terça-feira, 19 de maio de 2020

Arquitectura civil e religiosa de varandas séc. XVII/I em Ansião

Sugestão nascida com a partilha  de uma bela casa que ainda conserva  extraordinária varanda de forma rectilínea em grade partilhada pela Prof. Anabela Mendes da Cumeeira, no Grupo Ansião. No seu julgar podia tratar-se  de exemplar  único na região em desplantar a memoria das que já partilhara em crónicas  com outras partilhadas por Membros . Em resulto uma boa aposta com denotado interesse pelo património cultural do concelho de Ansião aqui se pretende compilar.
Em Ansião os lavrantes, o nome como os conhecia,  esculpiam na pedra a escopro e martelo, além de ombreiras e lintéis para portas, portões e janelas, pias para o azeite e outras pequenas para os animais. Demorei tempo para perceber  o significado da  palavra canteiro - afinal outro  nome como também eram conhecidos, e que lamentavelmente por incultura naquele tempo, associava aos canteiros do jardim, até perceber a raiz da palavra  - cantaria. Em Ansião, o foram escultores de pedra, em linhas sóbrias, como antes os arcos góticos que conheci e hoje apenas resta um, a continuidade a um design de formas rectilíneas, simples, em grade ou avental , com estética elegante a retratar um tempo áureo caracteristico em Ansião e antes sem o ter sido aflorado, e o distingui ainda  em Pussos e no Espinhal. Ainda existem alguns exemplares a merecer preservação da sua traça pois fazem parte da nossa identidade cultural e muito ajudam a conhecer mais do que foi o seu passado.E de quem nestas casas morou.
Em alerta
A arte da cantaria em Ansião a merecer atenção para não se perder este  património cultural que se deve manter, testemunhos de um passado  e jamais o ser  alterado ou desvirtuado, por isso a Câmara o deve proteger , inventariar e fiscalizar, com proposta no futuro em fomentar uma Oficina de Cantaria em Ansião, enquanto temos artistas de canteiro!

O casual comentário que hoje formulei a  uma nova foto do grande amigo João Patrício
Qual ar introspectivo, o seja com pensamento na Serra de Ucha, do que foram os seus moinhos de vento, das gentes da Barroca e de Lisboinha, porque estes, com herança da moenga na ribeira, na Mouta Redonda. Notável o ar de intelectualidade. O que desplanta em descobrir mais sobre a cultura que amamos, para em deleite a vontade de continuar, debalde as pataniscas esperam-se , caso não fosse a tarefa e o apetite apressado em as saborear, sabe Deus onde ia parar sem jamais deixar de falar de Pousafoles e hoje Pousaflores, de Lisboa a pequena e hoje Lisboinha, e da Mouta Redonda com o sufixo dos primórdios, em Ansião, instituídos na toponímia. Excelência tanto saber, e tu meu mentor! Obrigado.
Responde - Apenas direi que:" tu ofereces à Poesia,de uma forma muito densa,toda a tradição e um património que são raros, que de certa forma mais se confunde com o mundo,o real e o quotidiano".

Depois da leitura tão extaziante e profunda entre conterrâneos a falar das raízes  e  sua  cultura  a mostra de belíssimos exemplares de traça tradicional na região
Deixados por gente abastada.Algumas casas em derrocada, o que se lastima. Casas de grande volumetria com loja o curral em baixo para aquecer com o bafo a casa no inverno, assim se aprendia em tempo de escola, com sobrado a que se acedia por balcão (escadaria e varanda) em geral telhado, uma característica do casario judaico.Na Beira Baixa, em Medelim, tem sido preservadas encontram-se catalogadas mais de 250.No concelho de Ansião, por falta de conhecimento histórico e cultural, mais uma vez a sair da base de conforto para mais falar das comunidades judaicas aqui aportadas, com amostragem de alguns testemunhos com balcões suportados por colunas de varandins rectilíneos criando espaços abertos tipo grade ou fechadas por pedras de avental.

A Arte do que foi a Cantaria em Ansião, com resquícios em seus  descendentes que trabalharam no Mosteiro de Aljubarrota e dos Jerónimos.

