Crónica resumida pulblicada no Jornal Serras de Ansião em maio de 2025
Cresci no Bairro de Santo António a ouvir falar do Tribunal na casa altiva de sobrado rasgada ao meio por uma porta de avental, o r/c com portal beijado de átrio quadrado em lajedo debruado com dois degraus gastos a remate na frente duas colunas quadradas de pedra miúda à sombra de parreiras.
O Largo do Bairro é um sítio estratégico rasgado na Pré Historia que os romanos reutilizaram, continuado na época medieval. Implantado num pequeno alto estratégico, guarda um poço de chafurdo teve uma cisterna, indicia habitat romano, sem classificação, a que se junta parte de mural de caliço, sem vestigios de policromia e fragmentos de tegula.
Lamentavelmente nos últimos 50 anos a envolvente do Largo do Bairro foi sendo aos poucos completamente descaracterizado e esquecido o seu rico património histórico. Calcetado perdeu a beleza do saibro branco do terreiro, reconstruções , onde se mantem a traça antiga q e outras não.
A Casa da Câmara da Vintena de Ansião na Cabeça do Bairro
Nos finais da centúria de 500 o burgo de Ansião sito a poente sofreu forte influência de titãs descendentes judaicos moradores a nascente, na atual vila, os influenciadores da mudança do burgo.
Reedificaram uma segunda matriz de Ansião, em 1593, e reativaram um troço romano ramal da estrada real, pelo baixio das Lameiras, vindo a proporcionar em 1648 a construção da Ponte da Cal, seguindo pela Rua Direita à matriz, onde os viandantes tinham ao seu dispor uma nova estalagem seguindo para sul pelo Cimo da Rua, Empeados, Venda do Negro e Alvaiázere.
O que nos revela este passaporte? Mulher, mãe solteira, foi referida num livro no arquivo municipal. A sua familia deixou Ansião, era foreira da Misericórdia. A casa onde viveram no Largo do Bairro é a primeira na esquerda da foto acima, veio a ser comprada pela minha familia onde funcionou uma estalagem .
A casa do Administrador do Concelho
Na requalificação ad casa foi retirado o lintel da porta de 1680 que foi mantido no chão do Largo do Bairro uns 30 anos, hoje guardado na eira.A casa do Regedor ou Administrador do Concelho
«hum Procurador do Concelho, Vereadores, Escrivão da Câmera, hum Tabelião, hum Alcayde »
Casa reedificada nos anos 60, do séc. XX, para o casamento do primo Francisco Silva e Augusta do Alqueidão. Recordo a ruína de traça arquitetónica em quadrado onde os meus tios guardavam a palha para o burra Gerica.Na frente do Largo tinha um grande banco em pedra. A nascente um corredor na divisão com a Casa da Câmara, no meu tempo de criança tinha um portão de folha de Flandres debruado a madeira que o meu Ti Manel Silva colocou paar fechar o quintal . Adoçaca á parede poente da Casa da câmara uma casa corrida com duas portas. Ou foi a Casa do « Capitão mór com huma Companhia da Ordenança » ou dos almocatés. Componentes relevantes das Casas da Câmara eram os açougues do concelho e até instalações anexas como a Casa do Peso ou do Ver-o -Peso .O açougue funcionava como mercado de carnes, aves de capoeira, caça, peixes e fruta, em paralelo funcionava o mercado do pão e da farinha.
Seguida a norte no tardoz cavalariças, alpendre, eira de pedra e cisterna há poucos anos entupida. A poente do quintal resquícios de um muro grosso primitivo em formato de "L" delimita a casa da Administração do Concelho por outro corredor mais estreito.
Capela de Santo António
Passaporte de Abílio de Sousa
1905-04-01 Idade: 28 anos
Filiação: Paternidade não mencionada / Maria da Conceição
Naturalidade: Bairro / Ansião
Residência: Torre de Vale de Todos / Ansião
Destino: Santos / Brasil
Filho de pai incógnito presume com ligação à última estalajadeira a Ti Maria da Torre, veio a perdurar no tempo a gíria conhecida por ter casado com um homem da Torre (Vale de Todos) de apelido Silva, sendo naquele tempo habitual chamar à mulher o nome do marido no feminino ou da terra de onde era natural, como neste caso.
Passaporte de Maria da Conceição
1904-08-01 a 1904-08-01 Idade: 37 anos
Filiação: Lino de Sousa / Guilhermina Rosa
Naturalidade: Ansião
Residência: Ansião
Destino: Santos / Brasil
Observações: Acompanhado de seus filhos, Albertina, de 15 anos, Artur, de 11 anos e Maria, de 9 anos.
Barracão na lateral com corredor
A casa a nascente tem um corredor estreito na ligação a um barracão ao fundo onde se fazia pão.
Pela frente a poente foi uma oficina de ferrador, dos meus avoengos vindos de Tornado, Alvaiázere.
A estalagem de Santo António
Quando foi adquirida pelo Sr. Raul Borges, recordo que a alteou ao nível da outra a norte que também era dele. Desde então os imóveis estão na mesma.
