sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Residencial universitária do Campus da Univ. Nova no Monte de Caparica

Caminhada ao talvegue com partida ao casario quinta da Torre, com 500 anos, no Monte de Caparica, pertença de nobres de apelido Alarcão, com ligação ao Espinhal, Penela.

Reparei que entre a berma da estrada e os muros nasce inusitado faval ao sol poente e do outro lado da escada abertas covas à espera de coval.

Sondado o local que nos parecia óbvio para vir a conhecer a torre de S. Sebastião, forte, ou torre velha, baluarte que defendeu o Tejo, com a torre de Belém. Bem antes, já antes andamos pela azinhaga da Torrinha, seguindo a vedação do Campus da Universidade Nova, até onde termina num barracão que serve de oficina de automóveis e na encosta do talvegue se mostra possível entrar, mas, nessa altura estava atulhada de lixo e não avançamos. 

Assim, entramos no perímetro da residência universitária, falamos com o segurança que nos esclareceu, ser pertença do Estado, por isso pública, podendo usufruir do circuito de manutenção e desfrutar do miradouro . 

Seguimos o trilho avistando a abundância de aroeiras, e canavial, autóctones, com plantio de cedros e pinheiros Alepo, salpico de pinheiro manso.

Grande mancha de aroeiras que fecham em cúpulas

Impressionante ao tentar enxergar o talvegue do Raposo, explorado uns dias antes, para na verdade apenas enxergar a crista, do que se lhe segue de Alfazina, pelos barracões da quinta de Monte Abraão, o que revela a grandeza e dimensão dos vales profundos e dos seus costados, barrigas e falésias na real condição medonha e abismal, pese em local altaneiro a poente.



O emaranhado de uma figueira, só por aqui na região existem assim quebradas de ramos entrelaçados
Daqui a poucos anos as vistas perdem-se. A aposta de plantio de pinheiro não foi equacionada...

Na arriba uma pequena gruta

Grande pinheira , monumental, a fechar a arriba, ao miradouro, onde se avista a volumetria sul do Lasareto ou Asilo 28 de Maio, em promontório mais baixo com a torre para a esquerda, que não se visualiza pelas copas das pinheiras novas que estão a fechar a bela paisagem, e se possa afirmar foram má aposta ali o seu plantio. A partir dali para norte pareceu- nos difícil continuar pelos perigos iminentes da floresta cerrada sem carreiros e perigos iminentes ao desconhecido.

O que ainda se enxerga para norte

Para nascente
                             
Euzinha sem peneiras em cima da pinheira...
Avistei a volumetria a sul do Lazareto
De volta avistamos a poente o que resta de um portal, possivelmente o do acesso à torre, que dista menos de 1 km.O problema é que não existe carreiro e de perigo quiçá imensurável.
A quinta famosa, onde se vai de helicóptero para degustar sushi , ou ia até há pouco tempo, agora fazem criação de cavalos.

A vista só possível pelo devaste para desimpedir os postes de alta tensão
Já na estrada da Azinhaga da Torrinha a quinta do Castelo Picão
Quase ao fundo da vedação do Campus da U Nova a vista sobre Lisboa e o Tejo.

Revisto o painel azulejar quase totalmente degradado pela erosão, o tempo não perdoa.
O Santo, segura na mão uma torre, talvez a que existiu neste talvegue e deu o nome à quinta da Torrinha

Vista sobre o talvegue a nascente

                 

                  

Na descida da azinhaga a caminho da Fonte Santa, à direita, verificamos que a entrada sobre a arriba estava limpa com carreiro feito e sem favor entramos, debalde, ao fundo o chão todo alquevado, nem sei como o trator entrou ali, outro remédio não tive que saltar pelos montes de argila ainda moles da chuva...

                  

Porto Brandão

Lisboa

O Lazareto Novo

Foi fundado para o controlo de pestes e doenças dos viajantes chegados por mar que ali ficavam em quarentena, e só depois podiam seguir para o destino. Claro, que houve alguns com dinheiro fugiam ao ritual ao mudar de indumentária ...

