quinta-feira, 3 de julho de 2014

Quinta de São Lourenço no Vale de Palença em Almada

Para se descobrir a Quinta de São Lourenço no Vale de Palença em Almada tem de se descer a encosta da arriba da Caparica, sobranceira na margem do Tejo onde teve uma pequena baía de praia e ancoradouro com túnel  na ligação do casario da quinta ao Tejo.
A beleza do lugar é perturbada pelo complexo da empresa Tagol, elemento dissonante na paisagem pela adulteração e perturbação visual dada pela altura da estrutura, cores fortes e cheiros com a entrada e saída de camions em constante tráfego.
Vista da parte ocidental de Lisboa, Alexandre Jean Noel, início da década de 1790
Palença de Baixo
"A melhor notícia de que dispomos desta fortaleza [fortim da Banática] é devida ao conde dos Arcos [D. José Manuel de Noronha e Menezes de Alarcão] que atribui a construção ao mandado de D. João III [que reinou de 1521 a 1577] e a localiza não na actual Banática mas sim em Palença de Baixo...
Duarte Joaquim Vieira Junior refere que "onde está a fábrica de tijolo — hoje é fábrica de guano — existiu em tempos um fortim que foi construído no reinado de D. João III, e do qual ainda hoje há vestígios, existindo os paióis de pólvora, que foram feitos sob a rocha, para o lado de leste, e que ainda no tempo de D. Miguel foi este artilhado e guarnecido até 1833 pelas tropas do usurpador".
O excerto refere-se onde hoje é a fábrica Sopol, no talvegue a seguir ao da Arrábida.
Os poços escavados na encosta onde se guardava a pólvora seriam na encosta de  Palença entre a actual Sopol e o Porto da Arrábida, ultimamente a empresa aumentou para este lado, por isso devem ter sido destruídos e claro o  Fortim referido também não existe com a edificação da empresa Sopol.

Cais de Palença
A imagem da gravura do casario industrial que se distingue na frente da praia seria da fábrica de cerâmica Palença . Não se percebe o que transportam os operários se sabão ou tijolos
 Imagem Portimagem
Descendo o talvegue de sul para norte
Homem cortava canas para fazer uma vedação  numa horta, quando passei  na volta já ia com elas de rojão  ...

Muitos camions estacionados ao longo da descida na espera de entrar para a antiga empresa Tagol-, o certo era terem um parque no sopé da encosta (?).
A empresa sita a nascente com frente ribeirinha na margem do Tejo de paredes meias com a Quinta de S. Lourenço a poente, o tráfego e o cheiros fez com que a quinta tivesse perdido interesse turístico e esteja em regime de comodato, julgo.
O Instituto da Qualidade altaneiro 
Encostas de canas...
Casebres  de lata  com madeiras e lixo escondidos pelos cantos pela vegetação e silvedos...
                          
