domingo, 14 de novembro de 2021

Credenciar a morada da família Soares Barbosa de Ansião

Crónica com excerto publicado no Jornal Serras de Ansião

O pioneiro a falar sobre filhos desta família: António e Jeronymo, foi o Padre José Coutinho, no livro de 1986, seguiu-se em 2002, o livro  dos Ilustres Ansianenses do Dr. Manuel Dias. Em 2013, o Eng.º Ricardo Charters d'Azevedo, sobrinho neto, do único filho conhecido com descendência, o médico Dr. Luís Soares Barbosa publicou – Os Soares Barbosa () Não sou historiador, já que a “ História requer mais engenho, mais fineza de juízo e força de discernimento”, como afirma Frei Domingos Vieira. Perdoe-me contestar, já que o autodidata Alexandre Herculano foi um dos maiores historiadores...

O livro Os Soares Barbosa

O seu autor, foi de longe de todos, o que mais se apresentou abrangente, porém, abaixo da expectativa ao não avançar teoria sobre a origem de onde aportaram os seus avoengos , nem da quinta e solar onde viveram em Ansião. Não se acham memórias narradas, de nenhum dos 7 filhos. Assim, a confrontar esta temática com investigadores e historiadores certificados, permito-me sair da base de conforto com teimosia bastante, ao tomar informações disponíveis na internet, nem sempre de matéria conclusiva, a que acrescentei memorias dos locais para correlacionar informação lacunar e, ainda levantar questões pertinentes. Na certeza, de mais se questionar sobre este passado ainda obscuro, contudo sem veleidade amadora, pese embora possa errar, não descuido temáticas para mais tarde ao redescobrir outra clareza, logo emendar. Assim, tem sido o meu estar neste despertar a narrar historia sobre o concelho de Ansião, prazer apaixonante de partilha, pese de história incompleta, porque ela própria, a história, se revela de poucas certezas com muito por desbravar, e seja esse o meu grande fascínio!

                                                 

Deslindar mais sobre o apelido Soares 
Significa “filho do protetor dos suínos”, “filho do exército sul” ou “aquele que tem cabelos avermelhados”. No passado de Ansião, em séculos, foi  vivo o conceito de criar suínos em montado de bolota, que se revê no Foral Manuelino (...) Os montados de Ansião eram frequentados por porcos provenientes de outros espaços, nomeadamente Coimbra, nos séculos XVI e XVII. Cfr: António de Oliveira, ob. cit., vol. I, pp. 98 e 127.  Como noutro artigo do autor Engº Charters d'Azevedo (...) por volta de 1630 um contratador de sabão se instalou em Ansião, por queimar muita lenha de carvalho, os arrendatários  fizeram queixa ao Mosteiro de Santa Cruz, pois não tinham bolota para alimentar os suínos e pagar os foros.  
Temos a descrição nas Memórias Paroquiais  sobre o Padre Domingos Álvares da Paz Noronha da Quinta das Lagoas, Ansião - O Padre tem sido algo teimoso, com que inquieta o povo da Sarzedela e em especial do dito Lugar Lagoas, por não querer que dêem uso ao costume tão antigo que não há memória em trazer os seus bácoros (porcos) abertos nos campos, para os vexar mandou semear um baldio incapaz de dar novidade para ter ocasião de os incomodar, os ditos gados, e também tendo algumas fazendas bem tapadas na forma de muros conforme uso nesta Freguesia, tem muitas vezes mandado alargar portais para o dito fim, e funda a sua teima em dizer que quer uma Capela feita com muita perfeição assim se conserve por fora, como está por dentro, e andando os dois gados abertos se esfregam nas paredes e as sujam; e desta sorte está aquele pobre povo em termos de não criar gados de que lhe resulta um grande inconveniente, e já há anos lhes costumava atirar a espingardear, o que ainda fez há 3 anos, naquele tempo o admoestei que não podia fazer tal, e se emendou, agora nesta teima 3 vezes lhe tenho falado nunca quis ceder, e na última que foi no dia de Corpo de Deus, lhe cheguei, a dizer que ele fazia aquilo só para vexar aquele pobre povo, ao que me respondeu suponhamos que sim, ponhamos que não. Finalmente é muito rico, e quer que todos lhe guardem respeito, pois tem a suas presunções de fidalgo.

A criação de suínos ao ar livre durou até meados do século XX
Pela abundância de carvalhal e da profissão de tomador de porcos. Do último, pelo menos do que aqui aportou  vindo de uma aldeia remota de Gouveia e ficou rico, chamava-se António Prudente de Oliveira,  na voz do povo se ouvia "tomava conta de porcos, enriqueceu ao passar  a perna ao patrão..."  que se ouvia na vila de Ansião e na Ribeira do Açor, como ainda sobre um dos seus filhos que fazia cigarros de notas de 500. Atendendo ao chão vendido a um familiar do meu pai, Alfredo da Lagarteira , seja verossímil  que foi foi tratador de porcos na extinta quinta dos Sequeiras, na Ribeira do Açor. Como adquiriu vasto casario na vila . Havia de ser distinguido em versos  de teor sarcástico numa récita dos anos 40, do séc. XX, feita em homenagem a comerciantes da vila de Ansião:
 Comerciante afinado  lá de cima da Beira 
Também tem o seu pecado, também tem o seu pecado 
O Prudente do Oliveira, tem dinheirinho de sobra...
Já sobre o significado de cabelos avermelhados, hoje diria-se ruivos, apela a genes celtas. E sim, ainda persistem na região. Sobre estes genes alguém falou em alegada desabonação, pelo perfil mais agressivo, sem limites e usurpador...mas, com tanta mistura em gerações, alguns se destacam  assim e outros afincados ...

No excerto de https://www.dicionariodenomesproprios.com.br  diz-nos sobre  Soares, é um sobrenome classificado como patronímico de origem portuguesa e espanhola, sendo baseado no nome próprio Soeiro, que por sua vez vem do latim suarius, que significa “pastor de suínos”. Provavelmente, os descendentes de um homem chamado Soeiro utilizaram este nome como sobrenome, sendo alterado ao longo dos anos até a versão atual Soares. Na Idade Média, principalmente em Portugal, a criação de porcos era uma atividade muito importante, sendo que o poder económico das famílias eram quantificados pelo número de suínos que criavam .

Na verdade o apelido "Soares" aparece em «1169 com Maria Soares mulher de Paio de Sandia venderam ao MSCC a herdade que tinham em Ladeia no Rabaçal que a tinham adquirido no tempo de presúria de Fernão Cativo»

Naquele tempo a Ladeia e o Rabaçal pertencia a Ansião.



Na toponímia Casal Soeiro
Nos contrafortes a poente da serra da Ameixieira, onde passa a Rota do caminho de Santiago de Compostela, na que foi uma via romana secundária,  que estava desativada e  após a construção da Ponte da Cal em 1648 foi reativado o troço vindo das Lagoas sendo fundamental para se vir instalar o novo burgo de Ansião, onde ainda se localiza, com a construção da nova igreja em 1593, cuja via  lhe passava pela frontaria da quinta da Fonte.
 
