domingo, 5 de fevereiro de 2017

Monografia de Ourém no encalço da Ladeia

Doces memórias do mercado à quinta-feira na vila de Ourém,  desde que me lembro, no tempo que  a minha mãe se deslocava a trabalho nos correios, bulício perdido após a elevação a cidade. 
Jaz o arrabalde do mercado a viva panóplia de feirantes e tasca à laia de restaurante ambulante de comes e bebes em mesas corridas com toalhas de plástico. 
Entre demais iguais o bom cozido à Portuguesa.

Um novo olhar em dia de mercado em fevereiro de 2017, despertei para o encalço da via romana, vinda de Ansião. Não parei nem descansei, com avanços e recuos... Deslumbre orgasmo intelecutual de enxergar mais além que tanto académico só enxergou pela metade!
Graças à Monografia de Ourém, de João Alvim de 1961, um dos pilares a levantar mais do passado da Ladeia,  suscitou investigação a outros estudos de Sicó e suas franjas. Acresce a Monografia de Figueiró dos Vinhos, os vários estudos de Alvaiázere,  Ferreira do Zezere, e as muitas caminhadas . 
A lamento dizer, todos os estudos se mostram com lacunas, sem enfoque à realidade da proto-história, crucial vivida nesta região, sem qualquer coligação a esse pasasdo rico e vasto a previlègio desta região rez ves no centro de Portugal... cuja finalidade , intenção, ainda por publicar. 
Bibliografia inédita quase em reta final publicada no Jornal Serras de Ansião.


Monumento dedicado ao Povo de Ourém
Tenho a vaga ideia que o Prof. Hermano Saraiva num dos seus programas não apreciou este monumento...lamento não recordar o motivo, o tenha sido por não ser em pedra da região (?)
Li augures "OURÉM é terra nobre de velhos pergaminhos que honra a história e respeita a tradição.  Cujos monumentos falam da histórica grandeza da terra, da sua nobreza e da sua eterna grandeza." 
«O 1º Conde de Ourém João Afonso Telo de Meneses.
O 2º Conde de Ourém João Fernandes de Andeiro.
Em 1383, D. João, Mestre de Avis o apunhalou nos aposentos da rainha Leonor Teles no Paço de Lisboa .
João Fernandes de Andeiro, fidalgo galego natural da Corunha. Apoiou D. Fernando na invasão da Galiza, desejoso de alcançar o trono de Castela. Mas a sorte está contra o monarca português, Andeiro parte para Inglaterra e casa com uma filha do duque de Lencastre. Durante as negociações de paz entre os dois países tendo como mediadora a Inglaterra, vem secretamente a Portugal e se apaixona por D.Leonor Teles, numa altura que o rei português D.Fernando já doente e com o problema da sucessão.A rainha apoiava o lado castelhano pelo casamento da sua filha D. Beatriz , dando origem ao seu assassinato.
O 3º Conde de Ourém Nuno Álvares Pereira
O 4º Conde de Ourém D. Afonso de Portugal da Casa de Bragança»
Quadro da morte do Conde Andeiro no Museu Soares dos Reis
Adro da igreja avista-se o burgo onde nasceu Ourém, em dia com neblina
O povo ourense desceu do morro do burgo de Ourém após o terramoto de 1755 por ficar bastante arruinado, aos poucos resistentes abandonaram em final de 1810 ,ao ter sido incendiada pela passagem da 3ª invasão francesa. O povo havia de se fixar no vale na então insignificante Pedela , que no decorrer do tempo deu origem à Aldeia da Cruz, e consequentemente à progressiva Vila Nova de Ourém no reinado de D. Maria I em 1841 , em que a sede do concelho deixou o burgo histórico do castelo, para em 1991 ser elevada a cidade.
Mercado na rua
Conheci  a Vila em miúda onde aportei com a minha mãe quando aqui vinha esporadicamente a trabalho nos Correios, e muita vez ao mercado à quinta feira, recordação maravilhosa por decorrer a céu aberto pelas ruas em redor da Igreja. Na década de 60 assistiu-se a forte emigração sobretudo para França, o que despoletou um brutal crescimento imobiliário e assim Ourém para mim perdeu a magia de antigamente...
Ainda assim deslindei na minha breve caminhada testemunhos do seu passado mais recente...
Ao jus do sabor de carta pintado numa parede " A História que eu tinha não era (pequenina)... 
Estranha esta designação na toponímia e dela nada encontrei...
 
Impressionante como foram dispostos dois  belos painéis azulejares da toponímia na mesma parede...
Igreja
Em 1861 deu-se início das obras da edificação da Igreja tendo sido construída no mesmo local onde teria existido uma capela.
Em 1948 a igreja sofre obras profundas de remodelação e na década de 2000 a fachada é de novo intervencionada, perdeu a traça antiga que era mais castiça.
A capela-mor  construída em 1873

Em 1833, aquando da extinção das ordens religiosas, a Igreja recebeu algum espólio do Convento de Santo António: relógio da torre, sino, Imagens, quadros entre outros.
A Imagem de Nossa Senhora do Pranto exala beleza, pelo que acredito seja uma herança do convento(?).

