sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Acordar memórias dos conventos de Figueiró dos Vinhos


"Marco religioso de grande significado simbólico para os figueiroenses, o Cruzeiro denominado Cruz de Ferro, situa-se no cruzamento da Rua D. Diogo de Sousa com a rua Dr. António José de Almeida, incrustado num muro sobre um plinto de pedra. Com a altura de três metros esta cruz feita em chapa de ferro apresenta as terminações lanceoladas, bem como o alto relevo de Cristo Crucificado, com as insígnias da paixão em contraste.
Datada de 1816 foi por certo das últimas obras das Ferrarias da Foz de Alge.
 O documento vindo à luz pelo  investigador Miguel Portela: Manuel Fernandes, mestre pedreiro da cerca do Convento dos Carmelitas Descalços em Figueiró dos Vinhos"Atestamos, também, que Pero de Alcáçova de Vasconcelos faleceu em Figueiró dos Vinhos a 12 de setembro de 1617, tendo sido sepultado pelos frades carmelitas neste convento. Sua esposa, D. Maria de Meneses, faleceu em Madrid no ano de 1638, deixando a este convento 200 000 réis (SANTA ANA, Fr. Belchior de, Chronica de Carmelitas descalços…, op. cit., tomo I, pp. 393-395). Sabemos que durante a primeira metade do século XVII foi edificado todo o complexo conventual, sendo que a 15 de novembro de 1620 os religiosos procederam à contratualização com Manuel Fernandes, mestre pedreiro de Braga, da empreitada da cerca deste convento (doc. 1). Nesta escritura estiveram presentes o Padre Frei Domingos do Espírito Santo e os restantes padres do dito convento, nomeadamente Frei Ângelo de S. Domingos, Frei Diogo da Cruz, Frei Sebastião dos Reis, Frei João de Santa Maria, Frei João de Cristo e Fr. Aleixo de S. Paulo, para além do referido Manuel Fernandes, mestre-de-obras de pedreiro morador na cidade de Braga, na Rua dos Cónegos, freguesia da Sé. Sabemos que o contrato determinava «sobre lhe aver de fazer a toda a serqua da sua serqua que estava por fazer do dito convento e sobre comesamdo do cabo do muro que ele pedreiro tinha feito e ahi ao longuo de Manoell Garro para a fazemda deles padres ate a de António Moxão a peguar com o muro do dito convento ate fiquarem de tudo sercado e tapados». Através da leitura desta escritura, reconhecemos que Manuel Fernandes havia já construído uma parte do muro deste convento e que, agora, se pretendia cercar todo o complexo conventual."
O processo construtivo é descrito de forma precisa nesta escritura, sobretudo a definição de que este muro «seria de alltura de douze palmos fora da terra com espiguão // [fl. 129v] e de aliserse teria dous pallmos onde fose nesesario e em cazo que fose nesesario seis palmos de aliserse que teriam comtado que o dito aliserse ate sair da tera seria de largura de tres palmos e da tera pera sima seria de dous pallmos emensotado de tera e baro emcrespado de qual a area d’ambas as partes como o que elle ofisiall já tinha feito da maneira que se costuma tres de cal e duas d’area e faria o dito muro tambem feito como que timha feito da estrada». Esta empreitada foi contratualizada pelo valor de «cem mil reis em dinheiro de contado e sinquo allmudes de vinho e dous allqueires de azeite e dous mill reis pera cal e as serventias da dita obra livres e desembarguadas".
Convento Masculino de Nossa Senhora do Carmo
Gravura retirada do Jornal O Século
Datada de 18 de julho de 1897, onde se pode observar, do lado esquerdo, o muro da cerca do Convento dos Carmelitas Descalços, em Figueiró dos Vinhos.

