segunda-feira, 2 de março de 2015

Quinta da Fidalga banha pés no esteiro do Tejo no Seixal

O esteiro do Tejo sorrateiro de mansinho banha os pés ao Seixal , Arrentela, Amora beijando calcanhares a Corroios...Almoço e tarde bem passada  em grande caminhada, seja em apreciar belas vistas a relaxar o olhar em ambiente que foi no passado de forte labor operário, ainda presente muita ruína de grandes fábricas corticeiras, no sentido de não perder o barco do conhecimento e da cultura, ainda tempo para amar caquinhos de faiança, porcelana, vidro, conchas e pedrinhas-,os embrechados na capela do jardim da Quinta da Fidalga, no Seixal na marginal antes da Arrentela,  propriedade que remonta ao século XV, foi do irmão de Vasco da Gama-, Paulo Gama, aqui se fixou para acompanhar a construção das naus que o levariam à Índia.
Adquirida pela Câmara em 2001, à família Gama Lobo Salema morgados de Alverca.
Nome originário-, Quinta do Vale do Grou-, mudou de nome no século XIX, por aqui ter sido enclausurada uma fidalga, impedida de casar por rivalidade política do pretendente...
 
A sul foi construído a Oficina das Artes Manuel Cargaleiro, não sei se o melhor sítio, aqui havia romanzeiras de lindas flores em  laranja, enchiam o local de imensa graça.Com tanta construção edificada no tardoz do palacete, bem poderiam ter aproveitado as cavalariças ou...
O solar de grande massa arquitectónica remodelado ao longo dos séculos, distingue-se pelas janelas no telhado ao jeito de mansarda, e do alpendre a poente para contemplar o esteiro do Tejo.
Fechado ao público desconheço o fim a que estará destinado.
No seu tardoz dei conta de uma saída não sei se seriam dejetos, águas ou ? cuja parede  abaixo ostenta um pequeno painel de azulejos em branco e amarelo
Acesso à horta
Capela  integrada no século XX noutra mais antiga que aqui existia.Encontra-se revestida de azulejos portugueses do século XVIII. Por cima da porta um friso de escultura detalhada com as armas da família Miranda Henriques, possivelmente trazida de outra propriedade da família, quando os Gama Lobo Salema herdaram os morgadios dos Condes de Sandomil, que incluía o solar em Setúbal entre outras.
                            
                    
Albarrada de azulejos , no maior faltam dois que entretanto caíram, o Segurança atento os tem guardados - o melhor é serem repostos!
                 
Fonte em forma de peixe, trazida da Índia por Vasco da Gama, e bancos namoradeiros para contemplação do lindo jardim

Casario de serviçais, barracões e alpendres do tempo que foi habitado e fazia parte integrante da vida do quotidiano da quinta
Mirante sobranceiro ao esteiro do Tejo revestido graciosamente a azulejos padrão do século XIX ou início de XX?
 
                     
                     
Adicionar legenda
                              

Lamentável o abastecimento de água ao tanque de repuxo por mangueira em plástico, se a canalização se estragou só deve ser reposta.A quinta possui dois grandes poços que tinham noras, abasteciam as três fontes dos jardins.
               
Pois o famoso lago que diz funcionar com a maré para entrada de peixe, neste agora não acredito, entretanto a maré baixou e o lago ficou no mesmo nível...e de águas inquinadas com limos...
                            
Em 1952 o palacete e arruamentos pelo jardim tiveram intervenção arquitetonica conduzidas por Raul Lino, que distribui alguns azulejos, de variadas épocas em vários pontos dos muros da propriedade. 
Existem muitos azulejos hispano árabes.
Ainda conheci alguns desses muros em pedra, um deles tinha cravado metade de um prato com mais de 300 anos da Companhia das Índias...A certa reutilização do lixo, no caso dos cacos partidos de porcelana. Neste agora nova intervenção de muros e claro tudo desapareceu... Constatei que na maioria a parte da azulejaria se encontra em mau estado de conservação, porque se encontram patentes no exterior sendo difícil a sua preservação motivada pelo tempo, infiltrações e pelas raízes das árvores.Seria bom que a Câmara aqui mantivesse pessoal amante de o preservar, cuidar-, havendo tanto desempregado que aqui diariamente se podia entregar à sua manutenção e preservação com verniz transparente ou melhor sugestão, assim os manter em bom estado de conservação para os vindouros apreciarem também este património, que corre sério risco de perda total, em alguns pontos.
O mesmo da poda dos plátanos, podiam ser podados em cúpula redonda, airosa , ao invés de crescerem para os céus, sem falar do lixo que se acumula...
 
