terça-feira, 4 de outubro de 2016

Museu da GNR no Convento do Carmo em Lisboa

Na sexta feira passada só tínhamos agenda a partir das 4,30 para estar com os nossos netos. Antes de almoço dirigi convite ao meu marido para a visita ao Museu da GNR, ao Carmo. Gostei imenso, está muito bem conseguido esteticamente e documentado historicamente. O acesso do átrio ao r/c para o 1º andar é feito pela escada de alguns degraus que pertencia à capela, ao cimo não seja o melhor, ou a carpete está enrolada, ou há um desnível que se sente e com pouca luz pode ainda alguém cair e se aleijar. E sim, é pena não se ver nada da estrutura do que foi o sitio da capela, o seu altar por exemplo, ou há e não dei conta... Apenas parcos fragmentos de pedras...e algum espólio de escavações efetuados há anos.
Em anos de calmaria no Mundo quando reina a Paz, sem se ouvir falar em terrorismo, por altura do 25 de abril até ao dia da GNR  a 3 de maio , o Quartel Geral abre ao público para se ver a sala onde esteve o Prof Marcelo Caetano e a varanda para o Rossio revestida a silhares azulejares.
Silhares azulejares no átrio da entrada datam do início do século XX 1901 de Lisboa (?)
Armas Heráldicas da GNR em bronze.
Escudo com uma espada antiga ladeada por dois dragões afrontados, elmo militar, correias, paquife, virol e no timbre de um dragão do escudo empunhando na garra direita uma espada antiga.Circundando o escudo , o Colar da Ordem Militar da Torre e Espada.

 Sino de cobre proveniente do relógio da torre sineira do Quartel do Carmo
Fragmentos de pilastra e frisos de portal de pedra do antigo convento do Carmo destruído pelo terramoto de 1755
Escada de acesso à capela interina do Convento do Carmo, construída após o terramoto de 1755 para substituir a derrocada Igreja do Carmo, mantendo essa função até ao início do século XIX.
    
O Condestável Nuno Álvares Pereira decidiu erigir o Convento do Carmo depois de garantir a independência nacional , na crise 1383-1385, no seguimento das vitórias nas batalhas de Aljubarrota e Valverde, em apoio ao Mestre de Avis.
A primeira pedra foi colocada em 1389 e em 1397 D.Nuno entregou o povoamento do Convento à Ordem do Carmo, braço espiritual dos monges guerreiros da Ordem do Hospital. 

Dom Nuno Álvares Pereira morreu numa pequena cela do Convento do Carmo. Relicário de Dom Nuno Álvares Pereira onde foram depositados os seus restos mortais em  1895, provenientes da Igreja do Convento. Madeira revestida a veludo vermelho , com galão em ouro e duas placas em prata de autor desconhecido

Chicote e Cilício. Instrumentos de penitência, disciplina e auto flagelação utilizados desde a Idade Média como ato de purificação entre os religiosos, incluindo a Ordem do Carmo.
 
Após a morte do Condestável em 1 de abril de 1431, o Convento continuou a orientação da sua fundação.A decadência inicia-se após o terramoto de 1755, que nem os Carmelitas conseguiram suster.
Pelo Intendente Pina Manique, em 1801, regista-se a ocupação militar do antigo convento do Carmo. Após as extinções das Ordens Religiosas, em 1834, este espaço serviu como Quartel da Guarda Municipal de Lisboa, herdeira da Guarda Real da Polícia de Lisboa e outros diferentes fins.
A partir de 1845 o antigo Convento do Carmo passou a Comando-Geral da Guarda Municipal de Lisboa, tendo sucessivamente, salvaguardado essa posição.Desde 1868 passou a funcionar como Comando-Geral das Guardas Municipais de Lisboa e do Porto.
Com o fim da Monarquia em 5 de outubro de 1910, foram extintas as Guardas Municipais de Lisboa e do Porto, surgindo com a República, as transitórias Guardas Republicanas de Lisboa e do Porto.
Meio ano depois, por decreto de 3 de maio, a Guarda Repúblicana alargou-se a todo o território nacional com a designação de Guarda Nacional Republicana, continuando o seu comando Geral a funcionar no Quartel do Carmo. 
1803

