quinta-feira, 19 de julho de 2012

Torre de Moncorvo e sítios arqueológicos em 2012

Torre de Moncorvo, terra quente no vale do Nilo português com o Sabor a beijar o Douro!

A minha selfie tirada no Expresso a caminho de Torre de Moncorvo. 
A pensar no calor da terra quente vesti-me fresca de vestido. 
Viagem morosa, nela quis que o dia se fizesse sentir nas 4 estações - no Marão choveu!
De Lisboa parti na frente do autocarro na companhia de uma mulher da minha geração, solteira,  Virgínia - Gina, para os amigos de Vinhais...não nos cansámos de conversa...confidenciou-me que no seu tempo de escola a pobreza era tal que para comprar uma folha de 24 linhas para fazer a prova a pagava com um ovo!
O desenlace deu-se em Vila Real, com a certeza de nos voltarmos a encontrar. 
Mudei de autocarro e de companhia, agora outra senhora também da mesma geração vinha de férias da Alemanha. Mulher sofrida...
Estradas novas por todo o norte, vi o túnel do Marão. Incrível, obra gigantesca a romper e desafiar o horizonte e as serras . De repente estou em Mirandela a cidade cresceu, a  meu ver candidata-se a ser a 5ª cidade do País . Não vislumbrei o Palácio dos Távora - longe vão os anos que vi a correnteza das janelas imponentes e tanto me fascinaram pela exuberância garbosa no imitar de babetes.

                                             
A minha chegada  a Torre de Moncorvo
O meu bom amigo fez espera por mim na estação da camionagem onde trocámos sentido abraço fraterno. Amizade cimentada na mesma paixão pelos cacos, e pelas fotografias. Caia o entardecer, seguimos o caminho para sua casa, a Ilda veio ao nosso encontro. Mulher alta, bonita de traços fisionómicos de beleza incomum, doce e meiga - atrevo a dizer que nesta vida de mais de meio século nunca tive visão de mulher tão distinta, e compreensiva - mulher que merece respeito, e muita gratidão - recebeu-me como se fosse sua irmã - fatalmente o que senti!

Sorte do meu bom amigo Arnaldo que a merece, igualmente lindo, da sua boca saí um sorriso aberto que irradia beleza dental de fazer inveja a muitos. Soberba, a foto com 13 anos na entrada da casa ao lado de outras da sua Ilda, e dos belos filhos, ainda um candeeiro a petróleo,  espólio que herdou da sua querida mãe que tantas vezes o ouviria assim pronunciar. Igualmente bela , a saudade refletida os vasos de fetos que dela foram um dia , e por aqui na sua casa preservados com tanto carinho, delicados no contraste com balanças antigas, onde os pesos noutros tempos a sua eram calhaus de pedra!

Devo esta visita de engrandecimento e conhecimento cultural com visitas gratuitas, graças à generosidade, hospitalidade, influências e disponibilidade do meu bom amigo Prof. Arnaldo Silva, esposa Ilda e filhos, Bernardo e Inês...a quem chamei Joaninha...outro nome carinhoso pronunciado pelo pai à sua princesa...dei-me conta quando ouvi o Bernardo a perguntar-lhe " a Joaninha é a nossa Inês?

Precisei vir a sua casa para descobrir esta faiança que me ajudou a catalogar outra que adquiri ultimamente .

Faiança de Lagoa, Açores

 
Fachada de casa em Torre de Moncorvo





Nos azulejos  os meus olhos viram amêndoas em forma de pétalas. 
Na barra cachos de uvas a fazer jus ao bom vinho da região vinhateira do alto Douro. 
Nas flores senti o bom queijo Terrincho de ovelha curado. 
Na interligação senti o paladar macio e saboroso de lascas de presunto, nesta terra saboreado assim, o meu primeiro; talvez por ser espanhol...
Raios me partam, sempre ouvi dizer " de Espanha nem bom vento nem bom casamento"...na nítida provocação de rivalizar com o nosso, igualmente bom - de Montalegre e Alentejo. 
Nas folhas distingui a pureza destas Gentes no saber receber, exaltar o ego ao forasteiro -, sobretudo em obsequiar com tudo do melhor que tem!

No domingo de manhã fui ao café onde encontrámos o Prof Maurício Ferreira...Homem de olhar redondo, luminoso quando me foi apresentado me catapultou para descendência real-, sabendo que D. Dinis casou em Trancoso...haveria de me confidenciar na mesa do café da terra não ter especial interesse no assunto salientando que outros na sua família na pesquisa da árvore genealógica aventam descendência de linhagem por parte de D. João II, com uma senhora chamada Pelicana ,cuja casa dessa amante do monarca ainda existe em Torre de Moncorvo...haveria de ficar com aquele olhar tão subtil na mente, mais tarde fez-me lembrar tal brilho ...igualzinho ao da D. Manuela, uma senhora de Tomar cujos genes os transmitiu aos filhos, viveu em Ansião mais de 30 anos, quem sabe afinal reminiscências dos Templários!

Dei conta que a vila portuguesa do nordeste transmontano é apenas chamada pela maioria por Moncorvo, pertence ao distrito de Bragança, e tem uma população com cerca de 3 000 habitantes.

Perguntei a origem do nome Torre de Moncorvo?
Debalde não obtive resposta sustentável . 
No meu modesto julgar alvitro a existência de uma torre de vigia altaneira no sítio do Castelo, sendo que em tempos de antanho Moncorvo, foi um castro na outra margem do rio Sabor onde ainda se vêem vestígios da muralha de xisto . Possivelmente por causa das cheias se mudou para o alto onde estava a torre, adaptando os dois nomes que lhe assentam como uma luva!
A vila à noite apresenta-se iluminada em todo o seu redor com luzes cintilantes que se expandem no desenlace das serranias. Imagem brutal de luz e contraluz em meias luas de cantos, cantinhos (aldeias e vilas) de todos os tamanhos. Cenário idílico  que o brilho irradia  no horizonte, e o pôr do sol só vi igual em Serpa, na foz no Porto, e no alto da Ameixieira em Ansião...cores fortes laranja e vermelho - em brasa, escaldantes!
O município é limitado a norte pelos municípios de : Vila Flor; Alfândega da Fé; e Mogadouro, a sueste por Freixo de Espada à Cinta, a sudoeste por Vila Nova de Foz Côa e a oeste por Carrazeda de Ansiães.
O concelho recebeu foral de D. Sancho II em 1225.
Aqui há casas solarengas a meu gosto - Solar dos Pimentéis - não sei se da linhagem daqueles que viveram em Maças de D. Maria no concelho de Alvaiázere, conheci em miúda, e me ficou na memória pelos babetes em pedra - aqui nesta região tão evidentes.

Freguesias no concelho de Torre de Moncorvo: Açoreira, Adeganha, Cabeça Boa, Cardanha, Carviçais, Castedo, Felgar, Felgueiras, Horta da Vilariça, Larinho, Lousa, Maçores, Mós, Peredo dos Castelhanos, Souto da Velha, Torre de Moncorvo, Urros.

Só mesmo os ciganos aqui proliferam integrados na sociedade na antiga cadeia onde vivem em comunidade. Como em toda a arraia, e nas grandes metrópoles.

Espaço Museológico do Prof. Arnaldo Silva 
Amei ouvir ..."onde foi o pai?...foi ao Castelo..." o carinho que os meus bons amigos demonstram sentir pelo seu Espaço Museológico, sito no Castelo. 
O Espaço Museológico com três trepadeiras de jasmim a ladear a frontaria .
A arquitetura interior  foi obra de revitalização da primeira casa do fotografo de Torre de Moncorvo, estreita de fachada e comprida de fundo. Bem conseguido o painel de vidro para entrada de luz  no soalho do sobrado , de ficar de boca aberta.
Projeto particular materializado  Núcleo Museológico da Fotografia do Douro Superior. 
Guardador de mais  de 100.000 registos fotográficos  para o estudo da história contemporânea da região. Os registos mais antigos remontam aos primórdios da fotografia, e alguns deles estão datados de 1884. A iniciativa tem sido levada a cabo sem quaisquer subsídios ou apoios institucionais. 
O interior do espaço museológico apresenta um conjunto de painéis alusivos aos movimentos populacionais, população agrícola, à cultura da amendoeira, ao gado ovino, produção de vinho, caminhos de ferro e à atividade da Ferrominas.
A joia da coroa deste espaço museológico é o seu arquivo fotográfico, onde se guarda mais de 100 anos de imagens da história local de finais do século. XIX e todo o século XX.

Lamentavelmente a minha máquina fotográfica avariou... fiquei sem registos, e havia tantos para todos os gostos, desde a fotografia que me encanta associado a outros artefatos encontrados na remodelação da casa; cacos de faiança dos bons, vidros, cerâmica, pedra esculpida  e,...
Difícil escolher a peça emblemática, aquela que no conjunto sobressai, nos eleva a sonhar!
A minha escolha recaí na casa onde habita o espaço, pela abundância de fotos da família dispostas em harmonia, de tamanhos vários, graciosa à vista, a fazer de quadros, nunca antes visto,  um autêntico tesouro!

Quanto ao espólio perdoem-me 
Não consigo ultrapassar o fascínio de ter visto tantos... fálicos de origem  romana. Perdoem-me a loucura da frontalidade. A, foi a minha segunda vez que tive um fálico na minha mão. Com o primeiro ainda mais belo por ser completo, em calcário encontrado no Rabaçal, perto de Conímbriga, onde passava a via romana a caminho de Tomar.
Há  2.000 anos já os usavam...e, questiono-me...encontrei um escrito As Máscaras de Deus onde retirei um enxerto...Primeiro  "o Deus bíblico é assexuado; ora descrito como marido e pai e outras figuras masculinas(com mais frequência);ora descrito como figuras femininas (como uma ave que abriga seus filhotes ou como uma grande Mâe).
Segundo  Nunca é dito na Bíblia que Deus tenha empregado instrumentos fálicos e penetrado sexualmente Maria. Deus, sobre naturalmente, a fecundou.
Terceiro as similaridades nos relatos podem servir como comprovação de que o substrato da história registada nos escritos sagrados é sólido. Contudo, não tem poder evidencial para estabelecer qual versão se aproxima mais da verdade"

Julgo sem modéstia que o Pelouro da Cultura de Torre de Moncorvo, deveria olhar para a cultura aqui exposta, dar uma mão e fazer acontecer cultura viva , patrocinando, e relançando este Espaço além fronteiras. Investindo no projeto com e publicidade, e a sua abertura ao público, cujo sucesso não há dúvidas de virar fenómeno. A juntar as barragens, e a criação de um Museu com o espólio encontrado possivelmente em Felgar, a Terra quente,  vai virar destino turístico. Os australianos estão a apostar forte no Douro . Afinal o Sabor , na foz beija aqui o Douro. Vai aparecer gente com muito dinheiro que aprecia cultura, gastronomia, e adora paisagens surreais por aqui em contrastes...é, a grande aposta neste futuro imediato para o desenvolvimento do nordeste transmontano!

Trocámos presentes...
Levei perfumes e chocolates para o Bernardo, e para a Inês quis a vendedora no Fórum ao ser por mim interpelada como distinguir os cartuchos, me diz em modo acelerado " não há como enganar, a cor do laço..." só sei que a Inês recebeu o telemóvel, e o Bernardo a caixa de batons...dando origem a forte risada...valeu este ter a ideia de a guardar para saborear com a namorada Mariane... 
Para o meu amigo Arnaldo copos em cálice da VA fabrico com mais de 150 anos, e pratos: Cantão Popular Cavaco de Gaia, outro verdadeiro em porcelana do século XVIII , China, e de faiança de Coimbra, um pratinho com corações , ainda lhe ofertei o catalogo de Faiança Ratinha elaborado por Ivete Ferreira sobre o espólio do Museu Gargaleiro em Castelo Branco de onde o pedi via correio ...
Para a Ilda um conjunto de bordados de bilros de Peniche , e da Madeira .

Noite amena em Torre de Moncorvo
 
Chafariz Filipino
                         
"Cromo doutor Pimentel"
Junto à muralha do Castelo , ao lado da Porta da Traição ... por aqui há gente que lhe chama outro nome...obsceno...todos os dias pela noitinha o haveria de ver na esplanada a pedinchar fosse cerveja, cigarros ou mesmo uma moeda...
                               
Igreja matriz para mim uma catedral
Há anos que aqui entrei. Gostei imenso de aqui voltar entrar,  ouvir outra vez a estória do tríptico com a vida de Santa Ana de 1500, feito em Antuérpia...roubado por gente do património num inventário... foi recuperado à posterior - ladrões deportados... aqui veio um descendente de um repatriado e, contou a sua estória...tem de aqui vir - ouvir da São - mulher gira e com saber - se explica muito bem.

Edifício do séc. XVIII, com fachada barroca, pertenceu à família de Oliveira Pimentel. 
Aqui nasceu o General Claudino e o Visconde de Vila Maior.

                                                             
Hortas comunitárias sustentáveis  
O leirão dos meus amigos
                 
A sua criação para as pessoas mais desfavorecidas...faltou gente para a distribuição dos talhões. Deste modo os meus bons amigos tiveram direito a um, de gaveto junto à Mãe d'água...não sei se ela vai chegar para regar os tomates, pepinos, feijão frade que aqui chamam de chícharo, e não devia ser ( são duas leguminosas distintas sendo que o chícharo é da forma do tremoço em seco, e de sabor igual ao grão de bico).
Gostaria que a entidade camarária fizesse do espaço um jardim . Matéria prima tem de sobeja - xisto. Adoraria ver muros baixos em xisto e os tanques de água igualmente assim revestidos, com  banquinhos para se sentarem e uma casinha onde todos guardassem as alfaias. Preservassem os muros tradicionais lindíssimos e plantio de árvores de fruta na vez das que aqui foram plantadas típicas de jardins...ouvi dizer que são restos do projeto inicialmente previsto por um arquiteto de renome - que além de caríssimo sem serventia! 
Quanto à casa, linda colunata em pedra,  deveria ser reconvertida em salão de chá com venda de produtos endógenos biológicos das hortas de fazer inveja , muito bonitas , tanta gente jovem que delas trata com carinho, e que dizer das flores .
Destaco amigos fervorosos do Bernardo, que se tratam como irmãos. Denotam ter muita paciência nos seus leirões, a terra barrenta aperta os vegetais. Mesmo assim, mais o Pedro, trintão de cabelos, e barba da cor do trigo, olhar claro denota saber ( então não disse logo que a urina por ter azoto é um excelente fertilizante misturado com cinza....e, o Vitor, rapaz mais intelectual vestido de magreza com óculos de massa pretos os dois em roda viva de volta das plantas que me pareceram reles...pobrezitas...( alvitrei ao Vitor no futuro deveria semear os feijões em linha , para não germinaram do mesmo buraco 3 ou 4 , naquilo ele responde-me...são para transplantar...respondi - o feijão não se transplanta, é semeado no local ...diz-me de voz solta...na escola fazíamos assim em copos e,...Grande o encantamento com a sua horta, os vi abaixar, regar, e o carinho a mirá-las, ainda a tirar do embrião do feijão a terra seca para ele sair da dobra e se levantar para o sol... montaram uma estrutura aérea para suspender rede, e assim a proteger do calor tórrido, mas ainda não a tinha, e fazia falta. Naquele fim de tarde com o sol a bater na colunata de pedra da casa da quinta , estava o Ricardo, alto de belos cabelos escuros pelas costas, vocalista da Banda Duffa que se fazia ao palco, em pose de modelo com tiques a modelar o penteado...não o vi tratar da horta, prefaciando as palavras do Bernardo... Muito bons músicos, pena residirem no interior !