         
Belos painéis de azulejos pombalinos em azul e amarelo

Mosaico no chão gracioso
 


                      
             
                          
Não sei o que vai nascer no tardoz do palacete, com esta rampa inclinada?
Em meados do século XVII foi construída nos jardins uma capela revestida a conchas e seixos no mesmo assento o revestimento e fontes, uma delas faz alusão às caravelas.Mas o que vi foram esponjados de Aveiro dos meados do século XX...Este tipo de decoração pode também ainda ser visto nos jardins do Convento dos Capuchos na Costa de Caparica e no que foi os Paços em Alcáçovas.
Embrechados, a decoração feita com calhaus redondos (pedrinhas) conchas, vidro e fragmentos de faiança vária de olaria como os esponjados de Aveiro, Sacavém, do norte, azul sobre azul, Lisboa, Companhia das Índias e,...
            
                     
          
         
                   
A quinta limitada por alto muro com ranhuras que se distinguem na foto e não sei a utilidade
O que resta do empedrado  lajeado da entrada da quinta
Apesar da areia posta na entrada não resisti à tentação da descoberta do chão e trazer comigo cacos de azulejo pombalinos, outros séc XIX , fragmentos de faiança, porcelana chinesa, vidro...Mote para aprendizes de arqueólogos limparem o terreno e assim documentar a história desta propriedade...
Bojo de um copo de pé alto de cristal de arestas facetado supostamente Coina ou Babaria...
  Fragmentos de porcelana  delicada Companhia das Índias
 Este fragmento é pintado na frente e no tardoz
Resistem várias árvores de citrinos e de parreiral na envolvente dos jardins; laranjeiras e limoeiros carregados de fruta que ninguém aproveita, ficaria bem ao fim de semana de maior público, haver no átrio da entrada cestas  com fruta para quem  a quisesse levar para consumo

Jaz morto desfalecido em queda de pé erguido  o varino do Tejo ainda de carcaça apodrecida a beijar o esteiro, ninguém lhe acode ao pedido de súplica que jamais almeja...
A cidade do Seixal pode gabar-se de ter no seu território um excelente património e riquezas do passado além do esteiro do Tejo, contudo nem sempre ao longo dos anos as apostas de melhorias e requalificação merecem nota de relevo, porque como em todo o lado há aberrações pelas más apostas e pouca sensibilidade para acudir a património de vária ordem, por aqui enorme, seja arquitetónico, marítimo ou fabril, e o tendo de sobra bem o podiam revitalizar drasticamente incrementando o turismo( pois nunca vi a cidade tão vazia de gentes), e não invocando que não há dinheiro? atendendo ao encaixe de mais valias com as urbanizações na Quinta da Trindade e do Centro de Estágio do Benfica...
Para não falar da zona histórica com o casario em estado lastimável , por todo o lado na frontaria envolta no emaranhado de fios de eletricidade e telecomunicações, em total desordem...
Até arrepia o mais incauto!

domingo, 1 de março de 2015

O que resta da memória da Mundet no Seixal

A Fábrica de Cortiça L. Mundet & Sons instalou-se no Seixal em 1905. Faz parte da minha memória do tempo de vida profissional em1980, enquanto funcionária no Banco Pinto e Sotto Mayor na Rua do Ouro, bem me recordo que estremecia ao ver uns dossiers enormes de operações de viabilização financeira de dívidas consolidadas em operações compensadas, acopladas de verbetes de categoria: 6, 8, 9 e 10, dossier afeto ao colega Marreiros que se mostrava ao tempo homem  peculiar de  reservado falar,  e jamais consegui entender tamanha e complicada  tramitação processual...
Não seria ético falar de uma empresa que está bem documentada em http://www2.cm-seixal.pt...Assim falo de mais uma visita à cidade em calma caminhada sempre de atento olhar  ao longo do esteiro para subir ao  pequeno Largo da Mundet, onde havia homens a espreitar o sol ...
Um típico fontanário sem água, haveria de ver pelos menos mais uns três do género , a piada do letreiro em esmalte, antítese do estado deplorável dos azulejos que poderiam estar limpos, pois são património...
 Cerejeira florida vestida em manto branco
Neste espaço junto ao muro um enorme eucalipto a necessitar de poda  urgente, pois é da espécie  que os ramos se ramificam, de folha fina, que um dia já matou gente do norte em piquenique em Sintra, quando uma grande pernada se partiu...
A partir daí dei conta da flagrante degradação de alguns pavilhões da empresa na descida para poente pelo derrube de parte do muro no mote para espreitar pavilhões em abandono...
Tantos homens e mulheres que ao tempo aqui trabalharam ...
Ao longo de todo o muro de extrema a sul pintado a grafites 
Chegavam-se pais com os filhos equipados para a prática de hóquei  num pavilhão moderno na avenida defronte da Mundet. Houve no passado  um campeão  José João Marque, formado na modalidade não sei se do tempo da fábrica. Mote que me fez recordar quando aprendi patinagem com os patins velhos dos hoquistas do Estoril, quando frequentei o Colégio Religioso as Salesianas no Monte Estoril, eram pesadíssimos...


