segunda-feira, 18 de junho de 2012

Falar de Alcochete com cheiros a jacarandá...




Amanheceu o dia com sol, pouco depois das 7,30 da matina na autoestrada do sul no ramal da Amora vi refletidas no espelho as luzes das motas Harley em alinhamento a 120, ordeiros - foi preciso o meu marido infringir o limite nos 140 ao Micra carregado para captar as fotos...



Também o sonante roncar dos tubos de escape. Madrugaram cedo da concentração de Cascais, desde sexta feira, saíram rumo a casa, pela matrícula - Holanda.
Pouco mais de uma dezena, de todas as cores: a solo: no masculino, e feminino; ainda casais, e apoio logístico-carrinha forrada a autocolantes...

                                                     Amei a cor desta Harley...
Fez-me lembrar a minha adolescência - um Opel Manta lindo, pintado nesta cor - nele viajei pela primeira vez até ao Algarve: vi burros a puxar carroças, figueiras, alfarrobeiras e o hotel de Montechoro, junto a este um galinheiro a fazer-lhe extrema...coisa que me deixou a pensar!
Fiquei muito encantada com esta surpresa - sempre gostei das Harley-Davidson!
Jamais me aventuraria a guiar uma, medricas do caraças, nisto, porque noutras coisas sou bem afoita!
Perdi-as de vista ao mudar de rota a caminho de Alcochete para a estreia na sua feira de velharias e artesanato.Um pandemónio, as novas e velhas estradas com rotundas enormes, e má sinalética - um horror - perdemo-nos em voltas e voltinhas - inventei há muitos anos um termo para cenas mirabolantes "Coynamaynn street" num repente estávamos no meio dos terrenos agrícolas quase a rondar as salinas do Samouco - antes atravessámos uma longa estrada ladeada por vedação, na berma pedestais em cimento triangulares pintados de amarelo com letras - de metro a metro...deve ter algum significado - do lado direito uma sequência de casinhas tipo bairro popular, ao fundo em frente do esteiro e do sapal deparei com o grande batatal arrancado com o trator - as batatas cobriam a terra  à espera de apanha rápida...o sol a raiar forte, o seu inimigo!
No meu julgar antes da recessão se instalar foram feitos grandes empreendimentos no Montijo e Alcochete. Irreconhecível a explosão habitacional em S. Francisco - fiquei com a nítida sensação de se tratar de um condomínio fechado - num repente engole a estrada antiga - perdemo-nos nas estradinhas novas que mais parecem labirintos: sobe, desce, rotundas , becos, jardins, casario velho, novo, agrícolas e, ...falta sem dúvida uma avenida sem entraves que ligue estas duas lindas terras - ainda é tempo - tanto o campo ainda vazio. Assim haja força e vontade em a fazer, possivelmente obra parada julgo pelo abrandamento da economia - mas que faz falta, não haja dúvida. Na volta havíamos de nos voltar a perder, já íamos a caminho da Atalaia quando reparei no azulejo da Quinta de Palhavã, ainda nos exaltámos, houve desculpas, Deus ajudou no desaguisado, quando finalmente teimei no meu poder de orientação, ainda ouvi "ainda vamos parar a Lisboa pela ponte Vasco da Gama"...estava certa na minha intuição,  a sinalética é que deixa muito a desejar - coitados dos mais inexperientes e turistas - daqui  para se dirigirem a Lisboa dispõem de três variantes :  Vasco da Gama,  Vila Franca de Xira e  ponte 25 de abril.Ontem não houve feira no Pinhal Novo. Em Alcochete a organização está entregue aos Bombeiros, apareceram mais feirantes, ainda outros que comigo tinham estado na véspera em Setúbal - o bombeiro rapaz novo, mostrava-se incapaz para acudir a todos, com dificuldade em analisar o organograma feito à mão...não fosse o expediente da Fernanda, batida em feiras em aligeirar a distribuição dos lugares, perdia-se tempo. Montei o estaminé na frente da banca do João Santiago - feirante desde 68 - uma vida - dos colegas, o mais velho - homem simpático, afável, educado que conheço da minha primeira feira na Costa de Caparica no feriado de Novembro - ontem o dia que se conversou mais, de sorriso maroto disse-me "gosto de ti, és uma mulher muito intuitiva e não voltes a tratar-me por senhor - esse está no céu!". Emprestou-me uma banca que eu gostava de ter uma igual, robusta e muito fácil de transportar em relação às minhas mesas pesadíssimas  "para mal dos meus pecados"...
Estreei-me com a venda de jarrinhas "casca de cebola" a uma linda senhora loira acompanhada de uma amiga ruiva, sardenta de olhar doce - Maria Policarpo. A conversa levou-me a falar do blog, a Cíntia atenta - o nome da bela senhora loira - diz-me " não me diga que o blog é o Lérias onde  tenho aprendido tanto?..."  pois estava certa no nome, agora sobre a aprendizagem, gostei de ouvir confesso. Ao se  incutir o  gosto nas velharias de quem nos lê, acredito hajam mais pessoas interessadas em valorizar e até, em as adquirir...acabou por fazer mais compras noutras bancas. Falámos ainda dos sites de leilões das aldrabices e dos enganos -que os há - acredito que um dos sucessos de vendas resulta de algumas pessoas não se predisporem a ir às feiras - julgam que não é do seu estatuto - ora as feiras são milenares, vivas, autenticas, intemporais. Deixei de fazer compras on line , tão pouco perco tempos a ver páginas dos artigos - comprei um penico que trazia a asa colada com fita cola, um prato grande que chegou pequeno, ainda acerbas apostas no hora do fecho dos leilões, debalde perde-se a peça porque inexplicavelmente outros interesses maiores se alevantam, na maioria são uma carestia  e aparece muito lixo!
Vinha de mais uma voltinha à casa de banho - um reparo - deviam ter um zelador para alertar os serviços camarários , não custa nada o pessoal da manutenção tratar destes espaços  - falta um trinco na porta, papel e sabão azul e branco - os jornais no desembrulha e embrulha encarde as mãos...
Acabei por me perder no papel de zeladora ... o meu olhar avistou ao longe uma casa alta com uma tira de azulejos grandes - Arte Nova - serão de Aveiro? com remates a Coruchéus - nome dado aos terminais que podem ter vários formatos: Pianhas; urnas; fogachos ou fogaréus; vasos; pinhas; figuras humanas; o mundo e,...de muitos telhados caraterísticas das terras ribeirinhas do Tejo: Vila Franca de Xira, Alhandra, Paço d'Arcos, Almada, Moita; Setúbal e,...Alcochete. A foto da direita foi tirada na véspera em Setúbal da minha banca. Quem me lê sabe que adoro azulejaria.Os terminais são coruchéus - Mundo-  intervalados por outros em forma de pinha.

