quarta-feira, 8 de abril de 2020

Bandeira da Misericórdia de Ansião à laia de Via Sacra

Angariei conhecimento da Bandeira da Misericórdia de Ansião num vídeo alusivo  às suas valências no seu stand, por altura das Festas de agosto onde me levou a minha irmã, e  presa me deixei a olhar a loiça reluzente da sua cozinha a  recordar a infância, assim igualzinha à que via no barracão da Cerca, hoje o Lar da Santa Casa da Misericórdia e no terreiro da frente em acampamento de ciganos...
Enderecei na altura pedido à Srª Provedora, a Drª Teresa Fernandes para  conhecer a Bandeira. Confesso, chocou-me o facto da pouca acessibilidade à capela  ao jus de reaproveitamento de um espaço, na minha perspectiva podia ter nascido na frente do empreendimento, ao meio do patim, com visão para a  vidraça do salão onde estão os utentes, nem era preciso pedir autorização, com  tardoz  para a rua .
Suposto  que a Misericórdia de Ansião assumiu na sua Bandeira, os símbolos da Misericórdia de Lisboa, naturalmente como todas as demais e o seu Compromisso.


 Bandeira da Santa Casa da Misericórdia de Ansião  

A Bandeira da Misericórdia de Ansião pintada sobre madeira ou tela (?) não lhe toquei,  fiquei petrificada a contemplar rara e brutal beleza. Mais tarde ao analisar a foto é que me lembrei dessa particularidade...
A Bandeira apresenta-se em forma de pendão, em aventar pintura sobre madeira, aguarda-se confirmação. Um dos seus símbolos exteriores mais representativos da Misericórdia no passado e no seu presente, debalde quase desconhecido, sem jamais me lembrar  de a ver em saída à rua na sua procissão com o estandarte de Nossa Senhora do Pranto e a sua Irmandade vestida com as suas opas , sei existem, esqueci-me da cor- serão brancas? 
Hoje em jeito de via sacra virtual, em contexto de quarentena presentar a Misericórdia, ao Ribeiro da Vide, em Procissão, erguendo alto a sua Bandeira ao jus de agradecimento ao amparo cuidadoso, atento e eficaz, prestado aos seus utentes residentes e exteriores, por toda a equipa, altamente coesa vivida em contexto especial em  se mostrar ao Mundo, líder, em denotar  saber impor regras duras, em horas chave, sem indecisões na vantagem ate ao momento resultados positivos, se esperando continue a colher frutos sãos!


A iconografia da Bandeira 
Na minha visão representa ao centro a Mãe da Misericórdia, de pés assente no Mundo de cabeça coroada vestida de branco a  irradiar Luz, de manto azul celeste aberto e preso por mãos de anjos, sob o qual se abrigam representantes de grupos sociais ligados às Misericórdias com o Rei D. Manuel I  de joelhos e coroa no chão, que atribuiu o último Foral a Ansião, a Rainha Santa Isabel, caminhante por Ansião vestida de hábito de clarissa que envergou por  duas vezes a Santiago de Compostela e com ele  se quis  representar no seu túmulo em Coimbra, obra  do Mestre Pêro,  a Rainha  D. Leonor de Lencastre - a mãe  das Misericórdias , entre figuras protegidas pela instituição onde distingo uma mãe com o filho nos braços, ou seria o amparo a um exposto? Um nobre, o Provedor a Misericórdia e um frade templário, aos pés agachadas crianças, todos de mãos postas em contemplação. Pobres ou doentes quem diariamente procurava ajuda nas Misericórdias, nesta Bandeira de Ansião não foram retratados.
Em rodapé a inscrição MÃE DE MISERICÓRDIA ROGAI POR NÓS 
Ao lado as siglas FMC referentes ao Frei Miguel Contreiras, o instituidor da Irmandade das Misericórdias.
Não distingui assinatura do pintor, pode ter, ou no verso.

Evidentes sinais de humidade  a necessitar restauro 
A criação da Imagem da Virgem da Misericórdia 
Remonta ao começo do século XV, quando, em consequência da peste, o terror da doença impeliu os cristãos para a necessidade de protecção sobrenatural, que se consubstanciou no recurso à protecção de Nossa Senhora. Surgem, assim, as primeiras pinturas, representando a imagem da Virgem Maria, que resguardava das «flechas» da peste os fiéis de todas as condições sociais, do Papa e Imperador aos mais humildes, abrigados sob o seu manto. Esta representação da Virgem, sob a denominação da Virgem do Manto Protector ou Virgem da Misericórdia, estava largamente difundida por toda a Europa, quando foi fundada a Misericórdia de Lisboa. 