A arte de trabalhar a pedra é antiga com apontamentos romanos e moçárabes. As suas ruínas deixadas  foram reutilizados em novas requalificações - a primeira estalagem com capela no vulgo mosteiro,  a actual  matriz de Ansião de 1593, derruba a natureza da construção de raiz , na feliz descoberta,  a sua adjudicação, com menção ao que havia, a Fundação da Casa da Misericórdia nas primeiras décadas de 600, e a ermida de Nossa Senhora da Conceição com o seu portal gótico, o testemunho vivo mais antigo do concelho . Em 1702 foi edificada de raiz a sua actual  capela. O padrão que o Senado de Ansião mandou levantar em 1686 ao Senhor da vila  - Dom Luís de Menezes, igualmente de raiz  e a Ponte da Cal , alegria a descoberta da sua adjudicação em 1648, a auspiciar os  tanques de chafurdo, o nome por que os chamo e antes ninguém e ainda a certeza do mestre ter bebido inspiração noutro ali existente do habitat catalogado romano. A ampliação da ermida na  Constantina em 1623 em dar início ao  fausto e riqueza , com as belas colunas de suporte à galilé - ou não e serão também reutilizadas, fica a sua abordagem para outra crónica.

Capela da Constantina  1623
A exuberância do belo com a galilé do alpendrado em plenitude a arte da cantaria em Ansião!

Capela de S Bráz
Onde o adeus ao deitar do sol é dos mais belos em contexto de arquitectura cultural
Perdido o  talento de fotografo em Ansião?  
Aqui neste local com uma boa máquina, que não tenho, oferece uma multiplicidade de fotos e de cores a quem tenha  perfil para o belo, no seu expoente máximo e mente sempre atenta. Debalde em letargia  para até hoje ter sido  desperdiçado em vídeos, em apresentações turísticas, e bem podia, pela grande plenitude em franco ambiente religioso e cultural e não apenas e somente  na serra da Portela... Outros  se aprocheguem e digam se não  estou certa!
Granja,, Santiago da Guarda
A arquitectura dos arcos reporta semelhança para o convento de Penela de Santo António fundado em 1578, contudo, o conjunto das construções (igreja, área residencial e anexos) datam do séc. XVIII , imóvel particular dista poucos quilómetros (15) da Granja.
Sem ninguém a alvitrar ter sido edificado sob uma ruína moçárabe, por outras evidências, e agora não partilho.
Bússola do Tempo: Paço da Granja em Santiago da Guarda, Ansião
Ateanha
As colunas suportam o telheiro sem saber se debaixo do reboco é pedra
Capela da Ribeira de Alcalamouque 
O  púlpito na rua com  inscrição e  data de 1689
Segundo as Memórias Paroquiais (...) A herdade de Alcalamouque por carta testamentária de Soeiro Gonçalves, de março de 1142, uma das mais antigas referências documentais a terras que actualmente integram o concelho de Ansião. (...) No "Promptuario das terras de Portugal", de 1689, de Vicente Ribeiro de Meireles, o lugar de Alcalamouque, consta, igualmente, como uma das localidades do termo da "Villa do Rabaçal, " (...) Em 1747 - 1751 padre Luís Cardoso tem uma Ermida dedicada a S João Batista.
Verossímil que esta capela foi instituída pelo jesuíta Dr António Santos Coutinho de Ansião, na extrema norte do seu Morgadio, à imediação do Rabaçal e não a da Junqueira, aliás não existe confirmação de nenhum, apenas o testemunho documental que foi feita na imediação do Rabaçal. O Mestre, deixou Ansião, depois de acabada a capela da Misericórdia em 1702 e de ter  instituído um Morgadio com  duas capelas aos seus limites, a sul e a norte , embora o padre que deixou a noticia, naõ foi muito explicito e até se enganou noutra observação para dizer não destacou o merecida atenção e o devia. O facto do Mestre ter falecido em 1704 sem paga ao seu administrador que vivia na Guarda, tenha sido reutilizada para o serviço público, para tarde coa extinção dos morgadios, o acabaria por vir a decretar,  o que apraz dizer e ainda acrescentar quando deixou Ansião a caminho do Santuário da Lapa em Viseu, onde veio a falecer, aqui se apeou para orar demoradamente e alegorizar  a sua obra!
Já passei na sua frente, mas não tirei foto, o alpendre é soberbo suportado por meias colunas.
Brutal graciosidade do seu púlpito exterior ex libris no concelho de Ansião
Encontrei  na Covilhã e Orca, Castelo Branco...mas devem haver mais 
Capela da Ribeira de Alcalamouque
Capela da Venda do Negro
A  capela nas várias reestruturações alvitra a dificuldade em  saber se o telheiro fazia parte, tudo aventa que sim, porque em locais de romagem as tinham para abrigo dos romeiros. O reboco não mostra se as paredes são de avental ou pedra normal.