                      
                               
                     
Antiga casa da Roda dos Expostos aqui funciona hoje o turismo
Casa típica da arquitetura rural transmontana com varanda exterior de alpendre e pequena janela com a data de 1785.

Termos de Moncorvo
C'om caneco
Ao fechar da noite 
Rilhar maçã

Sarau de musica em  Mirandela 
Sarau de encerramento do ano letivo dos alunos da Escola de Música. 
A filha dos meus bons amigos - Inês, toca Viola d'Arco - usa franja - ao centro de blusa branca onde a abertura glamorosa no tardoz rivaliza com a frente não menos bela...um peito perfeito talhado por Deus com a ajuda genética dos genes da sua querida mãe! 
Menina mulher - olhar doce, voz meiga, fatalmente no meu passado me marcou por não o ter e nela se mostrar deslumbrante - peito de pasmar rara beleza faz inveja ao silicone! 
Daqui a tempos acredito será conhecida mundialmente tal como outros . Porque bons músicos o são, tal o empenho, dedicação a estudar, e ensaiar. Uma mestrina deu mote aos pequeninos os primeiros a atuar, haveria de ver outros maestros de alto gabarito.
No público senti denotarem o saber de apreciar cultura; de saber obsequiar , tantas flores vi serem ofertadas, e ainda o saber comer - tal a magreza - só vi dois adultos obesos, julgo problema hormonal-
Mas que bem se come nestas terras, silhuetas de fazer inveja, digno de ser visto...perco-me a pensar - terá haver com o lanche ajantarado, e antes de deitar torradinhas com leite...sem falar nos produtos ecológicos produzidos ainda sob a forma artesanal.

No final houve a entrega aos finalistas de prendas alusivas à região - uma oliveira para plantio, quem sabe algumas vão crescer . Por certo vai haver gente de brio e as replantem, e daqui a anos o digam com orgulho aos seus descendentes..."esta foi ganha por mim tinha eu 18 anos, e tratei com carinho..." também uma lata de azeite, e uma rosa branca de alto caule com espinhos - ainda assim bela, simbolizando a pureza, e a luta árdua pela vida simbolizada pelos picos... o Sr. Presidente da Câmara, homem com o dom e destreza da palavra, de pasmar a eloquência apesar de fadiga,  acabado de chegar de Lisboa, tal como eu , afinal podia-me ter dado boleia...bonita a amabilidade, e carinho pelos alunos no palco demonstrada.
Fiquei estupefacta com o acolhimento, auditório cheio, superlotado com gente de pé. Amei o Sarau. No final do concerto, nas despedidas, a conversar com a prima da Ilda senhora de belos olhos azuis, e da filha, recém médica, linda, Ana (?) mui graciosa passa por nós um miúdo com o instrumento descomunal às costas - um contrabaixo - pena não registar tal cenário, o miúdo não se via tal a grandeza do instrumento, apenas vi a ponta dos sapatos - parecia um pinguim - brutal, o seu empenho, como dizia o poeta - engenho e arte!
Amei presenciar a juventude em alegre cavaqueira nas suas despedidas de verão, alguns com os instrumentos às costas, de flores nas mãos, lágrimas no canto do olho, apresentaram-se vestidos a rigor para a cerimónia, gente bela de olhos claros, ora verdes ora azuis, raiados, e castanhos iguais aos meus, nestas terras de Trás os Montes, que também foi palco de uma comunidade judia ( por isso as alheiras - não comem carne de porco) entre outros.

Quinta da Portela
                        
Adorei o nicho de granito escavado, dentro dele um crucifixo. A caminho da Adeganha, o Arnaldo parou, registei esta foto e ainda do outro lado apreciei uma pequena capela, de um dos lados uma fresta da época visigótica.
A paisagem é deslumbrante, de tirar a respiração, se o visitante conseguir olhar para os penedos graníticos consegue ver arte talhada por Deus em formas arredondadas, e pelo homem  riscada - a arte rupestre. Tais os brutais achados a cada dia. Nesta zona situa-se a quinta do Tó Zé Martinho, ator conceituado de teatro, cinema e televisão . De facto a mãe dele é muito bonita - ele herdou-lhe a genética. Recordo-os na Cornélia.
Ainda a Sónia Araújo nasceu no concelho e,...

Memoriável visita 
Possível graças à generosidade, hospitalidade, influências e disponibilidade do meu bom amigo Prof. Arnaldo Silva, esposa Ilda e filhos, Bernardo e Inês...a quem chamei Joaninha...outro nome carinhoso pronunciado pelo pai à sua princesa...dei-me conta quando ouvi o Bernardo a perguntar-lhe " a Joaninha é a nossa Inês?
A vontade férrea solta em frenesim dealbar em magnitude escaldante e frenética neste querer maior em narrar a odisseia desta viagem programada e nela as vivências, conhecimento, e olhares pelas escavações arqueológicas . 
Uma oportunidade única. Elevado privilégio nesta minha vida. Ver o que quase ninguém sabe estar a acontecer em Trás os Montes, com a feitoria de duas barragens no Baixo Sabor, cuja dimensão e modernidade antes nunca praticada em análogas construções no passado. 
Durante o Estado Novo, Salazar, mandou edificar bairros de casas e afins para se instalarem neles todo o pessoal técnico: Cabril; Bouça; Castelo de Bode, e outras. Nesta terra transmontana vemos em plena atividade a maior britadeira da Europa  de onde extraem o xisto que é de boa qualidade, o transformam em brita e com ela erguem paredões 24 sobre 24 horas. Do mesmo modo a empresa das turbinas deslocalizou a fábrica e operários para o estaleiro, fazem ainda aqui os túneis de forma inovadora para o peixe migrar rio acima. O que no passado não aconteceu com outras construções, em Coimbra a lampreia tem muita dificuldade de passar o açude no choupal . 
Por aqui nesta obra monumental há muita novidade em termos de construção e aplicação de novas metodologias muito avançadas. A média de operários ronda mais de 1600 , com  200 técnicos ligados à arqueologia, antropologia, conservação e restauro. 
A população alugou muitas casas desocupadas, outros compraram pelas redondezas, um investimento de futuro, porque toda a região tem especial encanto em todo o ano e não só no tempo das amendoeiras em flor. O estaleiro contempla outras infra estruturas de logística; cantina; posto médico; padeiro e,...salvo conduto para entrar - nem parece Portugal!

O primeiro dia de visita ao Laranjal sob sol escaldante, a aba do chapéu de palha revirou!
Emocionei-me, e de que maneira!

                                         


Em baixo, foto panorâmica de escavações em atividade sob terraços fluviais.
vê-se na foto uma fossa em terreno carbonatado apenas a 1 metro e meio da superfície...julgo daqui a mais uns mil anos se transformará em pedra...
                              

Grandiosa a empresa concessionária a EDP na aposta da preservação do património cultural relativo à ocupação humana desde um período ainda não certificado por fraco número de provas e de carvões por datar - calculado entre 100 a 200 mil anos até aos dias de hoje . A EDP contratou muitos técnicos para intervir julgo em 5 locais diferenciados. Um grande manancial de estudos com medições, fotografias e,...para quiçá daqui a 100 anos outros técnicos se deleitarem e com novas metodologias voltarem desta vez a mergulhar e voltar a redescobrir...porque a intervenção vai ficar devidamente "arrumada em submersão", por outro lado acredito a barragem não vai ser eterna!
Numa conversa com os especialistas levantei a questão se costumam escavar nas suas terras...resposta escorreita " Santos de casa não fazem milagres"  por aqui vim encontrar um conterrâneo Ricardo de Freixo, Torre Vale Todos. Que me deixou a pensar, tem o privilégio de viver numa terra com registo que remonta ao inicio da nacionalidade da herdade do Alvorge, afeta ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Aqui proliferaram torres pequenas no tempo da reconquista cristã e castros mais antigos com achados arqueológicos. Fiquei com a nítida sensação de tão rico património desconhecer, pior, sequer demonstrar curiosidade...estaria tímido, um amante destes artefactos do passado deve ser VIVO...estarei a exagerar,  é a minha paixão...nem todos são arqueólogos, nem apaixonados como eu ...há gente a manobrar máquinas, outros escavam, acarretam baldes de entulho para peneirar, agachados varrem para encontrar espólio, fazem medições e,...todos fazem trabalhos de pesquisa sob sol escaldante no meio de nenhures, com o Sabor sempre por perto!

Uma necrópole
                     
Lagar da Quinta das Laranjeiras em ruína- por detrás da porta aberta estão os tanques em pedra

Já os antropólogos visitam as populações envolvidas, fazem inquéritos com recolha de tradições, saberes, rituais, para melhor se perceber e saber fazer a interpretação do modo de vida das gentes e de locais que no passado foram à superfície referenciados - agora por causa das barragens explorados em profundidade .
A forte imigração nos finais do século XIX , igual na década de 50, do XX para o Brasil, tal como noutros zonas do País. Alguns deles regressaram com fortuna construíram casas apalaçadas e de lavoura com apontamentos artísticos interessantes à época - chalés que ainda persistem algumas. Apreciei um cor de rosa com beirado de madeira a branco em Felgar, que no imediato me catapultou para a casa da Barbie... 
A Quinta das Laranjeiras também comprada por um desses imigrantes que a viria a perder ao jogo - tal o vício descomunal ...hoje em ruína a casa, o lagar de azeite e de vinho, ainda um mais pequeno o alambique de aguardentes de vinho e figo.

Também se fala da Santinha de Vilar Chão
Senhora a rondar os 90 anos que vive em Bragança. Na minha perceção foi um negócio lucroso engendrado ( sendo ao tempo o povo beato e iletrado deu azo a ser enganado) no negócio que viria a ser gorado perpetuado por dois irmãos, um padre, outro médico e ainda um fotógrafo. Na mulher viram a santidade da oração, e da piedade...tanto ouro os peregrinos aqui deixaram na mira de receber milagres... já da Santinha, se diz só ter recebido umas arcadas e um fio...  
Nestas terras era uso a sazonalidade rural tendo em conta o inverno rigoroso.

As gentes de Felgar 
Tinham azenhas ao longo do rio Sabor. Por aqui lhes chamam moinhos de água, onde se moía a farinha com a força motriz da água do rio. A travessia fazia-se em barcas, que  levavam carroças pela altura da apanha da amêndoa , da azeitona, trigo, centeio, aveia e linho. Sendo que a festa rija se fazia no Santuário de Santo Antão da Barca, onde acorriam muitos romeiros de todas as redondezas. Atualmente encontra-se em trasladação para monte altaneiro. Em registo acelerado andam as terraplanagens em curso com vista deslumbrante. Os peregrinos irão desfrutar do outeiro rodeado de um lençol de água e praia fluvial insuflável aos pés do adro  "O Santo deve dar pulos de contente" ao sair da beira do rio Sabor que atravessei de jipe, quem diria num troço de calhaus rolados e cota de água mínima, mais  parecia um regato e vai voltar a ficar nele, mas desta feita em grandioso cenário!

Vista do Monte onde se vai reinstalar o Santuário Santo Antão da Barca e do pó da terraplanagem


Cilhades 
Aldeia desertificada, totalmente abandonada, que linda foi toda em xisto, saltam aos olhos as ombreiras das portas engalanadas com pedras grandes a entrar pelas paredes mais claras no contraste do reluzente xisto mais escuro ,dão mote da grandeza das gentes que nelas habitaram. Gostei francamente da oliveira no adro com um muro de pedra solta em redondo alto, no momento transportou-me para o Santuário de Fátima igual foi no passado de roda da azinheira onde dizem apareceu a Virgem Maria...
Linda aldeia na margem do Sabor.
Aqui a família do Seixas - tanto ouvi falar dele - teve haveres...riqueza mayor saber viveram sem o saber paredes meias com um cemitério de mouros a olhar para o Castelinho, pelo meio o Laranjal outra necrópole, onde foram encontrados dois esqueletos na mesma sepultura, noutra uma linda taça asada de cerâmica campaniforme de bojo alto canelado e base redonda. O fascínio que me provocou este achado - em tempos no blog da Maria Andrade postou um parecido mais recente 1600 fabrico de Aveiro Cojo(?) na minha intuição achei pela raridade estar associado a rituais, e não é que está! 

Também a capelinha de orago a S. Lourenço vai ter honras na mudança do terreiro em Cilhades, com reboco pintada de branco, a única na aldeia, tal e qual como na aldeia de Piodão por terras de Arganil .


Oliveira no adro enfeitada com muro de pedra solta

Neste lugar reza a tragédia ocorrida em 1917..
Levantados os pilares da ponte, ainda persistem nus e assim irão ficar para sempre...ou serão retirados tal como as árvores. Decorriam os trabalhos da última fase de acabamento para nela suspenderem o lastro em ferro e de repente o rio subiu, talvez uma enxurrada, e a barca com os operários vira-se, pereceram no rio afogados 17 pessoas ...
A ponte nunca mais foi acabada - julga - se que por nessa altura o valor do ferro ter encarecido devido à 1ª guerra mundial, também do viver da tragédia dos filhos da terra. Só nos anos 80 do séc. XX,  junto a uma azenha abandonada foi aproveitado o caneiro, e nela feito um passadiço com manilhas de cimento. Junto ao rio o verde em alguns locais transporta-nos para o romantismo de Sintra ao entardecer!

Tive a oportunidade de ver reservas de Museus na cidade da EDP
Jamais julguei entrar nelas e foram duas com tesouros distintos;  no do Ferro vi um filme recuperado pelo meu bom amigo Arnaldo ,sobre o trabalho mineiro . No meu julgar as minas esventravam a terra em infindáveis túneis,  afinal laboravam à superfície...

