segunda-feira, 9 de julho de 2012

Conversa solta na feira de velharias de Setúbal a 1º de julho 2012

Chegou-se mais um fim de semana com agenda de mais uma feira desta vez, em Setúbal. 
A minha amiga homónima quis repetir o certame. Ao chegar no chão pus a colcha escarlate a marcar o seu  lugar, onde dispus algumas peças que tinha trazido para a feira de Alcochete e não vendi ...A sua mercandoria:Santa Ana; Sacavém; Caldas da Rainha;Vista Alegre; vidros de laboratório, copos termais, garrafa VA; chaves; ferrolhos, quadros e,... No seu dizer confidenciou no seu sorriso alegre sem marotice, sincero e gentil... "tens muito jeito para armar a banca"...
Sorri a pensar - ,só pode ser cortesia!
Apesar de ser a 1ªfeira do mês - faltou muita gente - nesta altura de verão os colegas apostam noutras feiras: Moita estreava-se,havia Belém e,...
A minha amiga apostou em trazer boas peças,mas onde estava a clientela?
Sente-se que o mercado baixou e muito, dizia um colega que no imediato reconheceu a minha amiga de outras feiras...Já lá vão 6 anos quem diria que o bom homem a reconheceria ...Dizia-nos " percorro o país todo, nas feiras da Guarda, Castelo Branco e Coimbra, fico numa casa que tenho na Beira Baixa (Oleiros) ,tenho clientes certos, ando nisto há 10 anos,  a Setúbal só venho uma vez por mês -, o cliente certo hoje já veio, deixou 80€, mas tem-me deixado aos 1.000€...Reforça aqui há muito dinheiro, gente que tem Montes por esse Alentejo, gostam de roupas, atoalhados antigos; a minha mulher é que negoceia, também compra,olhe agora um deixou aquele saco cheio para ela apreçar..."
Chegou-me a fome, petisquei uma das minhas sandes saudáveis entupida de alface roxa...
Passava gente com sacos e coisas pelas mãos a tentar vender que interpelavam colegas habituais que lhes compram a mercadoria, um trazia uma caixa aberta cheia de traquitana no selim da bicicleta, uma mulher bem madura fazia-se acompanhar de uma mão cheia de amigos e, nas mãos trazia um grande relógio, sem tampa no tardoz, mas pequeno era o relógio, e grande em demasia a moldura rendilhada  em gesso? Quase de metro,julgava ela que o vendia e, bem, azar todos o rejeitaram . Ainda vi o Rogério pegar nele e  de afogadiço mostra-o a colegas para o vender, mas ninguém lhe pegou apesar da pechincha, quem o queria ? Visivelmente mal vista perante a plateia, a mulher tira-lho das mãos, e desanda, por entre dentes diz " prefiro dá-lo a uma pessoa amiga"..-
Deixei-me no meu pensar a balbuciar, mas quem quer uma monstruosidade daquelas em casa  a rondar o desprezível, num calhar, nem a máquina se aguenta a dar horas certas, melhor será comprar um relógio nos chineses...O dizer de outra tal como eu a remoer o que se ouvia...
Continuei a  sorrir com o alarido no arraial da feira, dei corda aos sapatos, fui cumprimentar outro colega profissional de artesanato, mostrava-se na conversa satisfeito para ir para a feira do Estoril onde costuma vender bem. A minha amiga viu na minha banca uma aneleira da Fábrica Viúva A. Oliveira de Coimbra e disse-me logo "gosto muito desta fábrica " , claro que lhe a ofereci, as pessoas não conhecem nem mostram interesse, só reconhecem na maioria - Sacavém, sobre esta fábrica apenas querem saber o preço para avaliar as peças que tem em casa recebidas de herança, sem delongas confessam, quando se explica a diferença  do preçário entre - Real fábrica e  Estátua - dizem  à boca cheia sobre este último " é imitação"...Respondo apressadamente,imitação é nos chineses,estou farta de encontrar letradice à brava!
O Paulo Filipe com pena dum magricela esfomeado a rondar o seu estaminé na mira dele lhe comprar um quadro oval de flores e moldura dourada, deu-lhe uma moeda, quando  me levantei para esticar as pernas, para mais "dois dedos de conversa" disse-lhe" então sempre ficaste com o quadro?" -, inesperadamente ofereceu-mo por 5€ que rejeitei , no final da feira por não lhe caber no carro imaginem, ofertou-mo, este colega é assim,dá-me sempre muitas coisas,ainda me deu uma garrafa de cristal que lhe caiu ao chão e bostelou o gargalo ( valeu o empréstimo do meu caixote para fazer de mesa e não voltar a fazer estragos)...E a garrafa  com a rolha não se nota, serve para levar para a casa rural, o enfeite na cristaleira, em caso de novo roubo,levam "novo por estragado", tem de ser assim ,não corro mais riscos de perder peças que adoro, ainda me obrigou a trazer os cálices, pela manhã deu-me um prato de Sacavém...Porque lhe pus num post uma foto do estaminé  que lhe valeu vender algumas boas peças em Alcochete. Ainda me deu uma boa caixa azul com tampa, também não cabia no carro, no caixote do lixo deixou um quadro pequeno com gazelas, e uma pasta que em tempos de antanho foi de boa pele de cobra? Um ótimo homem e a esposa Clara não lhe fica atrás, gente muito boa. A minha amiga começou por ver a sua banca assediada de gente, trazia umas peças de outra amiga, um prato pequeno com uma cobra em verde e amarelo do discípulo de Bordalo Pinheiro, Cunha que acabou por ser vendido por mim, enquanto ela se estreou na venda de duas mostardeiras: VA e outra Sacavém, esta mais pequena oval, graciosa à D. Ana que a vi pela 1ª vez nesta feira, confidenciou-nos que nas últimas duas feiras da ladra fez zero...
Não ficou com os bules de caldo apesar do preço especial porque tem o batizado do neto por sua conta , 4 anos , neste agora vive a ralação de não estar abençoado pela casa de Deus, coitada  além de ter de pagar a sala, os comes e bebes e lembranças, o orçamento previsto acaba por ser muito mais, e o dinheiro não chega para tudo!
Arrependi-me de não comprar a preços dados umas peças de latão com uma alavanca que me transportaram voltar à infância; eu e a minha irmã ajudávamos o nosso pai a encher os cartuchos de caça, com uma peça igual, fechávamos hermeticamente os mesmos com uma tampinha de cartão...E uma infusa de faiança com pintura floral em azul do norte, uma mostardeira Sacavém tipo caneca com tampa, tenho outra muito parecida mas em laranja, peças boas e bonitas aparecem, o problema é pensar em prioridades, e a cada dia penso mais!
O colega do selos e afins arrumou na hora do almoço - nada o vi vender, o sol forte que se fazia sentir inesperado depois do tempo encoberto, o inimigo para o produto da banca.
Dei aula grátis sobre faiança... Perguntava-me um forasteiro jovem acompanhado pela mãe..."os pratos tortos, são 2ª escolha da fábrica, por isso não os marcavam"...Mostrei vários tipos de pratos em faiança, expliquei a textura e grossura da massa, falei dos esmaltes,da pintura manual e estampa, e até das várias fábricas, absolutamente a zeros nesta matéria, agradeceu gentilmente a aula prática!
Arrumava a banca, chega-se um freguês com um saco , dentro dele pratos com decoração chinesa,aquela gostei francamente...Dizia-me "comprei-os baratos, quero esta sua chávena mas acho que está cara" que lhe a dei quase dada...Na verdade estava farta dela ,não aprecio alguns motivos em verde de Macau , no caso o bom homem rematou , é para usar!
Dei "dois dedos de conversa" com a brasileira que vive com o Rogério, coitada da pobre mulher, umas pagam por outras. Compatriotas novas enfeitiçam alguns portugas - "esminfram-nos até ao tutano", outras com mais idade passam "as passas do Algarve" com homens calculistas que só pensam na aposta de ter mulher para tomar conta das lides da casa, deles, e ainda no caso de serventia na feira, só paga se fatura, mas fatura sempre, e gorjeta baixa, coisa de 15, 20€ de vez em quando,a pobre mulher, sensível, humana, e nada limitada, tem de se aguentar a viver na casa dele, no dizer dele: "não pagas renda, nem água nem luz e comes da minha comida"...Desabafos sofridos, ainda falou dum filho que "maldita a hora que o chamou"...Horas de interromper para atender a um cliente...Ainda disse " estou farta, em dezembro vou-me embora para a minha terra"!
Euzinha vestida de laranja - gira apesar do cabelo para pintar - desta semana não passa!