Terminus da fachada da fábrica ao estilo alemão típico ao tempo da década  30/ 40 quando ocorreu a Exposição Mundial em Lisboa, tendo sido construídas fábricas, Escolas, e o Estádio Nacional no mesmo estilo arquitectónico.
A desafiar o horizonte a robusta e alta chaminé
Ecomuseu do Seixal o Núcleo da Mundet
 
Este pavilhão mostra um alçado antes do telhado com  janelas de palhetas ventiladoras, no primeiro olhar me fizeram lembrar os pavilhões dos campos de concentração nazi...
 
 
 

Telhado do edifício defronte do esteiro abaulado ao meio, se não lhe acodem ao reforço do  vigamento de madeira, vai ruir...

Mundet anos 50, nesta foto ainda me recordo da casa defronte da fábrica em abandono , talvez tivesse sido dos proprietários? Na graça a fábrica com o esteiro aos pés, tendo sido a casa há poucos anos derrubada por força do progresso para requalificação do jardim e da avenida ribeirinha...

Além o poste bem alto com a bandeira do Partido Comunista na sua quinta da Atalaia
Deixei o sítio da Mundet na certeza que este enorme espaço venha a ser revitalizado em prol de algo que seja útil à cidade, e às memórias das gentes que aqui trabalharam.
Difícil é entender porque ao tempo nenhum fábrica de Cortiça vingou na região, sendo esta, a maior de todas no setor corticeiro no País e durante um tempo, do mundo, tendo sido reconhecida pelo papel inovador na área da política social. A partir da década de 50 com o aparecimento do plástico começou o seu declínio porque não souberam modernizar-se ou chefia incompetente (?) para em 1988 após um longo período de lutas sociais e reivindicações justas dos seus trabalhadores, além das várias tentativas de viabilização económica, em definitivo encerrada.Adquirida pela Câmara em 1996, que musealizou dois edifícios da Fábrica-, Edifícios das Caldeiras Babcock & Wilcox e o Edifício da Caldeiras de Cozer onde é possível visitar exposições temporárias deste património industrial do concelho.
Estranho o sacrifício das gentes que ao tempo não foram capazes de vencer na união a vitória da continuada laboração, para no norte outra congénere laborar com destemido sucesso pela criatividade, com patrões que auferem demasia riqueza...
Em remate no meu julgar o Seixal detinha os melhores profissionais na arte da poda...Mas ao ver os brutais ramos dos plátanos fiquei perplexa, o certo é serem os ramos cortados ao "joelho", porque em Almada também não o fazem melhor, observei um homem a chamar a atenção ao técnico, que do chão dava ordens ao homem armado de moto serra ao cimo da basculante a receber indicação onde devia cortar ...Após o corte ainda se mostrarem altos os ramos, pelo que irrompeu em voz um bom homem que observava o trabalho os questionando -, o corte não ser o certo, devia ser muito mais abaixo-, a que lhe responde o mandante-, então não sei, mas vá dizer isso ao meu chefe, ele quer que o corte seja assim deste tamanho "então não sou alentejano, para mim devia ser o corte ao joelho"...
Tarefa que deixa a pensa quem sabe do ofício-, o saber da arte de podar árvores vão  produzir menos lixo, menos estragos em caso de intempéries, e melhor manutenção, mas isso é para gente que sabe tocar o ofício, o que se vê é gente com o pelouro a auferir chorudo ordenado, sem ter dado provas do talento para o saber fazer...
No melhor deixei a cidade com ciclista vestido a rigor equipado a preceito com fato do seu Benfica, envergava camisola Jorge Jesus, máscara e cascol, desfilando na avenida que era só sua ...
Pois já adivinhada a vitória de 6 ao Estoril.
Fontes
http://www.cm-seixal.pt/patrimonio/patrimonio
Fotos do google

Seguidores

Arquivo do blog