Intrigada ando há muito com a toponímia
Coligi nesta zona do nordeste topónimos de localidades iguais a outras da minha zona no centro do País ;Almofala; Avelar; Rabaçal; Mogadouro; Penela da Beira - Penela; Carrazeda de Ansiães ; Ansiães - Ansião...será que ainda há mais?
O Dr. Valdemar disse-me que o Dr.  Paulo Dórdio, tem uma explicação para esta coincidência . Durante a reconquista cristã os cavaleiros vilãos ao virem de norte para sul foram repovoando as terras, dando-lhes nomes de outras já reconquistadas no norte ... agora pergunto - Rabaçal vem de Rabaça, não é topónimo romano? 

Vila Flor
Ao passar no Cachão relembrei os tempos áureos da indústria dos produtos do nordeste transmontano, hortícolas, frutícolas, e de transformação de carnes que DEVERIA RENASCER . Jamais me esqueço do nome, no tempo áureo ao ler a noticia no jornal com a minha pressa apressada - li caixão - por tal não me suar tive de voltar atrás e reler...

Rico Vale da Vilariça

O Rio Sabor chamado o Nilo Português fértil  vai desaguar no Douro!
Almoço domingueiro na Foz do Sabor a convite dos meus bons amigos

Diz o Bernardo : Miguinhas de peixe, toda a gente adora , no Rio Saborem casa da D. Aurora!
Muita fartura, as migas no dizer do Bernardo " tem de se aprender a gostar" exalam sabor a erva pesqueira que me pareceu da família do poejo...a D. Aurora não acatou a reserva, valeu-se do que tinha de sobras...julgo. lhe faltou o peixe estufado. Os barbos fritinhos até as espinhas se comeram. Na espera de mesa chega-se um "bruto mercedes, e dentro dele gente rica de Lisboa (?)..." perguntava se sabíamos onde era a tasca de peixe cujo dono falava alto, de modos, destravado... seria a casa João e Lucinda ou a tasca do Recta ou,...o importante o modo como interagiu connosco..."estive lá há tempos, pedi um bitoque, o bom homem disse-me em tom alto, forte e feio - aqui na minha casa só se come peixe e do bom"... 

As andorinhas adoram este beirado...
Na boca do meu bom amigo Arnaldo o maior beirado de ninhos de andorinhas.
Adivinhem qual a freguesia? Cardenha!
                         
Cardenha
Relógio da Fábrica Coisinha de Almada - na lateral o antigo relógio de sol

                           
Moldura do nordeste transmontano tirado por detrás do vidro do jipe...
 
Estrada romana a caminho de Adeganha íngreme pelo meio de giestas
                   
Calçada , julgo que esta será medieval ? 
               
Por aqui há castros nos cabeços graníticos - tanto castro , tantos vestígios de ocupação humana desde os primórdios da idade da pedra, do cobre, ferro, romana e medieval. 
No meu rápido dizer - O Mayor só falta encontrar um azulejo romano para a monumentalidade ser plena nestas terras do Baixo Sabor...não o consigo pronunciar, apesar de fácil, tal sapiência destas gentes...falam dele com amor, pela riqueza que lhes dá em peixe:  bogas; escalos, barbos pequeninos para fritar em azeite e grandes para as migas de peixe, achega e,...
Um pescador de Relhas anda aqui nestas águas desde os 7 anos, e já conta mais de 70...rijo que nem um pêro!

Espero que a atividade na Ferrominas renasça para bem da população e da riqueza do País
Incrível numa terra com exploração de minas de ferro  onde não distingui esculturas, como as camaras de esquerda, que teimam ostentar demasia escultura deste material como Almada e,...

Se houver empenho em preservar memórias podem aproveitar esta chaminé da Quinta das Laranjeiras...depois de limpa e tratada ficaria soberba enquadrada num dos recantos da vila a fazer jus a uma das riquezas transmontanas - o ferro - daqui extraído e fundido não sei onde.
                    
Pormenor da corrente onde se prendia a panela ao lume. Quantos Museus gostavam de ostentar assim uma...Há muitos espaços, passeios e paredes na vila para recuperar e modernizar,  alguns em reabilitação a paralelepípedo de cimento às cores,  outrora em cinzento em Espanha... longe da calçada portuguesa genuína!

                                                 

Adeganha aldeia viva 

Sábado 14 de julho de 2012 , dizia-me o historiador António Júlio Andrade, que o nome de raiz latina quer dizer...a caminho das minas...Festa rija, há anos que não se fazia, só possível graças a gente vinda de fora aqui radicada temporariamente ( a trabalhar na preservação do património que vai ficar submerso com o enchimento das barragens) arqueólogos, antropólogos, gente do restauro e conservação e,...gente muito jovem, moderna amante das tradições, de lhes voltar a dar vida. Iniciativa de envolver a população , tal paixão os cativou, deu forças para fazer acontecer. Das arcas retiraram vestimenta de antanho domingueiro e o de trabalho, mostrando as artes e ofícios da terra, improvisaram tasquinhas e bancas de vendas. O Dr. Paulo Dórdio, arqueólogo, deu-lhe o mote no negócio, muito pelo sorriso livre de encanto, quiçá do dente encavalitado a fazer lembrar o meu ídolo Richard Gere...( ainda me contou que se tem encontrado muita faiança de Aveiro no Canadá,  do tempo dos bacalhoeiros alvitrei...a resposta não poderia estar mais certa. Quem faltou? o antropólogo Dr. Valdemar que por razões que aqui não interessam sei visitou a feira de velharias em Vila Real...que inveja...ainda me disse com um sorriso aberto e franco " fui muito feliz em Tomar"...pudera...as mulheres são igualmente belas!
Havia gente sentada na praça em bancos feitos de Mós, de boa grossura granítica, cortadas e dispostas em círculo sob a sombra deliciosa das amoreiras. Sim, por aqui floresceu a rota da SEDA, em Alfandega da Fé. Ainda há indústria dessa arte- Apreciei workshop de fazer sabão com azeite, e jogos tradicionais: saltar à corda; malha,  feita de pedra e pesada, passeatas de burro; jogar ao arco, danças medievais. A que me fascinou a testar limites SEGADAS. Prefaciando o dito popular “Pelo junho foice no punho, e pelo São João sega o teu pão”.

Venchelos - molhos do cereal atados com o próprio cereal

                                            
A caminho da Segada...
Forasteiros e homens para malhar, mulheres para varrer o cereal no eirado de granito - coisa brutal - uma eira feita pela natureza.


Homem castiço o dono do jumento Zé...
Haveria de o questionar por que razão não levaram para o eirado uma mó manual para os forasteiros saberem como no antigamente se fazia a moagem manual...resposta escorreita...ah não, o cereal ia para a azenha lá é que é moído...voltei a insistir, a explicar...debalde não entendeu...voltei uma terceira vez, e nada...ate que me ri para a Ilda... percebi que não valia a pena  insistir, não tem culpa de não saber como se fazia há 100 anos...
Na aldeia haviam vários exemplares à laia de abandono , que deviam ser guardadas, antes que mudem de sítio !
                                           
                    
Pedi para ele parar e registar a foto
   

Chegada do cereal ao eirado de granito feito por Deus...

O Arnaldo apresentou-me um homem que fora seu aluno, com quem aprendeu a ler e a escrever  de sorriso branco, e olhar radiante a quem distingui com um piropo soft...no final disse-me ser padre...Eduardo o seu nome - um espetáculo!

      
Este bom homem quis presentear todos calçado como antigamente usando socos.
O ritual da segada foi  feito a preceito com o cereal disposto no eirado para ser malhado com o malho ou a mengueira, pelos homens possantes: no passo, e batida certeira. O malho ao alto se desvia, bate no peito do colega da frente, e o mata de imediato. Há muito guardados no celeiro , vi pelo menos 4 malhos a se desintegrar...
As mulheres carregam vassouras de giesta, umas grandes, perdi o nome, e outras pequenas, ainda havia a pichorra - cantarinha de barro com água fresca para se refrescarem e moringues (barris de dois bico).
Amei apreciar estes homens, bonitos, simpáticos, muito possantes, mas que força  de arrepiar,  sorte das suas mulheres, porque homens destes julgo nunca vi...alguns com 70 anos pareciam ter 50...coisa para pensar. As mulheres são lindas, mas também tem a sorte de ter maridos com energia,  coisa rara...um deles deu-me 4 beijos de fiada, trazia um chapéu vermelho à cowboy...

O baile dos malhos
Mós manuais para triturar o grão e fazer farinha
O Grupo de Teatro de Torre de Moncorvo a fazer exibição 
Malhada batida e palha tirada. Varrido o eirado para o centro onde o monte de grãos é agora limpo com pás de madeira atirados ao ar.
Tem arte o limpar o cereal. A Esperança do teatro vestida a rigor de pá em punho o atirou ao ar com preceito . Tem técnica, para um lado cai o grão e para o outro os ciscos.
Fazia-se horas de chegar o tacho com as sopas da segada : Pão demolhado com bacalhau, e ovo cozido regadas com bom vinho saboreadas à sombra do sobreiro.
 
Quem foi o herói da festa ?
ANDRÉ.  Homem novíssimo, com 29 anos, franzino, usa barbicha, olhar doce, e voz semi rouca , afável, de andar castiço ganho julgo, a bailar danças medievais. 
Presente sempre em todo o lado, em todos os momentos. 
Grande solicitação ... só se ouvia chamar pelo André..
O vi acudir a todos com carinho, vestido de calça surrada com remendo cozido à mão como em tempos de antanho era uso tal vestimenta, e camisa tradicional sem botões de atilho na gola do pescoço, na presilha das calças pendurado o púcaro de alumínio para se refrescar. Imprescindível a um bom trabalhador,  porque fontes há muitas como já não é uso ver-se!
Conheci a sua linda mãe senhora magra de estatura baixa, e cabelos sedosos alvos, dei-lhe os Parabéns pelo filho, que apreciei ter muito talento. Não resisti perguntar o dia de aniversário ; 30 de maio , igual ao aniversário do Bernardo,  filho dos meus bons amigos, coincidência gira que registei com agrado...também o meu mês, mas no início.
Tirei esta foto no adro de uma ermida graciosa de caras para a casa da D. Aida - senhora, que amavelmente nos ofertou comida, e bebida a roudos...sem falar nos doces.. destaco a amêndoa torrada, e o licor de laranjeira. O marido igualmente simpático, parecia um estrangeiro tal a finura da pele, e o jeito de matar o cabelo com o chapéu à campeão.



Igreja de Santiago da Adeganha 
Remonta aos primórdios de 1248. 
Feita com silhares de granito onde há poucos anos foram descobertos belos frescos, parcialmente destruídos julgo em 1976 pela conservação dos monumentos nacionais... felizmente interrompida por alguém que conseguiu ver tal património escondido pelas camadas de cal .
Pormenor das conchas de vieira esculpidas na madeira da porta lateral, a lembrar a rota do caminho de Santiago de Compostela

O  historiador António Júlio Andrade,  tive a sorte de me ser apresentado, com quem aprendi e troquei impressões...haveria de me confidenciar que a 1ª mulher portuguesa que entrou no Canadá foragida de Mogadouro foi  vestida de homem no tempo da inquisição.
Haveria de haver outros a quem o meu bom amigo me apresentou: realizador Leonel de Brito com quem gracejei sobre o Manoel de Oliveira...que me disse" quando estagiei com ele já lhe chamavam velho...teria na altura 60 anos.."
Esqueci o nome das meninas...que chatice, só me lembro da Rita, havia outra com tese em olaria, de Sintra e,...perdoem-me a falta de memória...esqueci o caderninho de tomar notas, e não devia.
Amei conhecer o Presidente da Junta, o Sr. Guilhermino  e a sua bela esposa,  então não estou farta de dizer que as mulheres são todas lindas, vestida de belos olhos azuis, exala rara beleza nórdica. 

Porta lateral virada a norte


O sineiro pareceu-me que mugia as tetas de uma vaca...
Haveria eu na mesma figura ficar registada numa foto registada pelo Arnaldo


O fascínio da luz do vitral da pequena janela

Alminhas
Santa Barbara quase na empena da casa ao invés das que conheço mais abaixo ao nível do olhar


Menino Jesus engalanado de vestido...e, calcinha com rendas

Intrigou-me esta porta de madeira virada a norte ter esculpidas conchas de vieira. Antes de saber o orago da igreja, final o descobri desta forma. A Rainha Santa na sua peregrinação a Santiago de Compostela por aqui passou , já que saiu de Coimbra. Só foi reconhecida em Espanha pelos presentes que levava, caminhou como qualquer peregrino.
O meu bom amigo Arnaldo gosta de escrever o meu nome Izabel tal como o dela...eu adoro!



Sepulturas no exterior de um lado e de outro da igreja escavadas para encaixe da cabeça e dos pés - uma ainda conserva a tampa com uma linda cruz esculpida

Artes tradicionais - algumas em desuso Teares...
Ouvi dizer que o André comprou um com uma colega, ou seriam dois...
Colcha lavrada cerise da cor das cerejas


Meias de algodão feitas à mão
Tigelas de barro do requeijão da Cardanha

Linho com maço e espadelas de madeira
Sabão de azeite
Lindos os meus amigos: Ilda e Arnaldo

Esperança 
Linda moça, já esteve no Espaço de Interpretação do Nabão em Ansião numa formação de teatro

Havia uma senhora que trazia nas orelhas uns belos brincos compridos com mais de 400 anos...guardados em cofre forte!

Apicultora vestida de traje domingueiro

Mãe da D. Aida com mais de 90 anos
Fresca,  quando lhe disse que tinha uns olhos bonitos...disse-me - já tive...Mesa onde almocei com o marido da D. Aida
Almoço


Ruína de casa que exala beleza imensurável de pedra e património


Torre de Moncorvo preserva as tradições das suas gentes
Só mesmo os ciganos aqui proliferam integrados na sociedade na antiga cadeia onde vivem em comunidade. Aliás o mesmo se passa em toda a arraia, e nas grandes metrópoles.
Ter escrito sobre estas terras foi um prazer, fiquei  maravilhada para não dizer em êxtase!
Acredito que estas terras longínquas do progresso, da beira litoral , está a ganhar foros de grandeza a olhos vistos com as feitorias e, achados arqueológicos enquanto testemunhos do passado, com riqueza e muito espólio para Museus. Esperamos venha a ser conhecido no mundo, sobretudo da sua arte rupestre. 



                                             











Chafariz Filipino

                                          
Junto à muralha do Castelo , ao lado da Porta da Traição, passava o "Cromo doutor Pimentel"... por aqui há gente que lhe chama outro nome...obsceno...todos os dias pela noitinha o haveria de ver na esplanada a pedinchar fosse cerveja, cigarros ou mesmo uma moeda...
                               
