segunda-feira, 18 de março de 2013

O chegar das novidades na vila de Ansião na década de 70...


As boas lembranças e novidades que vivi por Ansião
Advento da CUF… Fábrica de alcatifas, tapetes e tapeçarias que foi deslocalizada do Barreiro no início da década de 60, para engrandecimento da vila de Ansião, pela mão do Dr. Vitor Faveiro. Além da fábrica vieram funcionários e famílias que aqui se radicaram: Rainho, Serrano, Milheiro, Salvador, Marques e, …cujos filhos foram meus colegas na escola primária e depois no Externato. Na minha primeira visita de estudo na disciplina de português com o Dr. Prates Miguel -, ao tempo a redação eleita, assim se chamava na altura, foi a do Silvestre do Casal de S. Brás, por se revelar uma composição aberta..."quantos operários fabris ali trabalham, serão dezenas, centenas, homens e mulheres que vejo diariamente a caminho do turno da CUF..." em detrimento dos demais e da minha, num formato fechado... fui com o Dr Prates Miguel visitar a fábrica da Cuf..." Falar do Dr. Prates Miguel, boas são as recordações deste homem alentejano de Montargil que com 25 anos aportou a Ansião como Professor do Externato, ficando acomodado julgo ao Fundo da Rua (?), mas segundo o comentário a Pensão Valente, nesse tempo já não existia, assim julgo o foi na vila algures acolhido em franca hospitalidade (?). Veio a namorar com a filha mais velha do João Valente, que trabalhava com o irmão Eduardo no Café Valente, minha colega de turma no Externato-, a Nídia Maria Coutinho e Valente...miúda irreverente, de signo fogo, na sorte em ter nascido no feriado do primeiro de dezembro, fazia questão de referenciar vivamente a todos o seu nome com -, "e Valente", adolescente morena, gira, inteligente e mui moderna. Casaram sendo ele mais velho, ela com dezoito anos. Professor sensível e humano na véspera do "Dia de Todos os Santos" dirigiu um convite aos rapazes da minha turma -, quem o queria acompanhar no seu Mini a Montargil visitar a campa da sua querida mãe. Homem agarrado às tradições e saudades do passado contou à turma como o moinho que o viu nascer foi arrasado para a construção da barragem .Inegavelmente para mim o Professor que mais guardo boas memórias até hoje, por as aulas serem de cariz descontraído-, imagino ainda vê-lo sentado na quina da secretária a conversar para nos obrigar a raciocinar. Uma vez perguntava o que era um novelo...a turma de ombros encolhidos, alguns gesticulavam ao mesmo tempo que com as mãos tentavam explicar...porque da boca nada saia até que ele a sorrir nos disse..." é tão simples uma bola de fio..."Um professor que nos transmitiu novas formas de abordagem para as redações.Fundador do jornal o "Horizonte" que por razões que desconheço voltou em 82 com sede no Avelar. 
Na velha cozinha do Externato na copa, o Prof. Prates Miguel ensinou muitos alunos a jogar Xadrez e Damas.Eu era barra em xadrez. Homem de fibra decidiu-se pela advocacia, há anos decidiu em boa hora ser membro fundador da "Associação dos Amigos da Sesta" de renome nacional. A sesta tão enraizada nas Beiras e no seu Alentejo. O que me lembro do "pessoal de fora" fazer uso da sesta quando contratado ao dia em trabalhos agrícolas para depois voltar de novo ao trabalho…
A vila progrediu muito quando começou a laboração da fábrica -, empregava muita gente com ordenados certos ao final do mês, o que ditou o mote de apareceram também novas ofertas de serviços, porque o poder de compra era substancial em relação até então, nem tinha comparação. Vieram trabalhar pessoas das aldeias e arrabaldes deslumbradas com a possibilidade de emprego remunerado. Algumas raparigas alugaram quartos até arranjar melhores condições de Abiul, Gramatinha, Santiago da Guarda e, … 
Dos lados de Abiul veio a Odete, bonita, casou com o "Toino Peleiro" rapaz igualmente belo que vivia na quelha da Atafona. Também a Artemísia igualmente bela não teve a mesma sorte, foi na altura mãe de filho incógnito -, a primeira vez que ouvi tal palavra e não consegui perceber... ainda azar maior o cancro a levou tão cedo desta vida, e não merecia!
Muitos casamentos que esta nova vida de emprego certo, proporcionou... Fernanda filha da Carmita do Bairro com o Arlindo da Sarzedela onde estreei vestido xadrez com babete branco debruado a fita de veludo castanha, na cabeça usei travessa com florzinhas. Os nossos pais convidados para padrinhos lhe oferecem um serviço de loiça de Sacavém comprado no Sr. Chico do Fundo da Rua. Notícia que correu depressa e assim outros convites se fizeram chegar...
Casamento da Rosinda e do Valdemar na Gramatinha
Também recordo o casamento da Rosinda e do Valdemar na Gramatinha. Rapariga de farto cabelo louro e bom coração, empregada na fábrica vivia num quarto da casa da tia Maria com a irmã. Lindas fotos na Gramatinha que tirei com o meu namorado Luís, hoje marido... deitados pela serra salpicada de pedras e de flores silvestres...um dia muito primaveril e aprazível. Bom o bailarico, o acordeonista um bom tocador - apesar do meu par de pé pesado -, irritada estava de olhar para outros e nada  de dançar…Na foto acima a malta do Bairro que se fez para a fotografia na frente da casa da mãe da Rosinda. Anos mais tarde uma sua filha haveria de falecer de acidente -, uma pena que não se esquece!
O casamento da minha vizinha a Fernanda Dâmaso -,à última da hora os meus pais não foram padrinhos...nem sei o porquê, já que a minha mãe adorava a Fernanda.
Na foto estou de belos cabelos compridos atrás do noivo, a Leonor irmã da noiva ao meu lado direito e do esquerdo o Necas filho da Elisa e o Cunha com o irmão ao colo, a minha irmã atrás de mim -, só se vê a ponta da franja tal como a Dália irmã mais nova da Fernanda atrás dos noivos.Os pais da noiva Robertina e Roberto aqui na foto muito parecidos com o Artur Duque e a mulher. Lindos os ranchos de gente, homens e mulheres que vinham de todos os caminhos, em direção da fábrica para entrada ao apito da sirene, na mudança de turno. Da sua alegria passavam em comandita a pé a conversar conferindo à vila movimento, sem dúvida parecia muito mais alegre e bonita com o buliço do vaivém de gentes a caminho da fábrica ou de volta a casa. A fábrica inovou com regalias sociais -, refeitório e creche para os trabalhadores deixarem os seus filhos -, a primeira na terra, até ao dia da triste notícia da morte trágica de uma bebé dos Anacos, filha da Emília…não faltava a colónia de férias na Praia das Maçãs. Tinham piscina onde os filhos dos trabalhadores tomavam banho, e havia loiça mandada fazer com o reclame publicitário da empresa. Alguns funcionários na mira dos escritórios estudavam de noite no Externato para tirar o 2º ciclo, algumas delas fizeram exame em Pombal comigo; a Isabel Manguinhas da Sarzedela, a Natércia Murtinho do Bairro de Santo António, a Elisabete do Pinheiro e, …
Culturalmente foi fundado um rancho folclórico com funcionários que se chegou a deslocar ao estrangeiro. Participavam em festas. Recriaram modas antigas tão típicas da nossa cultura. Por razões inexplicáveis o deixaram morrer, tal confusão acabou mal estreado o passo das saias...
Ainda despoletou a veia negocial em alguns empregados que conseguiam tirar da fábrica a preço de custo os artigos e os vendiam a retalho “por fora” com a sua majoração em rolos de lã, alcatifa e aplicações. 
Na altura muitas empregadas aprenderam a arte do ponto de Arraiolos em Além da Ponte, em casa de senhora vinda aquando da deslocação para o marido aqui trabalhar. Fizeram bonitas carpetes -, a da Laurinda do Casal das Sousas é muito bonita. 
Trabalhei em 77 nos Correios em Coimbra quase três anos. Para colmatar o tempo encomendei novelos de lã da CUF à Natércia Murtinho. Trouxe-me novelos de fio grosso e áspero. Teimei fazer uma aposta com uma amiga enfermeira de Miranda do Corvo, hospedada comigo num Lar de estudantes ao cimo do Jardim da Sereia, ao lado da Penitenciária, em “como era capaz de fazer uma colcha num fim-de-semana, desde sexta-feira à noite, pronta ficaria no domingo depois do jantar ”...Pouco me valeu ter ganho a aposta, fiquei com o dedo esfacelado e picado de tantas conchinhas feitas para ganhar um Santo António… uma nota de 20$00. Resistente a colcha em tom de castanho claro, pesada que se farta, hoje relíquia da casa rural no aconchego da cama de ferro, melhor local não há. Na altura muito se especulou das "almas penadas, coisas do outro mundo, fantasmas..." no tempo de laboração da fábrica quando algo corria mal os operários falavam entre si uns com os outros em jeito de provoco " são almas penadas a vaguear"-, mas pior " outros que foram surpresos por uma velha .." outros ainda que " ouviram uma máquina a costurar" ao que se sabe nada mais foi que uma cena perpetuada por uma tal Gracinda, ao que se conta farta do Eng.º que fazia a ronda do turno da noite que em boa hora premeditou na sua malvadez atazana-lo...mulher perspicaz em pôr a ideia em prática até que colegas nada convencidos da vinda dos mortos à terra, julgo a desmascararam...Teria a Gracinda pensado em consequências (?)...também não sei se as houve, parece que surtiu efeito ao dito chefe que "borrado de medo enfiou os ditos cujos entre pernas, e abalou antes que se fizesse tarde, alando a sete pés das rondas…" Desta forma mirabolante a boa da Gracinda viu-se livre do demónio que a incomodava na ronda do turno da noite -, mulher de mente prodigiosa valeu-se dos rumores de ossadas encontradas na desmatagem do local para a instalação da fábrica, no local da fiandeira, supostamente parte do corpo do que foi do dono da Quinta da Boa Vista com a capela do Senhor do Bonfim, Rui Mendes de Abreu que em 1679 foi morto no cadafalso e o seu corpo esquartajado e dividido pelas terras que aterrorizou, e o povo não quis sepultar no adro muito menos na igreja ou na capela e o sepultou aqui(?).
Uma coisa é certa, denota mulher com coeficiente de inteligência! 

