o Jez escrever.
Segue- se a assinatura de Filipe IV do Alvará que Vossa Magestade he por bem de confirmar aos officiaes da confraria de nossa senhora da paz do Lugar da Constantina freguesia de Ansião termo da cidade de Coimbra, este Compromisso na forma que nelle se contem pello mandado acima declarado. Seguem-se duas assinaturas».
Primeiro Compromisso da Confraria da Constantina 
«CAP.° 1 do Recebimento dos Irmãos nesta Confraria
Todos os Fieis Christãos; que por serviço de Nossa Snrã da paz se quizer meter por irmão desta sancta Confraria será assentado no Livro della, e dará cada hum de entrada conforme sua possibilidade, que a menos será de cada hum vinte reis e sendo pobre dez reis, e quando falecer deixe a dita Confraria de seus bens o que quizer, e será participante em todos os benefícios que o Senhor Deos e o Padre Sancto o Papa nosso Senhor outorga aos confrades que nesta confraria entrão
CAP.° II da pena que averão, os que não aceitarem o Serviço da Confraria
Ordenamos e estatuímos, que cada hum dos ditos irmãos que sair por official desta Confraria se não escuse do cargo que lhe for lançado e aquelle que o recuzar sem legitimo impedimento pagara sinco arráteis de cera se for mordomo ou Escrivão, mas se for Juiz dez arráteis de cera em pena de não aceitarem o serviço da dita confraria.
CAP.° III da ordem que avera no dizer das Missas
Nesta Confraria como dito he avera hum Juiz, dous mordomos, hum Escrivão, e hum Cappelão o qual dirá missa pellos irmãos confrades e benfeitores desta Sancta confraria, e caza e vivos e defunctos, todos os dias de Nossa Snra que ha pella roda do anno, e Domingos e Sanctos delle e assi mais os primeiros Domingos de cada mes se dirá nua missa em memoria dos doze Apóstolos de Christo para que roguem a Deos por nós pecadores tudo a custa da Confraria, e os officiaes que servirem darão candeas ou vellas aos confrades que terão acezas em suas mãos, emquanto estiverem a dita missa e o Capellão antes do Prefacio ao tomar do lavatório será obrigado a dizer pellos vivos e defunctos e benfeitores desta caza a oração do Padre nosso, e Ave Maria, e os confrades prezentes o rezarão também pedindo ao Senhor Deos haja por seu Sancto serviço aver misericórdia das almas de nossos irmãos e confrades vivos e defunctos.
CAP.° IIII Como por ordem do Juiz se mandarão dizer as missas 
O Juiz terá cuidado de mandar dizer as missas sobreditas para que a Senhora seja bem servida e assi tudo o mais que he bem parecer, conforme a possibilidade da dita confraria e para honra de Deos e de nossa Senhora e proveitos de nossas almas e dos defunctos.
CAP.° V que o Juiz que se elleger tenha as partes que se requerem
Na elleição do Juiz se terá muita consideração para que se elleja pessoa que tenha as partes que para o dito cargo se requerem: e a mesma se terá na elleição dos demais officiaes, e ao fazer delles se lerá este capitulo aos cabiduães que os hande elleger
CAP.° VI de como se ellegerão os seis cabiduães, e os mais offíciaes que hande servir a Confraria
Mais ordenamos que em cada hum anno se ellejão primeiramente seis homens dos irmãos da Confraria de boa e sam consciência e fama que sejão Cabiduães elleitores e que estes ellejão os ditos offíciaes como dito he, e o Juiz Velho da confraria lhe dará juramento para que bem e verdadeiramente sirvão seus offícios, que na dita Confraria me forem dados guardando primeiramente o Serviço de Deos e de Nossa Senhora e bem do prol commum segundo suas consciencias: estes seis homens se hande elleger em cada hum anno pello dia de Nossa Senhora da Paz para a dita elleição como dito he.
CAP.° VII da obrigação dos mordomos e como terão em seu poder as pessas e ornamentos da Confraria
Ordenamos que os mordomos que servirem e ao diante forem terão em seu poder todas as pessas ou prata e mais ornamentos e as demais couzas da Confraria que se terá dentro em hum caixão que mandarão fazer para terem as cousas sobre ditas da Confraria e terão muito cuidado e lembrança destas e de todas as mais cousas que lhe pertencem convém a saber de mandarem pedir para as missas de Nossa Senhora e suas obras na qual igreja e hermida avera alem disso huã caixa para nella os Romeyros e fieis christãos deitarem esmola para as obras de Nossa Senhora a qual terá duas chaves com boas fechaduras differentes-huã das quaes terá o Juiz da dita Confraria e outra hum dos mordomos e isto em quanto servirem o seu anno e terão muito cuidado de mandarem fazer, e pôr em recado todas as cousas que pertencem a Confraria e de as mandar fazer e comprar cada huã em seu tempos sob penna de pagarem de suas cazas a Confraria tudo aquillo que por sua negligencia ou culpa se perder; e de tudo o que Receberem e despenderem lhe será tomada conta pello Juiz e officiaes que de novo entrarem a servir a Senhora da Paz, a qual darão tanto que acabarem de servir seu anno dentro em quinze dias ao mais tardar, sob penna de mil reis para a cera e obras da Confraria.
CAP.° VIII como as cousas da Confraria se arrendarão ou arrematarão
a quem por ellas mais der
Todos os bens que ouver da Confraria se arrematarão em pregão a quem por elles mais der e o que Renderem se carregara em termo apartado no livro das Receitas desta Confraria.
CAP.° IX de que avendo duvida na elleição se ellegera por votos de toda a Irmandade o Capellão
Ordenamos que avendo duvidas entre os seis elleitores Cabiduães, Juiz e officiaes da Confraria sobre a elleição do Cappellão dela, se ellegera a mais votos de todos os irmãos e confrades para que não aja scandalo entre os officiaes e se faça o que for mais proveito da Confraria porque assi entendemos será a Senhora mais bem servida.
E Porque de todo o conteúdo neste Compromisso somos contentes Pedimos a Vossa Magestade nos faça merçe de o mandar confirmar e mandar que o Juiz da dita Confraria tenha poder e auctoridade para obrigar ou executar nas pennas sobreditas aos irmãos que não quizerem aceitar os cargos e officios que nesta Confraria da Senhora da Paz lhe forem dados, E, R, M.»