Igreja matriz para mim uma catedral
Gostei imenso de aqui voltar entrar,  ouvir outra vez a estória do tríptico com a vida de Santa Ana de 1500, feito em Antuérpia...roubado por gente do património num inventário... foi recuperado à posterior - ladrões deportados... aqui veio um descendente de um repatriado e, contou a sua estória...tem de aqui vir - ouvir da São - mulher gira e com saber - se explica muito bem.

Edifício do séc. XVIII, com fachada barroca, pertenceu à família de Oliveira Pimentel. 
Aqui nasceu o General Claudino e o Visconde de Vila Maior.


                                        
            
Hortas comunitárias sustentáveis  
O leirão dos meus amigos
                 
A sua criação para as pessoas mais desfavorecidas...faltou gente para a distribuição dos talhões. Deste modo os meus bons amigos tiveram direito a um, de gaveto junto à Mãe d'água...não sei se ela vai chegar para regar os tomates, pepinos, feijão frade que aqui chamam de chícharo, e não devia ser ( são duas leguminosas distintas sendo que o chícharo é da forma do tremoço em seco, e de sabor igual ao grão de bico).
Gostaria que a entidade camarária fizesse do espaço um jardim . Matéria prima tem de sobeja - xisto. Adoraria ver muros baixos em xisto e os tanques de água igualmente assim revestidos, com  banquinhos para se sentarem e uma casinha onde todos guardassem as alfaias. Preservassem os muros tradicionais lindíssimos e plantio de árvores de fruta na vez das que aqui foram plantadas típicas de jardins...ouvi dizer que são restos do projeto inicialmente previsto por um arquiteto de renome - que além de caríssimo sem serventia! 
Quanto à casa, linda colunata em pedra,  deveria ser reconvertida em salão de chá com venda de produtos endógenos biológicos das hortas de fazer inveja , muito bonitas , tanta gente jovem que delas trata com carinho, e que dizer das flores .
Destaco amigos fervorosos do Bernardo, que se tratam como irmãos. Denotam ter muita paciência nos seus leirões, a terra barrenta aperta os vegetais. Mesmo assim, mais o Pedro, trintão de cabelos, e barba da cor do trigo, olhar claro denota saber ( então não disse logo que a urina por ter azoto é um excelente fertilizante misturado com cinza....e, o Vitor, rapaz mais intelectual vestido de magreza com óculos de massa pretos os dois em roda viva de volta das plantas que me pareceram reles...pobrezitas...( alvitrei ao Vitor no futuro deveria semear os feijões em linha , para não germinaram do mesmo buraco 3 ou 4 , naquilo ele responde-me...são para transplantar...respondi - o feijão não se transplanta, é semeado no local ...diz-me de voz solta...na escola fazíamos assim em copos e,...Grande o encantamento com a sua horta, os vi abaixar, regar, e o carinho a mirá-las, ainda a tirar do embrião do feijão a terra seca para ele sair da dobra e se levantar para o sol... montaram uma estrutura aérea para suspender rede, e assim a proteger do calor tórrido, mas ainda não a tinha, e fazia falta. Naquele fim de tarde com o sol a bater na colunata de pedra da casa da quinta , estava o Ricardo, alto de belos cabelos escuros pelas costas, vocalista da Banda Duffa que se fazia ao palco, em pose de modelo com tiques a modelar o penteado...não o vi tratar da horta, prefaciando as palavras do Bernardo... Muito bons músicos, pena residirem no interior !

                      
                               
                     

Antiga casa da Roda dos Expostos aqui funciona hoje o turismo

Casa típica da arquitetura rural transmontana com varanda exterior de alpendre e pequena janela com a data de 1785.



Ao fechar da noite - termo que ouvi por terras de Torre de Moncorvo, haveria de ouvir outro - rilhar maçã 

Haveria, depois do jantar voltar a Mirandela para assistir ao Sarau de encerramento do ano letivo dos alunos da Escola de Música. 
A filha dos meus bons amigos - Inês, toca Viola d'Arco - usa franja - ao centro de blusa branca onde a abertura glamorosa no tardoz rivaliza com a frente não menos bela...um peito perfeito talhado por Deus com a ajuda genética dos genes da sua querida mãe! 
Menina mulher - olhar doce, voz meiga, fatalmente no meu passado me marcou por não o ter e nela se mostrar deslumbrante - peito de pasmar rara beleza faz inveja ao silicone! 
Daqui a tempos acredito será conhecida mundialmente tal como outros . Porque bons músicos o são, tal o empenho, dedicação a estudar, e ensaiar. Uma mestrina deu mote aos pequeninos os primeiros a atuar, haveria de ver outros maestros de alto gabarito.
No público senti denotarem o saber de apreciar cultura; de saber obsequiar , tantas flores vi serem ofertadas, e ainda o saber comer - tal a magreza - só vi dois adultos obesos, julgo problema hormonal-
Mas que bem se come nestas terras, silhuetas de fazer inveja, digno de ser visto...perco-me a pensar - terá haver com o lanche ajantarado, e antes de deitar torradinhas com leite...sem falar nos produtos ecológicos produzidos ainda sob a forma artesanal.

No final houve a entrega aos finalistas de prendas alusivas à região - uma oliveira para plantio, quem sabe algumas vão crescer . Por certo vai haver gente de brio e as replantem, e daqui a anos o digam com orgulho aos seus descendentes..."esta foi ganha por mim tinha eu 18 anos, e tratei com carinho..." também uma lata de azeite, e uma rosa branca de alto caule com espinhos - ainda assim bela, simbolizando a pureza, e a luta árdua pela vida simbolizada pelos picos... o Sr. Presidente da Câmara, homem com o dom e destreza da palavra, de pasmar a eloquência apesar de fadiga,  acabado de chegar de Lisboa, tal como eu , afinal podia-me ter dado boleia...bonita a amabilidade, e carinho pelos alunos no palco demonstrada.
Fiquei estupefacta com o acolhimento, auditório cheio, superlotado com gente de pé. Amei o Sarau. No final do concerto, nas despedidas, a conversar com a prima da Ilda senhora de belos olhos azuis, e da filha, recém médica, linda, Ana (?) mui graciosa passa por nós um miúdo com o instrumento descomunal às costas - um contrabaixo - pena não registar tal cenário, o miúdo não se via tal a grandeza do instrumento, apenas vi a ponta dos sapatos - parecia um pinguim - brutal, o seu empenho, como dizia o poeta - engenho e arte!
Amei presenciar a juventude em alegre cavaqueira nas suas despedidas de verão, alguns com os instrumentos às costas, de flores nas mãos, lágrimas no canto do olho, apresentaram-se vestidos a rigor para a cerimónia, gente bela de olhos claros, ora verdes ora azuis, raiados, e castanhos iguais aos meus, nestas terras de Trás os Montes, que também foi palco de uma comunidade judia ( por isso as alheiras - não comem carne de porco) entre outros.

O autocarro parou junto à Quinta da Portela
                        

Adorei o nicho de granito escavado, dentro dele um crucifixo. Fiquei com ele na cabeça, no dia seguinte a caminho da Adeganha o Arnaldo parou, registei esta foto e ainda do outro lado apreciei uma pequena capela, de um dos lados uma fresta da época visigótica.
A paisagem é deslumbrante, de tirar a respiração, se o visitante conseguir olhar para os penedos graníticos consegue ver arte talhada por Deus em formas arredondadas, e pelo homem  riscada - a arte rupestre. Tais os brutais achados a cada dia. Nesta zona situa-se a quinta do Tó Zé Martinho, ator conceituado de teatro, cinema e televisão . De facto a mãe dele é muito bonita - ele herdou-lhe a genética. Recordo-os na Cornélia.
Ainda a Sónia Araújo nasceu no concelho e,...



O calor e o cansaço apoderaram-se de mim...
A vontade férrea solta em frenesim dealbar em magnitude escaldante e frenética neste querer maior em narrar a odisseia desta viagem programada e nela as vivências, conhecimento, e olhares pelas escavações arqueológicas . 
Uma oportunidade única. Elevado privilégio nesta minha vida - ver o que quase ninguém sabe estar a acontecer em Trás os Montes. com a feitoria de duas barragens no Baixo Sabor cuja dimensão e modernidade antes nunca praticada em análogas construções no passado. 
Durante o Estado Novo, Salazar, mandou edificar bairros de casas e afins para se instalarem neles todo o pessoal técnico: Cabril; Bouça; Castelo de Bode, e outras. Nesta terra transmontana vemos em plena atividade a maior britadeira da Europa  de onde extraem o xisto que é de boa qualidade, o transformam em brita e com ela erguem paredões 24 sobre 24 horas. Do mesmo modo a empresa das turbinas deslocalizou a fábrica e operários para o estaleiro, fazem ainda aqui os túneis de forma inovadora para o peixe migrar rio acima. O que no passado não aconteceu com outras construções, em Coimbra a lampreia tem muita dificuldade de passar o açude no choupal . 
Por aqui nesta obra monumental há muita novidade em termos de construção e aplicação de novas metodologias muito avançadas. A média de operários ronda mais de 1600 , com  200 técnicos ligados à arqueologia, antropologia, conservação e restauro. 
A população alugou muitas casas desocupadas, outros compraram pelas redondezas, um investimento de futuro, porque toda a região tem especial encanto em todo o ano e não só no tempo das amendoeiras em flor. O estaleiro contempla outras infra estruturas de logística; cantina; posto médico; padeiro e,...salvo conduto para entrar - nem parece Portugal!

O primeiro dia de visita ao Laranjal sob sol escaldante, a aba do chapéu de palha revirou!
Emocionei-me, e de que maneira!

                                         


Em baixo, foto panorâmica de escavações em atividade sob terraços fluviais.
vê-se na foto uma fossa em terreno carbonatado apenas a 1 metro e meio da superfície...julgo daqui a mais uns mil anos se transformará em pedra...
                              

Grandiosa a empresa concessionária a EDP na aposta da preservação do património cultural relativo à ocupação humana desde um período ainda não certificado por fraco número de provas e de carvões por datar - calculado entre 100 a 200 mil anos até aos dias de hoje . A EDP contratou muitos técnicos para intervir julgo em 5 locais diferenciados. Um grande manancial de estudos com medições, fotografias e,...para quiçá daqui a 100 anos outros técnicos se deleitarem e com novas metodologias voltarem desta vez a mergulhar e voltar a redescobrir...porque a intervenção vai ficar devidamente "arrumada em submersão", por outro lado acredito a barragem não vai ser eterna!

Uma curiosidade. Nas conversas com os especialistas ao lhes fazer a pergunta,- se costumam escavar nas suas terras...resposta escorreita " Santos de casa não fazem milagres" - por aqui vim encontrar um conterrâneo - Ricardo de Freixo de Torre Vale Todos, tem o privilégio de viver em terras cujo registo remonta ao inicio da nacionalidade com a herdade do Alvorge do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra onde proliferaram torres pequenas no tempo da reconquista cristã e castros mais antigos com achados arqueológicos. Fiquei com a nítida sensação de tão rico património desconhecer, pior, sequer demonstrar curiosidade...estaria tímido, um amante destes artefactos do passado deve ser VIVO...estarei a exagerar - é a minha paixão...nem todos são arqueólogos...há gente a manobrar máquinas, outros escavam, acarretam baldes de entulho para peneirar, agachados varrem para encontrar espólio, fazem medições e,...outros...todos vi fazerem trabalhos de pesquisa sob sol escaldante no meio de nenhures com o Sabor sempre por perto!

Uma necrópole
                     
Lagar da Quinta das Laranjeiras em ruína- por detrás da porta aberta estão os tanques em pedra

Já os antropólogos visitam as populações envolvidas, fazem inquéritos com recolha de tradições, saberes, rituais, para melhor se perceber e saber fazer a interpretação do modo de vida das gentes e de locais que no passado foram à superfície referenciados - agora por causa das barragens explorados em profundidade .
 A forte imigração nos finais do século XIX , igual na década de 50, do XX para o Brasil, tal como noutros zonas do País. Alguns deles regressaram com fortuna construíram casas apalaçadas e de lavoura com apontamentos artísticos interessantes à época - chalés que ainda persistem algumas. Apreciei um cor de rosa com beirado de madeira a branco em Felgar, que no imediato me catapultou para a casa da Barbie... 
A Quinta das Laranjeiras também comprada por um desses imigrantes que a viria a perder ao jogo - tal o vício descomunal ...hoje em ruína a casa, o lagar de azeite e de vinho, ainda um mais pequeno o alambique de aguardentes de vinho e figo.

Também se fala da Santinha de Vilar Chão
Senhora a rondar os 90 anos que vive em Bragança. Na minha perceção foi um negócio lucroso engendrado ( sendo ao tempo o povo beato e iletrado deu azo a ser enganado) no negócio que viria a ser gorado perpetuado por dois irmãos, um padre, outro médico e ainda um fotógrafo. Na mulher viram a santidade da oração, e da piedade...tanto ouro os peregrinos aqui deixaram na mira de receber milagres... já da Santinha, se diz só ter recebido umas arcadas e um fio...  
Nestas terras era uso a sazonalidade rural tendo em conta o inverno rigoroso.

As gentes de Felgar 
Tinham azenhas ao longo do rio Sabor. Por aqui lhes chamam moinhos de água, onde se moía a farinha com a força motriz da água do rio. A travessia fazia-se em barcas, que  levavam carroças pela altura da apanha da amêndoa , da azeitona, trigo, centeio, aveia e linho. Sendo que a festa rija se fazia no Santuário de Santo Antão da Barca, onde acorriam muitos romeiros de todas as redondezas. Atualmente encontra-se em trasladação para monte altaneiro. Em registo acelerado andam as terraplanagens em curso com vista deslumbrante. Os peregrinos irão desfrutar do outeiro rodeado de um lençol de água e praia fluvial insuflável aos pés do adro  "O Santo deve dar pulos de contente" ao sair da beira do rio Sabor que atravessei de jipe, quem diria num troço de calhaus rolados e cota de água mínima, mais  parecia um regato e vai voltar a ficar nele, mas desta feita em grandioso cenário!

Vista do Monte onde se vai reinstalar o Santuário Sto Antão da Barca e do pó da terraplanagem



Também a capelinha de orago a S. Lourenço vai ter honras na mudança do terreiro em Cilhades, com reboco pintada de branco, a única na aldeia, tal e qual como na aldeia de Piodão por terras de Arganil .