                                  Alcochete 
Terra cuja fundação atribuída a 850 A. C. foi tornada vila com D. JoãoII, aqui nasceu o o rei D. Manuel I em maio de 1469 - o meu mês - e, mais tarde este  lhe viria a conceder o foral em 1515. Foi a Cíntia que me avivou o nome - coruchéus - quando depois do almoço  a voltei a encontrar e lhe contei a minha odisseia, trazia ela uma grande travessa que tinha sido da sua avó oferta do avô que trabalhou na Companhia Nacional de Navegação. Percebi logo que era inglesa sem ver o tardoz,  marca azul esborratada  e, ainda uma marca gravada na pasta. A minha amiga  Leonor Ceia há tempos ofereceu-me uma série de objetos  pertença uns da sua querida avó, outros da sua querida mãe - destaco duas travessas grandes com a mesma bordadura igual à da Cíntia e, os mesmos dourados nas pegas - foi o Santiago que me alertou - um dos donos da fábrica de Sacavém - Gilbert(?)  foi também dono de outras fábricas de loiça : Vista Alegre e da inglesa onde foi feita a travessa da Cíntia - sendo que as minhas julgo serem VA - têm o mesmo formato e acabamento só diferem na estampa. Agora o inimaginável. A Cíntia ofereceu-me a sua travessa herança da sua querida avó.
Travessa oferecida pela Cíntia
Travessa oferecida por Leonor Ceia
Fiquei extasiada, sem palavras para articular - sei que a abracei - agraciei com dois beijinhos apesar de ela dizer que se sentia engripada - uma atitude que jamais vou esquecer!
Levei-a de novo à minha banca, disse-lhe "escolha qualquer coisa..." - Ato imediato responde - escolha a Isabel - só sabia que gostava de jarrinhas - a escolha recaiu numa da  Fábrica Carvalhinho. Disse-me ainda que a Maria a sua irmã adotiva,  ambas são filhas únicas e a Cíntia linda não tem filhos, em conversa com o meu marido este disse-me que ela lhe contou que o marido tem um príncipe com 8 anos,que ela gosta como se fosse seu . A Maria, não menos linda, não sei se os terá ... tem sim - um príncipe de 26 anos!
O que sinto  - se eu vivesse em Alcochete queria ser irmã adotiva de ambas - senhoras amorosas com "muita boa onda", cultura e estórias de vida: da Maria, e dos seus antepassados quiçá descendentes da nobreza que aqui habitou - tem rosto de princesa -  o palácio será que ainda resiste de pé? Fiquei sem o saber, sonho querer, um dia voltar a falar dele!O dia "fez muitas caras" - ora sol forte a encoberto, o pior foi o vento que se levantou na maré alta.Na  minha volta de cortesia pela feira mais uma vez dei de caras com um colega vestido de sweat-shirt branca com golinha azul revirada para dentro "à matador", e calças de ganga  a condizer com a sacola feita de outras com bolso, nos pés calçava sandálias. No meu jeito atrevido estabeleci conversa " o colega por acaso não fez a feira no sábado em Ponte de Sôr, se não era você era outro muito parecido amigo da Isabel de Carcavelos?"
- Resposta fez-se indirecta " olhe lá, se eu não quisesse que a minha mulher soubesse que lá fui?..."Aguentei firme, sorri e desatei a contar " ontem na feira de Setúbal vi um homem que me pareceu sem duvidas ser o Richard Gere, de frente e de perfil, grisalho, magro, a mesma silhueta e olhar, não sei se tinha o dente da frente encavalitado...sei que em segundos o imaginei mais novo vestido de calças xadrez na personagem "Gigolo" na rua a dar saltinhos batendo com um pé na outra perna..."
- Resposta escorreita  " ainda agora estive no norte do Brasil, as mulheres também me chamavam - Richard Gere, Cristo e,...mas olhe lá, esteve mesmo na feira de Setúbal?"
- Sim, estive.
- Eu também e não a vi. Não se lembra de ver na feira de Azeitão um homem vestido de túnica até aos pés e cabelos compridos?
- Sim , lembro, parecia um hippie vestido à árabe, tipo intelectual.
-  Sou eu. Estava farto de tanto cabelo a entrar pelos olhos e pela boca... não sei quando o volto a cortar!
-Aleijarei o passo com um sorriso depois de um piropo com soslaio malandreco... estava na hora de "dar corda aos chinelos". Parei para cumprimentar o Paulo e a mulher Clara - trouxeram a nora com uma amiga - montaram uma banca de roupa e sapatos em 2ª mão - debalde não se estrearam. Mais acima estava a D. Maria de Jesus com outra amiga - tristes pouco tinham faturado - queriam despachar vidros opacos que outro colega "rodas curtas" e chapelinho tipo Robin dos Bosques com andar à pato, dizia ser murano...esqueceu-se de dizer  antes - Tipo - em frente a Fernanda e o marido Fernando, cegou há tempos...invejo a paciência dela, na frente um colega de bengalinha com mobiliário e objetos bons, já no largo encontrei o Sr. António (GNR) com uma pequena prensa, julgava ele que teria comprador para ela a fazer fé na última feira que aqui vendeu uma igual,  na sua frente os irmãos Luís Miguel, meu  colega profissional ao quadrado e o Paulo, artista com uma banda, tinham peças na banca  muito boas, algumas de raridade - estavam desanimados - ninguém tinha perguntado por dois banquinhos de pernas altas em preto a imitar patas de leão com garras douradas e estofos de seda lavrada  purpura. Comprei um prato covo de faiança partido na amiga do Santiago - Carla - sobre o qual aprendi da boca dele - um prato Ti Emila. Seguramente saiu de uma fábrica entre Aveiro e Alcobaça  - nome dado pelos "ciganos" que os compravam a uma feirante que teria o nome de Emília...vou fazer um post no Lérias...sobre ela haveria de ficar com dúvidas sobre a sua seriedade...sobre o preço fez-me desconto, à posterior disse -me outro, o mesmo ocorreu uma 2ª vez...não simpatizo com gente desta laia, nem um bocadinho...o seu olhar esverdeado sardão, não nega matreirice!
Horas de almoço.O Santiago foi com o amigo que o acompanha de cariz carrancudo e malcriado - cabelo estepe russa, marreco e óculos escuros à cowboy...vendedor de moedas, chateado porque não se estreara...e, que culpa tem os demais?
Fiquei a comer o meu farnel, rematei com suculentos morangos e cerejas - refestelada sentei-me a ler um romance de um dos livros da banca...apaixonante!
O meu marido foi o primeiro a regressar, ficou a tomar conta das bancas enquanto eu fui beber o meu cafezinho, junto ao rio vi o Santiago no seu passo pesado - chamou-me -  fez-se para a foto que lhe tirei... diz-me satisfeito "gosto de caril que nem cornos..."