Pastelaria… Numa tarde apareceram na minha casa o Adolfo e a mãe Lúcia Neves da Sarzeda, para falar sobre o aluguer da padaria que tinha sido da minha avó Piedade Cruz. Na carteira profissional tinha o curso de pasteleiro. Ambicionava estabelecer-se nesta arte com a esposa Olinda. Assim foi durante anos a primeira pastelaria com as melhores bolas de Berlim e os Mil folhas na vila de Ansião -, nunca mais devorei pastelaria superior. Tal e qual difícil será esquecer a Marta a única filha do casal, que a vi nascer, era uma bebé doce e linda, e um delírio na festa do S. João de Brito -, vaidosos os pais com ela ao colo a mostravam orgulhosos a todos. Criança esperta cheia de genica, aprendeu cedo a arte para gerir o negócio. Um dia ainda pequenita abeira-se ao balcão um fornecedor que a instiga se pode chamar o seu pai -, "sem papas na língua responde - lhe naquela altivez de vozinha estridente " ele não está, mas estou cá eu, é a mesma coisa". 
Consternados ficámos todos com o desaparecimento precoce da nossa Martita. Ficará para sempre no nosso coração aquela voz de liderança e mãos de trabalho, já agora uma pele de porcelana a fazer inveja a muitas outras mulheres. Tão formosa se vestiu no dia do seu casamento onde fui convidada!

