terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A feira de velharias na Expoeste nas Caldas da Rainha

Acordei com a vontade desenfreada em dobar as minhas memórias vividas no certame da Expoeste nas Caldas da Rainha no abrir em tom "sem medos" -, sinónimo de coragem  apanágio que comungo.Quis a sorte presentear-me em participar no evento pela mão da minha querida irmã, ao estar temporariamente a trabalhar na cidade me endereçou a publicidade alusiva ao evento, facultando hospedaria. Como chamada de atenção alerto para a deficiente sinalética na cidade, demorei quase uma hora no pára, arranca, e perguntas tipo: escuta e olha, e nada de ver setas de indicação ...num reboliço andei em correria desde as Termas, Centro Cultural, Praça de Toiros, Booling, Escolas, Continente, Moviflor até descobrir a ponte que passa por cima da linha férrea e em baixo no telhado do pavilhão vejo as letras garrafais EXPOESTE ...numa sexta feira com muitos carros e gente por todo o lado...seria tão fácil aos intervenientes auscultados dar a indicação mais assertiva da localização dizendo simplesmente - junto ao AKI...inegavelmente o melhor seria a instituição camarária ter a disponibilidade para providenciar as referidas indicações sinaléticas em falta, julgo mui pertinentes que muito honrariam todos os que aqui se deslocam no colmatar maçadas com tempo perdido.O que vi e não aprovei foi na rotunda da saída da A8 a GNR na fiscalização da carga dos colegas para auscultar se os mesmos estavam credenciados com as guias de transporte -, tarefa premeditada, e só por isso não me agradou, apesar de sempre privilegiar a lei. A receção no local foi praseirosa com a Ana Reis da Costa de Caparica, e a Susana que se mostraram no decorrer da inscrição atentas e expeditas no bom desempenho profissional que me deferiram.Também uma nota para o segurança, homem com idade, tantas horas de pé, sempre de sorriso franco e disponível. As casas de banho asseadas, com papel e produto para lavar as mãos, constantemente a serem limpas, e o recinto também.
A hora de abrir ao público fazia-se curta no arrumar do estaminé improvisado de chão. Em conversa com a minha mãe que me veio visitar,  a minha primeira cliente a fazer jus ao dito popular "para me dar sorte nas vendas" dou de caras com um homem parado em frente da banca que me parecia olhar para mim, e não lhe conferi atenção apesar da minha mente o seu olhar  martelar - num instante o questiono "não é o Hector?" sim era ele -, questionava-me a razão porque não lhe enderecei um email como me tinha solicitado quando o conheci na minha primeira feira no Jardim das Caldas...pois tive de ser sincera e dizer que o cartão que gentilmente me oferecera tinha deitado fora -, claro inadvertidamente, porque tal procedimento teimo continuar fazer na mudança de carteiras ...logo no preciso momento me deu outro -, reparei que é licenciado  e no e-mail que desta vez não esqueci de enviar rematou endereçado Boa noite Dra Isabel...devo esclarecer que não sou licenciada, terminei o 12º ano nas Novas Oportunidades num curso EFA de 1150 horas por ninguém licenciado na altura perceber que deveria ter feito um  RVCC, atendendo ao meu passado profissional... o voltar à escola foi o  mote de força e encorajamento para apostar na escrita pela mão de uma professora que no seu achar a catalogava como  queirosiana pela mesma denotar fartas memórias, poder de observação, sobretudo pela inclusão e riqueza dos pormenores com constantes devaneios com epílogos em perdas inusitadas nos enredos para me voltar a encontrar no fim das estórias ...confesso aos poucos estou a reaprender a escrever motivada por vícios do meu passado profissional na emissão de pareceres de crédito tipo mensagens , na realidade ainda não existiam nos telemóveis, por estar sujeita a  número restrito de carateres , sobretudo no meu querer de enaltecer o cliente e com isso ganhar as operações. Fazia uso e abuso do meu poder de sedução com o jogo de palavras nos pareceres que emitia para encantar (?) o analista de crédito -, enaltecendo sempre o cliente, fosse da sua faixa etária pelo engrandecimento que o mesmo daria na população residente existente no Balcão, do seu valor credetício, da  boa impressão resultado da conversa nas horas que com eles tabelava, sempre no intuito do maior conhecimento -, para conclusão, ilações de valia, e risco, na aposta das operações com margem de segurança, desvirtuando estigmas aparentes ou outros em jeito de ponderação, e bom senso, como ditam as regras, no equilíbrio da balança  prós e contras... 
Argumentos suficientes que no meu entender seriam abonatórios para ganhar a aprovação, no meu julgar fazia fé que o analista de crédito não o conhecendo, não lhe sentir o olhar ,- porque a proposta  lhe surgia no sistema informático aleatória e fria pelo historial bancário ( quase sempre fraco,paga juros quem não tem dinheiro) em abono de consciência sentia no meu ego serem fatores bastantes para o meu triunfo, acreditando na intuição do meu 6º sentido de mulher "que estaria mal disposto , teria dormido mal, a mulher disse-lhe que tinha dores de cabeça , virou-lhe as costas e...outras chatices" ...
Prazer mayor era viver nessa esperança em fazer nascer nele uma vontade de reler o parecer, voltar atrás, antes de reprovar a operação... houve muitos casos que telefonavam para tirar dúvidas, mas também porque de certa forma admiravam as minhas substanciais diferenças, comparativamente aos pareceres clássicos de outros colegas numa antítese quase total ...
Vivi momentos efervescentes de coragem e luta guerreira ao telefone numa batalha fenomenal - , eles no seu papel faziam perguntas tipo inspector, para ver se me contradizia , mentia, ou ocultava dados... 
Sei que adorava quando saia ganhadora, tal era o orgasmo inteletual que sentia, só possível porque sou lutadora em prol daquilo que acredito. Quem me via  neste palco atuar ficava roído de inveja pela minha tenacidade -, e não é falta de modéstia, antes obstinação no querer, honrar e saber da coisa (banco) para o poder defender o meu cliente! 
Claro na esmagadora maioria aprovavam as minhas operações, essa a verdade do meu sucesso. Com isso deixava os meus colegas gerentes num azedume de ciumeira e inveja...não enxergavam o meu poder na  defesa de comuns interesses fazendo uso prático da minha capacidade em ser uma nata sedutora para o Bem! 
Desculpem se me aproveitei e dei azo ao brio que ainda sinto em ter sido bancária!
 
Passo a transcrever o texto que me enviou na certeza que o Hector não se ofende comigo: Vamos deixar o “Dr.” de lado! Não ligo a este pormenor. Lá por ter um canudo, continuo a ser o mesmo de sempre. Inclusive o meu banco começou a enviar correspondência com o Dr. e pedi para omitirem. Reconheço que há pessoas que fazem questão e até sentem orgulho, mas eu não me incluo nesse grupo..." adorei esta franqueza sincera ,fácil é perceber que nesse meu tempo de bancária senti o mesmo - isto leva-me a recordar um colega que se licenciou à "conta do banco", no dia da licenciatura chegou-se ao balcão da sede e para desplante dos demais escreve uma carta a solicitar a inclusão da sigla DR nos cheques...ainda outra cena desta feita com um cliente quando telefonava fazia-se anunciar  "daqui fala o Dr Ferroz" -, o Dr não tinha canudo, um simples técnico de contas num tempo que a profissão ainda não conferia tal  diploma...raro era aquele que tinha uma postura de zelo e bom senso sem hipocrisias de nobreza falsas, ao invés deste meu novo amigo, assim determinadamente o considero Hector! Já sabia ser amante fervoroso da Loiça de Sacavém. Nas minhas voltas de cortesia pelo certame encontrei três pratos que achei muito interessantes pela raridade na banca de outro amigo -, o Luís do Cadaval que me contou a estória deles...eram da Mariazinha cujo avô foi no tempo um dono da fábrica, para ela fazia pratos com o seu nome - não é o caso destes -, que se consta só terem feito dois serviços. A Mariazinha pela fartura  de menina mimada dava-se ao desplante no fim do jantar partir o seu prato e com aquela carinha de troça a sorrir dizia para o avô..."vovô amanhã tem de fazer um novo para mim"...mote que me fez lembrar um dos netos da família Champallimaud na viagem fim de curso do 12º ano em Loreto del Mar onde a minha filha também esteve fez-se constar que supostamente se dava ao desfrute de queimar notas de 50 euros nas mesas de café para demonstrar aos demais o seu poder...dinheiro que a maior parte não tinha, sendo que a algumas miúdas pagou a entrada nas discotecas...mia culpa, pagou também à  minha porque sempre lhe dei pouco dinheiro, e mesada nunca! Mas hoje colho os louros -, aos 30 anos é poupadíssima, comprou com o namorado a pronto a sua casinha em Lisboa.Claro,  durante toda a vida a ajudei e muito, sendo durante anos a minha única mulher a dias ao fim do ano lhe pagava e bem , dinheiro que nunca viu  a cara pois crescia na poupança !
Voltaria a encontrar o Hector na companhia de um amigo que conheço de vista e até de lhe comprar faiança em Tomar, com aquele sorriso aberto lhe diz " Vasco é a Isa..." , claro soltei um sorriso e disse, já o conheço...ao sair do recinto da feira na banca do corredor do meio estavam dois outros seus amigos, ao despedir-me deles oiço o mais alto a dizer para o simpático mas um kadito obeso "aquela senhora é ..."- esta uma das suas bancas, com artigos de luxo!
Tive o prazer inusitado de me calhar em sorte um lugar na exposição ao lado de um colega que não conhecia do Porto , de seu nome Manuel Peneda -, cavalheiro educado, simpático, pronúncia do norte, mui facilitador na inter ajuda com imprevisíveis arremessos de humor sarcástico à laia do Pinto da Costa e de estrangeirismos vividos na Suíssa, França, Marrocos e,...
O meu bom amigo Manuel Peneda - um homem de fibra do norte!
Adorei o seu power e fibra de homem com pronúncia do norte, mui inteligente, de bom intelecto e cultura literária numa idade invejável -, 71 anos, bem estimado de porte elegante ornado de belos cabelos alvos que lhe conferem o charme de um nato  sedutor  a fazer fé na conversa que estabeleceu comigo -, confidência de vários casamentos e uniões, um aventureiro que mal sentia problemas escapava-se em fuga...teria percebido mal(?) -,talvez por ser um "virgeano"... me admirou dizer que gosta de Lisboa, do sul, sendo um homem do norte, tal bipolaridade não deixa de lhe conferir um estatuto de bom vivan. Quis intervir a meu favor na indicação de um bom romance a uma senhora que se abeirou da minha banca, debalde a mesma redondamente disse que não apreciava, só procurava literatura sobre teatro ...prefaciando o seu comentário "ainda agora encontrei brochuras a 50 cêntimos numa banca que mandei guardar..." nisto pega num livro meu, cujo título " VARIA",  começa a desfolhar , achei que no seu ar doutoral para mostrar a sua intelectualidade remata " são cadernos sobre teatro que alguém mandou encadernar, abri logo num do Teatro do Trabalhador - O Hóspede Indesejado
... muito procurados para teses de teatro e,...em qualquer alfarrabista não o tirava por menos de 25 euros, estando marcado 2 € vou levar..." dei corda à minha propositura em tom suave e doce numa de virar a intelectualidade a meu favor - "ontem vendi outros de encadernação em carneira, ficou apenas este que o meu marido desvalorizou pela capa, e por lapso deixou ficar no lote dos demais mas o preço não é este"...fitou em mim o olhar, e disse-me " já percebi a sua sensibilidade vou deixa-lo de lado, quando voltar a dar outra volta se não estiver na banca -, o retirou para si, não me importo mesmo nada..."  foi o que fiz - nisto, o bom do Manuel diz-me "detesto mulheres inteletuais  só podem fazer masturbação inteletual  ... é como comparar o Benfica ao Sporting, ela não gosta, deita abaixo - mal baisé " em francês quer dizer mal fod...considerem tal expressão desabafo! 
Em jeito de remate devo confessar que a Dra credenciada em teatro se encantou mais com o meu charme do que com o dele ...e, isso a mim deixou-me triste , porque na verdade há anos que não tive tantos elogios e palavras gentis sobre a minha pessoa como nestes dias - e sempre de homens -, inclusive propostas que me soaram a desonestas (?) -, tal só possível pelas emoções fortes geradas que despoletei nos meus jogos de sedução tal como o fazia em adolescente para me fazerem esquecer os problemas...
 
