quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Pelo Rabaçal e Sicó à procura da Villa de Pedra em Cotas

Sexta feira dia 9 de dezembro o almoço em família em celebração do aniversário da minha irmã aconteceu na cercania poente de Penela. Refastelados de bom repasto saímos sob um sol luminoso esbatido na paisagem a tons escarlate, amarelos pálidos, ocre e castanho em mote de ensejo lançado à laia de convite, grande passeio. A sinalética Podentes ditou-me a fatal lembrança do Carlos Relvas na Golegã -  pioneiro da Fotografia em Portugal, casado com a ilustre senhora D. Margarida Vasconcelos, filha dos Condes de Podentes, que ao tempo viviam no seu solar em Condeixa.
Ao Rabaçal vila que conheço desde sempre me deixei de boca aberta por ver pela primeira vez placards em ardósia com anúncios de venda de queijo, artesanato e ainda ementa de um restaurante.Progressos a pensar no turismo, claro que ao olhar para a esquerda me lembrei da queijeira abençoada com um belo par de olhos azuis que foi do Alvorge, morava na casa solarenga adoçada à Igreja, exibia uma bela coleção de fósseis que foi encontrando pelos campos quando andava com o rebanho...
Seguimos a direção do Pombalinho, no passado pertenceu aos Beneditinos de Lorvăo do Convento de Ceissa da Figueira da Foz, jaz em abandono, depois foi Senhorio dos Almadas, com título de Vila, chegou a ter o processo organizado para atribuição do Foral Manuelino,embora a sua publicação jamais se concretizasse. A passagem dos invasores franceses em 1811 foi devastadora com muitos mortos e roubos.
Pombalinho 
Vista sobre os outeiros do Rabaçal, Trás de Figueiró, Casas Novas e,...
Vista aérea
Vale Centeio