Contemplei o Tejo que beija esta terra. Lindo o quadro em pano de fundo  - Lisboa - não menos bonito o varino a baloiçar nas ondinhas da brisa que se fazia sentir. Um dia, há anos, daqui deste cais parti numa fragata recuperada pela Câmara, passei pela ponte Vasco da Gama ainda a ser construída, vinham no rio  plataformas grandes - nada menos que o piso - grandes guindastes as levantavam no ar e os punham no acrescento da ponte, até ficar pronta, fazia-se também a cobertura do Pavilhão Atlântico e de outros na Expo...
Caldeirada servida a bordo feita pelo timoneiro, no caldinho juntou massinhas  que nos serviu em malgas sob a toalha de plástico da mesa corrida. Boas lembranças de Alcochete, da fragata  e, do Tejo !
Acabei por encontrar um café tipo bistrô com loiça branca de design, colheres igual ainda réplicas de pratinhos de vidro a imitar os da VA - amorosos - nisto chega-se uma senhora com um bolo barrado a chantily  coberto com morangos - saí, antes que a gulosice me tentasse para lhe pedir uma fatia, lá se ia a minha dieta!
Nova voltinha, novas conversas, voltei a cruzar com o João de Azeitão - "o Cristo" - homem de 60 primaveras, vai celebrar outra daqui a dias - a 10 de julho, caranguejo de signo...dizia-me "mas tu acreditas nessas tretas" - temperamento sensível, humano,despreocupado, bom vivan, disponível, afetuoso de paixão fácil,  gosta de escrever anedotas e pensamentos que lê  sem rodeios a quem o queira ouvir - gosta de fazer rir e deixar a pensar...dedica-se à cultura de plantas aromáticas - o seu negócio que vende na feira de Azeitão -  o seu estaminé repleto de quinquelharia com uma máquina registadora , sobre as novas tecnologias não quer nem aprender, apesar de ter um filho professor de informática na Irlanda - gosta de falar olhos nos olhos - tirou os óculos de sol, vi um olhar doce, esverdeado, cansado e quiçá sofrido, dizia-me "há qualquer coisa em ti que me desespera...sai-me da frente...acho que é o teu sorriso..." ..
- Risada farta! Um bom piropo faz bem, alimento para o ego nesta idade madura a caminhar para a velhice tal como os objectos das bancas - velharias no meio de velharias - na despedida ainda me convidou para comer caracóis, rejeitei por não apreciar - não consigo!
- Disse em jeito de remate, porque não és viúva?Ainda hei-de ir de propósito a Setúbal só para te ver...
- Ri-me com o inusitado assim dito de relance, nunca antes assim ouvido...um lírico!
Logo eu que nem a propósito ontem decidi dedicar-me a leituras - não aprecio confesso, logo comecei por me aventurar com um romance, e a viver um real(?) como se fosse adolescente, apesar da falta de liberdade, coisa que me deixou a pensar!
Conheci também  um casal muito simpático, a senhora deu-me um cartão de visita  com a citação " Sê a mudança que queres ver no mundo" - Ana Maria Thomã - escreve uma coluna no jornal de Alcochete e, fazia voluntariado no Lar da 3ª idade. Desabafou - sentia-se indignada, usando as suas palavras " fui apelidada de bruxa (?)"...nome depreciativo, só pronunciado por gente de cabeça "oca" ...inevitavelmente saltou-me a vontade de falar desta forma quase ancestral de reviver as raízes e, fazer luz sobre o nevoeiro que envolve as práticas "mágicas"  - de uma forma de fazer "medicina" . A magia escondia muitas vezes um conhecimento de ervas , mezinhas , rezas contra: mau olhado, cobranto, cobrão e,... passavam de geração em geração e que substituíam cuidados médicos, inexistentes nos locais recônditos do nosso interior rural. Nas beiras davam-lhe o nome - benzilhoa. Lamentável em pleno século XXI  ainda se sofrer na pele além da recessão económica, desemprego, falsos amigos também a ignorância cultural e falta de largueza de horizontes de um sarrafo de gente que não se reciclou, parou no tempo - esperando pacificamente o seu destino - a morte. De louvar a sua nobre intenção - fazer-se ouvir na mensagem e na partilha das estórias de vida  - sem rodeios nem fantasmas - a causa para o despedimento do serviço voluntário sustentou-se na argumentação - sem argumento - deveria fazer voluntariado acompanhada. Sem comentários. Perante o que ouvi e sem querer tirar partido - entristeci em o saber, impensável, admitir que nesta terra de caras para o Tejo, acorda todos os dias a sentir a capital, hajam pessoas com dificuldade em assumir a  globalização, refugiando-se em telenovelas e religiosidade, não admitem mais conhecimento...seria bom se fosse só aqui, puro engano - em todo o lado - Portugal apesar de quase 40 anos de liberdade continua muito iletrado, adverso a ser activo e  moderno!
O saber não ocupa lugar - muito menos abertura para qualquer tema de conversa por mais mediático que seja, falta a estas pessoas teimosia para se manter de mente sã e corpo saudável, apesar da idade do BI. A aposta nos dias que correm incentiva  envelhecer com qualidade de vida, mantendo a mente activa inclusive na aprendizagem das novas tecnologias, e exercício físico dentro e fora de água. Entrosámos abordagem sobre ioga, viagens, memórias, e  loiça...contou-me que tem um prato de loiça de Sacavém com a torre de Belém em azul que era da sogra apesar desta se ter divorciado do filho há 30 anos. Um ano destes o recebe em casa cheio de filhoses que o sobrinho desta foi incumbido da sua entrega. Ao agradecer a gentileza da oferta perguntou se podia ficar com o prato a que a sogra respondeu  - sim - só tinha de lhe arranjar um substituto para ela apresentar na mesa o cozido...ao companheiro dei uma aula sobre a VA na sua produção de vidro por falta de caulino em 1824, enquanto ela atendia o telemóvel, homem de cabelos grisalhos, também me fez lembrar alguém - o Dr Pedro Ribeiro irmão do meu cunhado, os mesmos belos e serenos olhos azuis - adorei o estatuto de professora, por minutos!
O Santiago viu-me a olhar para a sua banca - anéis de pedras - disse-me "escolhe um que te dou"- escolhi dois e pedi preço - paguei 2 €  - as imperiais que tinha acabado de comprar...num sorriso maroto disse "escolheste bem, esse que puseste no dedo de madrepérola, fica-te a matar".
Não queria levantar a banca antes de faturar pelo menos 30€ - para o combustível e almoço - em voz alta fazia-se anunciar " comprem na minha banca, só me faltam 10€..."nisto apareceu um rapaz, amante de moedas, acabou por comprar, procurava uma rara de 1934 ou seria 35?
Hora de arrumar caixotes - a pior parte. O Paulo tinha o Nissan entupido de velharias; malas de cartão, balde dos bombeiros, tanque em cimento em miniatura de criança para lavar a roupa, artefato de ânfora romana, lataria, livros e,...sem espaço para um banquito azul a precisar de reparação, ia deitá-lo no lixo, pedi-lho para a minha casa rural. Será sempre o banco do Paulo - assim identifico as coisas que me dão - pelo nome das pessoas que me os ofertaram. Derradeira despedida, cumprimenta-me um bombeiro de estatura pequena e com síndrome de Down, simpático, ligeiro de passos, andava a recolher as bancadas emprestadas a alguns feirantes - trabalhador me pareceu, eficiente, e educado nem se fala!
Na viagem de regresso a casa "delirava com os meus botões"...a cumplicidade da Cíntia e de uma amiga elegante que entretanto passou por nós, e do gosto das três em reciclar objetos deixados no lixo...igual ao Paulo , disse-me a sua mulher Clara que em Setúbal encontrou uma resma de livros antigos encadernados a cabedal junto do caixote do papelão, não hesitou em os levar consigo, os vendeu a bom preço...
A feira no pior - uma mulher que se abeira da minha banca vestida a rendas chinesas e cinto em plástico que lhe dobrava nas banhas a dizer para o filho " olha um saleiro" - o isto - uma peça de porcelana VA usada para inalações em termas. Triste é constatar uma tristeza cultural nas feiras - mulheres e mães iletradas - outra dizia para o marido "olha pedras parideiras" - as pedras -  fósseis do Cristo Rei.. Expliquei. Do marido só ouvia " vês a senhora sabe",quando falo sobre as pedras parideiras (numa excursão ao norte as conheceram), voltou a comentar " a senhora sabe",  ainda voltaria a repetir mais outra vez, quando se falou sobre o oiro alentejano nas imediações da gruta do Escoural...
cachos floridos anilados das jacarandá
Relaxei no caminho a pensar nos cachos floridos anilados das jacarandá, na véspera em Setúbal - por aqui só vi árvores da mesma espécie de flores em amarelo ocre...o Paulo de Setúbal apanhou algumas e enfeitou a banca - Nunca conheci um homem tão vaidoso com a apresentação dos seus objetos que troca por outros se não os vende - em Setúbal vi um almofariz de "brecha" da Arrábida andava com ele há um mês, passou em menos de uma hora por três mãos contando com a dele...o mesmo com uma caixa de pesos em latão.Delira em faturar, aguçar o apetite do comprador pela variedade também na fidelização para visitas futuras ao seu estaminé montado em escalada de altares. Criativo com "bichos carpinteiros" não pára quieto - afinal ele é um artista na arte do desenho!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O meu dia de Santo António!

Imagem do meu Santo António de Lisboa -, Homem nascido junto à  Sé em Lisboa a quem os pais deram o nome de Fernando de Bulhões. Morreu em Pádua a pregar sermões aos peixes - tal como eu gosto de fazer...chamam-lhe por isso Santo António de Pádua, mas também de Coimbra onde estudou e saiu para o mundo - por isso é nosso!
Imagem restaurada por mim. Base em madeira e imagem em gesso comprei-o há anos em Setúbal todo esbeiçado  e incompleto por uns míseros euros. 
Para o Menino  adaptei uma bonequinha de porcelana  a quem pintei o cabelo, a cruz foi o meu marido que a fez do resto de um estendal que encontramos num vazadouro de entulhos.
Adoro enfeitá-lo com fitinhas de seda. Vivi numa casa de caras para o adro duma capela de 1643 com orago a este Santo -, as minhas primas ornamentam de fitas largas de seda : brancas e azulinho...
Eu imito-as, claro!
São Francisco de Assis  a sua imagem apresenta-se  com um crânio aos pés, um rosário, uma Cruz ao peito e um lírio. Vendi-o na feira das Caldas da Rainha.
                                     
                                Um dos meus oratórios...esqueci-me de acender a velinha...

Disse-me a minha filha que mora em Alfama  -, a festa para ela e amigos  durou a noite toda, passaram pela Bica, acabaram ao meio dia no Cais do Sodré...foram para casa dormir, acordaram a 3 mn de acabar o jogo da seleção com o estardalhaço das gentes que em  Alfama viam o jogo no momento que o Varela marcou o golo da vitória.
Eu e o meu marido saímos de casa logo de manhã em caminhada até ao Pragal onde apanhámos o comboio numa de saborear os bilhetes ofertados numa iniciativa camarária de reciclagem, e claro apreciar a paisagem na ponte, onde o rio com as arribas, e o paquete  ancorado na  doca Rocha Conde D' Óbidos no meio de tanto contentor e gruas com gente pequenina a sarilhar por todo o lado... imagem avassaladora de linda!