Comecei por pôr cabresto em tal pensar despropositado que por instantes me cercou a mente, mas ao que me parece "saiu-me o tiro pela colatra"...ao conversar com o Alexandre ... a fazer fé no que me disse "nunca outra mulher me diferenciou com tanto carinho"...apreensiva fiquei com tão inusitada atitude, no imediato em jeito acelerado gravitavam ideias  que em turbilhão se chocavam na minha cabeça e me deixaram de certa forma confusa até encontrar a origem de tal atitude -, nisto fez-se luz sendo ele um "carneirinho" vive as paixões de forma  arrebatadora e fulminantes - posto isto acalmei e desfiz a  louca impressão se porventura tinha exagerado na minha postura quando o abordei anonimamente na sua banca sobre questões de faiança, indubitavelmente tabelei conversa sobre a riqueza das suas peças de arte sacra e faiança.Em abono da verdade sei que até nem me abri muito... aflita fiquei como desfazer tão boa impressão que lhe causei -, se o pensei melhor o fiz ao endereçar-lhe as minhas desculpas por nele ter criado aparente e súbito encantamento...nada mais foi que o encadear de ânimos que naquele espaço se levantaram em exaltação, sendo que alguns, felizmente poucos, se sentiram confusos, tiveram necessidade de estrebuchar emoções...esqueceram barreiras, e tempos ,e na primeira oportunidade me dirigiram parcas frases e nelas palavras sofridas, mui sentidas...fatalmente o que senti -, carências!