Impressionante aldeia com parcelas de chão inculto para em brutal contraste enfestar a parede sul da capela couval galego, a tapar as janelas laterais a que se sobe por escadaria vulgar a tijolo a cimento, sem a preocupação aparente, em colidir com a estética da  antiga - a monumental !
Um verdadeiro atentado ao património histórico e cultural!
Em sensatez seria apologia, a fasquia de terreno vir a ser comprado ou doado com  honra atestada em lápide, além de mostrar a vaidade  merecida que se reveste o acto de filantropo a reflexão ao contexto do que deve ser a cultura e a preservação dos valores herdados no grande conhecimento aos demais essa grande visão  cultural que a cada dia se deve enaltecer mais.

A estalagem da Venda do Negro com o seu varandim telhado suportado por colunas
Referida em excerto pitoresto que vale a pena ler, retirado do Livro Notícias e Memórias Paroquiais  "Em maio de 1568 Segismondo Cavalli, passou nesta estrada cujo secretário Lunardo Otthobon escreveu " assaz duas láguas pedragosas que medeiam Alvaiázere e Ansião se encontravam "tres ou quatro tabernas desagradáveis" (hosterie scontentissime).Estaria certamente a referir-se a vendas, que Rafael Bluteua, no Vocábulo Portuguez, definiu como "taberna de estrada ou estalagem de campo". 
Bartolomé de Villalba y Estana, em 1575, teve a desdita de ir almoçar à Venda do Negro. A verrinosa descrição poética que escreveu sobre esta venda, bem pode ficar perpetuada na vasta literatura crítica europeia sobre a má qualidade das estalagens ibéricas.Esfomeado como estava, não lhe restou tentar melhor sorte do que ir dormir a uma estalagem de Alvaiázere. 
Na obra El Pelegrino Curioso celebrizou num poema satírico que aproveita a negritude do nome do estabelecimento para escurecer mordazmente esta "tan negra posada".
A la Venta del Negro hemos llegado
y negro el pan, y negros los manteles,
el caldo negro y el cabron chamuscado,
y negros de la guespeda aranbeles.
En negro punto aqui hemos llegado,
y más tener ventera cascabeles,
puerca, negra, suzia y torojada,librenos Dios de tan negra posada.

A minha simplista tradução
Há Venda do Negro havemos chegado 
E negro o pão, e negros os panos,
o caldo negro e a carne chamuscada,
E negros a santa companhia.
Neste ponto negro aqui havemos chegado,
E má cara cascavel do estalajadeiro,
Porca, negra, suja e desarrumada, livre-nos Deus de tão negra pousada.
Cortesia a partilha  de Anabela Mendes em Figueiras de S João
Esta casa  é de Maria Rosa Marques que a herdou de seu pai Adriano Marques.

Extraordinário alpendrado suportado por cimalha elegante suportado por cinco colunas facetadas com varandim rectilíneo aberto, janela de avental e pedra na lateral para a sardinheira. 
Não é usual ver esculpido na região o algarismo 7 desta forma artística, antes mais arcaico, que engana a lembrar um 1.
Cortesia da partilha de Fernando Mendes  em Torre de Vale de Todos
A casa foi de Albertino Freire, marido de uma senhora chamada Ilda, cuja filha foi para o Brasil. A data 1708, a pedra já não está no seu local (estava na fachada junto à estrada que se foi degradando). O "8" havia sido esculpido de forma mais retilínea ou seja um X a que "taparam" os topos...Alpendrado com cimalha de pedra suportado por 8 colunas , o varandim fechado por pedras de avental