O apelido Soares ainda é vivo na região
Pode descender de duas filhas que sobre elas  nada sabemos. Ou freiras ou casaram, para ter descendência, ainda não sabemos. Recentemente faleceu a filha do Sr. Fernando Santos que era das Lagoas, julgo tinha o apelido Soares.
Segundo o  Henrique Dias das Cinco Vilas
(...) Ana Balbina da Costa Soares nasceu em Maçãs de Dona Maria em 1820 e era um dos seis filhos de Manuel da Costa Soares, o Farmacêutico de Maçãs . Esta Ana foi casada com um irmão do célebre Dr. Costa Simões, e era trisneta de Helena Soares, uma senhora que viveu nesta Vila de Maçãs em pleno séc. XVII.
Segundo António Pais
(...) Em Avelar também vive o sr. João Soares»
Segundo Filomena Freire 
(...) eu sou Barbosa da parte do meu avô do lado da minha mãe que eram dos lados de Avintes.E sou Coelho, por parte de pai que nasceu na Rascoia, sou prima direita do Raul Coelho. E tenho Freire por parte do meu sogro.
Temos ainda António Fernando Calé Barbosa, que casou no Avelar, segundo o António Pais é dos lados da Batalha..  Como outros haverá por deslindar.

Para mais se saber sobre os Soares Barbosa de Ansião?

Começo por correlacionar o registo de óbito do avô paterno  dos ilustres Lázaro Freire, desta vila falecido a 14 de Abril de 1722, não fez testamento nem tinha de quê , sepultado na igreja. Em ditar foi pobre na morte - mas, conceituado no sepultamento dentro da igreja. 

Em crer algumas famílias com ligação condal, com origem na Galiza, aportaram a Ansião vindas da Comenda de Soure. Graças ao Tombo de 1508 de Soure e Ega, com referência à migração de Ansião para Soure, e claro nos meados da centúria, após o Foral Manuelino de 1514, tenha sido invertida com gente de Soure para Ansião, na procura de novas oportunidades, gente com apelido Coutinho, Soares Barbosa, porque os Freire  terão vindo de Pedrogão Grande. A quinta da Barbosa na freguesia de Gesteira,  pode ter sido a origem do avô de Violante Rosa Soares, nascida em Pombeiro de Ribavizela, Felgueiras, a 7.03.1715, filha de Francisco Barbosa da Cunha e de Mariana Soares, casou em 17 de fevereiro de 1735 com Manuel Freire de S Lazaro de 31 anos, sem riqueza e ela  com 20 anos. Presume o pai dela foi tomador da quinta do compadre onde vivia o filho,  que viu a oportunidade de reaver a riqueza, se casando com a filha do novo dono, que seduziu e engravidou. Casando a 17 de Fevereiro de 1735, já pais do primeiro filho: António S. Lázaro Soares, nascido a 5 de maio de 1734. E pelos vistos nasceu  de tez clara, a reindivicar genes maternos, mais fácil de atestar a  consanguinidade em relação a quem fosse moreno, como seria o pai de apelido Freire. Havemos de ver mais à frente os filhos  mais velhos em Coimbra, conhecidos por António Freire de S. Lázaro Soares Barbosa e, o irmão por Jerónimo Soares Barbosa Freire de S. Lázaro, elogiados pela sua beleza, quiça genes celtas.  O casal teve ainda mais cinco filhos: Mariana, Luís (depois da sua morte aparece nos registos de batismo dos filhos como Fernando Luís),Custódia, Teresa Angélica e Nicolau. Segundo o autor do último livro, nenhum deles vem a usar o apelido Freire, mas tão-só os apelidos do lado materno Soares Barbosa (…) por ser hábito nessa altura, segundo Bobone (Apelidos em Portugal), pág. 83 (...) o facto poderá ainda dar azo a que se possa conjeturar que existiria uma certa ascendência social da família da esposa em relação à família do marido. Permitam-me discordar, algo aconteceu de nefasto a esta família, pelo fulcral poder e influência detido em Ansião pelo apelido Freire que se elenca em registos desde 1578, com André Freire, no papel de padrinho batismal, abastado com criadagem (…) a 16 de novembro de 1586 faleceu Baltazar, criado de André Freire. Nas Memórias Paroquiais (…) a capela que instituiu João Freire desta villa aos 18 de outubro de 1603, parte dela possui Luísa Freire desta villa e outra parte a possue Domingos Freire, morador na mesma villa. Em 1623, era juiz da Confraria da Igreja João Freire, o velho (…) a 20 de abril de 1726, faleceu Domingos, filho de Manuel Gomes e de Luísa Freire da vila, sepultado na igreja. Defendo a estratégica colocação da estela de Domingas Freire, para a Confraria lhe rezar missas, na parede sul da igreja a indicar a morada da sua família, já que a defronte ainda hoje quase livre. Como revela parentesco o sítio do solar de Pascoal de Mello Freire dos Reis, retratado na foto na ligação ao dos Soares Barbosa. Em 1937 foi expropriado a parte do alto jardim, para a Praça do Peixe e novas acessibilidades. Mais acima, na rua à direita, a casa quinhentista, que foi de Zulmira Portela, na voz da D. Alda Gaspar, fez parte da herança do solar focado, a conjeturar, onde tenha nascido António, até o solar de família ser construído. Em período anterior, esta casa fora da quinta do Bairro, de Belchior dos Reis, pai de Pascoal. Nos anos 30, do séc. XX, diz-nos César Nogueira, no seu Livro Ansião a Terra e a Gente (…) a conversa na Taberna do “Piloto” instalada, ao tempo, na loja do lado sul do grande prédio onde, ao que se dizia, o eminente Pascoal Freire terá nascido em 1738. Bem podia, pelo conforto da casa, já que a sua mãe era Freire, de Vila Cã, casada em Ansião, viveu segundo o Dr. Manuel Dias, ao Largo do Ribeiro da Vide, só podia ter sido na casa típica judaica, de balcão com janela de avental a nascente, ainda conheci onde viveu sua descendência - a família André. Acresce o recente conhecimento do topónimo – Fonte da Quinta, num livro de 1842, da Misericórdia de Ansião, só conhecido desde 1924, por Quinta da Fonte, pela aquisição de Adriano Carvalho. A fonte em poço de chafurdo foi alterada ao longo dos séculos, sem jamais ter perdido a denominação original romana de fonte, comum à do Alvorge.

Casa comprada por Adriano Carvalho antes de 1924,   em chão da quinta da Fonte, que foi desmembrada 

Começamos por Nicolau, o filho mais novo

Nasceu em Ansião a 13 de abril de 1750  e batizado no dia 23Em 1774  aos 23 anos era bacharel, Professor de Grego em Tomar e em 1795, de Gramática, no Colégio das Artes em Coimbra. 