Ana Bela Pimpão, uma deusa!
Na frente da minha banca estava um casal que adorei conhecer -, a família Pimpão - Ana Bela, cinquentona, silhueta 36, voz forte e andar sexy, olhar à matador sentada na chaisse long de veludo raiado a vermelhos e amarelos desafiava as hostes a fumar em recinto fechado -  mulher com porte de princesa, uma senhora com porte de diva! Sob o olhar reservado e doce do marido que depois de acordar do anonimato, se abriu na parceria na conversa e se revelou um homem encantador de boa onda, apesar de tímido e sensível, uma carateristica dos "carneirinhos" no contraste  da personalidade dela mais histriónica por ser "peixinhos" - para mim que gosto de ajuizar sobre o tema diria que não será uma junção feliz por serem signos incompatíveis, será (?) Deixo o tema para eles se questionarem se estarei certa ou errada, quero fazer fé que estou errada, porque na verdade gostei imenso do casal. Tudo começou na cumplicidade da sua  notória presença sendo dona de um olhar de mulher fatal me abeirei dela numa de conversa porque causa da venda dos leões ... num instante se fundiu e extravasou em conhecimento aberto como se fosse de toda uma vida. Uma coisa destas deve acontecer poucas vezes, dizem ser química -, pois que seja. Mulher trabalhadora  sete dias por semana, com o marido fazem aos fins de semana 4 feiras em locais diferentes -, é de se lhe tirar o chapéu. Francamente fiquei fã do casal ,e deles senti o mesmo.Gente de fibra, só me questiono com tanto trabalho se tem tempo para eles, que sinto merecem!
No tardoz da minha banca o espaço pertencia a dois casais -, os homens obesos, elas jeitosonas de corpo, ornadas de grandes cabeças ripadas oxigenadas aos caracóis, gente pouco ou nada simpática. Além de não cumprimentarem praticamente ninguém, me pareceu se tratar de gente com pouca formação e estofo para fazerem o seu trabalho conjuntamente ao lado de outros colegas, no 2º dia tiveram o desplante de tapar com uma cadeira a passagem do seu stand para o meu, e assim impedir as pessoas de contornar a banca, fazendo "gato sapato" da passagem aberta no stand do Manuel Peneda ao meu lado onde eu tinha a minha cadeira porque lhe pedi autorização, por não estar habituada a fazer feiras em locais fechados e não dispus a minha bancada com o layout desejável...pior, foi no domingo quando se atreveram a por a dita cadeira para a frente no corredor, para impedir os clientes de ver a minha bancada quando vinham no seguimento da deles - julgo "lhes saiu o tiro pela culatra" - pouco ou nada venderam, o que me pareceu...eu nada disse , muito menos fiz,- sou uma senhora, não me irrito com gentalha sem noções de etiqueta, detesto conviver com gente mesquinha , iletrada , de cabelo ensebado.. estaria a dar-lhes valor que não tem!
Gosto de vender, na volta da feira adoro trazer uma peça comprada -, isto numa de continuidade em alimentar o ego. Na feira houve três peças que comecei a namorar: um prato em Cantão Popular de Coimbra; outro maior com motivo casario em verde atribuído a Vilar de Mouros ou Coimbra (?) o último partido e colado de Fervença com um pássaro e umas bolinhas a preto brilhante que me fascinou . Desta feita as minhas voltinhas na feira que faço a toda a hora servem para os ir namorando -, só que no sábado o prato Cantão já lá não estava, tinha sido vendido, assim fiquei com duas escolhas , atendendo ao preço decidi-me pelo verde, motivo casario. No domingo tragava a minha sandes quando me deu um impulso de o ir buscar para junto de mim - fui à banca do Carlos ,o seu dono e num repente fiz-lhe uma proposta " só te dou..ripostou ele..."levas-me sempre à certa"...
Atribuo fabrico a faiança de Coimbra(?)
Vaidosa vinha com o meu prato nas mãos a pensar se seria Vilar de Mouros ou Coimbra (?). Na verdade este motivo de challets com capela nasceu da vaga dos primeiros emigrantes regressados ricos do Brasil no gosto de os mandar construir acima de Coimbra, e tanto haviam de inspirar pintores na cidade, Alcobaça e Vilar de Mouros. Mas também há quem diga que são cópias do motivo inglês Roselle, ainda outros que simplesmente lhe chamam Casario. Decidi pô-lo estrategicamente na bancada. Mal me sentei para continuar a degustar a minha sandes de carne assada com agriões que tinha interrompido nessa vontade louca que resultou na sua compra e me dou conta de pelas costas me aparecer um dos homens da banca do tardoz, o tal de cara de mal disposto que me questiona quanto queria por ele - respondi com um sorriso "não é para vender é para a minha coleção"...se fosse da laia dele pedia 200 euros...só para o irritar numa de o deixar calado - e se ripostasse tinha concerteza argumentação suficiente para o debelar...mais tarde, viria de novo abordar-me quanto queria por um Santo - respondi "está marcado" ..."diz-me ele não faz por menos?"  respirei fundo para manter a postura argumentando que se tratava do S. Francisco Xavier com as insígnias: caveira aos pés, cruz ao peito e aureola na cabeça, até era barato...depois pega num prato motivo Mandarim que lhe falta no rebordo um bocado e pergunta quanto quero por ele - respondi é um prato século XVIII está marcado mas posso baixar - ato imediato oferece 5€ a que respondi - está a gozar comigo? aliás nem percebo a sua atitude desde sexta que nunca me cumprimentou nem me dirigiu a palavra e agora está interessado nas minhas peças?...de voz engasgada diz-me - "eu sou assim...sou eu que faço as compras"...mas o que tem haver a falta de educação e ar sisudo com o fato de comprar ? Haveria logo de o entender pelo lado da sua mulher da Póvoa do Varzim de "pelo na benta" com ar de boazona... apesar de alguma lindura no exterior me pareceu por dentro apagada de brilho sábio -, mesmo de ter sido a única no clã que um dia ao passar na passagem proibida com a panela da sopa me dirigiu a palavra "quer uma sopinha, está muito boa..." - a única boa ação, já sobre o meu cavalo branco me perguntou se era VA...quem não sabe distinguir Alcobaça deve estar a quilómetros de distância de  perceber seja o que for...pior for ouvi-la dizer a um cliente que apreciava um grande prato em azul "sabe o que isso é?" ...perante o seu abanar de cabeça lhe diz - Delf" - pois era -, mas reprodução!...bem, no caso do meu Santinho vi-a junto da mesa ao centro onde se reuniam e comiam a remexer uma pasta onde supostamente nos cardápios do marido queria identificar a marca impressa na terracota do Santo, num ímpeto abeira-se de nós e em tom desplante e apressado no abrir de boca pronuncia "madine portugal" na vez de o dizer à inglesa...que não era , antes de uma Estatuária, como nunca falei que o Santo seria de origem estrangeira, rematei que os clientes na presença de duas peças, sendo uma com marca e a outra sem ela, preferem a marcada, naquilo lança-me um repto de humor mordaz e irónico que em abono da verdade não consegui assimilar, só lembro das palavras" olhe isso das marcas é como o cu..." dispersei...não é gente da minha estirpe, acabei por perceber se tratar de personas non gratas...(?) quero fazer fé que exagerei!
Apetece-me fechar o tema prefaciando um pensamento de Simone Weil "alguma coisa misteriosa neste universo é cúmplice dos que só amam o bem". Não temos que fazer amigos no local de trabalho, mas podemos e devemos contribuir para a criação de um melhor ambiente no trabalho. No convívio salutar é importante, afinal passamos a maioria da vida uns com os outros, isto de ficar gente no seu cantinho numa atitude demasiado defensiva e matreira não me parece atitude de gente inteligente, antes lerda!
A terrina quinada com grinalda de flores séptia com pega flor de lis e o penico apontam para produção José Reis de Alcobaça
No gaveto do corredor numa das minhas frentes estava a Marisa - , menina , mulher, mãe  ao telefone dizia "filho já vendi os teus vídeos" ...uns trocados para aquela mulher tanta falta senti lhe faziam - o seu rosto deixava transparecer muita dor, tristeza e amargura, talvez também solidão...durante todo o evento, tanto o meu marido  como eu, fomos aqui e ali estabelecendo conversa com ela, também da banca quando sentadas via nela  respostas sem palavras no seu arregalar d'olhitos apagados de brilho com a nítida falta de clientes para os seus produtos...melhor sorte a minha que no domingo logo de manhã despejei o resto do açúcar do café pelo terrado da banca para me dar sorte, e deu. 
Açucareiros - pequeno já o tinha -, comprei na Marisa o maior
A Marisa na parte da tarde trouxe uma peça de Sacavém antiga que pôs estrategicamente em cima do carrinho de chá, terrina minúscula motivo "cavalinho" a quem  entusiasmei a pedir mais por ela,  expliquei os porquês, afinal há dias comprei um congénere ainda mais minúscula, embora intata, e a dela faltava-lhe o torniquete da tampa - segundo um conhecedor era usado como açucareiro. Ao anoitecer com apenas 15 euros faturados quando interpelada pelo meu marido sobre a nova peça igual à minha esta dirigi-se a ele " não a quer comprar o dinheiro faz-me muita falta". Mal ouvi estas palavras acedi que o fizesse, quando me despedi dela quase as lágrimas me rondaram as órbitas ao dizer-lhe que gostaria muito de a ajudar...mas também não posso , essa a minha grande verdade! Senti na pele as suas dores. A sua cruz é por certo igual à minha - o que muda é a Psico - sendo ela "caranguejo" é demasiado sensível, isso reflete-se na sua atitude para lutar e dissimular as dores, enquanto eu me agarro à  energia fogo que me é peculiar sendo "taurina com ascendente em leão" a fórmula resulta em ajudas de forma algo mágica...   embora lenta a minha vida trilha de forma harmoniosa , para meu espanto se desenrola perante os meus olhos em novas oportunidades, porque nunca perco a fé e a coragem! Só por isso sorrio, e muito, fazendo do meu dia a dia um palco onde a alegria que sinto na conversa que travo com conhecidos e anónimos me distrai, afugenta tristezas fazendo fé ao ditado popular - "tristezas não pagam dívidas! Recentemente senti um hellan de algo tipo "uma luz ao fundo do túnel" quero acreditar que se avizinha uma nova e melhor fase para breve! Adoro pensar positivo, sou uma sonhadora, apraz-me o espírito arquitectar que saberei o chegado momento de alcançar as  metas que desejo. Mote renovado na minha mente nesta feira no tempo que estive parada com o meu pensamento se viria a mostrar revelador e muito determinado em não permitir que mais ninguém abuse nem tão pouco me passe outra vez por cima -, por acreditar em mim, nas minhas capacidades de visão como estratega , mulher decidida e determinada em não desistir, afirmo convicta que sinto "forças imateriais" que de alguma forma me estão a amparar para me ajudarem neste processo que se arrasta no tempo, dando-me o otimismo e esperança de quando for hora de agir o sentirei , tal e qual quando o mesmo, for na hora de estar parada . Acredito, e tenho fé que saberei como e quando fazê-lo, graças ao meu "Anjinho da Guarda"  que me guia e encaminha finalmente Luz,- sem contudo sentir atrasos, recuos e, tropeços por via de alguns poucos pecaditos...para chegar onde desejo, nesse pressuposto tenho outro probleminha... diz-me o bom senso que seria bom pensar BEM no que quero realmente! Uma situação é certo e sabido o que pretendo -, já de outra tem que se lhe diga pelas dúvidas levantadas pela farta oferta, o momento exige atenção, observação, e investigação no terreno das hipóteses, numa de procurar aquilo que quero onde ainda não procurei nem tão pouco o pensei! Quem de nós não daria por uma oportunidade de ser feliz ? O problema é que muitas vezes, quando temos essa hipótese nas mãos, acabamos por desperdiça-la, ou não temos a coragem suficiente para lutar, e a viver. Por isso atenção aos detalhes, jamais dispersar quando surgem bonitas oportunidades de ser feliz !
Canga  de bois e  nela pendurados Santos sob olhar de gato amarelo
Haveria de voltar a ter outra surpresa em final de dia na despedida ao meu amigo Carlos, também ele trouxera um amigo com quem nestes dias acabei por conversar -,homem de boa estatura e silhueta, ar inteletual, dono de olhar azul bebé , na despedida ao lhe perguntar o nome com o repto de saber como tinha corrido a feira o Nelson olha para mim num tom suave , mui doce, devolve-me o repto "olhe não vendi nada, mas a feira valeu porque a conheci" confesso que tal inusitado me voltou a apanhar de surpresa, neste caso outro homem do signo fogo " leozinho" - na verdade eu é que adoro seduzir com a artimanha no jogo das palavras, no caso ele quase anónimo para mim me surpreende e de que maneira, também um gentil men, culto, educado, com aroma a snob... de fugida encaminhei-me para a casa de banho para refrescar, só ai na frente do espelho me dei conta do elogio bonito que me diferenciou e nem agradeci... não fosse por isso haveria de voltar para lhe dizer " voltei porque teceu-me um rajado elogio,parece que fugi sem agradecer, por isso merece um beijinho..."mal acabei de falar já me beijava ele na face ...quem ficou de beicinho foi o Carlos a dizer "ficas a dever-me dois"...estórias de aventureiros e corajosos provocados pela influência do raças dos vestidos (?) ao darem à minha pessoa uma sensualidade inimaginável a fazer parelha com os cabelos escorridos e ondulados nas pontas, sobretudo a minha alegria, o meu estar, a minha conversa simples, e escorreita só podia eclodir em granjear novos amigos com muito bom gosto...