Cilhades 
Aldeia desertificada, totalmente abandonada, que linda foi toda em xisto, saltam aos olhos as ombreiras das portas engalanadas com pedras grandes a entrar pelas paredes mais claras no contraste do reluzente xisto mais escuro ,dão mote da grandeza das gentes que nelas habitaram. Gostei francamente da oliveira no adro com um muro de pedra solta em redondo alto, no momento transportou-me para o Santuário de Fátima igual foi no passado de roda da azinheira onde dizem apareceu a Virgem Maria...
Linda aldeia na margem do Sabor.
Aqui a família do Seixas - tanto ouvi falar dele - teve haveres...riqueza mayor saber viveram sem o saber paredes meias com um cemitério de mouros a olhar para o Castelinho, pelo meio o Laranjal outra necrópole, onde foram encontrados dois esqueletos na mesma sepultura, noutra uma linda taça asada de cerâmica campaniforme de bojo alto canelado e base redonda. O fascínio que me provocou este achado - em tempos no blog da Maria Andrade postou um parecido mais recente 1600 fabrico de Aveiro Cojo(?) na minha intuição achei pela raridade estar associado a rituais, e não é que está! 


Oliveira no adro enfeitada com muro de pedra solta


Neste lugar reza a tragédia ocorrida em 1917...Levantados os pilares da ponte - persistem nus ainda hoje, assim irão ficar para sempre...ou serão retirados tal como as árvores. Decorriam os trabalhos da última fase de acabamento para nela suspenderem o lastro em ferro e de repente o rio subiu, talvez uma enxurrada, e a barca com os operários vira-se, pereceram no rio afogados 17 pessoas ...
A ponte nunca mais foi acabada - julga - se que por nessa altura o valor do ferro ter encarecido devido à 1ª guerra mundial, também do viver da tragédia dos filhos da terra. Só nos anos 80 do séc. XX,  junto a uma azenha abandonada foi aproveitado o caneiro, e nela feito um passadiço com manilhas de cimento. Junto ao rio o verde em alguns locais transporta-nos para o romantismo de Sintra ao entardecer!

Tive a oportunidade de ver reservas de Museus na cidade da EDP
Jamais julguei entrar nelas e foram duas com tesouros distintos;  no do Ferro vi um filme recuperado pelo meu bom amigo Arnaldo ,sobre o trabalho mineiro . No meu julgar as minas esventravam a terra em infindáveis túneis,  afinal laboravam à superfície...

Intrigada ando há muito com a toponímia
Coligi nesta zona do nordeste topónimos de localidades iguais a outras da minha zona no centro do País ;Almofala; Avelar; Rabaçal; Mogadouro; Penela da Beira - Penela; Carrazeda de Ansiães ; Ansiães - Ansião...será que ainda há mais?
O Dr. Valmedar disse-me que o Dr.  Paulo Dórdio tem uma explicação para esta coincidência . Durante a reconquista cristã os cavaleiros vilãos ao virem de norte para sul foram repovoando as terras, dando-lhes nomes de outras já reconquistadas no norte ... agora pergunto - Rabaçal vem de Rabaça, não é topónimo romano? 

Vila Flor
Ao passar no Cachão relembrei os tempos áureos da indústria dos produtos do nordeste transmontano, hortícolas, frutícolas, e de transformação de carnes que DEVERIA RENASCER . Jamais me esqueço do nome, no tempo áureo ao ler a noticia no jornal com a minha pressa apressada - li caixão - por tal não me suar tive de voltar atrás e reler...

Rico Vale da Vilariça

O Nilo Português fértil aqui o Rio Sabor desagua no Douro -a Foz!

 Almoço domingueiro na Foz do Sabor a convite dos meus bons amigos

No dizer do Bernardo : Miguinhas de peixe, toda a gente adora , no Rio Sabor
em casa da D. Aurora!
Muita fartura, as migas no dizer do Bernardo " tem de se aprender a gostar" exalam sabor a erva pesqueira que me pareceu da família do poejo...a D. Aurora não acatou a reserva, valeu-se do que tinha de sobras...julgo. lhe faltou o peixe estufado. Os barbos fritinhos até as espinhas se comeram. Na espera de mesa chega-se um "bruto mercedes, e dentro dele gente rica de Lisboa (?)..." perguntava se sabíamos onde era a tasca de peixe cujo dono falava alto, de modos, destravado... seria a casa João e Lucinda ou a tasca do Recta ou,...o importante o modo como interagiu connosco..."estive lá há tempos, pedi um bitoque, o bom homem disse-me em tom alto, forte e feio - aqui na minha casa só se come peixe e do bom"... 

Entroncamento para a Adeganha no gaveto quinta da Portela com um nicho de granito escavado e nele um crucifixo do outro lado uma capelinha com fresta visigótica.

As andorinhas adoram este beirado...no dizer do meu bom amigo Arnaldo o maior beirado de ninhos de andorinhas - adivinhem qual a freguesia?

                           
Cardenha
Relógio da Fábrica Coisinha de Almada - na lateral o antigo relógio de sol

                           

Moldura do nordeste transmontano tirado por detrás do vidro do jipe...
 

Estrada romana a caminho de Adeganha

                   
Trilhei a calçada na subida íngreme pelo meio de giestas

               
Por aqui há castros nos cabeços graníticos - tanto castro , tantos vestígios de ocupação humana desde os primórdios da idade da pedra, do cobre, ferro, romana e medieval. 
No meu rápido dizer - O Mayor só falta encontrar um azulejo romano para a monumentalidade ser plena nestas terras do Baixo Sabor...não o consigo pronunciar, apesar de fácil, tal sapiência destas gentes...falam dele com amor, pela riqueza que lhes dá em peixe:  bogas; escalos, barbos pequeninos para fritar em azeite e grandes para as migas de peixe, achega e,...
Um pescador de Relhas anda aqui nestas águas desde os 7 anos, e já conta mais de 70...rijo que nem um pêro!

Espero que a atividade na Ferrominas renasça para bem da população e da riqueza do País.
Incrível numa terra com exploração de minas de ferro  onde não distingui esculturas, como as camaras de esquerda, que teimam ostentar demasia escultura deste material como Almada e,...

Se houver empenho em preservar memórias podem aproveitar esta chaminé da Quinta das Laranjeiras...depois de limpa e tratada ficaria soberba enquadrada num dos recantos da vila a fazer jus a uma das riquezas transmontanas - o ferro - daqui extraído e fundido não sei onde.
                    

Pormenor da corrente onde se prendia a panela ao lume. Quantos Museus gostavam de ostentar assim uma...
Há muitos espaços, passeios e paredes na vila para recuperar e modernizar,  alguns em reabilitação a paralelepípedo de cimento às cores,  outrora em cinzento em Espanha... longe da calçada portuguesa genuína!

                                                 

ADEGANHA ALDEIA VIVA

Dizia-me o historiador António Júlio Andrade, que o nome de raiz latina quer dizer...a caminho das minas... 
Sábado 14 de julho de 2012 - Festa rija, há anos que não se fazia, só possível graças a gente vinda de fora aqui radicada temporariamente ( a trabalhar na preservação do património que vai ficar submerso com o enchimento das barragens) arqueólogos, antropólogos, gente do restauro e conservação e,...gente muito jovem, moderna amante das tradições, de lhes voltar a dar vida. Iniciativa de envolver a população , tal paixão os cativou, deu forças para fazer acontecer. Das arcas retiraram vestimenta de antanho domingueiro e o de trabalho, mostrando as artes e ofícios da terra, improvisaram tasquinhas e bancas de vendas. O Dr. Paulo Dórdio, arqueólogo, deu-lhe o mote no negócio, muito pelo sorriso livre de encanto, quiçá do dente encavalitado a fazer lembrar o meu ídolo Richard Gere...( ainda me contou que se tem encontrado muita faiança de Aveiro no Canadá,  do tempo dos bacalhoeiros alvitrei...a resposta não poderia estar mais certa. Quem faltou? o antropólogo Dr. Valdemar que por razões que aqui não interessam sei visitou a feira de velharias em Vila Real...que inveja...ainda me disse com um sorriso aberto e franco " fui muito feliz em Tomar"...pudera...as mulheres são igualmente belas!
Havia gente sentada na praça em bancos feitos de Mós, de boa grossura granítica, cortadas e dispostas em círculo sob a sombra deliciosa das amoreiras. Sim, por aqui floresceu a rota da SEDA, em Alfandega da Fé. Ainda há indústria dessa arte- Apreciei workshop de fazer sabão com azeite, e jogos tradicionais: saltar à corda; malha,  feita de pedra e pesada, passeatas de burro; jogar ao arco, danças medievais. A que me fascinou a testar limites SEGADAS. Prefaciando o dito popular “Pelo junho foice no punho, e pelo São João sega o teu pão”.

Venchelos - molhos do cereal atados com o próprio cereal

                                            
A caminho da Segada...
Forasteiros e homens para malhar, mulheres para varrer o cereal no eirado de granito - coisa brutal - uma eira feita pela natureza.


Homem castiço o dono do jumento Zé...
Haveria de o questionar por que razão não levaram para o eirado uma mó manual para os forasteiros saberem como no antigamente se fazia a moagem manual...resposta escorreita...ah não, o cereal ia para a azenha lá é que é moído...voltei a insistir, a explicar...debalde não entendeu...voltei uma terceira vez, e nada...ri-me para a Ilda... percebi que não valia a pena    insistir, não tem culpa de não saber como se fazia há 100 anos...apesar de na terra ter visto à laia de abandono algumas , no caso deviam estar guardadas, antes que mudem de sítio ... a minha análise!
                                           

                    
Pedi para ele parar e registar a foto
   
 
Chegada do cereal ao eirado de granito feito por Deus...

O Arnaldo apresentou-me um homem que fora seu aluno, com quem aprendeu a ler e a escrever  de sorriso branco, e olhar radiante a quem distingui com um piropo soft...no final disse-me ser padre...Eduardo o seu nome - um espetáculo!

      

Este bom homem quis presentear todos calçado como antigamente usando socos.
O ritual da segada foi  feito a preceito com o cereal disposto no eirado para ser malhado com o malho ou a mengueira, pelos homens possantes: no passo, e batida certeira. O malho ao alto se desvia, bate no peito do colega da frente, e o mata de imediato. Há muito guardados no celeiro , vi pelo menos 4 malhos a se desintegrar...
As mulheres carregam vassouras de giesta, umas grandes, perdi o nome, e outras pequenas, ainda havia a pichorra - cantarinha de barro com água fresca para se refrescarem e moringues (barris de dois bico).
Amei apreciar estes homens, bonitos, simpáticos, muito possantes, mas que força  de arrepiar,  sorte das suas mulheres, porque homens destes julgo nunca vi...alguns com 70 anos pareciam ter 50...coisa para pensar. As mulheres são lindas, mas também tem a sorte de ter maridos com energia,  coisa rara...um deles deu-me 4 beijos de fiada, trazia um chapéu vermelho à cowboy...


Mós manuais para triturar o grão e fazer farinha
O Grupo de Teatro de Torre de Moncorvo a fazer exibição 
 Malhada batida e palha tirada. Varrido o eirado para o centro onde o monte de grãos é agora limpo com pás de madeira atirados ao ar.
Tem arte o limpar o cereal. A Esperança do teatro vestida a rigor de pá em punho o atirou ao ar com preceito . Tem técnica, para um lado cai o grão e para o outro os ciscos.
Fazia-se horas de chegar o tacho com as sopas da segada : Pão demolhado com bacalhau, e ovo cozido regadas com bom vinho saboreadas à sombra do sobreiro.

Pensamento humorístico...
Nestes tempos de antanho todo e qualquer serviço tem arte. O que equivale a dizer que todos reúnem muito saber nesta Universidade da Vida. Poderiam graças ao Processo de Bolonha se candidatar a meu ver a pedir conversão em Créditos, para equivalência a Licenciaturas...que as merecem tal como aqueles que queimaram as pestanas a estudar, para não falar dos pais que pouparam para lhes pagar os estudos....e, não o que se tem visto com gente do governo - acabam os cursos por "compadrio, cunhas e tuta e meia de aulas"...ouvi na viagem de comboio do Pocinho à Régua um homem comentar com outro " quando há uma revolução tem de correr sangue, e não cravos, no 25 de abril deixaram ficar os ladrões que se juntaram outros..." curiosamente este pensamento é comungado por mim, desde que nasci assisti a guerras na televisão, Vietname, Biafra e,...quando chegou a nossa senti-me frustrada tal como este homem...no meu pensar de adolescente senti um fracasso na comparação do antigamente termos sido grandes em desbravar aqui e além mar, e agora cravos...começa a fazer sentido!

Quem foi o herói da festa ?
ANDRÉ.  Homem novíssimo, com 29 anos, franzino, usa barbicha, olhar doce, e voz semi rouca , afável, de andar castiço ganho julgo, a bailar danças medievais. 
Presente sempre em todo o lado, em todos os momentos. 
Grande solicitação ... só se ouvia chamar pelo André..
O vi acudir a todos com carinho, vestido de calça surrada com remendo cozido à mão como em tempos de antanho era uso tal vestimenta, e camisa tradicional sem botões de atilho na gola do pescoço, na presilha das calças pendurado o púcaro de alumínio para se refrescar. Imprescindível a um bom trabalhador,  porque fontes há muitas como já não é uso ver-se!
Conheci a sua linda mãe senhora magra de estatura baixa, e cabelos sedosos alvos, dei-lhe os Parabéns pelo filho, que apreciei ter muito talento. Não resisti perguntar o dia de aniversário ; 30 de maio , igual ao aniversário do Bernardo,  filho dos meus bons amigos, coincidência gira que registei com agrado...também o meu mês, mas no início.
Tirei esta foto no adro de uma ermida graciosa de caras para a casa da D. Aida - senhora, que amavelmente nos ofertou comida, e bebida a roudos...sem falar nos doces.. destaco a amêndoa torrada, e o licor de laranjeira. O marido igualmente simpático, parecia um estrangeiro tal a finura da pele, e o jeito de matar o cabelo com o chapéu à campeão.



Igreja de Santiago da Adeganha 
Remonta aos primórdios de 1248. 
Feita com silhares de granito onde há poucos anos foram descobertos belos frescos, parcialmente destruídos julgo em 1976 pela conservação dos monumentos nacionais... felizmente interrompida por alguém que conseguiu ver tal património escondido pelas camadas de cal .