                    
Durante a 1º República a GNR desenvolveu-se exponencialmente, contando com um efetivo que até 1921 atingiu quase os vinte mil homens, tendo sido a primeira força em Portugal a contar com viaturas blindadas.Quadro em lousa utilizado nas escolas primárias e nas aulas regimentais da  GNR a partir de 1911 até meados do século XX. Batalhão da GNR de Coimbra
Ancião- a minha terra onde tenho raízes era nesse tempo escrito com "C"

O meu marido tinha perfil perfeito para GNR, homem de cariz inteligente, cumpridor assíduo, gosta de se ocupar no trabalho, carácter sério, e jamais corrupto nem lambe botas.
Bicicleta de patrulhamento a velha "pasteleira" usada a partir da década de 40 . No quadro o suporte com a  espingarda Mauser de 1904
Recriação de uma cela militar, a porta pertenceu à antiga cela prisional existente no canto inferior a nordeste deste quartel general do Carmo. Nas paredes existem camadas de de inscrições a carvões executadas por presos desde 1875, ao tempo da Guarda  Municipal de Lisboa, até 1907
  
A partir da ditadura militar de 1926, a GNR foi reduzida significativamente em recursos humanos e materiais  e só após o 25 de abril de 1974, voltaria  a recuperar.
PBX com cabilhas

Recriação dum Posto da GNR nos anos 40 . O gabinete do comandante de Posto
A caserna militar

Aprendizagem e investigação - Impressões digitais

 Arca em ferro proveniente do Comando Geral da Guarda Fiscal do primeira metade do século XX, utilizada nos postos da Guarda Fiscal habilitados pela Alfandega s despachar mercadorias e a cobrar determinados impostos, para guarda de valores recebidos.
Pedra de Armas da Guarda Nacional Republicana na fachada principal dos quartéis para identificação da Instituição
Peças em cerâmica comum e modelada produzidas no local recuperadas nas escavações arqueológicas no quartel em 2008
Pedra calcária do Convento do Carmo século XVII/I
  Azulejos alusivos ao batismo de Cristo
Monarquia
Potes em faiança vidrada pintado à mão com o brasão de D.João V. Não dizem a origem. Será português, meados do século XX  por altura da Exposição Mundial ocorrida em Lisboa em 1940 em que Salazar solicitou a várias fábricas para produzirem peças alusivas aos feitos dos portugueses  entre outros em Lisboa Campolide, Constância, Alcobaça, Aveiro e,...produziram peças com velas das naus, brasões, atividades do povo em Portugal e Províncias Ultramarinas  que Sacavém tão bem produziu com pratos de bordadura trelevada com espigas de trigo e ao centro o motivo. Este pote pode ser da Fábrica Aleluia que  produziu peças com este brasão.
Bela foto pendurados no trem de aterragem de um helicóptero em missões humanitárias e de apoio à Paz  no âmbito das Nações Unidas, da Nato, da OSDE e da União Europeia.
Foi no Carmo que se viveram os acontecimentos mais marcantes da história recente de Portugal. O Chefe do Governo, bem como outras personalidades do regime refugiaram-se no Quartel do Carmo e daqui saíram no dia 25 de abril sob prisão, após a deposição, na Chaimite "Bula" da Força de Cavalaria comandada pelo Capitão Salgueiro Maia.
Megafone de modelo singular utilizado no 25 de abril de 1974 pelo capitão Salgueiro Maia durante o cerco ao Quartel do Carmo para forçar a capitulação do regime autoritário de quase meio século em Portugal
Nesta poltrona repousou o chefe do governo  Professor Marcelo Caetano, durante parte das 14 horas em que se recolheu no interior do Quartel do Carmo em Lisboa no dia 25 de abril de 1974
Retirada de todos os edifícios públicos os símbolos do Salazarismo
A espingarda semiautomática G3 de calibre 7,62 mm. Ostenta um cravo vermelho na ponta do cano simbolizando a vitória do Movimento das Forças Armadas , sobre o regime autoritário no dia 25 de abril de 1974, a imagem das espingardas empunhadas com cravos enfiados nos canos veio dar o nome à revolução que ficou conhecida como "Revolução dos Cravos".
Setúbal numa feira de velharias um colega tinha à venda este chapéu que não hesitei em pôr na cabeça