Quem apareceu na feira ? O meu amigo LJ, em dia de trabalho atravessou a  feira para  tomar o pequeno almoço, acompanhado com um colega...Boa surpresa, há que tempos não lhe punha os olhos em cima, continua bonito, gentilmen,de boca carnuda, talhada por Deus, um amigo de verdade que conheci com 50 anos, tinha ele 39, nas Novas Oportunidades. Outros bons amigos conhecidos nesse tempo que ainda hoje recebi e-mail de outro não menos querido, Arnaldo de Moncorvo, dizia " Estamos à sua espera, do mesmo modo que se espera o familiar que foi para o Brasil... e não conhecemos. Só sei que chega dia 13, normalmente a partida é sem pressa. Vai gostar e além de autocarro para o Porto, temos o comboio todos os dias no Pocinho, não tenha pressa."
E não vou ter, de volta quero vir de comboio, sei que vou adorar voltar a Trás os Montes e atravessar o Tua!
Na TV vejo no momento desta compilação a festa em Santo Tirso, fiquei de água na boca a ver os Jesuítas; doce típico que provêm de Bilbau (?), o pasteleiro que  passou a receita, há mais de 50 anos falava espanhol...Eu a julgar que seria receita antiga dos  mosteiros que a terra se orgulha de ter ou, do tempo em que a Quinta de Cima em Chão de Couce em Ansião ( a minha terra adotiva)  foi pertença por duas vezes desta terra  do Ave -, puro engano, já comi os famosos da Pastelaria Moura, a dona  senhora simpática e de conversa afável, uma confreira. Acredito vou comer um, ou mais daqui a dias, acredito ou não...A massa folhada é do melhor, estaladiça a desfazer, o creme divinal, e o glace de açúcar na cobertura não há igual, como se deve comer para não se perder nada? Separa-se ao meio, vira-se a parte do glace para dentro,depois é só trincar e, saborear...Quem me ensinou? Outro grande amigo da terra JM.
Bom proveito para os que hoje os provam, e saúde!
De volta tinha o e-mail de outra minha homónima feirante..."obrigada pelas simpáticas palavras. Não é por acaso que houve empatia entre nós logo de início.Adoro o teu sentido de humor e a tua maneira de estar e de ver o mundo...Acredita pois digo com a maior sinceridade.
É nestas ocasiões que confirmo a minha opinião acerca dos nossas feiras de velharias pois antes de mais podem ser verdadeiros encontros de amizade e de partilha de conhecimentos e experiências.
Então não sei!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Concretizar sonho antigo de uma amiga em voltar a ser feirante...

Na cabeça da minha amiga homónima,  há tempos com o" bichinho carpinteiro a roer" de voltar a ser feirante,   e de a ajudar a concretizar o sonho, num  sábado na feira de Setúbal. Na auto estrada um Ferrari cor de prata,  e um Jaguar, o meu carro de eleição. Respirei com satisfação. Boa surpresa matinal dava esperanças para um bom dia. Cheguei ao destino e ela foi pontual.
               
Ao arrumar a minha banca premeditei deixar espaço para ela expor peças finas: três bules de caldo ou bicas: dois de Coimbra e, um Miragaia, igual fabrico do areeiro, tons de azul sobre esponjado liso, colherzinhas, coleção de copos termais de vidro, almofariz e,... na colcha vermelha na calçada havia pratos Sacavém da Real fábrica e Massarelos: verdes, cinzentos, castanhos, e outro com o último carimbo de fabrico vermelho vivo - emblema do PCP - e, chapas de Seguros, brindes, abre latas, candeias, e um candeeiro antigo sem pé, livros, uma colcha de seda, naperons em brocado, disco da Amália, cofres: Montepio e Crédito Predial, verónica em passemanaria, e uma linda taça oval de Sacavém com pegas em dourado, e silva verde em estampa na aba de dentro - enfeirou a bom preço num colega - onde eu deixei ficar um belo prato do Raul da Bernarda, mais tarde voltei, tinha sido vendido...tolíssima!
A feira para o meu lado não correu nada bem. O mesmo não se passou com ela - não foi nada má - sendo que se estreou, vendeu algumas peças.A meu pedido o meu marido ficou na banca para eu fazer a minha habitual ronda de visitas aos colegas - a quem a apresentei - nisto vinha o Santiago, diz-me..."mas eu conheço a tua amiga" - batido em feiras de norte a sul - foram colegas num passado recente com mais de meia dúzia de anos...lindo o gosto de os ver recordar tempos de antanho..dizia-lhe " a cor do teu cabelo é verdadeira...a tranchinha fica-te a matar ". Houve outros que me perguntavam se era minha filha, outros ainda se seria irmã...ela própria - julgava que éramos da mesma idade...seria bom...tenho mais uma década, ao que surpresa responde..."mas como, se os meus pais na casa dos sessenta e picos não tem  o vosso estar bem disposto ( eu e o meu marido)" e,...pois ambos parecemos muito mais novos,  isso claro agrada-me, de que maneira!
Na banca do Paulo Filipe enfeirou um diploma da 4ª classe e,...ele na sua primeira vez vestido de chapelinho preto raiado de branco - estava um espanto -  a presenteou com umas esporas e um diploma de batismo,  a mim deu-me "um cozinheiro" carantonha de chapéu alto de pendurar. Doido de satisfação estava com o novo "brinquedo"...o nome que se dá a uma nova peça na banca - um grande relógio em redondo de madeira com o mostrador repleto de bostadelas... acabadinho de mudar de dono - pergunta-me " achas que ele se segura aqui?"  - o aqui - em cima de um rádio apoiado em dois pesos  de formato hexagonal ...a pergunta fez-se a pensar no vento que de vez em quando presenteia  na desgraça - todos nós - expositores de rua. Na banca de chão do Rogério - seu conterrâneo beirão - ali o soube, deu-lhe gozo procurar ferramentas que comprou várias, a preços incríveis: turquês; peça para cortar azulejo;chapas antigas de ferrolhos para portas de interior, um estribo e,...para trabalhos manuais da sua arte - enquanto eu me deliciei por duas argolas onde se prendiam as bestas nos muros das casas, ainda um grande garfo que me fez lembrar as mulheres  nas feiras de Ansião de antanho junto ao Clube dos Caçadores de volta da fogueira, nela a sertã de ferro retangular de abas e bicos nas pontas , fritavam no azeite quase a esturricar peixe do rio por causa das espinhas que se comia sob papel pardo com a mão....agora no mercado ao sábado ainda as vejo. Ainda  noutra banca ela comprou um berbequim manual muito pequeno, uma sovela de sapateiro e, brindes com brasão.Na banca da Maria José, a que eu já chamava Maria de Jesus, comprou dois souvenirs de Alcobaça - eu comprei um candeeiro de latão e uma tacinha minúscula com pratinho em vidro que em abono da verdade não sei a sua serventia...seria para doce(?), ela disse-me que a mãe dela a usa como candeia com azeite e pavio de algodão para alumiar os Santinhos...na banca do Sr Peres encontrei uma bilha de segredo em barro preto com pintura em picotado tipo " estela de ardósia da pré-história", ainda um prato de vidro que só eu sei...tratar-se de fabrico VA -  fundo repleto de picotado fino caraterístico, ao meio um casal de meninos em relevo envoltos em grinaldas de flores...só tem um falha pequena no rebordo - compras ficam para mim, claro!
Passei o tempo em Setúbal a dar explicações - bules de caldo e areeiros - só apareceram duas senhoras que em casa de família, uma na zona de Portalegre,  os conheceram...porque na verdade sendo hoje peças raras - indiciam terem sido adquiridas noutros tempos por gente de posses - na família do meu marido havia um bule de caldo proveniente de uma herança de um padre, o 1º que conheci em azul, mal pintado - possivelmente fabrico do José Reis de Alcobaça, mais tarde adquiri um de Coimbra, muito delicado o seu fabrico e pintura fina - uma loucura o preço - dizia-me a antiquária na Sé de Lisboa que o vendeu..."se não o levar, vai para casa de um embaixador, a esposa tem uma coleção deles"...sobre o areeiro ninguém sabia a sua real função...nele se punham as penas ( canetas) a escorrer de tinta para a areia que tinham dentro, função que lhe ditaria o nome porque haveriam de ficar assim conhecidos - pela raridade são de facto peças caras chamadas de coleção - amei o estatuto de falar sobre um tema que deixava todos de boca aberta sobre peças delicadas na maioria só naquele dia vistas pela 1ª vez nesta feira. Extraordinário orgasmo intelectual para alguns que me ouviram - asseguro - e,  para mim igual no papel de comentadora...então e as fotos? a máquina nova sofisticada avariou na ótica ...foi arranjar, veio boa, tirei as fotos, depois voltou a não abrir para as passar para o computador...
O meu marido foi um bom companheiro e cicerone - com ela partiu em demanda mostrar a cidade que ela não conhecia - levou-a ao rio, ao mercado e ao centro histórico. Adorou tudo, sobretudo o colorido do mercado, desde as frutas, comprou cerejas da Gardunha para ela e para mim, tirou fotos ao peixe  - grande cherne - porque espadarte não havia...não é a época, fascinada com a   frescura e variedade de peixes e mariscos - delirou  - fartura de hortaliças verdes,  frutas, e buliço das gentes no vaivém ...
Uma grande perda a grande parede a sul revestida a azulejos tivesse ruído há tempos...tão emblemática, espero que consigam reconstruir o painel...seguramente ele esqueceu-se de lhe falar, sei que iria gostar.
 