O  historiador António Júlio Andrade,  tive a sorte de me ser apresentado, com quem aprendi e troquei impressões...haveria de me confidenciar que a 1ª mulher portuguesa que entrou no Canadá foragida de Mogadouro foi  vestida de homem no tempo da inquisição.
Haveria de haver outros a quem o meu bom amigo me apresentou: realizador Leonel de Brito com quem gracejei sobre o Manoel de Oliveira...que me disse" quando estagiei com ele já lhe chamavam velho...teria na altura 60 anos.."
Esqueci o nome das meninas...que chatice, só me lembro da Rita, havia outra com tese em olaria, de Sintra e,...perdoem-me a falta de memória...esqueci o caderninho de tomar notas, e não devia.
Amei conhecer o Presidente da Junta, o Sr. Guilhermino  e a sua bela esposa,  então não estou farta de dizer que as mulheres são todas lindas, vestida de belos olhos azuis, exala rara beleza nórdica. 
Igreja de Santiago da Ateanha
Pormenor das conchas de vieira esculpidas na madeira da porta lateral, a lembrar a rota do caminho de Santiago de Compostela


Porta lateral virada a norte


O sineiro pareceu-me que mugia as tetas de uma vaca...
Haveria eu na mesma figura ficar registada numa foto registada pelo Arnaldo


O fascínio da luz do vitral da pequena janela


Alminhas
Santa Barbara quase na empena da casa ao invés das que conheço mais abaixo ao nível do olhar


Menino Jesus engalanado de vestido...e, calcinha com rendas

Intrigou-me esta porta de madeira virada a norte ter esculpidas conchas de vieira. Antes de saber o orago da igreja, final o descobri desta forma. A Rainha Santa na sua peregrinação a Santiago de Compostela por aqui passou , já que saiu de Coimbra. Só foi reconhecida em Espanha pelos presentes que levava, caminhou como qualquer peregrino.
O meu bom amigo Arnaldo gosta de escrever o meu nome Izabel tal como o dela...eu adoro!



Sepulturas no exterior de um lado e de outro da igreja escavadas para encaixe da cabeça e dos pés - uma ainda conserva a tampa com uma linda cruz esculpida

Artes tradicionais - algumas em desuso Teares...
Ouvi dizer que o André comprou um com uma colega, ou seriam dois...
Colcha lavrada cerise da cor das cerejas


Meias de algodão feitas à mão
Tigelas de barro do requeijão da Cardanha

Linho com maço e espadelas de madeira
Sabão de azeite
Lindos os meus amigos: Ilda e Arnaldo

Esperança 
Linda moça, já esteve no Espaço de Interpretação do Nabão em Ansião numa formação de teatro

Havia uma senhora que trazia nas orelhas uns belos brincos compridos com mais de 400 anos...guardados em cofre forte!

Apicultora vestida de traje domingueiro


Mãe da D. Aida com mais de 90 anos. Fresca,  quando lhe disse que tinha uns olhos bonitos...disse-me - já tive...Mesa onde almocei com o marido da D. Aida

Ruína de casa que exala beleza imensurável de pedra e património
O Prof Madeira numa noite ofereceu-me este raminho de manjerico que guardei no bolsinho da minha blusa. Voltarei a reparar nele agora seco porque a lavei  e claro , vou guardá-lo como estima na minha vitrina de recordações...sim, porque para mim o que me dão tudo tem VALOR!


O Padre Vitor tanto havia de ouvir falar dele...
Homem jovem, moderno pop, atrai a juventude para a música.
Já foi à televisão 
Ainda há outro padre ...Eduardo, igualmente novo e moderno!
Quem diria...mas também ouvi dizer que há uma freguesia que eles não podem lá ir...parece que há encantamento delas com eles...finam-se os votos!

Bem hajam bons amigos por me terem facultado viagens com sabores culturais de vária índole. Indescritível as vivências, os cheiros, a comida, a luz , os ambientes, as pedras, os rios, as serras, os pombais e, as Vossas Gentes!

Especula-se que o Siza Vieira famoso arquiteto foi convidado para no paredão fazer uma abordagem contemporânea...almejo ser em xisto, e assim a mesma no seu conjunto vir a ser considerada Património Mundial...por isso a obra irá parar um tempo...
Digam lá se os transmontanos não são gente que pensa em devido tempo!

A Ilda foi como uma mãe
Fez-me o farnel para a viagem. Comprou pão de Carviçais, Bola de azeite, queijo Terrincho , juntou: amêndoa do lavrado dos pais , e salpicão oferecido pela D. Ester. O Arnaldo deu-me um pratinho de Lagoa - Açores, e uma floreira igualmente em faiança, dois livros: Igreja de Santiago da Adeganha e a revista nº 1 de Fotografia do Douro Superior , tinteiros de porcelana da escola primária e aparos, ainda notas antigas, e uma bela moldura oval para por o retrato da minha família. Deram-me hospedaria no quarto da sua Inês, saciaram a minha fome a todo o momento...todas as noites depois da meia noite sentados na cozinha se faziam torradas, bebi leite com chocolate, outra vez brindámos com bom vinho, naquela casa comida foi em fartura , Boa posta mirandesa grelhada, que dizer do bacalhau frito ou da torta de bacalhau recheada com camarão e pickles da D. Ester, que o Bernardo ficou adepto fervoroso. Boa a sopa de feijão verde, cremosa, e fruta, com a cesta em cima da mesa sob toalha em estoupa debruada a crochet, magnífica que tapava o centro de tão grande, já a fruta havia-a de todas as cores, ameixas, pêras; Joaquina, maçãs, laranjas, melão e,... Não me deixaram fazer nada. Andaram sempre ao colo comigo a mostrar a sua terra. Estavam cansados, senti estarem, não era para menos, acabados de entrar de férias, desgastados, logo apareci neste frenesim de querer conhecer a sua terra, não há forma de lhes pagar tal acolhimento e bondade. Gente de gabarito!

Partida na estação do Pocinho
A viagem de regresso de comboio ate Campanhã com a D. Ester

Deu-me informações sobre as freguesias que revivem ainda tradições que podem a meu ver chamar mais turismo:

Felgar ; no passado um grande centro oleiro de cariz familiar. Julgo encerrado, deveriam apostar num Museu ou mesmo voltar a ser viva esta arte. De vez em quando vejo vinagreiras com a cantarinha de grão grosso de Trás os Montes a ser vendidas por ciganos...Felgar tem algumas casas feitas por imigrantes brasileiros, lindas, a do Seixas igualmente bela com varanda em ferro forjado e data de 18.. e azulejos.

Felgueiras; Prolifera a indústria artesanal de velas de cera - os cereeiros tem um Museu.
Cardenha; Produção artesanal de queijo e requeijão.
Carviçais; O bom pão, saboroso, verdadeiro.
Urros; Mulheres tecedeiras ainda fazem obras de arte nos teares manuais.
Larinho; Indústria do queijo certificado Terrincho.
Freixo de Espada à Cinta; Ainda viva a indústria da seda.

Na Torre de Moncorvo, do tempo áureo da seda ainda resiste a Rua das Amoreiras, por aqui proliferaram feitorias, nelas havia o comércio de especiarias, seda e,...

Em toda a região: a certificação do borrego Terrincho.
Também por aqui há muita produção de Mel.

O Prof Madeira, na sua Quinta de Ligares em Freixo de Espada à Cinta desenvolve essa atividade em consonância com outras, vinho ...Em toda a região...bom vinho...c'om caneco!

Amêndoa coberta

Única em todo o Mundo , deveria apostar mais na sua confeção e apostar na exportação...

A receita das amêndoas cobertas,  que me deu a D. Ester:
Deve usar-se uma bacia de cobre com asas com 20 cm de altura onde se põe a amêndoa pelada um pouco tourada, não muito - vai a aquecer para ser trabalhada na bacia em movimentos para baixo e para cima com regularização da temperatura. Usando anéis nos dedos próprios para confeitaria, para não se queimarem os dedos. Vai sendo regada com açúcar em ponto pérola. O segredo é a temperatura e o ponto do açúcar - se não foi a preceito a amêndoa fica rombuda.

Tomei nota de  outras informações pela D Ester

Fábrica do sabão de azeite
Deveria ser reabilitada. Investir na produção de sabonetes tal e qual se faz na Grécia. Os turistas compram como souvenir...há falta de imaginação no poder local...e não devia!

Receita de sabão da D. Ester
Antigamente era feita com borras de azeite e soda cáustica,  caso metam um nadita de Omo fica branco. Por alto a dose para uma barra de sabão de um kg = 2 malgas de borras +120 gr soda cáustica e água à ronda de 315 decilitros.

Bola de Azeite
Outra iniciativa para investimento Podiam fazer de vários tamanhos, o turista ao chegar levava, porque é maravilhosa, leve fina, deliciosa, aguenta-se dias macia nas pastelarias poderia ser vendida na vez dos croissants gordurosos ou pão de leite, porque é muito melhor...podiam até inventar um nome alusivo à terra ...imagino chegar ao café e pedir " olhe se faz favor quero uma Patoleia com fiambre e queijo..." a fazer jus a um ilustre fotografo transmontano Paulo Patoleia - amante na arte de fotografar rostos!
E que bem!

A receita das bolachas deu-a a Ilda 
Como se faziam antigamente uma a uma ao lume em forma manual de alumínio na casa de sua mãe.
6 ovos + 250gr de açúcar igual de farinha c/ fermento + 100 gr de manteiga + raspa de limão, canela ou chocolate.
Mistura-se a manteiga com o açúcar a que se juntam as gemas e vai-se alternando a farinha com as claras batidas em castelo a que se junta a raspa de limão ou o que se quiser.
A forma é pincelada com manteiga e nela se despeja a massa que fica de aspeto líquido, e vai a cozer no bico do fogão quem tem a forma antiga. Hoje podem fazer-se noutras igualmente pequenas.

- Outra ideia para introduzir na gastronomia - bolachas da Ilda ou com o nome da sua estimada mãe.

Remato com outra sugestão
Bolos de pastelaria em forma de - Torres - alusiva ao nome da terra - feitas com amêndoa triturada regada com caramelo; chocolate e de recheio doce de ovos...

A D. Ester, mulher culta e esclarecida conhece as estatísticas da doença. Arrepiei ao ouvir da sua boca: " já preparei a minha mortalha "- tal me fez lembrar a minha avó paterna que também fez a sua, não sei se a levou, julgo que não...
Senti que se quer despedir de todos que a amam vestida de SANTA FILOMENA - O  nome que carrega Ester Filomena,  o mesmo nome da mãe do meu bom amigo Arnaldo. 
Uma Mulher com M grande tal como a Ilda e, afinal a maioria nestas terras. 
Nada tinha para lhe oferecer,  apenas um anel com uma pedra semi preciosa turquesa, ficou emocionada quando lho coloquei no dedo!
D. Ester Filomena

Deliciem-se com paisagens maravilhosas  de ficar sem fôlego
Pena não ter uma máquina boa, tiradas dentro da carruagem ...o vidro é um obstáculo tal como o andamento do comboio...









 
Desde pequena sou uma apaixonada por relógios, deliro quando vejo os ponteiros encavalitados um no outro...o pleonasmo é propositado para dar ênfase à união e força de lutar por ideais, ou qualquer outro gesto de grandeza.

Chegada em felicidade, com o coração cheio, na companhia de uma ilustre senhora D. Ester, senhora linda, de cara redondinha uma gracinha. Ofereceu-me um chá., com ela em Campanhã o bebemos, gesto que quero voltar a repetir depois de saber que se reabilitou no imbróglio da sua falta de saúde. A fé que nesta senhora é grande, tal e qual a energia, e a força...dizia-me " se estivesse por aqui para a semana que vem, ia ver a retirada do Mel ".
Ajudou-me no transbordo com a mala. Sempre muito querida e boa ouvinte, se calhar fui aborrecida...peço encarecidamente ao meu S. Judas Tadeu para a agraciar com a benesse da viver ainda muitos, e bons anos com plena saúde. Senti que sofre com a doença. Forçosamente a "morte" está mais intrínseca nela...do que em outro qualquer mortal. Confidenciou-me que para a semana é o seu aniversário - sendo caranguejo o último dia é 22 - dei o palpite para descer o Douro de barco...responde apressada "fica para outra vez, tenho faltado aos ensaios ( coro e do teatro) , e não quero...gostava tanto que o marido se lembrasse de a presentear com uma bombástica surpresa!

Joguei no euro milhões em Campanhã. A D. Ester desejou-me sorte, respondi se for contemplada compro uma casa em Moncorvo,  no Castelo!
Mal chegada a casa telefonei para dar a nova de boa viagem. Refresquei com um bom banho. Fui surpreendida com a chegada do meu marido, logo me apanha a saborear o creme na pele nua...um beijo afortunado aguçado com o remate " reguei-te as flores todos os dias..."

Obrigada amigos por me fazerem esquecer de quase tudo até de outros amigos igualmente bons...foi estonteante conviver, sentir esses ares transmontanos!
O acumular de deceções faz com que as nossas defesas cresçam desmedidamente, e quando nos apercebemos estamos sozinhos na nossa inalcançável torre, mesmo com muita gente à nossa volta!
Sou forte, corajosa, ponderada e moderna,  decidi viver a oportunidade desta aventura - coisa inédita - voltei outra - a minha alma sente-se magnânima!

Sentados neste canapé da Quinta das Laranjeiras 
Não há casa que não o ostente dentro ou fora no varandim,  aqui se chama Escano...despeço-me com lágrimas nos olhos com a certeza de voltar um dia!

Vamos beber mais um caneco à Vossa saúde...
Agradeço o carinho que me distinguiram os meus bons amigos Arnaldo e Ilda extensivo aos seus também amigos que me apresentaram, e me deferiram carinho:  Prof Madeira, e esposa D. Ester; Acácio, e esposa Natalina linda de olhos azuis, Esperança , e o marido de Figueiró dos Vinhos; Fátima, do Museu do ferro; São, da catedral; Susana - arqueóloga a quem tive o atrevimento de perguntar o que mais a fascinou até hoje...responde " um esqueleto no Museu do BCP na Rua dos Correeiros..." então não sei do que falava? Gravita numa lição sobre a romanização na capital lisboeta - de pé, e nós sentados numa mesa de esplanada no Larinho cujo café reconverteu a antiga estação ferroviária onde chega o passeio ecológico ficámos de boca aberta, com tanto saber!

Não tive tempo de visitar o Convento das Carmelitas no Larinho - tem o hábito de oferecer um escapulário aos visitantes. Ainda um dia lá vou buscá-lo!
Há ainda a casa da Pelicana - amante favorita do Rei D. João II - alguns insistem dizer ser de Freixo Espada à Cinta - olhem que é daqui de Moncorvo.
E muito mais património - venham e descubram!

Por fim escrever sobre estas terras foi um prazer, fiquei  maravilhada para não dizer em êxtase!
Acredito que estas terras longínquas do progresso, do litoral , está a ganhar foros de grandeza a olhos vistos com as feitorias e, achados arqueológicos enquanto testemunhos do passado, com riqueza e muito espólio para Museus. Esperamos venha a ser conhecido no mundo, sobretudo da sua arte rupestre. 

Bem hajam a todos com quem estabeleci conversa alheia!
Todos para mim ficaram no meu coração por serem uns amores, é o que sinto todos serem, por isso um nome que merecem!
Até sempre amigos de Torre de Moncorvo!
Desculpem se esqueci de realçar algo importante...a minha cabeça fervilha nas memórias até me doí, e de que maneira!