O Tony dos discos só apareceu no sábado, já nem me lembro de o ter visto -, agora corre todo o País, teve de se sujeitar ao lugar da entrada por não haver outro para lhe darem.
Tony dos discos - A VOZ!
Quando o conheci na minha primeira feira na Costa de Caparica fiquei sua fã pela educação, amável, e mui disponível para ajudar " quer que lhe traga um cafezinho, ou alguma coisa para almoçar..." encantada havia de ficar para sempre com o seu timbre , dono e senhor de uma voz romântica, doce, quente, apelativa deveria ser locutor de rádio -, e foi esse o elogio que lhe teci e continuo...até quase ruborizar!
Quem no primeiro dia se passeava no certame e julgo nem para a minha banca olhou foi o Paulo Pereira Cristóvão -, sportinguista de gema, ex inspetor da PJ , muito magro, só o reconheci pela intensidade do olhar , sei se enfeitiçou por uns leões em pó de pedra que no momento nem hesitou comprar, segundo ouvi falar.
Leões a serem carregados com uma grua
Levantei-me da cadeira onde descansava o esqueleto  para ouvir o meu colega Manuel Peneda na sua vontade de partilhar comigo o que ouvira de um cliente " vendi agora o livro  Henrique Galvão a um fuzileiro naval  David Geraldes que libertou os últimos presos de Caxias e me confidenciou ter uma biblioteca com mais de 8.000 livros", haveria de voltar ...
De encosto à parede estava o Paulo "desdentado" ainda tão jovem até fazia aflição recebeu a visita do filhote, um menino irrequieto de ténis com rodinhas, dividia a banca com a Cátia, grávida quase em fim de gestação. Alfacinhas simpáticos, não perguntei os nomes a quem pedi para registar a foto da canga disse-me que na sexta vendeu uma jarra verde a um conde...
Quem também na sexta apareceu foi o Dr Jorge Sampaio diretor do Museu de Alcobaça. Vi numa azáfama dois homens novos cheios de sacos pelas mãos com peças de Alcobaça, na banca da família Pimpão compraram ao preço da "uva mijona" um par de jarras Art Deco lindíssimas, na Lurdes uma boleira, na banca da mãe uma fruteira, castiçais, só pratos não vi que comprassem e havia fartura.
Numa banca havia uma tampa enorme oval de faiança em esmalte melado azul e decoração floral típica do Juncal, por já ter visto uma terrina completa igual apenas pintada a manganês num antiquário na Sé, fácil foi atribuír a tampa -, mas para testar dúvidas tabelei conversa com o Carlos que me diz pouco ou nada percebe de faiança , a melhor pessoa para me esclarecer seria o Zé Russo -, com a retórica "se  ele não souber dizer a origem de uma peça desconfio que outro não haverá melhor ". Fomos até à sua banca abordá-lo nesta questão, em atitude sensata e calma sem me desconsiderar, avança " pode ser também dos irmãos Ruas de Miragaia"...dispersei a caminho da minha banca  mas fiquei a pensar na tampa -, depois de alguma luz achei que me precipitei na minha análise (?) apesar do Juncal ter pintado o azul mas ali o esmalte também era azulado -, num relance pus-me a caminho para pedir desculpas, dizer que achava ele ter razão,- para meu espanto diz-me, "olhe eu fiquei também a pensar que pode ser outra coisa - francesa, aquela fábrica que pintou Rhoen, porque Juncal nunca vi uma tampa destas..." mas eu vi -, e também sei houve fábricas que tentaram imitar congéneres estrangeiras no esmalte azul em detrimento do branco translúcido...para mim continuo a dizer que me parece ser portuguesa -, pelo estriado da pintura floral no esmalte ficar com bolinhas e não opaco...estas conversas desconcertantes são muito engraçadas, porque as dúvidas, essas continuam...o Zé Russo estreou-se a vender Companhia das Índias e faiança portuguesa...um dos que mais sorte nas vendas teve segundo se constou tal como outro de Évora vendeu faiança de Estremoz. O Zé Russo só tinha material de primeira qualidade, a fazer jus à namorada uma bela morena de olhar penetrante de seu nome Adelaide - sem dúvida uma boa escolha tal a cumplicidade senti haver nos dois "virgeneanos". Adorei tabelar conversa com o casal que conheci nesta feira,  o mundo é mesmo pequeno, sendo bisneto, neto e filho de antiquários; a sua mãe  dona do antiquário de Setúbal - então não olho sempre para a montra, da última vez tinha um prato coisa de 60 cm de diâmetro dos Meninos Gordos. Na banca da Fátima cunhada da Isabel que conheci na primeira feira no Jardim, dela escrevi por achar linda a sua relação com o companheiro Marco muito jovem,com idade para ser seu filho...ao lhe perguntar por ele espanta-me "mandei-o embora porque percebi coisas que não aceito" ,- ainda bem que enxergou! Espero que melhore da sua frágil saúde a fazer fé no que viveu com  cenas deploráveis que me confidenciou,  nada abonam em melhoras e paz.Gosto dela, e da cunhada Fátima, quando a revisitei quis vir conhecer a minha banca, num repente a altera ,- tal performance resultou em mais vendas...aprendi Fátima -, muito obrigada -, e pelo marido haveria de saber que tinha na banca uma garrafa em forma de livro de Sacavém à qual não dava o valor merecido -, ele tinha uma travessa das Devezas com um ramo de cravos cujo rebordo era martelado, mais uma achega para a catalogação, e os pratos de faiança pendurados os vendeu a um antiquário da terra .
Perturbava-me uma colega sempre sentada  de cariz muito reservada a quem tinha perguntado o preço de um prato colado de Fervença, me disse ia perguntar ao marido e depois me dizia, haveria de voltar na tarde de domingo a questioná-la, acabrunhada disse-me "enganei-me disse-lhe cem e é trezentos, ..." para a descansar soltei um sorriso "querida não faz mal, esse preço não posso chegar..." nesse instante pedi-lhe desculpa por de manhã na entrada não a ter reconhecido, talvez pelo uso do chapelinho na cabeça, reconhecendo no momento a saia vermelha pelo folhinho...sorriu...não sei que reviravolta se deu no casal, o que ela lhe disse de mim, passado um bocado o marido Raúl, homem na casa dos setenta bem aviados, alto , vestia casaco de antílope que adoro sobreposto por outro para não o sujar, o tinha visto de conversa com outros quando conversei com a esposa,  após se libertar deles vem até à minha banca conversar sobre  faiança, das peças que tem, milhares em ferro forjado, muita faiança , do seu antiquário e até que me dava peças partidas...disse gostar de fazer a feira da Avª da Liberdade, enfim uma simpatia até parecia que éramos conhecidos - fez oferta de casa na região onde tenho uma casa para dormir e assim poder ver as suas coisas, ainda acrescentou " num antiquário a gente gosta de se perder na procura de peças especiais" ora se ele não se importa o que a mim sempre me constringe não vou perder a oportunidade , ainda acrescentou, sei gosta de escrever, não sendo eu do tempo da internet " pode ser bom para mim e para si"  . Dizia-me "a feira não valeu nada, só valeu pelos contatos" logo depois haveria de mandar a esposa com um cartão com os seus. Voltaria  de novo com um prato de faiança que se tinha partido no caixote, pintado a verde, julgo numa primeira análise seja uma invocação de Cantão Popular-,deveras interessante.Vou pendurar numa das minhas casas onde tenho uma coleção de cantão à base do azul, porque julgo esta diferença na criatividade de alterar a cor padrão dá uma imagem de engrandecimento da nossa faiança que a torna ainda mais fascinante.

                                       Oferta do Sr Raul de Abrantes

Como não há duas sem três haveria ela de  novo trazer uma malga pintada a cor de rosa que se partiu um nadica no rebordo com a dica, "o bocadinho deve estar no caixote, o meu marido vai guarda-lo para si". Esta vai para a minha casa rural, já estou a tratar do rebordo...

