Não tem sido fácil localizar esta serra, chegando-se mesmo a afirmar que é desconhecida...
Todavia,
informações orais apontaram-na para o designado “Monte da Ovelha”
(Pousaflores, Ansião), mas nada obsta que possa antes corresponder à
Serra do Castelo, que lhe fica imediatamente a sul e onde existe um
castro (serra do castelo de Pousaflores) , talvez já ocupado no Bronze
Final, período em que se insere o machado.
A
confirmar-se, a peça estaria assim relacionada com o povoado. Na
verdade, não nos parece ser possível determinar com precisão a
localização da Serra dos Carrascos, topónimo talvez muito abrangente,
conforme se depreende das múltiplas referências que lhe dedica Costa
Simões: “A Serra dos Carrascos que dá assento a grande parte do [então]
concelho de Chão de Couce, estende-se a muita distância, dum e doutro
lado, na direção de norte a sul”.
De facto, comparando a toponímia indicada nesta obra com a registada na “Carta Militar de Portugal”, esc. 1: 25 000, n.º 275, verifica-se
o desaparecimento de uma série de topónimos, nomeadamente o da “Serra
dos Carrascos”, designação que talvez em meados do séc. XIX
identificasse globalmente a sucessão de serras, desde a do Mouro à dos
Ariques, a norte da de Alvaiázere. "
Foto retirada do livro
Foto retirada do livro
(...) Um
outro depósito aparentemente complexo, mas do qual apenas se conhece um
escopro foi encontrado nas Carrasqueiras (Pussos/Alvaiázere) “debaixo
de umas lajes naturais juntamente com machados do mesmo metal, nada mais
se sabendo Rocha 1904; Monteagudo 1977: 212. 33 Coffyn 1985: 393. 34
Silva e Luís 1995: 87. 35 Coutinho 1986: 163-165. 36 Simões 2003 [1860]:
35. 37 Rocha 1904: 13; 1899-1903: 135. 38
"(...) De lugar não localizado próximo dos Penedos Altos, provém o punhal de “tipo Porto de Mós” (Fig. 4) inicialmente publicado como espada, cuja ponta, fraturada, havia já condicionado Santos Rocha a considerá-lo pertença de algum esconderijo por estar inutilizado e não espólio de sepultura como informara o achador. O punhal, desprovido da extremidade da ponta, pode ser enquadrado na problemática da quebra ritual de artefactos. Trata-se de estratégia a que recorreram diversas comunidades como forma de destituir determinados objetos, nomeadamente armas, como é o caso, da sua dimensão prática, funcionalista, valorizando o lado simbólico. "
O
"complexo de Alvaiázere "
Compreende o machado da serra dos Carrascos e o castro da serra do Castelo;
2 espetos na Marzugueira;
escopro e machados nas Carrasqueiras;
machado nos Penedos Altos;
punhal de Alvaiázere junto dos Penedos Altos e Castelo de Sobral Chão(Pelmá) identificado por Aquino em 1986 como povoado muralhado com ocupação da Idade do Ferro (recuando ao Bronze Final?), que lhe fica a NW, tal como do machado da Serra dos Carrascos e do castro da Serra do Castelo antes referidos, permitem-nos equacionar a existência, no vasto território de Alvaiázere, de distintos complexos de povoados/depósitos numa relação hierárquica tendo por vértice o Castro de Alvaiázere, verdadeiro focus regional.
Revelam a estreita ligação da estrada coimbrã que depois de Coimbra se voltam a unir ao Pereiro, a sul da Ribeira da Murta a coincidir com depósitos e demais testemunhos( funerários e habitacional)
Pelo contrário, bem localizado ainda que o sítio de achado em si esteja irremediavelmente perdido, é a Marzugueira (Maçãs do Caminho, Alvaiázere), lugar próximo do local onde se encontraram, em 1924, três espetos articulados (Almagro Gorbea 1974, ; Vilaça 1995: 346.
As respetivas fichas de entrada no Museu Nacional de Arqueologia, onde as peças se encontram, indicam “vestígios de enterramento”, mas tal não deverá ser entendido necessariamente e à letra como lugar de sepultura) que comentaremos adiante.
Vista sobre a Marzugueira a partir do castro de Alvaiázere
O
último depósito conhecido nesta área, mas proveniente da outra margem
do Nabão, é o de Freixianda (Ourém), mais precisamente do Cabeço de
Maria Candal, no lugar da Granja
( A Voz da Freixianda, de Março de 1967, p. 3; Brandão 1970; Coffyn 1985: 213, planche XLIX; Vilaça 2007: 59-61. 42 Vilaça, Bottaini e Montero, 2013)
Cujo estudo monográfico encontra-se agora disponível. 74 Vilaça, 2008: nota 9; Vilaça 2012
Sem
braceletes nem foices, tipos presentes no de Coles de Samuel atrás
referido, possui, sintomaticamente, em igual número e tal como este, um
escopro, um machado unifacial de uma argola e quatro machados de alvado
de duas argolas, para além de uma tenaz merecedora de especial atenção,
como veremos.