Levo sempre a minha lancheira, os dois foram almoçar uma sardinhada regada com vinho tinto e ainda saborearam um moscatel da região.Encantada com a arquitetura e monumentalidade, o seu coração parecia explodir de satisfação, eu feliz -  igual - por ter proporcionado um dia diferente.
Cansada. Calcorreou a feira algumas vezes, a cidade nem se fala, esteve de pé na banca, ainda solicitações  - deste e daquele - vendas, compras, conhecer gente, urra, foi um estafeira...daquelas!
No seu íntimo desejava  voltar ontem à feira de - Alcochete. Debalde o cansaço das pernas, atraiçoou-a. Eu fui. Continuo a dizer que detesto a acessibilidade, apesar de irmos mais atentos, fomos de novo traídos pela má sinalética em S. Francisco. Encontrei feirantes na sua 1ª vez, e outros que por motivo de remodelação da feira de Pinhal Novo e da restrição de produtos de venda sujeitaram-se a participar aqui - Aroucha, e esposa D. São e,...vi o João de Azeitão feliz,  na véspera depois de sair da feira de Setúbal passou no café onde vendeu a registadora e o quadro...logo de manhã vendeu a enciclopédia que trazia. Cumprimentei o Sr António(GNR),o Sr. Carlos e a esposa D. Lurdes,  o Paulo e a esposa Natália da Baixa da Banheira, a Isabel de Carcavelos, o marido Rogério e a filha linda - trouxeram o amigo António (  homem  garboso de cabelos alvos que na última feira confundi com o João de Azeitão, o Cristo, e na lateral com Richard Gere...), ainda apareceu a Zélia e o marido João, a D. Guida e o marido Machado...e, mais colegas claro!
O bombeiro  da organização só chegou às 8 para a distribuição dos lugares, fiquei no mesmo sítio, à frente do  Santiago, tal e qual como da última vez.Montei a banca, fui lavar as mãos - mulher prevenida levei sabonete - pior a Maria de Lurdes que ao abaixar as calças de linho ficaram manchadas de lixívia...quando se lava o chão deve ser limpo e não ficar empossado...porque tiveram de assumir o prejuízo. Passei na banca da Carla - ainda tinha o  prato cantão popular , iletrice chamar-lhe Miragaia - até doí - no caso fabrico de Aveiro , textura grosseira - na última feira quando lhe comprei outro em faiança fazia-me 2€, esqueci-me de voltar  na parte da tarde para o comprar - ontem, disse-me que não...devia ser confusão minha ...fazia 5 €...há qualquer coisa estranha nesta colega ...ainda por cima não é credenciada, e devia!

Quem veio à feira - Maria Policarpo, com a sua  linda mãe - senhora de boa silhueta de fazer inveja a nós um nadica para o gorduchooo...apresentou-me também o marido -  sentado no banco fazia espera da conversa acabar com o Paulo Filipe - as palavras são como as cerejas - recordar  memórias de objectos de antanho, e o fascínio de os contemplar - hoje de volta - a nossas casas.
Falou-me que a sua mana adotiva - Cíntia estava fora - ( de Alcochete) -  a namorar...
Trocámos fraterno abraço muito afetuoso que só gente doce  e de bem, sabe assim dar !
Pouca afluência. Arranjamos sempre desculpas para as poucas vendas. Havia festejos no Montijo, garraiada e ainda de tarde o programa da Leonor Poeiras em direto na TVI...muitos colegas queixosos, alguns não se estrearam, e outros pouco faturaram, o Paulo Filipe foi a exceção...começou por vender uns livros, depois duas malas: uma em cartão e outra mais moderna, sendo assim antiga art decó, uma floreira pequena de madeira para suporte de vaso e uma lata...de tarde vendeu o tal relógio.. não se ficou por aqui, acho que tem de me começar a pagar comissão ...a minha intuição aventa que alguém (?) viu a foto do seu  estaminé postado sobre a feira de Alcochete neste blog ...apareceu um senhor para comprar ao fim da tarde um rádio, e ainda o pote grande em lata pintado de verde claro -  guardador de azeite. Apesar do azar teve sorte com o vento que se fazia sentir no encher da maré...partiu um prato grande em esponjados de Aveiro, de manhã foi a chaminé de um candeeiro a petróleo.O Paulo Filipe é como eu - mal fatura gosta logo de fazer compras - comprou duas estatuetas do símbolo religioso da terra - Padre Cruz - um vestido de chapéu e o outro não - também um lindo relógio com ponteiros - ao meio a interceção da Cruz de Cristo - abaixo da porta uma vidraça em cristal lapidado ornado a fios de latão - vaidoso pô-lo na banca em jeito de altar, não suportou uma rajada de vento, caiu, os estragos foram mínimos...deu-lhe mote para arrumar, o que fez num ápice!
No final da tarde apareceram mais pessoas, vendi um suporte de madeira para uma vela...de manhã vendi dois livros e um garrafa em inox para o brandy, no caso para um caçador levar nas caçadas. Apareceu-me uma senhora que gostou muito de um prato de faiança decorado com um moinho, dizia-me " é ratinho?"...respondi não, é faiança de Alcobaça ...poisou-o logo - não consigo enganar ninguém - por isso pouco vendo, ao contrário daquilo que vejo - e oiço, e não devo comentar - quer clientes, quer colegas sou amiga de ambos, não gosto de conflitos...alturas que me sinto indisposta, porque na verdade apetecia-me abrir o jogo- esclarecer que são bem enganados, "impingidos" no engodo da mentira -compram "gato por lebre"!
Conheci uma colega nova - Joana - tem um antiquário no Alentejo. Pena fiquei de não ter faturado - teria na sua banca comprado um par de jarrinhas em azul bebé com lavrado em relevo branco - porcelana inglesa,  Wedgwood - além de outras belas peças em cantão a preços simpáticos.Deixei-a, e logo o Sr Carlos me chamava para a sua mesa onde almoçou feijoada com outros colegas. Bebiam moscatel fresquinho, ofereceu-me, claro bebi.
Depois do almoço a minha amiga homónima liga-me...disse-me..."gostei muito da feira, de ti e, do teu marido, foste muito simpática...estou é cansada, mas quero voltar..."
Havia fogo...ao longe via-se a fumaraça negra , naquilo nos céus um grande helicóptero amarelo com o balde a baloiçar...
 
