quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Feira de velharias na Praça Velha de Coimbra

Há anos que não frequentava a feira de velharias de Coimbra, o tempo ditou o passeio porque estava por terras da aba de Sicó.Demorei horas a falar com os colegas na sua maioria meus conhecidos,outros apenas de vista. O João de Mafra arrumava a banca , a sua 1ª vez nesta feira confidenciou-me a burocracia de ter de aguardar pelas 9 horas para abancar, trazia uma bela cómoda de pau preto, alta com torneados nas quinas e belas ferragens, o primeiro gavetão fazia de escrivaninha tal o número de gavetinhas...amargurado se sentia por não ter sido flexível por causa de 30€ -, a deixou de vender na feira anterior...encontrei o Joaquim, homem loiro divorciado que conheci na feira de Tomar, voltei a estar  com ele em Pombal - Carlos de olhar triste e apático, nas mãos livros de filosofia nostálgica aprecia leitura constante, tinha um belo prato de faiança de José Reis Alcobaça com pintura minimalista finais do século XIX - dizia-me " é Vilar de Mouros " a sorrir no meu jeito de DIZER AS COISAS, no caso  sem  quaisquer dúvidas que estaria certa na minha atribuição, pedi-lhe amavelmente para o fotografar.
Pena fiquei de não ter trazido a enfusa de Cantão Popular...ao meu marido perguntou quanto dava por ela, depois a mim pediu uma exorbitância.  Conversei com o  Sr João de Oleiros e da Amadora com a esposa Maria de Jesus, vendem loiça e linhos antigos  - ainda me perguntaram se tinha trazido os caixotes...no Sr Manel e esposa Helena da Batalha comprei uma braseira de cobre para usar debaixo da mesa no almoço que ofereci para oito pessoas no domingo - os meus compadres e os pais da Odete.Fiz uma boa canja de galinha cozinhada ao lume em tacho de barro servida em terrina da Cesol de Coimbra, cataplana de alas de maruca, tamboril e camarões ,fechei com fondue de chocolate e variedade de frutas e claro velozes de abóbora, arroz doce, pão de ló, bolo rei - ela trouxe molotof.



Conversei com o colega obeso de Seia cujo nome esqueci e não consigo relembrar - simpatiquíssimo neste dia ao invés do carisma nefasto e azedo da última feira em Tomar no final de verão - sei agora que é bipolar - só podia! Tinha como sempre na banca belos exemplares: uma bacia e um prato de Estremoz ; Fervença ; Darque; Coimbra; Alcântara e,...
Havia noutra banca belos exemplares  e grandes de Cantão Popular, uma malga de Miragaia e outra faiança interessante. Numa banca que desconheço o vendedor havia peças muito boas e de Fervença  como este prato - aliás em melhor estado de conservação do que o apresentado.

Este prato que vi há tempos neste meio blogista, e tive dúvidas da sua autenticidade por apenas haver uma única foto do mesmo. Desta vez tive um na mão, as cores, o esmalte, o brilho é inigualável - e, sem dúvidas atestei ser essa a sua proveniência - Belo exemplar pelo preço com desconto de 400€!
Se nessa altura ofendi com o meu comentário CONTRADITÓRIO confesso tal  propositura foi sem intenção - mas sinto devo pedir desculpas ao dono do exemplar, e a quem o postou.
Outro exemplar de Fervença
  Havia na feira muita qualidade de artigos  a preços insuportáveis!

Fui matar saudades ao Nicola na Ferreira Borges recordar tempos de infância - em que o empregado dizia para a minha mãe " e para a menina o que vai ser?" desforrei-me a comer um bom bolo com chantily e um salgado maravilhoso sem gordura e muito fresco. Perdi-me nas montras da Briosa mas acabei por enfeirar bolos artesanais numa camponesa de avental com a pucieira de verga cheia de bolos de Ancã e merendeiras de passas a fazer lembrar tempos que as via pelo mercado - agora os vende ás escondidas nas escadinhas de acesso à Praça Velha antes dos sanitários.Ainda comprei um ramo de geribérias amarelas com azevinho para o meu oratório.
 