Paisagem típica de medas ou do medeiro, a forma de guardar a palha no inverno. O centeio é malhado na eira, a palha é junta e colocada por camadas em pilha, ao jeito de cone, em geral nas últimas camadas enfardam cuanhos, no resulto da espiga desfeita partida com o ancinho de pau com alguma palha, aqui posta, por ser mais consistente no resguardo da chuva que assim não se infiltra, escorre, cai para o chão e não apodrece a palha  no cimo, às vezes, é posta uma Cruz de palha ou de madeira.
Citar excerto https://groups.google.com/forum/
"É muito violento o serviço da malha, mas nunca os trabalhadores são tão bem alimentados. Comem, antes do almoço, pão e queijo, almoçam às oito horas, jantam perto do meio-dia e ceiam pouco depois do sol posto e, nos intervalos destas refeições usam o que chamam a côdea (fatiga) e o convite, que consiste em pão trigo caseiro e queijo, tendo sempre vinho à discrição cada vez que comem. Depois do convite, deitam-se à sombra das medas e descansam mais de meia hora, até que algum deles grita:
Oh! da minha banda,
Que o da outra já cá anda...
No dia em que termina a malha costumam gritar, com todo o entusiasmo, que o vinho por vezes aumenta: “Filhoses, filhoses!»
É que, se a colheita foi boa, o lavrador oferece filhoses à ceia, ou leite com açúcar. Os vizinhos, no tempo das malhas, costumam oferecer todo o leite das suas cabras e vacas aos que andam de malha, oferta que estes à sua vez retribuem. Esse leite é para beberem à noite os malhadores ou para fazerem papas de milho, como atrás se disse também. São mui vulgares os casos de desordens e pancada nessa época, quase sempre por causa do vinho".
Citar excerto http://rebordainhos.blogspot.pt/2010/10/ares-da-serra.html
"Noutros tempos era bem verdade que um pobre, quando era mesmo pobre, nem do que era seu seria dono: num dia de malha caíam sobre a colheita todos os cobradores como corvos sobre a carniça: ele era a avença do barbeiro, ele era a côngrua do padre, ele era a renda da lameireca das Almas, ele era o diabo a quatro…e, sobretudo, para desonra da Serra, os juros do empréstimo à onzena: para se acudir à fome, quando o ano era mais comprido que a colheita, havia que pedir pão para a boca. Aí, por cada dez alqueires tinham que se pagar onze (daí o negregado nome de onzena). E lá se ia em maquias a grande parte da colheita.O dia findava. O sol despencara já para trás da Serra e o pessoal ia dispersando. O tio Chancas, que não era homem para desmoralizar e alegrete das pingas bebidas à custa do Ti Manuel Frade, olhava para o pouco que lhe sobrava e agitando uma ciranda acima da cabeça como sevilhana bailando o seu bolero, cantarolava:
Depois da malha acabada,
Aqui está o que me calha:
Uma bebedeira nos cornos
E uma gabela de palha."
A  Igreja matriz  de Pombalinho é possuidora de uma bela Imagem da Virgem com o Menino, julga-se ser a escultura mais antiga no concelho de Soure, datada de meados do séc. XV e, embora muito repintada, notam-se-lhe as feições idealizadas e o olhar doce e distante caraterístico do seu estilo, que pode ser da Escola Coimbrã, de João de Ruão (?).
A Freguesia do Pombalinho é rica em vestígios arqueológicos da Pré-história recente a época romana. De fato mal se alcança o cimo e se avista a vila qual foi a impressão que senti ao olhar para a direita ? Distingui um caminho ladeado por muros de pedra seca vinda de norte, no imediato me desafiou a pensar se tratar da antiga via romana  vinda de Conímbriga, Fonte Coberta, atravessava a Serra de Janeanes...
Serra de Sicó
Ainda avistei os cumes dos outeiros em forma de cone ao Rabaçal no forte contraste com a Serra de Sicó que se mostra de costado cravado e bordejado a pedra, ainda assim o povo a delimitou a muros de pedra seca, brutal imagem, naquele instante me volta a desafiar o pensar- mais parecia muita cabeça de africano com um penteado de tranças...mas a minha irmã não parou, dificilmente pára, nem me atrevi a falar...as fotos em andamento não espelham a beleza que aqui se bebe, ainda assim deixou o meu pobre coração emocionado repleto do belo, por se mostrar ímpar, idílico, impressionante, inigualável, incandescente... na primeira vogal de tanto sinónimo-, o "i" a mesma do meu nome - Isabel, por isso me deleitou em tanto extravasar...podia aqui morrer, seria morte Santa!
Toda a região do ponto de vista paisagístico revela-se exuberante pela diversidade cársica quase desértica esquartejada por courelas ornadas por todo o lado a muros de pedra que por si só exalam beleza imensurável por se manterem no tempo ainda de pé cujas ligeiras aberturas apetece espreitar e ainda a beleza dos líquenes, sem licença as pintam e redesenham a cada ano em tonalidades a preto e séptia, pasmo sempre a contemplar as dolinas cársicas ou ajeitadas pela mão do homem com a função de reter águas para os animais saciarem a sede quando andam no pasto, também não sou alheia à brutal mancha de carvalhal - carvalho cerquinho que nesta região se mostra de elevada biodiversidade e grande riqueza para os estratos inferiores, no outono a folhagem caída forma no chão uma manta morta que atua como esponja fofa no inverno que apodrece pelo efeito da chuva evitando a erosão dos solos, nada mais que estrume leve, desde sempre me ensinaram ser o melhor para os vasos e canteiros das flores, e ainda as esculturas feitas pela erosão na pedra calcária, por ser maleável, e outras de origem fóssil, que se encontram nas regiões mais argilosas, pedras com buraquinhos que já foram do fundo do mar, muito usadas no contorno de jardins.
Serra de Janeanes 
 Courelas fechadas de muros de pedra seca com eucaliptos ...