As Misericórdias tinham funções específicas - hospitaleiro , recolha de passageiros carentes, com fome, frio e doentes em lhes prestar auxílio, dar agasalho e assistir na doença, os moribundos, dar a extrema unção no Hospital e quando morriam os sepultar .

As Misericórdias foram fundadas na maioria nas sedes concelhias. Tinham o compromisso de redigir cartas para os caminhantes seguirem viagem, freires, etc, por isso  chamadas Casa do Despacho . As  Misericórdias tinham vários cargos adstritos - Provedor, Escrivão , Juiz da Confraria, Juiz da Irmandade, Mordomo e Capelão. Cargos de serviçais; Hospitaleiro, o guardador das chaves da Ermida, Casa, Hospital e Albergaria no papel de acolher todos os que chegavam e precisavam de auxilio,  para continuar caminho.

O concelho de Ansião teve duas Misericórdias,  a primeira na vila de Ansião e outra muito mais tarde no Alvorge.

A Fundação da Misericórdia de Ansião 
Infelizmente reveste-se de condições e circunstâncias pela  falta de documentação que se admite perdida no incêndio de 1937 nos Paços do Concelho. E não seja verdade, porque as Misericórdias e suas Irmandades foram instituições civis independentes sem qualquer dependência da igreja , como é sabido,  nesse pressuposto não tiveram de fazer entrega do seu cartório aquando da separação da  Igreja e do Estado na implementação da República.Historiadores aventam a sua fundação a 1702, data da estela da segunda e actual capela, debalde, reflecte a sua finalização e da albergaria que lhe foi anexada.
No ano passado tive conhecimento de uma descoberta de  espolio em local improvável.Logo depreendi  tenha sido o seu depósito no final do século XIX aquando da extinção da Casa da Misericórdia  de Ansião na vila, onde foi fundada e  consequente venda do património - Casa do Despacho, Albergaria e Hospital.
Infelizmente  também o Hospital na vila, os historiadores  deram ênfase ao do Ribeiro da Vide, como o primeiro, quando  o foi em segundo lugar. Graças às  Memórias Paroquiais, ao meu conhecimento do chão de Ansião, e tantas memórias a correlacionar e a questionar para com talento identificar os seus palcos.

Atesta  a Misericórdia de Ansião na década de 1640 
Entre 1640 e 1750 surgiram mais 77 misericórdias, sobretudo nas Beiras para a de Ansião ter sido fundada. E outras na Estremadura e Alentejo.
Nas Memórias Paroquiais de 1721 o  juiz  avança a sua fundação há 50 anos, a extrapolar  1671.  Porém os registos de óbitos no seu hospital  em 1648, em  ditar  esse ano ou já existia  antes.
Também nada se saber sobre a sua Confraria e os seus estatutos na prestação assistencial a pobres e a enfermos no pequeno hospital e aos presos. E ainda a  sua fundação pelo povo.A evidenciar  um conjunto de pessoas- os seus Irmãos, os  seus fundadores com hierarquia - com escolha do líder o seu  Provedor, pelo cariz de afirmação e  imposição do seu Compromisso, na certeza o mesmo da Misericórdia de Lisboa.
As  suas Irmandades e  as Insígnias ? As fitas do Estandarte de Nossa  Senhora do Pranto, o novo orago do final do século XX e  talvez do orago anterior - Nossa Senhora da Graça e ainda do orago primitivo - Nossa Senhora da Conceição.
Para  melhor  entender a sua dinâmica vali-me de outras Misericórdias para melhor interpretar sistemas a que os Irmãos estavam obrigados «Irmãos a usar uma  insígnia e ao chamamento da sineta tinham de cumprir as obras da Misericórdia.»
A Bandeira, o símbolo da Irmandade, solenemente presente na procissão e ao Compromisso de quem a erguerá «diante irá a Bandeira da Misericórdia a qual levará um Irmão Nobre», e nos funerais «a Bandeira da Irmandade (será) levada por um Irmão Nobre.»

