quarta-feira, 19 de outubro de 2016

À cata do suposto Forte do Pragal...

No domingo caminhada pela manhã no paredão da Costa de Caparica para finalizar olhadela na feira de velharias, onde se encontram sempre peças bonitas e também o gosto de falar com amigos, fatalmente esta demora determinou atraso do almoço que aconteceu fora d'horas-, bacalhau com todos, nada faltou, tudo muito bem cozido e bem regado saboreado na nossa mesinha na marquise a ver o Tejo e o Metro de superfície...O meu marido ainda se deleitava com o rolo de massa folhada de maça laminada, nozes, doce de ameixa e canela já eu tinha saboreado o meu e mais dois bombons...eis que me aguça o apetite para nova caminhada para abater calorias...saímos a vadear pelo Pragal velho há procura de vestígios do suposto Forte do Pragal (?) dado por uns fortes muros, num deles com uma guarita e ainda uma rua com o nome de Forte.
Muro quinado na que foi a quinta da Horta ao Pragal
Ainda se deslumbram restos destes muros que fizeram parte das quintas de antigamente
Um novo olhar ao entrar no passeio pedonal aberto pelo derrube deste muro  a norte fiquei com a sensação nítida que pode ser resquício do Forte do Pragal (?) alvitrei para o meu marido para seguirmos em frente que por certo iria dar a casario com  muro adoçado onde está uma guarita(?).
Guarita no muro
Se contornamos este casario pela rua do tardoz - Escadinhas da quinta da Horta, é visível que este muro de suporte da guarita faz a curva para cima na direção do alto para o Cristo Rei.Pois será enigma a guarita e se de fato aqui houve algum Forte (?) ...
No Beco das Pimentas na Vila Lucília
Tabelámos conversa com um homem de 87 anos, nascido na Vila Neto, nas Barrocas, Cova da Piedade, muito bem conservado e fluente de conversa , desatou em relatar a sua vida, o pai veio da Gafanha da Nazaré para aqui trabalhar na construção e reparação de barcos, nunca vestiu fato, nem para o casório dos filhos, andava sempre de macaco, só quando embarcado nos paquetes para o Ultramar era obrigado a entrar e a apresentar-se de fato e macaco só em trabalho, chegou a ser considerado o melhor carpinteiro de canoas, delicioso foi ouvir as suas estórias de vida, nesta casa vive há 67 anos, casou com uma costureira que num barracão no quintal  trabalhou com várias mulheres a fazer roupa para a tropa no Ultramar, por dia faziam 1300 camisas, no seu tempo ser carpinteiro era obrigatório andar com a sua caixa de ferramenta, teve vários patrões, foi assalariado de Marinha, trabalhou na Perry Son, em tanto lugar, e pelo mundo foram 47 anos, num tempo que não se faziam descontos, viúvo, vive sozinho, criou filhos adotivos e um filho a quem fez uma vivenda com o dinheiro ganho na comissão na Guiné, e o neto, deles disse de boa voz que só querem dinheiro e ouro, e este já o vendeu para se suprir porque lhe cortaram 200€ na reforma...
Vive no 1º andar de uma vivenda com 100 anos cujo r/c tem o dobro, onde houve uma  albegoaria de vacas leiteiras, confesso que percebi albergaria, mas como não dava a bota com a perdigota, voltei a perguntar e de novo confirmou o nome, disse-lhe que andava à procura dum Forte, pelo que gostava de espreitar o tardoz da casa para ver os muros, com autorização segui em frente onde está ainda o poço que me pareceu entupido, mas depois disse-me que é para os cachopos não caírem nele, o quintal mostra-se fechado por muros grossos , um deles a norte também de pedra  acrescentado numa altura de um metro com ladrilho cerâmico e  lixo variado, sobretudo debaixo da escada de aceso ao 1º andar da casa. Voltei à conversa e disse-me que o Forte não era aqui mas sim junto da Igreja do Pragal, onde ainda estavam as baterias...Disse-nos ainda que esteve durante 6 anos à frente da Cooperativa Piedense, no tempo que usava fato macaco, para depois dele vir gente que só usava fato e gravata que ditou o seu fecho, naquele tempo distribuíam os lucros pelos associados. Acrescentou que retiraram os azulejos com o nome que estava na frontaria  para colocar mais acima outro painel azulejar.
O painel constituído por 548 azulejos pintados a azul, da autoria do artista plástico Carlos Canhão, acompanhado de um poema de João Fernando, representa um local que há mais de 100 anos era conhecido como a Praia dos Tesos, situado entre a Arealva e a ponte sobre o Tejo, num tempo utilizado pelos pragalenses com fraco poder económico como lugar de lazer, tendo deixado boas recordações para muitas famílias.
 