Escampado de Santa Marta
Conheci esta bela casa em criança na romagem em véspera do Domingo de Ramos, com a comandita do Bairro de Santo António, onde se apanhava alecrim para o ramo.Recordo a janela de avental, ainda se percebe a graciosidade do caixilho minúsculo na portada de madeira amarela, tanto me fascinou pela pouca luz que deixaria entrar... Imagem que me acompanhou até hoje, a julgar como seria noutros tempos a vida das pessoas que aqui viveram, tinham de ser abastadas. Tenha sido nesta casa que foi instituída outra capela em Santa Marta, abordada nas MP, e dela não se acha rasto...
Voltei depois de muitos anos  para reviver as boas lembranças de criança deparei-me com o alpendre em derrocada, no pior triste,  tremi a foto...as colunas tinham desaparecido, disseram-me que o dono as tinha tirado, antes que as roubassem..O caminho da capela actual para aqui com o chão de grandes lages, numa delas havia uma Cruz incisa. Da penúltima vez  os entulhos e as ervas não se distinguia,  ainda assim a consegui localizar, porque sabia onde era,  não registei foto, porque não levei máquina , mais tarde voltei,  o caminho tinha sido roteado para Albarrol...Na frente da casa havia no caminho grandes pedras, como se fossem peças lego, acima e abaixo entaladas na terra, poderiam  ser  de um troço romano...
Caro Daniel Marques será que não podes tirar uma foto actual melhor que esta minha?
A que foi a Estalagem da Misericórdia do Alvorge  1709
Alvorge
Varanda de avental e colunas a suportar telheiro

Ameixieira
Balcão corrido por muro
Técnica mais barata com  janelo pequeno, traça ao estilo pobre
Falta conhecer  ao pé do cemitério o que resta do casario da família Serra, que foi do tempo dos primórdios da quinta da Ameixieira.
Lagarteira
Silvina Gomes
Eu conheço uma casa do mesmo estilo, com uma varanda de pedra,na Lagarteira, não sei a quem pertence atualmente,mas quando lá passo, gosto de ver a arte antiga, fica numa rua no interior, quem vai dá Fonte Carvalho, para cima, fica na segunda rua à direita, não sei o nome da rua, passo por aí muitas vezes quando estou na Ribeira do Açor, e vou visitar a minha cunhada Filomena Gomes.Aqui lhe envio as fotos das respectivas varandas, antigas, que tirei esta tarde na Lagarteira, são varandas de duas casas, próximas uma da outra, e uma janela de outra casa, também da mesma rua, que têm a data de 1440, a minha cunhada Filomena, acompanhou me, ela sabe a história de algumas casas, ela nasceu e cresceu,e casou,na Lagarteira,e vive ali ao lado,eu não conheço a história,eu nasci e cresci na freguesia de Ansião!eu não sou uma boa fotografa,mas procurei fazer o melhor que pude em algumas o sol estava a dar-me na cara,e não consegui fazer melhor, fico feliz por contribuir para ajudar a encontrar um pouco da História do concelho da nossa terra Ansião,do qual sou uma fã incondicional.
Eu é que agradeço a extraordinária partilha. Bem haja.
Janela  com lintel de  1440
Balcão alpendrado com varanda de janelas de avental
Outra casa de janela de avental e balcão com telheiro alpendrado por colunas  perdars de avental em rodapé.
 Outra casa de balcão alpendrado com janelas de avental

 Lagarteira
Casa  que fotografei perto da igreja a requalificação retirou-lhe a traça  ancestral. A bungabília é antiquíssima, a espécie que mais aguenta qualquer agrura, não permite visualizar o balcão.







Netos
Casa de 1716, em derrocada.
Lajeado com  telheiro suportado por colunas.
                     
NETOS o agora em junho  de 2020
Colunas  retiradas por segurança em 2015. Estão guardadas.

 Sustentaram a cimento a quina da parede para não se perder a Cruz em pedra

 O avental da janela muito partido...
Ansião
Solar da Quinta das Lagoas, de todas a  varanda mais  grandiosa
                       
                          
                                                

Lintel com a data 1874, sem se saber se a varanda é mais antiga, mas não deslindei outra data

                       

Constantina
Casa da família Vaz no tardoz da capela de Nossa Senhora da Paz 

Ansião
Tardoz do solar mandado construir por Luís de Mello, o Engº Miguel Portela descobriu a adjudicação da obra aos canteiros, mas na minha opinião era a casa para Pascoal Mello Freire dos Reis, na Rua Oliveira Salazar
Hoje de dois proprietários distintos.O muro é alto, no meu tempo foi ali feita uma pequena casa à multa de noite...o que se dizia, em chão alheio, mas como sou curiosa ainda assim deslindei, um pouco da varanda, afinal cantaria na continuação da escadaria interior do Clube dos Caçadores.
A nova chaminé tira o brilho à varanda.