Finalizo a a expedição com pintura contemporânea no Cais de Campanhã ...pastilhas elásticas! onde ficou a ponta do meu dedo... pormenor artístico a rivalizar Joana Vasconcelos....eheheh!


Amei estar na vossa terra! Sois uns privilegiados!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Conversa solta na feira de velharias de Setúbal a 1º de julho 2012

Chegou-se mais um fim de semana com agenda de mais uma feira desta vez, em Setúbal. 
A minha amiga homónima quis repetir o certame. Ao chegar no chão pus a colcha escarlate a marcar o seu  lugar, onde dispus algumas peças que tinha trazido para a feira de Alcochete e não vendi ...A sua mercandoria:Santa Ana; Sacavém; Caldas da Rainha;Vista Alegre; vidros de laboratório, copos termais, garrafa VA; chaves; ferrolhos, quadros e,... No seu dizer confidenciou no seu sorriso alegre sem marotice, sincero e gentil... "tens muito jeito para armar a banca"...
Sorri a pensar - ,só pode ser cortesia!
Apesar de ser a 1ªfeira do mês - faltou muita gente - nesta altura de verão os colegas apostam noutras feiras: Moita estreava-se,havia Belém e,...
A minha amiga apostou em trazer boas peças,mas onde estava a clientela?
Sente-se que o mercado baixou e muito, dizia um colega que no imediato reconheceu a minha amiga de outras feiras...Já lá vão 6 anos quem diria que o bom homem a reconheceria ...Dizia-nos " percorro o país todo, nas feiras da Guarda, Castelo Branco e Coimbra, fico numa casa que tenho na Beira Baixa (Oleiros) ,tenho clientes certos, ando nisto há 10 anos,  a Setúbal só venho uma vez por mês -, o cliente certo hoje já veio, deixou 80€, mas tem-me deixado aos 1.000€...Reforça aqui há muito dinheiro, gente que tem Montes por esse Alentejo, gostam de roupas, atoalhados antigos; a minha mulher é que negoceia, também compra,olhe agora um deixou aquele saco cheio para ela apreçar..."
Chegou-me a fome, petisquei uma das minhas sandes saudáveis entupida de alface roxa...
Passava gente com sacos e coisas pelas mãos a tentar vender que interpelavam colegas habituais que lhes compram a mercadoria, um trazia uma caixa aberta cheia de traquitana no selim da bicicleta, uma mulher bem madura fazia-se acompanhar de uma mão cheia de amigos e, nas mãos trazia um grande relógio, sem tampa no tardoz, mas pequeno era o relógio, e grande em demasia a moldura rendilhada  em gesso? Quase de metro,julgava ela que o vendia e, bem, azar todos o rejeitaram . Ainda vi o Rogério pegar nele e  de afogadiço mostra-o a colegas para o vender, mas ninguém lhe pegou apesar da pechincha, quem o queria ? Visivelmente mal vista perante a plateia, a mulher tira-lho das mãos, e desanda, por entre dentes diz " prefiro dá-lo a uma pessoa amiga"..-
Deixei-me no meu pensar a balbuciar, mas quem quer uma monstruosidade daquelas em casa  a rondar o desprezível, num calhar, nem a máquina se aguenta a dar horas certas, melhor será comprar um relógio nos chineses...O dizer de outra tal como eu a remoer o que se ouvia...
Continuei a  sorrir com o alarido no arraial da feira, dei corda aos sapatos, fui cumprimentar outro colega profissional de artesanato, mostrava-se na conversa satisfeito para ir para a feira do Estoril onde costuma vender bem. A minha amiga viu na minha banca uma aneleira da Fábrica Viúva A. Oliveira de Coimbra e disse-me logo "gosto muito desta fábrica " , claro que lhe a ofereci, as pessoas não conhecem nem mostram interesse, só reconhecem na maioria - Sacavém, sobre esta fábrica apenas querem saber o preço para avaliar as peças que tem em casa recebidas de herança, sem delongas confessam, quando se explica a diferença  do preçário entre - Real fábrica e  Estátua - dizem  à boca cheia sobre este último " é imitação"...Respondo apressadamente,imitação é nos chineses,estou farta de encontrar letradice à brava!
O Paulo Filipe com pena dum magricela esfomeado a rondar o seu estaminé na mira dele lhe comprar um quadro oval de flores e moldura dourada, deu-lhe uma moeda, quando  me levantei para esticar as pernas, para mais "dois dedos de conversa" disse-lhe" então sempre ficaste com o quadro?" -, inesperadamente ofereceu-mo por 5€ que rejeitei , no final da feira por não lhe caber no carro imaginem, ofertou-mo, este colega é assim,dá-me sempre muitas coisas,ainda me deu uma garrafa de cristal que lhe caiu ao chão e bostelou o gargalo ( valeu o empréstimo do meu caixote para fazer de mesa e não voltar a fazer estragos)...E a garrafa  com a rolha não se nota, serve para levar para a casa rural, o enfeite na cristaleira, em caso de novo roubo,levam "novo por estragado", tem de ser assim ,não corro mais riscos de perder peças que adoro, ainda me obrigou a trazer os cálices, pela manhã deu-me um prato de Sacavém...Porque lhe pus num post uma foto do estaminé  que lhe valeu vender algumas boas peças em Alcochete. Ainda me deu uma boa caixa azul com tampa, também não cabia no carro, no caixote do lixo deixou um quadro pequeno com gazelas, e uma pasta que em tempos de antanho foi de boa pele de cobra? Um ótimo homem e a esposa Clara não lhe fica atrás, gente muito boa. A minha amiga começou por ver a sua banca assediada de gente, trazia umas peças de outra amiga, um prato pequeno com uma cobra em verde e amarelo do discípulo de Bordalo Pinheiro, Cunha que acabou por ser vendido por mim, enquanto ela se estreou na venda de duas mostardeiras: VA e outra Sacavém, esta mais pequena oval, graciosa à D. Ana que a vi pela 1ª vez nesta feira, confidenciou-nos que nas últimas duas feiras da ladra fez zero...
Não ficou com os bules de caldo apesar do preço especial porque tem o batizado do neto por sua conta , 4 anos , neste agora vive a ralação de não estar abençoado pela casa de Deus, coitada  além de ter de pagar a sala, os comes e bebes e lembranças, o orçamento previsto acaba por ser muito mais, e o dinheiro não chega para tudo!
Arrependi-me de não comprar a preços dados umas peças de latão com uma alavanca que me transportaram voltar à infância; eu e a minha irmã ajudávamos o nosso pai a encher os cartuchos de caça, com uma peça igual, fechávamos hermeticamente os mesmos com uma tampinha de cartão...E uma infusa de faiança com pintura floral em azul do norte, uma mostardeira Sacavém tipo caneca com tampa, tenho outra muito parecida mas em laranja, peças boas e bonitas aparecem, o problema é pensar em prioridades, e a cada dia penso mais!
O colega do selos e afins arrumou na hora do almoço - nada o vi vender, o sol forte que se fazia sentir inesperado depois do tempo encoberto, o inimigo para o produto da banca.
Dei aula grátis sobre faiança... Perguntava-me um forasteiro jovem acompanhado pela mãe..."os pratos tortos, são 2ª escolha da fábrica, por isso não os marcavam"...Mostrei vários tipos de pratos em faiança, expliquei a textura e grossura da massa, falei dos esmaltes,da pintura manual e estampa, e até das várias fábricas, absolutamente a zeros nesta matéria, agradeceu gentilmente a aula prática!
Arrumava a banca, chega-se um freguês com um saco , dentro dele pratos com decoração chinesa,aquela gostei francamente...Dizia-me "comprei-os baratos, quero esta sua chávena mas acho que está cara" que lhe a dei quase dada...Na verdade estava farta dela ,não aprecio alguns motivos em verde de Macau , no caso o bom homem rematou , é para usar!
Dei "dois dedos de conversa" com a brasileira que vive com o Rogério, coitada da pobre mulher, umas pagam por outras. Compatriotas novas enfeitiçam alguns portugas - "esminfram-nos até ao tutano", outras com mais idade passam "as passas do Algarve" com homens calculistas que só pensam na aposta de ter mulher para tomar conta das lides da casa, deles, e ainda no caso de serventia na feira, só paga se fatura, mas fatura sempre, e gorjeta baixa, coisa de 15, 20€ de vez em quando,a pobre mulher, sensível, humana, e nada limitada, tem de se aguentar a viver na casa dele, no dizer dele: "não pagas renda, nem água nem luz e comes da minha comida"...Desabafos sofridos, ainda falou dum filho que "maldita a hora que o chamou"...Horas de interromper para atender a um cliente...Ainda disse " estou farta, em dezembro vou-me embora para a minha terra"!
Euzinha vestida de laranja - gira apesar do cabelo para pintar - desta semana não passa!

Quem apareceu na feira ? O meu amigo LJ, em dia de trabalho atravessou a  feira para  tomar o pequeno almoço, acompanhado com um colega...Boa surpresa, há que tempos não lhe punha os olhos em cima, continua bonito, gentilmen,de boca carnuda, talhada por Deus, um amigo de verdade que conheci com 50 anos, tinha ele 39, nas Novas Oportunidades. Outros bons amigos conhecidos nesse tempo que ainda hoje recebi e-mail de outro não menos querido, Arnaldo de Moncorvo, dizia " Estamos à sua espera, do mesmo modo que se espera o familiar que foi para o Brasil... e não conhecemos. Só sei que chega dia 13, normalmente a partida é sem pressa. Vai gostar e além de autocarro para o Porto, temos o comboio todos os dias no Pocinho, não tenha pressa."
E não vou ter, de volta quero vir de comboio, sei que vou adorar voltar a Trás os Montes e atravessar o Tua!
Na TV vejo no momento desta compilação a festa em Santo Tirso, fiquei de água na boca a ver os Jesuítas; doce típico que provêm de Bilbau (?), o pasteleiro que  passou a receita, há mais de 50 anos falava espanhol...Eu a julgar que seria receita antiga dos  mosteiros que a terra se orgulha de ter ou, do tempo em que a Quinta de Cima em Chão de Couce em Ansião ( a minha terra adotiva)  foi pertença por duas vezes desta terra  do Ave -, puro engano, já comi os famosos da Pastelaria Moura, a dona  senhora simpática e de conversa afável, uma confreira. Acredito vou comer um, ou mais daqui a dias, acredito ou não...A massa folhada é do melhor, estaladiça a desfazer, o creme divinal, e o glace de açúcar na cobertura não há igual, como se deve comer para não se perder nada? Separa-se ao meio, vira-se a parte do glace para dentro,depois é só trincar e, saborear...Quem me ensinou? Outro grande amigo da terra JM.
Bom proveito para os que hoje os provam, e saúde!
De volta tinha o e-mail de outra minha homónima feirante..."obrigada pelas simpáticas palavras. Não é por acaso que houve empatia entre nós logo de início.Adoro o teu sentido de humor e a tua maneira de estar e de ver o mundo...Acredita pois digo com a maior sinceridade.
É nestas ocasiões que confirmo a minha opinião acerca dos nossas feiras de velharias pois antes de mais podem ser verdadeiros encontros de amizade e de partilha de conhecimentos e experiências.
Então não sei!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Concretizar sonho antigo de uma amiga em voltar a ser feirante...

Na cabeça da minha amiga homónima,  há tempos com o" bichinho carpinteiro a roer" de voltar a ser feirante,   e de a ajudar a concretizar o sonho, num  sábado na feira de Setúbal. Na auto estrada um Ferrari cor de prata,  e um Jaguar, o meu carro de eleição. Respirei com satisfação. Boa surpresa matinal dava esperanças para um bom dia. Cheguei ao destino e ela foi pontual.
               