Temos a publicação em 2006, na geneall/net do seu testamento, partilhado por outro sobrinho neto – José Frazão. Em 2013, fez parte do livro Soares Barbosa (…) acabou a carreira académica na qualidade de Lente jubilado na cadeira de Retórica e Poética na Universidade de Coimbra. Faleceu a 28 de dezembro de 1833 na sua Quinta de Arroio, Coimbra, com 83 anos, lavrou testamento a 10 de maio de 1829 entregue ao prior de S. João de Almedina, João de Morais Coutinho que o abriu e tornou público, no dia da morte. Manifestando ser sepultado nessa mesma igreja junto aos restos mortais da sua família. O 1º testamento de meu Irmão o Sr. Dr. António Soares Barbosa, pelo qual deixou a minha Irmã a Sª D. Teresa Angélica Soares Barbosa herdeira sua universal de todos os seus bens de raiz e móveis. O 2º da minha sobredita Irmã e Sª, em que ela também nomeou meu Irmão e Sr. Dr. Jerónimo Soares Barbosa (…) que me instituiu seu testamenteiro e seu herdeiro universal de todos os seus bens de raiz e móveis, adquiridos e herdados e a meu Irmão Sr. Dr. Luís Soares Barbosa deixou um legado em dinheiro metálico e bens de raiz (…)  Nomeio por Herdeiros meus universais e testamenteiros os meus Sobrinhos o Sr. Dr. Aureliano Pereira Frazão d'Aguiar e a Sª D. Joaquina Eufrásia Soares Barbosa, os quais ficarão senhores de todos os meus bens de raiz e móveis assim adquiridos como herdados que possuo tanto em Ansião e seus contornos, como em Coimbra e seus subúrbios e no Campo de Maiorca . Deixo outros sim a minhas Sobrinhas as Sª s D. Maria Violante Soares Barbosa, D. Ana Bárbara Soares Barbosa, D. Violante Rosa Soares Barbosa, casadas, estabelecidas na Cidade de Leiria, quatrocentos mil reis a cada uma em dinheiro metálico. Contemplou também os seus criados e consignou os dinheiros ao Sufrágios de Missas (…) em nº de «seiscentas de esmola de duzentos e quarenta reis.» Esmolas e Orações pela sua alma e pelas almas de seus Irmãos, Irmãs e Pais. «E se algum dos interessados nele quiser litigar em juízo sobre o que nele disponho, o hei por esse facto excluído do que lhe deixo no mesmo testamento e que nesse caso será distribuído pelos Co-herdeiros.» Sentiu-se obrigado atestar o título de legítimo possuidor do património que deixou em testamento, haveria contestatários entre os seus sobrinhos. Aureliano e Joaquina Eufrásia, ficaram com a parte do leão; as outras sobrinhas ficaram com os despojos e, não terá sido aceite de ânimo pacífico. A preferência por estes sobrinhos, pela mais íntima ligação familiar, viviam na mesma cidade, sendo escolhido para padrinho de batismo do sobrinho-neto António de Aguiar Pereira Frazão Soares, meu bisavô.

Descrição do solar dos Barbosa em Ansião pelos jesuítas  na saída de Coimbra 

No livro Algumas Horas na minha Livraria de 1910 de Francisco Augusto Martins de Carvalho (...)saíram do Colégio ads Artes no dia 30 de mayo de 1834 em direção a Lisboa,  (…)  os padres Alexandre Mallet, reitor; Cypriano Margottet, ministro; José Buckacinscki, Jorge Koulac, Luiz Deriquebourg, Ivo Estanislau Basiu, Luiz Soimier, Jorge Eousseau, António Sales, Theodoro Cotei  e Alexandre Fidelis Martin. (…) Foram os jesuítas acompanhados por uma força dos voluntários do Minho, comandada por um oficial subalterno. (…) transcrição da primeira d'essas cartas,  escrita da Torre de S. Julião da Barra, pelo padre Luiz Deriquebourg, a um seu amigo de Coimbra. (…) " Irmão em Christo — Não é por ser o mais hábil de todos, mas sim um dos mais desocupados, que o padre Luiz da Musica, como se chamava em outros tempos, foi escolhido para lhe noticiar todos os acontecimentos da nossa jornada por terra e por mar. Grande gosto .é para este pobresinho poder ainda uma vez entre ter-se com um ami^o d'aquelles, que já se não acham neste mundo; mas vamos ao nosso caso, sem perder tempo nem papel. Nada direi do que se passou até ao Rocio, porque o senhor até ahi quiz presenciar. Chegados que fomos á Cruz dos Morouços, o tenente da escolta mandou desformar a sua tropa. Então os soldados chegando-se a nós, entrámos a fallar uns com os outros, e eis que em pouco tempo achámos que éramos quasi todos amigos. Bom é dizer, que antes de sahirem da cidade, o tenente lhes tinha mandado que nos tratassem com a decência e respeito devido; protestaram-nos que não era outro o motivo, pelo qual nos acompanhavam, senão para prevenir insultos; e com eífeito, cumpriram com a ordem recebida, e mais de uma vez vimos, que a escolta nos era muito útil. Em Alcabideque jantámos; depois de três horas de descanço, pozemo-nos outra vez a caminho até ao Rabaçal. Precedia-nos o meirinho para apromptar as estalagens; de modo que á nossa chegada achávamos agasalho. Houve na dita villa regosijo naquella noite, por causa dos acontecimentos políticos; e temendo o nosso tenente algum barulho, assentou seu quartel em a nossa estalagem, de modo que a noute foi para nós quieta. No dia seguinte, ás 4 horas, pouco mais ou menos, marchámos até á Junqueira, aonde almoçámos. Pouco antes de entrar naquelle logar, o padre reitor despediu o Francisco; coitado! Estava muito triste, chorava ; mas não havia outro remedio. Chegámos a Ancião ás 11 horas. Hospedou-nos um bom velho, feitor a meu ver do dr. Soares, morto em Coimbra, no fim do anno passado. A casa era grande e limpa, e nada nos faltou do que nos era preciso. Visitaram-nos o vigário da villa, e pouco depois o cura. Este ultimo nos tinha mandado antes uma garrafa de vinho para reparar as forças. Falou comnosco com muita coi'tezia e franqueza, e experimentámos que nào era tão serio como nos tinha parecido. Depois de algam descanço, caminhámos até á noute, para fazer as três léguas de Ancião a Payalvo. Ai Jesus! que léguas eram aquellas ! Paciência

A ceia e a noute nos íizeram esquecer o cansaço. O nosso agasalho em Perucha, foi uma estalagem bastante boa. Não é inútil dizer, que em cada logar, o tenente visitava a casa, para ver se nada faltava — aos seus padres — assim é que nos chamava. Antes de dar as boas noutes — amanhã, — dizia elle, é domingo, o nosso prelado nos dirá a missa ás 4 horas. — Dito, feito: Ouvimos missa; commungámos todos; quasi cheia estava a egreja pelo povo que queria também assistir ao sacrifício. Logo depois tomámos uma chicara de chá; entrámos a marchar até Chão de Maçãs. Lá encontrámos algumas pessoas que voltavam para Coimbra. A calma era quasi insupportavel para gente pouco acostumada a jornadas; porém com as bestas que usavam os mais cansados, emquanto andavam de pé os mais valentes, pouco a pouco Íamos chegando ao termo. Naquelle dia pernoitámos em Piíyalvo. Neste logar, assim como em alguns o atros, as esteiras e o taboado faziam as vezes de cama. Deus comtudo acudia, e dormíamos bastante bem, para não nos lembrarmos do cansaço da jornada precedente. Na segunda feira jantámos e passámos o resto do dia na Gollegâ. Alguns insultos, mas só de palavras, nos deram a entender, que o nome de jesaitas não cheirava bem naquella terra. Como no Rabaçal, as sentinellas postas pelo nosso tenente á porta da esta- lagem, nos fizeram passar bem a noute. O padre reitor mandou ao mesmo senhor algumas laranjas. Picou elle muito agradecido, e veiu iazer-nos uma visita á noute. Em fím terça feira chegámos a Santarém.