Hectares de terrenos em descampado a perder de vista pelas encostas...Outrora cobertas de vinhedos e de trigo.Hoje votados em total abandono onde predominam canas, silvas, ervas daninhas, pragas infestantes à mistura de árvores de fruto, oliveiras resistentes e amontoados de lixos. Incultivo medonho de dar dó, ainda encontrei hortas desirmanadas, semeadas em lugares recônditos por via dos roubos, que os há na hortaliça também! 
Ninguém olha para este abandono em total desespero! E o certo era alguém de olhão ver e atuar! 
Se houver vontade e empenho em gente com visão o poderia voltar a ser produtivo com a plantação de vinha, porque pessoal para trabalhar de sobra perdura por aqui, com tanta gente a precisar de emprego e outros que sabem ainda do cultivo da terra. Assim de novo seria um regalo apreciar as encostas ligeiramente aplainadas se voltarem a vestir de roupagem de cepas mas desta vez ordenadas, modernizadas com vedações sem magoar a vista, o mesmo em infraestuturas de apoio, no auge uma adega vinícola, com escoamento para o Tejo no Vale de Palença, junto da antiga fábrica de sabão e para a ponte 25 de abril, norte e sul-, lugar de eleição sem dúvida.
O Pragal merecia esta atenção especial ao fazer deste local o renascer das cinzas, na vaidade e vontade de vencer e voltar a brilhar com produção vinícola e empregabilidade para rivalizar com o Douro vinhateiro, que a cada dia dá cartas! 
Isso sim a maior conquista de Abril, na margem sul, aqui no Pragal defronte de Lisboa, triste e tão mal tratada!
Contrastes de encostas subaproveitadas, um caos...
Resistem partes de muros antigos, este seria da Quinta de Santa Rita pelo enfiamento , sendo que foi cortado para se abrir a Avenida dos três Vales, de ligação ao Bairro do Matadouro. 
Já onde se encontra o casebre de lata seria a Quinta das Casadas de Cima-, o que resta o nome na rua da frente.
Bairros sociais com vistas deslumbrantes
Supostamente também a Quinta de S. Lourenço foi expropriada, a fazer fé do que nesta zona aconteceu em 71, desde a arriba da portagem da ponte 25 de abril no Pragal, até ao Porto Brandão.
"Imóvel protegido de interesse público, decreto nº 28/82, DR 1ª série nº 47 de 26 de fevereiro 1982.Obras de restauro efetuadas pelo IGHAPE (?) em 1990. 
A Quinta de São Lourenço desenvolve-se num complexo de arquitetura agrícola, maneirista e barroca. Casa rural edificada em formato "L" data provável de construção da residência no século XVII segundo uma inscrição numa pedra 1713. Tem capela integrada, antecedido por alpendrada, rasgada por escada de acesso, murada, assente em terraços ou patamares com degraus e comunicação inicial por ancoradouro fluvial (neste agora não sei se ainda?).Imóvel de construção seiscentista com arranjos no século XIX. Revestimento azulejar de grande qualidade iconográfica. No jardim vê-se ainda, meia desmantelada a bacia de uma fonte barroca, possivelmente quando esteve em abandono a tentaram saquear... Adquirida pelos Condes da Cunha sendo da família até ao século XIX, cujo brasão se encontra sobre o portal de entrada, sendo 1742, a data inscrita no painel central que ostenta o brasão na sala de entrada; 1760 data de alguns painéis de azulejaria. No século XIX foram feitas obras de acrescento de um piso, e em 1996 a casa em total abandono com projeto do IGAPHE que laborava estudo de recuperação…Acabou em 1998 por o imóvel apesar de continuar público, ter sido cedido,em regime de comodato, à Associação Valdecor- Instituição Particular de Solidariedade Social onde funciona um Centro de recuperação de toxicodependentes."

Planta do imóvel
"Casa de residência com um andar, ampliada à ilharga com um bloco de dois pisos, capela e instalações agrícolas, que delimitam um amplo pátio separado do exterior por portal de volta redonda rusticado em pedra encimado por pedra de armas, abrindo para o Tejo por murete com alegretes e bancos; uma alpendrada de colunas toscanas sobre estilóbata antecede a fachada da casa rasgada por vãos retangulares moldurados de cantaria; um portal com frontão triangular rodeado de vãos retangulares marca a fachada da capela. A fachada oposta da residência abre para um jardim delimitado do lado da encosta por espaldar de recorte contracurvado de acesso a um túnel, continuando-se para norte sobre plataforma e para este em patamares descendentes separados por escadas encosta abaixo.
No interior salas intercomunicantes abrindo para o pátio e jardim, todas as dependências da casa se encontram decoradas com lambris de azulejos de representações diversas, na maioria figurativos.
A capela de três naves, separadas por colunas toscanas, com uma tribuna sobre as laterais, e outra rasgada por arcos redondos na parede fronteira à capela-mor; lambril de azulejos barrocos policromados em todas as paredes do templo; falsa abóbada em madeira pintada e ornatos a estuque, sobre a nave principal; capela-mor coberta por abóbada rebaixada separada da nave por arco triunfal redondo sobre colunas toscanas. O jardim desenvolve-se em vários níveis, apresentando-se decorado por pequenos painéis de azulejos com motivos florais e uma fonte em mármore."
O meu marido a caminhar na rua  privada de acesso. 
Do lado esquerdo visível a mina de água meia soterrada com a subida do asfaltamento do caminho privado que era de terra batida, supostamente abastecia a quinta de água potável.
Portal armoriado dos Cunhas
                                       
Antes das obras de remodelação o caminho, ainda a decorrerem obras....
Onde se vê um carro estacionado e o limite da estrada que desce a colina e entronca na antiga empresa Tagol, sobranceira ao Tejo ao fundo da arriba, mas antes à esquerda nasce a rua privada de acesso à Quinta de São Lourenço.
             