Cabeleireiras… No meu tempo de miúda não existiam. Quem me cortou a primeira vez o cabelo foi o barbeiro “Ti Júlio de Albarrol”.
Julgo à quarta-feira se deslocava depois do jantar à cadeia cortar barbas e cabelos aos presos-, estava eu de nariz encostado ao vidro da janela no Correio velho quando o via passar de maleta na mão. Nesse entretanto ia ter com a filha Odília para brincarmos as duas no sobradito da casa de esquina junto ao correeiro. 
Havia no Pontão o Sr Franco a pentear senhoras onde a minha mãe foi amiúde.
Anos mais tarde apareceram as primeiras cabeleireiras -, Ermelinda no Fundo da Rua, e mais tarde se mudou para a nova casa comprada que foi dum ilustre Figueiredo do Avelar(?).
O salão nas 3 janelas seguidas de caras para o adro
A Aciolina começou a trabalhar por cima da mercearia do Ti Domingos até comprar uma vivenda que foi do Adolfo Paz (?).
Fátima Godinho, conheci o seu salão no prédio novo mandado construir pelo Bernardino, até aí eram uns casões altos onde começaram a funcionar os Bombeiros.

Escola de Condução…Outra novidade instalada numa casa a seguir às bombas de combustível a caminho do Moinho das Moitas. Era moda as senhoras tirarem a carta, a minha mãe também, tal a premência para se deslocar mais facilmente a trabalho nas redondezas por força da informatização telefónica -, não um luxo.
Corria o ano de 72. A Leiria fui com ela comprar o carro novo comprado a prestações com sinal emprestado a juros no escritório do Sr. Américo Gaspar -, no tempo vinte contos. De regresso às Meirinhas o carro não desenvolvia -, atrevida atazanava a minha mãe para acelerar a fazer fé na lembrança que me ditara quando me telefonou a dizer que tinha passado no exame, e me descansou dizendo " nunca iria usar a 4ª mudança"...Demora foi chegar a casa e sem delongas fui chamar o mecânico -, o " Carlos Pego" que abriu o capou no adro e analisou o filtro de ar -, possivelmente digo eu, raro ao tempo se abrir um capou de carro acabadinho de sair do stand... Nisto vemos chegar ao adro o filho do empreiteiro que fazia o saneamento na vila, de estar atrevido abeirou-se e disse, " isto é um carro em 2ª mão" defendi tal despropósito que no imediato reformulou " é, depois de sair do stand, é ou não é? "…
Pensámos que o melhor seria voltar a Leiria ao stand porque estava na garantia. Assim, no dia seguinte quando chegámos vi que a montra de onde tinha saído o carro estava outro igual, mas em creme. Explicamos o sucedido -, eu ainda disse, gosto mais da cor do carro da montra, o vendedor não foi de modas tirou-o e nele viemos de volta. 
Muitas senhoras da vila e dos arredores também foram aprender a conduzir, uma novidade, no pior, a maior parte nunca deu uso à carta. Deste tempo quem também tirou a carta e gostava muito-, a Augusta Maria conhecida por Augusta do Ti António da Olinda. Viria a falecer num brutal acidente de viação. Grande o funeral a passar à sua porta, a sua mãe gritava da janela, qual mãe não sente a perda para sempre de um filho!
Num tempo de poucos carros…Grande o fascínio em conhecer o ruído dos carros que durante anos a fio tanto passarem à minha porta...A Prof. Fernanda Antunes, no seu BMW 2002 azul-bebé a caminho da escola na Bairrada e de volta a casa sempre no mesmo horário, o mesmo com o Sr. Nogueira que servia de motorista à esposa a Prof. D. Maria José, fosse a entrar ou a sair ao Ribeiro da Vide, a caminho da Sarzedela; igualmente motorista o Teixeira do Marquinho a caminho de Albarrol levar e buscar a esposa também ela Professora; sendo o primeiro de sempre o Sr. Adriano Marques e a esposa D. Lúcia, que durante anos e anos os senti no caminho da sua loja de tecidos e roupa confecionada na vila ou da sua casa nas Cavadas; e do Dr. Travassos que não havia dia nenhum que não passasse no seu Ford para ver mais um doente, até mais de uma vez, e das carreiras a caminho de Coimbra e de Tomar, da camioneta do tio Russo e do Adelino do Fundo da Rua, ao sábado a carrinha do sacristão de Pousaflores a caminho do mercado, do carro do Prof. Reis de S. João de Brito e, … Fatalmente foi uma época de mais carros pela vila!