Tomava ares de iodo a mirar no horizonte a nossa Lisboa  com véu de neblina quando vejo passar um casal com um neto crescido , dizia ele   " vejo uma taça que era  minha, eram duas "  entretanto olhava eu para ele a interrogar-me de onde o conhecia...mal ouvi o comentário levantei-me da cadeira e disse..como está o Sr, há que tempos não o vejo nas feiras...diz-me " andei 40 anos, deixei-me disto, já não dava nada, ainda agora estive a falar com o Carlos a que deixei o meu lugar em Estremoz e Paço d'Arcos dizia-me o mesmo, só fez de manhã 25€..." respondi -  foi a mim que ele vendeu este conjunto em "casca de cebola"  - garrafa de água com pratinho e copo para a mesinha de cabeceira...
Acrescento, sabe comecei por o deixar de ver na feira da ladra, depois a última vez que o vi foi na feira de Algés...visivelmente feliz pela minha memória certeira falava "a senhora nem imagina a satisfação que me dá a ouvi-la falar, o meu neto que vive na Holanda adora estas coisas... fico feliz por ouvir as suas palavras" ...continuei no meu relato... estranhei mais tarde, precisamente em Algés ver as suas peças de faiança que conhecia todas, nunca tive foi dinheiro para as comprar - limitava-me a admira-las nas feiras - isso bastava-me... até cheguei a idealizar um dos pratos todo pintado a cravos vermelhos na parede da minha sala..." agradecia-me emocionado"  - continuei o meu relato - deparei com as suas peças de faiança na banca do Vitor Fontinha, só consegui comprar as taças...dizia-me "esta esbeiçada fui eu que a parti, comprei-nas numa velhota de Nisa" ...pergunta-me " e não comprou nenhum dos pratos?"...
- sabe, de regresso a casa vim a pensar neles  convicta que na feira seguinte haveria ainda de restar algum até porque o preço da unidade era de 50€....diz-me "vendi-lhe tudo barato..."
Debalde não os voltei a ver na banca do Vitor, no sábado seguinte já tinham sido transacionados para as "Paulas" - os vi numa feira da Avª da Liberdade pela última vez. Trocámos palavras amáveis, perguntei-lhe o nome - João Porfírio . Ainda tive tempo para lhe falar da minha caturrice em tentar perceber a origem de fabrico, e mostrei-lhe naquela que foi a sua taça "ratinha" - na 1º impressão aventei ser fabrico de Coimbra, e agora inclino-me para a OAL no tempo de Manuel da Bernarda, expliquei os pormenores das diferenças: terminús da aba, tipo pega, vidrado apresenta-se partido, e cores novas - laranja ...visivelmente maravilhados por me dedicar a estes detalhes a que ele confessa gostaria de ter feito no passado, e por razões várias não fez....estavam deliciados a olhar pela 1º vez para pormenores de faiança ...
Emocionada estava eu de fazer sentido ser teimosa, e no mesmo contexto reencontra-lo, e tanto com ele conversar e sorrir. Despedimo-nos com beijos perante os demais, estranhamente perguntavam ao meu marido " mas a sua esposa conhece o Porfírio?"
 - bem, para ela estar a falar tão entusiasmada, é porque deve conhece-lo das feiras...
Na banca da Zélia encontrei uma caixa guarda-jóias - parte de baixo tipo hexagonal em azul e a tampa branca pintada com o brasão das Armas de Portugal - tinha o carimbo verde tipo trevo que indica peça limitada da fábrica Sacavém...linda!
Fazia-se hora para arrumar...a pedra de madrepérola do meu anel foi-se e não a via...corremos o olhar sobre o relvado, o caixote do lixo, a calçada e,...nada de aparecer, até rezei o ritual para a encontrar
" apareça o diabo sem cabeça"...dizia o Santiago para me acalmar..."escolhe outro aqui"
 - não quero, gosto é deste...
 - acalma, quando arrumares tudo ele aparece!
O vento fazia-se forte - enervava - deu-me mote para puxar os caixotes e começar a empacotar, no final  a pedra não apareceu, ainda andou a Zélia e a D. Guida  de novo de olhos no terrado e nada ...
No entretanto de arrumar a tralha no carro vejo que a D. Guida acabou de se estrear no final da feira - felizmente!
Em casa ao despedir as calças sinto o barulho de algo a cair no chão...era a pedra do anel...o pior não sei o que fiz ao aro...doida ando noutra correria!
Dizia-me o meu marido..."quando foste lavar as mãos o Santiago foi-se embora, o velho , colega de ofício estava farto...deixou-te um beijinho - ainda me disse...não a chateias por ela ter perdido a pedra, sabes que ficamos sempre a perder com as mulheres..."
Em sorriso solto o meu marido dizia -me - quando estiver com o Santiago vou contar-lhe que estava certo!
Confesso - fiquei a pensar nos piropos logo de manhã ...a minha camisola amarelinha tinha sido mote para galanteios..."a menina hoje vestiu-se com o milho da eira" e,...da boca do Santiago " vens muito gira, a minha mulher também era..."
-  O Santiago e os seus impropérios!
Escolhi as sandálias a condizer com os brincos , e uma das cores do colar...imagine-se se tivesse a veleidade de soltar os cabelos e abrir o sorriso...certo arranjar noivo de ocasião!

terça-feira, 26 de junho de 2012

Má poda em local público na Escola Anselmo de Andrade em Almada

As zonas envolventes dos espaços verdes da Escola Anselmo de Andrade em Almada, neste mês aqui decorreram podas...indevidas...por serem fora de época, pior do que isso - mal feitas - deixaram troncos -, coutos,   como se constatam nas fotos - perigosos - em todo o lado ainda mais em qualquer sítio público como escolas-, amanhã de novo encobertos por ervas altas -, perigoso para as crianças a correr podem magoar-se seriamente...
Coisa para pensar...
Hoje, a moda da chiquice do nome pomposo das profissões...todos são técnicos...técnico de limpezas...técnico de equipamentos...técnico de jardins e,...
O que sinto? Muita falta formação, profissionais que deviam ter cursos de formação sobre podas de árvores e arbustos, conhecendo a época propícia para  cada espécie-, por exemplo as laranjeiras e limoeiros devem ser podados pelo S. João, ainda a ciência da arte da poda, como deve ser executado o corte, ou cortes, e não o que se vê no caso,  atabalhoadamente. A uma cerejeira do Japão  a copa foi totalmente podada, mal acaba de dar fruto...uma delinquência de burrice, ainda uma figueira jovem a quem deixaram os "ladrões"- filhotes no pé  - só tiram força a árvore...
Podar para quê ? De uma maneira geral a poda favorece o crescimento das plantas. Estimula a floração dos arbustos com flores e a frutificação das árvores frutíferas.
Antes de podar uma árvore, é necessário aprender a conhecer os diferentes tipos de ramos que constituem uma árvore:
 -   Ramos principais e laterais que formam a coroa da árvore
 -   Ramos verticais e concorrentes que são uma particularidade da natureza e beneficiam de um tratamento   especifico no momento da poda.
Os diferentes tipos de poda:
Uma das regras em matéria de poda é de libertar o centro dos arbustos para permitir à luz e ao ar penetrar. Convêm podar por cima de um nó dirigido para o exterior da planta e eliminar todos os ramos fracos que se cruzam no meio da ramagem.Consideram-se 3 tipos de poda:

A poda de formação
Serve ao desenvolvimento da coroa e é praticada entre o segundo e o quinto ano da plantação. Efectua-se no fim do Outono até ao início do Inverno para que a cicatrização esteja feita quando sobe a sebe na primavera e realiza-se em duas etapas :
- Um corte do ramo principal ao nível dos ramos laterais (ligeiramente por cima de tal maneira que ele guarde a sua posição dominante).
- Um corte anual dos ramos dominantes laterais e o corte de um quarto do comprimento dos ramos concorrentes que estão no ramo principal.

A poda de desbaste
Esta poda é indispensável para obter uma coroa bem estruturada, facilitando a passagem do ar e da luz.
Para favorecer o crescimento e a frutificação, é necessário cortar os ramos que crescem para o interior da coroa e desbastar os ramos verticais, concorrentes e laterais assim como os ramos que estão fracos e muito apertados.

A poda de rejuvenescimento
É praticada quando o crescimento da árvore e as colheitas diminuíram.
Esta poda consiste em rebater os ramos laterais até ao ramo lateral inferior e cortar o ramo central, de tal maneira que o conjunto forme diferentes triângulos cujo o ramo central conserva a posição dominante.