Antes do restauro
Pintura naturista do Mestre Malhoa que viveu em Figueiró dos Vinhos  30 anos

"O convento de Nossa Senhora do Carmo está localizado na Rua dos Bombeiros Voluntários, impõe-se pela sua volumetria. Fundado em 1598, a sua construção remonta a 1601, sendo o imóvel classificado de Interesse Público em 1996.Fundado por D. Pedro de Alcáçova de Vasconcelos, senhor de Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande, por influência de Frei Ambrósio Mariano, destinava-se a albergar uma comunidade de Carmelitas Descalços. Sua filha, D. Ana de Vasconcelos e Meneses, e seu marido, D. Francisco de Vasconcelos, Condes de Figueiró, continuariam a sua ação de padroeiros deste convento, tendo de igual modo sido nele sepultados (SANTA ANA, Fr. Belchior de, Chronica de Carmelitas descalços, particular do Reyno de Portugal e Província de Sam Felipe, Oficina de Henrique Valente de Oliveira, Lisboa, 1657, tomo I, pp. 393-395). Este convento nasceu na Quinta da Eireira (Figueiró dos Vinhos), pertença dos mencionados Senhores de Figueiró e Pedrógão, que Pero de Alcáçova de Vasconcelos tinha doado para tal fim. A escritura de fundação foi constituída por este e por D. Maria de Meneses, em Torres Novas, em 14 de dezembro de 1598, numa quinta de que era proprietário Jerónimo de Melo Coutinho, comendador de Punhete, irmão de D. Maria de Meneses. Essa quinta possuía uma capela com a invocação da Senhora da Esperança, chamada de S. Lourenço, em meados do século XIX. Não chegaram aos nossos dias quaisquer vestígios desta edificação religiosa (Arquivo da Universidade de Coimbra, Capítulos da Visitação das Paróquias do Arciprestado de Alvaiázere (1823), D. III, 1.ª D, E.5, T2, N.º 13, fls. 15-16). Todavia, segundo o Padre Visitador, Frei José de Jesus Maria: «não convinha por hum Mosteiro em sitio tam afastado do povo, ao qual avia de acodir com os Sacramentos, e pregações». Para solucionar essa questão, Pero de Alcáçova de Vasconcelos adquiriu algumas casas com quintal e vinha a Francisco de Andrade, para a edificação da casa conventual junto aos seus paços, ao fundo da dita vila de Figueiró dos Vinhos. A primeira pedra do novo convento viria a ser lançada em 3 de julho de 1601 (SANTA ANA, Fr. Belchior de, Chronica de Carmelitas descalços…, op. cit., tomo I, pp. 393-395). Nas palavras de Fr. Belchior de Santa Ana, «Figueiró estava em sitio mui agradavel, assi por gozar de bons ares, e muitas, e excelentes agoas; como por ter de pão, e azeite suficiente quantidade; de castanhas, fruitas, e vinho abundacia: e que os arredores, bem providos de pão, e azeite, darião aos Rellegiosos, que sahissem a pedir por espaço das seis legoas, que mandão as leys, o necessario para seu sustento». O convento manteve-se até 1834 ano em que foram extintas oficialmente as Ordens Religiosas no País".O Convento possuía uma planta quadrangular envolvendo o claustro, sendo a Igreja desenhada em cruz latina. Este Templo apresenta uma frontaria aberta por galilé de três arcos, encimada por um nicho com imagem de Nossa Senhora do Carmo, janelão e óculo, rematada por uma empena triangular.O claustro seiscentista contém uma pia de água benta de finais do século XVI. No seu interior, a Igreja possui uma única nave abobadada, destacando-se os seus três altares com notáveis retábulos de talha maneirista portuguesa do século XVII e com decoração marcadamente barroca, bem como duas capelas laterais. Uma instituída por Francisca Evangelha com as paredes da sua nave revestidas com azulejos raros joaninhos de produção lisboeta do século XVII, com padrões de motivos florais em azul e amarelo, sendo a parte superior de ornato tipo renascentista, com cartelas contendo as imagens de Santa Teresa de Ávila e de Santo Elias. Existe outra capela, a de S. José, do lado do Evangelho, com data de 1639 e que apresenta um retábulo de talha de barroco popular do século XVII com imagens de S. José, S. Joaquim e Santa Ana. No pavimento do transepto, de fronte ao altar-mor, encontram-se quatro lajes sepulcrais pertencentes aos fundadores e benfeitores do Convento, D. Pedro Alcáçova e Vasconcelos, D.ª Maria de Menezes sua esposa, D. Francisco de Vasconcelos e sua esposa D.ª Ana de Vasconcelos e Menezes. O púlpito é de escada com baluartes de madeira entalhada, existindo ainda duas pias de água benta, ambas quinhentistas. No coro pode observar-se uma delicada gradaria de madeira lavrada, em estilo rococó e com paredes laterais percorridas por bancos de pedra, com espaldar de azulejos brancos com cercadura azul. A partir de 1625 foi o Convento destinado a Colégio das Artes, aí funcionando estudos de Filosofia, Teologia e Línguas Clássicas, tendo sido também aqui realizados vários Capítulos Provinciais da Ordem.