Contraste da praça  da República onde está o Museu Municipal de Ourém
Antiga Casa dos Magistrados fundada em finais do século XIX para alojar os magistrados, foi sede dos Paços do Concelho de Ourém entre outras ,atualmente a Casa da Música.
Selfie com a minha mãe no jardim
Almoço em Ourém em dia de mercado - Cozido à Portuguesa. A ideia era para ter sido mesmo no Mercado, numa daquelas mesas corridas com toalhas de plástico, acabou por ser numa antiga taberna, com pipos que na salinha do antigo Reservado servem almoços.
Sobras...
Antigo Hospital de S. Agostinho, doação do benemérito, médico, após ter estudado matemática e filosofia , conjuntamente com os seus irmãos o mandaram construir em 1880.
Património clássico em total abandono com pormenores de interesse nas cantarias
Através de uma janela com vidros partidos jaz no chão um quadro...
 Corrimão em madeira inteiriço
 Ainda restam os puxadores em faiança...
 Brutal claridade de sol em rota de saída de Ourem
Casa Tenente- Coronel Moreira Lopes 
Data de 1839  inscrita no lintel da janela de sacada da fachada principal. Na década de 2000 o edifício sofreu um incêndio. Ainda resiste o moinho de puxar água.
Brasão de pedra no cunhal
Reparei numa grande quantidade de telhados vidrados em verde, pormenor estético que achei muito interessante, ao me fazer lembrar a Ribeira do Porto cujo casario com beirados de belas telhas em azul pintadas a branco da Fábrica de Santo António do Vale da Piedade, em detrimento destas em monocromia verde, a minha cor favorita, supostamente produzidas em olaria da região, no passado marcada nesta arte também  a fazer talhas e utensílios utilitários.
No caminho em Caxarias identifiquei uma placa com o nome de Pisão do Oleiro.
As torres do castelo de Porto de Mós e a cúpula da Igreja de Pedrogão Grande, exibem telhados com telhas em forma de concha de vieira, também em verde, pode aventar que a olaria tenha sido sita na região centro(?).

Rua de Santa Teresa de Ourém. 
«Nasceu no Zambujal, por volta do ano 1220, no séc. XIII, no reinado de D. Afonso III. Cedo, foi trabalhar como doméstica para o prior de Ourém. Notabilizou-se pela sua extrema caridade, em contraposição com a extrema avareza do prior que servia...»
«Beatriz da Silva descendia do primeiro Conde de Ourém. D. João Teles de Menezes.
Filha do primeiro governador português de Ceuta em Portugal, é conhecida como a abençoada Brites.
Ao que parece, Beatriz da Silva seria uma jovem de grande beleza, conforme testemunha um relato da época: «além de vir de sangue real, era mui graciosa donzela e excedia a todas em formosura e gentileza». Beleza que impressionava a corte de Lisboa do século XV.
Em 1447, contava a infanta D. Isabel dezanove anos, o seu tio D. Pedro, Duque de Coimbra, regente do reino, promoveu os seus esponsais com João II de Castela, então viúvo. Embora Beatriz fosse ama e confidente da princesa, não impediu que esta se enciumasse dela, maquinando contra a sua própria vida quando a acompanhou para a Espanha, onde parece ter despertado mais inveja pela beleza que não passou despercebida, quando a princesa Isabel a prendeu dentro de uma arca durante três dias sem comida. Foi a visão de Nossa Senhora para fundar a Ordem Religiosa da Imaculada Conceição que a salvou.
O seu tio D.João de Menezes na altura na corte, estranhando a sua ausência questiona a rainha sobre o paradeiro da sobrinha, que o conduziu à arca onde a encarcerara, certa de encontrar já um cadáver...Beatriz perdoou à rainha, que se arrependera, retirando-se da Corte, ingressando num mosteiro em Toledo, onde viveu monasticamente com um pequeno grupo de outras monjas.Com apoio da rainha Isabel a católica, filha da rainha portuguesa D. Isabel, conseguiu enfim estabelecer a Ordem onde viveu  como freira 40 anos, sendo especialmente honrada e frequentemente visitada pela rainha Isabel a Católica. Morreu a 01 de setembro de 1490, os seus restos mortais encontram-se na cidade de Toledo.
Foi canonizada 03 de outubro de 1976, pelo Papa Paulo VI.»

Santa Beatriz da Silva, Santa portuguesa, canonizada em 1976 pelo Papa Paulo VI
Relíquia que deslindei por acaso no tardoz de um casario. Virada a nascente bela varanda em pedra calcária, adoçada a metade de prédio de gaveto reabilitado com colunatas também em pedra. 
Julgo aqui viveu o administrador de Ourém em 1917 quando aconteceram as aparições em Fátima, e interrogou os pastorinhos. Num filme foi mostrada a casa onde morava e a senti ser esta (?)
Fontanário com data de 1868
Reabilitado de pintura alva, o tempo fez subir o piso  por isso com lixo...

 Fontanário secular de calibre imponente recuperada porém encafuada por entre cimento armado...

FONTES

https://pt.wikipedia.org/wiki/Our%C3%A9m_(Portugal)

http://fagostinho.nersantsocial.pt/instituicao/historia/

Fotos de Ourém antigas retiradas da google


terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O meu cartão Prestige Sottomayor!

Foto retirada da pagina do face António Nascimento Vaz 
Entrei no ano novo do meu signo chinês- Galo. Dita limpeza geral.
Abri a vitrine onde guardo memórias. Encontrei o meu cartão Prestige...
O Banco Pinto Sotto Mayor foi o pioneiro na década de 70 na atribuição de cartões de crédito em Portugal - SOTTOMAYOR BANKAMERICARD.
Foto do meu amigo RS
 O meu cinzeiro em faiança
Só entrei no Banco em 80. Decorria uma campanha com a distribuição gratuita do cartão de crédito a todos os funcionários, uma forma de publicidade barata, dava acesso a se comprar a crédito a 30 dias num tempo sem computadores, em que se usavam as chamadas máquinas de passar a ferro.
Julgo em 90 (?) apareceu o cartão Premier, o cartão dourado, só atribuído a clientes com saldo médio superior a 5 dígitos.O meu primeiro chefe no Banco, homem de cariz enigmático, mas que dele nada tenho a apontar, um dia apareceu-me ao balcão da Rua do Ouro, chamou-me para me dizer em voz baixinha " Isabel gostava muito de ter um cartão Premier, mas  não mo vão dar..." ao analisar o saldo não tive dúvidas da forte possibilidade, por me ver tão crente, respingava negativo, eu em flecha a descodificar os seus receios. Sabendo de graves problemas de endividamento de colegas pelo uso abusivo, conhecendo o sistema faziam compras a até ao montante de 5 contos, o limite para não se telefonar a pedir autorização ao serviço de cartões.
Analisado o seu perfil de cliente haviam argumentos válidos facilmente a contestar numa possível reprovação da gerência (?), mas na verdade ao tempo o foi difícil, mas debelado com sucesso, porque na verdade o merecia enquanto empregado e como cliente, que defendi com parecer e atitude!
Passado pouco tempo o vejo voltar ao Balcão, o cartão estava inválido. O procedimento foi o cortar na sua frente que deitei para o lixo a parte de inferior , deixando a tarja superior que dizia apenas o nome do Banco de lado... Questiona-me porque não deitei tudo para o lixo, de sorriso matreiro disse-lhe; caro chefe é a única forma de também ter o meu cartão Premier, vou mostrar-lhe e parti apressada para ir buscar o porta moedas e naquele imediato coloquei a tarja na primeira abertura dos cartões, dando assim a falsa sensação que também era detentora de um cartão dourado...
Fi-lo por gozo, mas também porque me fascinava a vaidade de um assim um dia possuir.Nunca o tinha visto a rir ,pois era homem conservador e de sorriso fechado...