A meta do destino era o Areeiro.
Partimos depois em caminhada rota de cruzeiro pelas sombras: Avª de Roma, João XXI, Campo Pequeno,
                                          Avenidas Novas...
Pouco movimento e pouca gente, muito bom para se passear, só tive bateria para esta foto...gostei das marquises deste belo prédio no gaveto com a Avª da Republica.
O problema foi mesmo almoçar, não vimos jeito de nada, só algumas pastelarias com senhoras de cabelo ripado a tomar o pequeno almoço em cima da hora do almoço... 
A fome apertava, em boa hora decidi que o melhor seria voltar a Almada. Apanhámos o comboio em Entrecampos .Pouco passava da uma da tarde quando nos sentámos no Pragal  num restaurante de gente de Caminha, onde há anos saiu um euromilhões milionário, durante muito tempo aqui acorria muita gente para apostar, achando que lhes dava sorte...eu também!
A sardinha fresquíssima de Peniche, uma delícia, boa salada com pimentos, batatinha nova sem pele em molho quente de azeite e alho, maravilhosa, pão torrado para não engordar e alentejano para o queijinho meia cura, bom vinho fresco, mousse, café e bagacinho amarelinho, uma pomada!
Uma caminhada coisa de 10 km. Foi fantástico o nosso dia de Santo António por Lisboa e Almada.
Apesar do bom almoço espero ter abatido umas calorias.
O que me faltou? Bailarico!!!
Sendo o Santo namoradeiro também tive a minha merecida quota parte. Um bom banho e creme com sabor a coco, que fresquidão doce...e soneca  a ouvir boa música. Acordámos para assistir na sala ao jogo da seleção ( a casa do Benfica fica a 100 metros , gritam golo antes de nós o vermos na tv, coisa de 5 segundos)...Não gostei de ver o Ronaldo a falhar a torto e a direito...o melhor do mundo??? imagino se o treinador o deixasse agora no banco -, sim era o que faria com outro qualquer, mas trata-se do Ronaldo...coisa para pensar!
Acabei de tomar um chá verde com queijo fresco, o meu jantar.
O dia de Santo António podia ter sido pior, lá isso podia! 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ponte de Sôr na minha primeira feira de velharias

Recebi convite da minha colega Isabel Rute de Carcavelos - valeu a insistência, desta vez no sábado rumei até Ponte de Sôr. A minha primeira vez que aqui passei foi em 75 ficou-me na memória um antiquário com um grande portão e na sua frente - velharias a chamar a clientela antes da ponte  romana que lhe daria para sempre a graça do seu nome e do rio que lhe passa debaixo dos arcos.Havia de aqui voltar a passar outras vezes - a última o ano passado na rota que fiz no dia de aniversário da minha mãe, descansámos deitadas no relvado da zona ribeirinha, a comporta no rio Sôr confere ao espaço uma fresquidão imensurável naquele Alentejo que mais me pareceu ser uma Beira arraiana ou mediana (?) - a fazer jus a outras : alta,  baixa e litoral...

Saí bem cedo. Amei contemplar os arrozais do Vale do Sorraia - verdes - a perder de vista, lindos serpenteados por grandes cegonhas nos ninhos altivas ou no chão à procura de alimento. Na lezíria de Coruche ao amanhecer já andavam dois balões de hélio a deambular pelos céus, bem lhes quis tirar uma foto...ficaram pequeninos...

Senti escassa sinalética, sobretudo no entroncamento para o Couço - merecia um entroncamento ou rotunda bem sinalizada. Já em Mora gostei de apreciar as avenidas novas a circundar a cidade, nunca pensei que o fluviário ficasse fora de portas, junto ao rio, faz sentido. Amei revisitar a barragem de Montargil, vi alguns pescadores, e barquinhos ancorados  numa baía .Paisagens lindas com o sol a raiar e bandos de rolas e pardais pelos céus...uma calmaria. Parei para desembrulhar as pernas e verter águas, enterrei-me até ao joelho - tal a fofura das terras roteadas ao longo da estrada para prevenir os incêndios - fez-me lembrar os anos 75 quando fui a 1ª vez a Badajoz - via este lavrado quilómetros sem fim sem saber tal significado.Tão verde esta extensa faixa de terras de regadio : arroz e milho na maioria.Deveria-se apostar mais na agricultura - a paisagem é magnífica nesta altura do ano.
Ganhei a feira no prejuízo.Havia uma ligeira brisa, o suporte do prato de porcelana China finais do século  XVIII não aguentou a agrura e viria a estatelar-se na calçada em mil pedaços...cheio de borboletas pintadas à mão...aqui ainda está na banca o penúltimo do lado esquerdo - vêem-se alguns de Macau maiores e bem diferentes, este era autêntico - valeu que o tinha comprado por uma pechincha por o vendedor não se ter apercebido ou nem tal saberia...
Senti que as gentes de Ponte de Sôr vão à feira com gosto de comprar. Passavam de mãos a abanar e vinham com sacos cheios...de coisas embrulhadas em jornais.
A menina que organiza os feirantes é muito acessível e simpática. Não se paga terrado, o espaço é o que se queira.Nos cafés o chamariz são as tigeladas de Abrantes - doce típico "roubado" ...maravilhosas!
A feira desenrola-se ao longo da calçada do jardim junto à avenida. Relva bem cuidada com rega automática, muito espaço de lazer. Florido. Muito bem cuidado com casas de banho públicas subterrâneas de 1971 com um azulejo alusivo a "menina e menino" que me recordei logo deles assim que os vi...Nos dias de feira podia ter papel e sabão, ainda um autoclismo avariado - só depois vi o balde junto à torneira no hall...
Senti que as gentes pouco usufruem destes belos espaços sombrios e acolhedores, junto ao rio um leque de aparelhos de ginástica - excelentes para exercícios de manutenção - ouvi comentar que alguns gostavam, todos os dias logo de manhã faziam ali a  sua ginástica. Muito bom saber.