Esta é que é a Imagem da verdadeira Nossa Senhora da Paz

A Confraria solicitou alvará para duas Feiras Francas

(...) O alvará régio para duas Feiras Francas  a realizar a 24 de janeiro e a 2 de julho de cada ano no Rocio da Capela foi concedido por D Pedro II a 25 de junho de 1697. 

Ação mercantil  com tradições de património imaterial  ao rei pinhão e à Rainha Santa Isabel,  a evocar a memoria da sua passagem por Ansião.  

Com panóplia de vendedores de várias origens. Na centúria de 800, coligi a sua vinda de Soure, ao enxergar tamanha riqueza, credível levaram a semente dando início ao ritual - Ramo de Pinhões ao Divino Espírito Santo - andor enfeitado com pinhões, há mais de 200 anos. De igual modo, foi plantada  a semente em Oliveira do Conde, hoje Carregal do Sal, de onde também eram assíduos vendedores nas feiras na venda de tanino e, claro se tenham alastrado ao Alto Alentejo, por serviçais dos Senhorios na região abaixo do Tejo. 

A  transcrição sobre o vendedor aforô Manoel António Roriz Guimaes

Se entenda apelido com origem da terra de origem. 
Em  Ansião e, a escassos quilómetros a sul da Freixianda, em Rio de Couros, houve prática da arte de curtir peles,  trazida de Guimarães, onde era rainha, arte deixada dos mouros,  ainda hoje com grande evidência em Fez, no norte de África. Curiosamente a festa do bôlo, massa de pão, cozido nos fornos como Abiul, Avelar, que ainda existem, também aqui houve essa tradição, como em Pombal e Santiago de Litém.

O apelido Guimarães
Desconheço  como o meu ascendente  António Joaquim Bastos Guimarães, nascido em Fafe, educado na Roda de Guimarães, veio para  Maças de D. Maria. Aportou à Cabeça do Bairro, em Ansião , como Oficial de Diligências no Tribunal na Casa da Câmara. O apelido perdeu-se em Ansião , ainda vivo em Figueiró dos Vinhos.