Ao jus de remate ainda disse - seja pelo trabalho que tive na sua defesa para lhe ser atribuído...
Anos mais tarde numa cautela sorteada que pus a render a 8 anos na Mundial Confiança, cujo reembolso deixei deliberadamente à ordem para fazer crescer o saldo médio...

Até que chegou o dia que preenchi o impresso, me senti receosa tal como o meu chefe quando se abeirou de mim, na mesma dúvida seria atribuído? Mas foi. Mal o recebi a primeira coisa que fiz foi deitar para o lixo a tarja que foi do primeiro cartão do meu chefe...
O meu primeiro cartão Prestige Sottomayor no âmbito do Banco Comercial Português, foi naquele tempo um autentico orgasmo inteletual de pura vaidade, mas sobretudo pelo prazer em espicaçar mentalidades, seja o facto de muito poucos os que tiveram o almejo de também sentir que lhes foi atribuído!

Feira dos Pinhões em Ansião na TVI

Risível o nascer da crónica ao sabor do programa televisivo que se apresentou renovado no elenco de reportagem com novo elemento masculino, homem galante, abençoado de olhar lânguido fatalmente me despertou o lembrar d'outro assim belo que conheci há mais de 40 anos nesta terra de Ansião, a chorar...Fosse pelo motivo Saudade, a mesma que sinto infelizmente por já não estar entre nós!
Quiçá o dia ditou maldição (?) atendendo à festa decorrer sob intensa chuva...
Estranhei a ausência da Pastelaria Diogo (?)...Deixei-me a matutar a suposta razão e de mente alucinante alvitrar que a causa tenha haver com o prémio patrocinado pelo Município para um novo doce de Ansião - pastel de pinhão, apresentaram-se a concurso nove concorrentes, sendo o vencedor os alunos da ETPSicó .
Imagens retiradas da net
Pastel agrada ao olhar pelo aspeto caramelizado(?) debalde em demasia atulhado!
Deixou-me sem palavras a propaganda de marketing comercial ao estilo agressivo (?) ...Produto Tradicional de Ansião - Séculos de Tradição Num Pastel de Pinhão.
Seja pela metade verdade do slogan se atender apenas à comercialização do pinhão, sem o saber se seria em bruto ou descascado (?) com mais de 300 anos transacionado na feira da Constantina pela Confraria atendendo à ocorrência de muitos peregrinos ao local do Milagre da Fonte Santa e ao Santuário de Nossa Senhora da Paz . Naquele tempo havia grande mancha de pinheiro manso, maior que a atual.  
Hoje encontra-se dispersa a salpico de alguns lugares e da Mata Municipal. Nos anos 40, do século XX uma grande ventania deitou ao chão muitas pinheiras de elevado porte, sobretudo na Constantina, aqui veio gente de Aveiro para levar a madeira para ser usada na construção de barcos. A  arca de enxoval do meu pai foi feita com madeira de pinheiro manso, vulgo pinheira, e tenho uma vaga ideia que o "Sr.Júlio do 29" tinha uma propriedade de pinheiras para os lados do Pinheiro, falava que lhe roubavam as pinhas todos os anos. Por isso não havia incentivo ao seu plantio em detrimento de eucalipto... 
Desconheço a tradição da apanha das pinhas para descasque como noutras localidades; Alcácer do Sal e Caparica, onde todos os anos roubam pinhas para revenda... 
Em miúda com a minha irmã subíamos o costado da serra da Costa pelo carreiro do munho, a extrema com a propriedade dos nossos pais onde havia uma grande pinheira e outras em redor mais pequenas, apanhávamos pinhas verdes, pesadas, e de volta o tormento de as trazer na saca de serapilheira  à vez nas costas a pregar com  a resina agarrada às mãos...Mal chegadas a casa eram postas junto do lume para se abrirem de onde saltavam pinhões e logo no pial com o martelo em pancada pesada, os partir, debalde de miolo frágil se moiam, o que evidencia perguntar se alguma vez houve tradição deste ritual nas noites de inverno à lareira  a partir pinhão são. Jamais ouvi falar deste ritual...

Em 2009 lancei a dica para a utilização do pinhão na crónica da gastronomia e doçaria de Ansião
"Incrível é a região ser abençoada por salpico de pinheiras, cujo fruto o pinhão, não teve no tempo apreciação para com ele se  fazer algum tipo de doçaria.Um dia destes vou inventar "Beijos de Pinhão", já comecei a idealizar a receita!"
Bom, influenciei  o pastel de pinhão nascido há pouco mais de um mês ...
Confesso tomei conhecimento do concurso em dezembro em casa da minha mãe.

Em vésperas de Natal no Mercado de Ourém, comprei pinhão, e por não encontrar o tipo de massa que idealizei , telefonei à minha irmã para a trazer de Coimbra. 
Grande vontade experiencial, a imaginar a receita das minhas queijadas, na insónia da noite haviam de vingar  com o nome  "Beijos de Pinhão"... Tanto entusiasmo para cair derrotada ao dar razão ao bom senso, por saber de antemão que concursos em Ansião, vale o que o júri quiser (?) pelo que não me amofino mais ao ficar queda!O que fiz!

Na realidade o pastel de pinhão em televisão revelou-se má amostra  desculpem a franqueza, diz o povo "os olhos também comem" ...