Ao arrumar a minha banca premeditei deixar espaço para ela expor peças finas: três bules de caldo ou bicas: dois de Coimbra e, um Miragaia, igual fabrico do areeiro, tons de azul sobre esponjado liso, colherzinhas, coleção de copos termais de vidro, almofariz e,... na colcha vermelha na calçada havia pratos Sacavém da Real fábrica e Massarelos: verdes, cinzentos, castanhos, e outro com o último carimbo de fabrico vermelho vivo - emblema do PCP - e, chapas de Seguros, brindes, abre latas, candeias, e um candeeiro antigo sem pé, livros, uma colcha de seda, naperons em brocado, disco da Amália, cofres: Montepio e Crédito Predial, verónica em passemanaria, e uma linda taça oval de Sacavém com pegas em dourado, e silva verde em estampa na aba de dentro - enfeirou a bom preço num colega - onde eu deixei ficar um belo prato do Raul da Bernarda, mais tarde voltei, tinha sido vendido...tolíssima!
A feira para o meu lado não correu nada bem. O mesmo não se passou com ela - não foi nada má - sendo que se estreou, vendeu algumas peças.A meu pedido o meu marido ficou na banca para eu fazer a minha habitual ronda de visitas aos colegas - a quem a apresentei - nisto vinha o Santiago, diz-me..."mas eu conheço a tua amiga" - batido em feiras de norte a sul - foram colegas num passado recente com mais de meia dúzia de anos...lindo o gosto de os ver recordar tempos de antanho..dizia-lhe " a cor do teu cabelo é verdadeira...a tranchinha fica-te a matar ". Houve outros que me perguntavam se era minha filha, outros ainda se seria irmã...ela própria - julgava que éramos da mesma idade...seria bom...tenho mais uma década, ao que surpresa responde..."mas como, se os meus pais na casa dos sessenta e picos não tem  o vosso estar bem disposto ( eu e o meu marido)" e,...pois ambos parecemos muito mais novos,  isso claro agrada-me, de que maneira!
Na banca do Paulo Filipe enfeirou um diploma da 4ª classe e,...ele na sua primeira vez vestido de chapelinho preto raiado de branco - estava um espanto -  a presenteou com umas esporas e um diploma de batismo,  a mim deu-me "um cozinheiro" carantonha de chapéu alto de pendurar. Doido de satisfação estava com o novo "brinquedo"...o nome que se dá a uma nova peça na banca - um grande relógio em redondo de madeira com o mostrador repleto de bostadelas... acabadinho de mudar de dono - pergunta-me " achas que ele se segura aqui?"  - o aqui - em cima de um rádio apoiado em dois pesos  de formato hexagonal ...a pergunta fez-se a pensar no vento que de vez em quando presenteia  na desgraça - todos nós - expositores de rua. Na banca de chão do Rogério - seu conterrâneo beirão - ali o soube, deu-lhe gozo procurar ferramentas que comprou várias, a preços incríveis: turquês; peça para cortar azulejo;chapas antigas de ferrolhos para portas de interior, um estribo e,...para trabalhos manuais da sua arte - enquanto eu me deliciei por duas argolas onde se prendiam as bestas nos muros das casas, ainda um grande garfo que me fez lembrar as mulheres  nas feiras de Ansião de antanho junto ao Clube dos Caçadores de volta da fogueira, nela a sertã de ferro retangular de abas e bicos nas pontas , fritavam no azeite quase a esturricar peixe do rio por causa das espinhas que se comia sob papel pardo com a mão....agora no mercado ao sábado ainda as vejo. Ainda  noutra banca ela comprou um berbequim manual muito pequeno, uma sovela de sapateiro e, brindes com brasão.Na banca da Maria José, a que eu já chamava Maria de Jesus, comprou dois souvenirs de Alcobaça - eu comprei um candeeiro de latão e uma tacinha minúscula com pratinho em vidro que em abono da verdade não sei a sua serventia...seria para doce(?), ela disse-me que a mãe dela a usa como candeia com azeite e pavio de algodão para alumiar os Santinhos...na banca do Sr Peres encontrei uma bilha de segredo em barro preto com pintura em picotado tipo " estela de ardósia da pré-história", ainda um prato de vidro que só eu sei...tratar-se de fabrico VA -  fundo repleto de picotado fino caraterístico, ao meio um casal de meninos em relevo envoltos em grinaldas de flores...só tem um falha pequena no rebordo - compras ficam para mim, claro!
Passei o tempo em Setúbal a dar explicações - bules de caldo e areeiros - só apareceram duas senhoras que em casa de família, uma na zona de Portalegre,  os conheceram...porque na verdade sendo hoje peças raras - indiciam terem sido adquiridas noutros tempos por gente de posses - na família do meu marido havia um bule de caldo proveniente de uma herança de um padre, o 1º que conheci em azul, mal pintado - possivelmente fabrico do José Reis de Alcobaça, mais tarde adquiri um de Coimbra, muito delicado o seu fabrico e pintura fina - uma loucura o preço - dizia-me a antiquária na Sé de Lisboa que o vendeu..."se não o levar, vai para casa de um embaixador, a esposa tem uma coleção deles"...sobre o areeiro ninguém sabia a sua real função...nele se punham as penas ( canetas) a escorrer de tinta para a areia que tinham dentro, função que lhe ditaria o nome porque haveriam de ficar assim conhecidos - pela raridade são de facto peças caras chamadas de coleção - amei o estatuto de falar sobre um tema que deixava todos de boca aberta sobre peças delicadas na maioria só naquele dia vistas pela 1ª vez nesta feira. Extraordinário orgasmo intelectual para alguns que me ouviram - asseguro - e,  para mim igual no papel de comentadora...então e as fotos? a máquina nova sofisticada avariou na ótica ...foi arranjar, veio boa, tirei as fotos, depois voltou a não abrir para as passar para o computador...
O meu marido foi um bom companheiro e cicerone - com ela partiu em demanda mostrar a cidade que ela não conhecia - levou-a ao rio, ao mercado e ao centro histórico. Adorou tudo, sobretudo o colorido do mercado, desde as frutas, comprou cerejas da Gardunha para ela e para mim, tirou fotos ao peixe  - grande cherne - porque espadarte não havia...não é a época, fascinada com a   frescura e variedade de peixes e mariscos - delirou  - fartura de hortaliças verdes,  frutas, e buliço das gentes no vaivém ...
Uma grande perda a grande parede a sul revestida a azulejos tivesse ruído há tempos...tão emblemática, espero que consigam reconstruir o painel...seguramente ele esqueceu-se de lhe falar, sei que iria gostar.
 
Levo sempre a minha lancheira, os dois foram almoçar uma sardinhada regada com vinho tinto e ainda saborearam um moscatel da região.Encantada com a arquitetura e monumentalidade, o seu coração parecia explodir de satisfação, eu feliz -  igual - por ter proporcionado um dia diferente.
Cansada. Calcorreou a feira algumas vezes, a cidade nem se fala, esteve de pé na banca, ainda solicitações  - deste e daquele - vendas, compras, conhecer gente, urra, foi um estafeira...daquelas!
No seu íntimo desejava  voltar ontem à feira de - Alcochete. Debalde o cansaço das pernas, atraiçoou-a. Eu fui. Continuo a dizer que detesto a acessibilidade, apesar de irmos mais atentos, fomos de novo traídos pela má sinalética em S. Francisco. Encontrei feirantes na sua 1ª vez, e outros que por motivo de remodelação da feira de Pinhal Novo e da restrição de produtos de venda sujeitaram-se a participar aqui - Aroucha, e esposa D. São e,...vi o João de Azeitão feliz,  na véspera depois de sair da feira de Setúbal passou no café onde vendeu a registadora e o quadro...logo de manhã vendeu a enciclopédia que trazia. Cumprimentei o Sr António(GNR),o Sr. Carlos e a esposa D. Lurdes,  o Paulo e a esposa Natália da Baixa da Banheira, a Isabel de Carcavelos, o marido Rogério e a filha linda - trouxeram o amigo António (  homem  garboso de cabelos alvos que na última feira confundi com o João de Azeitão, o Cristo, e na lateral com Richard Gere...), ainda apareceu a Zélia e o marido João, a D. Guida e o marido Machado...e, mais colegas claro!
O bombeiro  da organização só chegou às 8 para a distribuição dos lugares, fiquei no mesmo sítio, à frente do  Santiago, tal e qual como da última vez.Montei a banca, fui lavar as mãos - mulher prevenida levei sabonete - pior a Maria de Lurdes que ao abaixar as calças de linho ficaram manchadas de lixívia...quando se lava o chão deve ser limpo e não ficar empossado...porque tiveram de assumir o prejuízo. Passei na banca da Carla - ainda tinha o  prato cantão popular , iletrice chamar-lhe Miragaia - até doí - no caso fabrico de Aveiro , textura grosseira - na última feira quando lhe comprei outro em faiança fazia-me 2€, esqueci-me de voltar  na parte da tarde para o comprar - ontem, disse-me que não...devia ser confusão minha ...fazia 5 €...há qualquer coisa estranha nesta colega ...ainda por cima não é credenciada, e devia!

Quem veio à feira - Maria Policarpo, com a sua  linda mãe - senhora de boa silhueta de fazer inveja a nós um nadica para o gorduchooo...apresentou-me também o marido -  sentado no banco fazia espera da conversa acabar com o Paulo Filipe - as palavras são como as cerejas - recordar  memórias de objectos de antanho, e o fascínio de os contemplar - hoje de volta - a nossas casas.
Falou-me que a sua mana adotiva - Cíntia estava fora - ( de Alcochete) -  a namorar...
Trocámos fraterno abraço muito afetuoso que só gente doce  e de bem, sabe assim dar !
Pouca afluência. Arranjamos sempre desculpas para as poucas vendas. Havia festejos no Montijo, garraiada e ainda de tarde o programa da Leonor Poeiras em direto na TVI...muitos colegas queixosos, alguns não se estrearam, e outros pouco faturaram, o Paulo Filipe foi a exceção...começou por vender uns livros, depois duas malas: uma em cartão e outra mais moderna, sendo assim antiga art decó, uma floreira pequena de madeira para suporte de vaso e uma lata...de tarde vendeu o tal relógio.. não se ficou por aqui, acho que tem de me começar a pagar comissão ...a minha intuição aventa que alguém (?) viu a foto do seu  estaminé postado sobre a feira de Alcochete neste blog ...apareceu um senhor para comprar ao fim da tarde um rádio, e ainda o pote grande em lata pintado de verde claro -  guardador de azeite. Apesar do azar teve sorte com o vento que se fazia sentir no encher da maré...partiu um prato grande em esponjados de Aveiro, de manhã foi a chaminé de um candeeiro a petróleo.O Paulo Filipe é como eu - mal fatura gosta logo de fazer compras - comprou duas estatuetas do símbolo religioso da terra - Padre Cruz - um vestido de chapéu e o outro não - também um lindo relógio com ponteiros - ao meio a interceção da Cruz de Cristo - abaixo da porta uma vidraça em cristal lapidado ornado a fios de latão - vaidoso pô-lo na banca em jeito de altar, não suportou uma rajada de vento, caiu, os estragos foram mínimos...deu-lhe mote para arrumar, o que fez num ápice!
No final da tarde apareceram mais pessoas, vendi um suporte de madeira para uma vela...de manhã vendi dois livros e um garrafa em inox para o brandy, no caso para um caçador levar nas caçadas. Apareceu-me uma senhora que gostou muito de um prato de faiança decorado com um moinho, dizia-me " é ratinho?"...respondi não, é faiança de Alcobaça ...poisou-o logo - não consigo enganar ninguém - por isso pouco vendo, ao contrário daquilo que vejo - e oiço, e não devo comentar - quer clientes, quer colegas sou amiga de ambos, não gosto de conflitos...alturas que me sinto indisposta, porque na verdade apetecia-me abrir o jogo- esclarecer que são bem enganados, "impingidos" no engodo da mentira -compram "gato por lebre"!
Conheci uma colega nova - Joana - tem um antiquário no Alentejo. Pena fiquei de não ter faturado - teria na sua banca comprado um par de jarrinhas em azul bebé com lavrado em relevo branco - porcelana inglesa,  Wedgwood - além de outras belas peças em cantão a preços simpáticos.Deixei-a, e logo o Sr Carlos me chamava para a sua mesa onde almoçou feijoada com outros colegas. Bebiam moscatel fresquinho, ofereceu-me, claro bebi.
Depois do almoço a minha amiga homónima liga-me...disse-me..."gostei muito da feira, de ti e, do teu marido, foste muito simpática...estou é cansada, mas quero voltar..."
Havia fogo...ao longe via-se a fumaraça negra , naquilo nos céus um grande helicóptero amarelo com o balde a baloiçar...
 
Tomava ares de iodo a mirar no horizonte a nossa Lisboa  com véu de neblina quando vejo passar um casal com um neto crescido , dizia ele   " vejo uma taça que era  minha, eram duas "  entretanto olhava eu para ele a interrogar-me de onde o conhecia...mal ouvi o comentário levantei-me da cadeira e disse..como está o Sr, há que tempos não o vejo nas feiras...diz-me " andei 40 anos, deixei-me disto, já não dava nada, ainda agora estive a falar com o Carlos a que deixei o meu lugar em Estremoz e Paço d'Arcos dizia-me o mesmo, só fez de manhã 25€..." respondi -  foi a mim que ele vendeu este conjunto em "casca de cebola"  - garrafa de água com pratinho e copo para a mesinha de cabeceira...
Acrescento, sabe comecei por o deixar de ver na feira da ladra, depois a última vez que o vi foi na feira de Algés...visivelmente feliz pela minha memória certeira falava "a senhora nem imagina a satisfação que me dá a ouvi-la falar, o meu neto que vive na Holanda adora estas coisas... fico feliz por ouvir as suas palavras" ...continuei no meu relato... estranhei mais tarde, precisamente em Algés ver as suas peças de faiança que conhecia todas, nunca tive foi dinheiro para as comprar - limitava-me a admira-las nas feiras - isso bastava-me... até cheguei a idealizar um dos pratos todo pintado a cravos vermelhos na parede da minha sala..." agradecia-me emocionado"  - continuei o meu relato - deparei com as suas peças de faiança na banca do Vitor Fontinha, só consegui comprar as taças...dizia-me "esta esbeiçada fui eu que a parti, comprei-nas numa velhota de Nisa" ...pergunta-me " e não comprou nenhum dos pratos?"...
- sabe, de regresso a casa vim a pensar neles  convicta que na feira seguinte haveria ainda de restar algum até porque o preço da unidade era de 50€....diz-me "vendi-lhe tudo barato..."
Debalde não os voltei a ver na banca do Vitor, no sábado seguinte já tinham sido transacionados para as "Paulas" - os vi numa feira da Avª da Liberdade pela última vez. Trocámos palavras amáveis, perguntei-lhe o nome - João Porfírio . Ainda tive tempo para lhe falar da minha caturrice em tentar perceber a origem de fabrico, e mostrei-lhe naquela que foi a sua taça "ratinha" - na 1º impressão aventei ser fabrico de Coimbra, e agora inclino-me para a OAL no tempo de Manuel da Bernarda, expliquei os pormenores das diferenças: terminús da aba, tipo pega, vidrado apresenta-se partido, e cores novas - laranja ...visivelmente maravilhados por me dedicar a estes detalhes a que ele confessa gostaria de ter feito no passado, e por razões várias não fez....estavam deliciados a olhar pela 1º vez para pormenores de faiança ...
Emocionada estava eu de fazer sentido ser teimosa, e no mesmo contexto reencontra-lo, e tanto com ele conversar e sorrir. Despedimo-nos com beijos perante os demais, estranhamente perguntavam ao meu marido " mas a sua esposa conhece o Porfírio?"
 - bem, para ela estar a falar tão entusiasmada, é porque deve conhece-lo das feiras...
Na banca da Zélia encontrei uma caixa guarda-jóias - parte de baixo tipo hexagonal em azul e a tampa branca pintada com o brasão das Armas de Portugal - tinha o carimbo verde tipo trevo que indica peça limitada da fábrica Sacavém...linda!
Fazia-se hora para arrumar...a pedra de madrepérola do meu anel foi-se e não a via...corremos o olhar sobre o relvado, o caixote do lixo, a calçada e,...nada de aparecer, até rezei o ritual para a encontrar
" apareça o diabo sem cabeça"...dizia o Santiago para me acalmar..."escolhe outro aqui"
 - não quero, gosto é deste...
 - acalma, quando arrumares tudo ele aparece!
O vento fazia-se forte - enervava - deu-me mote para puxar os caixotes e começar a empacotar, no final  a pedra não apareceu, ainda andou a Zélia e a D. Guida  de novo de olhos no terrado e nada ...
No entretanto de arrumar a tralha no carro vejo que a D. Guida acabou de se estrear no final da feira - felizmente!
Em casa ao despedir as calças sinto o barulho de algo a cair no chão...era a pedra do anel...o pior não sei o que fiz ao aro...doida ando noutra correria!
Dizia-me o meu marido..."quando foste lavar as mãos o Santiago foi-se embora, o velho , colega de ofício estava farto...deixou-te um beijinho - ainda me disse...não a chateias por ela ter perdido a pedra, sabes que ficamos sempre a perder com as mulheres..."
Em sorriso solto o meu marido dizia -me - quando estiver com o Santiago vou contar-lhe que estava certo!
Confesso - fiquei a pensar nos piropos logo de manhã ...a minha camisola amarelinha tinha sido mote para galanteios..."a menina hoje vestiu-se com o milho da eira" e,...da boca do Santiago " vens muito gira, a minha mulher também era..."
-  O Santiago e os seus impropérios!
Escolhi as sandálias a condizer com os brincos , e uma das cores do colar...imagine-se se tivesse a veleidade de soltar os cabelos e abrir o sorriso...certo arranjar noivo de ocasião!

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