O apelido Serralha viveu antes de emigrar na que fora a prisão feminina, são descendentes judaicos, familiares do Levi. O Serralha foi latoeiro onde hoje é uma garagem numa casa desativada a poente da Rua Polibio Gomes dos Santos
1908-01-17 Idade: 34 anos
Filiação: Joaquim Rodrigues Serralha / Ana de Jesus
Naturalidade: Bairro / Ansião
Residência: Bairro / Ansião
Destino: Santos / Brasil
Observações: Escreve
Passaporte de António Rodrigues Serralha
1912-12-20Idade: Não mencionada
Filiação: Joaquim Rodrigues Serralha / Ana de Jesus
Naturalidade: Bairro / Ansião
Residência: Pombal
Destino: São Paulo ( Brasil )
Observações: Levando sua mulher Maria dos Santos de 37 anos , e seus filhos Matilo de 18 anos, Francisco de 16 anos, Rufino de 12 anos, José de 10 anos, Virgínia de 9 anos, Idalina de 8 anos, Izidro de 5, José de 4, Isabel de 2 e Maria de 1.
Passaporte de Luís Marques
1909-03-0 6 Idade: Não mencionada
Filiação: Paternidade não mencionada / Clara da Conceição
Naturalidade: Quinta do Bairro / Ansião / Ansião
Residência: Quinta do Bairro / Ansião / Ansião
Destino: Santos / Brasil
Observações: Quinta do Bairro não consta como pertencendo a Abiúl. Porque é Ansião
Escreve
Passaporte de Manuel Mendes Martinho
1906-03-22 Idade: 24 anos
Filiação: José Mendes Martinho / Victorino de Jesus
Naturalidade: Vale do Mosteiro / Ansião
Residência: Bairro de Santo António / Ansião
Destino: Rio de Janeiro / Brasil
Os pedidos de passaporte abaixo Freire da Paz, evidenciam ter sido o último juiz no tribunal na Cabeça do Baixo que emigrou com 71 anos com um filho.
Passaporte de Manuel Freire da Paz
1906-04-27 Idade: 71 anos
Filiação: Inácio Freire / Maria Teresa
Naturalidade: Ansião
Residência: Ansião
Destino: São Paulo / Brasil
Este passaporte revela que emigrou aos 71 anos, será que seria esta a idade? e apenas diz que é natural de Ansião, aventa ser sobrinho do que se segue
1909-01-18 Idade: 22 anos
Filiação: António Freire da Paz / Isidória Augusta
Naturalidade: Bairro de Santo António / Ansião
Residência: Ansião
Destino: Santos / Brasil
Observações: Acompanhado de sua mulher.
Escreve
Isidóia Augusta ficou a viver na Casa da câmara. A minha prima São Silva ainda se lembrava dela, foi viúva do último Juiz de Paz na Cabeça do Bairro. Tinha outro filho conhecido por "António pataca" primeiro calceteiro que se conhece em Ansião, quem ensinou a arte ao vizinho Manuel Mortinho.
Do mesmo modo não sabemos como transacionou a velha casa da câmara e a norte uns talhos nos quintais do Bairro. O meu avô "Zé do Bairro"comprou-lhe um junto do poço de chafurdo, por estar encravado no quintal. Teria havido alguma contenda entre o casal para o marido e um filho emigrar, e o outro filho quiça morrera, para ela fazer doação da antiga casa da câmara e um lote à mulher do " Ti Ferreiro" do Cimo da Rua. O lote foi adquirido pelos meus apis no inicio dos anos 60 do séc. XX, com a especulação da emigração para França a peso de oiro...Como vendeu a casa ao "Carlos Pego".
A instauração da Comarca na vila
Na sua estadia em 1903 em Ansião, o escritor Alberto Pimentel apenas se refere à instalação da vila cabeça de comarca no antigo solar do Senhor de Ansião a partir de 1875. «Ansião com título de mordomado em 1465. Em 1514 recebeu Foral por D. Manuel I. Em 1663 D . Afonso VI deu-lhe o título de vila, doando-a a D. Luís de Menezes Conde da Ericeira, em prémio de serviços prestados na Batalha do Ameixial que o Senado da vila mais tarde lhe ergueu um Padrão ao Fundo da Rua.
Em 1875 foi a vila cabeça de comarca estando os serviços da câmara, administração do concelho, do Tribunal e da Repartição da Fazenda Pública no edifício que foi do Senhor Dom Luís de Menezes.
Na foto de 1915 dos Paços do Concelho é visível ao meio da cimalha o brasão com o Escudo de Portugal que estimo foi transferido da Casa da Câmara, mal esculpido, jus o brasão da sepultura na Igreja da Misericórdia, quiçá, obra do mesmo canteiro, sem aposta de recolocação na ampliação em 1937 e pela aprovação governamental do novo brasão de Ansião em 1935. Só nos anos 60 do séc. XX passou a ostentar o brasão em mármore com as romãs esculpido pelo lavrante Ezequiel Carvalho da Sarzedela, esquecido sem agraciamento na toponímia, quando devia ser agraciado!
Fontes
Cadernos de Estudos Leirienses nº 9
https://run.unl.pt/bitstream/10362/7299/1/Tese Casas da Camara Vol I.pdf
Arquivo distrital de Leiria, passaportes
https://run.unl.pt/bitstream/10362/7299/1/Tese%20Casas%20da%20Camara%20Vol%20I.pdf
https://geneall.net/pt/forum/161201/elementos-sobre-os-descendentes-do-cronista-joao-de-barros-falecido-em-pombal/
Cadernos de Estudos Leirienses nº 9
https://run.unl.pt/bitstream/10362/7299/1/Tese Casas da Camara Vol I.pdf
Arquivo distrital de Leiria, passaportes