Cortesia de Américo Cardoso


Alvorge
Varandim num solar com  reutilização  das colunas que foram  do solar dos Carneiro Figueiredo
Falta o registo de uma foto de sul para norte que se visualize a varanda noutra perspectiva, quem puder partilhar agradeço.
Cabeça Redonda 
Cortesia e partilha de Daniela Marques
A casa foi do engenheiro da Quinta de Cima de Chão de Couce, hoje pertence ao meu pai José Marques.
                                               
 Data emoldurada de 1739
Além da Ponte, Ansião
Solar do Moinho d' Além da Ponte em requalificação,  a metros foi o seu Moinho com Capela de 1696.
Tenha sido neste solar que viveu  Dom José Casimiro de Mascarenhas Velasques Sarmento e de Alarcão e Dona Maria Delfina de Lima ? 
A casa pertence a uma amiga minha de infância. Confesso quando fiquei em pânico quando aqui cheguei e dei conta da ampliação, sem perceber a imensidade descomunal de área habitável e sua  questionável valia...
As colunas do telheiro em formato redondo, não habitual, assim semelhantes, apenas na Capela da Constantina, em  levantar outra questão - o serão dessa época, ou não e, foram reutilizadas de um habitat romano em Além da Ponte,  classificado em 2010.
Não deslindei brasão.A  família nobre com origem no  Espinhal, devia ter tido.
Virei a foto porque o lintel foi reutilizado 1790 ?
Lintel com a data de 1676?
Aldeia desertificada dos Matos, Ansião
As duas primeiras fotos da família "Mendes Simões " enviadas pela  sua descendente Adelaide a quem se agradece a cortesia . 
As fotos tiradas na varanda de balcão da casa aos MATOS onde viveram os seus avós e os pais Com vizinhos que viviam mais abaixo, meu pai, e o primo Álvaro.
A casa foi de uma família abastada que aqui viveu e  teve um filho, o  Padre Manuel Jorge, a quem fizeram a capela de S Mateus, porque não teve paróquia. A casa data dos primórdios de 1700, a capela ostenta a data de 1740 e quando foi instituída por esta família do padre Jorge ele já contava 28 anos, o que equivale a dizer que nasceu em 1712.
Fotos actuais em derrocada. 

A varanda era toda aberta e no século XX foi acrescentada  por tabuado e depois por cimento

Ribeira de Alcalamouque
Casa de balcão telhado com varanda de avental
Faz parte das memórias de muitos de camioneta ou de carro para Coimbra, teria sido uma estalagem?
Avelar
A grande reflexão de um homem com paixão pela sua terra, e todas as vilas se deveriam orgulhar de assim ter alguém , deixo-vos com as palavras sábias do meu bom amigo do Avelar Raul Manuel Coelho « Num tempo em que se ouve falar de Programas de preservação dos centros históricos, voltamos, aqui, a este tema. A existência de dinheiro, no passado, serviu mais para destruir do que para recuperar. Que o presente nos traga melhor sorte. Em nossa opinião, o essencial do centro histórico da Vila de Avelar está perdido, pouco resta além do Pelourinho arredado. Destruíram-se as casas antigas, construiu-se em altura, descaracterizaram-se as fachadas, alcatroaram-se os pavimentos, ignorou-se o pódio e as ruínas da Igreja antiga, local sagrado, onde os nossos antepassados vivenciaram a sua espiritualidade, tomaram sacramentos, e se fizeram sepultar, e onde há poucos anos se construiu... mais um edifício.
Quem aqui passa, dificilmente dirá que este local foi o centro de uma Vila sede de Concelho ao longo de muitos séculos, e a centralidade de uma comunidade popular milenar. A este Espaço não foi dada a possibilidade de reflectir e testemunhar, condignamente, a história e a cultura deste Povo.
Veja-se, por exemplo, esta casa, uma das últimas a resistir no Centro Histórico; já em estado assinalável de Ruína. Não sei de quem é, mas, ainda lá está, agonizando, “empurrada” por um prédio. Seria, talvez, um bom local para ali se instalar um Posto de Cultura.
A sua configuração inspira a pensar na Casa da Câmara, que, com toda a certeza por aqui existiu, simbolizando e representando solenemente o poder popular, tal como o Grande Carvalho, dos quais alguns documentos nos falam.Já nem falo em se averiguar vestígios arqueológicos no local, nomeadamente Romanos dado que, parece-me, há algumas pistas que poderão apontar nesse sentido. O centro moderno da localidade, com a construção da nova Igreja (datada de 1767, mas só terminada meio século depois) e do Hospital, no final do século XIX, passou para o Terreiro da Guia. O Avelar crescia. Pena foi que se tivesse desprezado o Centro da Vila Antiga. Bom será, no possível, que se lhe dê a dignidade que merece (mos).»
Ansião, Moinho das Moutas
Varanda fechada com janelas de avental no gaveto para o tardoz sem visão da escadaria
Resultado de imagem para ansião moinhos das moitas a saõ tojo
Moinho das Moutas
Em derrocada, uma tradicional casa de traça judaica sem se saber como era o balcão, apenas resiste a escada...Por dentro resta parte de uma coluna em redondo
Resultado de imagem para ansião o moinhos das moitas
Resultado de imagem para ansião o moinhos das moitas
Loureiros
Casa de família abastada de apelido Freire que emigrou para o Brasil
O  telheiro teria ruído no século XX  quando foi adoçada a casa a sul. A chover, não parei. O  balcão com as colunas de madeira a suportar o telheiro, a sensação que retirei, serem em madeira, portanto uma modificação infeliz do que teria sido no passado, a casa no tardoz revela a sua antiguidade.