O topónimo Payalvo é referente à estalagem da Malaposta,  na estrada do Arneiro, para a Perucha. 

De supor pelas palavras escritas que a comitiva ao deixar Ansião, seguiu para sul por caminho pedregoso: Empiados, Venda do Negro, Vale da Couda, Almoster, ao lado do Nabão, a oeste da serra de Alvaiázere, atestada estrada medieval em 1992, pelo Dr. Jorge Alarcão.   

A Casa de Aveiro 

A Mitra do Episcopado de Coimbra detém arquivo da sentença contra a Casa de Aveiro, nas terras onde tinha interesses, por impedimentos colocados aos juízes da Mitra, em 1711 (liv. 28). Permite conhecer, no que diz respeito a instituições litigantes, as frequentes questões com os corregedores da Beira e Estremadura e o corregedor da comarca de Coimbra, sobre a sua ingerência em áreas de jurisdição exclusiva da Mitra, nas seguintes localidades: Santo Varão, Formoselha, Arazede, Condeixa, Monforte, Trouxemil, Vacariça, Barrô do Luso, Casal Comba, Mogofores e Barrô de Aguada, Reveles, Lavos e Tavarede, S. Martinho, Coja, Arganil, Vila Cova, Couto do Mosteiro, Lourosa, Alcáçova, Beco, Dornes, Chão de Couce, Ansião, Pedrulha e Vale de Canas. 

Desde a reconquista cristã que aportou migração interna, à região de Ansião, pela via romana, agora medieval desde galegos, celtas, judeus sefarditas entre. Depois do êxodo de 1492 de Espanha aportaram das raia outros judeus, asquenazes. Da região  mondeguinha aparece desde a centúria de 600 famílias de Soure, Vila Nova de Anços, Santo Varão etc: a exemplo Ponce Leão; Pimentel, etc. Como outras vindas do Porto, Arnao, etc.

A mãe dos ilustres ansianenses  nasceu em Pombeiro de Ribavizela, Felgueiras 

Os avós maternos dos Soares Barbosa constam no registo de batismo do neto Jerónimo como sendo da Freguesia de Pombeiro, do arcebispado de Braga.

Presume-se que um membro desta família se deslocou de norte para o senhorio em Campo de Maiorca, atendendo a bens deixados em herança e daqui para o de Ansião, onde o apelido apela ao topónimo Cunha – em talhos a sul, da que foi a Quinta da Fonte. Como a nascente, o topónimo - Rua da Gatina – doença na produção de bichos-da-seda. Após a morte em 1759, do duque de Aveiro, o marquês de Pombal, apodera- se de alguns dos seus bens. Caído em desgraça em 1777, a Casa de Pereira fez aquisição documentada no arquivo da Universidade de Coimbra, em cartas soltas dos manos; o bispo conde de Arganil D. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho  Desembargador João Pereira Ramos de Azeredo Coutinho. Tiveram o solar de família  Sotto Maior, em Condeixa. Na curiosa observação com a transferência da Imagem e NSPilar, da quinta da Fonte do Alvorge, para a capela de S. Tomé em Condeixa, alvitra parentesco à família Carneiro Figueiredo. 

Os manos acima referidos, nascidos no Brasil, foram  incrementadores de novas técnicas na agricultura desde Condeixa, Montemor , Soure e Ansião. A chegada de colonos brasileiros para enxugar paules para maior aproveitamento de chão  lagunal em arável . A seda  em terras de Miranda, Bragança, julga-se desde o séc. XV. Em 1786 chegaram a Lisboa José Maria Arnaud, e o seu filho Caetano Arnaud, vindos  de Piemonte, Itália. Tenham sido chamados pelos  manos acima referidos que defendiam altos cargos ,com correspondência trocada diariamente, e pelo conhecimento que o ministro em Turim, nesse tempo era D. Rodrigo de Sousa Coutinho, a chave para  importar as mudas de amoreira e piemonteses para ensinar. Com produção em terras de Ansião até Castelo Branco, como na margem sul, no Seixal, com uma fábrica em Tomar.Sendo clara a descendência italiana que ainda se distingue hoje em muitos em Ansião, como o apelido Arnaud, aventa ter sido mal fidelizado ao constactar na  região: Arnao, Arnault ,entre outros. 

Existe uma velha amoreira nas Lagoas junto ao muro de uma casa que foi de um padre e outra segundo Henrique Caseira, no Curcialinho. 

De supor que a aquisição da quinta da Fonte pelos Soares Barbosa, aconteceu nesta altura após a queda do marquês de Pombal.

Recordo a frontaria do solar dos Soares Barbosa

Possivelmente o solar e a sua quinta da Fonte, foi vendida em duas partes; a parte norte comprada por Abel Falcão (?) que enriqueceu em Moçâmedes onde veio a construir uma bela casa forrada a azulejos e a outra parte do terreno com o solar  de 1735, pertença dos pais da  Sra D. Alda Gaspar e do Sr. "Zé Piloto", onde no r/c teve uma mercearia até se mudar para o prédio de gaveto onde vai nascer a nova residencial.
O solar de belas janelas de avental, tinha ligação por dentro, a Bina Piloto, quando a mãe da Alda esteve enferma, a visitava. No r/c havia uma grande cozinha com o chão a laje.
No tardoz havia a adega e  cavalariças. 

  A parte norte onde viveu a família de Virgílio Courela


No séc. XX apresentava-se de frontaria austera, vestido de janelas de avental, lajedo em ardósia na cozinha, adega com tanques de pedra e cavalariça. 

Já vimos pela carta dos jesuítas que tinha ainda o feitor em 1834. Sabemos pela "Bina piloto"que foi arrendado a magistrados da nova Comarca a partir de 1875. Nessa altura era Oficial de Diligências no Tribunal, João Marques André, do Pinheiro, que veio a casar com uma mulher da Ateanha. Viveram na ultima estalagem do Bairro, que fora  da Ti Maria da Torre, na parte de hospedaria depois adquirida por "António Trinta". Família com  contendas familiares mais tarde apaziguadas para se mudarem para uma casa de família,  no Largo do Ribeiro da Vide, onde se julga viveu Belchior dos Reis, de traça judaica com balcão alpendrado e janela de avental a nascente. Esta família detinha muita terra em Ansião, inclusive a quinta do Bairro, pela descendência em Belchior dos Reis.

O solar foi sendo alugado a magistrados até ao Estado Novo. Data de 1933, para os acolher a construção de duas vivendas de sobrado, geminadas, na frente do Pelourinho. Com o solar  vago veio a ser habitado  por dois irmãos, pela herança recebida do pai de Virgílio Courela, que habitou a parte norte e a parte sul pela irmã, esposa do Sr "Zé piloto". 

Nada sabemos sobre a venda da quinta na manta de retalhos de muitos. 