Seguimos na direção da Igreja do Pragal 
Sem vermos jeito nem maneira de aqui ter havido um Forte, muito menos visão de baterias, o que lá existe é uma faixa de terreno sobrante que dá para a encosta da Portagem da Ponte que ficou após a expropriação da quinta da Ermida.  Julgo que o pobre homem se baralhou (?) quando lhe perguntei se acaso se lembrava da demolição da casa e capela da quinta de S. Pedro para serem feitos os acessos da autoestrada de sul para norte, a que me responde essa é a quinta dos Fortes...aqui se levantam dúvidas. Será que esta quinta teve como últimos donos gente da família "Forte" ? E como eram vários  elementos o povo o dizia no plural (?).
No terreno lateral que acompanha o acesso à portagem está a nascer um jardim que vai ligar ao Parque da Paz , onde fizeram um Centro de Saúde e defronte o Hotel e o Tribunal. 
Na realidade a quinta de S.Pedro com entrada pelo Pragal para sul tem outro grande portão, sem acesso a estrada, o que evidencia o terreno adjacente pela frente em parte ter sido da mesma propriedade(?) .
Mais à frente numa urbanização perto da Escola Primária existe uma rua com o nome de Rua do Forte-, enigmas a deslindar, será a meu ver esta atribuição toponímica dada pela Câmara deficiente (?) e com isso se levantam as dúvidas-, supostamente o nome correto deveria ser Rua da Quinta do Forte, e dizendo apenas Rua do Forte, aventa aqui ter existido um forte de defesa, até pela guarita e pelos muros grossos (?), questões que só com investigação podem ser apuradas começando por saber a razão da atribuição deste nome na rua, se pode desbloquear este enigma.
Portal da quinta de S. Pedro antes do viaduto do Pragal
Chegados ao Cristo Rei  
Sempre em obras abismais, haja capital!
No meio do olival onde havia um parque de merendas fizeram um empreendimento que não sei a sua finalidade e novas estradas.
Também o parque de estacionamento foi reduzido para nascer um novo enquadramento bucólico com colunatas revestidas a cerâmica de forma quadrada onde na base gente se pode sentar, ornado com trepadeiras, depois de crescidas se pendurarem na pérgula de traves de madeira...
  Mudaram para sul o sítio do parque de merendas com nova cobertura e chão a mosaico de cimento.
A máquina é fraca, bem tentei captar o MAAT a sua vistosa onda ou boca de manta...imensamente branca!

 Arriba da encosta com aboboreiras de boas abóboras porqueiras

A Sagres  vinda da semana do mar em Setúbal
Na véspera a vi toda enfeitada, o Criola e a réplica da caravela Vera Cruz, e patrulhas com pessoas que se inscreveram para passeios.  
Quase no seu esplendor aperaltada des velas  quase todas hasteadas, menos as do topo...
 
 
O céu escuro com clareira branca deu-me a bidimensão desta bela foto

 
Ao meio da capela foi colocada uma Cruz esticada que me reportou para a Cruz de Cristo pintada nas velas das naus que partiam do Tejo para além mar, para naquele preciso momento ver a Sagres a surgir na frente de Palença, o fim da a praia dos tesos, só esta tem areal, antes do pilar da ponte é só pedra.
 