Outro pintor naturista conviveu com Malhoa - Manuel Henrique Pinto
Natural de Cacilhas falecido em Figueiró dos Vinhos em 1912.

O convento
 Pintou Malhoa
Pescadores no Nabão
Será em Ansião na ponte da Cal em baixo ?
Não, é mesmo em Tomar onde o pintor dava aulas.
Apesar de no século XX, a quase totalidade desta cerca ter sido demolida para se construírem novos equipamentos concelhios; mercado, as piscinas, o polidesportivo, a biblioteca, nasceu na ala nascente do corpo sul do antigo Convento de Nossa Senhora do Carmo entre outros, constatamos, nos dias de hoje, que uma pequena parte da cerca conserva as características referidas nesta escritura, e que são a marca da passagem de Manuel Fernandes, mestre pedreiro de Braga, nesta vila de Figueiró dos Vinhos.."
"Conheceu obras de restauro em 2000, mantendo-se a função cultural tendo sido possível salvaguardar o importante espólio que encerra."
"Desde 2007, em finais de Outubro, por altura dos Santos, realiza-se no Convento do Carmo, a Feira de Doçaria Conventual certame que traz a Figueiró dos Vinhos doceiros de diversas regiões do País e que conta com um programa de animação paralelo, que engloba concertos de Música Sacra, Animação de Rua, entre outros, proporcionando assim um contacto directo com este património histórico de Figueiró dos Vinhos."
Forma interessante de chamar o turismo com a doçaria conventual, agora no convento de cara lavada, sendo remonta desta origem o Pão-de-ló, uma especialidade da terra de fama reconhecida.
Prefaciando correspondência trocada com o Padre Manuel Ventura Pinho, pároco de Ansião
"Lembro-me de quando eu estava em Figueiró dos Vinhos ter consultado muitos livros e documentos sobre mosteiros na Biblioteca da Universidade de Coimbra e na Torre do Tombo e nunca me apareceu referência a mosteiro algum em Ansião, já Figueiró dos Vinhos teve dois: um masculino e outro feminino. A extinção das Ordens Religiosas no século XIX fez com que o património dos conventos fosse vendido ao desbarato e encontrei a Igreja do convento feminino de Figueiró dos Vinhos totalmente derrubada e a servir de cerca de galinheiro. Na altura ainda se viam alguns azulejos antigos."
Desde sempre me recordo da beleza excelsa e idílica que a paisagem a caminho da vila de Figueiró dos Vinhos a partir de Almofala me inspirava o verde, as águas, as cameleiras e quintas que me deixavam a sonhar quando passava ao longo da estrada, a caminho de Castanheira de Pera ou de Pedrogão. Em Figueiró dos Vinhos na rotunda da vila, no gaveto da esquerda existe uma grande casa, cujo marceneiro do telhado foi o meu sogro Fernando Coimbra de Chão de Couce, sendo mais à frente o convento do Carmo, reminiscências de memórias que o meu pai gostava, tal como eu de partilhar .

Convento Feminino de Nossa Senhora da Consolação
Até ao ano de 1606, usaram o orago de Nossa Senhora da Consolação, a partir daí mudaram-no para Nossa Senhora da Encarnação e posteriormente para Santa Clara.

"O cronista Fernando da Soledade atribui a fundação a quatro mulheres moradoras na vila e que se juntaram no local chamado Fundo da vila, numas casas.
Foi a primeira casa monástica feminina de Clarissas, na região estremenha durante os séculos XVI ao XVIII com muita nomeada."
"Trata-se de um livro que será de referência para compreensão da História do período de maior riqueza artística da Estremadura portuguesa e da vila de Figueiró dos Vinhos, em particular. 
O principal objectivo deste estudo é dar a conhecer alguns aspectos relevantes da história do Mosteiro de Santa Clara de Figueiró dos Vinhos, com particular incidência sobre o seu passado artístico, valorizando a acção do escultor Leandro da Silva que, em meados do século XVII, contratualizou com os Condes de Figueiró a execução do retábulo para a capela-mor da igreja deste mosteiro feminino. Oferece também alguns considerandos para caracterizar Figueiró nessa época, dando especial ênfase à fundação deste mosteiro e à figura incontornável de D. Ana de Vasconcelos e Meneses, Condessa de Figueiró, na história desta casa monástica.
Elucida, igualmente, as relações familiares do citado escultor com indivíduos ligados às artes, nomeadamente, à pintura e à escultura, que residiram nesta vila e aqui desenvolveram actividade artística. 
Tendo sido este um edifício do período moderno de grande riqueza histórica para a vila e para a região, foi porém destruído na segunda metade do séc. XIX, pelo que o estudo das suas obras de arte, quer arquitectonicamente, quer de outra índole, ajudará a compreender e a valorizar a importância da História e do património ainda existente na região."