Remato com esta foto em frente da Igreja de Santa Cruz...cuja fachada em pedra de Ancã desfalece a olhos vistos com a erosão - euzinha de botas abertas à frigstone - termo por mim inventado há 30 anos! Achei piada ao homem fardado e medalhado na quina do portal, vi outro assim igualzinho no Funchal há anos...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Vivências no correio velho de Ansião

Prédio onde funcionou pela primeira vez a Estação de Correios em Ansião

A foto mostra a minha querida mãe à porta do correio velho, onde começou a trabalhar nos últimos meses da minha gestação. No dia 4 de maio de 1957, após um turno da meia-noite, de regresso a casa com o meu pai, à ladeira do hospital, foi acometida com as dores do meu parto. Passados 8 dias de licença voltou ao trabalho, deixando-me aos cuidados da minha avó Piedade e criadagem da sua padaria. A Ti Angelina de Albarrol, de belos olhos azuis, acumulava a venda do pão, de cesta à cabeça, com o papel de ama, na incumbência de me levar à aleitação, ao correio, pelo Beco do Ensaio. Ainda menina, de tenra idade e inocente, fiz o turno da meia-noite, na companhia da minha mãe, deixando o conforto da lareira, da televisão e, do aconchego da pele de bode, de pêlo comprido, tingida de laranja, trazida do Alentejo pelo meu avô Zé Lucas.

Finou-se a vida laboral árdua, com a chegada da informatização telefónica a Ansião, em finais de 1972, com telefone 24 horas, em vez das 8 à meia-noite.

A nossa tradição na ceia de consoada não fugia ao bacalhau cozido com couve asa de cântaro, no horário igual a todos os dias e ainda, em repetido repasto semanal alternado à Gomes de Sá. Agora a razão de se conferir ao fiel amigo, que aprecio, a pompa e circunstância de ceia da consoada, quando o Livro Mulher da Reader’s Digest pelo mundo ditava outras iguarias, ninguém me sabia dizer …Bem sei que os tempos eram outros.Nas mercearias só via as pessoas a comprar bacalhau do miúdo, do corrente mais caro, só poucos lhe chegavam, comia-se muita raia seca, recordo o ritual de o ver cortado ao balcão na faca de guilhotina . O rabo também se levava para fazer um bom arroz acompanhado com pataniscas ou bolinhos com salsa, cebola e pimenta. A agricultura é uma paixão, sempre gostei da horta: cultivar e colher. A couve deve escolher-se uma com o melhor olho, porque a geada nesta altura do ano não perdoa, mas, amacia os talos que os deixa tenros para a consoada; regados com bom azeite novo até limpar o prato, com o bom pão desse tempo de Ansião. A minha avó materna Maria da Luz, da Mouta Redonda chegava de camioneta, vestida de negro com cabanejo de laranjas nas mãos. Em nossa casa vivia atarefada com a fritura dos belozes de abóbora-menina, escorridos em papel pardo que salpicava a canela e açúcar amarelo. Escrupulosa, escolhia os mais bonitos para oferecer na fogaça ao Menino Jesus no dia de Natal. 

A receita dos Belozes
Coze-se à roda de um quilo e meio com sal e um pau de canela, depois de fria deixa-se a escorrer num pano uma noite, prensa-se com as mãos até tirar toda a água. No alguidar mistura-se com o fermento de padeiro  (15 a 20 gr) dissolvido no sumo de uma boa laranja ou duas, junta-se 3 ovos pequenos ou dois grandes, um de cada vez mexendo sempre, um cálice de aguardente , 100 gr de açúcar amarelo e 250 gr de farinha, menos, ou mais, consoante a textura da massa que deve ficar mole e de consistência rendada depois de levedada 2 horas, em local abrigado. Fritam-se colheradas de massa, ensopam-se do excesso de azeite da fritura em papel pardo e cobrem-se numa mistura de açúcar amarelo e canela. Prontas a saborear. 