Pavoneavam-se duas senhoras na feira - à partida parecia nada terem haver uma com a outra de tão diferentes que eram ou talvez tenham... quiçá não quis dar "a mão à palmatória ao meu instinto"...nestas coisas os homens são mais afoitos -, na feira de Setúbal na semana anterior vi passar um garanhão altarrão pela feira  com o braço a arrematar contra ele o companheiro pequeno e loirinho -cena ternurenta...
Mulher vivaça,  fanfarrona de conversa ligeira vestia calças de ganga -  larga traseira parecia um sofá e mamas verdadeiras que de silicone não vi nem um par. Tabelei conversa com ela e os demais para "dois dedos de conversa" tirou os óculos de sol - constatei  lindos olhos, no imediato me fiz ouvir, nem agradeceu... do longo cabelo fez farta trança de ponta loira e raiz branca a rondar as costas - enquanto a outra mais alta, tipo intelectual, recatada e tímida vestia saia escura e blusa de seda às riscas azul e branca, de poucas falas - amedrontada... me pareceu apesar da altura. Calcorrearam a feira acima e abaixo, num repente  a vivaça sentou-se à sombra de uma árvore na frente do estaminé do Sr Manel das Caldas onde este abancou a mesa para o almoço, antes entrosavam alegre cavaqueira sobre a faiança atrevida que se fabrica e ainda  se vende para os turistas nas Caldas -, até gostou de contar que quando se casou e lá foi em visita, afirmou tal loiça não conhecia...estava dado o mote para conversa farta - cena caricata que se criou com um vendedor de souvenirs...o Sr Manel e o filho jeitosos para o negócio aproveitaram o ensejo dela se ter sentado na sua beira a fazer que descansava - nisto ofereceu-lhes comida - comeram sandes, que não se fizeram "caras" em aceitar. A amiga também se sentou ao seu lado - então não vi o filho dele a correr a pedir emprestadas cadeiras a outro colega... comeram na rua com aquela gente sem modéstia - afinal tinham feito 40 km para vir à feira. No íntimo do Sr Manel gravitava negócio, pensava para com os seus botões - "estão no papo para começar a vender"...e, vendeu - completamente extasiada com o brilho das latas, ferros e latões, estava a vivaça. Foram buscar o carro para junto do estaminé, nele meteram uma trempe triangular para a lareira em ferro forjado, um invólucro de munição de 90 cm  em latão  reluzente- apenas desmontada, nunca foi utilizada - um perigo se ousarem mexer na espoleta - vão sentir uma pequena explosão, ou se vão, ainda se assustam, ou então não...senti que a amiga estava à distância, talvez se sentisse incomodada com tal à vontade, ainda se entusiasmou com uma pequena enxada de cabo torcido em aço...e tantas outras peças que ficaram de reserva para comprar na próxima feira: braseira em cobre, hélice e dois tachos de asas em latão...ainda trocaram contactos para quando forem a banhos para os lados das Caldas irem almoçar a casa dele.Um conhecimento de mais valia - sorte grande,. já que só tinha enfeirado coisa de 30€...senti que o filho do Sr Manel estava hilariante com a sua tática da venda e lábia para a seduzir e do abaixar preço pelo pai para faturar - fazia a contabilidade depois das despedidas - de manhã vi um colega de Coimbra descarregar na sua camioneta de caixa aberta pias e suportes em  pedra que um dia aguentaram grandes pipas de vinho - um comprador ficou encantado com as esculturas para a sua quinta em Viseu a quem  o vendedor respondeu " pense, se as quiser todas vou lá levar-lhas, agora só uma, não...".
Fiquei surpresa por reencontrar a colega Maria Helena dos lados de Fátima que conheci na feira de Pombal e Miranda do Corvo - mulher franzina a quem a vida nunca agraciou tamanha bondade, de tarde passava ela pela minha banca, dizia-me "fui à procura de farturas para o meu home, a mulher costuma estar ali ao fundo a vender, hoje não a vi" - disse-lhe - por não lhe comprou uma tigelada, responde - " primeiro tenho de lhe dizer..." coitada uma sofredora, tal o medo que tem do marido um "brutamontes" - não imaginava que se deslocasse tão longe - afinal é mais perto do que o meu caminho...também reencontrei a Ermelinda com quem estive na feira de Torres Novas - coitada anda a reboque com o marido, doente diabético, mal se descuida na hora do pequeno almoço, o açúcar sobe...arrelias de meia noite e gastos com uma reforma de 300€... gostei de voltar a ver o prato de grandes dimensões de Coimbra  todo ele decorado a motivos florais em verde ervilha com reservas de ondinhas ovais sucessivas em manganês -  afinal ainda anda na banca - marcado 250 fazia-me por 100 - da 1ª vez que o vi  na sua banca disse-me que tinha um comprador em Óbidos que lhe ficava com todos...comprei-lhe umas peças a um euro muito interessantes.Também estava a D. Isabel e o marido Antero que conheço da feira de Setúbal e Montemor o Novo. Entre eles o grande estaminé pelo chão do colega "cigano" ruivo e sardento que dantes fazia Azeitão esteve em Montemor onde não faturou e agora julgo que também não, dizia ao meu marido "amanhã vou fazer a feira de Castelo Branco". As peças dele na maioria boas - estatuetas em granito, latões, cerâmica e ferro - são muito muito caras.O pai dele faz nos sábados - Estremoz com um estaminé de pratos e a neta igual - peças muito boas. Na minha voltinha o netinho do sardento disse-me " então não me está a conhecer?" respondi - sim, da feira de Montemor...levanta-se e diz-me " compre aqui qualquer coisinha na minha banca" e, dirigiu-se comigo até ao estaminé prostrado no chão onde tinha: frascos de todas as cores, pratinhos de faiança de Aveiro e outras miniaturas...disse-lhe "se queres vender tens de por preços como a colega lá do fundo...desde 1 a 5 € porque quinquilharia as pessoas compram...senti que não me deu ouvidos...habituado que está com a família a pedir sempre muito.A primeira pessoa conhecida que vi e que cumprimentei -  a Isabel, o marido e a filha linda de 17 aninhos - sobretudo ela muito enérgica, uma lutadora. Depois vi mais acima o Sr Henrique e a esposa Ilda da Marinha Grande que tinham estado ao meu lado na feira de Montemor o Novo.
O meu marido viu no colega de Coimbra uma taça de Sacavém para a marmelada com a publicidade da "confeitaria Aviz de Coimbra" -e comprou-a. Havia uma taça do crescente - de tender a broa  com filetes a manganês - tenho uma igual, pedia caro, ao almoço levantou a banca e foi embora...

O pior mesmo as formigas! A colega do lado teve de ir aos chineses comprar uns sapatos antes que elas lhe comessem os pés, também a D. Isabel lá teve de ir comprar uma camisa para o marido que de manhã num recheio que comprou se sujou a carregar sozinho - camisa apertada - o Sr Antero passeava-se com o peito o léu...feliz tinha vendido uns pratos de Sacavém do chinês...( o meu marido percebeu dos chineses, debalde o bom homem quereria dizer com o motivo chinês do pagode: amarelos, castanhos com toques de azul, dos meus preferidos.
Honras teve um prato na minha banca de Sacavém com a bordadura em relevo de espigas de trigo e ao centro dois miúdos de África a fazer que pilam mandioca...passa uma senhora, pergunta-me se sabia alguma coisa sobre este modelo...respondi -"tenho alguns exemplares com outros motivos: ceifeiras; caçadores; flores; pesca milagrosa e motivos africanos com canoas e este em particular o que gosto mais pela exuberância do desenho" - naquilo diz-me " foi o Salazar que mandou fazer estes motivos à fábrica de Sacavém no tempo do Estado Novo - sobre as actividades do povo e claro das províncias ultramarinas."
Pois são conversas como esta que se partilham e fazem das feiras lugares apaixonantes!
No regresso fiz um trajecto novo de alternativa - segui a indicação do Couço sem passar por Mora. Curva contra curva do "katano - sicha penico" a ponte sem laterais...apenas uma corrente em ondinhas, frágil,  o rio assoreado de regatos, regateiras e murteiras verdes mais me pareceu o Mondego velho em Montemor o Velho...
Pior mesmo foi um funeral sem carreta de defunto - comandita de carros que não ultrapassavam em rota de cruzeiro a 70...levaram uma buzinadela...vi o da frente do pelotão, velhote de cabelos grisalhos em cima do guiador com medo de sair da estrada...uma frota de carros de fazer inveja ao meu velho Ford com mais de 20 anos - abriu sinal para passarmos em segurança e, assim chegámos a casa sãos e salvos.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A boa corvina que se pesca em Cacilhas...

  • Corpo de Deus no gozo com sabor a feriado -, o último em Almada!
Inicialmente o dia estava destinado para ser o  1º dia de praia. Depois mudou-se de ideias - com ida no comboio pela ponte até Lisboa assistir à procissão do Corpo de Deus...debalde o dia amanheceu frio e molhado, ouvimos falar em greve de comboios - mudança de planos.
Umas compras numa grande superfície para o meu estaminé nas feiras, ainda fomos à Cova do Vapor encher a base do chapéu de sol com areia - maré vazia - lindas as canoas que estavam no areal.Fresco a aragem que se fazia sentir a iodo, saímos em direção ao mercado do Monte de Caparica à sardinha e morangos. Na varanda acendi o fogareiro para as assar -senti o cheiro a Santos populares...e já pingam no pão de centeio. Uma grande salada e batatinha cozida - repasto saboreado e regado com bom vinho maduro a olhar para o Mar da Palha - privilégio de morar no último andar. Hoje foi dia de pôr a máquina  a lavar a loiça. Dias não são dias. Depois de tomar o nosso cafezinho com cheirinho sem açúcar saímos em caminhada por Almada velha - parámos no jardim junto da igreja - defronte do lago com repuxo um lindo painel de azulejos de...
Cargaleiro de 1956


Uma pintura muito à frente naquele tempo!

Calcorreámos ruelas estreitas de Almada velha até ao - Largo da Boca do Vento.

