domingo, 20 de novembro de 2022

Caminhada da Mouta Redonda à serra de Nexebra, Ansião

Dias antes da caminhada a 16 de Outubro de 2022, por volta da hora do almoço, estranhei o fluxo de carros, de gente importante, na Mouta Redonda. Conheci algumas individualidades do seio politico, ocorreu - me que pudessem vir analisar in loco as acessibilidades da via estreita, como da falta de espaço para manobras em caso de incêndio...enfim da serra, afinal a maior mancha florestal do concelho de Ansião, sem visão neste olhar atento .
Havia de reparar no dia seguinte que afinal foi melhorada, a Travessa das Hortas do Furadouro, para sul, para a estrada principal, há anos foi fechada a cordel... Desconheço se a saída para norte, que ainda conheci, se mantém para o Furadouro...Como não sei se a obra ficou pronta, sem valetas com brita miúda, cansa o andar...imagino em tempo de chuva!
A temperatura convidava a caminhada, 3 horas, e porque a descida foi pelo atalho pelo costado poente.

              

O estradão de acesso à serra de Nexebra. Entroncamento na estrada principal da Mouta Redonda, incorretamente atestada Rua do Lavadouro, numa extensão de mais de 3 Km... A merecer alteração para Rua da Mouta Redonda de Cima, Rua da Mouta Redonda de Baixo, Rua do Pensal e Rua da Ponte do Pereiro. Como a necessidade urgente de valetas e quiçá alcatroamento da Ladeira para a brita não deslizar para a estrada principal.

             
Canos de plástico outrora ligados de minas, em desuso há décadas, persistem no terreno, causadores de dispersão de incêndios, por ser matéria altamente combustível. 
Impressionante, as bermas foram limpas e bem, deixando os canos...
Aflitivo o desprezo às  regras de certos madeireiros que deixam a faxina nos terrenos.
Serra mal amada, votada ao desmazelo, sem manutenção dos estradões, com muita faxina deixada pelos madeireiros...
Lote da minha sogra, com rampa de entrada, bloqueada com a faxina a infestar de silvedo...
Pilriteiro, que chamamos Carrapiteiro
À esquerda deste eucalipto de vários pés, existe  um grande poço que entesta com a arriba da estrada...um perigo e bem grande encoberto pelo silvedo...
Panorama, vasto, semeado a eucalipto em terra de  xisto  que antes foi pinhal e de castanheiros , desaparecidos há volta de 80 anos com uma moléstia que os atacou. 
Um olhar atento verifica-se que alguns castanheiros, lutam para sobreviver, debalde, não medram por causa dos eucaliptos ... 
Entulho com telhas de amianto no Ribeiro do Vale, onde a Junta de Freguesia em tempo ido ao alargar o caminho da serra, deliberou fechar o caminho dindo do Beco do Quelho do Vale, pedonal, que faz muita falta, numa aldeia de poucas acessibilidades para caminhadas e acessos a terrenos .
Deve ser reaberto!
Bermas de alto silvedo sem regateiras...
Mina de S. João...seca!
Outrora, ainda recordo nque  abastecia regadas soltas, por levada, de terra e madeira.
 