Acabada a ceia da consoada, a minha mãe apressava-me para encher a lata de brasas e não esquecer as pratas dos maços de cigarros do meu pai para aguentar a braseira no correio. Mal chegadas cumpria o ritual de fechar a janela com a tranca grossa de madeira nas saliências de pedra. Fechadas, na roda da braseira, sem calças, ainda não se usavam, o calor deixava as pernas manchadas de vermelho – as chamadas “chouriças”…Por entre silêncios interrompidos pela manivela do PBX ou do manuseamento das cavilhas para atender os assinantes, ouvia estórias da minha mãe, vendo as brasas definhar ao jus de castelo de cartas, em total derrocada… Mal amainava o movimento telefónico, o gozo da nossa consoada com o taleigo aviado de casa; mão cheia de passas pingo mel, belozes, papos-secos com maminhas, chouriça ou lascas de presunto, miniatura de vinho do Porto e nozes; que partia com o peso da balança. A minha mãe usava o espeto de inox dos verbetes das chamadas locais …Bem “arresuadas” (termo calão da Mouta Redonda para barriga cheia) balbuciava-me oh Belita já estás a chamar o Manel da Silva; imagem alegórica a um criado dos meus avós da Mouta Redonda “ tinha o hábito de passar pelas brasas em vez de tomar conta do leitão deixando queimar as orelhas…“ Havia de ficar associado à chegada do sono na criancice da minha mãe, continuado nas suas filhas, neta e bisnetos…Num virar de olhos já tinha montado a cama no chão, paredes meias com o cofre vermelho e frio, em colchão improvisado com a mala das encomendas, abafada nos velhos cobertores garridos dos saudosos tecelões do Avelar, trazido da herança da minha avó Maria da Luz. Pior, eram os odores fortes das malas do correio, da corticite da cabine telefónica, do soalho velho esfregado, da braseira ou do arquivo…Música melodiosa, a embalo do meu doce sono ao som das duas cordas do relógio da Reguladora, até acordar sobressaltada para voltarmos para casa, ficando em espera ao rebate da porta, até o relógio da igreja dar as badaladas da meia-noite. De braço dado a dividir o frio e o medo, em passo apressado, sem se vislumbrar vivalma em ruas vazias e pouco iluminadas. Ao Ribeiro da Vide a penumbra dos plátanos onde por vezes havia acampamentos ciganos ou no barracão da Cerca da Misericórdia. Apaziguava a fé na reza; eu vou com Jesus, Jesus vai comigo, quem vai com Jesus não tem morte nem perigo.

Mais uma vez o progresso acabou com o bucolismo da braseira ao ser substituída pelo grande aquecedor de barras a óleo…Em 1969, enviaram presentes para os filhos dos funcionários, sem a destrinça de serem para  "menino ou menina" … A grande bola de plástico em gomos coloridos e uma girafa amarela de manchas castanhas e corninhos. Em 1969, a minha mãe encomendou a prestações o Cabaz de Natal que chegou numa grande camioneta à nossa porta. Grande caixote deixado na sala de visitas  logo aberto e logo fechado. Quando os nossos pais voltaram do trabalho ficaram estupefactos com o nosso entusiasmo  pela enorme surpresa e, felizes autorizam a abertura. sem sonhar que já sabíamos do recheio...fingidas  com  as grandes bolas azuis para enfeitar  o pinheiro bravo cortado nas traseiras do hospital da Misericórdia, onde a semente caiu farta, e dos vários frutos secos; caju que não conhecíamos e tâmaras, passas, licores, aguardentes finas, vinho do Porto, sumos e néctares - a Compal era uma empresa recente, com a marca  V5, chocolates, bacalhau, latas de fruta , goiabada, prendas para as crianças e,...Não faltava nunca o bolo rei encomendado telefonicamente nas boas pastelarias de Coimbra; Briosa, Café Império ou Internacional , na altura nenhuma de nós apreciava a iguaria. Escarafunchávamos o bolo todo para lhe tirar as frutas que nesse tempo não apreciávamos, só para encontrar a prenda... Já o meu pai encomendava às Caves da Mealhada ou da Anadia uma maleta em aparas de pinho pintadas a letras vermelhas, cheia  de bebidas espirituosas  Em prontidão ao encontro junto da farmácia, na praça do Município da camioneta do Pereira Marques, para receber as encomendas. 