A porta principal foi alterada para escultura em cobre, belíssima, ladeada por outras em quadrado com mensagens dos pecados capitais .
Muitos espanhóis que me pareceram pelintras e pobretanas (?), ao entardecer chegou um táxi de Lisboa com "chinocas", um tuktuk, e um autocarro descapotável com partida do Marquês de Pombal com direito a bilhete para subir ao Cristo Rei apenas por 20€ por pessoa, e claro excursões e carros de particulares. 
O movimento no Santuário deu-me a sensação de estar no 13 de maio na Cova de Iria...
Plantio de eucaliptos
Esta espécie mostra-se perigosa por os ramos se abrirem em vez de subirem em altura e com o vento partem com facilidade. Em Sintra há anos gente que fazia um piquenique morreu com uma pernada que caiu...
Na volta para casa é sempre agradável apreciar o que resta no Pragal velho das quintas de outrora
 
Casario que tem a guarita na outra frente a nascente
Na Rua Fernão Mendes Pinto
Num contentor de resíduos de obras na mudança de telhados ainda de origem em casas com 100 anos, a curiosidade em ver a sua origem - PALENÇA. A morada da empresa sediada em Lisboa em Palença de Baixo na beira do Tejo, onde existiu um Fortim mandado construir por D. João III que o terramoto de 1755 destruiu e mais tarde no mesmo sitio foi construída a fábrica de cerâmica.
Chaminés da fábrica de sabão do Lugar de Arrábida em Palença
 Praia dos tesos das gentes do Pragal noutros tempos

Fontes
http://www.m-almada.pt/xportal/

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Chão de Couce palco de pregão das Criaditas dos Pobres ou das Irmãs Clarissas do Desagravo?