Desafiando esta bela moldura florestal do carvalho cerquinho, quiçá a maior na Europa pelo que merece ser preservada a qualquer preço, sem atentados, infelizmente no século XX alguns proprietários a pensar no lucro fácil introduziriam o eucalipto e o cedro do Buçaco. Persiste ainda nesta paisagem muita cancela artesanal de aspeto trivial dado pelo cruzamento aberto de tábuas de madeira a fechar as courelas, dependendo da estação do ano por todo o lado exalam aromas a erva de Santa Maria, tomilho que confere o travo ao famoso queijo do Rabaçal, em convívio salutar com a milenar oliveira, medronheiro, sobreiro, pinheiro, oregãos, alecrim, esteva, rosmaninho, carqueja, tojos, giestas num misto de árvores e flora em franca harmonia com as pedras!
Cancela
Cotas - Paisagem de olival
 Ao chegar a Cotas onde a produção de queijo denominado Rabaçal se mostra rei, na estrada principal antes da entrada para a Villa de Pedra está a nascer uma nova obra...mais abaixo entrámos por uma rua estreita , deveria ser de sentido único por se mostrar entalada entre muros altos, logo à frente dei conta do portão da Villa de Pedra de trinco fechado. Supostamente só clientes terão aceso à sua visita (?), apesar do estacionamento de três lugares estar livre, a minha irmã nem se dignou parar, nem perguntou nada, fez inversão de marcha e saímos por onde entrámos, ainda assim apreciei o contexto emblemático que encerra o local que me deixou a sonhar...aqui renasceu há pouco tempo pela mão de estrangeiros em lugarejo altaneiro no tempo de antanho foi chamado Aldeia de Cima, desabitado durante anos convertido em turismo, mantendo a traça e a cultura do povo serrano - Villa de Pedra Natural Houses onde os amantes da natureza, das pedras, utensílios, latões, cerâmica, faiança, e,...com o acordar dos clientes acontece com o cheiro do pão quente emanado do taleigo pendurado na aldraba da porta ...por aqui há tanto para redescobrir numa rota de poucos quilómetros na interligação de 4 concelhos: Penela, Soure, Ansião e Pombal com aromas a Figueiró dos Vinhos, Condeixa, e à cidade romana de Conímbriga, no centro de Portugal.
Tinha em mente celebrar o meu 60º aniversário que vai ocorrer para o ano no Porto, cidade que adoro sem explicação onde teimo sempre voltar e ficar, mas agora estou dividida. Certezas? Um dos locais será, porque também mereço!
Villa de Pedra
Aqui foi respeitado criteriosamente o espírito da região onde foram recuperadas técnicas de construção nas paredes em blocos de pedra calcária cobertas de cal ocre e preservada uma base ecológica e estética, garantindo absoluto conforto ao longo de todas as estações.Com 13 casas recuperadas de diferentes tipologias entre elas, e mais recentemente duas antigas Escolas Primárias, e o espaço "A Cozinha" onde, sob marcação, se pode desfrutar de uma bela refeição caseira, o conceito assenta nos pilares do bem-estar, da tranquilidade, da qualidade e da autenticidade, onde se encontra serenidade e tempo para reflexão e o privilégio de poder não fazer nada e descobrir Sicó e as suas gentes.
Vista aérea

Interiores repletos de objetos do passado voltaram a ter vida...fotos retiradas do google


Exteriores onde a pedra faz de cada recanto um espaço novo e acolhedor

Ainda não refeita a olhar prados inseridos em leirões num relance de escassos minutos senti entrar no concelho de Ansião - a minha irmã se lembrar de nos presentear com passagem pela aldeia da Serra, onde nos mostrou vivendas pintadas em amarelinho pertença a uma colónia de ingleses, convencida que íamos até ao Vale Florido, a aldeia de uma das avós do escritor Fernando Namora, eis que entronca na nova variante  para o Alvorge que para a fazerem retiraram as "Alminhas" de pedra na frente do Lar do Alvorge, e disso francamente não apreciei, a deviam ter trasladado pedra por pedra para outro local, porque a nova que foi feita na quina nascente do jardim do Lar não é a mesma coisa!O património ancestral é para preservar!
Tomámos a rota na direção a Santiago da Guarda, de novo senhora da estrada com passagem à aldeia turística do Outeiro, local que senti adorar percorrer a pé, porque ao miradouro dos Moinhos já fui várias vezes, é belo sobretudo no tempo das cucas floridas...atrevida lancei isca para parar mais à frente, pedido acedido ficando eu convencida que tal só foi possível porque gostou da prenda que lhe ofereci, e dos trabalhos efetuados durante dois dias no seu quintal e ainda na cozinha, debalde ao sair do carro ouvi larascas ao jeito de vómito aos demais à laia do que se conta do episódio com o advogado Dr Prates Miguel, por ser também um grande amante do passado que um belo dia aportou à Ateanha com um amigo, questionando o primeiro transeunte que lhe apareceu onde poderia encontrar testemunhos deixados pelos romanos - ao que o bom homem lhe responde-, bem, sabe, estive alguns anos em Angola, se calhar foi nessa altura... 
Santiago da Guarda
Moita Santa
Marco da feira da Moita Santa da centúria de 400
Moita Santa
Em mim sempre premente uma vontade desenfreada em procurar vestígios do passado, património de todos nós que jamais deve ser descuidado, e antes enaltecido. Desta feita apresento o que pode parecer uma simples pedra prostrada ao alto com inscrição  medieval lavrada já minha conhecida de a distinguir ao longe, nas poucas vezes que por ali passo de carro, mas nunca tinha parado para a observar. O Padre José Eduardo Coutinho aborda na sua Monografia de Ansião a existência de pedras nesta região, marcos de quintas e coutos de antanho. A lápide é referente à Feira da Moita Santa em 1476. Em virtude de não ser licenciada em nada, apenas abençoada de clarividência sobre coisas do passado me interrogo como na Freguesia de Santiago da Guarda, no concelho de Ansião, esta pedra com inscrição merecia melhor sorte inserida em redondel florido com placard e tradução no tempo não mereceu essa fulcral importância em enaltecer o valor da sua antiguidade, por dela não falarem nos autos da Freguesia (?) .Sendo menção de honrar a herança do passado em a terem ali deixado permanecer até aos dias d'hoje, que por si só já é um grande feito das suas gentes.