Fonte das Freiras
"Construída para servir o Convento de Nossa Senhora da Consolação, a Fonte das Freiras é dele o único vestígio remanescente. Embora a data aposta na moldura indique 1692, esta deve ser mais antiga, tendo desde a sua edificação sido usada pela população da vila, pela sua estratégica implantação à entrada do antigo convento. Esta fonte composta por uma cisterna quadrangular, a partir da qual se desenvolvem escadas de três degraus em forma de U, possui nas suas quatro faces cunhais de cantaria sendo encimada por um coruchéu hexagonal. Logo após um Tanque secular de uso comunitário.»
" O Convento de Nossa Senhora da Consolação de Figueiró dos Vinhos era feminino, pertencia à Ordem dos Frades Menores, e à Província de Portugal da Observância. Em, 1546 ou 1549, por breve pontifício de 26 de Setembro passou a casa de Terceiras Regulares. Anteriormente, já existia como recolhimento de Terceiras Regulares (mantelatas).Foi fundado por iniciativa de D. Paulina Leitoa, familiar de D. Beatriz Leitoa que fundara o Convento dominicano de Jesus de Aveiro.O cronista Fernando da Soledade atribui a fundação a quatro senhoras, entre elas Ana de Jesus, moradoras na vila e que se juntaram numas casas, no local chamado Fundo da Vila. Até 1564, ficaram na obediência dos padres da Terceira Ordem. Em 1591, constituiu-se como comunidade de clarissas da Segunda Ordem. Rui Mendes de Vasconcelos, fidalgo de Figueiró dos Vinhos, doou-lhes uma torre, contígua à praça da vila, e fez nela as obras necessárias de modo a acolher a comunidade que entretanto crescera significativamente. Em 1643, a 10 de Maio, na congregação realizada no Convento do Cartaxo, a Província de Portugal, decidiu dar o padroado a Ana de Vasconcelos de Meneses, mulher do conde da vila, D. Francisco de Vasconcelos e descendente do fundador Rui Mendes.Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" foi extinto até à morte da última freira, data do encerramento definitivo. Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional. 
Até 1835, existem referências documentais, desconhece-se, contudo, a data da sua extinção."
Vendido a particulares, foi transformado. Chocou-me saber que o que restou do convento feminino e da sua Igreja, chegou ao século XX a servir de cerca a galinheiro, onde ainda se distinguiam azulejos antigos...Nada como fechar a crónica em deboche a pensar nos galináceos sortudos pela quão eloquente vivência em terreiro sagrado, por certo vieram a conferir ao arroz de cabidela ou galo assado, estórias com história conventual, ao jus dos créditos que ouvi desde sempre sobre as mulheres destas bandas se mostrarem mui fogosas...

FONTES
http://cm-figueirodosvinhos.pt/c/o-concelho-patrimonio-historico-e-religioso.html
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=1375565
https://www.academia.edu/12909199/As_Madres_do_Mosteiro_de_Santa_Clara_de_Figueir%C3%B3_dos_Vinhos_-_Donas_e_Senhoras_de_huma_hora_de_agoa_todos_os_dias
Algumas fotos do Convento do Carmo, da página do face de Margarida Herdade Lucas

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

À conversa com o coveiro de Ansião, o Sr Mateus!