  Quem morria ali ficava no próprio cemitério cujo muro se enxerga ao fundo depois do alqueva da terra.


O perímetro do Lazareto encontra-se todo vedado. A nova dona, uma multimilionária, julgo japonesa, pretende aqui instalar uma unidade hoteleira de luxo, e tem intenção de comprar mais hectares na sua abrangência ao Estado...

No dia seguinte de Belém apanhei o barco para a Trafaria, mas a hora do cair da tarde e das sombras não foi o ideal para fotografar. Como se enxerga a frente ribeirinha foi escandalosamente vendida a empresas!






Torre ou forte de S. Sebastião


Atualmente a forma mais fácil de conhecer a torre será seguir pela margem ribeirinha, mas temos o mesmo problema de ser privada. Se o monumento é público devia ter acessibilidade.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Tempos difíceis

Terrível corona vírus! Quantos já sofreram e não resistiram? Outros saturados com familiares no desemprego, prejuízos no comércio, restauração e a falta de turismo? A TAP com aviões em terra e, na cultura quantos sem trabalho? Vive-se a contingência de medidas drásticas de pouca liberdade, por cá e pelo mundo a obrigação de máscara à laia de açaime. Bem pior fazer dos afetos reféns com as perdas de beijos e abraços!

Há quem se lembre de ouvir falar de epidemias; a pneumónica em 1918, a gripe espanhola na década de 50, mas agora é diferente. Resta a esperança da sua erradicação com as vacinas. Já repor o que foi a normalidade, aguarda sem palpite!

E o Natal? Atípico. Diferente do habitual.   Para mim foi e será sempre Ansião.Mesmo que este ano não possa por outros imprevistos familiares, ali estarei sempre imbuída em espírito. Graças ao aconchego familiar, lareira e o fumegar do comer à moda da terra  que saboreei na Lagoa da Ameixieira,  na casa da D Helena Duarte Silva, falecida este mês, dia 5. Grande consternação e quanta saudade. A D Helena teve uma vida cheia de vitalidade e de extraordinária franca energia, bem disposta, alegre, simpática , amiga do seu amigo, com gosto de dar e receber fosse à família ou a amigos. Do seu alto e belo semblante, ao apelo dos genes da família - Duarte, ficou-me o seu belo e doce olhar esverdeado, contadora de estórias, a quem devo ajuda em mais enxergar sobre o passado de Ansião, do apelido Reis, da Ameixieira. Recordo os últimos Natais na visita à sua casa, sempre com a lareira a crepitar, onde jamais faltava a boa sopa de pedra, tão bem a sabia fazer como mais ninguém, ou de caldo verde. A mesma mão nos assados, cachola e nos doces, tanta variedade, sem faltar o pão cozido na sua fornalha caseira. Ainda quente o fazia chegar a minha casa. E o famoso Pão de Ló, com dosagem à antiga - 8 ovos, 8 colheres cheias de farinha e o dobro rasas de açúcar. Senhora admirável, o conhecimento veio através do meu genro Samuel, por ser a sua avó materna. Sempre me distinguiu no trato afável de rasgado carinho e amizade, com boas recordações, fica a muita saudade que deixa no meu coração. Um exemplo de Matriarca - a mãe que todos gostavam de ter- o quanto adorava ver a família reunida. Confessou-me não ter medo da morte, o que lhe custava era deixar de ver crescer netos e de nascerem bisnetos, sempre a pensar na forma de também os vir a proteger na sua áurea de coragem e valentia. Recordo a última vez que a vi em novembro, o Vicente fez-lhe um desenho que lhe ofereceu e a deixou emocionada...A D Helena já pagou a sua fatura nesta vida, resta a cada um de nós exaltar - Paz à sua alma, e acreditar que se encontra nesta hora ao lado de Deus, de quem era ferverosa devota em companhia de todos os irmãos e pais, na esperança um dia todos nos voltaremos a juntar. A chuva de hoje seja sinonimo de lágrimas pela alta perda na esperança do sol abrir para o adeus , que bem o merece, por tudo o que fez em vida, uma lição a muitas mulheres. E sobretudo de honrar as tradições gastronómicas de Ansião. Até sempre querida amiga D Helena, para mim foi tanto ou mais que uma das minhas avós, seja por isso jamais esquecida, antes jubilada pelo seu elevado legado e fibra de gente de boa estirpe, a elevar o meu horizonte!