O vento no miradouro fez-se sentir nas "fussas"  todo o caminho da descida até ao Olho de Boi.
Pena o Museu Naval estar encerrado aos feriados e domingos - Não deveria!
Lápide que assinala o local do palácio do  Prior do Crato - El Rei de Portugal  que mandou incendiar para os mouros não o pilharem e se apoderarem dele.
Painel de azulejos com a Senhora do Cabo Espichel feito na fábrica de Sant' Anna em 1893 na frontaria

Fonte da Pipa outrora grandiosa com as suas bicas a encher pipas para os barcos levarem água doce além mar virou parque de estacionamento - não gostei.
Jardim junto ao Tejo a olhar a falésia  vaidosa com o seu elevador panorâmico num namoro descarado a Lisboa a toda a hora, finalmente temos este belo espaço - porque Almada esteve de costas viradas para o Tejo séculos a mais!
A emblemática Ponte Salazar -que em segundos virou 25 de abril. O estadista falhou em não dar continuidade ao projeto - a linha férrea - que a ter sido feita hoje seria muito mais interessante o seu trajeto e o fixar de populações. Acredito tivesse uma variante até à Costa de Caparica, que tanta falta faz.
                       Armazéns e casas do tempo áureo da pesca do bacalhau , algumas forradas a azulejos da                             Fábrica Viúva Lamego. 
Não resisti deitar-me na relva!
Andava um pai com a filhota a brincar..possivelmente um pai divorciado...

Janelas da Copenave  abertas de vidros partidos à espera de requalificação.

  • Porta alguém se atreveu a pintar - fez-me no imediato lembrar as cores alegres da faiança de antanho.
Homens a trabalhar no feriado na solidificação da arriba fóssil















Pescador no Ginjal - a pesca gloriosa - robalos e esta corvina com 10 kg -, já só já tinha a cabeça, possivelmente vendeu o resto para algum restaurante...



















Explicou-me que a desova ocorre entre abril e junho...Só as apanham mais um mês.
Vi gente de idade vestida com sedas e cores florescentes à Benfica  até fazia doer o olhar - dirigiam-se para o baile no salão do  restaurante Ginjal.
No largo de Cacilhas as esplanadas com gente a ouvir a música do bailarico abrilhantado por um conjunto. Algumas pessoas dançavam - reparei num casal amoroso - que inveja despertou nos demais e em mim também - homem de cabelos grisalhos descalço a dançar daquela maneira envolvendo a sua companheira e amada- uma loucura de tirar a respiração - até um velhote dançava sozinho e mexia-se bem - nem reparou no jipe da GNR que fazia espera para entrar no quartel!
Cacilhas está em requalificação urbanística.Em fase de ultimação a montagem do antigo fontanário perto da igreja - a rua agora é pedonal, aos poucos volta ao antigamente -  só falta a requalificação das fábricas de gelo e dos armazéns dos armadores do bacalhau serem reconvertidas em restaurantes  e outras unidades viradas para o turismo na frente ribeirinha.
  • O restaurante Ponto Final estava à pinha  - o palanque com almofadões - deitados estavam uns quantos numa modorra de relaxamento a ver o Tejo - ambiente por demais romântico!
Uma caminhada de mais de seis quilómetros. Sinto-me estoirada!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O voltar à feira de velharias de Montemor o Novo

Rumei pela 2ª vez à feira de Montemor o Novo. Desta vez fui mais cedo, mesmo assim ao chegar o recinto estava cheio. Julguei não ter lugar, nisto fui ao encontro do Sr Custódio, amavelmente me disse se não queria ficar junto à parede dos sanitários...aceitei.Até me disse "temos autorização da Câmara para avançar pelo jardim" - fiquei super descansada!
Abanquei junto da banca da Isabel, do Manel "Ourives" do "Igrejinha" , da Mariana e do Laureano.
Havia uns quatro feirantes de etnia cigana com grandes estaminés prostrados pelo chão. Dois meus conhecidos. Todos com peças de encher o olho: estatuária em granito; talhas em cerâmica ; pias em pedra; faiança da boa a preços exorbitantes...claro que houve tantos que me encheram as medidas, o pior mesmo a carteira!
Montei a minha banca de encosto na parede e ainda um pano vermelho no chão com saldos...
Estreei-me com um livro, o único - parece-me ... no Alentejo não apreciam leitura...e um DVD para "putos"...depois apareceu um senhor de muita idade de bengalinha que se encantou por duas peças - uma cremeira francesa sem tampa e uma peça para se por o ovo cozido  na mesa...ofereci o ovo de madeira que fazia a decoração...depois do troco viu-o enrolar a nota que lhe dei e mete-la numa latinha que dantes foi de vitaminas efervescentes..manias de velhos!
Uma senhora queria comprar uma jarra com incrustação de estanho - o que me ofereceu rejeitei - outra um ícone religioso com latinhas dá para pôr uma foto ao meio - queria barato...isso é nos trezentos...ainda outras queriam jarrinhas "casca de cebola" dadas...e até um cestinho...são peças de coleção, depois outra com o marido queria uma peça da VA, não gostou foi do preço - voltou - eu para fazer dinheiro baixei a contento e lá foi feliz com ela - no seu dizer tem duas filhas e tem uma peça igual, ligeiramente maior e assim fica com duas peças - um dia não há chatices na divisão...mulher pensante. Outra comprou um copo de água lavrado da Marinha Grande, ainda uma máquina de filmar com uma avaria - tinha letreiro com o preço e aviso - vende-se como está - a outra senhora vendi um naperon...chávenas de café e...podia ter faturado mais, mesmo assim a minha melhor feira de sempre...os colegas na maioria  enfeiraram pouco e outros nem se estrearam...desde 7,5€ a 30 € - eu atingi o record de 3 algarismos!
Apareceu na feira o Sr Bonito com uma irmã de Évora e a esposa Teresa vieram cumprimentar outra irmã - Mariana, que acabei por conhecer e com quem me fartei de conversar. Filha de antiquários da Vidigueira passou o negócio de Silvares para a filha e genro - distrai-se com uma pequena banca e o marido com livros.Vi dois belíssimos pratos de grandes dimensões: um intacto outro com gatos - dizia o vendedor serem de Fervença...calei-me, não ia gastar o meu latim - o partido seguramente de Darque( além da decoração exuberante de amarelos tinha a cúpula do pagode em azul tal como tenho num prato também grande numa imitação de Miragaia - o outro também  norte com castanhos borra de vinho, esmaltes brancos, lácteos.
Continuei a minha volta pela feira, descobri uma banca no chão com um prato que tinha visto há 15 dias na feira da ladra- no meu jeito frontal falei alto, naquilo a mulher diz " olhe lá imagine que ele lá foi e eu não podia saber" respondi...isso é um problema vosso, eu só constato verdades e no caso reconheci o prato ( de barro de Viana do Alentejo gravado na pasta, antigo com arabescos tipo árabes) ainda  peças de vidro usadas pelos enólogos - na altura comprei duas e, ainda lhe comprei em esmalte uma cafeteira minorca e um tachinho - taro...diz o homem de óculos escuros à Stallone e calções abaixo do joelho "estou a lembrar-me sim senhora" - mais acima noutra colega que veio das Caldas comprei uma tacinha oval em jeito de couve ornada nas pontas com duas azeitonas, peça antiga Bordado Pinheiro.
Na minha última volta pela feira fui à banca do cigano perguntar o preço do prato com um peixe -, lindo apesar de um grande cabelo na aba...de manhã pediu-me 110 e no final de feira para colega fazia 75...muito caro para mim , lindo, uma segurança afirmar Darque (?) ou Santo António do Vale da Piedade pelo tamanho, esmalte branco e cores, tinha ainda uns pratos pequenos tipo porcelana finos em esmalte azulado,estampa cavalinho cor de amora...possivelmente José Reis Alcobaça -,dizia-me ele isto é Coimbra galega (?)... na banca da filha uma loucura de pratos: Real fábrica de Sacavém , pareciam porcelana com a decoração a séptia -, motivo a lavoura; de Coimbra, grandes, azuis para todos os gostos e pequenos ainda do José Reis de Alcobaça - um em particular motivo casario em verde alface, china azul, cantão e, norte...demorei uns minutos a dar uma aula grátis sobre faiança...que agradeceu com uma pergunta "em Estremoz a mulher do toureiro Bastinhas diz que estes pratos são China azul" e você o que acha...
Numa banca de gente de Peniche comprei um prato em esponjado azul de Coimbra com gatos e gasto na curva do covo, não o deixava por 2 €.