                                 
Regateiras escavadas nas veredas da encosta
Subida ao som da colónia de gralhas...sem se deixar fotografar, em poleiro de altaneiro eucalipto...
 Sem valetas, a água escava regos fundos em ziguezague...
Entroncamento  à Amieira. Para nascente, para norte vai-se para o picoto
 Para sul, estrada  muito  ingreme para a Mouta Redonda de Baixo, sem manutenção e com faxina...
A subida para o Santainho
Faxina deixada num lote nosso...
As folhas dos eucaliptos ainda com gotículas de chuva...
Mato enlaçado de teias , desconheço o inseto que as faz, espessas...
A névoa não permitia fotos espetaculares da beleza de aldeias semeadas nas cumeadas a poente
em Pousaflores... 
Em chão direito com bermas entupidas de silvedo, impenetráveis. Não nos permitiu ver um eucaliptal a uns 50 metros da estrada...admito a mesma situação na outra acessibilidade, mais à frente, o chamado caminho velho... 
Faxina deixada...
Regateiras na estrada, dificultam a acessibilidade, só de jipe...
Penedos de mármore vomitados das estranhas da serra na sua formação há milhões de anos ...
A serra da Nexebra apresenta o cume afilado à volta de 100 metros com afloramentos de penedos que se estendem de norte à  mistura de mármore, quartazitos e laivos de xisto, para sul. 
Alguns penedos de toneladas caíram pelos costados. 
A beleza deste afloramento só é visível quando fazem o corte da madeira. 
Na verddae sentio este estar na viagem que fiz a Mação onde encontrei muita semelhança nos  cumes das Serras em Mação. Resulto do movimento tectónico .
Vindo de sul, o entroncamento para o picoto. 
Não segui este. Continuei pela estrada e parei mais à frente.
No pinhal Seixal ou do Leirinho que foi do meu avô José Lucas Afonso. Cuja herança veio a ser de 3 irmãos, a parte da minha mãe é a do meio. Lembrei-me do marco  que era a nascente na crista da serra, no correr da estrada, já que o terrenos se estende para poente pelo costado, até um pé de grande castanheiro, ardido há anos. O marco não estava lá , antes umas pedras brancas, que não fazem parte deste chão de ma´rmore e xisto, o que se estranha, vindas para marcos. Uma delas tinha inciso  um V - quando se fez luz e percebi que podia ter sido o marco do pinhal do meu avô. Lembro -me dele alto, que se destacava na paisagem, por estar na ponta sul da crista do costado, que logo baixa, sem jamais me chegar à extrema para o visualizar . 
Com o meu marido procuramos a parte da pedra em falta, que enxergamos logo abaixo no costado, a fomos buscar e tentamos recolocar na outra. 
Mas, o  deslumbre é o fracasso de quem se apressa...Não havia dúvida nenhuma que era um  V e, não Cruz, como o Leonel Fernandes, me tinha dito. E foi esse o meu erro, ao achar que era um V, que ao colocá-lo em posição, as pedras não encaixavam... e parei o raciocínio, como o meu marido...
Só em casa a ver as  fotos  percebi que a parte gravada, encaixa na outra pedra ao contrário ficando o V invertido. Indicia à prior que se trata de um marco territorial da família dos Duques de Vila Real que tiveram entre outras terras, Aguda, Almofala e Serra de Nexebra, tendo sido este marco aqui posto depois do infortúnio com a morte ao estar implicado  

Pedi ajuda ao meu amigo Engo, Rui Manuel Mendes Mesquita , um grande historiador de Almada, com raízes na Beira Baixa "estas terras tinham vários domínios da antiga Casas dos Marqueses de Vila Real que depois foram integrados no património da Casa do Infantado, esta tinha um marco de propriedade com a sigla «C. I.», de que ainda existem vestígios em várias partes do país, como na Lagoa de Albufeira, mas no caso da Casa de Vila Real não sei qual era a sigla ....
Reparei no tardoz da igreja da Aguda e na lateral a sul da encastração de um símbolo em forma de V circunscrito em moldura redonda ladeado de anjos alados e abaixo outro grande que se apresenta liso. Encetei investigação e percebi o envolvimento do duque de Vila Real na rebelião contra o rei,  sendo presos todos os fidalgos que nela tomaram parte, tendo à frente o arcebispo-primaz D. Sebastião de Matos Noronha. De nada serviram as súplicas para que fosse perdoado o 7º Marquês  de Vila Real, D. Miguel Luís de Meneses e 2.º Duque de Caminha. O Marquês e seu pai, acusados de traição, caíram em desgraça pelo envolvimento na conjura contra Dom João IV, foram sentenciados à morte, sobrevivendo-lhe a esposa, mas, sem descendentes. Morreram como os outros conjurados, no dia 29 de Agosto de 1641, degolados num cadafalso erguido no Rossio de Lisboa, depois de terem estado presos em São Vicente de Belém. Por terem sido traidores à Pátria foi extinta a Casa dos Marqueses e Duques de Vila Real, a quem pertencia a vila da Aguda e outras terras. 
Será que o marco senhorial posto na altura que a família já tinha caído em desgraça ? 