Chegou a informatização telefónica a Ansião…O correio velho funcionou nesta casa que antes tinha sido de um padre.Entrei vezes sem conta nesta porta, o mesmo me mostrei na janela, lembro a tranca de madeira que a fechava, enorme, igual à chave da porta.

Por força da modernização o posto de trabalho da minha mãe ficou em supra numerário no novo edifício cujo local foi escolhido na Pensão Melado, no grupo que ali se reunia com o então padre Filipe.Deveria ter sido construído no gaveto camarário onde foi construído o prédio do Tarouca...na vila sempre houve gente a puxar investimento e empreendedorismo para as bandas do Fundo da Rua, o que me chateia francamente!
Um tempo que passou a percorrer outras terras para fazer férias, partes de doente, ou fluxos de trabalho sazonal no verão. Tempos que tanto eu como a minha irmã vivíamos de coração nas mãos com medo de ela poder vir a sofrer algum acidente. Alguns sustos sentimos. Uma tarde vinda de Figueiró dos Vinhos encontrou-se no meio de um incêndio que atravessara a estrada, remédio não teve senão fazer inversão de marcha e voltar pela Arega...num tempo sem telemóveis, a hora prevista de chegada tardava, e nós sem nada saber e de coração aflito com o Turco, o nosso cão, à espera de um sinal do carro ao alto da padaria da D. Piedade...valeu-nos o forte ouvido do cão que mal sentiu o trabalhar do motor se pôs de abanico com o rabo e se encaminhou para a esperar na entrada do adro e assim acalmámos!
Saudade da D. Maria Augusta Morgado, a chefe da estação de Correios, vestida de bata de cetim preta reluzente sempre de caixinha comprimidos Saridon na gaveta, um dia eu e a minha irmã fomos "descobrir" a casa de habitação no sobrado da estação, de tão meiga e delicada foi incapaz de nos chamar a atenção … Foi o seu filho Antero que nos chamou a recato em boa hora!

Falar dos carteiros do meu tempo de menina e moça -, uns mais alegres do que outros. De todos guardo boas memórias, sempre me trataram com carinho quando os via a distribuir a correspondência nos cacifos logo de manhã, depois de arrumada a mala de cabedal, cada um partia para o seu giro de bicicleta, outros de motorizada.O mais carismático talvez por ser o mais velho, o Zé Carteiro das Manguinhas, uma vereda do Casal de S. Brás; António Duarte do Moinho das Moitas, músico e sentimentalista esteve no Caramulo a curar-se da (tuberculose(?) nesse tempo escrevia todos os dias à mulher; Hingá , recordo que fumava muito, dono de uma voz forte da Sarzedela; o Zito Coutinho de Além da Ponte, primo , também fumador, homem alto muito pacato; o João Luís dos Netos tinha duas filhas que andaram comigo na colónia balnear, um bom homem matou-se a trabalhar para ajudar um filho numa doença que conseguiu debelar, fazia negócio de velharias para ganhar mais uns trocos ; o Albertino do Cimo da Rua, casado com a prima do meu pai a Clementina, de todos o mais tímido e reservado; João Lopes de Ansião e Parente do Escampado os mais recentes igualmente boa gente. Houve um deles que num momento de depressão por achar que tinha muita correspondência para entregar a escondeu na desativada serração do Carlos Antunes, no início de 80, com as consequências que tal procedimento daí adveio para muita gente, nem sei se teve processo disciplinar...havia um que era sem dúvida muito boa pessoa das Vendas do Brasil , o Ferrete(?) se a memória não me atraiçoa.
A Ti Olímpia do Bairro de Santo António foi carteira da Mala Posta quando eu era ainda criança. O seu giro a pé fazia-se pelas Cavadas ao Pessegueiro.Gostava de levar notícias, não sei se sabia ler!
Dizia a minha mãe que ela lhe confidenciou que do seu salário mensal poupava 20$00. Mulher simples, honesta, gostava de partilhar as suas ideias -, com orgulho contava à minha mãe o seu método de poupança, certo com ela aprendeu a poupar algum dinheiro, na continuidade eu por acréscimo para tal ensinamento ser platónica com a minha filha. Resultou o ensinamento da poupança e do valor do dinheiro, graças à Ti Olímpia que Deus tem, e era tão boa pessoa, vestida de negro sentada nos bancos corridos de pedra na frente da sua casita ao cimo do meu quintal, ano mais tarde na sua casa os cachopos encontraram nas paredes notas enroscadas entre as pedras, seriam as suas poupanças? Nesses tempos a carteira da Moita Redonda foi a Ti Albertina das bandas da Serra do Mouro. Havia outras como a do Levi do Moinho das Moitas no seu giro para os lados de Santiago da Guarda.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Nexebra no costado poente a piscar o olho a Pousaflores e suas tradições


Arrepiante e descritível a beleza da serra de Nexebra no despontar da Primavera com as rosas de silvão aqui chamadas de  rosas de Alexandria em cerise forte ou rosa pálido, açucenas, ramagens floridas em ciranda branca dos Sabugueiros , cachos de lágrimas a pingar dos arbustos, tapetes de abrigotas nas costeiras dos leirõe, faziam-se tapetes na visita Pascal no tempo do padre Melo.
Rosas de Alexandria 
As flores silvestres no costado do Outeiro do Cuco na  Nexebra
Quando cortam a madeira ao longo do dorso do cume da serra verificam-se vários afloramentos que irrompem aqui e além ,quatro ou cinco de erupções xistosas com muita mica dourada reluzente e quartzitos brancos. Ao maior afloramento o povo deu-lhe um nome castiço  “bichana da burra”… 
Junto a um  afloramento está o picoto! 
O costado apresenta-se serpenteado de pedregulhos de mármore rosa, alguns com toneladas...semeados à toa numa courela da minha mãe, a que chamam Seixal. 
Será que existe ouro nesta serra onde irrompe o xisto?
Mina de S. João