A família  Marques André,  perdeu uma disputa judicial que não conheço os meandros, incitada pelos  filhos ilegítimos do seu filho - João Marques Freire, solteiro, a viver no Pinheiro. Ainda casou com a tia Elvira - irmã do pai, se julgue para não os vir a perder, mas em vão. Desconheço se o solar era já pertença dos Marques André, tão pouco se foi adquirido no tempo que o pai deste,  foi Oficial de Diligencias no Tribunal.Disse-me a D. Alda Gaspar, filha de Virgílio Courela,  que a mãe falava que tinha havido um oratório na grande sala. Na casa do "Sr. Zé piloto", no velório no solar ainda havia um lindíssimo móvel muito velhinho a desmembrar, que acabou vendido a um antiquário, como loiça Real Fábrica de Sacavém .

 O pilar do portão desapareceu na nova reestruturação, viu-o no chão no tardoz junto ao estacionamento...

                   

A parte sul onde viveu a família do "Sr. Zé piloto", com acrescento da entrada e o painel azulejar
 
O  painel azulejar de S.José da Fábrica CAC Coimbra, despareceu
 A pardiera datada 1735?
Reúnem-se elementos favoráveis a confirmar a quinta da Fonte 

A rua da frontaria, como já referimos foi antiga via romana, vindo a ser  atestada  na toponímia nos meados do séc. XX, agraciando um dos filhos - Jerónymo Soares Barboza. O solar julga-se tenha sido construído em meados da centúria de 700. Falava-se que datava de  1735 -  data de casamento dos pais dos ilustres. Numa porta do r/c  a caminho do sul, havia um lintel preso com ferro de impercetível  numeração, apenas se distinguia o primeiro algarismo 1, seguido de um 3. O lintel julgo se perdeu  na requalificação. Não conheci o solar a norte que bem podia ter outra data esculpida... 

No séc. XXI, o solar foi requalificado na Residência Sénior do Nabão

Manteve a traça antiga, sem colidir com a modernidade. Fica a sugestão de exibir placar com a menção - Solar dos Soares Barbosa, para não se perderem as memórias do passado de Ansião. Também a merecer atenção a retirada da placa da toponímia Jerónimo Soares Barbosa, em metal, com o nome em português atual. Parece-me assertivo preservar a memória atestada na placa antiga com o nome do agraciado como foi batizado. 

                                    

Requalificação do solar dos Soares Barbosa em Ansião

Suposto antes da intervenção sem escavação arqueológica para apurar a sua antiguidade nos vestígios do lajeado de ardósia da cozinha, dos tanques de pedra da adega, e da casa, sem saber se foram registadas fotos do seu interior para perceber se o solar teve oratório. Como no sótão se foi encontrado algum papel que ajudasse a esclarecer quem foi a família que o mandou construir, como se chamava a quinta que se estendia pelo seu tardoz. A muito esforço pelo poço de chafurdo que ali houve e servia de fonte, na beira do troço romano/medieval, tenha sido a Quinta da Fonte. E assim se perde o que se procura achar!


A requalificação
 
Casario quinhentista em Ansião no fim da chamada Rua Direita, que nascia na Ponte da Cal

Segundo o Livro do Padre José Eduardo Coutinho de 1986 (...) no Cimo da Rua  surgiram construções em estilo Manuelino (...) ao amigo Vitor Alberto Mendes Forte agradeço o ter-me alertado para aquelas ruínas, bem como o oferecer-me uma pardieira manuelina»
A casa onde viveu a peixeira a Ti Zulmira Portela , mulher que conheci bem ainda a ostentar na frontaria pedras largas como testemunho da sua antiguidade e por dentro uma escada em pedra e que pertenceu a herdeiros do solar dos "Soares Barbosa", segundo informação da D. Alda Gaspar.~

Os filhos dos Soares Barbosa
Casa quinhentista que foi da Ti Zulmira Portela onde se presume tenha nascido o primeiro filho - António, antes do casamento dos pais.
 