O que ainda falta ?
A casa da Quinta da Bica, na Sarzedela, julgo em vias de  requalificação. Pelo que oiço da minha mãe tinha uma varanda com morangeiros pendurados em 1950. A necessidade de registar foto antes .

No Freixo, segundo um comentário existe outra.

E de outras que porventura ainda apareçam.

Pussos, Alvaiázere
Em setembro de 2016 fotografei a segunda que conheci, no mês anterior tinha fotografado a varanda da quinta das Lagoas
 
Cortesia de Henrique Dias com o total da frontaria


Espinhal
Descobri esta capela em 2015 com galilé  com 8 colunas em pedra 



Fontes 
Livro de Memórias Paroquiais de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes

quinta-feira, 14 de maio de 2020

O quintal do compadre na Lagoa da Ameixieira , em Ansião

Papoila e o jarro silvestre descascado das folhas revela na sabedoria ancestral como serão as colheitas, debalde já ninguém se lembra desse ditado...
A maravilha da pedra seca na paisagem
Das eiras, casas e muros, salpicada pelas oliveiras e o cultivo do quintal de minifúndio, o sustento do ano as batatas e couve galega, a tranca da barriga em tempos de antanho.

Será um marco de uma propriedade ancestral
Talvez da quinta da Ameixieira com a herdade de Ansião (?) apresenta uma inscrição que não consegui decifrar pelos líquenes, a fazer de ombreira a uma courela junto da Lagoa da Ameixieira.
 
Lages enormes, como foi possível serem colocadas em cima do muro...

sexta-feira, 1 de maio de 2020

O ritual de celebrar as Maias em Ansião!

O primeiro de Maio desde sempre muito respeitado pelos cristãos, foi  durante anos considerado Dia Santo de Guarda. Depois do 25 de abril é feriado, a celebrar o  Dia do Trabalhador. 
O ritual das Maias acontece no primeiro de Maio, com Cruzes feitas de flores campestres  espetadas nas sementeiras e outras colocadas  nas portas dos currais. No meu tempo eram deixadas de véspera, a 30 de abril, para a grande celebração se iniciar ao amanhecer do primeiro de Maio. A caminho da  Missa distinguia as flores, as maias, dispostas em forma de Cruz, na tramela dos currais e nos terrenos arados, ao Ribeiro da Vide, grandes  Cruzes feitas com flores ali senhoras e rainhas em campo semeado, sem ainda germinar . Também  havia a simbologia da Maia - um espantalho, nada mais que um boneco ou boneca feito de palha de centeio vestido com roupas velhas, para afugentar os pássaros e melros das sementeiras , porque da moléstia do pulgão, não havia remédio senão voltar a semear... Havia quem fazia as Cruzes com parte do Ramo benzido em Domingo de Ramos, a que juntavam outras flores;  Madresilva, lírios e jarros para abençoar as boas colheitas do  milho e do feijão. O ritual encontra-se aos dias d'hoje desvirtuado com a Cruz a ser colocada em Dia de Páscoa à porta de casa - sem as Maias - a flor tradicional do ritual, por florescer mais tarde. Em sua substituição usam outras flores em amarelo, porque a cor tem de ser mantida. Em pleno séc. XXI, a evolução normal no ritual ainda assim imbuído no mesmo espírito.