Picoto da Nexebra
Descida abrupta do picoto
Do lado direito um gaveto de terreno enorme ladeado por estrada por todos os lados e a nascente com o morro do picoto pertença da Quinta de Cima com eucaliptos grossos e muitos derrubados com a última intempérie, imagino o barulho ensurdecedor. A minha mãe ia na frente fresca que nem uma alface depois de ver a sua Courela da serra, o Pinhal do Sérgio e o Leirinho.
Caminhada pela serra da Nexebra em trajes campónios
A minha filha junto do arbusto - lágrimas na eira de xisto ao vale, da minha mãe 
A aldeia de Moita Redonda estende-se ao longo do sopé da Nexebra sob o comprido, sendo por isso uma aldeia de casario disperso. Aqui irrompe o xisto. Julgo que foi habitada nos primórdios de 1700 -, possivelmente o povo reaproveitou as minas (a serra era pouco arborizada, só havia pinhal, castanheiros e prados de flores) e as reutilizou como represas de águas para o regadio dos leirões esventrados ao costado da serra e abastecimento doméstico. Ainda me lembro da água ser escalonada pelos habitantes que sobre as minas tinham o seu quinhão fosse de dias ou simplesmente horas -, cada dono abria a levada para o seu leirão ou para encher o poço, no fim dessa cedência do direito à água, outro aldeão a fechava e a abria para si, e assim sucessivamente até a roda da semana se concluir.
Vista da Mina de S. João do Outeiro do Cuco
A água era um bem precioso. O ribeiro que corria todo o ano do cume da Nexebra conta-se que alguém mandou fazer um anel com as pepitas que nele encontrou no garimpo.
Certo é que a serra da Nexebra é toda ela esventrada com minas  talvez do tempo dos romanos (?), a via romana a caminho de Tomar passava aos pés da Nexebra a nascente, o que imagino a teriam explorado tal como o fizeram em Góis e Arganil.
Ultimamente tem-se falado na prospeção de ouro nas serras de Figueiró dos Vinhos tal-qualmente também tem minas esventradas iguais a estas que supostamente no passado foram pesquisa de ouro ou garimpo na Ribeira d’Alge (?). Neste ajuizar a pensar nos romanos aproveito o reparo do Pedro, um homem que também conhece a Nexebra,  no passado senhora de muita mina d'água " As minas da Nexebra (mina velha, mina nova e mina do capitão) não datam do tempo dos romanos! São muito mais recentes." 
Estas minas são a nascente da serra e as que abordo são a poente.
Resta a toponímia “ Pedra do Ouro” e “Furadouro” e seixaleiras ou cascalheira da exploração romana.
Rosas de Alexandria em rosa pálido
História da extração de ferro com as minas do Pinheiro em Pousaflores… 
Não deveria perder-se a sua história, daqui saiu ferro para abastecer a primeira Metalúrgica na Foz d'Alge onde se fizeram as primeiras peças de artilharia naval e de fortificações no País até 1761 -, segundo afirmou num programa televisivo o Prof. Hermano Saraiva. Hoje em ruínas submersas pela subida de águas da albufeira do Castelo do Bode na foz d’Alge.
Tal e qual do “Engenho da Machuca” também situado junto à linha de água, só servia para fazer movimentar as máquinas, segundo Henrique Dias um apaixonado destas terras e das suas tradições nascido por Maças de D. Maria," apesar de nunca lá ter ido diz haver imagens do sítio na Câmara e na Biblioteca de Figueiró dos Vinhos”. 