Desconheço a razão da minha vizinha pastelaria (do Adolfo) até hoje, jamais presente neste evento, não a vi (?) em prol do convite camarário dirigido à Bastiorra, mulher sorridente em convalescença sujeita a operação recente sem deixar de transmitir ao mundo um bolo de história verídica passada na sua casa, herdada do pai, já vem do bisavô, homem  emigrante no Brasil. O que dizer? O bolo a meu ver não funciona pelo aspeto dado pelo prospeto chapado em tamanha hóstia, sobre a história do padre, rodeada de  lesmas, em feitio de balas, a  salvação  os fios de ovos...

Pelo que tenho visto gosta de inventar a cada ano, não deixa de ser um mérito, mas de suposta valia frágil (?)...Não sendo pasteleira de formação penas horas de aprendizado e conhecimento numa pastelaria da terra, o que me disseram , acresce a experiência do seu nato talento há anos, a tenho como mulher curiosa e decidida, o que pode alencar assim a continuar a supostas lacunas substanciais nesta arte da doçaria  onde praticamente já tudo foi inventado e reinventado. 
Supostamente mais vale dar continuidade ao mesmo e bem feito, que tentar variedade em prejuízo de credibilidade por se mostrar de cariz  ingénuo e duvidoso (?)...

Mantenho desde 2009 dois Blogs. 
Um temático sobre faiança e este onde vou escrevendo crónicas sobre várias memórias de Ansião, passeios, e de tudo o que me choque o pensar, cumulativamente já ultrapassam  mais de 1.320.000 visualizações, numa panóplia de público mundial o que me deixa maravilhada e curiosa, assiduamente recebo mensagens de apoio e incentivo, sobretudo nesta rubrica da gastronomia e doçaria que já ultrapassou os 3700 visitantes, é interessante constatar que no dia do programa cresce abismalmente...

Debalde  sinto haver gente a copiar dicas e ideias exaradas, e o mesmo sejam de outros, porque este meio virtual, a internet, se mostra o meio mais rápido de pesquisa e de se  achar. 
Não me deixou alheia o suposto copianço da cornucópia em hóstia que me lembrou a Alcoa, a famosa pastelaria de Alcobaça. 
Também da bola de carnes que a minha avó Piedade, padeira de profissão já a fazia, dela sempre falei e mostrei... 
Não me choca, sou mulher de partilha, choca, o facto  de haver pessoas ao que parece abominam a partilha, tão pouco publicam o que fazem, seja por medo, ou  falta de talento para redigir um texto onde expressem com transparência os seus saberes, emoções e segredos a que se juntam fotos. Em  verdade  seja mais fácil copiar ficando com " trunfos nas mangas" em detrimento, de passarem a usar coisa adquirida como ideia sua, e não o sendo, disso francamente não gosto, porque o certo é fazer referência à fonte de inspiração, gesto que só engrandece quem se inspira  para criar e recriar, e claro o inspirador agradece.Faz parte das regras de copiar, enunciar a Fonte !

Na verdade  em 2012, quando escrevi a crónica sobre a gastronomia e doçaria de Ansião, o que havia até então escrito sobre Doçaria apenas  se referia a "lesmas, bolos de noiva e Pão de Ló " e  na Gastronomia "cabrito assado com grelos  e migas" ...
Pelo que foi grande a minha vontade em transcrever receitas da casa dos meus avós, da minha mãe e de criadas a que dei continuidade. Porque cozinhar é recordar MEMÓRIAS...
Receitas ainda usadas em muita casa de antigos Ansianenses que gostam de manter a tradição e na  minha casa no tempo sempre lhes dei continuidade. Comecei por registar fotos para escrever e partilhar sobretudo os aferventados, cachola, chanfana, requentados (migas) que a minha avó Maria da Luz da Mouta Redonda chamava fertungado, a sopa de carnes ( tradicional sopa de pedra) os grelos de couve nabo, o leitão que o meu avô Zé Lucas já  assava nos anos 20 na Mouta Redonda , galinha de cabidela, galinha estufada com couves , o verde, guisado com sangue da minha avó Piedade a sua canja de galinha, o Pão de Ló, os Bolos de Noiva, bolos de erva doce, e as filhoses tendidas no joelho...
Também invenções e a reeditar novas receitas, sobretudo com as sobras como aprendi no programa televisivo da Filipa Vacondeus, porque a criatividade também vive em mim...
Pelo que sou levada a pensar que seja a ânsia de estrelato, o facto de alguém para sobressair assim proceda  em suposta ingenuidade ou com segunda intenção (?) que se revela manifestamente errado ao não ser dado o real valor aos autores que tiveram o mérito de o iniciar, no meu caso sem medo, nem receio de me mostrar, ao me expor sujeita a mexericos, que em abono da verdade, ninguém gosta .

O facto de ter sido mostrado pouco relativo à tradição de Ansião, e sim à introdução de bolos e de comidas mais recentes pelo uso de ingredientes mais atuais, em detrimento dos usados antigamente. 
Em repto dizer, lamentar como moeda de troca assistir ao fatal desprezo às fontes ( no meu caso  e de outras ) aonde  bebem informação para brilhar deixando o meu nome e outros no anonimato, quando deveriam ser elogiados!

O restaurante do Ensaio, ao mostrar a sopa de pedra afirmou não ser uma tradição da terra...
A comida desta gente de Ansião em tempo de antanho era o mesmo de sempre-, feijão com couves ou couves com feijões; aferventado de chicharo ou feijão frade com carne gorda  e enchidos; sopa de ossos guisado de batatas com sangue coalhado e papas de milho.