FONTES
http://rebordainhos.blogspot.pt/2010/10/ares-da-serra.html
http://www.sitexplo.com/terras/index.php?action=rub_aff&rub_id=156&page_id=500

https://www.google.pt/search?q=soure+villa+de+pedra++em+cotas+%2B+fotos

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Calcorrear a Costa em Ansião à laia de homenagem ao " Promenade e Arrebela"

Estada por Ansião antes do Natal com dias soalheiros a lembrar a primavera, sem frio, ainda assim houve uns dias de forte ventania, mas nem acendi a lareira. 
Notícia triste a do falecimento do Sr Manuel, homem que vivia no gaveto da Quelha do Vale Mosteiro com a Avª Sá Carneiro.Ex emigrante em França, natural das Cavadas da Macieira, aqui mandou construir a sua vivenda onde passou os seus últimos anos. 
 
Local onde a Quelha entronca na Avª fizeram um parque de estacionamento...revela falta de visão topográfica(?), porque faz falta para distribuir o transito.
Amiúde uso esta passagem pela Quelha a caminho da casa da minha irmã , Escampados e Ferranha. 
Tive o privilégio de partilhar conversa com o Sr Manuel várias vezes, sendo a primeira de grande cumplicidade pelo gosto pelas pedras, flores, velharias, e até me confidenciou sobre o seu passado...seria fevereiro, depois do almoço que ambos nos mostrávamos de grande empatia, onde desabafar sobre as agruras da vida  saltava à vista, debalde tive de abreviar para lhe dizer que ainda pretendia dar um passeio  até ao Marquinho para ver as águas no Nabão, por isso ia buscar a bicicleta à minha irmã, já lá vão uns 5 anos...recordo que naquele olhar azul, da cor do céu, em sorriso tímido rematar " boa promenade" ( ao jus do vocábulo francês, passeio) e assim o batizei com a alcunha "Promenade". Mais tarde deu-me cravos brancos raiados de cor de vinho que tinha comprado para a campa dos pais, por serem de caules compridos os cortou e avassalou...debalde no meu jardim não aguentaram a agrura da seca...
 
Muita vez o via a caminho da missa e às compras, a última em finais de agosto quando descia o escadatório da capela do Santo António para o cumprimentar ao Ribeiro da Vide, mal de mim que nem sonhava que seria a última vez ...ficará para sempre na minha memoria aquela imagem do último Adeus, no seu andar lento sob a folhagem do plátano naquele olhar azul a clamar calmaria!
Pelas três da tarde decidi caminhar à laia de homenagem ao Sr Manuel "Promenade"  e subir o costado da Serra da Costa, que todos os dias avistava da sua casa e onde ao entardecer dizia adeus ao pôr do sol , dela sei gostar tanto como eu...e na volta teimar passar à sua porta.  
Vistas da estrada de terra batida
Em  baixo avista-se a serra da Portela e a casa do "Promenade"
Tomei a estrada de terra batida que circunda o sopé da serra para atalhar ao carreiro por trás da CUF que desde sempre dele ouvi falar e no tempo entupido de silvedo, se mostra agora limpo, o subi em vereda abrupta, sem medo de javali, para parar ao poço e depósito da CUF, que bem me lembro quando foi feito em 63... o sol baixo deixou as fotos claras...o terreiro do carreiro mostrava-se coberto de folhas secas do carvalho cerquinho em tons pálidos de castanhos como que a imitar tapete de Arraiolos ou colcha a bordado Castelo Branco, e que bonito se mostrava o mato florido de amarelo, os arbustos de folhas com picos floridos de bolinhas vermelhas  usadas para enfeitar o presépio, os muros de pedra solta revestidos de musgo imensamente verde com fetos, e ao longo do carreiro aqui e ali muito carvalheiro enfeitado de bugalhos, e por todo o lado chão semeado de pedras brancas, alvas como a cal  espalhadas por todo o lado à toa com salpicos de erva de Santa Maria, para num instante já estar na minha propriedade e da minha irmã, onde no caminho abundam cogumelos, debalde vi uns da cor do linho e um pedaço de um vermelho, venenoso...
 Flor do mato, bolinhas vermelhas e cogumelos cor do linho
 