A minha mãe sentada na sua eira de xisto ao vale
Estonteante a beleza verde que se avista longínqua da Serra da Nexebra do picoto,qual miradouro revela-se devastador sobre Maças de D. Maria, Anjo da Guarda...e , mais lugares!
Festa em honra de Nossa Senhora das Neves…
Celebra-se a 15 de Agosto em Pousaflores. 
Acorria gente de todas as aldeias à romaria: Moita Redonda, Lisboinha, Pereiro de Baixo e de Cima, Quinta dos Ciprestes, Pobral, Azenha, Carregal, Portela de S. Caetano, S. Lourenço, Venda do Negro, Gramatinha, S. João de Brito, Ansião, Chão de Couce e, …
Fogaçeiras
Raparigas solteiras ansiosas levavam as ” fogaças de tabuleiro alto” igual aos que persistem ainda hoje em Tomar. Engalanados por elas de véspera com papel branco recortado a imitar um bordado de renda com um ramo de flores a encimar em forma de cruz -, muito bem vestidas de rodilha nova no altar da cabeça, vaidoso era o seu andar. Tempos idos da fogaça levada pelas irmãs mais velhas da minha mãe à festa com o registo de foto à la minut no terreiro do adro com a minha mãe Ricardina e os irmãos ainda solteiros: Alberto, Rosária, Clotilde e Titi com o tabuleiro no chão - visível o forte contraste da tenra idade da minha mãe que ao seu lado quis ficar.Teimam em persistir ainda lembranças desse passado faustoso da oferenda dos tabuleiros com os andores de bolos ferradura de sabor a erva-doce -, ironicamente apelados de fogaças. De casa vinham as mulheres com cestas largas de verga branca e aba baixa com o farnel aviado, algumas para oferenda à padroeira, no palanque licitadas em voz alta pelo pregador e arrematada por muitos anfitriões e com elas debaixo do braço saiam do adro à procura do melhor lugar na Chousa para a reunião e deguste em família ou amigos.
Alguns marcavam os lugares com as mantas antes da missa e da procissão...quem não o fazia aligeirava-se em passo corrido pelos costados da serra do Anjo da Guarda ajeitavam-se em terreiros de grandes carvalhos em mantas de tear - sentados ou de pé se refastelavam paroquianos, e forasteiros -, nesse dia certa a reunião de familiares, não faltava o garrafão de vinho, nas mãos bom pão, e naco de leitoa bem apimentada de pele estaladiça assada no forno a lenha em espeto de loureiro à Moda da Nexebra -, nesse dia imprescindível!
Selfie no quintal da casa do Fojo, eu a minha mãe e filha - e gerações que amam a Nexebra e a Moita Redonda 
Na loja do tio Alberto vendia-se sandes de leitão avulso aos peregrinos de ocasião enquanto dos pipos saírem em fila copos aviados a pingar e logo emborcados em pressa pelos fregueses. 
O que me lembro destes piqueniques com os tios "Paredes"sempre grande festança -, a deles uma das maiores por esta região. 
Saudade dos pais do meu tio "Paredes da Portela de S. Lourenço o Ti Manel e a Ti Conceição". Muitas festas em casa deles quando o filho com a minha tia Rosária radicados em Luanda vinham de férias a Portugal, também com eles fui duas vezes a Badajoz, em frente do arco a imitar o do Triunfo de Paris, o Ti Manel, ladeado por mim e pela minha irmã com chapéus a imitar o dos cowboys um em branco e o outro azul claro. 
Também da Maria do Ò dos lados de Lisboinha -, além de rica bordadeira era exímia boleira, as formas para fazer os bolos em camadas eram latas da goiabada.
Foto da sede do Grupo Desportivo e Recreativo de Pousaflores...
Acredito a peça em madeira usada para tirar o barro dos poços que ofereci estará algures recuperada por aqui... 


Recordar outras gentes da freguesia de Pousaflores: 
Prima Nélita e Isaurinda; filhos do Quintaneiro; filhos do Sacristão e,… 

Portela: Abel, Delfim, Adélia e "Carlitos Piriquito"; Eduino e irmãos; Rosária e irmãs; Emília e,…
Lisboinha: Ernesto, esposa e filha Natália; Zé Neves; Jorge Silva; Luísa; Patricio e Fernanda, Filó, Manel, Lena, Claúdia, Ana, Lisette Alcanena e,… 
Pereiro: Tio João, esposa Zézita, filho João Luís; tio Zé Serra , esposa Emília, filhos João e Rui e netos … 
Pobral: Mafalda e irmã Fernanda, Gina, Vitor e,…
Imagem do alvorecer do sol na Moita Redonda ...
Em jeito de desculpas de todos aqueles que me esqueci dos seus nomes no tempo...

segunda-feira, 11 de março de 2013

O pôr-do-sol ao alto da Ameixieira e as suas gentes...





Maravilhoso...Lindo...Doce...Encantador...Deslumbrante, e...
Desalmadamente ao entardecer, em dia de cara outonal,  senti o brilho ímpar, único, numa primazia idílica de grandeza sem igual ao alto da Serra da Ameixieira, após subir a Serra do Mouro, tendo por companhia a vista deslumbrante sobre o cume do Alqueidão a espraiar-se no vale do planalto do Camporês-, tal contemplação só possível na única reta da estrada e mal me descuidei já estava a entrar na  curva apertada em "S" que encobria um inesperado sol a disparar em raios luminosos, como que a dizer adeus... Sem dó nem piedade, tão pouco pediu licença, estatelou-se em brilho incandescente no vidro do carro, deixando-me cega... Qual beleza estonteante a lembrar o poente, assim igual já vi por Albarrol, Costa do Castelo, Venda do Brasil, Serpa, Matosinhos...
Quiçá  um dia em África !
Espantada com o leque incrível de cores fortes, quentes, dilaceradas a fogo vermelho raiado de amarelo e laranja, a fugir de mansinho a caminho do mar... 
Fatal não parar para admirar tanta beleza que me sufocou de paixão!
Apressada e de mão trémula teimei registar tanta beleza na objetiva -, desconsolo meu, constataria mais tarde a falta de perícia no arrebatar do plano luminoso deste pôr-do-sol no Maciço de Sicó -, por culpas do encadeamento e fascínio de beleza incomum  que mirei no horizonte ao endireito dos cumes serranos do Casal Viegas, Serra dos Carrascos,  Albarrol no endireito do Vale da Vide...
Sempre às pressas tenho por hábito aferrolhar portas na casa da Moita Redonda para me perder mais uma vez, outra vez nas paisagens de olival pelo Camporês -, algumas milenares plantadas pelos romanos, mais tarde reconquistadas pelos árabes - mouros teimosos insistiram em deixar azenhas, alambiques, noras, balanços, nespereiras, limoeiros, alguidares, almotolias, alforges, ainda outras palavras sem a inicial "AL" azenha, nora, adufe, hortelã, coentros.
A julgar o terreiro da célebre batalha de Ourique, travada contra os sarracenos em Chão de Ourique  (?) nos planaltos da Ateanha ao limite do Camporês -, um dos locais prováveis defendido pelo Prof. Hermano Saraiva e outros historiadores-, honra disputada a par com Chã de Ourique no Cartaxo, ainda Ourique em Lisboa, e jamais Ourique no Alentejo -, mas é desta que reza o anal da história. Por aqui houve guerras, pelos achados...e o D. Afonso Henriques estaria por Coimbra nesse tempo e andou por aqui, isso é sabido!Derrotados os sarracenos, outra vontade não tiveram, senão de fugir às pressas …Quero acreditar que algum mouro teimoso, ou "alma penada se deixou ficar escondido na Serra do Mouro" no certo desígnio de perpetuar marcas na toponímia: Alvorge, Alquelamouque, Aljazede, Alqueidão, Albarrol além do traço visional nas suas gentes ainda hoje há descendentes na sua passagem por estas terras com características desses genes "carapinhas, olhos negros, pele trigueira, d’olhão, alcunha para a veia negocial " .
Sem dúvida encanto tamanho o trajeto de subir a Serra do Mouro a caminho de Ansião ao entardecer, no alto o refúgio abandonado dos "Caçadores" mal estimado e preservado -, tão bonito que foi, um desespero! Também o inverso é verdade, pela manhã tenho visto ao cruzamento para o Alqueidão bandos de perdizes e perdigotos atrás da mãe ordeiros abanicando as penas do rabo...tem vezes que paro, me atrevo a correr para os tentar apanhar -, mal me sentem, aceleram a marcha até que se atrevem a voar...
 