A Sopa de carnes é feita com " feijão da velha" demolhado cozido ao lume com as carnes e enchidos a que se juntava esfarripada couve galega, repolho, quadrados de abóbora, de nabo,batata, e uma mão de massa meada grossa. 
No verão este feijão seco era substituído por feijão de debulhar . 
Um hábito em todas as casas, por ser uma sopa de substância, também a faziam na safra das vindimas e da apanha da azeitona pelo Ribatejo, em especial em terras de Almeirim e Golegã, levando o rancho de mulheres na arca as carnes em salga, enchidos e o feijão, a que eles sim, os ribatejanos, tão bem a souberam reaproveitar para a reinventar com o nome de Sopa de Pedra. 
A chanfana em Ansião, sempre se comeu mais com couves do que com grelos(?), estes sim no acompanhamento ao cabrito e borrego, ainda bem que introduziu a cachola, um prato antigo, sendo que a receita não estivesse a preceito-, a batata é guisada com as carnes e o fígado entalado na brasa a que se junta o sangue, e não inteiras e roliças como bem me lembro de assim as ter apresentado noutra receita ... Coincidência ou não, por não ser típica da gastronomia de Ansião falou do bife da vazia, prato que em casa dos meus pais foi refeição desde os primórdios dos anos 60, do séc. XX, comprado no talho do Ti Tereso, também se comia muito goraz e pargo assado vendido pela Ti Zulmira e pelo Ti Amadeu...
A  sobremesa Pavlova,  disse ser a sobremesa que mais sai no restaurante, tal como o bife, ora também a dei neste meio a conhecer, quando a faço há mais de 30 anos, seja pelo prazer de saborear suspiros em detrimento do Molotof, não sei porquê, difícil me calhar bem!

A  trapologia arte artesanal deste povo em tempos de antanho renasceu como empresa em Santiago da Guarda, ainda me lembro de ver as tecedeiras  nos teares. Pelo que vi  na mostra julgo se tem perdido alguma magia...Bem me lembro de ver casas de muita pessoa alindadas de belos tapetes , coberturas de máquinas de cozer, arcas, malas e ainda mantas, algumas  feitas a imitar botões, com o tecido  caseado em alinhavo fazendo fole, confere nesta arte de antanho uma beleza ímpar e ainda outra usada nos tapetes, tipo farripos,  não sei como os faziam...
Um exemplar de passadeira
Tapete na Casa dos Fósseis na Granja Santiago da Guarda
 Outro tipo de tapete
Tenha sido algum fatal exagero em afirmação e ostentação (?) que me enxovalhou o estar!
Em cúmulo, enxerguei alcoberta da chuva ao lintel  suposta criatura andrógina...
Pasmei de olho arregalado ao jus do famoso quadro "O Grito" do norueguês Edvard Munch...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O Brasil é considerado um dos pioneiros na Fotografia


O meu bom amigo Luiz Fernando de Menezes a viver em Santos no Brasil que conheci em Lisboa, revela-se desde 2012 um pioneiro na fotografia mobile nesta cidade Santista, a fotografar a "Cena do Dia" que divulga na sua página de Facebook .No momento decorre até ao dia 20 do corrente um concurso para envio de fotos por e-mail para fotomob@bazarcafofo.com.br.
A semana passada envia-me informação do grande fotografo português, José Marques Pereira, o homem que mais fotografou Santos em nato desafio "quem sabe uma exposição em Portugal, já pensou?"
Apesar da existência do Arquivo Municipal de Fotografia de Lisboa e outros departamentos temáticos seria interessante uma exposição em Lisboa que exaltasse o espólio brasileiro dos cartões postais de José Marques Pereira, pela massificação do conhecimento das vistas da cidade no impacto que ditou ao Mundo cumulativamente do levar notícias para familiares num período fértil emigratório, no início do século XX.
É sempre possível, desde que haja vontades, ao jus da Casa Museu João Soares nas Cortes, em Leiria que em 2013 trouxe as aguarelas e gravuras de Baldi produzidas durante a viagem em 1669 na comitiva de Cosme III de Médicis a Espanha e Portugal , a perpetuar  gravuras da estalagem da Gaita onde pernoitou antes de chegar a Ansian (Ansião), a minha terra adotiva.
Em 1824 Florence o pintor e naturista radicou-se no Brasil estabelecendo-se em Campinas onde realizou experiências e invenções, em 1833 fotografou  através da câmara escura com uma chapa de vidro usando papel, sensibilizado a impressão por contato. Ainda que totalmente isolado e sem conhecimento do que realizavam os seus contemporâneos europeus, Niépce e Daguerre, obteve o resultado fotográfico, a que chamou pela primeira vez de Photografie.
Pela descoberta de Florence, o Brasil é considerado um dos pioneiros na Fotografia. 
O abade Louis Compte em 16 de janeiro de 1840 quando aportou no Rio de Janeiro fez uma demonstração a D.Pedro II da daguerrotipia. Supostamente D. Pedro II teria sido o primeiro fotógrafo com menos de 15 anos no Brasil, quando no mesmo ano de 1840 adquiriu um  daguerreótipo, em Paris.

Albert Kahn, um judeu francês milionário viajou em 1ª classe para o Brasil, no mesmo navio seguiam muitos emigrantes para o novo mundo da América do Sul, o mais rico, a Argentina. Aportou ao Rio de Janeiro em 1909 para o fotografar.
Odisseia da emigração  portuguesa  e de outros países para o Brasil
 Desembarque de emigrantes em Santos em 1907
Navio de emigrantes 1939-41 de Sagall  Lasal
ROCCO, Antonio. Os imigrantes, 1910. Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo

Today Deal $50 Off : https://goo.gl/efW8Ef
ROCCO, Antonio. Os imigrantes, 1910. Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo

Today Deal $50 Off : https://goo.gl/efW8Ef
Tem esta crónica o mérito em tecer um breve paralelismo entre um caiçara Benedito Calixto e um emigrante português- José Marques Pereira, natural da cidade do Porto que emigrou para o Brasil a bordo do vapor Inglês “Magdalena” desembarcando no Rio de Janeiro em 27 de março de 1893. Dois dias depois deu entrada na Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo com 26 anos, acompanhado do seu irmão, Abílio Marques Pereira, de 19 anos e algumas centenas de emigrantes portugueses.