Foto retirada do livro dos espetos da Marzugueira
Uma
variante daquele modelo pode assumir configuração “radiada” quando se
multiplicam vários depósitos em função de um centro estruturador e
construtor de sociabilidade (Fig. 10).
Na
região em análise essa imagem adequa-se ao que se pode designar como
“complexo de Alvaiázere”, com seu povoado central topograficamente
privilegiado, com mais de 50 hectares na sua segunda fase de ocupação75 Félix 2006: 69, nó
polarizador de um território pontuado por outros habitats (cuja
cronologia, do Bronze e/ou do Ferro importaria definir) e depósitos.
A essa capitalidade ajusta-se bem a informação, vaga mas sugestiva, do achado durante a lavra de um “argolão de ouro”76 Figueiredo 1895: 317.
A notícia não permite, contudo, inferir a cronologia do presumível achado. Por outro lado, a relação próxima entre os Penedos Altos e o Castelo de Sobral Chão (Pelmá) identificado por Aquino77 Aquino 1986: 39, como
povoado muralhado com ocupação da Idade do Ferro (recuando ao Bronze
Final?), que lhe fica a NW, tal como do machado da Serra dos Carrascos e
do castro da Serra do Castelo antes referidos, permitem-nos equacionar a
existência, no vasto território de Alvaiázere, de distintos complexos
de povoados/depósitos numa relação hierárquica tendo por vértice o
Castro de Alvaiázere, verdadeiro focus regional. Neste olhar mais além,
visualizam-se outros modelos, agora “lineares”, que depósitos metálicos,
habitats e outros ajudam a entender, revelando a sua estreita ligação a
rotas naturais de circulação, concretamente nos finais da Idade do
Bronze. Entre elas destaca-se a já velha “Estrada Coimbra”, agora
recuada ainda mais no tempo. Efetivamente, a sua consagração a partir do
séc. XII mais não é a da repetição de traçados de origem milenar que o
brilho dos metais há muito havia iluminado. Na sua rota definiam-se dois
percursos principais que, partindo de Coimbra, se voltavam a reunir por
alturas de Pereiro, a sul da Ribeira da Murta antes de atingir Tomar 78 Daveau 1988.
Com eles coincide a distribuição dos depósitos, e demais testemunhos (de índole habitacional, funerária e cultual) (Fig. 11).
"Um
dos percursos acompanhava o estreito e direito corredor definido pelas
serranias calcárias a poente e as xistosas a nascente, pela designada
“depressão marginal”.
Na Idade do Bronze parece ter assumido especial
destaque a margem esquerda do Alto e Médio Corvo, concretamente na
região de Penela, onde se destacam os castros de Tomadouro e o de
Castelo do Sobral, ambos relacionados com depósitos. O outro, mais
sinuoso e acidentado no seu troço terminal, trepava às serras de Ansião e
de Alvaiázere depois de ter percorrido a depressão do Rabaçal 79 Vilaça no prelo. Mesmo atendendo à aleatoriedade dos dados, vislumbram-se nessa rota quatro pontos-chave estruturantes do território: Coimbra. 80 Ver nota 14 .
- Conímbriga,
cujo papel no Bronze Final terá sido efetivamente importante em termos
regionais tendo presente os dados da Gruta de Medronhal (Arrifana) e do
Alto do Castelo (Eira Pedrinha)81 Vilaça 2012.
- Trás de Figueiró (Ansião), também a valorizar pela comprovada ocupação naquela época, talvez irmanando com Conimbriga 82 Coutinho 1999: 29; Vilaça 2008: 84; Vilaça 2012; Vilaça e Cunha-Ribeiro 2008: 42
- o “complexo de Alvaiázere”, já comentado, indiscutível nódulo estruturante do povoamento 83 Vilaça 2008.
Linear é também o percurso marcado pelos depósitos que, desde o vale do
Mondego à região de Porto de Mós, se sucedem, acompanhando o cordão de
serranias do Rebordo Ocidental — o último grande marco de referência no
espaço antes de se alcançar o mar —, mas não sem vazios ainda difíceis
de entender (ver Imagem 1).