Fotos retiradas do goole
As flores não são maias, e sim giestas
A minha escolha de dois exemplares da pagina facebook de amigos de Ansião 
Dra Teresa Fernandes 
A Cruz com jarros , hera , trepadeira branca e alecrim e oliveira 
Isilda Simões de Ansião
Cruz  de jarros e um estrelícia engalanada de fita de seda, mote para pintor fazer uma tela!
A minha Cruz
Vivo a maior parte do tempo num andar. Por isso a  minha Cruz tem um significado especial, é perene, feita pelo meu marido em  madeira com o Cristo uma vida guardado num  envelope na gaveta de uma mesinha de cabeceira da sua avó Rosa da Mouta Redonda. Depois de limpo o  engalanei  à moda do Minho. Faz parte de um dos meus três  oratórios.
Não me recordo de ver danças nem cantares neste primeiro dia de Maio. Todas estas demonstrações do ritual abarcam um único objectivo - celebrar "As Maias" na boca dos mais antigos afastava o diabo encapuçado de mau olhado, quem traz a desgraça, a doença e a fraca colheita para encher o celeiro  e se suprirem no inverno, então  personificado com alcunhas "O Carrapato", "O Maio", "O Burro" . O burro associado às castanhas «Quem não come castanhas no 1º de Maio, monta-o o burro». A região de Ansião foi inicialmente povoada por celtas, nórdicos, moçárabes vindos da Galiza, Minho e Trás os Montes,  trouxeram a  tradição da castanha  para a  Lousã que se estendeu à serra de Nexebra, Pousaflores e em Ansião, recordo um enorme castanheiro, no Pinhal, na beira da que foi a estrada real. Nos meados do século XX uma moléstia dizimou os castanheiras da Nexebra , mas em Pousaflores perdurou o topónimo  Chousa , nome transmontano dado a  buracas feitas  junto aos pés dos castanheiros onde se guardavam as castanhas tapadas com folhas para durarem até ao dia das Maias, onde eram finalmente comidas. Ritual ancestral celta ainda vivo num misto cristão e pagão. Segundo a tradição, Maio é o mês dos burros ...Para afastar a moléstia aos animais, então a sua  maior riqueza, os leitões e os bois, para os livrar da esfoira e outras doenças obra do diabo... Nada mais que resulto da incultura e do atraso no País, tanto ontem como hoje o mesmo dilema de bactérias, vírus , viroses e várias gripes que atacam o homem e animais .Sem nada saberem continuavam a dar ênfase à tradição ancestral  herdada dos seus antepassados no intuito de afastar os malefícios do diabo, no seu julgar ingénuo, o ritual na pretensa em proteger as suas maiores riquezas- os animais e as sementeiras, para os livrar de um ano de fome. 
O primeiro de Maio celebrizado por deus Maius , ou o deus da Primavera e ainda de Maia, mãe de Mercúrio com reminiscências da herança romana das celebrações em honra de Flora, a deusa das flores e da juventude (mãe da Primavera), no novo ano agrícola na Roma antiga, atingiam o ponto alto nos três primeiros dias de Maio. Por isso no dia 3 de maio era celebrado o dia de Vera Cruz , da descoberta do Brasil. Também o dia das Maias era lembrado a fuga de Jesus para o Egipto."Herodes soube que a Sagrada Família, na sua fuga para o Egipto, pernoitaria numa certa aldeia. Para garantir que conseguiria eliminar o Menino Jesus, Herodes dispunha-se a mandar matar todas as crianças. Perante a possibilidade de um tão significativo morticínio, foi informado, por um outro "Judas", que tal poderia ser evitado, bastando para isso, que ele próprio colocasse um ramo de giesta florida na casa onde se encontrava a Sagrada Família, constituindo um sinal para que os soldados a procurassem e consumassem o crime... A proposta do "Judas" foi aceite e Herodes tratou de mandar os seus soldados à procura da tal casa. Qual não foi o espanto dos soldados quando, na manhã seguinte, encontraram todas as casas da aldeia com ramos de maias floridas nas portas, gorando-se, assim, a possibilidade do Menino Jesus, ser morto."
A mística do ritual profano e pagão  foi proibida várias vezes em Lisboa no ano de 1402, por Carta Régia de 14 de Agosto, onde se determinava aos Juízes e à Câmara "que impusessem as maiores penalidades a quem cantasse Maias ou Janeiras e outras coisas contra a lei de Deus...". 