Um pintor,
um caiçara,
nascido no litoral paulista,
Benedito Calixto não era pescado
mas amou a natureza
tornando-se seu grande apreciador.
Pintou o mar
com olhar apaixonado
e pintou a cidade de Santos com olhar
detalhado.
Os imigrantes  1910  de Rocco António do Acervo Pinoteca do Estado de São Paulo
A emigração de portugueses a caminho do Brasil teve inicio a partir de 1530, floresceu durante as invasões francesas por volta de 1808 quando partiu a corte portuguesa com nobres e demais pessoal no total de 500 pessoas e não 15.000 como alguns historiadores ditam, por volta de 1821 alguns voltaram. Precisamente a partir desta altura até 1940 o Brasil abriu as portas ao comércio direto com Países europeus pelo que aportaram emigrantes de mais de 50 países de todo o mundo. Os portugueses jamais se consideravam imigrantes, porque levavam na ideia só ir ganhar dinheiro para voltar à sua terra.
A emigração enquanto fenómeno de partida em busca de melhores condições de vida e trabalho seja  aqui abordar estórias com história, ao  retratar emigrantes que partiram sem medo, acreditando num trabalho remunerado nos finais do século XIX a caminho das promissoras terras brasileiras nas plantações de café, feitor ou capataz de fazendas, estivadores e carregadores no Porto de Santos, construção da ferrovia pelo sertão, panificação, e em meados do século XX outros se aventuraram no ramo da construção civil , na arte do chocolate e,... exemplos de emigrantes que conheço do concelho de Ansião, hoje milionários, o último emigrante que conheci de partida já foi no início da década de 70, o David Mouco, pouco mais velho do que eu, ao tempo trabalhador na Câmara foi chamado por um tio, mas teve pouca sorte, já faleceu.
Foi no Brasil onde se empenharam por um lado a fomentar o progresso do País na expansão da ferrovia para o transporte da enorme riqueza do ouro verde, e por outro lado os que tiveram visão para filões de negócios rentáveis neste País imensamente grande em oportunidades, apesar das muitas dificuldades vividas à época se alevantaram talentos; seja o trabalhador português, abnegado, obstinado, sofredor e a arte de um brasileiro caiçara, em retratar a natureza as suas gentes e  costumes maioritariamente de Santos na tela que com a fotografia em cartões postais no objetivo de torna viagem tinham a magia de criar impato com as vistas da cidade em paralelo com as noticias, o que perspetivou sucesso esta arte fotográfica tal como a pintura da cidade de Santos, no início do século XX.Mas também houve gente que por falta de talento se acomodou a viver sem trabalho ou à custa dele sendo mal pago e por isso a viver na míngua miséria,  alguns tiveram sorte de ter ajuda pecuniária para a viagem de volta dada pelo Centro Português de Santos, chegaram recambiados  "com uma mão à frente e outra atrás"...
Havia quem partia com fundos próprios, o avô do meu marido casou para ter dinheiro para pagar a viagem em 1928 com destino à ilha de Fernando Pó, na década de 50 houve quem vendesse os bens para não voltar, e outros que foram e depois de se instalarem com negócios de panificação na família do meu pai de Ansião, os conheci na década de 60 quando vieram vender os bens recebidos de herança. Houve quem partia com carta de chamada de familiares já estabelecidos para trabalhar no mesmo ramo de negócio de cariz familiar, quem não tinha dinheiro tomava partido dum sistema chamado "parceria" idealizado em 1840 pelo Senador Vergueiro, o sistema consistia no pagamento de todas as despesas do emigrante; viagem, comida, apoio à chegada com alojamento, lote de terreno para cultivo da horta de subsistência com uns pés de café, e ferramentas. Quando o café começasse a produzir o fazendeiro seria ressarcido da despesa e juros que tinha despendido com a vinda do emigrante e ainda metade da safra do café, obviamente que raramente o emigrante conseguia saldar a dívida, por isso ficava preso à fazenda, originando conflitos e tensões com os patrões, seja uma das razões de uma maioria destes portugueses não ter voltado a Portugal, a sua odisseia foi um fracasso, só trabalho árduo...os imigrantes que conseguiam saldar a dívida com os fazendeiros eram livres de sair da fazenda, mudar, ou estabelecer-se por conta própria.Relações que ajudam a perceber os imigrantes portugueses que vinham em geral sozinhos para ganhar a vida no porto de Santos como estivadores e carregadores de sacas de serapilheira com café das carroças para os porões dos navios.No início do século XX alguns regressaram realizando o velho sonho português de voltar à terra com o " pé de meia" no bolso para construir a sua casinha e montar um negócio, chamaram-lhes os novos ricos, no norte e centro de Portugal construíram casas diferentes, ao género de chalet ao estilo art deco, arquitetura modernista que já se usava no Brasil, como sinónimo da sua riqueza, ainda hoje se mostram lindíssimas. Nos anos 30 na aldeia da minha mãe, Moita Redonda, chegou o "ervilha" vestido de meia de seda, bolsos cheios e pela mãos dois mulatitos...

O aumento excomunhal das vendas de café para a Europa faz crescer outro negócio no início do século XX as lojas comerciais de "fazendas, armarinhos, secos e molhados" e de vários produtos ligados ao consumo urbano ditado pela moda europeia. Segundo Mello e Saes, em 1890, havia 292 destes estabelecimentos na cidade de Santos, enquanto existiam 141 casas comissárias de café (LANNA, 1996, p. 68).