Concelho de Ansião, no distrito de Leiria, tomando o caminho na vila de Chão de Couce para a Moita Redonda, ao Furadouro, do lado esquerdo antes da fonte nas bordas do sopé da Nexebra após a regateira que se forma mais acima ao endireito das Calhas, existia na década de 30 uma casita térrea do Ti Violante(?) tinha um passeio pela frente na direção do caminho, hoje estrada. Desta casa fala a minha mãe, do pouco que se lembra desse tempo criança e também a minha sogra, recordações das vezes que lá foram acompanhadas pelas suas mães. A minha avó Maria da Luz para dar esmolas, pois as "beatas" viviam delas e dos viveres da época, a minha sogra com a mãe levavam lenha, batatas e feijão. Lembram-se  nesse tempo de serem três mulheres ou quatro, estando a mais velha entrevada. Faziam as hóstias para a missa que frequentavam diariamente, viviam de caridade vestidas de preto com lenço na cabeça.
Felizmente a minha mãe por o pai ser paneiro sazonal no Alentejo, e na região nas feiras anuais e no mercado semanal, tinha  em casa na Moita Redonda mercearia, loja de panos e taberna, por isso a minha avó as agraciava com dinheiro. Ambas se lembram que eram chamadas por "beatas"...quando passavam pelas pessoas era uso o seu cumprimento  dizer - Bendito Louvado Seja  - a que respondiam -O Santíssimo Sacramento. Diz a minha sogra Ermelinda, que uma se chamava Maria Serôdio, num tempo que nada se perguntava, não sabem como ali foram parar e como acabaram...quiçá foram morrendo por lá...ainda deve existir  a casita ou o que dela resta. O meu tio José Veríssimo, disse-me que também se lembra de garoto da casa e das "beatas". Anos mais tarde foi vendida a um seu familiar, ao que parece a mulher que a limpou foi atingida por uma doença provocada pelos ratos, pois estaria fechada há anos, maleita aziaga que mais tarde supostamente a levou à morte...
A minha mãe ainda se recorda que naquele tempo uma rapariga fugiu da casa dos pais, desconhece o motivo porque se veio a abrigar nesta casa, onde viria depois aparecer o seu pai dela armado de espingarda para a resgatar, tendo lhe aparecido a beata responsável pela casa, e sem medo algum o enfrenta de mãos afincadas nas ancas e lhe diz " se me quiser matar mate-me, só tenho esta vida"... tamanha coragem conseguiu demover o homem ao apelo de que a conversar é que as pessoas se entendem...
criaditas_dos_pobres
Citando a Diocese de Aveiro
"Irmãs Criaditas dos Pobres , falar das "criaditas" é falar de Maria Carolina, a quinta filha do Doutor Sousa Gomes, professor da Universidade de Coimbra. Desde cedo sentiu o apelo a dedicar a sua vida aos mais pobres. "… Perdia-se sobretudo pelos becos da velha cidade de Coimbra onde a paredes meias viviam estudantes e famílias pobres, carregadas de filhos. Era a "vicentina" que havia entrado nas Conferências logo que elas reviveram em Coimbra com a chegada de França do P. Luís Lopes de Melo…". É ela a "Mãe" das Criaditas, a sua pioneira.A 1 de Novembro de 1923 deixa a casa materna na Rua da Matemática e aceita dirigir o "Asilo da Infância Desvalida". A ela junta-se mais tarde Maria Clementina, a "Irmãzinha Emmanuel" como lhe chamavam, nascida e baptizada em Aveiro na paróquia da Glória. Junta-se depois a Perpétua Silva que era empregada do asilo. E agora, sim, "… as três já podiam ir por esses becos e vielas tratar da vidinha de tantos filhos de Deus que não O conheciam como Pai".
E a Previdência lá foi encaminhando as coisas para que se tornasse realidade aquilo que todas ansiavam: ser "pobres criaditas dos Pobres". Deixam o asilo que passou a ser uma escola oficializada e arrendam a sua primeira casa, bem modesta situada nas escadas do Quebra-Costas junto ao Largo da Sé Velha, na parte alta da cidade, igualmente entre gente pobre. "Levavam, apenas, um fogão de ferro e a grande panela para fazer o "jantar dos Pobres" no Natal e na Páscoa e dois sacos de aparas para o primeiro lume. Mas a grande riqueza era a imagem do Coração de Jesus levada nos braços pela "Mãe" para abrir a primeira casa das criaditas. Por tradição, ficaria a ser sempre o Fundador das comunidades. Em 1931 já a pequena comunidade se encontra na Rua da Ilha, nº 16 numa pequena parte de uma casa antiga. E foi ali que fizeram a sua casa e depois montaram uma creche para atender os filhos das famílias mais pobres. Ainda hoje ali estão."
As criaditas dos Pobres em Aveiro
"Depois da Diocese restaurada em 1938, D. João Evangelista de Lima Vidal pensou em criar nesta Diocese as "Florinhas o Vouga" como já o tinha feito em Lisboa e Vila Real destinada à protecção e amparo das crianças do sexo feminino, abandonadas pelas ruas e expostas aos maiores perigos. Para tomar conta da obra lembrou-se das criaditas que chegaram a Aveiro em 6 de outubro de 1940. Diz assim o P. Melo: "O frio – físico e moral – que vos há-de ter torturado ao chegar sem uma pessoa conhecida a esperar-vos, sem um banco em casa para vos sentardes, com toda a casa a monte, despensa vazia, lareira apagada, sem lume nem luz, toda essa solidão… dizia-vos quanto é Pai Aquele que está nos céus…" E, começou o trabalho   pelas famílias mais pobres. Hoje, muito mais diminuídas em número de Irmãs e enriquecidas em idade, habitam na nossa paróquia da Vera Cruz na Rua António da Benta em número de três.
Em 15 de Maio de 1932, Domingo do Espírito Santo, o Bispo de Coimbra D. Manuel Luís Coelho da Silva aprovou as primeiras Constituições onde definia em latim o nome por que seriam conhecidas: Parvulae Ancillae Christi (criaditas dos Pobres). E acrescentava: “deviam formar uma pequena família cujo chefe é Cristo presente no mistério do altar, na pessoa da “Mãe”, nos pobres, nos benfeitores, nas Irmãs e no director Espiritual. O seu lar devia ser a Igreja Paroquial, a casa dos pobres onde servem e a própria comunidade".