Do alto da arriba  oposta a foto  possível sobre a quinta de S. Lourenço
Imagens do abandono

                                        
                        
                                      
                        
"Recheio azulejar na sala de entrada com silhares em azul e branco com representação heráldica de 1742 e painéis representando animais, alguns refeitos recentemente. Na sala contígua com silhares em azul e branco com cenas palacianas e reviravoltas. A cozinha com azulejos de figura avulsa. A sala nobre com lambril azul e branco atribuível ao período de grande produção joanina com três grandes painéis representado várias caravelas, um estaleiro naval com uma nau a ser lançada ao mar (cortado por chaminé de lareira) um grupo de geógrafos e navegadores rodeando globos terrestres e experimentando instrumentos de medição da latitude pelo sol e vários painéis menores com figuras masculinas segurando de navegação marítima e na sala contígua à anterior silhares azul e branco com cenas palacianas. A casa de jantar com composição em xadrez recente e na pequena sala contígua à anterior cena palacianas com molduras rococó (1760/70), algumas refeitas na Fábrica Santana. A varanda alpendrada com composição em xadrez recente. Na capela silhar de padronagem na nave, figurativo na capela-mor, com cenas hagiográficas em azul e branco com cercaduras policromas (1760/70). Nas paredes da nave, sobre o arco triunfal e do lado oposto sobre a tribuna, duas cartelas rococó em estuque com figurações emblemáticas de S. Sebastião e S. Lourenço. No espaldar de acesso ao túnel, no jardim, um brasão gravado sobre o vão de acesso e uma lápide em latim datada de 1713."
Senti uma vontade louca e desenfreada de conhecer o espaço, mas fiquei travada à porta!

A associação deste Vale rebaptizado VALE DE ACOR além desta quinta tem outra, cozem  pão, de alta qualidade e vendem  legumes, biológicos em eventos em Almada.

Palença de Baixo

Em 1970 a Companhia de Oleaginosas do Tejo - TAGOL instalou-se na antiga fábrica de cerâmica e de guano, dedica-se à extração e refinação de óleos alimentares. Técnicas mais modernas que começam em Palença na fábrica de sabão branco e mais tarde de óleos até arder

FONTES 
Informação e algumas fotos cedidas dos endereços, que agradeço a disponibilidade da partilha
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2141
http://almada-virtual-museum.blogspot.pt/2014/04/palenca-de-baixo.html

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Quinta do Malquefarte no Pragal, Almada

A localização desta quinta  a sul do Hospital Garcia de Horta e na frente do Bairro do Matadouro que antes foi a Quinta do -olho-de-vidro onde ainda há vestígios da azinhaga, na separação desta com a quinta do Bacelinho, hoje hospital.
Muro da Quinta do Olho-de-Vidro com a estrada do Casquilho
Antiga estrada de Almada à Caparica
Onde foi a casa da quinta do Malquefarte
Naturalmente esta designação seja do último morador e não do nobre que a fundou, na minha opinião. Malquefarte seria alcunha de alguém que aqui viveu era mau, muito mau...
Encontrei na fisioterapia uma senhora que morou no bairro acima e  comprou algum mobiliário da casa, disse-me que era da família Espírito Santo , atrás do espelho da cómoda havia um jornal do tempo da República.
Em terra batida o terreiro, hoje parque de estacionamento em ruínas era de arquitetura quadrada.
Resta um pequeno muro da frontaria na estrada do Casquilho na ligação de Almada à Caparica, apresenta-se baixo em contraste com os das outras quintas mais adiante, por certo estar muito perto de Almada ou então remodelado num tempo de antanho.
Antes da última intervenção camarária de limpeza urbana
Depois da limpeza camarária

As vistas sobre o Mar da Palha são maravilhosas
Ao meio da encosta o Instituto Piaget
Veio-me à lembrança a Filipa Vacondeus que conheci na televisão a ensinar como se aproveitar os restos de comida nos anos 60 -, sendo que a sua vida no início de 40 se alterou com a deslocalização da família para a Costa de Caparica, onde o pai construiu uma vivenda com piscina por via de doença de um outro filho. A Filipa vinha de cavalo para Cacilhas apanhar o barco, depois subia Lisboa de novo a cavalo, para o deixar no Picadeiro nas Amoreiras para frequentar um colégio.
Recordar este tempo que deveria ser uma delícia passear-se nestes caminhos amarelos de argila com o buliçoso agitar das quintas, das noras a puxar água, das bestas para cima e para baixo, dos moleiros, e de gentes, na companhia do chilrear de pássaros e avistar o Tejo aqui e ali pelos talvegues da crista dos vales ...