Em plena descida, na curva maldita, na berma ainda os grandes pedregulhos recordam-se sempre a morte do Isaías Cassiano que foi do Casal das Sousas -, rapaz bonito, educado, simpático que conheci aspirante no Tribunal -, andava em despedida de amigos para voltar a França na década de sessenta onde procurou nova forma de vida, na mota emprestada pelo meu pai, seu amigo, no gozo de "vacanses" nas mãos nos levou presentes: champanhe, Marie Brizard e chocolates…

O ritual da "chega" do porco à porca…Grande o corrupio apressado das mulheres da Lagoa da Ameixieira, do Cimo da Rua, Pinhal Terreiro, Quelha da Atafona, de tantos lugares – munidas de varapau na mão, encaminhavam apressadas as porcas a caminho do curral do barrasco cobridor, na casa do Ti António Moreira no Bairro de santo António. Viril ficava o barrasco, quando a porca entrava à cancela de madeira do curral -, não se fazia rogado em começar a corte da cobrição -, os cachopos, em passo de corrida mal sentíamos tal caminhada na ladeira da Cerca (onde funcionou o hospital), esfalfados na corrida atrás da porca a olhar para o rabo torcido, já  no curral dependurados no tabuado, qual palco em frenesim inusitado de dança e andança, do poleiro do porco no traseiro da porca, sem perceber  porquês...
  • Um dia perguntei à minha mãe o que era isso da "porca ir ao porco" e não me safei de um brutal estalo  com a retórica "vê lá se queres levar mais "...
Estranho era também ouvir falar "entre dentes" da mulher do … de quem se dizia "à boca cheia ser uma grande vaca…" e nos livros -, a vaca era um animal pachorrento que comia erva, ruminava horas deitada para dar leitinho... nisto, interrogava-me, será que também ia ao boi (?) 
Gentes da Lagoa e Ameixeira... ,Lugar  que nasceu à volta da lagoa  que lhe ditaria o nome - nada mais que uma (Dolina) apesar de  antropomorfizada ao longo dos tempos pela construção de muro delimitador para retenção de águas - não deixa de ser uma bela geoforma cársica do Maciço de Sicó como ainda felizmente existem muitas na região, na primavera cheias d'água são lindas de observar. 

Tenho apreciável apresso pelo "Ti João cantoneiro"  que conheci ao Ribeiro da Vide na Casa de Cantoneiros -, antes de rumar a França, bom homem tal qual o Saguim -,os mais simpáticos, no cumprimento diário, quando nos cruzávamos.Trabalhadores teimosos na tarefa de tapar os buracos das estradas da vila, e das vezes de os ver acender a fornalha da máquina do alcatrão, onde hoje é a casa da família Tarouca .
Também da hospitaleira esposa D. Helena e dos filhos: Odete (minha comadre, doçura de senhora me presenteia amiúde) Carlos Alberto, Arminda, Alfredo, Sérgio e Paulo Silva, todos muito simpáticos, humildes, amigos do seu amigo e mãos francas para obsequiar.
Na sua casa já estive por várias vezes onde as mesas se apresentam sempre fartas de bom pão cozido no seu forno, o mesmo das carnes servidas em travessas Vista Alegre de grande fineza delicada pela antiguidade , bom queijo e salpicão, tordos e perdizes na brasa, para não falar da variedade de doces onde o Pão de Ló sendo enorme de alta confeitaria, pela mão da D. Helena. E claro bom vinho!
Renato -, neto do "Ti João cantoneiro" a tocar acordeão -, arte que o avô também foi artista, sob o olhar orgulhoso do pai Paulo Silva e do meu marido em abril de 2011