Citando o Amigo do Povo da Paroquia de Ansião pelo Padre Manuel Ventura Pinho


"Esta é uma congregação religiosa fundada na nossa diocese, tal como as Clarissas do Desagravo!
As criaditas dos Pobres foram fundadas em Coimbra, junto da Sé Velha, a 1 de Novembro de 1924 por Maria Carolina de Sousa Gomes. Elas insistem em que se escreva “criaditas” com “c” minúsculo e “Pobres” com “P” maiúsculo; só isso diz tudo acerca delas e do seu carisma: elas consideram-se muito pequenas diante de Cristo, que está presente no Pobre a servir.
Maria Carolina se destacou na época não só pelo seu valor científico-académico mas também por ter sido um dos homens que se assumiram como católicos na Primeira República, um tempo em que não era fácil afirmar-se católico!
Maria Carolina nasceu, assim, numa família numerosa, profundamente cristã e grandemente interessada pelos problemas sociais, também em contacto com a miséria física e moral da velha cidade de Coimbra. Esta experiência apertava-lhe o coração e foi-lhe fazendo crescer o desejo de dedicar toda a sua vida ao serviço dos Pobres, ocupando-se deles nas suas próprias casas.
As criaditas dos Pobres distinguem-se facilmente pelo seu hábito de xadrezinho, do mesmo tecido das antigas criadas de servir. Também ficaram famosos os seus coloridos cortinados de retalhos, uma antiga forma de reciclagem: aliando a pobreza com o asseio, para elas nada se estraga. Tal e qual como as antigas criadas, elas vão a casa dos Pobres ajudando um pouco em tudo: mais do que levar esmolas elas servem os pobres, lavando e esfregando, mas também ensinando normas de economia doméstica e higiene, ajudando e ensinando a cuidar de bebés, etc…
As criaditas dos Pobres lidam com muito tipo de gente, porque o pobre nem sempre é o “coitadinho” inocente que imaginamos; mas é tal a sinceridade da sua pobreza humilde e a importância social da sua ação, que são sempre respeitadas. Elas entram e são bem acolhidas e respeitadas em certos bairros problemáticos onde a polícia, por vezes, tem dificuldade em entrar, como atestam alguns testemunhos.
Atualmente, as criaditas dos Pobres estão presentes em Coimbra, na rua da Ilha, em Côja e já se estenderam até aos Açores e Brasil (Nordeste, Chapadinha)."

Citando uma entrevista do correio de Coimbra em 2006
"A Maria Carolina saiu da sua casa para ira para casa do Dr. Elysio de Moura. A nossa fundadora esteve primeiramente a tomar conta de crianças. A nossa congregação só passou a existir oficialmente muitos anos depois, mas marcamos essa data, porque foi a data que a Irmã Maria Carolina saiu da sua casa e já existia este carisma de querer auxiliar os mais desfavorecidos. A congregação foi aberta oficialmente em 1966.
Como nasceu a vossa obra?
A nossa obra nasceu das Conferências Vicentinas em Coimbra. A nossa fundadora antes de ser Criadita dos Pobres já participava juntamente com a mãe nas conferências vicentinas e iam à casa dos pobres fazer trabalhos… Mais tarde, ela achou, por bem, que seriam necessárias vicentinas a tempo inteiro. E foi por isso que juntamente com outras irmãs formou esta congregação.
Como nasceu a Cozinha Económica?
"A Sociedade Protetora das Cozinhas Económicas de Lisboa foi criada em 1893, por Maria Luísa de Sousa Holstein Beck, duquesa de Palmela, para ajudar a população carenciada com refeições a preços módicos."
"Vinte e cinco anos depois, e com o agravamento das condições de vida causado pela I Guerra Mundial, foi criada a Sopa dos Pobres pelo então Presidente, Sidónio Pais, que ficou também conhecida como a "Sopa do Sidónio". 
 