Graças ao início da minha vida interligada ao correio velho correlacionei num dos livros de César Nogueira, que a residência do pároco de Ansião, após a República foi nacionalizada. A que juntei a informação do Sr. Artur Duque, sobre o Ensaio, construído em parte do celeiro com frontaria para a Rua de Trás, hoje Almirante Gago Coutinho. Desde sempre tive dúvidas sobre o Ensaio ter janelas para nascente para  quintal do correio e ainda haver 3 portas entaipadas para o mesmo Beco. Justificadas  com o conhecimento do prédio ter sido da paróquia; casa do padre e o celeiro. O padre acumulava o papel de procurador do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e no celeiro eram guardados os foros das quintas emprazadas para entrega em Coimbra. Tudo acabou com a extinção das Ordens Religiosas em 1834. Por altura da República estava inactivo, sendo nacionalizada, por vontade do povo cansado e revoltado à riqueza e poder da igreja, que não tinha olhamento às condições miseráveis em que vivia o povo .  

Ensaio, antes da requalificação seguido do Beco do Ensaio, sem ainda estar atestado na toponímia

                                            

A televisão incitava a escrever ao Pai  nas férias de Natal. Durante anos escrevi a minha carta onde pedia o meu presente, a minha mãe dava-me sempre o selo e logo a colocava na caixa vermelha ao lado da porta de entrada do Correio, despedindo-me com um beijo. Tantas esperanças na carta colorida com lápis de cor, em desenhos com arco-íris, balões e flores. Acredito que o Pai Natal não teria assistentes ao tempo, a correspondência deveria ser muita, porque nunca recebi resposta, muito menos presente. Com o passar dos anos, desiludida, abandonei a causa. Recordo de fazer com a minha irmã o presépio com musgo e fetos em cima do móvel da cristaleira na sala. Os bonecos de barro em cores fortes eram comprados na feira de agosto numa tenda encostada aos Paços do Concelho. A árvore de Natal foi colhida no tardoz do hospital, onde a semente de pinheiro caiu farta durante anos .Não perdia o Natal dos hospitais, que ainda se mantém. Como da reportagem no telejornal ao contingente militar no Ultramar. Todos em fila, a preto e branco, ditavam ao microfone votos de Boas Festas para as suas famílias; um proferiu propriedades em vez de prosperidades … O advogado, Dr. José Luís Antunes enviou saudações para a família e namorada que veio a ser esposa, a saudosa “Celinha do Vinte e nove”. 

Vivência de Natais diferentes - mas, de âmago, porém de coração inquieto, pela ânsia de ter nas mãos a prenda do Pai Natal…Pela manhãzinha, ao acordar na casa gélida, saltava da cama em corrida pelo corredor e só parava junto ao pial da chaminé para ter na mão a prendinha deixada no sapatinho que dormia ao lado da cama de cinzas ainda quente... Deleite maior sentir que o Pai Natal nunca se esqueceu de mim nem da minha irmã. Durante anos, acreditámos que descia pela chaminé com o saco das prendas às costas, por isso era limpa com o vassoiro de urze -o nosso pai, amante de grandes fogueiras atiçava o lume com ramos de oliveira, em labareda farta que a sujava de fuligem…Anos mais tarde surpreendi a minha mãe a deixar as prendas nos sapatinhos no pial da lareira... Desmoronou-se o meu sonho do Pai Natal... 

Em dia de Natal, aperaltada para a missa, levando nas mãos a cestinha de aro alto forrada a naperon de papel recortado a imitar renda, como a avó fazia em jornal para a cantareira. Na igreja, em lugar sentado a olhar o presépio de figuras grandes, montes e a gruta do Menino Jesus. No fim da missa, em fila indiana, gostava de o beijar  como agradecimento por não se ter esquecido de me deixar uma prenda no meu sapatinho. As fogaças eram leiloadas no final da missa, um ano a minha foi arrematada pelas filhas bonitas do Sr. Coutinho de Aquém da Ponte da Cal… Moçoilas e mulheres airosas me devolveram a cestinha com sorrisos …

A globalização chegou com o 25 de abril. Assistiu-se a uma mudança brutal no consumismo com demasiadas prendas fechadas em papéis coloridos e laços que se desfazem em segundos a entupir os caixotes de lixo…um caus para o ambiente e sua sustentabilidade!