 - Uma achega para quem gosta destes trabalhos.
Julgo que o trabalho foi executado por trabalhadores camarários...ainda não concluíram o serviço, ainda há muito matagal para roçar. Se roçassem duas vezes por ano, a erva não crescia tanto, os espaços ficavam mais apelativos - assim vai tudo à frente...a manutenção destes espaços requer atenção, respeito e sobretudo carinho para com as árvores e plantas que devem ser tratadas seguindo os manuais de práticas milenais deste saber,  e não o que se constata...à bruta, de qualquer maneira, sem denotar técnica e saber!
Sendo um lugar onde as crianças gostam de se divertir - então não vejo os mais novos quando entram nesta Escola, e  tentam descobrir os espaços correndo uns atrás dos outros...deveria  a segurança ser uma prioridade.
Arrepia-me ver...algum pessoal  técnico...que pede licença para varrer e apanhar qualquer lixo...outro que se passeia demais com batas abertas, ainda muitos que passam o tempo na rua a esfumaçar...
Sinto uma nítida falta de atitude e brio no trabalho, para com a dignidade de nos dias d' hoje em dia para quem tem um trabalho remunerado!
  • Citando SAINT-EXUPÉRY IN, CIDADELA
     "A MORTE DO JARDINEIRO NÃO É COISA QUE LESE UMA ÁRVORE. MAS, SE TU AMEAÇAS A ÁRVORE, ENTÃO O JARDINEIRO MORRE DUAS VEZES."

domingo, 24 de junho de 2012

O meu S. João em Almada

Almada - termo proveniente das palavras árabes Al-Madan - a Mina - havia exploração de ouro pelos árabes numa jazida  na Adiça, a caminho da Lagoa de Albufeira - O dia da cidade celebra-se a 24 de junho em honra de S.João Baptista - o mesmo  dia que D. Afonso Henriques  conquistou o burgo aos mouros em 1147.
S. João engalanada
A vila também foi pertença dos Ingleses - de D. Leonor Mascarenhas, e da casa de Bragança. Honrou-se amiúde com a visita quer de monarcas, quer de nobres, por estas terras deixaram palacetes e solares em grandes Quintas -  a que chamavam - a outra Banda ou Lisboa oriental em meados do século XVIII.

A igreja de S. Tiago  - edificada no início do século XIII fora das muralhas do castelo - num período de aumento demográfico da vila . Em 1724, a igreja foi “reedificada” - viria a ser mais tarde novamente - respeitando a abóbada de nervuras, pós-manuelina, que cobre a capela-mor, não interferindo também no corpo da nave, que manteve o revestimento integral de azulejos de padrão, da primeira metade do século XVII, de todo o património existente na altura foi a que menos sofreu com o terramoto de 1755. Resistiram os monumentais painéis da capela-mor, encomendados entre 1730 e 1740, descrevem dois momentos capitais da lenda do orago da freguesia, apresentando do lado da epístola a Trasladação do corpo de São Tiago e do lado do evangelho São Tiago combatendo os mouros na batalha de Clavijo.A capela mor é lindíssima. O tecto é rematado por rosáceas  de calcário, e ao meio a Cruz de Malta e a dos Templários, a ordem a que pertencia.  Urge necessidade de acudir à ermida com obras de manutenção: torre do campanário de pedra a desintegrar-se, igual com a  abóbada onde está a pia batismal, paredes com humidade, chão com remendos de madeira inestética altos, perigosos...confesso, a tela moderna encomendada ao mesmo autor de outras do género na capela do Cristo Rei  não se coaduna com a antiguidade aqui patente, no meu ver o altar em degraus com o Santo no pedestal era mais adequado à época. Há outras belas imagens - S. Tiago; S.Jorge; Nossa Senhora da Conceição e,...
Perde-se nos tempos a  tradição da procissão - fala-se do seu início desde 1143  - para comemorar a expulsão dos mouros.Perdeu-se no tempo também, a razão, porque passaram a ser feitas duas - uma na véspera em que o Santo vem em romaria da ermida de S. Tiago até à capela da Ramalha, e no dia seguinte - sai nova  procissão da capela da Ramalha de volta à ermida junto ao castelo. Sendo que em tempos de antanho a Quinta da Ramalha se considerava  fora de portas, noutro extremo - como se explica esse grande trajeto(?)
A minha dedução de forte possibilidade em que se tornou o ritual  ancestral em pagão...

Corria o anos de 1872 - atesta o azulejo da frontaria da Quinta de S.João da Ramalha - propriedade da família Abranches, ainda o conheci pequeno e bem bonito,  há anos foi substituído por este painel que cobre a cimeira do portão . Gente devota, desejava abundância nas colheitas - uvas e frutas - o mesmo voto que a Quinta do Pombal ( oferta do Marquês a uma das suas amantes) que com ela entesta, além de outras . 
Lógico que tal pedido se fizesse suar ao prior no convite da imagem do Santo padroeiro vir em romaria de procissão à Quinta com o seu nome, sendo esta fora de portas de Almada, o jeito seria o Santo ficar na sua capelinha , o que muito honraria sobretudo as senhoras que aí oravam diariamente - a que se juntou o néctar de boa casta  aqui produzido como oferenda para as missas do prior, gastronomia de festa rija - boa amêijoa à Bulhão Pato apanhada no Porto Brandão e, filhoses de bom trigo moído nos moinhos do Monte de Caparica, quem sabe também hospedaria - no dia seguinte a procissão saia da capelinha de Santo Antão em direção ao Pragal na única estrada de ligação - Costa de Caparica a Almada  -  entrava na vila à Quinta dos Espartários também com uma belíssima capela dedicada a S. Sebastião, mais à frente na agora rua Capitão Leitão passava ao palácio dos Marqueses de Fronteira...não sei a localização ( o  edifício da Câmara com a torre é o que restou da antiga igreja de Santa Maria do Castelo aquando do terramoto)e seguia em direção à igreja de S. Tiago, assim os donos e vizinhos se sentiam abençoados, e do prior  de barriga, e carroça cheia: vinho;azeite e figos  fartos aqui chamados pelo nome do SANTO, nem se fala.

O meu marido lembra-se nos anos 60 de ver a procissão passar ao Pancão - depois de passar o palio e os peregrinos fechava-se com uma carroça e nela homens bêbados a entoar música com canas - havia quem lhe chamasse -  Procissão dos Bêbados -
Fui peregrina na procissão em 79, depois de casar vim morar no concelho. Lembro-me da capelinha muito velhinha, tudo em redor canavial, com caminhos em terra batida. Havia homens bêbados  que colhiam  canas com o canivete  e delas faziam flautas ao rachar uma das pontas para fazer soar música ,  em cantoria seguiam no fim da procissão a cambalear ...a procissão demorava quase 3 horas, além do andor do Santo, havia outro, - que deveria ser o da Santa(?) com os anos por falta de homens capazes de o carregar este culto abandonado...e, não devia!


















Nesse tempo a procissão que saia da capelinha da Ramalha era conhecida por  - Procissão das Canas -  Também eu me recordo de na espera da procissão se armar em cortejo  me abeirar do canavial, com a unha cortava a ponta de uma fresca - durante o percurso a enrolava e trazia comigo, a guardava até ao ano seguinte dentro da minha vitrine de recordações, jarrinha minúscula de pau-preto, onde se juntavam outros raminhos igualmente colhidos de outros lados com a mesma satisfação.
Poucos foram os anos, deu-se uma grande expansão urbanística, das canas nem rizomas, e o nome nem mais se fala, ficou apenas na tradição agora conhecida - Procissão da Ramalha.

 
 Lembro-me de ouvir dizer ao povo desses tempos e ainda hoje aos mais velhos que o falam à boca cheia
 " O Santo vem dormir uma noite com a Santa da Ramalha"...
Pergunta-se, mas como, se a capela tem orago de Santo Antão?
Santas...nenhumas...há gente que fala numa... não sei agora o nome...uma boa questão!
Hoje, felizmente a capela encontra-se recuperada...contudo a necessitar de vistoria urgente a parede de ligação à casa apresenta sérias infiltrações de humidade que estão a dar cabo da pintura a imitar marmoreados - muito graciosos.As telas são bonitas. Toda a capelinha é encantadora.