 Vista de Ansião ao poço da CUF

Fetos, bugalhos, lajes grandes e um esqueleto de oliveira de tronco queimada, do fogo que por aqui grassou há mais de 20 anos, no meu sítio e da minha irmã-, a Comprida, ao limite do Escampado.
 
Tomei o caminho que a partir daqui se torna mais largo onde parei para descansar e respirar fundo, o meu marido ia na frente. Decidida voltada para nascente enderecei abraço ao " Promenade" para ainda mal deslaçada outro apertei ao passar pela casa do Sr António "Arrebela" falecido há escassos meses, outro bom homem que me confidenciou saberes sobre o sitio do Mosteiro, ao Vale Mosteiro, onde nasceu, e ainda me ajudou na descoberta de um muro de extrema de uma fazenda que os carrascos não deixavam distinguir  por culpa perpetrada de outro vizinho por não ser da mesma fibra que me tinha indrominado ...
  
Aliviei tristeza quando dei de caras com um rebanho parado a olhar para mim...no Escampado o queijo dito Rabaçal sempre foi de grande nomeada.
Olhei para o outro lado onde há carvalhos imponentes com séculos revestidos de fetos e musgo
 O sol brilhava tanto mas dificil é captar boas imagens...
Adoro os muros de pedra seca a dominar a paisagem do carvalho cerquinho
Uma ramanzeira
A beleza de parreiral ainda vestido de parras em escarlate e amarelo ocre
 Morouços- grandes montes de cascalho nas courelas para terem mais terra arável
Parei à ruína da casa que foi dos pais de umas amigas da escola-, a Gracinda e a Idalina, onde me fiz à fotografia...
Um pouco mais à frente o redondel do que foi uma eira em pedra, entre as lajes já nasceu um pinheiro...
Voltei à estrada para parar às Almitas do Escampado onde rezei pela alma dos homenageados.
Não consegui decifrar o retábulo falante
Vós que ides passando
Lembrar-nos de nós .....
Atalhei ao Bairro de Santo António pela Quelha do Vale que este ano não foi limpa e ainda por cima um pinheiro seco ao cair lhe ficou atravessado...
 Uma bela couve galega
Deixei o meu sorriso ao passar de novo na casa do "Promenade" ...
Paz às suas almas!
"Promenade e Arrebela"!
Gostei muito do passeio à laia de homenagem a pensar em homens que sinto morrerem cedo pois ainda tinham tanto para partilhar, nem que fosse apenas o cumprimento!

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Capelinha de Nossa Senhora do Penedo em Ansião