Em Coimbra a Cozinha Económica nasceu em 1933. Como o nome também indica tem por objetivo servir economicamente e dignamente uma refeição forte, saborosa e abundante. Para pessoas que trabalhavam e não podiam comer tão bem, podiam vir aqui, e obterem uma refeição a um preço simbólico e boa.
Antigamente muitos estudantes que hoje são doutores, médicos ou professores, comeram aqui na Cozinha e dizem hoje que devem o seu curso à Cozinha Económica. Até há pouco anos atrás ainda se juntavam neste mesmo sítio para comerem todos uma refeição afim de confraternizarem e recordarem os seus tempos difíceis de estudante. E pagavam o triplo do dinheiro que dariam na altura enquanto estudantes.
Ao princípio quando servíamos aqui as refeições apercebiamo-nos que algumas pessoas comiam só sopa. Depois de falar com elas e saber porque razões comiam só sopa, víamos que existia grandes tragédias naquelas famílias. Havia pessoas que poupavam ao máximo para poderem ter mais um bocadinho para os filhos. Através deste serviço mergulhamos no mundo dessas famílias…
A Cozinha Económica atravessa algumas dificuldades monetárias. A Irmã Lucinda, responsável pelas Criaditas dos Pobres em Coimbra reconhece esta dura realidade. Esteve nas origens da fundação da Cozinha Económica. São reconhecidas carinhosamente por "madres de Teresa de Calcutá" da cidade. Não gostam muito de falar daquilo que fazem, muito menos com os jornalistas. Levam o Evangelho à prática. Servem cerca de 500 refeições por dia, 30 por cento dessas refeições são gratuitas. A comparticipação dada pela Segurança Social é de apenas um euro e cinco cêntimos por refeição. O que tem valido, tem sido a generosidade de muitas pessoas e ajuda do Banco Alimentar Contra a Fome.
A Irmã Lucinda numa entrevista gentilmente cedida ao "Correio" fala-nos de novas formas de pobreza existentes na nossa cidade que aumentam de dia para dia.
As Criaditas dos Pobres, como qualquer outra congregação, sentem a falta de vocações. Há 17 anos que não possuem uma única noviça. Estarão as nossas criaditas em vias de extinção?
Em que locais da cidade vocês se encontram?
Aqui na cidade estamos só na Rua da Ilha, junto a Sé Velha, onde até o ano passado tivemos um jardim-de-infância e uns tempos livres que entregamos depois a Caritas porque já não tínhamos possibilidades de continuar. E estamos na Baixa, na Cozinha Económica, onde servimos cerca de 500 refeições diárias a um preço simbólico."

"Quarenta anos depois do 25 de Abril, Portugal regressou ao modelo da Sopa dos Pobres e da Cozinha Económica com as atuais cantinas comunitárias, um cenário que o presidente da Cáritas julgava não voltar a acontecer."
O que falta saber ? Se em Chão de Couce  se instalaram naquela casa as Criaditas dos Pobres a fazer o seu trabalho de apoio à comunidade ou Irmãs Clarissas do Desagravo, sendo o seu Convento sito no Louriçal a escassos 30 km(?) ou nenhuma delas e seriam outras(?).
Quem mais souber partilhar o que sabe, só engrandece!


FONTES

Oral da minha mãe, sogra Ermelinda e do irmão José Veríssimo
http://www.diocese-aveiro.pt/paroquiaveracruz/?p=6302
http://www.oamigodopovo.com/criaditas666.asp
http://correiodecoimbra.blogspot.pt/2006/12/irm-lucinda-das-criaditas-em.html
http://ionline.sapo.pt/316622

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Beco dos Birbantes ao Hospital S.José em Lisboa

Ainda a passear pela Calçada de Sant'Ana prendi o olhar numa varanda com a bandeira do Sporting...
Beco dos Birbantes -Sinónimo de birbante - patife, traste, biltre, velhaco... 
Entrei pela Calçada Nova do Colégio-, dado pelo  Colégio Novo de Santo Antão, que foi jesuíta, cuja cerca passa muito perto da calçada e a contorna até ao entroncamento com a rua onde nasceu e funciona hoje o Hospital de S.José.