Havia arraiais em Almada velha um pouco por todo o lado. A sardinha no arraial do Partido Comunista tinha acabado. A noite estava agradável, no Jardim do Castelo era aprazível a calmaria da noite amena. Comi pela primeira vez "sardinha no pão"numa taberna  - percebi o gosto de tal petisco.Bebi vinho tinto do bom, e ainda comi uma fartura.Dei um gostinho ao pé no bailarico, sem dançar.
Fogo de artifício
Hoje - dia do padroeiro - a procissão saiu com atraso da Ramalha - digo eu - fez espera das gentes da autarquia e convivas, alegre almoço em dia feriado da cidade habitual no Pavilhão do Feijó, debalde entusiasmados com a almoçarada rija - esqueceram outras festas da cidade - não vi que alguém comparecesse ao ritual de levar o Santo de volta a casa...já passavam das 8 horas quando a  procissão terminou - mal o Santo assentou no pial do portal da ermida deu mote a outra tradição - as flores do andor são para o povo - o prior avisa antes o Santo entra e só dentro da ermida é despido pelos escuteiros e  acólitos, sem dó nem piedade - fica nuzinho de fazer pena... cravos e gladíolos vermelhos são depois por eles ofertados aos peregrinos que esperam ansiosamente na porta...em atropelos esticam os braços e arrepanham as flores uns dos outros - um frenesim - os homens da Irmandade são os primeiros, mal poisam o andor surripiam os boquets de florzinhas amarelas e  ramos fartos de cravos - em voz alta para calar os demais boquiabertos, entoam - merecemos - carregámos com o andor ontem e hoje. Claro que sim. O fausto cacho de uvas - símbolo da Quinta da Ramalha de outros tempos, não sei quem o come - também o mesmo simbolismo da coroa ornada de várias frutas, que segue na procissão na frente do andor carregada por duas raparigas enfiada num varão de madeira - dá graça imensurável pelo colorido e simbolismo de riqueza que aqui existiu - e só acabou com a  expansão urbanística, é sempre leiloada na porta da ermida - rematada por 50€ - um costume, graciosa enfeitada com: pêssegos, ameixas, figos grandes pretos de S. João, cerejas, pêras, nêsperas e,...por entre folhagem de hera e outras verduras. 
Este ano ganhei três cravos e um raminho de verdura!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Falar de Alcochete com cheiros a jacarandá...




Amanheceu o dia com sol, pouco depois das 7,30 da matina na autoestrada do sul no ramal da Amora vi refletidas no espelho as luzes das motas Harley em alinhamento a 120, ordeiros - foi preciso o meu marido infringir o limite nos 140 ao Micra carregado para captar as fotos...



Também o sonante roncar dos tubos de escape. Madrugaram cedo da concentração de Cascais, desde sexta feira, saíram rumo a casa, pela matrícula - Holanda.
Pouco mais de uma dezena, de todas as cores: a solo: no masculino, e feminino; ainda casais, e apoio logístico-carrinha forrada a autocolantes...

                                                     Amei a cor desta Harley...
Fez-me lembrar a minha adolescência - um Opel Manta lindo, pintado nesta cor - nele viajei pela primeira vez até ao Algarve: vi burros a puxar carroças, figueiras, alfarrobeiras e o hotel de Montechoro, junto a este um galinheiro a fazer-lhe extrema...coisa que me deixou a pensar!
Fiquei muito encantada com esta surpresa - sempre gostei das Harley-Davidson!
Jamais me aventuraria a guiar uma, medricas do caraças, nisto, porque noutras coisas sou bem afoita!
Perdi-as de vista ao mudar de rota a caminho de Alcochete para a estreia na sua feira de velharias e artesanato.Um pandemónio, as novas e velhas estradas com rotundas enormes, e má sinalética - um horror - perdemo-nos em voltas e voltinhas - inventei há muitos anos um termo para cenas mirabolantes "Coynamaynn street" num repente estávamos no meio dos terrenos agrícolas quase a rondar as salinas do Samouco - antes atravessámos uma longa estrada ladeada por vedação, na berma pedestais em cimento triangulares pintados de amarelo com letras - de metro a metro...deve ter algum significado - do lado direito uma sequência de casinhas tipo bairro popular, ao fundo em frente do esteiro e do sapal deparei com o grande batatal arrancado com o trator - as batatas cobriam a terra  à espera de apanha rápida...o sol a raiar forte, o seu inimigo!
No meu julgar antes da recessão se instalar foram feitos grandes empreendimentos no Montijo e Alcochete. Irreconhecível a explosão habitacional em S. Francisco - fiquei com a nítida sensação de se tratar de um condomínio fechado - num repente engole a estrada antiga - perdemo-nos nas estradinhas novas que mais parecem labirintos: sobe, desce, rotundas , becos, jardins, casario velho, novo, agrícolas e, ...falta sem dúvida uma avenida sem entraves que ligue estas duas lindas terras - ainda é tempo - tanto o campo ainda vazio. Assim haja força e vontade em a fazer, possivelmente obra parada julgo pelo abrandamento da economia - mas que faz falta, não haja dúvida. Na volta havíamos de nos voltar a perder, já íamos a caminho da Atalaia quando reparei no azulejo da Quinta de Palhavã, ainda nos exaltámos, houve desculpas, Deus ajudou no desaguisado, quando finalmente teimei no meu poder de orientação, ainda ouvi "ainda vamos parar a Lisboa pela ponte Vasco da Gama"...estava certa na minha intuição,  a sinalética é que deixa muito a desejar - coitados dos mais inexperientes e turistas - daqui  para se dirigirem a Lisboa dispõem de três variantes :  Vasco da Gama,  Vila Franca de Xira e  ponte 25 de abril.Ontem não houve feira no Pinhal Novo. Em Alcochete a organização está entregue aos Bombeiros, apareceram mais feirantes, ainda outros que comigo tinham estado na véspera em Setúbal - o bombeiro rapaz novo, mostrava-se incapaz para acudir a todos, com dificuldade em analisar o organograma feito à mão...não fosse o expediente da Fernanda, batida em feiras em aligeirar a distribuição dos lugares, perdia-se tempo. Montei o estaminé na frente da banca do João Santiago - feirante desde 68 - uma vida - dos colegas, o mais velho - homem simpático, afável, educado que conheço da minha primeira feira na Costa de Caparica no feriado de Novembro - ontem o dia que se conversou mais, de sorriso maroto disse-me "gosto de ti, és uma mulher muito intuitiva e não voltes a tratar-me por senhor - esse está no céu!". Emprestou-me uma banca que eu gostava de ter uma igual, robusta e muito fácil de transportar em relação às minhas mesas pesadíssimas  "para mal dos meus pecados"...
Estreei-me com a venda de jarrinhas "casca de cebola" a uma linda senhora loira acompanhada de uma amiga ruiva, sardenta de olhar doce - Maria Policarpo. A conversa levou-me a falar do blog, a Cíntia atenta - o nome da bela senhora loira - diz-me " não me diga que o blog é o Lérias onde  tenho aprendido tanto?..."  pois estava certa no nome, agora sobre a aprendizagem, gostei de ouvir confesso. Ao se  incutir o  gosto nas velharias de quem nos lê, acredito hajam mais pessoas interessadas em valorizar e até, em as adquirir...acabou por fazer mais compras noutras bancas. Falámos ainda dos sites de leilões das aldrabices e dos enganos -que os há - acredito que um dos sucessos de vendas resulta de algumas pessoas não se predisporem a ir às feiras - julgam que não é do seu estatuto - ora as feiras são milenares, vivas, autenticas, intemporais. Deixei de fazer compras on line , tão pouco perco tempos a ver páginas dos artigos - comprei um penico que trazia a asa colada com fita cola, um prato grande que chegou pequeno, ainda acerbas apostas no hora do fecho dos leilões, debalde perde-se a peça porque inexplicavelmente outros interesses maiores se alevantam, na maioria são uma carestia  e aparece muito lixo!
Vinha de mais uma voltinha à casa de banho - um reparo - deviam ter um zelador para alertar os serviços camarários , não custa nada o pessoal da manutenção tratar destes espaços  - falta um trinco na porta, papel e sabão azul e branco - os jornais no desembrulha e embrulha encarde as mãos...
Acabei por me perder no papel de zeladora ... o meu olhar avistou ao longe uma casa alta com uma tira de azulejos grandes - Arte Nova - serão de Aveiro? com remates a Coruchéus - nome dado aos terminais que podem ter vários formatos: Pianhas; urnas; fogachos ou fogaréus; vasos; pinhas; figuras humanas; o mundo e,...de muitos telhados caraterísticas das terras ribeirinhas do Tejo: Vila Franca de Xira, Alhandra, Paço d'Arcos, Almada, Moita; Setúbal e,...Alcochete. A foto da direita foi tirada na véspera em Setúbal da minha banca. Quem me lê sabe que adoro azulejaria.Os terminais são coruchéus - Mundo-  intervalados por outros em forma de pinha.