O ritual  das Maias de raiz profana/pagã, da herança romana e celta , ainda vivo em muitas partes de Portugal, onde Ansião não é excepção. 

Em 2019 a Santa Casa da Misericórdia de Ansião revitalizou o ritual das Maias
Presenteou o público com magníficos exemplares -  fantásticos e desafiadores carregados de muita imaginação e criatividade.A exposição esteve patente no Jardim  da Vide, a rivalizar a falta de estátuas em Ansião e que bem,  naquele contexto histórico de antigo baldio e feira quinzenal do gado  ganhou novo espaço requalificado,  pese não ter sido idealizado ao jus de La fabrique de jardin- com pedras antigas no seu embelezamento ( por onde andarão os despojos de demolições de pedras antigas, do portal gótico do Vale Mosteiro e dos arcos de volta perfeita, apenas sei  do estaleiro das pedras do hospital...)
A Santa Casa da Misericórdia de Ansião  fez-se representar  no stand das Festas do Povo em agosto do ano passado, em instantes o stock dos  delicados e graciosos souvenir de íman com os mini espantalhos, foram vendidos. Na passagem da comitiva do cerimonial da abertura das festas, sem porta moedas, não cabia na pochete, voltaria  após o jantar, debalde só  restavam  parcas peças e a simpatia e franco acolhimento das suas anfitriãs ...por isso nem fotos tenho!
Brutal sucesso desta iniciativa em artes plásticas de elevada estética e confecção, ninguém fazia melhor tanta obra de arte, a merecer louvor, só possível pelo muito querer que a equipa teimou colocar em topo e, ainda armada de espírito comunitário  empenhada em sistema empowerment  a dar mote a  levantar uma tradição, quase perdida em Ansião, só por isso, tanto deve orgulhar novos e mais velhos,  agora renascida das cinzas qual Fénix em  ribalta, para não mais se perder, ao apelo do que foi o  nosso passado. Iniciativa de âmbito cultural de extraordinária importância ao avivar os valores herdados, em vias de  extinção, pelo progresso e globalização,  na pretensa os evocar, ao se afirmar no contínuo Compromisso a SCM de Ansião, valorizou um ritual e o enriqueceu com mãos de utentes, os que quiseram ajudar, se sentindo úteis a recordar outros tempos e suas emoções. Grande lição a retirar desta Provedoria a dar passos largos ao progresso e inovação  liderada pela Dra Teresa Fernandes, sua coadjuvante, a minha irmã Mena, directora e demais staf da direção e colaboradores, equipa imbuída neste desafio com tanta dedicação no seio da comunidade da Instituição concretizando um projecto de sucesso, afinal veio a granjear tamanha  admiração a todos.
Em  Ansião, empresa  inédita a dar palmarés à CULTURA  em se afirmar quer no concelho quer se mostrar ao Mundo onde chega pelas novas tecnologias e imprensa.
Resta-me formular PARABÉNS a todos os que contribuíram para concretizar tão grande e gratificante objectivo onde imperou sapiência ao envolver a equipa para  se distinguir  em excelência o alto resultado, além de coesa, organizada, motivada e feliz com produção de excelsa qualidade, sem quaisquer conflitos, aos dias d'hoje raro, para invocar a capacidade de licença  de craveira e  excelência, a premiar!
Slogan da SCM de Ansião
 "Não contes os dias, faz com que cada dia conte!"
Os maios
A simbologia da flor do girassol a rivalizar na cor as maias em agosto...
O site da Santa Casa da Misericórdia tem muitas fotos das suas obras de arte
Tarde de expressão plástica na Santa Casa da Misericórdia de Ansião

Os girassóis no quintal da minha mãe

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