Retirei excerto sobre a arte de curtir couros em Guimarães
https://bloguedominho.blogs.sapo.pt/
(...) Noutros tempos as pesadas fazendas – assim eram denominados os couros - eram submetidas a complexos e demorados processos de transformação. Em condições de trabalho muito precárias e estando em permanente contacto com a água, homens de forte compleição física revolviam as peles mergulhadas em tanques  de granito rasos ao chão, como no norte de África ainda se usam para a tinturaria. Os curtidores eliminavam os pêlos e as gorduras, com auxílio de ferrelhas, preparando as fazendas para durante meses receberem a curtimenta propriamente dita.
As cascas de carvalho, retiradas das árvores que abundam nas serras altas de Fafe, ofereciam o tanino à operação que era orientada pelo saber transmitido de geração em geração.
Descalços, ao sol ou à chuva, os curtidores tinham um trabalho árduo, sujo e mal-cheiroso. A sua experiência e sabedoria eram, no entanto, fundamentais para o conhecimento das implicações das condições climatéricas na temperatura das águas onde repousavam as peles em banhos tanantes.
Seguia-se o enxugo muitas vezes ao ar livre, ocupando as bermas da via pública.
Cabia aos surradores o processo de acabamento, antes dos couros serem colocados a secar em arejados barracões de madeira, construídos sobre oficinas ou paredes-meias com as modestas habitações operárias, ou até nos quintais dos edifícios burgueses.
Sabendo que ao longo de séculos, as matérias-primas desta indústria foram os couros do gado bovino abatido no norte. Seguiram-se as peles oriundas do Brasil e de Angola e Moçambique.
O negócio era rentável e despertava o interesse e o investimento de pessoas oriundas de todas as classes sociais, tendo-se tornado numa atividade que muito contribuiu para a projeção económica de Guimarães e para o desenvolvimento de outras atividades como a industria do calçado. 

Em plena época medieval propícia a milagres e águas santas, singrou o pinhão - alimento trazido por gregos;  alimento duradoiro e vendável. 
O cultivo da pinheira, além do pinhão, a casca é rica em taninos, usada para curtir couros na indústria que floresceu em Guimarães, desde a Idade Média, fora das antigas muralhas junto ao rio que atravessa a Cidade, numa zona outrora conhecida por burgo de Couros e onde atualmente ainda persistem os vestígios dessa ligação antiga à manufatura das peles.

Os curtumes explicam a migração interna de gente do norte que trouxeram a  herança dos curtumes para Ansião. Contudo, a falta de água os tenha feito mudar na centúria de 700, para fidelizar o toponimo Rio de Couros, em Ourém e Torres Novas, senhorio do Duque de Aveiro, como teve quintas em Ansião. Hoje, a industria dos couros, floresce em Pernes. 

Nas Memórias Paroquiais temos um um individuo de apelido Freire Gameiro que instituiu uma capela na vila de Ansião,  e  assistia às missas em Torres Novas. 
Se correlacionar o apelido Gameiro, nos donos dos Armazéns de Maças de D.Maria com o pai da locutora Fátima Lopes, de quem conheci o irmão, o padre Ricardo Gameiro na Cova da Piedade, cuja alta estatura e olhão a filões de oportunidades, se revela cariz altivo de  genes judaicos.
Resquícios da herança de curtumes, recordo o meu pai curtir uma pele de uma cabrita e,  de a ver esticada em canas, a lembrar um estandarte.

Por datar o início do conceito da Banca em Ansião
acreditação do milagre da Fonte Santa fomentou a chegada de muitos doentes na procura de cura, romeiros e novos confrades. As esmolas eram tantas, que logo decidiram ampliar a pequena ermida na Constantina, capela atual, que se devia chamar igreja, pela monumentalidade. 
Os judeus implementaram na Casa da Mesericórdia de Ansião o início do sistema da Banca, concedendo empréstimos, cujos incumprimentos reverteram para a Casa as hipotecas, e daí os seus bens no final do Séc. XIX, que foram disseminados... E tenha sido este espirito de fomentar riqueza que se incremetou nos clãs da Confraria com aplicação de juros a 5%. é desconhecido em Portugal, a terra, que primeiramente introduziu a técnica de cobrar juros, na rentabilização de recursos financeiros, rotulada de ajuda humanitária? Fenómeno bancário documentado, foi exercido na Constantina, e na Misericórdia de Ansião, documentado num livro de 1837, desconhecido de investigadores, em bibliografia inédita. Jamais valorada na sociedade laica que a concebeu e, se aclame – ainda se mantém viva entre particulares, no concelho de Ansião!

O ativo financeiro correlacionado no livro da Confraria

(...) em 25-06 de 1697, o alvará das feiras francas, a conceder autorização aos oficiais da Confraria  para cobrança do terrádego aos feirantes, alugava tábuas, alpendres e ainda disponibilizava duas casas. Mercadores pagam 300 reis, Tendeiros, Sombreireiros, Cortidores. ourivices, 100 res , demenos conta cinquenta, unindo carros e cavalgaduras , e ainda a cabessa com as costas, 20 reis.

(...) alguns aforamentos entre 1815/8 de vendedores que se deslocavam de longe desde Tomar, chegavam de antevéspera ou véspera para arranjar melhores locais. 