                                  Alcochete 
Terra cuja fundação atribuída a 850 A. C. foi tornada vila com D. JoãoII, aqui nasceu o o rei D. Manuel I em maio de 1469 - o meu mês - e, mais tarde este  lhe viria a conceder o foral em 1515. Foi a Cíntia que me avivou o nome - coruchéus - quando depois do almoço  a voltei a encontrar e lhe contei a minha odisseia, trazia ela uma grande travessa que tinha sido da sua avó oferta do avô que trabalhou na Companhia Nacional de Navegação. Percebi logo que era inglesa sem ver o tardoz,  marca azul esborratada  e, ainda uma marca gravada na pasta. A minha amiga  Leonor Ceia há tempos ofereceu-me uma série de objetos  pertença uns da sua querida avó, outros da sua querida mãe - destaco duas travessas grandes com a mesma bordadura igual à da Cíntia e, os mesmos dourados nas pegas - foi o Santiago que me alertou - um dos donos da fábrica de Sacavém - Gilbert(?)  foi também dono de outras fábricas de loiça : Vista Alegre e da inglesa onde foi feita a travessa da Cíntia - sendo que as minhas julgo serem VA - têm o mesmo formato e acabamento só diferem na estampa. Agora o inimaginável. A Cíntia ofereceu-me a sua travessa herança da sua querida avó.
Travessa oferecida pela Cíntia
Travessa oferecida por Leonor Ceia
Fiquei extasiada, sem palavras para articular - sei que a abracei - agraciei com dois beijinhos apesar de ela dizer que se sentia engripada - uma atitude que jamais vou esquecer!
Levei-a de novo à minha banca, disse-lhe "escolha qualquer coisa..." - Ato imediato responde - escolha a Isabel - só sabia que gostava de jarrinhas - a escolha recaiu numa da  Fábrica Carvalhinho. Disse-me ainda que a Maria a sua irmã adotiva,  ambas são filhas únicas e a Cíntia linda não tem filhos, em conversa com o meu marido este disse-me que ela lhe contou que o marido tem um príncipe com 8 anos,que ela gosta como se fosse seu . A Maria, não menos linda, não sei se os terá ... tem sim - um príncipe de 26 anos!
O que sinto  - se eu vivesse em Alcochete queria ser irmã adotiva de ambas - senhoras amorosas com "muita boa onda", cultura e estórias de vida: da Maria, e dos seus antepassados quiçá descendentes da nobreza que aqui habitou - tem rosto de princesa -  o palácio será que ainda resiste de pé? Fiquei sem o saber, sonho querer, um dia voltar a falar dele!O dia "fez muitas caras" - ora sol forte a encoberto, o pior foi o vento que se levantou na maré alta.Na  minha volta de cortesia pela feira mais uma vez dei de caras com um colega vestido de sweat-shirt branca com golinha azul revirada para dentro "à matador", e calças de ganga  a condizer com a sacola feita de outras com bolso, nos pés calçava sandálias. No meu jeito atrevido estabeleci conversa " o colega por acaso não fez a feira no sábado em Ponte de Sôr, se não era você era outro muito parecido amigo da Isabel de Carcavelos?"
- Resposta fez-se indirecta " olhe lá, se eu não quisesse que a minha mulher soubesse que lá fui?..."Aguentei firme, sorri e desatei a contar " ontem na feira de Setúbal vi um homem que me pareceu sem duvidas ser o Richard Gere, de frente e de perfil, grisalho, magro, a mesma silhueta e olhar, não sei se tinha o dente da frente encavalitado...sei que em segundos o imaginei mais novo vestido de calças xadrez na personagem "Gigolo" na rua a dar saltinhos batendo com um pé na outra perna..."
- Resposta escorreita  " ainda agora estive no norte do Brasil, as mulheres também me chamavam - Richard Gere, Cristo e,...mas olhe lá, esteve mesmo na feira de Setúbal?"
- Sim, estive.
- Eu também e não a vi. Não se lembra de ver na feira de Azeitão um homem vestido de túnica até aos pés e cabelos compridos?
- Sim , lembro, parecia um hippie vestido à árabe, tipo intelectual.
-  Sou eu. Estava farto de tanto cabelo a entrar pelos olhos e pela boca... não sei quando o volto a cortar!
-Aleijarei o passo com um sorriso depois de um piropo com soslaio malandreco... estava na hora de "dar corda aos chinelos". Parei para cumprimentar o Paulo e a mulher Clara - trouxeram a nora com uma amiga - montaram uma banca de roupa e sapatos em 2ª mão - debalde não se estrearam. Mais acima estava a D. Maria de Jesus com outra amiga - tristes pouco tinham faturado - queriam despachar vidros opacos que outro colega "rodas curtas" e chapelinho tipo Robin dos Bosques com andar à pato, dizia ser murano...esqueceu-se de dizer  antes - Tipo - em frente a Fernanda e o marido Fernando, cegou há tempos...invejo a paciência dela, na frente um colega de bengalinha com mobiliário e objetos bons, já no largo encontrei o Sr. António (GNR) com uma pequena prensa, julgava ele que teria comprador para ela a fazer fé na última feira que aqui vendeu uma igual,  na sua frente os irmãos Luís Miguel, meu  colega profissional ao quadrado e o Paulo, artista com uma banda, tinham peças na banca  muito boas, algumas de raridade - estavam desanimados - ninguém tinha perguntado por dois banquinhos de pernas altas em preto a imitar patas de leão com garras douradas e estofos de seda lavrada  purpura. Comprei um prato covo de faiança partido na amiga do Santiago - Carla - sobre o qual aprendi da boca dele - um prato Ti Emila. Seguramente saiu de uma fábrica entre Aveiro e Alcobaça  - nome dado pelos "ciganos" que os compravam a uma feirante que teria o nome de Emília...vou fazer um post no Lérias...sobre ela haveria de ficar com dúvidas sobre a sua seriedade...sobre o preço fez-me desconto, à posterior disse -me outro, o mesmo ocorreu uma 2ª vez...não simpatizo com gente desta laia, nem um bocadinho...o seu olhar esverdeado sardão, não nega matreirice!
Horas de almoço.O Santiago foi com o amigo que o acompanha de cariz carrancudo e malcriado - cabelo estepe russa, marreco e óculos escuros à cowboy...vendedor de moedas, chateado porque não se estreara...e, que culpa tem os demais?
Fiquei a comer o meu farnel, rematei com suculentos morangos e cerejas - refestelada sentei-me a ler um romance de um dos livros da banca...apaixonante!
O meu marido foi o primeiro a regressar, ficou a tomar conta das bancas enquanto eu fui beber o meu cafezinho, junto ao rio vi o Santiago no seu passo pesado - chamou-me -  fez-se para a foto que lhe tirei... diz-me satisfeito "gosto de caril que nem cornos..."