Peço desculpa pela foto, apesar do esmalte muito branco e translúcido, o pé confirma fabrico anos 30(?)
Quem andava no sábado de manhã a correr a feira  o Mercador Veneziano a quem cumprimentei, vinha entregar uma encomenda. Levava nas mãos um saco com algumas peças que comprou na feira  que com o seu "olho clínico" consegue descobrir. 
Correu um boato de um suposto intermediário para aquisição de faiança na sexta feira, corria o certame numa roda viva para comprar para um cliente espanhol - coisa que não aprovo,- primeiro, porque fez abordagens de desprezo nas ofertas a alguns colegas, num prato Fervença ofereceu 100 quando vale mais de 500... no pior, porque a nossa faiança que deveria ter no Mundo o mérito que merece anda a fugir para Espanha, disso francamente não gostei! Se agora passamos faturas se o cliente quiser, porque razão os Museus não as compram!!!
Constou-se que também o presidente da edilidade no sábado se passeou com amigos e não sei qual deles comprou o Frade obra Bordalo Pinheiro  na banca do Vasco tinha peças de inegável valor - Fervença, Coimbra e Bandeira, um deles com a esfinge do D. Miguel com as insígnias nos ombros e o farto bigode, umas jarras de altar pintadas a manganês que passavam por Juncal não fossem estar assinadas Viúva A. Oliveira Coimbra, três belos bules de caldo.Se eu tivesse dinheiro trazia o prato Fervença do colega do lado - maravilhoso com um preto brilhante que jamais vi igualzinho a outros dois noutras bancas. Por isso é tão interessante estes certames onde se encontram peças de raridade em muito bom estado e digamos até preço.
A Zélia e o marido João estavam tristes, a carrinha avariou no caminho tiveram de chamar o reboque e nada de vender...tal e qual com o casal Fernando e Fernanda,  e a Ermelinda e o António,- esta chama-me carinhosamente por Isabelinha - gente de Alcanena, simpáticos que conheci na minha primeira vez em Torres Novas, voltaria na segunda a vê-los em Ponte de Sôr, sendo esta a terceira, nas despedidas vi que tinham o filho a ajudá-los a quem dirigi um elogio - filho lindo com o sorriso do pai e os olhos da mãe..na banca tinha uma enfusa branca de corpo facetada de Sacavém com o bico em carranca ...lindíssima e barata! O Santiago de Setúbal , sinto que a idade já lhe pesa, no domingo só o vi na entrada quando me teceu um elogio, o que faz  sempre " estás muito gira, aliás tu és muito gira sempre"...sempre de cigarro nas mãos a caminho da rua, tal e qual com o Rafael de Alcanena o alfarrabista que conheci em Tomar e voltei a ver em Pombal.Vi também o casal da Marinha Grande o Henrique e a Ilda que só no domingo com a venda de muitas garrafas se safaram, já o Sr Cabrita - o Pedrinhas que conheci na feira da ladra e Montemor o Novo, gosta de fósseis, acompanhado da esposa que conheci, não sei se a feira lhe foi favorável tal e qual com a Lurdes e o marido João. O Alexandre de Leiria só vendeu um almofariz de cobre.
Não sei se a Rita de Carcavelos se safou, pareceu-me triste, talvez apreensiva com a frágil saúde do pai, um dia a vi a tocar viola e outra sentada no bar do "Joãozinho" rapaz alegre, falador, de olhos grandes e cabelos aos caracóis, num instante me contou a odisseia da sua vida tudo porque adorou um piropo que lhe teci...os seus rissóis eram divinais a honrar a gastronomia portuguesa, com camarão à fartazana! A Rita ficou junto do Luís do Cadaval , ao final da feira  vi ao longe a ser ajudada pela mãe Isabel Rute que não sei a razão de me ter deixado de falar, apesar das minhas insistências...
Havia um colega que quando eu passava se mostrava sorridente , demorei horas e horas para me lembrar que o conheci na feira de Tomar a quem comprei um par de pássaros de Alcobaça - o Josué - não me esqueceu!
Não faltou o Sr Manuel e a D. Helena da Batalha com a sua banca de ferro velho, estavam desanimados com as fracas vendas, a mim compraram um relógio de parede, fazem coleção.Havia um colega alto cujo estar era igualzinho a um administrador que tive no BCP o Dr Filipe Pinhal de Sesimbra. Não parei nem descansei enquanto não estabeleci conversa para tal lhe perguntar - disse-me que tem família em Setúbal; desde o corpo, o cabelo, o remoinho no curuto, olhar pequeno brilhante, e da cabeça em cima do pescoço ligeiramente inclinada ...possivelmente não haverá irmão com tais semelhanças impressionantes ,o mesmo stlyle
Na sexta vinha eu de lavar as mãos e puxava as calças quando um colega de artesanato me diz "precisa de um cinto, ofereço-lhe este" que aceitei a quem dei um beijinho de agradecimento pela atitude.Vinha vaidosa com tal gesto que ao dizê-lo à Ti Helena me deu um gatinho em latão e depois na banca da Zélia o mesmo agora em loiça e com lacinho vermelho.A Ana Bela ofereceu uma rodada de rissóis, eu outra e o Manuel ginja em copinho de chocolate , também me  ofereceu a meias um crepe .
Quase me esquecia de referenciar as amigas Paulas da Lourinhã e dos seus cães , talvez porque uma delas fala muito alto num linguarejar desnorteado sem ética com clientes e colegas, também pelo aspecto descuidado...na tardinha de sábado a mãe de um dos seus cães decide no cruzamento do corredor urinar, fazendo uma poça imensa de mijo...imediatamente o Manuel Peneda vai à organização solicitar que a empregada da limpeza viesse...naquele instante aparece um cliente e pergunta-me o preço de um relógio da sua banca que estava junto a peças marcadas a 5 € ,e foi esse o preço que lhe disse e pagou. Pior foi quando percebi no "mau estar de silencio do Pimpão" que lhe tinha ditado o preço para venda... naquele desatino, desatinada fiquei, até as lágrimas me vieram às órbitas porque na verdade senti que me deixei levar pelo entusiasmo de querer ajudar, mesmo sem ele me ter dado autorização...o cansaço a longa espera, as fracas vendas, o estar ali fechada horas...mas o Manuel Peneda foi um senhor não aceitou a diferença que lhe quis dar, ainda me deu um lenço para enxugar os olhos. Para acalmar fui à procura do homem e passado um bocado aparece na minha  frente, vou até ele e conto o sucedido, diz-me "compreendo a senhora, mas não tenho mais dinheiro e gosto do relógio" ao mesmo tempo que tira do fundilho do bolso pouco mais de um euro que queria dar...e, o Manuel Peneda não aceitou. Gentes desta índole nos dias d'hoje há poucos, por isso quando os encontramos devemos estimá-los, e apostar em preservar a amizade no tempo pelo alto gesto nobre com que me diferenciou no prejuízo que lhe dei!
Amazing  tão atitude nobre Manuel Peneda!
A maioria dos colegas safaram-se bem, outros assim assim, alguns não se estrearam e ainda se falou em altos prejuizos com peças roubadas de noite nas bancadas, alojamento e... 
Parte da minha banca
Em final da feira, indubitavelmente o domingo foi a minha "safa". Apareceu uma senhora  alta e formosa D Augusta Damião que ficou fascinada com o Santo Francisco por nunca assim ter visto outro igual, mostrando desejo de o comprar ...chama o marido, um  senhor alto, que após a insistência dela no dizer  " seria uma boa prenda para o doutor no almoço em Fátima na vez de lá comprar um Santinho novo..."  o bom senhor esfrega o Santo para ver se é velho ou lhe achar defeitos(?)... acaba por ser convencido pela esposa na sua compra mas oferece abaixo do pedido, que recusei e nisto foram-se embora contornando a banca dos do tardoz...os azedos, que também tinham arte sacra e perguntam o preço de um Santo e ficam "arrepiados"...a senhora desarvora em direção de novo da minha banca , espevita diz de novo que adora o meu  Santo - nisto já o tinha arrumado no caixote quando vejo o marido vir ao seu encalço, no meu ar alegre dirigi-lhe um comentário " olhe que a sua esposa gosta do Santo porque não lhe faz a vontade, me parece ser um homem tão decidido..." sorriu para mim, gostou do meu jeito simples  e na conversa que se aligeirou em rasgados sorrisos e perguntas " onde fazíamos mais feiras que nos visitariam" - naquilo pego numa peça de porcelana para inalar vapores nas termas e digo-lhes " na feira de Alcochete vinha uma mãe com o filho, pega nesta peça diz-lhe - é um saleiro..." tal incultura tão evidente nas mães d'hoje  como podem os seus filhos ser melhores(?) - vai daí levou os dois exemplares, um era VA para a sua cristaleira.Casal adorável, bem disposto que comprou pias de pedras e não sei mais o quê para a sua quinta...clientes destes precisam-se!

Já de banca quase arrumada vejo o João de Mafra a quem perguntei se esteve no certame, respondeu apenas que veio ajudar um amigo a levar as mobílias na sua carrinha . Se tivesse participado seria o Rey - tal a sua esbelta silhueta, rabo de cavalo loiro  e olhar amendoado castanho claro - um Celta d'gema, homem lindo de morrer( bem casado e pai de família, nada de confusões) não corresponde ao meu padrão preferido - falo no sentido de apreciar o  belo - tímido de voz doce, mas muito inteligente, amigo, e de saber!
Agora vou contar a estória do meu prato. Afinal foi comprado pelo Zé Russo que com o Carlos um dia foram na Arrábida comprar umas peças, quando entraram na  casa do homem doente, e de botija de andarilho repararam na parede repleta deles em faiança, muitos com o peixe e os talheres e instigaram-no se os vendia "abanou logo a cabeça a dizer que não porque valiam muito"... e,em ar de gozo lhes diz ainda, "venham ver o meu Santo António que tenho no quarto"...o Zé Russo antes de vir embora deixou um cartão. Passados meses o senhor morre e parece que uma sobrinha viu o cartão e  lhe ligou se estava interessado em comprar os pratos e o Santo António, quando chegou perguntou quanto queria por eles, a senhora diz-lhe uma insignificância ...o Zé Russo pagou bem mais do dobro por cada um porque na verdade é um homem sério que anda no negócio desde sempre e afinal foi ela que ditou o preço.Digo que o Santo pagou bem por ele. Dispensou alguns pratos  ao Carlos que na feira de Montemor lhe comprei um com o peixe ao centro, tinha outro motivo casario a preto. Fácil foi no domingo entender que afinal eram todos da casa do tal homem da Arrábida, os melhores esses já tinham voado da sua banca para novo poiso.
Remato a oiro no realce de gestos altruístas que abordei, por os achar de nobreza e amizade -, fiquei tão emocionada e encantada por sentir que muita gente gostou da minha presença no certame, e eu delas idem aspas, aspas!Vim mais rica. Tais valores  vividos honram a amizade e salvam de males esta porqueira de vida!
No meu melhor trouxe a alma cheia de apreciar in loco boa faiança: Estremoz, Fervença, Bandeira, Coimbra, Devezas, Darque, Bordalo Pinheiro, Juncal, Viúva A Oliveira de Coimbra, Miragaia, Alcobaça, Sacavém, Massarelos,... e outras que são difícies no primeiro impacto identificar, um regalo às vistas!

Remato este longo post  com um pensamento de Platão
"O sábio fala porque tem alguma coisa a dizer; o tolo, porque tem que dizer alguma coisa."
Será que pensei em todas as palavras que me escaparam da minha boca ? Serão elas construtivas? Chatice seria ter julgado para que me julguem também a mim... tão pouco dizer dos outros o que não quero que digam de mim... 
O melhor é pensar neste desafio de raciocínio que fiz a mim mesma com este brutal post!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Alvaiázere no limite do Maciço sul de Sicó…nas minhas doces memórias

Megalapiás dos Penedos Altos em Zambujal  chamados Portas de Alvaiázere

Modelado cársico, e dolomítico do Jurássico Superior, em forma de torre. Estruturas de vários metros de altura, resultaram da ação da água, que dissolveu as rochas calcárias, abrindo fraturas e depressões, escavando e esculpindo o relevo, dando origem a uma geomorfologia cársica com estética graciosa.