Foto tirada em andamento no último agosto no IC8
Praticamente anulada a sua visão...
Quem como eu desde pequena passou pela estrada de ligação de Ansião a caminho do Camporês, e eu passei amiúde logo a seguir aos Olhos d' Água de ambos os lados se abrem costados de cumeadas  à toa salpicadas por carvalho cerquinho, carvalheiros com bogalhos e mancha de pinheiro manso de bela copa para mais à frente do lado esquerdo se encontrarem implantadas duas capelinhas; a primeira de arquitetura um pouco maior a indiciar requalificação mais recente e a que se pretende abordar que lhe fica mais adiante, sem saber qual das duas foi construída primeiro, o tenha sido a outra por entroncar no caminho antigo da Fonte Galega antes do novo aberto ao Porto Largo.
Julgo no início de 2000 (?) quando arrancou a intervenção do traçado do IC8 viria a desativar uma parte do troço da estrada antiga onde se encontram as ditas duas Capelinhas, deixando a de tamanho maior no tempo até hoje à mercê de vandalismo de gente sem abrigo quando passa por aqui e a de orago a Nossa Senhora do Penedo praticamente foi deixada abafada  na paisagem pela subida do piso do IC8 e da  colocação do rallis  a um escasso metro da porta...O arquitecto que traçou a via seria ateu, vesgo ou sem qualquer noção do espaço e do enquadramento do que já existia construído?
A Capelinha de Nossa Senhora do Penedo sofreu neste verão um incêndio desconhecendo-se as causas. O mais provável tenha sido um ato nefasto de vandalismo pela mão de alguém de mal com a vida e o diabo no corpo, porque não muito distante foi encontrado vandalizado um sinal de trânsito.O alerta chegou aos Bombeiros Voluntários de Ansião no dia 29 de julho por volta das 23.30H, segundo foi noticiado. Rapidamente o fogo foi dominado com sucesso pelo grande receio de se estender à  encosta florestal da Fonte Galega e Maxial .Os estragos cifram-se no resulto de madeira queimada; porta, teto e barrotes que sustentavam o telhado. As imagens de Santos ( desconheço quais) que haviam no interior ficaram danificadas, salvando-se apenas a placa  de homenagem ao seu Fundador- Virgílio Valente  datada de 1945.
Citar comentário na Página do Facebook da Igreja de Ansião do bisneto do fundador da Capelinha - Dr Leonel Morgado "O meu bisavô, Virgílio Valente, prometeu à Nossa Senhora que vira em cima do Penedo (onde está) construí-la e dar uma festa "grande" (= com vinho e pão) todos os anos, se o seu filho, meu tio-avô Virgílio Valente (júnior) conseguisse vir a andar, pois nasceu ou ficou aos 7 anos, não me lembro bem, muito mal das pernas. Curou-se, e assim se cumpriu a promessa e fez a Capelina, e depois anualmente a festa. Ainda há poucos anos, só por tradição, já não se fazia a festa por os envolvidos terem falecido, mas ainda lá  iam os Bombeiros no dia 8 de dezembro, o dia da Imaculada Conceição, no tempo do Comandante Artur Paz, genro do fundador da capelinha ." Porém houve durante muito tempo um mal entendido relativo ao painel azulejar na fachada invocando Nossa Senhora da Conceição, que o mesmo  explica : " a confusão do nome é porque há uns anos, quando se lembraram de pôr um painel azulejar na frontaria, foram à procura em Fátima, e não havia nenhum com a menção Senhora do Penedo, foi comprado outro invocando Nossa Senhora da Conceição, tomando a lógica que a Nossa Senhora ter vários nomes, mas ser sempre a mesma pessoa. Contudo há algum tempo, encomendei um painel azulejar alusivo a Nossa Senhora do Penedo ao Victor Resende, ainda bem que não os meti antes disto, ficariam todos sujos de fumo."
Citar o Padre Manuel Ventura Pinho 
" Parabéns aos seus proprietários pela sua recuperação, após um incêndio. Esta capela tem história. Foi mandada fazer pelo Sr. Virgílio Valente, para agradecer a Nossa Senhora a cura de um filho. E ainda está na posse dos seus descendentes, que fazem tudo para a recuperar."
Sobre a triste notícia do incêndio não deixa de ser caricato pensar nos incidentes brutais que esta Capelinha tem sido votada além do recente incêndio já antes fora alvo de grande atropelo aquando da renovação do traçado do IC8 com tanto terreno pela frente ninguém de direito e com visão lhe acudiu, e com isso a empreitada da obra não teve pejo em colocar rallis  de segurança a um escasso metro da porta em a abafar,  na pretensão de a anular (?)...
Falar da sua origem e da  história que encerra, pois acredito muita gente a desconhecia.Sou uma delas, só as pessoas mais antigas julgo saberiam porque aqui vinham em caminhada na quinta feira da Ascenção para colher a espiga e matar uma bucha oferta de pão e vinho e acredito alguém queijo e chouriça, porque desde sempre a ideia de piquenique era usual nesse dia festejar em Ansião. A minha mãe foi fiel deste ritual alguns anos na década de 50 e nunca me falou deste episódio, só agora quando aconteceu o incêndio me confidenciou pelo que acredito outros da minha geração também nunca ouviram desta Capelinha falar, tão pouco da outra que existe no traçado de estrada desativado. Claro que só fica bem aos proprietários tratar do que é seu, valores que nos foram transmitidos que uma maioria na região ainda respeita e vem cumprindo na manutenção do seu património, sendo certo que não tendo sido os causadores do estrago a recuperação sai-lhes do bolso.Apreciei francamente o cuidado em colocar telhas de canudo de origem mourisca em prol das que tinha tipo Marselha, não sei se alguma foi guardada para saber a sua origem no concelho  ou nas Cinco Vilas onde foram frutificas algumas fábricas de cerâmica deste tipo de telha no Pessegueiro, Pontão, Almofala e Maças de D. Maria. O telhado renovado em telha de canudo foi para mim gesto ao apelo da sua traça antiga no propósito do equilíbrio estético, só falta mesmo alterar o painel azulejar com o nome de Nossa Senhora do Penedo a fazer fé no comentário do bisneto já encomendado. Em verdade fiquei bastante curiosa por saber quem a tinha mandado edificar e pelo motivo invocado "a débil saúde de um filho que se curou"...Tento imaginar Ansião naquele tempo e o carisma que se vivia mal acabada a I Guerra Mundial e ainda tão presente o Milagre de Fátima ocorrido a escassos 40 Km, a que se acrescenta a forte beatização num povo ainda não globalizado que só começou a despertar na década de 60 quando apareceu a televisão em Ansião, e só haviam 3; uma no Café Valente, outra em minha casa e outra...