Por exemplo, o que se passará de
Condeixa-a-Nova a Pombal e em torno desta última, onde, a sul, o machado
do Brejo (S. Simão de Litém) 84 Brandão 1970: 324; Ferreira 2006: 130-131, não
faz sentido só por si. É percurso anunciado que importa explorar e
articular devidamente com os sítios habitados, mal conhecidos e outros,
decerto, por identificar. Terão constituído, conjuntamente, a principal
linha avançada do povoamento, já que a faixa litoral expressa, ao que
parece, um quase deserto, situação pontualmente alterada na fase
seguinte com o dinamismo de Santa Olaia no paleoestuário do Mondego,
outro expressivo lugar natural que não deve ser só valorizado pelo
pragmatismo na sua navegabilidade. Sem dúvida que, na sua globalidade e a
uma escala macro, a Alta Estremadura, parte integrante da região mais
ocidental da Europa, constituiu-se como plataforma de trocas
inter-regionais durante a Idade do Bronze e, muito em particular, na sua
fase final, aspeto já sublinhado por diversos investigadores 85 Vilaça 2007b, com principal bibliografia sobre a questão.
Sem recursos mineiros estratégicos (cobre, estanho e ouro), mas na rota
que a eles conduzia, para norte e para sul, ou sob seu alcance próximo,
avançando-se pelo interior até às Beiras, a Estremadura, pautada por
intensa especialização agro-pecuária 86 Aspeto sublinhado por João Luís Cardoso em diversos trabalhos e em particular para a Baixa Estremadura,
detinha ainda fácil e direto controlo sobre o “ouro branco” que o mar,
próximo, lhe proporcionava e beneficiaria ainda da complementaridade de
recursos de montanha, como pastos e floresta, e das extensas áreas
férteis onde, aliás, se encontram vários dos depósitos mencionados, como
os de Freixianda, de Espite e de Caldelas, por exemplo. Nesta escala
macro, é um “modelo triangular” que se configura, inspirado no modelo
locativo de Weber87 Vilaça 1995: 420-421; 2007b: 136-137,
com um vértice no estanho do norte e das Beiras, um outro no cobre do
sul e um terceiro convergindo para a Estremadura, região que se expressa
como uma autêntica plataforma de trocas e produções, verdadeira
“centralidade d(n)a periferia” do mundo conhecido de então, com especial
concentração de artefactos de bronze (Fig. 12)."
"Às rotas terrestres antes comentadas deve ser associada a
navegabilidade dos paleoestuários do Lis e do Mondego que facilitaria o
escoamento das suas produções, e a entrada de outras, por ventura
afastadas daquelas. A Alta Estremadura e os seus depósitos, aqui
revistos também como memórias de lugares, são ilustres protagonistas de
uma história que aconteceu, ia acontecendo, ou podia ter acontecido,
entre as muitas da Idade do Bronze. Contá-la(s) será sempre um desafio
balançando entre o que se conservou e se conhece, por vezes meros
artefactos metálicos fragmentados “pseudo-perdidos”, e o que é
conjeturável, numa narrativa de compromisso assumida, sem dúvida mais
possível do que provável e menos ainda, verificável. Mas que se pretende
científica porque elaborada com método, rigor e espírito crítico numa
visão integrada. E se é verdade que “space can only exist as a set of
relations between things or places”88 Tilley 1994: 17,
igualmente certo é que “os homens não podem viver sem objectos, nem
mesmo sem os inúteis”, sendo que “a função do arqueólogo é destruir a
imediatidade do objecto”89 Alarcão 1983: 472 e 474.
Procurámos, com este modesto contributo, caminhar nesse sentido."
Pensamento de Jean Cuisenier
" Habitar não é apenas fazer de príncipe no seu palácio.
É o ato pelo qual cada um se instala num local e confere-lhe sentido"
Padre Coutinho
O Padre Coutinho, no seu livro de 1986, fez referência a pontos da pré-história e romanos, que em 2010 deram origem a prospeções arqueológicas. Porém, o padre Coutinho ao não identificar o topónimo do castro, na Serra dos Carrascos, contribuiu à citação errada do sitio arqueológico com o
nome de Castelo da Serra do
Mouro, quando deve ser Castelo da Serra dos Carrascos.