Foto com a minha linda comadre Odete em grande plano com o marido o Fernando Moreira do Casal S. Brás, na frente os pais dela - Ti João Cantoneiro e a Ti Helena da Lagoa da Ameixieira
 Ainda tempo para falar das vizinhas: Suzete; Delminda; Filomena; Fernanda, Rosa; Delfim vinha com os pais ao terreno junto ao largo do Ribeiro da Vide -, moreno bem bonito havia vezes que vinha na companhia da sua prima a  Lucília Teresa dona de belos olhos expressivos  -, ambos a fazer jus a moiros, ele tornou-se advogado, viria mais tarde a construir nessa courela uma casa onde montou escritório, ela foi professora, soube há pouco estar muito doente. Fiquei imensamente infeliz por o saber, sendo tão nova e bonita não merecia!
Difícil esquecer a Amélia dos olhos tristes... Que Deus levou tão cedo da nossa presença e acredito nunca foi feliz  nesta vida com o marido Serra do Escampado, sendo 17 anos mais velho, bem a devia ter estimado, porque mulher tão trabalhadora, sofredora em silêncios e humilde, nunca conheci outra assim igual!
Também do "Ti Fidalgo" -, alcunha de António Ribeiro -, fazia artigos de cestaria com palha de centeio presa a tiras de plástico preto que aproveitava das encomendas para fazer o feitio-, na sua falta usava silva seca para prender a palha. Das suas mãos saíram cirandas para limpar a azeitona com pauzinhos de oliveira ou urze; o palhão, usado para tapar a massa da broa a fermentar; fruteiras de pé alto e, ...
Exemplares na casa do meu compadre Fernando Moreira
Casal Soeiro: as manas Helena e Mariazinha no tempo que foram criadas de servir em casa da minha tia Carma Russa…
Em abono da verdade -, a Mariazinha de seu nome Maria Irene...a tia Carma quando as contratou chamou a recato a Irene na obrigação iminente de lhe contar um episódio íntimo que lhe era desfavorável e cuja interveniente tinha o mesmo nome "em jeito de pedir, a tia perguntou-lhe se não se incomodava de ser tratada por Mariazinha"… boa moça, meiga, acedeu ao pedido, ainda hoje assim me lembro dela, graciosa, tanto quanto a irmã. Raparigas boas amigas -, quantas boas recordações da cumplicidade de tanta amizade. 
Chegava ao balcão da mercearia de cesta na mão, logo os meus olhos corriam os armários para descobrir a farinha Amparo - , enquanto isso elas de corredor na mão aviavam colorau doce e pimenta em cartuchinhos de papel pardo, arroz e açúcar amarelo, já o   bacalhau e a raia era cortada na grande faca que até estremecia o balcão, as sêmeas para os porcos aviavam dos sacos de atilho corrido arrumadas na arrecadação debaixo da porta para o sobrado -, um dia ouvi a tia na conversa com o vendedor " oh senhor a margem das sêmeas nem se sente, estou a perder dinheiro..." debaixo do balcão arrumavam os paus de sabão azul ou rosa, pacotes de Omo e Sunil, para lavar a roupa e no teto e nas portas penduravam tripas secas de cheiro nauseabundo para fazer as chouriças e as morcelas, e claro rebuçados, elas davam sempre uma mão cheia deles. No pátio ao fundo aviavam malgas de água-pé escura a escorrer pelo vidrado...aos homens sôfregos por pinga!
Recordo também a  Alice que foi empregada no hospital, além de boa empregada tinha umas mãos delicadas para o crochet. 
Tive um colega no Externato -, o Henrique, se não me falha a memória é do Casal Soeiro ou será Ameixieira?
Ribeirinho ou Casal Soeiro (?)  O "Ti Zé das Notas"  rara a semana que o não via nos seus terrenos na proximidade da minha casa -, o que me lembro dele, baixote e pitoresco.
"Ti Zé Reis" também velhote, magro, simpático, vinha muitas vezes ao seu grande terreno de pinhal, milheiral e vinha na frente da minha casa, onde se especulou a Câmara pretendia fazer o mercado - que bem ali teria ficado, porque a vila merecia já nesse tempo encaminhar-se mais para o Carvalhal… 
EmpiadosIsaura linda e bondosa mulher que conheci padeira.
Paisagem de cariz mediterrânico. Avassalador parar. Nunca me canso de a mirar  ao alto da serra da Ameixieira -, melhor quem se atreve como eu a entrar nela dentro na procura incessante de pedras esculpidas pela erosão...


Quando descobri esta logo me  fez recordar as botas que o sapateiro fazia ao meu tio Chico... 
Em baixo espécimes de machados de pedra do tempo do neolítico (?)Também aqui encontrados por mim!
Artesanato...Mantas de lã da CUF feitas por um tecelão do Avelar, de cariz romântico, airosas com passarinhos, da minha comadre Odete, intervalados com corações e flores.
 
Flores...Nascem na serra espontaneamente à toa semeadas pelo vento; lírios, alecrim, oregãos, funcho, rosmaninho, urze branca, murta, esteva, arruda e orquídeas. 
Gosto sempre de ir à serra apanhar  flores para o meu oratório na Páscoa!
Rosas albardeiras por aqui chamadas de cucas, na frontaria da primeira casa ao vir da Serra do Mouro, na Ameixeira-, lindíssimas.
Venham descobrir, quem tiver um bom jipe ou mota4 no cimo da serra atrevam-se a descer pela nova variante, atravessando o costado...Mete respeito a descida, na planura do vale, perdido de vegetação exuberante, e animais -, coelhos e perdizes, quem sabe raposas e ginetos, onde julgo um dia passou perto a via romana aparecem courelas, e do lado direito um contraforte altaneiro brutal em pedra,- de defesa natural.
Idílico para amar!
Gotículas de orvalho num lírio roxo...
Tudo é belo por esta terra implantada nos costadas das serras...
Onde ainda persiste casario em pedra de traça típica com  janelos, escadas, varandins, currais e eiras.

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