Habilitar o Hospital na vila de Ansião
Registo de mortes de pobres e inocentes no Hospital da Misericórdia na vila
1648  faleceu um pobre neste hospital, enterrado no adro credencia a Misericórdia de Ansião

1649  a morte de um pobre no hospital e enterrado no adro da igreja


Habilitar a Fundação da Misericórdia
Registo de 30 de agosto do batizado de Anastácio enjeitado deixado na capelinha de Nossa Senhora da Conceição na vila de Ansião , padrinho João de Barros 

Habilitar a Casa da Roda de Ansião
Registo aos 30 de outubro de 1824 do óbito de Maria Antónia de Almeida, inocente e exposta na roda desta vila de Ansião.
Estandarte de Nossa Senhora do Pranto
O que ainda existe por certo foi encomendado por altura da Imagem de Nossa Senhora do Pranto, em finais do séc. XIX, velhinho a necessitar de resguardo em acrílico para não se perder (?).
Partilho três relíquias de valor patrimonial e histórico da Misericórdia de Ansião.
A merecer atenção especial o acervo da Misericórdia e Ansião com sugestão encontrar Mecenas para patrocinar o restauro da Bandeira no Politécnico de Tomar,  e convento cujas freiras dominem a arte de passamaria para dignificar o estandarte ou então o guardar entre acrílico para no presente e vindouros o poder apreciar, antes que se perca.
Relíquias raras em Ansião deviam fazer parte de uma ala Museológica do futuro e demorado Museu que tarda em acontecer em Ansião!
A sede do concelho, Ansião, deve lutar para ter o seu próprio Museu, com didácticos espaços Museológicos, ala de fotografia antiga, arte sacra entre outros.
 Missal romano exposto na capela do Lar da Misericórdia
Um pequeno quadro com uma bela Imagem, assaz interessante.
Retrata Santa Ana?.Desconheço a sua proveniência.Possivelmente foi doação de algum utente.
De longe, mas perto com a Misericórdia de Ansião no coração, emano o meu louvor à Provedoria, colaboradores e à minha querida irmã pelo espírito imbuído de sacrifício acrescido nesta altura especialíssima, em cuidar em dobro da nossa querida mãe.
Em espírito e franca harmonia todos prestam um serviço de excelso cunho e qualidade a todos os parâmetros, afinal Compromisso, assumido desde a centúria de 600 na Casa da Misericórdia de Ansião - o mais antigo a prevalecer no concelho na sapiência de ser - CUIDADOR .
O sucesso das directrizes instauradas se mantenha em desejo de toda a família residente e de todos os ansianenses . Para em final de etapa pandémica,  a Misericórdia de Ansião, venha a receber o mérito por quem de direito, a começar por quem rege as Misericórdias, a que outros se devem seguir, pelo cabal exemplo terem dito não, a clichés, em prol da aposta de implantar novas regras com resulto positivo até ao momento e desse modo inevitável a comparar a congéneres, onde a aparente falta da mesma visão e nítida eficácia  imposta ao estilo militar, em momento certo e sendo por mulheres, é de louvar!

O meu contributo de autodidata, a dar cartas, sem modéstia mas com ela entranhada para reconhecer graças à  minha tamanha persistência mais  aclarei  da penumbra que sempre pairou ao passado da  Misericórdia de Ansião!
Cuja temática  se mostra extensa a dividir noutras , esta crónica deu enfoque à Iconografia, na calha -  Hospital, Capela, Casa do Despacho e Confraria da Misericórdia 
Afinal o que se sabia?Nada!

FONTES 
Memorias Paroquiais
Registos paroquiais -  um de Henrique Dias, outro de Ana Ferreira e dois meus

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Ansião, ao Ribeirinho de fugida em dia de Natal de 2019

Desconheço a origem do topónimo, lapas induz a buracos, tipo grutas? Por aqui o calcário apresenta-se assim em blocos tipo folhas sobrepostas, terão um nome cientifico, volto a encontrar este tipo no Pinheiro, onde de facto existem grutas.
Rapidinha na teimosia voltar a percorrer a rua das Lapas no Ribeirinho, Ameixieira

 Por aqui encontram-se exemplares de oliveiras seculares
Vista para norte para a Ameixieira
 Vista para nascente
Figueiras da Índia
 Ruína em pedra a perder-se...
Abertura horizontal acima do lintel 
Qual a serventia? Segurança da parede acima do lintel  da porta, mas aberta? Servia para ventilação?
O tradicional V invertido acima do lintel, de facto herança na arquitectura deixada pelos romanos, para segurança da parede
Da penúltima vez que aqui estive, ainda estava a casa de pé, o ano passado com as intempéries encontrei-a assim... 
 Casa tradicional com balcão para o sobrado
 Piais de sustentação de barrotes 