Diz o Dr .Manuel Mesquita
Bem, normalmente nestes casos de «Lesa Magestade» havia uma tentativa de ocultar os antigos marcos, mas nos marcos de propriedade tal seria contraproducente para a entidade sucessora, no caso vertente a Fazenda Real e mais tarde do Estado e Casa do Infantado, mas tudo aponta para que seja um marco do Marquesado de Vila Real ....
Talvez uma pesquisa na documentação da Casa do Infantado possa esclarecer uma eventual inserção do sítio e da propriedade ali existente ....

     
Portanto as pedras foram mal postas por nós...Foi o cansaço!
                 
Poço pequeno, na beira da estrada, acautelado com pequena rede.
A foto não elucida do que se trata...é um castanheiro que por estar na beira do caminho conseguiu sobreviver aos eucaliptos e tem ouriços com castanhas...

                  
Defronte da Serra da Portela ao entroncamento para o Furadouro , em subida  pelo caminho a norte que nos leva aos penedos do picoto, numa extensão estreita, dividida por 3 herdeiros, a do meio é o eucaliptal da minha mãe . Do lado sul um lote quadrado contornado por caminhos da Quinta de Cima,  teve contrato de exploração pela celulose. Não sei se continua.
Subida para os penedos ao lado do eucaliptal da minha mãe e na direita da Quinta de Cima

O  que resta do pinheiro bravo a secar...
Um fungo, tipo cogumelo, mas não é...
Sem querer dei um pontapé num e logo se desfez em pó...
Subi a perdradernia para avistar o brutal panorama para nascente onde está a estação de serviço de Maçãs de D Maria. 
                 
Terraplanagem para a estação de serviço de Maças de D. Maria, pôs a descoberto um castro com espolio que ficou acordado ser mostrado na estação, debalde não vi nenhuma vitrine...
O zum,  desfocou a foto, no propósito da perceção do local, dando a dimensão  da localização do castro, ali em local estratégico, a poente do costado, protegido, e com visibilidade enorme pela frente.
Picoto da Serra de Nexebra a 473 metros de altitude .
                
Onde iniciámos a descida para o almoço . Ao chegarmos à estrada principal, na vez de irmos para o Furadouro, tomei a decisão de atalhar pelo costado poente com eucaliptos baixos. Mas, foi difícil, o meu marido não queria, e tivemos alguns percalços e sustos. Pela dificuldade da faxina deixada, em anos, declives, sendo fulcral a ajuda de um pau. Ao meio do costado há uma parede abrupta de xisto e no baixio formou-se uma espécie de tanque, por  onde passava a calha com água vinda de mina ou do poço que vi na beira da estrada. Um local onde as  mulheres da Mouta Redonda lavaram a roupa.
Perdi muitas fotos...

A chegada á rua das Calhas...atribulada no final...
As calhas eram rasgadas  de grandes e compridos pinheiros, depois da passagem ao meio do costado onde era o tanque, desciam para encher este poço, que ainda existe, para a rega das hortas do Furadouro. 
As calhas de madeira ditaram o topónimo. 
As primeiras levadas na Madeira, eram calhas de madeira, herança do norte que foi trazida por povoadores para aqui como para a ilha da Madeira, sendo as primeiras das levadas.
Vindos das Calhas de volta a casa

Perdura a chaminé na casa dos pais de" António do Vale", primo direito da minha mãe.
Foram uma caraterística na região, as suas chaminés, também fez a da casa dos meus avós na Mouta Redonda, que já não existe.
                         
Fica o testemunho de quem conhece minimamente a serra de Nexebra, já que  antes assim ninguém dela se dignou falar e mostrar...

sábado, 19 de novembro de 2022

Lagarteira, no encalço da via romana de Bracara Augusta para Olissipo

O Portugal de outrora sem ficção liofilizada! 

Numa visão de valias culturais!