O que falta saber do fundador da capelinha?
Virgílio Rodrigues Valente nascido em Ansião, a razão  de ter sido escolha deste local para erigir a Capelinha a caminho do Camporês, indiciar que os actuais  - Rodrigues Valente , de várias famílias em Ansião, e a do meu pai se inclui, todos provem da Constantina (?), é o que as mais recentes investigações nos permitem dizer, debalde ainda sem apurar a relação do parentesco. 
O bisneto do fundador da Capelinha dizer " prometeu à Nossa Senhora que vira em cima do Penedo (onde está) construí-la". Em atestar a razão de ali ter sido erigida que é bem pensado e justo, mas ali não há nenhum penedo, embora no tardoz siga  uma ténue linha do costado antes da outra capelinha seguindo até ao Camporês de pedra tipo brecha da Arrábida. Não acredito em milagres . O que o passado retrata o legitimo o gosto e ostentação de possuir uma Capela, em sinal de fé mas também de status de vida, exemplo disso um Comendador, agora não me recordo o seu nome do concelho, mandou construir a Capela do Anjo da Guarda em Pousaflores , confesso se tivesse oportunidade também gostava de ter uma capelinha, porque gosto de Imagens de Santos , na herança dos nossos avoengos,  mesclada em gerações; com celtas, eslavos, povo franco, moçarabes, berberes, árabes e judeus sefarditas e asquenazes,  hebreus e fenícios, a descendência d'hoje viva em  Ansião!
Virgílio Rodrigues Valente em alusão à bênção do restabelecimento de saúde de um filho  erigiu a capelinha de Nossa Senhora do Penedo antes do cruzamento ao Maxial, na beira da estrada roteada para o Pontão,  ao cruzamento ao Fundo da Rua, comprou ou era do sogro o lote de gaveto onde fundou o Café Valente, com o famoso café de saco como o era no Porto ainda hoje - o cimbalino, mais tarde herdado do nome da primeira maquina de café italiana. A sua esposa "Maria das Caldas" o fazia com água fervente juntava o pó e depois acrescentava água fria para a borra assentar, segundo me confidenciou uma neta.E os nossos avós usavam uma cafeteira de barro ao lume e para o assentar punham -lhe uma brasa, tinha o mesmo efeito.Supostamente o Virgílio Rodrigues Valente era homem de perfil poético com  alma de artista quiçá não muito bem visto naquele tempo, porque aventureiro o foi indo ao Brasil (?)!
Lembrar este poema Citar http://talves02.blogspot.pt/2011/03/minha-alma-de-artista.html
Ter alma de artista é ter sensibilidade exacerbada,
Um raciocínio que difere e até desagrada
É ter bastante solidão.
É chorar e rir com intensidade
e quase com simultaneidade.
Eu tenho alma de artista...
Sou capaz de perder um dia lindo por apenas um absurdo dito.
Sou capaz de mergulhar tão fundo na história de um livro,
Que aos prantos paro de ler para poder respirar.
Sou capaz de olhar alguém com fome e doer tão fundo em mim,
Que não posso ignorar.