O avô do meu amigo Luiz Fernando também era português, natural de Vale Longo no distrito de Leiria, teve a infelicidade de ver os pais falecerem com a gripe espanhola pelo que órfão em 1908 parte para o Brasil, ao chegar ao porto de Santos deixa o baú de madeira com correias de cabedal no cais para procurar o seu primo para voltar no dia seguinte onde o baú ainda estava no mesmo lugar onde o tinha deixado. Dias depois seguiu para o Alto da Serra (Paranapiacaba) para trabalhar com o engenheiro inglês Dr. Wellington na medição e assentamento dos dormentes do caminho de ferro S.Paulo Railway que ligaria Santos a São Paulo.Após vários anos deixou este serviço por falta de saúde e começou a trabalhar numa padaria, anos mais tarde abriu o seu próprio estabelecimento em Santos.
A imigração iniciou-se no nosso país baseada em um sistema chamado “parceria”, idealizado por um grande fazendeiro, o Senador Vergueiro, na década de 1840. Por esse sistema, o fazendeiro pagava as despesas da viagem do imigrante, fornecia a alimentação a crédito, as ferramentas, alguns pés de café e um lote de terra para que plantasse gêneros de subsistência. Quando os pés de café começavam a produzir o imigrante deveria ressarcir o fazendeiro, pagando-lhe o capital investido com jurus, além de entregar metade de sua produção de café. O imigrante dificilmente conseguia pagar o fazendeiro e ficava preso à fazenda, o que causava tensões e conflitos entre trabalhadores e patrões. O sistema de “parceria” não deu certo, muito embora tenha sobrevivido por um longo tempo no campo brasileiro. Os imigrantes exerciam diversas funções em seus países de origem, eram artesãos, trabalhadores da indústria doméstica e, mesmo sendo camponeses, não sabiam cuidar dos pés de café. Além disso, recebiam dos fazendeiro as piores terras, pouco produtivas, e viviam endividados. Entretanto, o problema mais grave da imigração residia no tratamento dispensado aos imigrantes pelos fazendeiros que, acostumados com a escravidão, tratavam os trabalhadores como se fossem escravos. Por isso tudo, várias revoltas eclodiram, o que aconteceu inclusive na fazenda Ibicaba, de propriedade do idealizador do sistema de parceria.

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Pintura de Santos no inicio século XX
Igreja do Convento do Valongo
 
Porto de Santos em 1882 com veleiro ancorados

Antigo Chafariz, na atual praça da República, Calixto  Páteo Interno da Cadeia de Santos, 1875
As difíceis condições de transporte do café das fazendas para o porto de Santos
O Porto de Santos em 1892 não se encontrava organizado, sendo que já havia necessidade de embarcar o ouro verde dos fazendeiros, apesar das condições rudimentares os carregadores transportavam as sacas de café de 60 kg às costas sob pranchas de madeira para os porões dos navios. O que faz crer supostamente José Marques Pereira começou aqui por arranjar trabalho (?). Alguns imigrantes portugueses e outros europeus levavam não uma, mas duas, três, quatro e até falam que havia quem aguentasse cinco sacas de uma só vez, num total de 300 kg (?), em concursos de resistência.

O tio do meu pai "Canhoto" de Ansião também veio a Santos transportar as sacas de café, regressou a Portugal, para voltarem mais tarde os filhos para o ramo da panificação.

Segundo Pietro Amorim, historiador do Museu do Café, em Santos, o mito do Jacinto, o carregador que levava 5 sacas só com a força do corpo às costas. "Pouco se sabe sobre esse personagem, a sua história foi apropriada e reproduzida de diferentes formas ao longo do tempo, "Jacinto" com alcunha " Sansão do Cais", uns dizem ter sido português outros espanhol (?), mas o nome e a força dita ter sido português(?), a pensar nos salineiros que levavam descalços canastras de sal à cabeça... . se realmente existiu, ninguém o sabe, mito fictício ou real, o personagem tem muito a ensinar: "se considerarmos a exaustiva rotina desses carregadores de sacas de café de 60 kg, por trás da imagem de Jacinto, podemos ver homens que iam aos extremos de sua capacidade física para sobreviver", porque seriam pagos à saca .
No entanto estivadores e ensacadores de hoje tem opinião que o máximo de peso suportado por uma pessoa é de 120kg (duas sacas), por isso alguns deles levantam a dúvida se as sacas eram, de fato, de 60kg, ou melhor se seriam de outro produto mais leve... as fotos não enganam...
 Foto a cores
Raro cartão postal de 1906, editado por M. Pontes e Cia para a sua loja Bazar de Paris, num dos concursos de força à época da estiva Santista que a organizava entre si .
 Foto de José Marques Pereira do porto de Santos
Foto de Francisco Carballa  embarque do café em Santos
Foto de José Marques Pereira de 1902 do vapor alemão Sílvia, carregado com 130.136 sacos de café, o maior carregamento saído do Brasil
 Em 1908 entraram novas medidas portuárias no porto de Santos proibindo a entrada de carroças
Não se sabe como José Marques Pereira se tornou dono da loja "FAMA" de armarinhos, fazendas, perfumes etc, na cidade de Santos, numa das principais ruas do comércio, na Rua na XV de Novembro , o mais importante boulevard da cidade que ligava o porto à cidade antiga. Homem de visão, amador de fotografia engalanava a montra com os produtos para venda;trajes masculinos e femininos com os postais da cidade para seduzir e chamar a clientela.(BARBOSA, 1999).
Foi membro número 166 do Centro Português de Santos no ano de 1896 onde se promoveram escolas de dança, música, grupos de teatro; se fundou a escola primária e secundária João de Deus, além de prestarem ajuda pecuniária na repatriação de imigrantes lusos, importante para aqueles que partiram, trabalharam, mas não tiveram sorte em o amealhar...
Desconhece-se onde José Marques Pereira aprendeu o hobby fotográfico, supostamente teria sido nesta associação (?) pelo que rapidamente a sua loja "Fama" passa a ser "Photographia União".
A maior coleção até hoje editada no Estado de São Paulo com 70.000 cartões postais impressos por José Marques Pereira sobre aspetos da cidade de Santos haviam de viajar pelo mundo informando, consolando e saudando os seus remetentes. A leitura que faziam alguns admiradores das suas fotografias reforçava esta memória da cidade, como em 1906 a descrição de Vitaliano Rotelline em “Il Brasile e gliitaliani”sobre o trabalho de José Marques Pereira.
"Para este artista egrégio-, Santos e sua bela baía, a vizinha São Vicente e a ilha de Santo Amaro, com a atrativa Guarujá, não tem nenhum mistério: cada local que ofereça encantos naturais foi focado pela lente do bravo fotógrafo. Marques Pereira, um jovem gentil, afetuoso, sem pretensões, possui hoje um belo estúdio fotográfico na Rua 15 de Novembro onde o visitante poderá passar momentos deleitosos diante das numerosas vistas que constituem o seu patrimoniado artístico, porque produz a fotografia com arte, não como um ofício, obtendo resultados de notável beleza. (ROTELLINI, 1906: 728) "
Este autor procura explicitar que as suas fotografias foram feitas como se fossem obras de arte e não como simples ocupação.Tal pensamento é recorrente na história da fotografia visando aproximar os trabalhos de alguns fotógrafos dos valorizados pintores e diferenciá-los, como artistas, da numerosa concorrência.Sem querer discutir a respeito da fotografia como obra de arte apenas confirmar a estratégia de valorização das fotografias de José Marques Pereira, as qualificando como inegáveis obras de arte. Em 1907 o livro propagandista “Le Brésil” diz algo semelhante sobre o trabalho de José Marques Pereira:
José Marques Pereira é antes de tudo um artista que ama o seu ofício e que soube criar um renome justamente merecido. Pode dizer-se que é devida a ele a divulgação dos pontos mais interessantes da cidade de Santos e felicitá-lo por ter contribuído para destruir a lenda que situava Santos numa região que não atrai o turismo. De fato, as vistas de Santos por ele obtidas não somente constituem verdadeiras obras de arte, mas ainda têm revelado que o porto principal do Estado de São Paulo, além de importante centro marítimo e comercial, é também uma estação balneária de primeiro nível. Os trabalhos de José Marques Pereira, vistas naturais e fotografias de grupos, são universalmente apreciados e destacados pela perfeição da execução que transforma todos os seus trabalhos em verdadeiros documentos artísticos. (HÜ, 1907)
Ao explorar o cartão-postal produzido por um único autor, o fotógrafo e editor José Marques Pereira neste trabalho possibilitou visualizarmos um discurso específico onde foram eleitos e elaborados alguns espaços e atividades que figuraram no imaginário do grande público no início do século XX. Estes postais que traziam impressas as fotografias de José Marques Pereira, também foram utilizados para comunicação entre parentes, amigos, amantes, enfim aqueles que tinham necessidade de informar, consolar e saudar os destinatários ausentes, que os receberam com mensagens dos seus entes queridos com imagens e aspetos do buliço da cidade de Santos. A consolidação da memória visual da cidade passava, portanto, pelos emissores e destinatários dos cartões-postais ao ser enviados e guardados pelos destinatários os postais recebidos, colaboraram para preservar pequenos fragmentos cheios de lembranças. O trabalho de José Marques Pereira é uma importante fonte de pesquisa que colaborou na formação de uma memória visual da cidade de Santos e seus habitantes, revelando cenas e fazendo história, construindo através das imagens uma nova cidade, mostrando os novos agentes em novas relações sociais
Fotos de cartões postais de José Marques Pereira