Assíduas vezes na vinda duma banhoca ao Agroal, depois de deixar a Freixianda, apraz-me atazanar o condutor para mudar de percurso a caminho de Alvaiázere. Adoro passear por estas serranias baixas onde a paisagem é mais ao meu gosto pelo salpico de aldeias com nomes curiosos; Pelmá, Casal do Rei, Venda do Preto e,...o ex-libris dos penedos do Zambujal, nada mais do que dois morros de pedra calcária, como se fossem colunas a ladear a estrada. Um deles apresenta na extremidade uma cúpula, que me transporta à infância, aos filmes de westerns no Arizona. São resultado da erosão que ao longo dos tempos se encarregou de os tornear, e desde sempre me encantam .
Ao deixar as " portas de Alvaiázere" na aldeia na beira da estrada há uma dolina cársica, uma lagoa como o povo chama. 

Cruz templária, retirada da net

Em miúda descobri uma Cruz como a que centra a pedra redonda esculpida numa laje no chão, do caminho do Escampado de Santa Marta em Ansião, mais à frente havia pedras grandes a evidenciar calçada romana ... Voltei 30 anos para a redescobrir a custo com emoção -, mal me descuidei para a fotografar , já estava soterrada com maquedame na ligação que fizeram a Albarrol...

A vila de Alvaiázere é-me querida pelas vezes que a minha mãe aqui veio a trabalho nos correios e me levava, caso se não tivesse ou pudesse faltar às aulas.

Mote para entrosar em alegre cavaqueira na discussão do célebre episódio de um dos "carrascos da morte de Inês de Castro, o Duarte Pacheco, nesta terra se refugiou antes de rumar a Espanha" desde sempre julguei que a casa seria o solar dos Serpa Oliveira, erradamente durante quase toda a vida chamaram de " Pachecos" cujo brasão para mim é maior que a casa -, espanto total o pleonasmo é propositado como a foto evidencia e desde miúda assim o caracterizo.

O Prof. Hermano Saraiva revisitou por duas vezes o concelho com os seus programas -, seguramente o 1º melhor que o último, também partilhou a opinião que não poderia ter sido aquele palacete que foi construído à posterior. A minha mãe trabalhou nesta terra há mais de cinquenta anos numa repartição que funcionava nesse solar, sempre me afirmou que a casa onde o mesmo se refugiou seria a que se localiza mais à frente na mesma rua, hoje descaracterizada sem traça antiga pintada de azul, será verdade? 
Ou será uma outra que descobri na frente do auditório, onde é notória a subida da estrada e soterramento de portas e janelas ainda visíveis num muro antigo contínuo com a referida casa de traça castiça a lembrar um solar remediado? Pairam as dúvidas, lançado fica o desafio! 
Um hábito meu atalhar a caminho de Ansião por estradas na borda do sopé da serra de Alvaiázere - apraz-me os ares da serra, ver as ruínas dos antigos "Fornos de Cal" espalhados pelo planalto, uma pena estarem todos ao abandono, seria uma rota turística de interesse juntando os sabores da serra ao travo de erva de Santa Maria, que por aqui se sente tal e qual como na serra da Ameixieira...
Foto de Luís Ribeiro retirada do google

A Quinta da Cortiça 
Remonta segundo o seu proprietário à era romana, tais os vestígios de abóbadas, arcos, túmulos, pias e Mós, que os mesmos implementaram nas suas rotas por esta região e aqui se encontram. O solar sofreu remodelações no século XIX, com a pequena torre, capela com a entrada para os celeiros repleta de prensas e Mós em pedra. Dedicam-se à produção de cortiça, azeite, queijo e criação de cavalos.
Foi seu dono o Eng.º José Lebre, um curioso  amante de artefactos do passado. Dispõe de duas salas com o espólio de fósseis por ele encontrados nas suas propriedades, sendo seu fiel guardador mostra a quem na queijaria compra queijo e se interesse em conhecer o espólio.

Na região existem outros vestígios do passado romano como a antiga villa de Rominha.
Nas encostas baixas a seguir ao lugar, ainda são visíveis buracos deixados pelos romanos, outros dizem pelos desertores franceses do Buçaco, ainda dizem que o seu subsolo esconde muitos vestígios e histórias dum passado esquecido mas pronto para desvendar tal igual nas aldeias de Vila Nova, Casal Novo e Farroeira . Visíveis são ainda as centenas de oliveiras, algumas milenares por todo o lado. A vida rural determinou a existência de um conjunto significativo de estruturas de arqueologia industrial que testemunham a ação deste povo como: lagares de azeite, azenhas, moinhos de vento e fornos da cal. 

Uma oliveira milenar

Pé de oliveira milenar do quintal da minha mãe

Também há vestígios da olaria onde fabricaram telhas "tegulae e inbrix" segundo ouvi o Prof. Hermano Saraiva se pronunciar.
Santuário de Nossa Senhora dos Covões
Adoro subir à serra a meio caminho depois da capelinha da Senhora dos Covões onde num dia me passou na frente do carro uma raposa de belo rabo...no cume há tantas antenas... um horror no melhor alecrim aos montes floridos pela Páscoa!
 Cintura da muralha do povoado
A 600 metros de altitude existe um sítio arqueológico caracterizado por um povoado fortificado de grandes dimensões com duas cinturas de muralhas parcialmente derrubadas: uma exterior e outra interior, aparentemente circular com cerca de 100 metros de diâmetro, ambas visíveis por fotografia área - perdi-me à procura delas de origem pré-histórica... há ainda outras marcas do passado a que se chamam "a Carreira de Cavalos" espólio de um povoado da Idade do Bronze.
Complexo Megalítico 
Anta 1 e 2 ficam situadas a cerca de 500 metros da aldeia do Ramalhal – S. Pedro do Rego da Murta, numa planície povoada por eucaliptos na margem direita da Ribeira do Rego da Murta. Além dos referidos monumentos, existem outros dispersos por toda a área envolvente integrado num complexo de 10 monumentos que, pelas suas características, evidenciam uma paisagem com intensas referências culturais que engrandecem o Concelho de Alvaiázere no panorama arqueológico Nacional e Internacional.
Arquiteturalmente é construído por blocos de pequenos esteios em calcário, matéria-prima local, que perfazem uma câmara semicircular e um corredor que pouco se diferencia deste e que se prolonga para SE, tal como a Anta I do Rego da Murta (localizada a menos de 500 metros). A câmara tem de diâmetro máximo cerca de 4 metros e o corredor prolonga-se num comprimento de 3 metros por cerca de 1 metro de largura. 
A sua boa preservação permite exumar uma grande quantidade e diversidade de objetos, na sua maioria intactos (vasos, um grande número de pontas de setas, alabardas, objetos simbólicos, como placas de xisto, botões em osso, contas de colar, etc.), as ossadas humanas (contando-se até ao momento com cerca de 50 indivíduos) e fauna (desde coelho, lebre, cavalo ou zebro, cão, porco, ovelha, etc.) 
Acesso: Na Ponte da Ribeira do Rego da Murta, no Ramalhal, na estrada nacional que liga Tomar-Alvaiázere, vira-se na primeira cortada à direita, numa estrada de terra batida percorrendo até chegar a um lagar em ruínas a cerca de 1 Km. A Anta II localiza-se a 100 metros à esquerda do moinho, no meio do eucaliptal. 

Rei Chícharo 



A vila expande-se para o turismo com apostas credíveis como o Festival do Chícharo também de reconhecer o valor de ilustres Alvaiazerenses como o cineasta Fernando Lopes nascido no concelho. 

Tive muito orgulho no âmbito de um dos primeiros Festivais Gastronómicos do Chícharo assistir à homenagem com que a autarquia o quis presentear numa sala a "rebentar pelas costuras" na Casa da Cultura de Alvaiázere onde se reviveram pessoas e momentos num ambiente de alguma comoção e alegria no registo semi-documental e autobiográfico.
«Nós por Cá Todos Bem» rodado pelo cineasta em 1978 na aldeia Várzea dos Amarelos . 
Fernando Lopes nasceu a 28 de dezembro de 1935 neste concelho -, teria sido agricultor como o seu avô se não fosse a sua querida mãe pegar nele para fugirem para Lisboa escondidos numa carroça cobertos com oleado para apanharam a carreira em Alvaiázere-, a fuga por maus tratos infringidos pelo progenitor...tal carinho pela sua mãe, incitou-o ao regresso às origens para rodar o documentário em honra dela ainda viva como se fosse uma despedida da sua vida árdua, enaltecendo a sua profissão - cozinheira de uma grande casa. 
Começou a trabalhar na RTP em 1957 no ano em que arrancaram as emissões regulares da televisão pública. Em 1959 consegue uma bolsa do Fundo do Cinema Nacional, que lhe permite estudar Realização de Cinema na London Film School. 
Foi um dos maiores símbolos do Cinema Novo português da década de 60 graças a filmes como Belarmino (1964), mas também um cineasta que continuou a marcar o seu tempo, por via de fitas como O Delfim (2002) ou Lá Fora (2004). 
Faleceu aos 76 anos em Lisboa...deixando aos filhos de herança quatro pinhais (?) na Várzea...por ser um homem amante das raízes onde um dia nasceu ...no vale corre a Ribeira Velha ( nem sei se por aqui no Barqueiro lhe dão outro nome) a caminho do Zêzere.
Interrogo-me porque razão neste lugar se chama Barqueiro? A pensar na canção de criança... 

Ó senhor Barqueiro
deixai-me passar,
tenho filhos pequeninos
não os posso sustentar.
Passará, passará ,
mas algum deixará,
se não for a mãe da frente
é o filho lá de trás.