Desde sempre no hábito no " Dia de Todos os Santos" quando estou por Ansião o privilégio da visita ao cemitério, no gosto apreciar a grande azáfama e romaria das gentes que desde cedo ali aportam com braçadas de flores para enfeitar as campas e jazigos dos seus entes queridos. E é assim ao longo de todo o dia, depois muitas como eu voltam pelo entardecer para acender as velas. Neste ano sem exceção  fui de manhã com a minha mãe enfeitar a campa do meu pai, tendo voltado pelas cinco da tarde em passo de passeio antes do anoitecer, ainda estavam os vendedores de flores, falei com a Laurinda, a quem perguntei se o negócio correu bem e ao entrar ao portão dei conta que àquela hora ainda repleto de muita gente, com o passeio público em grande vaivém , desde sempre o melhor ponto de encontro de quem entra com quem sai, num cumprimento, matar saudades e saber da saúde dos vivos. Distingui muitos conhecidos,o Sr. Fernando Silva de muletas, não sei o que o atazana neste mau estar, a quem desejo rápidas melhoras, falei com o Antero Morgado em rota de saída da visita à campa dos pais, troquei dois dedos de conversa com a Odete Antunes, acendia as velas na campa dos progenitores, já eu é que acendi as velas ao Jorge Cardoso, rapaz sem jeito armado de isqueiro, embora protegido com o portal do jazigo do Dr Faveiro, se mostrava ineficaz, o mesmo da Clara Marnifas, trazia fósforos de meio metro dos chineses, debalde não faziam faísca...Tabelei conversa com a Tina Faveiro, as vezes que esta mulher neste dia aqui veio à campa do seu querido filho Luís, distingui ao longe a D. Fernanda Duarte, a contínua na escola primária, de esguelha cumprimentei  a Fátima e irmãos, filhos do "Ti João do sol posto" do Casal de S. Brás, na visita breve à campa da irmã que morreu jovem, sepultada no espaço dedicado às crianças, também ao longe vi as filhas do Ti Rafael da Garriaza, e tanta, tanta outra gente. Junto da capela encontrei o Carlitos Parolo a conversar com o coveiro, atrasada vinha a esposa Helena e a filha, depois dos cumprimentos, se foram encaminhando para a saída, ficando ele preso na tabela da pergunta que ao coveiro sobre o motivo da capela estar fechada, ao que me responde que o dia de estar aberta era no dia seguinte, ainda assim me questiona se gostava de a ver, a que respondi -  há muitos anos que entrei, mal me recordo, era para tentar descobrir algo que me levasse a crer poder estar edificada sobre a primitiva Igreja (?), apenas uma mera suposição!
O Sr. Mateus, homem  franzino de estatura, bom ouvinte, educado, se foi confessando no desenrolar da conversa ser um homem sentimental,  houve uma altura que as lágrimas lhe chegaram a lacrimejar, com tamanha emoção quando desatei a falar da Granja e das ruínas do que foi um Paço Jesuíta, e mais tarde foi pertença do Bispado de Coimbra, neste falar da  sua terra, sem o saber sequer, fez-se claro, este bom homem ao sentir uma desconhecida assim destemida a falar da sua terra com tanta clareza, lança-me a pergunta - viu o relógio de sol? A que prazenteira, respondi - quando visitei o local pela primeira vez era  um mar de silvedo, impossível chegar perto, havia de voltar mais tarde e por incrível que pareça estava de certa forma limpo e mais acessível a entrada, tentei fotografar e de fato andei à procura do relógio, mas não o encontrei, a minha mãe que geralmente me acompanha nestas aventuras, amedrontou-se com a minha demora, só chamava por mim com receio que pudesse cair, com isso desisti, na certeza de mais tarde voltar. Em casa perante as fotos que registei, julgo que o relógio esteja inserido num pedestal  virado a sul, no gaveto das arcadas, a que me responde com satisfação-, é sim senhora!
O homem não se continha de satisfação, e de novo lança oura pergunta, se conhecia o pombal? - respondi que foi por acaso que no meio do terreno tentei descobrir o que era uma casa redonda envolta numa coroa de hera e silvas que arredei na porta aberta e olhando o interior descobri ser um pombal com poiais em pedra  branca para poiso dos pombos- diz-me ele, um dia destes vou limpar aquilo e vou lá pôr pombos...
A capela do Paço da Granja foi sita no r/c, sobre a porta da entrada existe uma inscrição em latim.
Confirmou que sim e que chegou a conhecer a casa ainda telhada.
Distingui nas paredes viradas a sul umas cavidades na parede que poderiam ter sido altares(?)
Falando desta capela, fácil me interrogar sobre o paradeiro das imagens dos Santos ? Sendo que a Capela da Orada precisamente na Granja, foi Matriz  até ao século XIX, para se mudar para o coração de Santiago da Guarda.
Recordo a década de 70 da obra de reconstrução da nova Igreja de Santiago da Guarda, reedificada após o incêndio na década de sessenta, e bem me lembro da sua ocorrência, o Padre Ramos, era ao tempo meu Professor de Português. O mestre de obras foi o pai do meu colega do Externato, o João Bicho do Graminhal.
Supostamente depois de concluída houve nova redistribuição de imagens(?).
Numa visita à anos à Matriz de Santiago da Guarda, reparei  que existem dois Santos em pedra, bem antigos na Igreja.
Segundo informação do Padre Ventura de Ansião, "as imagens serão da Igreja antiga construída no século XVI, vieram por isso da Capela da Orada." 
Sim, à primeira impressão o parece, sem descuidar o paço jesuíta também teve a sua paroquia e Imagens, e pelo tamanho e antiguidade, podem aventar ter sido do seu espólio e  não da  igreja da Orada, que manteve o seu  até a Imagem depois de 80 desaparecer de Nossa Senhora da Orada...