António Soares Barbosa
Nascido a 5 Maio 1734 em Ansião.  Sendo batizado a 27 de novembro do mesmo ano, o que se estranha 6 meses depois, quando eram em geral batizados logo que nasciam, com receio naquele tempo de morte repentina. Pode ter haver com a ausência dos padrinhos (?).Tomou o capelo, como clérico, em distrito canónico em 1761; foi nomeado Professor de lógica na Faculdade de Filosofia em 1772; decano da Faculdade de Filosofia em 1791. Foi sócio da Academia Real das Ciências e deputado da Junhota da Directoria Geral de Estudos em 1799. Escreveu muitas obras, algumas notáveis, etc. 
Professor régio de Lógica no Colégio das Artes teve uma contenda de lesa majestade com o Marquês de Pombal, sendo preso com outros em 1768 enquanto o bispo conde de Coimbra, D. Miguel da Anunciação, o seu vigário, provisor e o secretário do prelado foram presos a ferros em Pedrouços e depois no forte da Junqueira de onde só saíram em 1777.Várias intervenções, nomeadamente do seu irmão Jerónimo Soares Barbosa e outros influentes o assunto fica justificado e volta a ocupar a sua cadeira oficial no Colégio das Artes. Como Prof. de Filosofia racional e moral na Universidade de Coimbra em 1772 o Marques de Pombal chamou-o para com Domingos Vandelli lente de história natural e química e João António Dalla- Bella lente de física experimental e António Soares Barbosa lente de lógica, metafisica e éticas , matérias , que segundo os estatutos ficaram fazendo parte desta faculdade de Filosofia.
Excertos do Livro OS SOARES BARBOSA  O homem ” afirma António Soares Barbosa, “ como perfectível no seu entendimento, é também desejoso de conhecer; e como social, tem a propensão de comunicar o que conhece. Pelo que se bem examinarmos a conexão e subordinação que entre si tem estas propriedades, veremos que o homem, aperfeiçoando-se pelos conhecimentos, recebe estes, não para os concentrar em si, mas para com elles também aproveitar aos outros. Os conhecimentos, pois, de cada homem estão subordinados ao bem e socorro da sociedade. Nesta tudo aprende pela educação, e a série dos educadores e educandos (os quais vem também a suceder àqueles) não faz outra coisa mais, do que transmitir à massa os conhecimentos que existem na sociedade, do mesmo modo que se transmite a linguagem de que ela usa. Tudo isto mostra que os conhecimentos são um depósito que pertence a todos, e que não pôde ser privativo de um ou de alguns. Será, pois, um dever inherente á perfectibilidade intelectual do homem o aperfeiçoar-se de tal sorte pelos conhecimentos, segundo as circunstâncias em que se achar, que se ponha em estado, quanto for possível, de aperfeiçoar com eles os outros e aproveitar-lhes. Tudo isto se encerra na lei da ordem que subordina as propriedades e a felicidade e perfeição das partes ao todo.»
« Adrien Balbi no seu Ensaio Estatístico
Afirma que António Soares Barbosa,  professor de filosofia racional e moral na Universidade de Coimbra, foi chamado  pelo marquês de Pombal, em 1772, para formar com os professores Vandelli e Dala-Bella, a primeira faculdade de filosofia, que os estatutos da universidade acabavam de criar. Domingos Vandelli, lente de história natural e química; João António Dalla-Bella, lente de  física  experimental;  e   António Soares Barbosa,  lente de lógica, metafísica e ética, matérias, que segundo os novos estatutos ficaram fazendo parte desta nova faculdade.»
O Externato de Ansião elegeu em 1940, o nome de António Soares Barbosa, consta do seu alvará nº 1121 com os fundadores  - Valentino de Sousa, Alfredo Silveira, Albino Simões e José Afonso Lucas Lopes, na casa que foi da família Veiga, a sul da igreja. Onde viveu a irmã de Adolfo Figueiredo, ficou desativado em meados da década de 30 com a emigração para Moçambique. A partir de 1956, instalou-se no solar que tinha sido dos pais do Conselheiro António José da Silva.
Jerónimo Soares Barbosa 
O registo do seu batismo ao meio na folha á direita 
Nasceu em Ansião a 24 de janeiro de 1737  e batizado a 2 de fevereiro de 1937. Igualmente educado no Seminário Episcopal de Coimbra onde se ordenou padre em 1762. 
O Dr. Jerónimo Soares Barbosa foi sócio correspondente da Academia Real de Ciências.
Capelo em Direito Canónico a 1768. 
Visitador das escolas de primeiras aras e língua latina.
Provedoria de Coimbra a 1794.  Deputado da Junta da Directoria Geral dos Estudos a 1799. 
Jubilado da Cadeira de Retórica a 1799, etc.
Morreu a 5 Janeiro 1816 em Lisboa, com 78 anos. 
Em Coimbra também conhecido como padre Jerónimo Soares Barbosa Freire de S. Lazaro,
Nomeado professor de retórica e poética no Colégio das Artes em Coimbra em 1766.
Filólogo, humanista e latinista , a sua principal obra foi a Gramática Filosófica da Língua Portuguesa , publicada seis anos após a sua morte.Caiu em desuso em Portugal mas ainda se vendem cópias em Livrarias americanas.»
Excerto de Gusmão « E no “O Instituto” de 1859, escreve que “ a obra de Soares Barbosa […] aponta, com o mais delicado discernimento as belezas e os defeitos desta celebre epopeia, mas sem exagerar umas, nem diminuir outras; faz-nos ver o quadro tal qual é, com todos os claros e escuros mas, ainda assim, de tão peregrina formosura, que enleva o entendimento e arrebata a admiração ”
«Muitos outros originais de Jerónimo Soares Barbosa, que ficaram sem publicação como: Tentativa sobre a inscrição incógnita do Vale de Nogueiras »
«Ainda hoje se encontra à venda em Livrarias americanas cópias das gramáticas de Jerónimo Soares Barbosa, com a indicação do respectivo ISBN, provando que se vendem e são usadas para o estudo da língua portuguesa em muitas universidades americanas.»
Luís Soares Barbosa
 "Nasceu a 16 de julho de 1742 em Ansião e foi batizado no dia 22 do mesmo mes em Figueiras Podres de S. João na Torre de Vale de Todos. Casou com Joana Tomásia Ceia Fortes nascida na Pederneira filha de um médico. Licenciou-se em medicina e tomou capelo em 1767. Faleceu em Leiria onde exerceu em 20 de agosto de 1823.O único que teve descendência. Médico da Câmara e do Hospital de Leiria redigiu em Janeiro de 1813 particularmente esclarecedora, testemunha directa e envolvida nos acontecimentos, na sua longa memória:
“Pode - se marcar o princípio da epidemia no fim de Novembro de 1810. Os habitantes tendo-se retirado para as montanhas e outros lugares, principiaram a experimentar os incómodos, as inquietações e os sustos, que o retrocesso e a vizinhança do inimigo lhes causava; e então o terror e a consternação se tornou geral. O incómodo das fugidas, a desabrida exposição ao ar húmido e frio, a penúria de alimentos e a sua má qualidade, a amontoação de fugitivos em casas apertadas e baixas das aldeias, a falta de limpeza nelas, a sordidez dos vestidos por falta de mudança e lavagem excitaram a epidemia. A continuação das mesmas causas, as excreções e imundícies amontoadas, a multidão de enfermos, as exalações dos mortos a propagaram e a fizeram mais grave, perigosa e contagiosa.Grande parte dos que restaram no país foram vítimas da miséria, da fome, do desamparo e da infecção, não falando dos que morreram às mãos da tropa cruel e desumana. [...]. Eu me lembro ainda do horroroso quadro, quando voltei para este desgraçado território: aldeias desertas, todo o território inculto, uma solidão espantosa, não aparecendo nem quadrúpedes nem voláteis, casas incendiadas ou derrotadas, imundícies amontoadas, vivos agonizantes, esqueletos ambulantes formavam então um espectáculo estranho, pavoroso, e mortificante”.
Relatórios elaborados por outros médicos da região corroboram as palavras de Soares Barbosa.
“Dele Angiria aquid Leirium epidemia grassante 1786-1787”, publicado em Lisboa por Simão Tadeu Ferreira em 1789 e oferecido pelo autor ao Reverendo Bispo de Leiria D. Lourenço de Lencastre. Neste opúsculo, Luis Soares Barbosa diz que se lembra de ter havido, em 1749, na vila de Ansião, sua terra natal, e nos lugares adjacentes a mesma doença, que durava poucos dias, acometendo as crianças, das quais muitas morreram, falecendo uma sua irmã, de seis anos, com “petechias purpúreas e lívidas”. O vulgo chamava-lhe, bolhas na garganta, como ainda hoje, “nam crustae albae in faucibus detegebantur”, ou seja a “difteria laringitica” ou garrotilho83. Em França, l’Union médicale84 refere-se a ele quando escreve “Quand aux médecins portugais, malgré trois épidémies successives, en 1626, 1749, 1786 et 1787, ils n’ont rien écrit de remarquable à ce sujet, si n’est Soares Barbosa, qui observa cette dernière à Leiria. Comme celles décrite par Zobel, elle était compliqué de scarlatine : « In plerisque non in omnibus, tamen eruptio scarlatina adparuit » , et cétaient les cas les plus graves. Autrement, la fausse membrane caractéristique n’est signalée qu’en 1825. A part les vésicatoires, dont Barbosa se loue, le traitement était le même qu’aujourd’hui ».

“Projecto sobre o estabelecimento de um hospício para a criação dos expostos em cada cabeça de comarca”, publicado no Jornal de Coimbra, de 1817, nº 54, Vol. X, Parte 1ª, pag 73 a 94, por Luís Soares Barbosa, professor Régio emérito de Filosofia, médico da Câmara e do Hospital e correspondente da Instituição Vacínica da Academia Real das Ciências de Lisboa.

«Mariana Soares Barbosa nasceu em Ansião e foi baptizada a 24 de Abril de 1739, mesma vila . Sobre   ela   nada    mais   encontrámos». Tomei uma nota pouco explicita que tinha casado em 1759.

«Custódia Soares Barbosa foi baptizada a 13 de Dezembro de 1744 em Ansião . Dela nada mais encontramos, morreu com 6 anos, em 1749, om “bolhas na garganta” como o Dr. Luis Soares Barbosa, seu irmão , relatou .»

«Teresa  Angélica   Soares Barbosa nasceu a 30 Junho 1747 em Ansião e foi baptizada a 11 do mês seguinte em Ansião , não tendo sido encontrada qualquer outra referência a ela.» Tenho uma nota pouco explicita que casou em 1767.