Já por aqui andei várias vezes nesta procura do corredor da estrada romana , cujo trajeto catalogado retirei  do excerto  de https://www.viasromanas.pt/#braga_lisboa

A via romana de Bracara Augusta - Braga, para Olissipo, Lisboa com Itinerários das Vias Romanas dita corredor depois do Rabaçal, Tamazinos - Portela de Casas Novas, Cabeço da Revolta e pelo sopé do Cabeço da Ateanha, marginando o casal de Vale da Abrunheira Aljazede (m.p. XI; continua pela Várzea de Aljazede e Vale de Campores passando junto do habitat de Poço Carril/Vinha Morta pelo caminho rural a sul da Póvoa por Algar, Estalagem, Furadouro, Terra de Maçãs/ Celeiros e Campo da Lagarteira, servindo de linha divisória entre os distritos de Leiria e Coimbra, cruza o ri- debalde sem qualquer identificação - foi o meu olhar- beiro de Camporez e segue por Palmoeiro e Castelos até entroncar na EN560).

No trail da Ladeia, Alvorge a caminhada de 2022, passou por um troço de calçada romana , sem  quaisquer identificação para o caminhante - em  afronta à cultura!
Será a Portela de Casas Novas, uma vez que mais à frente passámos pela aldeia de Casas Novas. Seguirá como acima diz pelo caminho do Poço do Carril, que também já fiz do sopé da Ateanha.
No Poço do Carril, onde houve um habitat romano e para sul já na Lagarteira, houve outro, que não recordo o nome , e um  nos Verdes.
O corredor da via romana ainda em terra, que o povo inculto queria que a autarquia alcatroasse...fui  a tempo a dar a informação...foi cortado com a estrada para a Cumeeira, contudo nota-se o seu corredor depois da estrada seguindo para sul a nascente da Lagarteira. 
Desconheço o palco dos topónimos : Póvoa por Algar, Estalagem, Furadouro, Terra de Maçãs/ Celeiros. Para se  perceber  se passou pela rua que aponto a nascente da igreja ou, este troço é medieval, ao atender o limite do Foral de Penela em 1137 pela Lagoa do Pito, o que falta apurar. Seguindo por Carrascos, Campores, Vale do Pião , Cabeça Redonda etc.

Tive o privilégio de conhecer o quintal do Sr. José Alexandre, Carrascos, na Rua dos Verdes. Pairava a hipótese que a via romana vinda da Mina de S. Domingos, seguia em frente pelo seu quintal. E não. Porque o quintal foi um baldio, ainda está cheio de penedos, e seria impossível o corredor da via. 
Na rua a nascente da igreja pareceu-me ter sido o seu corredor vindo de norte, onde aproveitei para apreciei  património esquecido de pedra , de regalar o olhar.                                            
Lote com 3 casas; a norte tem na frontaria uma pequena janela fechada. O registo dessa pequenez pode aventar ter sido no passado uma estalagem. Por causa de ladrões que percorriam estas vias, então únicas, atrás de viajantes de todas a estirpes. No tardoz casa de sobrado de traça judaica com balcão.
                                          
                    
                                                 
                 
    Não falta o oratório centrado com os quartos na sala

Seguida de outra casa  baixa também com uma janela pequena que foi do Sr. Francisco. 
Ao primeiro palpite aponta para palco de uma estalagem. O chão ainda guarda lajes compridas em pedra, como as que se veem na igreja, portanto seculares.

                   
Defronte deslindei  uma bela varanda setecentista, com dois belos portais e colunatas quinadas, escondida pelo alto muro. O que me parece é que a casa sofreu requalificação nos anos 50 do séc. XX, porque o tijolo da varanda foi igual ao da casa dos meus pais que casaram em 1957.
O que importa saber é se antes a varanda era em grade de pedra, como outras ainda vivas na Lagarteira. Se alguém souber de memória destas casas ou de ouvir falar o que foram no passado, agradeço partilha.
Notório que a casa sofreu requalificação com reutilização de materiais  visíveis nos lintéis de portas e janelas.
Um belo exemplar de fóssil, uma amonite de grande dimensão
Fontes
 https://www.viasromanas.pt/#braga_lisboa

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