(...) Aforão nove lugares de Vala (de Ourique)- que o autor não conseguiu decifrar (?) Jozé da Cruz Marto; Manoel Marquez Loirenço e da outra banda Joze Marquez Loirenço; aforão José Pedro de Condeixa, em 1815 dois lugares pegados à capella; aforô Manoel António Roriz Guimaes o lugar pegado à loja de baetas de João Batista de Soire da parte de tras em 24 de janeiro de 1817; aforô Sr Joze Caetano de Soire hum alpender o de cima o Lugar do meio - 1.000 por cada um , 23 de janeiro de 1815. 

(...) Esmolas a forasteiros suplicadas , em género (milho, trigo etc,  que depois era vendido) com outras em dinheiro a juntar com as esmolas da caixa da Capela, azeite de 223 oliveiras e lande de 6 carvalhos, e rendas de três fazendas; Poizão, Linhares e Vale das Caeiras. Com capital a juro (julga-se de 1774 até 1853 no total de 148.100 réis, que, à taxa de 5% dava um  juro de 7.400 réis ao ano. Passou nesse ano para 348.100 réis, com o legado de 200.000 réis, passando a 17.500 réis/ano. Em 1850 a Confraria com o recebimento de um  legado de 200 000 réis reforçou a carteira no total de 350.000. Lamenta-se a falta de menção de quem fez a doação, seria de pessoa importante.

 (…) uma das mais antigas instituições de Ansião. Se comprova no registo paroquial (…) a 9 de julho de 1600 batizou António Martins, capelão da confraria da minha igreja - mais tarde aparece denominada por Confraria velha.


Notas curiosas que se retiram do livro                             
(...) Em 1775 venda do olival do Rossio em volta da capela por preço muito inferior ao valor real que provocou grande consternação por muitos irmãos...» 
Segundo o autor João Freire seria  irmão de Francisco Freire, ambos dos Netos, este em 1775 Mordomo da Confraria e  nesta data João Freire aproveitando-se da função do seu irmão ser o Mordomo, comprou o olival do Rossio da Capela, sem ter dinheiro contraindo um empréstimo de 57.600 réis  de valor inferior , quando valia 150.000 réis. 
Denota o jogo oportunista no seio do interesse familiar em  obter beneficio, furando o conceito dos Estatutos da  Confraria - para um irmão  privilegiar um familiar direto, um seu irmão de sangue, em detrimento de toda a Irmandade da Confraria.
Assiste-se ao mesmo sofisma implantado com a fidelização do Milagre da Fonte Santa, no imediato ampliar a ermida na Constantina, em templo recorde (4 meses), engrandecida  com telheiro para acoitar romeiros, quando o certo seria ter erigida no Lugar onde nasceu o  Milagre.
Por último, a venda do olival por  valor inferior ao do mercado e, o comprador sem capital  a ser financiado pela Confraria,  onde o irmão teria voz firme para a sua aprovação.
O episódio, retrata o início do conceito da Banca, no concelho de Ansião, introduzido pela comunidade judaica  na Constantina que a documentação da  Confraria o legitima - mas o autor não correlacionou, e, na minha actividade bancária correlacionar com  extraordinária facilidade .

(...) Em 1774 aparecem nomes  a quem foi dado empréstimos
Manuel Roriz Valente ; Manuel Simões; João Freire;Lucas Pereira Pegado; Manuel Roriz; João Pires; Maria dos Anjos, viúva de António Freire; Luísa Maria, viúva; João de Barros; Maria Godinha; Manuel Roriz da Paz; Manuel da Costa;José Mendes ; António Duarte Faveiro; Joaquim Marques; José da Silva; Narciso Caetano; Francisco Dias e,... 
Sobre Manuel Roriz Valente - faz parte da minha árvore genealógica com raízes na Constantina e Sarzedela.

(...) com base numa certidão lavrada em 1776 passada à ordem do Provedor pelo escrivão da Confraria Alexandre de Barros e Santos, e pelo Mordomo da mesma João da Silva, muitas vezes, os Mordomos eram negligentes , ou não se queriam dar ao trabalho burocrático , ou ainda, pretendiam escapar ao pagamento da décima, não registando  no notário estes contratos de empréstimos, daí que tivessem sido advertidos   várias vezes para este facto. A "actividade financeira" era útil para ambas as partes: para as pessoas que contraiam os empréstimos , porque assim podiam satisfazer necessidades imediatas de capital, por um juro bastante baixo e para a Confraria que, deste modo rentabilizava , em segurança, o seu dinheiro.
Na Constantina - 7 empréstimos
Netos - 1 mas atinge 1%3 do total do capital emprestado
Loureiros - 1 empréstimo
Ansião - 1
De Ansião - Maria Godinha- em 1776 encontrava-se em litigo no juízo de Ansião  
O capital a juro da Confraria era de 138.026 réis e com ele 145.326 réis =7.300 réis que devia
A Confraria aceitava mulheres como confrades. Contudo se admitirmos que o ganho de direitos - como o simples ato de abrir uma conta bancária,  só foi possível após o 25 de abril - acaso seria abençoada de belos olhos azuis como Jesus?