Nicolau Soares Barbosa
Carta de nomeação para o lugar de professor da língua grega da Vila de Tomar (Registo Geral de Mercês, D. José I, liv 26, fl 366v) a 16 fév 1774.- Professor de Gramática no Colégio das Artes a 1795,

No testamento Nicolau declara «deixo três testamentos aprovados e sentenciados. 
O primeiro de meu Irmão o Senhor Doutor António Soares Barbosa, pelo qual deixou a minha Irmã a Senhora Dona Teresa Angélica Soares Barbosa herdeira sua universal de todos os seus bens de raiz e móveis. 
O segundo da minha sobredita Irmã e Senhora, em que ela também nomeou meu Irmão e Senhor Doutor Jerónimo Soares Barbosa [….]que me instituiu por seu testamento seu testamenteiro e herdeiro seu universal de todos os seus bens de raiz e móveis, assim adquiridos e herdados e a meu Irmão Senhor Doutor Luís Soares Barbosa deixou um legado em dinheiro metálico e bens de raiz, que eu lhe entreguei e de cuja entrega se passou uma quitação feita de seu punho e reconhecida por tabelião, a qual se acha junta com o sobredito testamento. 
Por motivos e razões particulares me vejo obrigado a fazer todas estas declarações para que conste ao Público que eu sou legítimo possuidor de todos os bens de que passo a testar pela maneira seguinte. Nomeio pois por Herdeiros meus universais e testamenteiros os meus Sobrinhos o Senhor Doutor Aureliano Pereira Frazão d'Aguiar e a Senhora Dona Joaquina Eufrásia Soares Barbosa, os quais em virtude deste meu testamento ficarão senhores de todos os meus bens de raiz e móveis assim adquiridos como herdados que possuo tanto em Ansião e seus contornos, como em Coimbra e seus subúrbios e no Campo de Maiorca (hoje no concelho da Figueira da Foz, J.F.). Deixo outros sim a minhas Sobrinhas as Senhoras Dona Maria Violante Soares Barbosa, Dona Ana Bárbara Soares Barbosa, Dona Violante Rosa Soares Barbosa, casadas, estabelecidas na Cidade de Leiria, quatrocentos mil reis a cada uma em dinheiro metálico.»
O testamento contemplou também os seus criados e consignou os dinheiros sobrantes da execução dos legados e provenientes do Cofre da Universidade e do Cofre do Subsídio da Provedoria do Porto e também de algumas dívidas de particulares de que deixou escrituras e assentos, ao Sufrágios de Missas, Esmolas e Orações pela sua alma e pelas almas de seus Irmãos, Irmãs (plural J.F.) e Pais. Estipula que as missas serão ditas na Igreja de S. João de Almedina em número de «seiscentas de esmola de duzentos e quarenta reis.»
O testamento contém uma curiosa disposição, que, porventura, será de estilo, e que reza assim: «E se algum dos interessados nele quiser litigar em juízo sobre o que nele disponho, o hei por esse facto excluído do que lhe deixo no mesmo testamento e que nesse caso será distribuído pelos Co-herdeiros.»
O teor desta disposição associada às declarações, que Nicolau se sentiu obrigado a fazer para atestar o título de legítimo possuidor do património que deixou em testamento, leva-me a pensar que haveria contestatários entre os seus sobrinhos. Não restam dúvidas de que os meus trisavôs, Aureliano e Joaquina Eufrásia, ficaram com a parte do leão; as outras sobrinhas ficaram com os despojos e isso, imagino, não terá sido aceite de ânimo pacífico.
A preferência por estes sobrinhos, suponho, decorreria do facto de existir entre eles uma mais íntima ligação familiar, uma vez que viviam na mesma cidade, e daí ter sido ele escolhido para padrinho de baptismo do sobrinho-neto António de Aguiar Pereira Frazão Soares, meu bisavô.

Referencia à Quinta da Barbosa partilhada por José Frazão
Situada na freguesia de Gesteira do concelho de Soure. Quanto à pessoa que está na origem do nome da Quinta da Barbosa, se não foi a nova pentavó Violante Rosa Soares Barbosa outra terá sido, dado que a semente dos Barbosa germinou e proliferou naquela região do baixo Mondego.
(...)António de Aguiar Pereira Frazão Soares, foi bacharel aos 18, já que no ano lectivo de 1841/42 fez exame de Filosofia Racional e Moral e Princípios de Direito Natural(...) Depois de desbaratar o património faz um testamento para deixar aos filhos mais obrigações do que bens, especialmente à minha avó, Maria de Jesus de Aguiar Pereira Frazão; filha, e vítima dum pai ocioso e esbanjador, ensinou aos seus filhos que a verdadeira fidalguia residia no trabalho. A perdição do seu pai foi o vício, fruto da sua má cabeça, como o próprio reconhece. Ouçamo-lo: «Declaro que sou filho legítimo do Dr. Aureliano Pereira Frazão d'Aguiar, Lente Catedrático da Faculdade de Medicina, e de D. Joaquina Benedicta Eufrásia Soares Barbosa, já falecidos; e que tenho sempre vivido no grémio da Igreja Católica Apostólica Romana: e se eu não tenho sempre obedecido aos seus divinos preceitos, não por tê-los em menos conta, mas sim, infelizmente, obrigado por forçosas circunstâncias e loucuras minhas, de cujas faltas numerosíssimas peço perdão a Deus, e que, pela sua infinita Misericórdia da minha atribulada alma se compadeça.»
Sendo natural de Coimbra veio a viver a maior parte da sua vida no concelho de Soure, arrastado pelo turbilhão de ódio gerado na luta entre liberais e miguelistas. O seu pai Aureliano era um notório miguelista e quando os liberais assumiram o poder o Dr. Aureliano de Aguiar perdeu a cátedra e foi desterrado para Alfarelos, aldeia do concelho de Montemor-o-Velho, relativamente próxima da Quinta da Barbosa, situada na freguesia de Gesteira do concelho de Soure. É quase certo que Aureliano tenha vivido nesta quinta, porque, ainda há relativamente pouco tempo, as construções arruinadas da quinta ainda eram conhecidas por «Casa do Lente» Daqui, o seu filho António, conhecido pelas gentes da região por «Antoninho de Aguiar», partia para a vila de Soure a fim de queimar o seu tempo e a sua fazenda no pano verde da jogatina; e, aqui, tinha seu couto de caça e pesca das “lebres” e “peixões” rústicos, que, pelos vistos, abundavam nas redondezas.
A quinta da Barbosa, integrava os domínios da Marquesa de Vila Flor, a quem era pago foro, e como o nome deixa supor, chegou ao património dos Aguiar, no rol dos bens de raiz legados pelos tios Soares Barbosa.
Quem teria sido a Barbosa que deu o nome à quinta? Não conheço documento que esclareça esta minha dúvida; resta, portanto, fazer hipóteses. A minha hipótese é a de que foi Violante Rosa Soares Barbosa, casada com Manuel Freire, os pais de António, Jerónimo, Teresa Angélica, Luís e Nicolau Soares Barbosa.Repare-se que o apelido Freire na figura no nome dos filhos, mas tão-só os apelidos da mãe. O facto dá azo a que se possa conjecturar que existiria uma certa ascendência social da família da esposa em relação à família do marido.Também nos filhos de Aureliano houve uma mudança no nome, verificando uma subalternização do apelido Aguiar. Os filhos deveriam por regra chamar-se …Pereira Frazão de Aguiar, mas foi-lhes posto o nome de Aguiar Pereira Frazão Soares. Foram buscar o Pereira Frazão à avó paterna Ana Rita Pereira Frazão, casada com o Dr. António José Francisco d'Aguiar e o Soares à trisavó materna Mariana Soares.
Esta subida no rio do tempo em homenagem às raízes da linhagem tem, a meu ver, uma razão política, que passo a expor, a título de conjectura: Aureliano era um miguelista convicto e seu primo Joaquim António d'Aguiar um importante liberal, várias vezes nomeado ministro e chefe do governo e um indefectível amigo de D. Pedro IV.
No contexto da luta entre conservadores e progressistas, Aureliano perdeu a cátedra e por este motivo o nome de Aguiar tornou-se ominoso, porque na sua mente ele passou a significar liberal e liberalismo. Subestimá-lo seria uma maneira de vingar a afronta! Teria sido assim? É possível!