Mesa improvisada para almoço à sombra - comiam: o Laureano e a esposa Ana Maria que ontem estava cheia de dores da sua coluna e ainda o "Igrejinha"...chamaram-me para beber um copo...nunca hesito comer à moda do Alentejo: canivete na mão  - cortei pão e uma rodela de paio de porco preto ainda bom queijo, cerejas...bolo que a Luísa fez...havia muita fartura de comes e bebes até o Óscar o caozito do "Igrejinha" tinha a malga de inox cheia de papinha...
Prometi da próxima vez fazer um bolo de chocolate para presentear esta gente que me acolhe tão bem!
No final da tarde chama-me a Mariana tinha ido a casa, trouxe para o lanche chouriça caseira...uma maravilha - outra vez de roda da mesa o Laureano, o "Igrejinha" eu e,...
Nunca conheci um homem tão bondoso e amigo de dar de comer como o Laureano - ainda por cima um bom "vivan" sardento - umas vezes de chapéu à cowboy outras de cinto entrançado branco e vermelho à matador...o raças do homem é giro à brava -pela tardinha foram beber a bica, trouxeram gelados para as senhoras...ainda por cima é amoroso!
Abeira-se da minha banca uma senhora alta e elegante derretida com uma caixa de lata, não gostou do preço - "tenho de gerir prioridades"...pois quem não tem...voltou a passar  levava na mão dois discos de vinil, por entre dentes dizia à amiga "já vou contente com os discos"... naquilo passa uma mulher franzina coisa de 35 quilos toda feliz "já vendi os discos todos"...
Depois de arrumada a minha banca a Ana Rita a mulher do "Ourives" começou a arrumar a dela, ainda fui a tempo de comprar 3 copinhos minorcas para oferecer à minha filha...sei que adora.De manhã o meu marido comprou-lhe um pequeno bule de Massarelos com bolinhas azuis para uma decoração igual que temos noutra casa...
Despedi-me da Isabel e do marido  Rogério com o convite de nos voltarmos a ver no sábado em Ponte de Sôr...
Outros vão para Vila Real de Santo António, Estremoz e feira da ladra.
Vamos ver - o que eu gostava - era ir e dormir em Évora para fazer no domingo a feira na cidade - claro!
Mas não creio!

sábado, 2 de junho de 2012

1º de junho com feira de velharias molhada em Setúbal

O dia ameaçava chuva contra a vontade do meu marido teimei ir fazer a feira - tinha saudades!
Queria estrear a minha bancada nova... e vender...acontece que enfeirei  mais do que ...

A minha banca....nem reparei que deixei a colcha torta...fez - me lembrar cena igual na sacristia da igreja em Ansião no batizado da minha filha . Amanhã vai ficar mais bonita por cima vou por uma toalha de altar... ao fundo o meu chapéu com as cidades do mundo...
Levei livros, loiça, fosseis e futilidades...

Conheci um colega artesão - Sr Carlos que habitualmente faz feiras de artesanato. Andou imigrado pela Holanda nos estaleiros como soldador no tempo que as Meco as fragatas da Marinha Portuguesa foram lá feitas...até me contou a asneira de terem à última da hora ter de encurtar a proa...porque não caberiam na doca da Marinha...dizia ele " sempre foram 6 metros "...respondi eu...não não...foram 10...por isso na vez de cortarem as ondas como uma faca cortam como se fosse um sapato - andam sempre de "focinheira dentro de água a bate-las...e as peças de artilharia que se lixem...até saltam parafusos, é o que tenho ouvido. "
Faz barcos e outros motivos que monta dentro de garrafas e garrafões.
Dizia ele que um dia perto de S. Pedro de Muel chegou-lhe um velhote à banca todo aborrecido porque as pessoas não valorizam as peças de vidro - no caso era um garrafão de 25 litros - antigo vidreiro contou  "para fazer um igual eram precisos sete homens e ainda assim saia com defeito".
Em Cascais vendeu uma peça do género com a  "Sagres" a duas senhoras bem apresentadas. Quando vende uma obra sua gosta de perguntar ao cliente para onde vai - para atestar o seu orgulho - no caso elas disseram sem papas na língua " vai para uma casa da descendência Champalimaud "...
Ainda outra venda...andava ele com uma peça que adorava , gostava de mostrar, não tencionava vender por isso marcou o preço de 500€  até que um dia é abordado por um senhor que lhe pergunta o preço, diz que é muito interessante, mas cara. No dia seguinte o mesmo senhor aparece acompanhado por outro bem vestidos e dizem de rajada - vamos levar a peça...o homem ficou boquiaberto....perguntou se lhe podiam dizer para onde ia - responderam "podemos sim senhora - vai para o Museu do Estádio do Sport Lisboa e Benfica"...ainda - sabe "dantes chegava-se à banca um casal com um filho e este dizia  coisas tão lindas - os pais olhavam um para o outro  respondiam - deixamos escolher o menino ...agora chegam-se na mesma, o menino diz a mesma coisa - só que os pais dizem  - é lindo sim, mas temos a casa cheia"...
Um contador de estórias!
Chega-se uma senhora  baixota , idosa de cabelo sedoso  com uma malinha redonda e dentro dela trazia peças suas para as quais procurava parelha embrulhadas em jornal, ainda um rolha de vidro para garrafa - tabela conversa comigo " não foi à senhora que prometi uma rolha de vidro?" - respondi que não, que não vinha à feira há mais de um mês...teimava "a senhora é tão parecida, bem talvez a outra seja mais velha..." respondi - pois ainda sou uma menina e moça...não desgrudava..."o prometido é devido"...tenho de a encontrar se prometi não posso falhar... voltava ao mesmo - "promessas são promessas"...
Passadas mais de 3 horas fui dar outra voltinha pela feira - encontro-a na frente de uma banca a conversar, meti-me com ela " então ainda anda na feira"...responde "sim, já comi uma maçã "... nisto admirei a banca da colega e descubro uma garrafa que me pareceu ser a "panela cujo testo seria a rolha dela" ...e sem delongas disse-lhe "parece-me que é esta garrafa, já que a senhora até é parecida comigo - ora dê cá a rolha para experimentar....responde pausadamente - "eu até a trocava se a senhora tivesse uma rolha para a galheta que parti na Páscoa"...fiquei muda...falsa duma figa...tinha uma rolha a mais  e não queria comprar, apenas trocar...a mim fartou-se de "mandar postas de pescada" em matéria de seriedade...
Há velhos muito surdinas...cuidado com eles!
Julgo que houve colegas que não se estrearam.

Li as "gordas" do jornal - um pavor a trágica notícia - alegadamente "um irmão teria atropelado e depois assassinado à facada uma irmã por causa de heranças -  palácio onde nasceram presentemente à venda..." ..."tudo porque o presumível homicida viu o Dr juiz lhe revogar a Procuração dada pela mãe (?) após o falecimento do pai para tomar conta dos negócios, num ano estoirou em casinos mais de um milhão de euros"... indignada pelo inusitado e extrema violência - sem mais nada saber, apenas feeling...acho que esta mãe (?) como muitas outras não sabem o real significado de uma Procuração Notarial e dos poderes exarados na mesma - pior do que isso é sentarem-se à sombra da bananeira à espera que o seu filho (?) adorado, favorito o eleito em prol dos outros (?) o líder para  tomar conta dos  negócios de família e da fortuna...e, com isso assumem tomar medidas extremas com tal gesto impensado : delegam e afastam-se - dão "rédea solta", não acompanham os negócios, não pedem contas, limitam-se a aceitar  directrizes  - são literalmente "enganadas com muita lábia" e mentiras ardilosas, tolas - fazem que não notam as extravagâncias que se vêem a "olhos vistos" - porque lhes é difícil aceitar - "afinal é o seu menino" a quem perdoam sempre...porque o dinheiro é muito, se fosse pouco a coisa mudava de figura..no dizer popular " casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão".
Há mães que nunca deixam crescer os filhos. Não lhes dão uma educação para a vida, para serem gente a pensar a agir. Serão sempre apesar da idade - 40, 50, 60 anos " eternamente crianças no pior dos sentidos" - porque é bom ser-se criança em qualquer idade!
Esta mãe ao ver revogada a Procuração pela justiça - um acto bem feito - será que consegue interiorizar o que quer dizer?..."que o seu filho não reunia condições de responsabilidade no momento,  pior nunca reuniu a dar azo à notícia "estoirou mais de  um milhão no casino num ano ...
Difícil agora será esta mãe gerir a tragédia que assolou a sua família e para a qual possivelmente contribuiu ao não ser perspicaz , atenta, nem tão pouco ponderou medir consequências futuras ao dar-lhe tal poder milionário - o filho ao sentir na pele a revogação de tais poderes ficou louco de raiva a clamar vingança desmedida sem capacidade de avaliar danos, porque está doente - viciado em jogo - só isso parece lhe dar prazer(?)  - estoirar a fortuna da família, porque se fosse só dele - tinha esse direito .
Onde estão os valores de família ? - este homem simplesmente os atirou para segunda linha. Afinal o maior património a meu ver do que disputas de heranças.
A  sede de vingança revelou-se na pretensão de querer assassinar as duas irmãs...pereceu a golpes fatais na mais velha, a outra sobreviveu porque um homem acudiu a tempo ... ainda parece que foi até Alcácer à procura de uma terceira irmã...
Coitada desta pobre e rica mãe - o filho na prisão - será ela capaz de o visitar (?) sabendo que foi o alegado assassino da sua primogénita?
Deve ser dor que nunca mais acaba - não há dinheiro que pague, nem palácio que valha a pena!
Esta a sociedade dos nossos tempos formatada a pensar somente no dinheiro e no seu poder afrodisíaco!
Desculpem o desabafo, fiquei agoniada - tanta gente com tanto dinheiro...tantos que querem comer e não tem nada nem tostão...ainda outros que são poupados para andar com a vida direita - uns desgraçados !