O valor dos empréstimos até meados do século XIX rondou neste e noutros beneficiários, viúvos e filhos o montante de 148.000 réis, o que dava um  juro de 7.400 réis ao ano no ano de 1850.

(...) O maior número de confrades de Pedrogão Grande, auspicia origem do apelido Freire, aportado a Ansião, da família nobre de Miguel Leitão Freire d’ Andrade? Ou de um ramo que veio de Soure?

Não deslindei no livro do Dr. Manuel Dias, referência ao Mestre Jesuíta António dos Santos Coutinho

Vindo de Lamego a Ansião onde instituiu em 1696, um Morgadio com capelas aos seus limites, para não se perder a memória da passagem da Rainha Santa Isabel. Porém, não aparece como confrade, nem menção de esmola, nem de outrem do seu apelido – pese o arquivo incompleto, e tendo a sua família exercido cargos na Misericórdia de Ansião, acaso seriam de um outro clã,  que não se identificava com a ideologia cimentada no milagre da Fonte Santa? Ou não, a rivalidade era cimentada no dinheiro? 

A Feira Franca dedicada à Rainha Santa Isabel a 2 de julho, com alvará régio a 25 de junho de 1697. Agora saber quem foi o pioneiro a perpetuar a memória da Rainha Santa Isabel em terras de Ansião? 

O Mestre Jesuíta ou, a Confraria da Constantina? Admito foi o Mestre Jesuíta, e a rivalidade foi essa mesmo, por isso a Confraria pediu no ano seguinte o alvará para uma 2ª feira em sua honra. Sem explicação a razão de não ser no dia 4 e sim no dia 2. óbvio para ter vendedores que daqui seguiam para Coimbra.

A saída das Feiras do terrado da Constantina

Nos finais do séc. XIX deu-se a mudança das feiras francas para a vila. 

Perdeu-se a sua identidade cultural, resiste  a feira dos Pinhões e as festas na Constantina.

O povo da Constantina ainda guarda a amargura da retirada das feiras, e claro da perda da receita. 

Após a retirada das Feiras Francas da Constantina para a vila, a camara de Ansião, fez promessa de  pagamentos em ata, mas, jamais cumprida. Explica num hiato de 98 anos o fraco rendimento da Confraria sem a receita da feira a ditar a falta de manutenção da capela sem obras de benfeitoria. 

Bom, e o dinheiro que andava emprestado, que não foi pago nem os juros? Muitos não ressarciram a Confraria dos emprestimos e outros teriam ficado com ouro,  entregue em promessas. A ilação que se retira se atender ao  rico património, que se desvaneceu e degradou, com agravo dos párocos que passaram por Ansião, a não lhe destacar o seu valor. Exceção do Sr. Padre Manuel Ventura Pinho, na primeira vez que visitou a Constantina, enxergou o real património da capela, e claro deu alerta para ser hoje um Monumento de Interesse Nacional! 

Um bom exemplo de padre, muito fez pela preservação do património religioso em Ansião a que se junta a partilha de o dar a conhecer ao Mundo, merecia estar atestado na toponímia. 

Conclusão

A Confraria desempenhou papel fulcral na troca cultural alicerçada numa instituição de âmbito religioso, com romaria e peregrinação a NSPaz, cujos devotos eram maioritariamente da região centro, vindos ao chamariz do banho para curar maleitas. Já os confrades, vinham também pedir concessão de crédito. Os pobres e mendigos procuravam apoio e ajuda solidária. Gáudio a ação mercantil, pela panóplia de oferta: tecelagem, peleiros – alcunha viva em Ansião, o comprador de peles de coelho para vender para as fábricas de chapéus e julgo para os franjados dos xailes da Lomba da Casa, tanoeiros e ferreiros do Pereiro, de Pousaflores, oleiros de Miranda do Corvo, paneiros de Soure, baetas de Condeixa, ourives de Febres e Cantanhede, curtidores de Guimarães , chapeleiros de Braga, sedas de Bragança, etc. 