Contemplei o Tejo que beija esta terra. Lindo o quadro em pano de fundo  - Lisboa - não menos bonito o varino a baloiçar nas ondinhas da brisa que se fazia sentir. Um dia, há anos, daqui deste cais parti numa fragata recuperada pela Câmara, passei pela ponte Vasco da Gama ainda a ser construída, vinham no rio  plataformas grandes - nada menos que o piso - grandes guindastes as levantavam no ar e os punham no acrescento da ponte, até ficar pronta, fazia-se também a cobertura do Pavilhão Atlântico e de outros na Expo...
Caldeirada servida a bordo feita pelo timoneiro, no caldinho juntou massinhas  que nos serviu em malgas sob a toalha de plástico da mesa corrida. Boas lembranças de Alcochete, da fragata  e, do Tejo !
Acabei por encontrar um café tipo bistrô com loiça branca de design, colheres igual ainda réplicas de pratinhos de vidro a imitar os da VA - amorosos - nisto chega-se uma senhora com um bolo barrado a chantily  coberto com morangos - saí, antes que a gulosice me tentasse para lhe pedir uma fatia, lá se ia a minha dieta!
Nova voltinha, novas conversas, voltei a cruzar com o João de Azeitão - "o Cristo" - homem de 60 primaveras, vai celebrar outra daqui a dias - a 10 de julho, caranguejo de signo...dizia-me "mas tu acreditas nessas tretas" - temperamento sensível, humano,despreocupado, bom vivan, disponível, afetuoso de paixão fácil,  gosta de escrever anedotas e pensamentos que lê  sem rodeios a quem o queira ouvir - gosta de fazer rir e deixar a pensar...dedica-se à cultura de plantas aromáticas - o seu negócio que vende na feira de Azeitão -  o seu estaminé repleto de quinquelharia com uma máquina registadora , sobre as novas tecnologias não quer nem aprender, apesar de ter um filho professor de informática na Irlanda - gosta de falar olhos nos olhos - tirou os óculos de sol, vi um olhar doce, esverdeado, cansado e quiçá sofrido, dizia-me "há qualquer coisa em ti que me desespera...sai-me da frente...acho que é o teu sorriso..." ..
- Risada farta! Um bom piropo faz bem, alimento para o ego nesta idade madura a caminhar para a velhice tal como os objectos das bancas - velharias no meio de velharias - na despedida ainda me convidou para comer caracóis, rejeitei por não apreciar - não consigo!
- Disse em jeito de remate, porque não és viúva?Ainda hei-de ir de propósito a Setúbal só para te ver...
- Ri-me com o inusitado assim dito de relance, nunca antes assim ouvido...um lírico!
Logo eu que nem a propósito ontem decidi dedicar-me a leituras - não aprecio confesso, logo comecei por me aventurar com um romance, e a viver um real(?) como se fosse adolescente, apesar da falta de liberdade, coisa que me deixou a pensar!
Conheci também  um casal muito simpático, a senhora deu-me um cartão de visita  com a citação " Sê a mudança que queres ver no mundo" - Ana Maria Thomã - escreve uma coluna no jornal de Alcochete e, fazia voluntariado no Lar da 3ª idade. Desabafou - sentia-se indignada, usando as suas palavras " fui apelidada de bruxa (?)"...nome depreciativo, só pronunciado por gente de cabeça "oca" ...inevitavelmente saltou-me a vontade de falar desta forma quase ancestral de reviver as raízes e, fazer luz sobre o nevoeiro que envolve as práticas "mágicas"  - de uma forma de fazer "medicina" . A magia escondia muitas vezes um conhecimento de ervas , mezinhas , rezas contra: mau olhado, cobranto, cobrão e,... passavam de geração em geração e que substituíam cuidados médicos, inexistentes nos locais recônditos do nosso interior rural. Nas beiras davam-lhe o nome - benzilhoa. Lamentável em pleno século XXI  ainda se sofrer na pele além da recessão económica, desemprego, falsos amigos também a ignorância cultural e falta de largueza de horizontes de um sarrafo de gente que não se reciclou, parou no tempo - esperando pacificamente o seu destino - a morte. De louvar a sua nobre intenção - fazer-se ouvir na mensagem e na partilha das estórias de vida  - sem rodeios nem fantasmas - a causa para o despedimento do serviço voluntário sustentou-se na argumentação - sem argumento - deveria fazer voluntariado acompanhada. Sem comentários. Perante o que ouvi e sem querer tirar partido - entristeci em o saber, impensável, admitir que nesta terra de caras para o Tejo, acorda todos os dias a sentir a capital, hajam pessoas com dificuldade em assumir a  globalização, refugiando-se em telenovelas e religiosidade, não admitem mais conhecimento...seria bom se fosse só aqui, puro engano - em todo o lado - Portugal apesar de quase 40 anos de liberdade continua muito iletrado, adverso a ser activo e  moderno!
O saber não ocupa lugar - muito menos abertura para qualquer tema de conversa por mais mediático que seja, falta a estas pessoas teimosia para se manter de mente sã e corpo saudável, apesar da idade do BI. A aposta nos dias que correm incentiva  envelhecer com qualidade de vida, mantendo a mente activa inclusive na aprendizagem das novas tecnologias, e exercício físico dentro e fora de água. Entrosámos abordagem sobre ioga, viagens, memórias, e  loiça...contou-me que tem um prato de loiça de Sacavém com a torre de Belém em azul que era da sogra apesar desta se ter divorciado do filho há 30 anos. Um ano destes o recebe em casa cheio de filhoses que o sobrinho desta foi incumbido da sua entrega. Ao agradecer a gentileza da oferta perguntou se podia ficar com o prato a que a sogra respondeu  - sim - só tinha de lhe arranjar um substituto para ela apresentar na mesa o cozido...ao companheiro dei uma aula sobre a VA na sua produção de vidro por falta de caulino em 1824, enquanto ela atendia o telemóvel, homem de cabelos grisalhos, também me fez lembrar alguém - o Dr Pedro Ribeiro irmão do meu cunhado, os mesmos belos e serenos olhos azuis - adorei o estatuto de professora, por minutos!
O Santiago viu-me a olhar para a sua banca - anéis de pedras - disse-me "escolhe um que te dou"- escolhi dois e pedi preço - paguei 2 €  - as imperiais que tinha acabado de comprar...num sorriso maroto disse "escolheste bem, esse que puseste no dedo de madrepérola, fica-te a matar".
Não queria levantar a banca antes de faturar pelo menos 30€ - para o combustível e almoço - em voz alta fazia-se anunciar " comprem na minha banca, só me faltam 10€..."nisto apareceu um rapaz, amante de moedas, acabou por comprar, procurava uma rara de 1934 ou seria 35?
Hora de arrumar caixotes - a pior parte. O Paulo tinha o Nissan entupido de velharias; malas de cartão, balde dos bombeiros, tanque em cimento em miniatura de criança para lavar a roupa, artefato de ânfora romana, lataria, livros e,...sem espaço para um banquito azul a precisar de reparação, ia deitá-lo no lixo, pedi-lho para a minha casa rural. Será sempre o banco do Paulo - assim identifico as coisas que me dão - pelo nome das pessoas que me os ofertaram. Derradeira despedida, cumprimenta-me um bombeiro de estatura pequena e com síndrome de Down, simpático, ligeiro de passos, andava a recolher as bancadas emprestadas a alguns feirantes - trabalhador me pareceu, eficiente, e educado nem se fala!
Na viagem de regresso a casa "delirava com os meus botões"...a cumplicidade da Cíntia e de uma amiga elegante que entretanto passou por nós, e do gosto das três em reciclar objetos deixados no lixo...igual ao Paulo , disse-me a sua mulher Clara que em Setúbal encontrou uma resma de livros antigos encadernados a cabedal junto do caixote do papelão, não hesitou em os levar consigo, os vendeu a bom preço...
A feira no pior - uma mulher que se abeira da minha banca vestida a rendas chinesas e cinto em plástico que lhe dobrava nas banhas a dizer para o filho " olha um saleiro" - o isto - uma peça de porcelana VA usada para inalações em termas. Triste é constatar uma tristeza cultural nas feiras - mulheres e mães iletradas - outra dizia para o marido "olha pedras parideiras" - as pedras -  fósseis do Cristo Rei.. Expliquei. Do marido só ouvia " vês a senhora sabe",quando falo sobre as pedras parideiras (numa excursão ao norte as conheceram), voltou a comentar " a senhora sabe",  ainda voltaria a repetir mais outra vez, quando se falou sobre o oiro alentejano nas imediações da gruta do Escoural...
cachos floridos anilados das jacarandá
Relaxei no caminho a pensar nos cachos floridos anilados das jacarandá, na véspera em Setúbal - por aqui só vi árvores da mesma espécie de flores em amarelo ocre...o Paulo de Setúbal apanhou algumas e enfeitou a banca - Nunca conheci um homem tão vaidoso com a apresentação dos seus objetos que troca por outros se não os vende - em Setúbal vi um almofariz de "brecha" da Arrábida andava com ele há um mês, passou em menos de uma hora por três mãos contando com a dele...o mesmo com uma caixa de pesos em latão.Delira em faturar, aguçar o apetite do comprador pela variedade também na fidelização para visitas futuras ao seu estaminé montado em escalada de altares. Criativo com "bichos carpinteiros" não pára quieto - afinal ele é um artista na arte do desenho!

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