 Desconheço o nome deste palácio de gaveto (?) em total abandono

Neste prédio reparei em duas pedras para vasos a ladear a janela , uma tradição portuguesa
Uma grande chaminé, desconheço se foi de padaria ou olaria
A chaminé extrema com  o que resta da Torre de Santa'Ana que dela aqui se reconhecem ainda vestígios
Descida com vista sobre outra colina, a do castelo de S.Jorge
Não encontrei o Relógio de Sol que existe nesta rua...
Passou por mim este senhor, não sei se brasileiro ou cabo verdiano, que me dirigiu as boas tardes- em Lisboa, deixou-me de boca aberta!
Entrada do portal do Hospital de S.José. Situado no Campo de Sant’Ana, sobranceiro ao Rossio, o Colégio de Santo Antão-o-Novo, classificado como imóvel de interesse público pelo Dec-Lei 8/83, de 24 de Janeiro, seria completado com uma grandiosa Igreja, iniciada em 1613 e terminada em 31 de Julho de 1652, dia de Santo Inácio de Loyola ( o fundador da companhia jesuíta) e uma formosíssima sacristia, ambas devidas maioritariamente às liberalidades da Condessa de Linhares, D. Filipa de Sá. 
A sacristia, da autoria do Arq. João Antunes construída entre 1696 e 1700 ainda hoje existe praticamente intacta, é monumento nacional pelo Dec.- Lei 22 502, de 10 de Maio de 1933, e é a atual capela do Hospital de S. José.
Arco comemorativo da vitória sobre Massena( invasões francesas)
Fachada sul de acesso à Biblioteca e Salão Nobre é decorada na frontaria por estátuas de 7 Apóstolos  provenientes da Igreja destruída do Colégio Novo de Santo Antão pelo terramoto de 1755 , as estátuas foram  feitas por artesãos italianos, quando as torres caíram no século XIX aproveitam as pedras para pedestal das mesmas. 
 O átrio da entrada mostra-se quinado e abobadado com pinturas onde a cor tijolo é dominante
Todo o espaço e eacadatório é revestido a painéis azulejares do século XVIII que contam histórias de cenas de caça e batalhas.
O Hospital de Todos os Santos mandado construir por D.João II em 1492 foi sofrendo percalços, a 27 de Outubro de 1601deu-se um dos grandes incêndios que destruíram quadros dos Reis de Portugal e as pinturas a fresco maneiristas. Outro incêndio deu-se a  10 de agosto de 1750 e o terceiro e último, a 1 de novembro de 1755 no incêndio resultante do terramoto de Lisboa. 
A ironia foi a de que o Hospital Real de Todos os Santos foi destruído no seu próprio dia, o dia de Todos os Santos.
Este Hospital foi localizado no sitio onde hoje é a Praça da Figueira.Os doentes sobreviventes foram transferidos para o Colégio de Santo Antão que tinha sido a casa principal dos Jesuítas que lhes tinha sido confiscada pelo decreto do Marquês de Pombal, sendo assim aqui criado o Hospital Real de São José.
Foto da maquete do Hospital de Todos os Santos de fachada estilo Manuelino 1492-1759
A maquete deste Hospital


 Um vaso em faiança do Hospital de Todos-os-Santos com a sigla 'OS' (Omnia Sanctorum)
O átrio com escadatório nobre de largos degraus em pedra e faustos patamares com as paredes todas revestidas a belos silhares azulejares em azul e branco em ótimo estado
 
Estranhei haver pedras esculpidas que não identifiquei , supostamente faziam parte de brasões (?) estarem debaixo dum banco...
 

Existe uma grande quantidade de peças antigas em madeira nos patamares da escadaria, relativas a meios de locomoção desde a idade medieval , como as liteiras, até à primitiva cadeira de rodas em madeira.
 
Liteira do século XVIII para transporte de doentes
Escadaria nobre  do acesso ao Salão Nobre (antiga Aula da Esfera dos Jesuítas) e à Biblioteca.
 Um telescópio representado em painel azulejar do século XVIII (Aula da Esfera)
 Pormenor de um painel de azulejos do séc. XVIII do Salão Nobre do HSJ
 
 Outro motivo azulejar do salão nobre
 Biblioteca - jarros da Marinha Grande
 

No átrio da escadaria nobre não havia segurança, entrei e à revelia tirei fotos, não vi avisos para não tirar e por fim na saída sentei-me numa mesa buffett setecentista de pés torneada e disso gostei por  atrás de mim estar a lápide comemorativa ao Prof. José Gentil,  um  Baixo-relevo de Mestre João da Silva, homenagem dos seus colegas, amigos e discípulos datada de 1936!
Falta conhecer a capela instalada na antiga sacristia . Aqui entrei uma pimeira vez em 1980 com uma colega Sottomayor de Ourém que arribou a Lisboa, escorregou num passeio e bateu com a cabeça, andámos à procura de quarto com serventia de cozinha...foram uma série de horas...
Na saída pelo lado norte debaixo do arco existe um painel azulejar em policromia, o único(?) a ideia que reti ao olhar, mas os carros sempre a passar não registei foto e este grande na parede exterior da entrada.
Os espaços da envolvente a norte com um parque de estacionamento em terra batida onde outrora foi um prédio a meu ver desprestigiante a entrada que há muitos anos se encontra em abandono e desajustada ao Hospital, que é entrada importante, contudo na Rua de S.Lázaro está a sofrer melhoramentos em muitos prédios camarários.

FONTES
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/06/maternidade-dr-alfredo-da-costa.html
http://www.chlc.min-saude.pt/hospital.aspx?menuid=164

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