Por fim comparar na mesma Diocese, a que foi a Irmandade da Senhora do Carmo da Marmeleira de Mortágua, com estudo em 1987, da Dra Guilhermina Mota. Em verdade – a Confraria da Senhora da Paz – apresenta-se em imerecido patamar inferior. A exigir maior investigação, divulgação e acreditação, pela secular dimensão oferecida tanto aos de casa como aos de fora. 

Igual descrédito a falta de menção das suas Feiras Francas, no livro Feiras no Portugal Medieval de Paulo Morgado e Cunha de 2019 e, já antes, em 1982, no estudo de Virgínia Rau.

Fechar ao apelo da mensagem exarada no livro pelo ex. presidente autárquico Dr. Fernando Marques (...) Estudos da História Local, são sempre da maior importância para a região a quem dizem respeito e para a historiografia geral, pois são contributos indispensáveis ao conhecimento de nós próprios e do nosso passado. 

Sugere-se para a comemoração dos 400 anos - a reedição do livro - vestido de nova abordagem, estudo antropológico à acreditação do Milagre, curas a banhos, confraria, devoção a NSPaz e feiras francas.


Excertos retirados do livro do Dr Manuel Dias








FONTES
O livro  Perspetiva Global da Arqueologia Histórica e Arte da Vila e do Concelho de Ansião, de 1986, do Padre José Eduardo Reis Coutinho
Livro da Confraria de NSdaPaz de 1996 do Dr Manuel Dias
Memórias Paroquiais
Informação de Henrique Dias
https://bloguedominho.blogs.sapo.pt/

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

O Curcial de S. Bento na Torre de Vale de Todos!

Crónica resumida publicada no Jornal Serras de Ansião

Lagoa cársica na entrada da Rua de S. Bento defronte do Casalinho

Segundo o meu amigo Henrique Caseiro foi criada há cerca de 30 anos , no meu tempo de
infância, o que lá existia era um morro, com pinheiros que ficou desnivelado em relação aquele cruzamento  que se veio a formar com a abertura do caminho de quem vem Torre e de quem
vem Casalinho, ambas as direções com destino ao Curcial S. Bento.
Creio que foi o m/ padrinho A. Grunho que ajudou na criação Lagoa, o que já devia ter sido feito há muitos anos, pelo menos as Ovelhas e Cabras etc. quando vêm de pastar têm água para beber...Ainda se podem ver alguns Pinheiros no meio da Lagoa, conforme se mostra.

                               

Registo de um casamento  a 6 de agosto de 1757 

 João, filho de João Rodrigues e Ana Rodrigues moradores que foram no Curcial de S. Bento na Lagarteira ,com Isabel Mendes filha de Manuel Mendes e de Luísa Freire do Lugar da Fonte Galega.

Casario antigo defronte da capela, com piais numa janela

                       

 Capela de S. Bento no Curcial

Cuja requalificação lhe retirou toda a traça antiga. Por dentro apenas o altar deve ser de origem e a Imagem .                    

Aguardava-me a surpresa da capela aberta muito bem limpa a ensejo de boas vindas. De criança recordo rasgados sermões, ao sábado, nos degraus da Igreja da Misericórdia com o “ pregador do Curcial“ - a 1ª vez que ouvi o topónimo. O bom homem, pai de família, viveu no sítio do Seminário do Bispado de Coimbra, sofreu meningite depois dos 40 anos mas, lia a Bíblia - alimento à sua vocação de pregador, em tempo de grande incultura, a incomodar alguns... A crónica pretende dar voz aos manos nascidos neste paraíso esquecido- Filomena e Albertino Lopes “ouviam dizer à sua mãe que nas ruínas que ainda existem no quintal houve um seminário onde foram ordenados sete padres, com um lintel de 1763”.

O Dr. Manuel Dias refere o Curcial e a Coelhosa documentados em 1236. Se juntar Carreira – indicia a passagem da via romana- todos, a merecer estudo antes que se percam os vestígios. Da Lagoa do Pito, subindo à Lagoa do Casalinho, com descida à Lagoa do Curcialinho, seguia o caminho para a Ribeira do Açor, julgo perdido e, outro a poente para o Curcial. Os marcos territoriais são testemunhos históricos, pelo que devem ser preservados. O que existia na frente da Lagoa do Curcialinho foi destruído ou reutilizado…

A ocupação no Curcial foi estratégica, a meia encosta do lombo do outeiro, espreitando o sul e a boa água do poço Sobral .