Essa alma de artista.
Que nem sempre é drama...
Tenho uma alma que gosta de agradar.
Tenho sempre um sorriso, os olhos brilhando e
Muitas promessas sobre a beleza de viver e amar.
Compartilharei da sua dor,
Serei dura e também suave para te levantar.
Tenho a alma de um artista de circo
Para tudo ofereço piada, trapalhada, gargalhada,
E todo argumento para te libertar.

Mas também tenho esta alma de artista poeta
Que carrega nos ombros a nostalgia,
Que ainda que em sua vida seja dia,
É sempre capaz de sentir a noite e sua fria melancolia.
Esta alma de seresteiro que canta suas mágoas
E coloca pra fora todo sentimento mau.
Esta alma de marinheiro perdido
Navegando num bote à procura da Nau.

Eu tenho a alma de cantor fadista
E sofro pela natureza de buscar a perfeição.
Eu tenho a alma que transborda emoção.
A intensidade é a minha glória e a minha punição.
Viver intensamente jamais foi uma opção,
É uma imposição desta alma sedenta de vida
Que manda no meu coração.
Eu tenho uma alma que busca o topo de tudo
E também busca os abismos e prova a poeira do chão.
E que só assim aprende a lição.

Eu tenho a alma de artista autista
Que se desliga do mundo
Para buscar compreensão.
Eu tenho a alma do artista hiperativo
Que ainda grita e se agita
Querendo dar explicação.

Eu tenho a alma de artista
E estou no palco vivendo o único ato
Do qual não sei o final.
Mas tenho os olhos e ouvidos atentos
Para manter meu espaço
E não deixar passar nenhum sinal.

Essa alma intensa, inconstante,
A sutileza de um elefante
E a força de uma multidão.
Eu tenho a alma lutadora
Que reage imediatamente
A qualquer possibilidade de agressão.

Eu tenho essa alma de artista
Que não me deixa descanso e se alimenta de emoção.
Esta alma que busca tudo que quer
Com força e determinação.
Eu tenho essa alma incansável,
Esta vida impagável
De um querer insaciável.

Eu tenho essa alma de artista
Que brinca e se aventura
E que ignora o medo e até o pavor.
Essa alma meiga e arisca
Cuja única coisa que não arrisca
É a paz do seu amor.

O mundo é deveras complicado
Quando se tem uma alma que busca significado
Em tudo que envolve viver.
Então, se eu for uma antítese ambulante
É por causa deste espírito viajante...
Apenas procure entender.
Afinal é duma Capelinha que se fala, mas também de um benemérito de Ansião porque a partilhava abrindo para o povo em dia especial para o comparar hoje em dia com gente com muito dinheiro nesta terra de Ansião, mas até ao momento de fraca ou nenhuma alma benemérita para a presentear com obra GRANDE, e disso é triste constatar! 
Por morte do Virgílio Rodrigues Valente é suposto pensar que a Capelinha na herança coube à  sua filha Claudemira, mãe da esposa do Sr. Antero Morgado, sendo hoje sua propriedade e um dos filhos, o Dr Leonel Morgado parece sobre esta denotar grande carinho, pois  no tempo a vai mantendo limpa na envolvente do terreno adjacente.Bem haja ao Sr. Antero Morgado e à sua família por manter este património, homem que conheço desde criança e com quem sempre convivi  por a sua mãe  no meu tempo de criança ser a Chefe da Estação de Correios de Ansião onde a minha mãe trabalhava, e o pai um grande comerciante estabelecido na vila, o mesmo conhecimento dos pais da D. Claudemira que herdou o mesmo nome da mãe, casada com o Sr. Estrela, taxista que morava na Igreja Velha e  na madrugada  do meu nascimento transportou os meus pais a Coimbra para depois na infância voltar a andar no seu táxi para Coimbra e terras onde a minha mãe ia trabalhar, sempre se mostrou homem extremamente afável. Recordo quando mandou construir a sua bela moradia moderna ao Moinho das Moitas, das mais bonitas durante muito tempo em Ansião, a qual me enchia de tamanha alegria a sua arquitectura .
Dezembro 2016 em andamento com a capelinha telhada e o painel antigo azulejar limpo

 FONTES
Página do Facebook da Igreja de Ansião capelinha de Nossa Senhora do Penedo
http://talves02.blogspot.pt/2011/03/minha-alma-de-artista.html
Memórias Paroquiais Setecentistas
Livro Ilustres de Ansião - Dr Manuel Dias

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