Deixo os leitores ao embalo de versos da autoria da minha mãe:

Natal é a alma de um povo

Que festeja ano após ano, sem parar

O nascimento muito antigo, mas sempre novo

De Jesus, que nasceu para nos salvar!

Quantas noites de Natal e passagens de ano, Carnaval, feriados, na companhia da minha mãe ? Naquele tempo não me lembro de haver um assinante sequer que se lembrasse de telefonar para desejar "Boas Festas". E não pagavam, porque o sistema era manual . Uma noite como outra qualquer, sem troca ou partilha de afetos com os assinantes do dia-a-dia. Denota a falta de globalização e de cultura para se constatar a mudança brutal em poucas décadas. Hoje assistimos a um exagero de troca de votos em moda cansativa, desprovida quase sempre de sentimento, só porque se usa, é moda, faz parte...  
A minha querida mãe vestida de Pai Natal sob o olhar do meu painel de azulejos de Coimbra alusivo a 17.. e troca o passo...


Hoje, a abundância... mas, sempre a lareira a unir.


Desejo votos de Boas Festas para todos com muita saúde.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Feira de Velharias nas Caldas da Rainha

Há muito que pensava estrear-me nesta feira, uns diziam bem, outros nem por isso. No feriado de Nossa Senhora da Conceição só ao meio dia me lembrei que o era, talvez pelo dia ter acordado com imenso nevoeiro, batiam as doze badaladas quando decidi sair até à  Costa de Caparica, o sol esse maroto desperta nestes dias ao Funchalinho -, assim desta feita me brindou mais uma vez.Deparei-me com a feira de velharias - afinal podia te-la feito já que o meu marido teve de ir trabalhar, senti o ambiente muito fraco, poucos feirantes, a Maria José e a Olga convenceram-me a fazer no domingo a feira das Caldas - deram-me as coordenadas, a minha ideia era fazer a feira de Azeitão. Tive tempo para comprar uma minúscula mala de cartão com chave para a minha filha, um pires de vidro da VA e um copo "casca de cebola".
Regressei a casa satisfeita com as minhas compras. A minha filha veio jantar com o namorado ainda tive de ir às compras, passei umas horas na cozinha: fiz sopinha com couves que trouxe do lavrado da minha mãe para ela  levar, arroz de tamboril com carapaus de bigodes, ameijoa,  e sabor a coentros ( aproveito para dar uma dica  para o estrugido estar pronto a usar - quando tenho muita coisa no frigorífico( tomates, pimentos, coentros, cebola, alho, curgete...ponho tudo a estufar com azeite, reduzo a puré, e ponho num tabuleiro no congelador, passado um bocado ainda meio congelado divido o concentrado em quadrados voltando novamente ao congelador que depois vou usando à medida das necessidades. O  meu marido foi fácil de convencer para irmos às Caldas... pelas 4,30 quando acordámos foi hora de levantar, vestir, e tomar o pequeno almoço, saímos às 6. Há quantos anos não ia às Caldas...o centro da cidade está na mesma - no imediato apesar do lusco fusco do alvorecer o reconheci.O jardim tem várias entradas, contudo o portão de entrada para os feirantes faz-se pelo portão em frente da Fábrica de Faianças Bordalo Pinheiro, antes passei numa ruela estreita e íngreme ladeada pelos Pavilhões do hospital termal , um belo conjunto emblemático de casario alto em pedra que me reportou ao típico holandês .Tive a sorte de ao parar junto à câmara para perguntar a uma transeunte que passeava o seu cão se estava na direção certa , nesse instante ia a passar o zelador da feira que se dirigia para o jardim para abrir o referido portão - uma esticada e pêras tal caminhada sempre a subir!
Já havia fila de feirantes,  outros na rua de mãos nos bolsos em alegre cavaqueira a quem cumprimentei - um deles distingui com um sorriso, e disse - " estive consigo na feira de Torres Novas..."o Joaquim "cigano"...homem alto e moreno, gostou senti!