quinta-feira, 26 de março de 2020

Fim de tarde até ao esteiro da Amora, no Seixal

Para os conterrâneos com raízes de Ansião a viver no concelho do Seixal, na freguesia da Amora, sem ser ainda com este nome, aparece referenciada em 1384, na Crónica de D. João I pelo cronista Fernão Lopes na localização das galés do Mestre de Avis, que se encontravam abrigadas no braço do rio Tejo . Julga-se que o nome lhe advêm da plantação de amoreiras para o bicho da seda, faziam xailes de lã e de seda na Fábrica de Lanifícios da Amora, fechou anos 20. O dr Rui Mesquita sobre a fábrica disse- do que tenho investigado nunca encontrei uma fábrica de seda na Amora ou Almada, sei apenas que os Marqueses de Alorna mandaram plantar amoreiras nas suas Quintas de Almada e Almeirim. A Fábrica de Lanifícios da Arrentela, ao limite com a Torre da Marinha, ainda lá está, fundada em 1855 , cheguei a conhecer um dos seus últimos donos em 80, cliente BPSM, alentejano, com um nome grande e pomposo. O que está escrito sobre esta fábrica nada referencia a produção de seda, em alvitrar antes desta fábrica houve outra na Amora, a produzir os xailes de lã e de seda - o fabrico de seda em Portugal teve vida efémera, os bichos da seda foram introduzidos nos meados da centúria de 700 desde o norte, centro, até aqui com italianos da Toscania no ensino e sua produção, invoca dizer que a fábrica existiu em finais de 700 , dando mais tarde azo à construção de uma maior em local mais desafogado igualmente ao limite do esteiro ,mais a sul, na Arrentela, o que interpreto no aproveitamento da matéria prima da região, a lã, porque a seda, nas minhas investigações tudo aponta para uma doença a dizimar os bichos , chamada Gatina, nome que persiste na toponímia em Ansião, e me chamou a atenção, onde a Casa de Pereira, do Desembargador em Lisboa e do Bispo Conde de Coimbra -os manos Lemos de Faria Pereira Coutinho, nascidos no Brasil, adquiriram muitas terras compradas ao Marquês de Pombal que tinham sido da Casa de Aveiro. Na leitura das recentes cartas que os manos trocaram se menciona a criação de bichos da seda. Na Wikipédia diz ser a fábrica na Amora, e também por isso segui a fonte.Aliás a história da Amora, associada ás amoreiras, nem sei se hoje ainda alguma existe, em Ansião existe um enorme, está muito pouco esclarecida, sobre a fábrica de vidros nem encontrei nada...A sul da Amora no casario moderno Porto da Raposa, ao limite com o esteiro, no seu tardoz existe casario antigo e da ponte pedonal consegue-se enxergar o resto de um muro escondido pelo sapal, seria ancoradouro? dando a sensação que ali antes houve alguma coisa ligada a transformação (?).
A Fábrica se Lanifícios da Arrentela teve origem numa fábrica real de mantas para o exército primeiro empreendimento fabril naqueles terrenos aforados no início do século XIX pela Câmara...
Tarde em caminhada das Paivas ao jardim ribeirinho do esteiro do Tejo em maré alta a beijar o Seixal, Arrentela e Amora com as gaivotas empoleiradas no que resta das estacas dos passadiços e patos a passear pelos meandros do sapal. Espreitei o fecho da feira de velharias, enfeirei umas chávenas Lusitânia de Coimbra iguais a um açucareiro que a minha sogra me ofertou há muitos anos e não pude deixar de comprar em ferro uma espécie de catavento para espantar os pássaros, para levar para a casa rural na Mouta Redonha, vai ser festa nas férias para os netos se divertirem com ele a rodar com o vento...Espreitei o fecho da feira de velharias, enfeirei umas chávenas Lusitânia de Coimbra iguais a um açucareiro que a minha sogra me ofertou há muitos anos e não pude deixar de comprar em ferro uma espécie de catavento para espantar os pássaros, para levar para a casa rural na Mouta Redonha, vai ser festa nas férias para os netos se divertirem com ele a rodar com o vento...
A rotunda bem decorada com homenagem ao vidreiro e aos garrafões que aqui se faziam grandes.
              
                                        
             
          
Lindos os candeeiros de braço em ferro forjado, como deve ser em ambiente histórico no que resta do bairro operário de vidreiros, as suas casas iguais adoçadas, só com 2 janelas e uma porta.
O que não gostei? Descampados a céu aberto a perder de vista em pleno séc XXI a merecer atenção em lhe dar vida...
Amora engrandeceu com a ponte pedonal em madeira a fechar o esteiro com o sapal.

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