O concelho já teve tempo de o homenagear na toponímia, ou será que já o fez e eu não sei?
Maças de D. Maria foi no passado propriedade do reino oferecida a D. Maria Paes Ribeiro que haveria de ficar conhecida na história como a " Ribeirinha" a amante predileta de D. Sancho I que no lugar de Maças de Caminho onde ainda existe uma casa com uma bela janela de avental com a cruz dos templários lavrada -, julgo por aqui passaria para a visitar, para as forças não lhe faltarem , pois se fala que a dita senhora era formosa como a Inês de Castro, faço fé que comia maças de boa semente , tal fama havia de ditar no tempo o nome deste airoso lugar... 
Fotos de Henrique Dias
Alvaiázere resiste, continua a lutar para se afirmar como pólo importante na região de Sicó, apesar das vias de comunicação nunca a privilegiarem no presente como a distinguiram no passado. 
Por aqui passou a estrada romana e a estrada medieval vinda de Conímbriga cujos homens se atreveram a sulcar a pedra e a contornar as serras para nela passaram Reis e comitivas: Casal da Rainha, Vale da Couda  até Ourém e Lisboa. 
Não há topógrafos, engenheiros, tão pouco engenho de gente com poder nas mãos, que ouse pensar neste passado de fausto - só pensam nos seus interesses e dos amigos - há falta de gente com visão como o ministro de Salazar das obras públicas Duarte Pacheco - que do outro antes aqui falado só tem o mesmo nome! 



Euzinha junto ao posto de turismo que funciona no r/c do coreto em noite de festival...depois do repasto de feijoada e tarte de chícharo, bem regado com tinto da região de 14 graus e não faltou a boa cachaça! 

Numa quinta feira Santa depois de ter passado a Porta da Serra na Marzugueira apreciei a casa na curva restaurada quando inusitadamente fui atacada por apetite desenfreado de me apear do carro para me perder d' amores pelo alecrim para os lados do Vale da Couda -, teria sido o linguarejar de um povo analfabeto , sem dentes, falava muito mal o português, ditaria que o nome de Conda (?), diminutivo de condessa o povo no tempo haveria de fidelizar " Vale da Couda" terra do meu querido amigo e colega do Externato, Carlos Gomes. 
Pela primeira vez vi-me na frente do profundo e abrupto vale que sempre me fascinou com a escarpa cravada de cascalho calcário em montinhos a fazer terrado às enfezadas oliveiras, na roda delas muros de pedra seca em meias luas -, cenário por demais encantador de grande quietude, tanto silêncio onde a introspecção em plenitude só neste local para mim é infinita de paz!

Atrevi-me a descer a ribanceira. Tomei o trilho dos rebanhos onde senti a profundeza do vale magnífico onde delirei sozinha e me desforrei em contemplações...perdi-me por fragas e costados pelos carreiros a fugir das caganitas de caprinos que se pegavam nas solas dos sapatos... incrível o ar puro e o cheiro fresco que inesperadamente me fizeram perder o bom senso, sem explicação, mais por vontade férrea de alivio e sem pedir licença, por entre esculturas talhadas pela erosão na pedra calcária cravadas por toda a terra debruadas a erva de Santa Maria, acedi ao apetite de verter águas -, aliviada só Deus sabe, como me senti até sentir o fluído quente a molhar os tornozelos... 
Naquele paraíso sei que me faltou um príncipe! 
Tal desgosto fez-me arrancar dois pés de alecrim para transplante e uma braçada de ramos floridos para enfeitar o meu oratório na Páscoa! 
Alvaiázere tem aldeias recônditas em abandono ou quase e é uma pena: Sem falar nas que adoro: Vale da Couda, Ariques e Bofinho
Sigoeira de Cima
Marques
Lumiar
Chão de Cume
Conhal
Mata
Paradela
Rocha

Não deixem de conhecer, atrevam-se, vale bem a pena descobrir o concelho, apreciar as megalápias semeadas por todo o lado com mancha de carvalho cerquinho e outra vegetação mediterrânica por aqui tão evidente e as suas gentes humildes e hospitaleiras. Alvaiázere fascina-me sempre mesmo de ruas vazias!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Entrudo, Sachas ou Carnaval e o jogo do pau em Ansião!


As sachasDança ancestral do uso do pau em jeito de andarilho à pala do Entrudo - ainda hoje se revezam raízes  nele a dança do Fandango do Ribatejo e Pauliteiros de MirandaO nome não sei de onde lhe advêm, será do ato de sachar o milho, no jeito da enxada na roda dos pés das plantas ao acalcar a terra junto do pé ou,  na dança os pés e o pau firme no chão a fazer toada para dar nas vistas a exibição?
Em tempos de antanho era tradição na Moita Redonda, uma aldeia da freguesia de Pousaflores no concelho de Ansião o uso de um "Pau" por cada rapaz na aldeia,  no mesmo ritual nas redondezas. Chamavam-lhe os caceteirosNa Moita Redonda juntavam-se ao domingo rapazes e raparigas em redondel  ao largo do aqueduto do ribeiro com o entroncamento da quelha do Vale onde se bailava-, velhas mulheres vestidas de preto, enfeitadas de lenço surrado pela cabeça e na boca desdentadas, o seu festim era espiolhar os namoricos das filhas, atrevidas chegavam-se  de mansinho aos rapazes e os espicaçavam- "olhe lá vossemecê quer bailar? Puxe aquela ali..."
Quando iam à missa levavam o pau e deixavam-no atrás da porta da igreja, mas houve padres a proibir e assim o deixavam antes de entrar nas vilas escondido.

Paus  e queimbos que foram da Moita Redonda
"O Jogo do Pau é o sistema tradicional Português de combate e defesa pessoal, com origem e principal incidência no combate em inferioridade numérica".
"num país em que, até há pouco tempo, se caraterizava fundamentalmente pela prevalência dos ambientes rurais sobre os urbanos, ocorreu a manutenção do pau / cajado, como utensílio de caminhada e, simultaneamente, como ferramenta de defesa pessoal".
" esta arte, outrora aplicada a toda e qualquer arma medieval e outros instrumentos de fácil acesso, como os agrícolas, veio a ser conotada como exclusiva de paus, ao ponto da recente designação que surgiu para a identificar transmitir essa mesma ideia: Jogo do Pau".
"a origem e história do Jogo do Pau, enquanto tal, baseia-se um pouco numa interpretação lógica da relação entre caraterísticas socais e ténicas de combate criadas mas, acima de tudo, assenta no fato objetivo de, num dos livros escritos pelo Rei D.Duarte no século XV (Ensinança de bem cavalgar a toda a sela), o nomes apresentados para designar as ténicas de ataque, assim como as suas trajetórias, corresponderem aos nomes e trajetórias que nos chegaram pela prática do Jogo do Pau".


Desenho do jogo do pau na região de Alfredo Keil do seu Livro Tojos e Rosmaninhos  do século XIX quando se deslocava à região para caçar com o Rei D. Carlos e costumavam ficar na Estalagem de Ferreira do Zêzere.
Confesso não aprecio o Carnaval  dos nossos dias em jeito arremedado dos Brasis...
Em geral naquele tempo de antanho rapaz que se prezasse andava sempre com o seu fiel companheiro -  o pau, servia para se encostar, apoiar e defender, hoje ainda perdura o seu uso pelos pastores. Quando se deslocavam a outras terras tinham sítios para os deixar guardados, nem sempre andavam com eles. Pelo Entrudo, deles faziam uso nos bailes, onde a  traulitada  e o cantar ao desafio era permitido para libertação da alma de ditos e mexericos - as cegadas ou pulhas - testemunhos de vida na essência a declamar acontecimentos cómicos vividos na aldeia no pretexto de os vincarem ,em alto e bom som, a respeito de todas as pessoas, sobre  o que não se aprovava e falava por trás, com eles andavam entalados na garganta durante um ano, no suposto seria -,  não se querer voltar a falar...Os que tinham este perfil e  arte para desempenhar tal papel eram as pulhas-  ao fazerem uso do palco, o terreiro à ponte do ribeiro onde se concentrava o ajuntamento e convívio de gentes, onde a festa acontecia no deixar a aldeia sonza e desnorteada com  tamanha paulitada-, que fazer era coisa que lhes estava na " massa do sangue"...Fosse o jeito do gozo, escárnio, maldizer, e sátira, - sendo que este estar no Entrudo na Moita Redonda era sagrado.Por Lisboinha no lembrar do meu bom amigo João Patrício. Ah!!!As Pulhas na minha aldeia...Iam para o monte da Ovelha dizer bem alto: A Maria tem um amante! E outras tentações do demónio ...
No melhor toda a gente dançava na quelha do Vale junto ao ribeiro ao som da concertina que o meu tio Alberto Lucas tocava - depois dele - apareceram uns irmãos do Pobral, o Alberto e o João a tocar harmónio. Haviam  rapazes bonitos na aldeia: Acácio, Zé Serra, João, Américo, João, José e irmãos das Hortas, João Medeiros, irmãos e, …Também aqui acorriam rapazes vindos das bandas de Alvaiázere, Vale do Rio, Ribeira Velha, Pardinheira, Mó, Lisboinha, Pereiro e, …E as raparigas desempenadas e bonitas: Alice, Ermelinda, Josefina, Hermínia, Maria Medeiros, Maria, Clotilde, Rosaria, Ricardina e, … Bem se mostravam no varandim de madeira da casa da Ti Joaquina onde também se bailou muito com vistas para o sol soalheiro a cair sobre o ribeiro a sul a espreitar por entre os choupos... Acredito se roubavam beijos à conta de ninguém levar a mal...E se comiam os velozes de abóbora, depois da Quaresma de novo só pela Páscoa se as eleitas  " de raça menina" se aguentassem... Deste modo simples, no intuito em não deixar morrer a tradição, contei um pouco do que ouvi do que  foram  as sachas em outros tempos vividas na Moita Redonda, onde  a paulada era de meia-noite quando não dava em zaragata, ou por intriga aguçada e mordaz "partida pregada à laia da má sorte do visado" . A fazer fé no ditado " quem não se pica (ofende) não é filho de boa gente" apesar de dizerem que pelo Entrudo ninguém leva a mal… 
Ora o que mais era senão a ingestão de um copanero a mais de tintol, ou de aguardente, muitos na roda  do tacho de esmalte azul de bolinhas brancas, que serviu no casamento do filho mais velho, o Carlos, com a  cachola repleta de lascas de fígado entalado na brasa, armados de garfo de ferro em punho dele picavam e numa palangana de faiança  na outra borda do balcão havia sonhos, feitos pela Zaira, a loira em corpo robusta, tudo à venda na taberna do meu avô Zé Lucas, conferido pela guardiã das contas a fiado, a Clotilde , porque a minha mãe era ainda cachopa, da escada de madeira de ligação da loja à casa os via  respingões, a dizer asneiras no bater de paus que não largavam, lhe havia de despertar  no seu ver ingénuo, tal espetáculo ao querer espreitar.
Se sobrasse alguma moeda no fundilho dos bolsos alguns em fila ainda se iam "aliviar na mulata" coitada dela e da má sorte ditada pelo pai "Ervilha"que  na ida ao Brasil à procura de boa fortuna, no regresso trouxe dois filhos mulatos, um par de meias de seda, e uns cobres para fazer a casa que era ao tempo boa e grande com um par de janelas de guilhotina , e segura na companhia de Seguros Bonança ...O irmão morreu cedo afogado no poço do quintal na borda do caminho,já ela votada ao abandono sem ninguém nesta vida para lhe acudir, senão os vizinhos sobreviveu a saciar prazeres, sem prazer...Ainda me lembro do seu olhar triste!
Gosto da tradição das nossas gentes ainda vivas nalgumas terras - daquilo que é realmente PORTUGUÊS!
 