Lugar soalheiro para o local da casa de sobrado com lintel de 1653, ornada de farta escadaria a poente, onde nasceram os anfitriões. Mas, antes, se admita, foi a morada do casal abastado, instituidor da capela a S. Bento – Manoel Jorge e Catarina Simões. O apelido com origem inglesa“ George” aportuguesado em Jorge, de gente que veio trabalhar  para a ferraria real . 

O relato do juiz Bernardo Rodrigues de 1721

Sobre a doação da capela, indicia que o casal não teve filhos e, se alvitre que a casa de morada foi deixada ao Bispado - a ser clarificada com documentação

Provável morada dos instituidores da capela de S. Bento

                     
Pedra de cantaria reutilizada na entrada do portal da casa
Excertos retirados das Memórias Paroquiais (…) No Lugar do Corsial de Sam Bento da uurisdisam deste Couto de Ual de Todos esta huma ermida da euoquasam de Sam Bento, não tem obriguasam alguma e esta na fregezia de Sam Domingos da Lagarteira termo da uilla de Penella."
No Lugar do Corsial de Sam Bento da uurisdisam deste Couto de Ual de Todos se acha hum testamento em poder e mão de Francisquo Freire o qual testamento istituio hum Manoel Iorge e sua molher Caterina Simois moradores que forão no dito lugar e consta cer feito no anno de mil e seis sentos e nouenta annos 1679 annos, foi feita a uinte e outo dias do mes de maio do dito anno. Neste instituiram outo misas pera sempre e deixaram fazendas obrigadas pera o pagamento dellas as quais oie amdam repartidas pellos herdeiros e pesuidores seguintes"
João Mendes da Mouta da Lagarteira termo da uilla de Penella huma misa.
Joam Rodrigues do Corsial de Sam Bento huma misa.
Framcisquo Freire do Corsial paga simquo misas por si e por fazenda que traz de quatro herdeiros da dita fazenda a quem anda repartida.
Manoel Rodrigues Pisquo do Corsial paga huma misa

A descrição do Curcial nas Memórias Paroquiais (…)“está sitiado entre mato e tem em si dezoito vizinhos (…) Em 1758 tem 22 fogos, no total de 72 pessoas (…) Em 1792 apenas 12 moradores.

Quiçá o sucesso do Seminário Jesuíta, na Granja de Santiago, tenha inspirado o Bispado de Coimbra, para fundar um pequeno Seminário, que não é referido na informação de 1721, do Lic. Padre Manoel dos Santos (...) ” não tem Mosteiros, Misericórdia, Hospital nem Recolhimentos.” 

Expetável que a sua fundação aconteceu após 1721, sendo vivo em 1763, mas, em 1792, já não existia por ali viverem 12 pessoas.

Óbvio que foi adquirido em haste pública, após a extinção das Ordens Religiosas em 1834. Ainda é viva a sua memória, o chão na mão da família “Jerónimo Grunho”, na voz do povo dito no plural Jerónimos Grunhos ( segundo informação do Sr. Henrique Caseiro, dada pelo seu padrinho Alfredo do Casalinho, eram parentes e,  sobre a alcunha "Ti Maria dos folhos ", se deve concerteza ao uso de saias rodadas, pois era solteira e gostaria de agradar a algum pretendente, mas o Lugar foi-se desabitando e morreu solteira, fazendo a doação da sua herança, o sitio onde foi o Seminário com a casa e quintal,  à  Mãe dos meus amigos acima referidos, a quem a crónica é dedicada
Do Seminário restam duas ruínas de paredes cegas, com lintel avulso na porta a norte em frente do antigo caminho. A notável falta de elementos arquitetónicos aventa a hipótese de ter sido implantado no celeiro da quinta e, não construído de raiz .

Fotos retiradas da página Facebook do Sr. Padre Manuel Ventura Pinho

              

                

Padre José Eduardo Coutinho, no seu livro de 1986 durante o bispado de Dom Pedro Soeiro, também chamado Soares, foi Bispo de Coimbra desde 1193 a 25 de maio de 1232, dia em que resignou, muitas pessoas devotas deixaram consideráveis propriedades à Sé de Coimbra. Pelas mesmas razões, também João Joanes, chantre conimbricense , lhe deixou, a 27 de agosto de 1226, a sua quinta de Vale de Todos, e outras propriedades não designadas com obrigação de lhe dizerem uma Missa de Nossa Senhora em cada sábado.