Ofícios na GNR
O mais simpático - A Banda Sinfónica da GNR 
Fole utilizado pelos ferreiros da GNR
 Sapateiro

Visita a 3 de maio de 2019
Na rua ARMADO com a pasteleira e a espingarda
 Painéis azulejares da Fábrica Outeiro de Águeda- os grandes pintados em 1942 por Constantino
Escadaria com silhares azulejares
Acesso ao varandim a nascente com vista sobre Lisboa e o castelo de S Jorge

Questionou-me se nos bancos de pedra em meia lua que existem nesta varanda se alguma vez os frades se atreveram a sentar como eu...
 Painéis a encimar os bancos
 Vistas sobre Lisboa magníficas
 Sobre o Castelo  de S Jorge
 Residência do Comandante -Geral da GNR
Cadeira furada com um tiro que veio da rua no 25 de abril onde era costume Marcelo Caetano se sentar- mas naquele momento não estava lá...
 Chaminé da lareira em brecha da Arrábida
Estuques

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Encontrei bicicleta de 69 da Sarzeda, Ansião, em Montemor o Novo

Na última feira de Velharias em Montemor o Novo, ouvi da boca de um vendedor com 70 anos a lábia do falar calão usado no gerúndio, a um casal que apreciava a "pasteleira", a mesma que eu também mirava por estar em bom estado e ser verde, a lembrar o meu Sporting..."fiquem sabendo os senhores que a bicicleta é da terra do Pombal, de Ansião"...
Obviamente voltei atrás para tabelar conversa -, desculpe, mas afinal a bicicleta é de que terra? Entendi que de geografia de Portugal só denotou saber terras por onde andou na tropa e pouco mais seja o Alentejo onde nasceu, e vive. Fácil foi perceber porque falou de Pombal-, a terra que quem lhe a vendeu lhe transmitiu - o habitual erro crasso que muita gente infelizmente usa (por vergonha?) em detrimento da verdade, que seria gostar de falar da sua aldeia, concelho e distrito , mas abreviam o fácil ao falar da terra mais sonante em grandeza e neste caso seja Pombal , porque Sarzeda extrema pela frente com o concelho de Pombal a poente, mas também é habitual dizerem Coimbra...
Lugar de Sarzeda, freguesia de Pousaflores no concelho de Ansião onde nasceu Fernando Freire (?) ou Suímbo? como diz o meu bom amigo Matias de Albarrol que o conheceu bem -, supostamente olhando ao apelido e ao local será primo do António Freire (?) nascido nas Cavadas, casado com a prima do meu pai Albertina, ainda me lembro do pai deste, homem altíssimo abençoado com um par de olhos em azul que o neto, o Tonito, mais novo do que eu, com quem muito brinquei,  veio a herdar, e na mesma o porte em altura e elegância. Os pais do Tonito depois de uma vida a trabalhar em Lisboa, na reforma voltaram para residir em Ansião, morando no gaveto defronte da casa da minha mãe. 
Piada brincar com o letreiro,estrategicamente para apanhar o meu marido foi cortado...
Parece indicar - Outeiro ...Outeiro da Sarzeda, a terra do homem da bicicleta!
Citando o comentário de um amigo António Matias de Albarrol  " Vendo estas fotos nem sequer sabia onde estava a bicicleta, olhando para ela logo a reconheci imediatamente, a dita bicicleta é do Fernando do Suimbo, que fica ao fundo da Chã Galega, antes da Sarzeda, que a deixava muita vez em minha casa, quando ia com um "grão na asa".... posso precisar que o Fernando tem agora 73 ou 74 anos, devias conhecer muito bem a sua Mãe, tinha uma propriedade do lado de cima da Srª. Alzira antes de chegar ao Pinheiral , ele não se deixou no Alentejo...  viveu sempre com a mãe ( Ti Maria do Siumbo) fez a tropa e foi ao Ultramar, depois veio, continuou ainda alguns anos com a mãe, nunca teve namorada porque era muito tímido com as raparigas, a certa altura foi ter com o pai (Ti António do Suimbo) que fez toda a sua vida de paneiro nas terras do Alentejo e só vinha visitar a família uma vez por ano numa carroça e uma mula que se deslocava para e do Alentejo, e o Fernando uma altura quando foi ter com o pai segundo me contaram lá arranjou coragem e encontrou a sua alma gémea alentejana. Tenho a precisar que esta bicicleta foi comprada em 1969 e custou na altura 1.600$00 naquela oficina que estava por baixo do posto da GNR em Ansião que era do Sr. António Marques pai do Júlio Marques, mais tarde do David e do Artur..."
Até posso me lembrar dele " 