Vi muita maezinha tolinha a proceder assim durante anos na minha atividade profissional. Um dia chega-me ao banco uma velhota a perguntar se ainda havia dinheiro na conta....conversa puxa conversa acabou por me dizer que em tempos comprou a casa ao senhorio, como só tinham uma filha decidiu com o marido fazer logo a escritura em nome dela...entretanto a filha licenciou-se e foi para o estrangeiro...um dia  em Lisboa tocam à campainha...eram os novos donos - compraram a casa só por fotografias - a filha tinha-a vendido sem se preocupar com a mãe viúva que ficou na rua...(no caso deveriam os pais ter feito escritura de usufruto) ...dizia-me a senhora lavada em lágrimas...era tão boazinha a minha menina, nem acredito que foi ela que fez uma coisa destas...estava na rua e não aceitava dar-se conta!
Um dia escrevo estórias verdadeiras como esta.
Mulheres que fizeram maus casamentos, que não se realizaram  acabam por se rever num filho homem, ou num único filho - será sempre o seu bebe ...não os deixam crescer, aceitam passivamente tudo o que eles dizem e fazem até quando estes os começam a drogar para manobrar as suas investidas para levantar poupanças...
Já estou a divagar é que a noticia deixou-me completamente extasiada...Não havia necessidade de tamanha loucura!

O meu colega do lado- rapaz de Setúbal desempregado - bom moço e generoso - em Azeitão deu-me duas moedas do tempo do último rei...hoje, deu-me um quadro pequeno com tela pintada...bem andei de volta dele para lhe comprar uma forma de sapato de criança - uma loucura de bonita...tinha outras maiores, até me dava uma - aquela por ser airosa fazia-se caro a puxar preço - bem contei o dinheiro que me restou, até dava...naquilo ele disse-me "na próxima feira se ainda a tiver dou-lha..." pois sim é danada de bonita o raças da forma de sapato de criança...começou a chover foi um desatino a arrumar, não deu para negociar...fiquei com tanta mas, tanta pena. Sonhei oferece-la à minha filha.
Sei que ia amar!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Sempre um frenesim a Feira da ladra

Tempo enevoado convidava a passeio, enfeirei, como é hábito. Tenho bancas que não passo sem as ver e comprar, claro, pela qualidade e preço.
São aqueles vendedores que compram recheios durante a semana, iniciam a venda aqui  e, no domingo acabam na feira do mês nas redondezas - o que sobra vendem por atacado a outros colegas para fazerem negócio - tem vezes que hesito não compro, depois ao domingo encontro as peças na D. Maria...

Na banca do Miguel comprei impecáveis - nunca foram usados três lindas peças da SP de Coimbra: dois pratos e uma saladeira - imaginem faziam-me falta. Ainda um pequeno prato Viúva Lamego em tons amarelo impecável e uma moldura pequena por 1 € - antiga para a casa rural, estava em falta - pretendo redecorar uma parede da sala com fotos a preto e branco dos antepassados - tipo  colecção que vi num livro de 1967 da Reder's Digest que a minha mãe tinha - e nunca, claro esqueci.Em casa reparei que afinal  os cantos são em prata e foi partido o vidro para retirarem a foto - esqueceram-se que atrás ficou a verdadeira foto de família de 1947 tirada num fotografo em Lisboa com dedicatória...

Almocei bem - comi umas sardinhas regadas com bom tinto fresco e bolo de bolacha, fiquei confortada -  tivemos por companhia dois homens jovens, com eles travamos boa conversa, um  divorciado há 2 meses, tanto falamos sobre relacionamentos...

Noutro estaminé postado no chão - comprei uma moldura com uma estampa de uma Santa - que me saltou logo foram os escapulários na sua mão, a coroa, cantinhos em lata a imitar prata e vidrinhos espelhados à volta do caixilho, uma delícia, por 1,5€ para ornamentar a sala da casa rural. O vendedor - um jovem negro de S.Tomé , bem falante, rija e boa a conversa, rapaz bem disposto, parecia de bom intimo acabou por nos oferecer uma caderneta militar de 1929 - num relance tirou o boné de marca da cabeça - olhando para nós, disse...bom, muito bom, não sabem o bem que me fizeram aqui e...apontava para a cabeça...Senti tanta pena dele, bem que o influenciei para aproveitar as Novas Oportunidades e tratar da legalização, até me mostrou os papéis - "topei" logo que era diferente, com cultura, trabalhou muito nos restaurantes da Expo - ainda lhe comprámos um cavalo tipo Lusitano branco - pó de pedra de Alcobaça ou biscuti a rivalizar com os famosos da Vista Alegre- que sujo estava,  lindo agora que foi lavado!
Mais à frente encontrei outro vendedor com quem travei conversa, já mais velho, magro de origem Goesa, via-se que tinha percorrido o mundo, sabia o que dizia...em jeito atrevido disse-lhe - sabe, os seus olhos são iguais aos nossos, tem por certo na sua família genes de gente portuguesa..o que nos rimos, farta conversa. Este o maior prazer da feira, o imprevisto, conversar com gente anónima de tudo e de nada, rir...e apetecer ficar!
Num canto vi um tinteiro em porcelana chinesa, tipo casca de arroz marcado por 1,5€ - nunca tinha visto, tive de o comprar, fez-me lembrar os tinteiros brancos de rebordo das carteiras na primária - ao chegar a casa constatei tratar-se de um cálice (para beber a aguardente de lagarto) ...

Na saída comprei uns Jambés com couro para oferecer à  minha filha, lindos por um preço simpático.Ao lado um colega, já enfrascado com pacotes de vinho pelo chão - vazios...tocava, tendo como instrumento uma simples cana rachada, o raças do rapaz, apesar de embriagado tocava como ninguém o malhão, até lhe dava o jeito de bater com a mão.Comprei-a por 1€. A cana desnudada - tem contudo por baixo um parafuso para ajudar a vibração, fazer saltar o som característico que me catapultou à infância - homens em romaria cantavam à desgarrada estrada fora com elas nas mãos engalanadas com fitas berrantes em jeito de laço.Ele a cantar, batia com ela na anca, atrevidote convidava a dança!

O que tive pena? Vi pela primeira vez lindos azulejos século XVIII com caras de anjos e um painel quase completo com um anjo desnudado, eram lindos de morrer, a vendedora rapariga na casa dos quarenta, muito magra, marcada pelas amarguras da vida, falava fluentemente inglês...trocava conversa com um homem novo, conhecedor...Vim embora, ao fim de alguns passos voltei-me, para meu espanto arrumava-os...voltei, nada vi, vendeu-os dados! Se estivesse sozinha tinha-os comprado!
Eram divinais, únicos, de onde teriam sido roubados?
Sim, era mercadoria nobre, se era!

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