Porém surge uma dúvida que se mostra pertinente, em  saber se a Imagem do padroeiro,  São Tiago, fotografado por Gustavo Sequeira em 1955 para o Inventário Artístico de Portugal, se está na  Matriz, ou guardado na Orada. Segundo confidenciou o coveiro, uma nossa comum amiga, lhe terá dito que está aqui na Capela da Orada na Granja...
Capela da Orada
Sem ser especialista, apenas especulo este gosto de aspirante sobre o património religioso com Imagens quinhentistas expostas e em reservas molestado,  na desproporção abismal, a indiciar que no mesmo tem de estar incorporado o espólio da capela do Paço da Granja, o mais plausível. 
A noite fazia-se anunciar e ao longo do passeio público a vontade em abandonar o dormitório dos mortos, e por todo o lado senti ambiente em montra radioso pelas luzes que se misturavam em deslumbre com tanto enfeite florido a rivalizar festival de chuva luminosa de estarrecer o coração, imagem bela de ser vista e revista pela candura em mil luzes, os brilhos que tremiam, cenário extraordinário, e outro assim igual jamais vivi .... Antes , depois do almoço fui visitar o dormitório velho de Pousaflores , sem ninguém e depois no novo distingui apenas meia dúzia de gente, apesar de bem enfeitado, o que revela na equação,  as gentes de Ansião gostam de estar em permanência com os seus, ver as demais campas, conversar e assim é que deve ser este dia passado, um dia dedicado aos defuntos, estar junto deles até a noite cair, o que fiz.
Com o Sr Mateus recordámos o poço que aqui havia, jamais deveria ter sido entupido, supostamente primitivo, quiçá podia contar estórias da hipotética ligação ao túnel que sempre se especulou haver de ligação ao Mosteiro (?). Chegados ao jazigo mais antigo, em pedra, ao estilo gótico, o mesmo clama atenção para a reposição do remate do lado direito ao topo, de forma triangular com folhas que se partiu e jaz abandonado no degrau da porta,  diz-me ele, já viu se caia em cima de alguém? Na lateral exibe lápide não poder ser mudado, mandado erigir por um D João Mascarenhas Velasquez e Alarcão, diz ter sido natural de Ansião, dúvida, que já antes discutira com o Antero Morgado, que me falou que já leu sobre o assunto, mas no momento não se recordava, já eu aventei que este nome de família conheço nascida no Espinhal, e não aqui, dizia o Sr. Mateus, olhe que é de Santarém...
Lancei de novo a discussão ao Sr. Mateus, defendo que a primeira Igreja já erigida antes de 1259, o sítio ou foi na atual capela, ou foi algures por aqui neste canto, atendendo aos muros, a norte não se mostra inteiriço, o de baixo pode ser ainda restos do primitivo (?) e a poente não é direito, sendo que a estrada lhe confina, é no mínimo estranho, dizia ele, já aqui estou há 15 anos e quando abri a campa com 1,60 de profundidade do poeta e escritor, teve mais de 2000 contos de flores, só encontrei ossadas até ao fundo, que lá as deixei todas...supostamente evidencia ter encontrado ossadas das sepulturas anteriores, e mais abaixo outras mais antigas, ainda do cemitério medieval, e bem podiam ter sido sepultados dentro da Igreja e  ali podia ter sido  o local, ou  não e na parte do cemitério novo, mais alto... Relembrei que o culto foi aqui abandonado depois de 1593 e em 1623, precisamente 28 anos depois Severim Faria, havia de escrever em 1625 aquando da sua visita com o tio, chantre em Évora, de onde saíram para visitar três Santuários com paragem em Maçãs de D. Maria, onde vivia uma irmã de Severim, aqui comeram e beberam do melhor, para partir na direção à Constantina, o primeiro Santuário ( a lenda da Fonte Santa ocorrida em 1623 e dois anos após já corria longe o milagre, narrando  o autor "que o povo não tendo Imagem para a capela e havendo uma na sacristia da matriz em Ansião, a foram buscar de noite sem que os Ansos, se dessem conta porque eram muito ligados à Imagem" e difere de outra menção o povo encontrou nos escombros desta primitiva Igreja uma Imagem da Senhora da Paz, que a levou em procissão para a Constantina, e fez erguer uma capela...
Os meus ouvintes visivelmente deslumbrados com tanta informação histórica da nossa terra se mostravam estes atentos e curiosos.Chegados ao portão do cemitério na hora do formalismo da despedida, o bom homem, o Sr Mateus, quando lhe estendi a mão me surpreende em ato acometido de emoção, a elevando aos lábios e as beija por duas vezes...Atitude inesperada, outra linguagem não tem, senão, de que o bom homem no seu achar me confundiu por historiadora, arqueóloga ou jornalista, na arte mayor de algo fazer ainda pela sua terra (?), a Granja, sabendo que gente por lá tem andado a fazer perguntas, ora nada mais do que o resulto no meu direito de cidadania elaborado em crónica neste Blog, corroborado por fotos que desde sempre desencadeou forte visualização e antes ninguém lhe destacou o mérito assim destacado.
Naquela escadaria  de meia lua ficou firmado acordo para novo encontro para o verão para mais uma discussão de coisas e saberes. 
Bem haja Sr. Mateus, por ser um homem simples que conheceu meio mundo, dono de uma alma grande, agora mais desperto para olhar para a terra, quando a escava, para nela descobrir fragmentos de cerâmica, vidro, faiança, moedas, tudo o que lhe chamar a atenção, para mais se saber deste sítio que foi no passado o palco do burgo da vila de Ansião. Acorda o Carlitos Parolo, por isso no funeral da Ti Albertina do Escampado de S. Miguel foste com o Sr padre José Eduardo Coutinho, até uma campa aberta... exatamente, foi mostrar-me os fragmentos que habitualmente aqui aparecem e que já descrevi, de origem medieval e outros romanos...
Ainda lhe pergunto se não fecha o portão...
Responde- fica aberto...Fascinante, para quem ainda de noite quisesse vir ver os seus, podia!