Só entram feirantes credenciados, havia uma -, a Fernanda  que não o sendo, e tal como eu a sua primeira vez nesta feira, pediu-me para abancar junto a mim e assim dividirmos o terrado. Os feirantes habituais assolam no terrado central, cada um ocupa o espaço a seu contento - os outros mais recentes dividem a rua de acesso aos sanitários ladeada de plátanos centenários tal como todo o jardim. Quanto a mim a Câmara deveria apostar mais nesta feira tornando-a mais apelativa por se tratar de zona turística da Costa Verde tão perto de Óbidos, Nazaré, Peniche e,...as  bancas deveriam ser todas iguais como a  Feira de Belém ou com toldos iguais como na de Évora ,e os espaços marcados. Apenas a zona central deveria ser o recinto de velharias  e nelas destaque para : antiguidades, velharias e coisas velhas de hoje sendo que na tal rua paralela deveria ser para o artesanato, roupas e móveis usados - Assim sim seria uma feira interessante e organizada para todos os gostos da clientela. Havia de haver mais publicidade para excursões  - seja a Óbidos que dista a escassos 3 km , S. Martinho do Porto, Nazaré e tantos outros bons e belos destinos ali tão perto podiam vir a ser um bom futuro para a feira se tornar mais apelativa e promissora para as vendas se a mesma fizesse parte destes roteiros turísticos. 
Não vislumbrei cestos de lixo, os desperdícios do meu parco farnel tive de os trazer de volta a casa . De referir os sanitários asseados e com papel, falta um espelho - sou vaidosa e gosto de me mirar...o jardim pareceu-me pouco cuidado - os plátanos deveriam ser podados a "talão", não faz sentido aqueles ramos esguios infinitos. O Museu Malhoa está implantado ao meio, paga-se 3€, não tive tempo de conhecer, ficará para outra vez, pois o mestre faz parte da minha infância de tanto dele ouvir falar - viveu no seu casulo em Figueiró dos Vinhos a escassos 20 km de Ansião , a sua  casa  sempre me pareceu de bonecas -, um chalet romântico com vistas para as serranias de Pedrogão e Pampilhosa de caras para o  jardim Bissaya Barreto com as suas cameleiras já seculares lindíssimas - devem estar a florir -, as conheço desde sempre e o jardim também!
A feira podia ter sido melhor, mesmo assim vendi alguma coisa, já deu para pagar o combustível e fazer mealheiro. Havia boas peças da OAL e Bordalo, caríssimas. Havia Faiança Miragaia, e Coimbra igualmente carrérrimas. Havia uma garrafinha cilíndrica com rolha em vidro da VA - o Sr Joaquim não estava na banca por isso não a comprei , acredito seria em conta, triste estou por não a ter trazido comigo seria uma excelente oferta de natal com ginja - a minha primeira feita em casa para obsequiar a minha irmã - tenho de arranjar outra, também fiquei triste por não ter comprado uma peça assinada de Coimbra - um defumador com 3 buracos - dada...onde tinha a cabeça? Para não falar da púcara de cevada em barro vidrado amarelo e respectiva tampa...ainda vi um belo móvel de sala que gostaria para a minha casa de Ansião...barato 300€, ficará para segundas núpcias, porque desta última feita mandei fazer uma porta envidraçada para o cimo da escadaria de mármore de acesso ao 1º andar de forma a casa se tornar mais acolhedora no inverno, também a pensar nas crianças que acredito virão um dia destes  - gosto e zelo pela segurança de todos.
Travei conversa com uma colega da minha idade, mulher signo Peixes que me disse - "casei por amor, nada tenho a dizer mal do meu marido apenas que me deixou...estive 29 anos sozinha, agora vivo com o H...tem 30 anos -, veja como me adora, não sai do pé de mim e da banca, faz tudo em casa, ainda agora foi fazer o almoço, trouxe para mim, aspira, faz compras, passa a ferro...não julgue que me juntei com ele por causa de sexo - é muito inesperiente, estamos às vezes um mês sem acontecer...ele é muito carinhoso, pergunta sempre como me sinto...porque tenho sempre muitas dores..."