Construção do Cais e Antigo Mercado em 1890, em foto de José Marques Pereira (albúmen com 12,0 x 16,7 cm - acervo Gino Caldatto Barbosa)
Em paralelo nasceram outros serviços e empresas como os Corretores da Bolsa de Café na mesma Rua XV de Novembro onde era a loja do José Marques Pereira.
Naquela época os Corretores para mostrarem que tinham muito dinheiro vestiam-se todos de ternos em branco, confeccionados com um tecido praticamente impossível de se passar ferro, alinhado, dando aspeto de amassado.
Esta crónica acabou por despoletar a lembrança do bisavô Manuel Freire dos Santos de outro bom amigo Renato Freire da Paz, tambémele imigrante no Brasil onde esteve uns anos para regressar e casar.
Montou a Casa de Fotografia Santos em Ansião em finais do século XIX.
O seu diário com a data de 1897.
O que evidencia que esta arte da fotografia foi aprendida no Brasil, em Santos(?) na mesma altura que o José Marques Pereira (?). Curiosamente o avô do Luiz Menezes e este são do mesmo distrito, Leiria.
O Manuel Freire dos Santos deixou basicamente fotos de família e da vila de Ansião. Supostamente por ser de origem judia, muito avarento, não fotografou mais (?)... tesouros na posse de familiares, sendo que uma maioria de fotos em chapas de vidro guardadas décadas no baú que foi ao Brasil com a humidade se estragaram...o que existe merece destaque numa ala fotográfica no futuro Museu a abrir em Ansião, que dele tão deficitário se encontra o concelho!
Seja fácil encontrar a mesma arte nos dois fotógrafos portugueses na semelhança a coincidência de datas no Brasil quase no início da fotografia.
A Casa Santos usava molduras, chegou a ter um atelier para fotografar com cenários como a foto baixo de 1900 com um pintor desconhecido rodeado pelos quadros e os cães.
Menina com 14 anos de Maças de D Maria
Familiares em 1912 a saudar a República
Quando a casa do primeiro fotografo da vila de Ansião-, a Casa Santos e depois Paz, foi demolida, nos escombros um primo meu recolheu algumas chapas com crianças na época de 60, que se tiravam para enviar para África, Europa e Brasil onde os pais estariam imigrados...
Aqui de mão dada com a minha irmã Mena, vestidas de igual com reforço de golas em plástico brancas com bolinhas vermelhas, pelo chão resquícios de palha , foto tirada num alpendre para enviar às tias de Angola.
Numa feira de velharias em Évora encontrei num estaminé de chão postais ao género de José Marques Pereira com data de 1947.


FONTES
 http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0220a.htm
Jornal do Commercio, de 17 de janeiro de 1840, Rio de Janeiro
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fotografia_no_Brasil
http://mestresdahistoria.blogspot.pt/2011/04/saiba-mais-sobre-imigracao-para-o.html
http://www.novomilenio.inf.br/santos/fotos091.htm
http://www.mexidodeideias.com.br/viagem/a-lenda-de-jacinto-o-carregador-de-sacas-de-cafe/
http://visistasantoscomex.blogspot.pt/
http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364700434_ARQUIVO_Texto_ANPUH_2013_MemoriaeRepresentacao_Mauricio_Lobo.pdf
https://soulsantos.wordpress.com/tag/cafe/#jp-carousel-57
https://familysearch.org/wiki/pt/Brasil_Emigra%C3%A7%C3%A3o_e_Imigra%C3%A7%C3%A3o


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