Na feira da ladra encontrei há tempos um caderno de capa preta de folhas quadriculado comprado na Papelaria Vasconcelos no nº 268 na Rua da Prata em Lisboa, escrito com sonetos em letra elaborada de  Maria Regina , por volta dos vinte anos de idade ...1926.


SONETO

O que é o Carnaval?!Frouxa risada 
D'ironia ao que vai pelo ano fora
Soluço disfarçado em gargalhada
Escuridão mascarada em luz de aurora. 

É miséria vestida de brocado
Alegria fictícia que consome
É aquele garoto esfarrapado 
Que vês a rir para disfarçar a fome 

É a torpe mentira que nos choca
É a própria mentira que a provoca 
É aquela criança quase nua… 

São três dias que duram o Carnaval, eles
Mas eles passam...vão-se...e afinal 
...O Carnaval da vida continua...

O tema retratado me parece tão atual...Incrível já passou quase um século!

Há outro soneto intitulado - P'ra quê ?  com um apontamento a lápis - " lidos por 
Ana Trindade em 3 de setembro de 1947."


P'ra que me deste um coração, Senhor...
P'ra que m'deste assim como este meu?!
P'ra não poder passar alheia a dor...
Para sangrar como sangrou o teu?

Para que foi, Senhor, que tu me deste
A mim,simples mortal, um coração?.
..Olhai aquela flor que o vento agreste
Derruba sucumbida para o chão..

A vossa cruz!eu sei, foi bem pesada
Mas junto a vós, Senhor, eu não sou nada
Por isso que me esmaga a cruz da vida..

Deste-me um coração;p'ra quê Senhor?!
Se eu sou a própria imagem dessa flor
Que ao menor sopro, cai desfalecida...
O Jogo do Entrudo no Bairro de Santo António em Ansião nos meus tempos de miúda… 
A minha  prima Júlia Silva corria às arcas de onde tirava saias compridas, grossas e rodadas para jogarmos o Entrudo -, naquele dia tirou o vestido branco do casamento da sua irmã Tina, e o vestiu a fazer de noiva que nunca quis ser - apesar dos belos atributos de peito farto em altar e altura desempenada. Não me lembro quem fez de noivo -, acho que foi o "Carlitos Parolo" ou o "Toino da Ti Peleira". Cortejo abrilhantado com música que saia dos foles da pequena concertina do Ti Inácio que a tinha comprado na feira da ladra onde foi feirante anos a fio. Convidados foram todos  os cachopos do Bairro: "Eu e a minha irmã; os Trinta; os Cunha; os da Alice do Pego; os da Augusta do Chico; os da Robertina; os da Carmita; os da Mavilde, Mocho e,..."à mistura  com graúdos no desfile pelo Ribeiro a Vide, a caminho do Cimo da Rua e da vila no auge o Fundo da Rua onde se concentravam a nata da sociedade ansianense... Ano houve que joguei ao Entrudo vestida de padeira. No armário do vestiário da padaria dos meus avós  fui buscar a indumentária e vestida de branco, armei o cesto de alforges de verga de fundos rotos na pasteleira, e de corneta na mão desfilei pela vila até ao Fundo da Rua numa de apitar para chamar à atenção... Coitada de mim julgo os rapazes não me reconheceram...Ou sim e para tristeza minha não me deram atenção -, seria por ser magrinha sem dotes de arregalar o olho?
Ao tempo não havia máscaras tapava a cara com uma meia de vidro, no caso uma da minha mãe nº 8,5, e a sua maquilhagem  fez milagres..e a boina branca rematou a cabeça.
Pelo Entrudo sempre gostei muito de ir até aos Escampados com a comandita da cachopada no atalho pela quelha do Vale no endireito da ladeira , e às  Almitas  direitos ao Escampado Belchior à casa do Serra, depois na direção de Santa Marta sentados nos muros da capela de Santa Marta a conversar e a rir -, em seguida no caminho da Lagoa, com nova paragem na casa da avó da Arminda e da Gracinda ,de caras para  a lagoa que lhe deu o nome, brincadeira farta à  sua roda ,e a apanhar canas para varejar nas águas -, claro e a brincar no  molha molha...
Cansados, a comandita seguia  para o de  S. Miguel onde na casa da Elvira André junto à capela  de S.Miguel e da casa dos avós do Carlos  Cotrim havia de novo alarido. As pessoas gostavam de nos ver pelos caminhos cheios de  alegria e o descaramento de pedirmos alguma coisinha para comer, como se fosse no tempo dos Santos na cantilenga - "Ti Maria dá bolinhos por alma dos seus Santinhos"  as mulheres ofereciam ovos, chouriças, pão escuro de trigo e centeio, laranjas, passas de figo e nozes. 
De regresso a casa o redondel  fazia-se no Largo do Bairro onde a festa acontecia, todos comiam e bebiam, se faltasse alguma coisa alguém ia  buscar a casa, ou comprava-se, se para tal tivéssemos recebido moedas! 
Recordações tenho da azáfama nas vésperas do Carnaval no Correio velho de Ansião, no turno da meia noite,  de ver a  minha Titi com a minha mãe -  mais pareciam mãe e filha, e na realidade eram irmãs com diferença de 24 anos -, na folga dos assinantes no dar à manivela para pedir chamadas locais e interurbanas, matavam o tempo a remendar fatos  guardados anos a fio no sótão do solar da D. Maria Amélia Rego que a traça não perdoou. A bondosa senhora os emprestou a contento, tinham sido  usados pelas suas filhas, já senhoras. Belo, era o  traje madeirense e outro de cigana , de saia rodada até aos pés puxada na roda por flores cerise, com  cesta na mão com elástico e fita de nastro fazia de vendedora de retrosaria. Vestida com eles me passeei até aos Olhos d’ Água onde rebenta o Nabão, por aqui em dia de Entrudo a água jorra em fúria da gruta pelo poço aberto nos anos 40, e segue viagem sempre  a fugir em pujança da eira pela porta aberta repleta de agriões floridos...
Deleite maior sentir a água correr debaixo da pequena e linda
Ano houve que pelo Entrudo na vila enxerguei cabeçudos altos de grandes beiças esfaceladas, e saias de chita rodadas, que abrilhantavam as ruas com a  comandita de zés-pereiras, foguetes, e gente à sua beira…
Tempo de troça, de gozar com tudo e com todos, extravasar alegrias, rir à gargalhada com humores carregados de sarcasmo, de fazer o que durante o ano não era permitido. Atrás dos cabeçudos os cachopos faziam  corrupio -, para nos assustar davam corridas largas, as saias voavam, as cabeças grandes batiam umas nas outros...Risada, muito rir descontraído, solto e aberto de folia.Na véspera tive o privilégio de os ver chegar em cima de uma camioneta e a serem acomodados na casa onde funcionavam no início os Bombeiros antes do quartel - agora a casa do António dos Munhos, ainda assisti ao despique dos homens que os queriam vestir para  rodopiarem pelas ruas!  
A última vez que o joguei ao Entrudo foi com a minha grande amiga Lála da quelha da Atafona, ela vestia camuflado da tropa, eu fazia de madrinha de guerra  grávida, vestida de saia que ela fez enquanto aprendiz de costureira de uma colcha de seda azul-bebé da minha mãe a que pôs um elástico na cintura, a fazer de barriga uma almofada presa com um lenço, de braço dado fomos até à vila desfilar, na placa  do Município encostado a um banco esperava um táxi o Zé Emídio Moreira para ir até à Serra do Mouro namorar… O nosso estar era premeditado de o atazanar com escolha em tantas escolhas!

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