Sobre a Quinta de Vale de Todos  adianta ainda o Padre José Eduardo Coutinho a 27 de janeiro de 1594, Ambrósio de Sá e Francisco Seco, cónegos da Sé de Coimbra, na presença do tabelião António Dias Ferreira, deram a Simão Luís, de Curcial, e a outro homem não designado, a posse das terras do couto de Vale de Todos, os quais logo lavraram alguns matos e sesmarias e lhes semearam cevada, na presença dos empossadores, para, assim,darem maior expressão ao acto que acabaram de realizar.

Em crer, o topónimo Consial, ou Concial  - o primeiro conhecido da Quinta de Vale de Todos, topónimo que nos aparece identificado em 1162, segundo o Padre José Eduardo Coutinho.Inspira a sua origem em  homiziados - a quem D. Afonso Henriques, perdoou crimes graves, fugidos à justiça  - de retomar a  liberdade, desde que povoassem o sul do concelho do Germanelo, que entestava  a sul com Ansião,  depois de 1142 a 1185 - nada mais que  "carne para canhão" na defesa da cintura sul da cidade de  Coimbra das algaras mouriscas vindas de Santarém. 

O Foral de 1142 do concelho do Germanelo

«Sob a condição dos seus habitantes cultivarem a terra e a defenderem dos inimigos. Nessa altura o concelho sofreu uma forte colonização e o sistema defensivo foi alargado com a construção da Torre de Vale de Todos. 

Porém, o concelho foi perdendo nomeada com a expulsão dos mouros de Santarém,  Lisboa e Alentejo e sendo o terreno agreste e  margoso, deu-se o encaminhamento das gentes para sul onde se achou no Vale de Todos, a ditar no meu opinar - a união e consenso desses povoadores a ditar a origem do topónimo , pelos genes que ainda se mantém; cariz  ambicioso em penhorar chão alheio, sendo público, a exemplo de baldios, como da Fonte do Carvalho, de caminhos, desaparecimento de marcos o que me apraz dizer, em tristeza. 

Já era Couto antes de 1561, pela notícia do Padre José Eduardo Coutinho “ em 1561 a instância para demarcar os limites do Couto do Bispado de Coimbra de Vale de Todos, tinham todos os dias “contendas e debates” entre senhorios nobres e eclesiásticos.” 

Couto da Torre de Vale de Todos veio a integrar o concelho de Ansião em 1878, detém a Universidade de Coimbra um tombo de Vale de Todos, Sesmarias e Curcial. Mas, é preciso que alguém o traga à ribalta.

Com a perda da fonte de rendimento do Bispado, serviçais e moradores foram obrigados a sair e procurar alternativas, dando-se o gradual despovoar após a República, que se mantém. Existem duas casas em pedra bem recuperadas, como outras devolutas. Uma nogueira secular, carvalhos e oliveiras.

Segundo o Sr. Padre Manuel Ventura

“ (...) na sacristia da Igreja da Lagarteira guarda-se uma página da imprensa - Bibliog A. Franco, sobre um padre nascido no Curcial de S. Bento - Manuel de Almeida, religioso da Companhia de Jesus, pregador e confessor, muito conhecido e venerado pelas caridades de acudir aos mais necessitados e os visitar nos cárceres, sendo conhecido “procurador dos presos”. Pedia esmolas na Ribeira (Lisboa) e em casas. Faleceu no Convento de S. Roque em 01-01-1691. Houve outro padre António Freire, aqui nascido que terá falecido na 2ª metade do século XVIII.”

O Curcial no séc. XVIII aglutinou o orago da capela - S. Bento, para não se confundir com o Curcial Pequeno, atual Curcialinho.

                                                      
Abençoado e belo lugar altaneiro, agraciado de vistas panorâmicas e rico de história. A estrada beneficiou de asfaltamento recente, sem a continuação até à Ribeira do Açor. Já outros caminhos a reivindicar limpeza antes que se percam. Todos a carecer catalogação, manutenção e sinalética, pela Junta de Freguesia de Ansião. Pela utilidade para trilhos e trails de bicicleta.

O maior anseio dos filhos do Curcial de S. Bento é vê-lo renascer com gente nova que valorize o passado, ame as pedras, a capela e, as tradições a recriar nas eiras, como saciar a boa água do poço Sobral. A mina a merecer intervenção com nova canalização para os fontanários e retirado o letreiro (água não controlada).

Endereço votos de um bem-haja e imensa gratidão, aos meus bons amigos pela franqueza e disponibilidade, estendida a Henrique Rodrigues Caseiro, pelo bairrismo e, gosto pela história de Ansião.

Depois da capela a saída para a Ribeira do Açor por caminho de terra batida

Onde a ladeira é mais evidente notei umas pedras de calçada...quiçá romnana.

O Poço Sobral

Julgo que foi alterada para fonte em 1964


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