Excerto https://arqueologia.patrimoniocultural.pt/index.php?sid=projetos&subsid=156318
Distrito/Concelho/Freguesia Leiria/Ansião/Chão de Couce
Período Idade do Bronze - Final e Idade do Ferro
Descrição
"Numa
encosta de pendor suave voltada a Norte, do planalto situado no bordo
setentrional da "crista" de calcários compactos jurássicos que se eleva
desde Alvaiázere, controlando visualmente toda a zona de terras baixas
de Chão-de-Couce e Avelar, terá, segundo J. E.R. Coutinho, existido um
povoado, que possui aparentemente apenas uma linha de amuralhamento
conservando uma altura de cerca de 3 metros no sector Sul, voltado para a
área mais plana da encosta. Ainda segundo aquele autor, as muralhas
destruídas, tornaram-se muros de propriedades. Classificação que, para
Amorim Girão, resulta da conjugação de dois factores: o tipo de
implantação e os vestígios encontrados. P. J. S. Félix integra-o no
Bronze Final e inícios da Idade do Ferro. Como noutros locais do
concelho de Ansião, com um tipo de implantação similar, bastariam as
circunstâncias geográficas e a toponímia do local para uma busca
cuidada, pois os lugares onde o relevo tem um papel dominante,
tornaram-se desde os tempos remotos, propícios ao assentamento de
povoados, cuja localização depende de motivações de defesa, dando-se
particular atenção ao controlo visual do território. Com efeito, a
abundância de vegetação, dificulta a deteção de quaisquer vestígios de
ocupação. No entanto, pontualmente encontram-se clareiras de afloramento
calcário ou com bastante cascalho, resultante da desagregação da rocha,
o que permitiu observar o terreno onde se detetaram vários materiais,
que se encontram dispersos ao longo da encosta e só observáveis nestas
clareiras, sendo por isso difícil delimitar a área. Destacamos a
abundância de fragmentos de cerâmica doméstica comum, alguns fragmentos
de cerâmica de construção, um fragmento de machado de pedra polida e
arenito."
Meio - Terrestre
Acesso - Estrada municipal 1094 até à povoação de Serra do Mouro, junto a uma bica seguir por caminho de carreteiro em direção à vertente.
Espólio: Fragmentos cerâmicos (Fragmentos de cerâmica de construção; Fragmentos de cerâmica doméstica comum; Fragmento de machado de pedra polida; Fragmento de uma possível mó) do Ferro e talvez Bronze Final.
Foto de pedras de calcário com arenito que encontrei na serra dos Carrascos
Fotos do castro do Castelo da Serra dos Carrascos retiradas da página Facebook de Ansião
Vale Garcia
Antes
de 2015, no lombo da Serra dos Carrascos foi roteado um novo caminho ao
Vale Garcia, seguindo para o Lugar da Serra do Mouro.
De cortar a respiração, a quem se aventure conhecer. A minha aventura
em jipe, com a minha irmã, em terra batida de piso irregular, ainda
muito fresco, amedrontada pelas barreiras em avalancha de brutais
lajes suspensas, quase desabar , noutros tempos foram uso em patamares
de escadaria de balcão.
Desatino abismal a ladeira sinuosa, ingreme e medonha, acaso ali resvalar é morte certa.
Com buracos e regos profundos das regateiras em aluvião, afundando para o vale.
Panorama
de agrura nua e crua, despida e seca, de pedra escalavrada, que se
descampa ao abrupto vale profundo com primitiva diversidade de vegetação
mediterrânica, a par, o místico silêncio.
Um
paraíso idílico, acordado pela regateira e pelo poiso de perdizes,
perdigotos, coelhos, melros, tordos e o peneireiro de dorso malhado, de
maior porte que vagueia em voo rasante. Por todo o lado salpico semeado a pedra e cascalho com orquídeas de muitas espécies e demais
flores tão encantadoras em ambiente selvagem, entalado no vale de
garganta funda resguardado pela barreira de pedra natural a nascente a
caminho da Barroca e da Serra do Mouro.
(Orquídea, "os rapazinhos" e a rosa albardeira aqui chamada CucaTomilho por aqui chamado erva de Santa Maria
Voltei em 2023 na caminhada Terras do Ancião, na primavera
Por
altura das antenas de telecomunicações na Serra da Ameixieira, descendo para nascente até
encontrar um antigo quelho, em parte murado a pedra seca, tendo o
contraforte poente altos penedos, que não se enxergam pela vegetação crespa,
que os esconde, mas, num olhar mais atento ainda se enxerga a parede natural, que a não ter vegetação deve ser medonha. Nos séculos se desprenderam penedos firmes , encravados pela encosta.
Detalhe de uma
pequena fenda na rochaLeito fluvial do ribeiro da Serra do Mouro
Subida do leito muito pedregoso a caminho do poente.
Tenebroso e
assustador com pelo menos duas barreiras de pedra quase inacessíveis.
Numa delas, a água esculpiu em milhares de anos um rego.
Rego escavado pela erosão da água
Só corre de inverno com as chuvas.