O comer à moda da terra, é uma sopa grossa com carnes de porco e enchidos - tradição gastronómica introduzida pelos nossos avoengos nas safras sazonais; vindimas e apanha de azeitona no Ribatejo. Guardo a arca que foi da minha sogra que levou ao Ribatejo, é dividida, na parte maior ia a roupa, e na outra o "feijão da velha" , carnes da salgadeira, fumeiro, batatas, massa meada, a bacia de faiança e a colher. Repasto ancestral de substância - sopa forte, enérgica, ao jus tranca da barriga com as novidades do que havia na horta; nabo, abóbora, hoje cenoura, couve-galega e lombardo.

Por volta de 1957 uma taberna em Almeirim serve-a como sopa de carnes. Quiçá foi aposta mais tardia o refogado e coentros com o rótulo Sopa da Pedra fazendo alusão à lenda de um monge... Afoitos, os Ribatejanos,  a vieram a certificar este ano. Porém, a raiz genuína da sopa de carnes, ou comer à moda da terra, é ancestral de Ansião e concelhos limítrofes; o “feijão da velha” cresce com o milho e na ciranda é peneirado com pedrinhas desagregadas do eirado, ao serem mal enxergadas vão aparecer na sopa, ainda acontece em produção de cariz familiar, se não estou atenta de vez em quando ainda as encontro.

A alma das tradições do nosso povo é dever e orgulho valorizar porque trata-se de Património Imaterial. Alegadamente foi deixado usurpar por falta de aposta na cultura, quando é imperioso a deixar aos vindouros. Saramago, aborda a tensão dos trabalhadores locais com os beirões Sujeitam-se a ganhar menos, vêm aqui fazer-nos mal, voltem para a vossa terra, ratinhos. Dizem os do norte - Na nossa terra não há trabalho, não nos chamem ratinhos, que é ofensa. Diziam os do sul, São ratinhos, são ratos, vêm aqui para roer o nosso pão…” O Nobel Saramago, desprestigiou sem dó nem piedade o valor meritório dos beirões, obstinados desde sempre a qualquer trabalho, aventureiros, sem medo de dar o corpo ao manifesto perante o desdém dos demais, por cá e pelo mundo. Sensato seria duvidar e mais ter investigado!

O meu Natal em Ansião? Firme nas tradições das minhas avós – Maria da Luz Ferreira da Mouta Redonda, Pousaflores e de Piedade da Cruz da vila de Ansião. Bôla de carnes. Bacalhau; couves asa de cântaro, azeite novo, azeitonas de travo a erva de Santa Maria, broa de mistura, queijo Rabaçal, fêveras, morcelas e leitão. Doces; Veloz de abóbora, Filhós de laranja e aguardente que tendia no joelho, Sonhos, Formigos com as sobras do Bolo de Noiva, passas, nozes e mel, Pão-de-Ló húmido, Torta de laranja e da minha lavra o  que me aprouver inventar!

A melhor prenda este ano no sapatinho? Livre-nos Deus do vírus com saúde para todos. A derradeira esperança que melhores dias virão para todos nós.

A fechar mais um ano, formulo votos de excelente Festa Natalícia a toda a Direção do Jornal Serras de Ansião, extensiva a todos os seus estimados colaboradores e leitores, na ânsia maior que o Ano Novo, venha a ser bem melhor para Todos!

 

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