domingo, 15 de novembro de 2015

Que o amor nos proteja na feira de velharias na Amora!


Ontem, sábado, a manhã convidada a passeio pela feira de velharias e artesanato da Amora, vila pacata que se desenrola sob o comprido, sobranceira ao esteiro de Coina, com vista privilegiada sobre Arrentela e Seixal.
Brutal o slogan escrito numa parede " Que o Amor nos Proteja" ...
Forte contraste com o que resta das barcaças, varinos e fragatas do Tejo, que a ponte 25 de abril ditou a morte, e assim aqui ficaram ancoradas em morte anunciada erguidas de pé, hoje só lhes resta o casco esventrado em agonia de negro a mirar o sol, em redor o verde que cresce no lodo, em maré baixa.


Foi um encontro de pessoas de bom coração-, o Luís Pires, me ofertou um pote de assar castanhas, antigo em cerâmica .
A feira mudou, não admitem estaminés de chão, o terreiro é gratuito. Pareceu-se uma maioria de gente que supostamente não estará licenciada como feirante (?) mas muito simpática e humilde, nas bancas vendem artigos vários;desde bibelôs, vidros, loiça, plásticos, mas artigos novos, ou pouco usados, propriamente velharias há muito pouco...
Há pouco público, e o local é tão aprazível no convite pelo passeio ribeirinho, e o que se compra é a preços muito baixos...
Nasceram vários bares nas antigas casas de gente operária em frente a Igreja da Arrentela altaneira
Sentir na aragem do Tejo e das vistas  o alívio que atenuou a dor do massacre em Paris!

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