Quinta de S. Miguel no Pragal, em Almada

A Quinta de S. Miguel foi pertença dos Condes dos Arcos titulo criado pelo rei Filipe II de Portugal a 8 de fevereiro de 1620, em favor de LUÍS DE LIMA BRITO E NOGUEIRA. Após a instauração da República e o fim do sistema nobiliárquico, foram pretendentes ao título D. José Manuel de Noronha e Brito de Menezes de Alarcão, D. Marcos Wagner de Noronha de Alarcão e, atualmente, D. Pedro José Wagner de Noronha de Alarcão. Interessante   a descendência familiar com ramificações no Espinhal, Ansião, Alvaiázere, Condeixa, Alpiarça e,...

Também chamada quinta de S. Miguel  por a capela ter de orago uma Imagem deste Santo.A quinta foi classificada como Imóvel de Valor Concelhio de Almada, pelo decreto-lei nº 2/96, de 6 de março. Nela funciona uma Cooperativa ARCO que comprou ao IGAPHE a quinta sendo recuperada e adaptada às funções de Escola de Belas Artes.
Para não se perder o passado e as vivências  das famílias nobres que tiveram património em Almada.
Lápide com o nome da quinta em esmalte
O seu chão no seguimento da Estrada do Casquilho de Almada para a Costa de Caparica, depois do hospital Garcia de Orta, conforme a foto abaixo, deixando a bifurcação, fizeram um espaço lúdico que se encontra totalmente vandalizado, por estar desprotegido e encerrado por vegetação onde se encontra uma azinhaga que dividia as duas quintas.  Esta quinta encontra-se facilmente pelo seu emblemático moinho americano de puxar a água.

As quintas não eram grandes no Pragal, esta tinha  horta com o tanque e o poço com o moinho de lata americano que faz içar a água e a casa solarenga. A quinta com as expropriações foi cortada a sul para construção de prédios .O solar sofreu remodelações da arquitetura no início do século XIX.
Vista de poente
Da expropriação na década de 70 as quintas sofreram grande penalização, apenas foi deixado o casario com algum espaço envolvente. à volta de 1000 metros quadrados. Esta quinta confinaria no passado com a quinta S. Francisco de Borja a poente depois da avenida , mesmo em frente.

A horta da quinta com poço e moinho de vento em lata
Muro com arcadas revestidas a tijolo cerâmico do lado nascente onde nasce a quinta com a horta da casa e da levada de abastecimento de água
A horta vista de sul
Duas entradas precárias entre canavial, a sul,  dos hortelões que amanham as hortas
Paisagem da quinta vista de sul com o muros de sustentação da encosta com o portão para a horta
Portão em ferro

O muro com canteiros que ornava a horta, agora limpa de ervas pela Junta de Freguesia
Captação fotográfica efetuada do lado de fora pelas grades dos portões a norte  e a poente.
Logo na entrada à esquerda encontra-se esta pequena casa  pelo formato aponta ter sido a capela da quinta transformada noutra função de arrecadação, porque  a capela já não existe.Sendo que a primitiva  capela da quinta não foi aqui e sim ao limite norte com a azinhaga.

 
Vista do terreiro do solar e outras acomodações
A quinta vista do portão a poente
 
Não sei do que se trata, julgo seja escultura artística de alunos (?)

As quintas que foram do passado rico de Almada, Pragal e Caparica algumas persistem , outras apenas já só  delas existem alguns troços de altos muros, aqui e além com janelas e grades de ferro, numa harmonia estética  porque a altura mural não era sempre igual em formato ondulado, em que os viajantes circulantes no caminho as podiam admirar e dar conta do seu buliço, alegra-me esse pensar.
Janela fechada a meu ver mal, porque sendo típica na tradição, por isso deveria ficar no tempo protegida..
 
Ao tempo os arquitetos e engenheiros sem diploma (?) auscultavam o terreno, faziam bom trabalho, pois todos os muros tem orifícios para escoamento de excesso de águas-, e o que se vê hoje em dia esse descuido, com isso avalanches que levam terras, casas e carros...
Frontão da capela primitiva da quinta de S Miguel ao limite da quinta a norte com a azinhaga
Foto retirada do Livro Pragal História e Cultura de 2008 da Junta de Freguesia e do Centro de Arqueologia de Almada
Azinhaga
A capela limitada com a azinhaga a norte
Azinhaga, agora limpa de entulhos, divide a quinta de S. Miguel  a norte com a quinta do Malquefarte e a quinta de Santo António da Bela Vista
Azinhaga vista a norte

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