...pois desconheço o rumo da vida do Fernando Freire, mas uma coisa é certa à minha porta passou na sua bicicleta, até então o único caminho para sua casa, alegadamente teria vindo em rancho contratado por capataz para a safra da ceifa ao Alentejo (?), ou quiçá descendente do negócio de paneiro de gente que houve no Outeiro da Sarzeda -,cujo donatário dessa rota contemplava Arraiolos e Montemor, e teria vindo por algum motivo onde teria aprendido essa arte desde pequeno, naquele tempo andantes estrada fora na carroça, e quando já espigadote nalgum monte nos arrabaldes de Viana do Alentejo ou,...algures onde apregoou chita da tabela de Santo Tirso, se rendeu ao encanto de uma moça alentejana e ela se deixou encadear na voz do pregão do bom pano, e por ser dono de olhar fulminante azul, cor do céu àquela hora do meio dia com o sol a pique, fácil  a deixar confundir com a qualidade tesa do tecido riscado, e ele de beiço caído com o seu corpinho roliço vestido de chapéu de aba larga e avental de chita, sem mais ali se deixam enamorar  e vieram a casar, fazendo pelo Alentejo a sua vida.  O Fernando Freire ainda vivo com uns 74 anos, por a sua bicicleta já não lhe dar serventia, a vendeu ao vizinho que se dedica ao negócio de velharias, confidenciou nem pode ver o Bagão Félix na feira de Estremoz, quando foi ministro retirou um suplemento a quem esteve em terreno de guerra no Ultramar, que sendo mensal passou a anual...

O meu marido também apreciou a bicicleta com mudanças, a lembrar a que tive em 2ª mão trazida pelo "Pregueira", homem de Ansião, que na década de 60 fugiu a salto para França para ganhar melhor vida, havia de aparecer de " vacanses"  em agosto no ano seguinte a guiar um "Boca de sapo" castanho, que estacionou estrategicamente ao adro da capela de Santo António, vaidoso abriu a porta de trás para me  mandar entrar  e à minha irmã- "cachopas sentem-se",  e tomando o lugar do chaffeur fez acionar um comando que fazia subir e baixar o carro, dando a sensação de se estar num carrossel,  e os bancos em cabedal eram tão fofinhos, como jamais assim outro conhecíamos...o bom do "Pregueira" delirava fascinado com o sucesso causado em nós pelo tamanho e inusitado fascínio!
A minha bicicleta armada de guarda lamas martelados em cor de prata e outros brilhos, fazia lembrar uma sereia, e tinha luz e mudanças-, era linda e diferente, vaidosa resvalei em maus caminhos de pedras e buracos e na areia fui direita a um plátano ao Ribeiro da Vide, esmurrei a cara e os joelhos...até esse dia nunca tinha visto tanto sangue vivo a escorrer em bica, só mesmo na matança do porco, que abominava sobretudo pelo barulho e sofrimento!
Tenha sido esse momento de horror, que me afirmei Sporting!

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