Boquiaberta estava pelo seu relato nem questionei se havia preliminares que no caso acabavam com as ditas dores porque relaxava...mas como me disse que ele  era inexperiente, acredito ela supostamente também -, se somos da mesma geração atendendo à educação e adolescência vivida em ditadura não se sabia quase nada de sexo, nem a palavra era usada e assim falada...contudo é muito interessante pensar que mulheres desta idade hoje já param para pensar em mudar, interiorizam a ideia de que no amor tudo é possível com diálogo com o companheiro para passarem à prática as suas fantasias e desfrutar da  sua vida sexual com preliminares, ver filmes, usar brinquedos, o que lhes aprouver fazer - isto para quem quer ser feliz, sentir um orgasmo nesta vida - porque deve ser muito triste para uma mulher sentir que pariu e nunca sentiu um orgasmo - antes foi usada como um depósito de espermatozóides. Graças a Deus e aos Santos - se é que existem - quero acreditar que sim - estamos no século XXI e esta mulher inteligente que a vida não agraciou para estudar senti ser uma mulher sem preconceitos e clichés - uma mulher de fibra! Havia outra da mesma idade já vai no terceiro companheiro e com vontade de partir para o quarto sendo que o atual é mais novo 10 anos. Que mulheres!
O pior foi o frio que se apoderou dos meus pés - gelados todo o dia...
Vendi um par de brincos compridos a imitar ouro a um "cigano" que me ofereceu 1€ com a retórica - os fechos são um de cada cor...respondi na "ponta da língua" - olhe só vendo velharias estou a pedir 4 se quiser leve por 3, e levou, encantado ficou quando os pus numa bolsinha de voile transparente que fechei com tiras de seda...não sei se ficou mais encantado com o embrulho ou com os brincos...moral da estória - comprou os brincos para a sua amada - há poucos homens com esta envergadura!
Revi o Sr Henrique e a esposa Ilda a quem deferi um elogio - "não sei o que faz à esposa está cada vez mais bonita..." rosto cândido de cabelos curtos aos caracóis e olhos grandes em verde parecia um rosto das belas estátuas romanas - será que tem alguma costela após 2000 anos da sua passagem e vivência neste Portugal?
Falei com o Miguel do Beato , e o Sr João de Oleiros. Travei conhecimento com o Hector Castro que me comprou um pires de 1885 de Sacavém com florzinhas para aparelhar com a sua chávena. Longa conversa a nossa confidenciou-me que é um apreciador nato desta fábrica e desta feita algumas peças suas fazem parte do blog da especialidade por cortesia  - http://mfls.blogs.sapo.pt
Ainda me ensinou a dica para tirar a gordura das peças com água oxigenada - que sabia - não sabia o segredo...tem de ser a 60 volumes! 
Mostrei-lhe um pires de vidro da Vista Alegre explicando a sua origem - ele sabia que a produção do vidro se iniciou no Covo perto da sua terra - na zona de Aveiro , mas da VA não sabia e mostrou-se feliz por ter alguns pires em casa desta fábrica.Com a conversa esqueci-me de lhe mostrar uma chávena de coleção com o trevo verde de Sacavém...
 
Também travei conhecimento com um jovem magro que estava numa banca com outros jovens que conheço nestas andanças mui recentemente - vendem boas peças. Falamos sobre a fábrica de Alcântara , Cantão Popular e Vista Alegre.
Ao sair do jardim  para rumar a casa reparei que há painéis de belos azulejos  e casario Arte Nova que vale a pena ver e apreciar , por isso tenho de voltar!
Na minha banca o objeto mais visado - um pepino com uns 20 cm da fábrica Bordalo talvez pela ilusão de parecer um objeto fálico...

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