Segundo relata José Mattoso «a família de Barbosa, de veneráveis tradições, pelos laços familiares que a ligam a famílias galegas de estirpe condal. O seu centro espiritual é o mosteiro Beneditino de Pombeiro, perto de Felgueiras, cujas ricas propriedades lhe permitiram construir uma grande igreja abacial e suscitar o interesse de outras famílias, ligadas aos de Barbosa, principalmente os de Sousa.»
A respeito deste trecho ocorre-me dizer duas coisas. A primeira é a de que o pai do poeta Bocage introduziu no seu nome o de assinando Dr. José Luís Soares de Barbosa. O próprio poeta mandou pôr no frontispício de alguns dos seus livros, como, por exemplo, o dedicado à Marquesa de Alorna o título RIMAS de MANOEL MARIA DE BARBOSA DU BOCAGE.

Ambos se reclamaram da linhagem dos de Barbosa.
A segunda refere os Sousa e Pombeiro. Em vida de Bocage o conde de Pombeiro, e mais tarde marquês de Belas por via matrimonial, era José de Vasconcelos e Sousa em cujo palácio se reuniam, às quartas-feiras, os poetas da Academia de Belas-Letras de que Bocage fazia parte. Enfastiado com a mediocridade da poesia e dos repastos de tais reuniões, vulgarmente denominadas «quartas-feiras de Lereno», Bocage escreveu um soneto em que pinta, carregando nas cores, um quadro grotesco, de todo pindérico, de tais saraus poético. A chufa deixou fulo o anfitrião «o fofo conde» e custaria a prisão do poeta, se ele se não tivesse homiziado na quinta de um amigo de Santarém. Reproduzo o poema que nos dá conta da veia sarcástica do Bocage


Preside o neto da rainha ginga
À corja vil, aduladora, insana:
Trás sujo moço amostras de chanfana
Em copos desiguais se esgota a pinga

Vem pão, manteiga e chá, tudo à catinga
E o orangotango a corda bamba abana,
Com gestos e visagens de mandinga.

Um bando de comparsas logo acode
Do fofo conde ao novo Talaveiras:
Improvisa berrando o rouco…

Aplaudem de contínuo as frioleiras
Belmiro em ditirambo, o ex-frade em ode;
Eis aqui de Lereno as quartas-feiras.

(...) Regressando ao tema dos Barbosa  a conversa vai já longa cheia de divagações e suposições e, por isso, despeço-me com um afectuoso xi-coração. José Frazão, Azóia de Baixo, 16-11-2006
No concelho de Soure e limítrofes, lembro, além dos citados,viveram os Barbosa Canais de Soure, os Sardinha Barbosa e os Nazaré Barbosa de Verride no concelho vizinho de Montemor-o-Velho e outros haver, por certo.
Soure foi verdadeiramente um alfobre de gente de prol. Na vila assentaram os Menezes, os Covilhã, os Melo, os Sequeira, os Couceiros, os Pereira Coutinho, e os Barbosa Canais; fora da vila, no Espírito Santo, os Amados de Vasconcelos, na Caparrota, os Ataíde e Melo (família da mãe de marquês de Pombal), na Telhada, os Homens de Quadros, na Quinta da Cruz, os Coelhos, no Solar do Pai Daniel, os Nápoles e os Marta, na Quinta de S. Tomé, os Coutinho de Vasconcelos, nas Degracias, os Albergarias, no Pombalinho, os Almada, na Vinha da Rainha, os Brito Teles e os Magalhães Colaço, em Figueiró, os Amado de Nápoles e no Casconho os Carvalhos Ataíde (família dos pais do marquês de Pombal)
Chamo a tua atenção para o auto de aprovação do testamento do nosso bisavô António De Aguiar Pereira Frazão Soares, onde encontrarás o nome de António Barbosa Canais Pereira de Figueiredo, casado proprietário, do lugar de Gesteira desta Comarca (onde se situa a Quinta da Barbosa) não sendo, por tal facto, de excluir a hipótese de ter sido uma senhora desta família a dar o nome à quinta onde nasceram os nossos avós.


Parentesco dos Barbosa de Ansião com os Barbosa de Setúbal?
José Luís Soares Barbosa (1728-1802), bacharel em direito, era filho de Luís Soares Barbosa (1686-1774) proprietário do ofício de escrivão e tabelião do judicial e notas, em Setúbal, e de Eugénia Maria Inácia Bulhões, casado com Mariana Joaquina Xavier Lustoff du Bocage, filha de Gil l'Hedois du Bocage, coronel-de-mar-e-guerra (vice-almirante) e de Clara Francisca Joaquina Xavier Lustoff.
Foi juiz de fora em Castanheira e Povos e, depois, ouvidor em Beja. Por razões que não vêm ao caso esmiuçar, abandonou a magistratura e montou banca de advogado em Setúbal. Do seu casamento nasceram seis filhos Maria Agostinha, Ana das Mercês, Gil Francisco, Manuel Maria, Maria Euénia e Maria Francisca Barbosa du Bocage.
A Maria Agostinha, casou com Paulo Figueiredo de Góis Souto Maior, descendente de Damão de Góis e herdeiro do morgado de Góis, constituído por 69 propriedades; Ana da Mercês, casou com Paulo Prado Homem Cunha d'Eça, filho do brigadeiro João Homem da Cunha d'Eça; Gil Francisco, advogado e, mais tarde, Cavaleiro da Ordem de Cristo, casou com Gertrudes Margarida da Cunha d'Eça e Castro, também filha do brigadeiro, Manuel Maria gravou para sempre o nome de MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE na história da literatura portuguesa, como um dos mais excelsos poetas nascidos em Portugal; Maria Eugénia morreu solteira com 24 anos e Maria Francisca, viveu com o poeta nos últimos anos da sua vida e morreu solteira, em Setúbal, sem deixar testamento, porque, como diz o assento de óbito «só pobreza poderia legar.»
Há quem duvide que haja qualquer parentesco entre os Soares Barbosa de Ansião e os Soares Barbosa de Setúbal. Eu acredito que haja laços familiares a partir da geração dos avós de Luís Soares Barbosa (ou Fernando Luís como consta na certidão de baptismo de António de Aguiar Pereira Frazão Soares), por um lado, e, por outro de José Luís Soares Barbosa, cujas avós de chamavam respectivamente Mariana Soares e Bárbara Soares. (Foi mera obra do acaso que estas senhoras tenham casado com dois homens chamados, respectivamente, Francisco Barbosa da Cunha e João Antunes Barbosa. Há, aqui, matéria para pensar na existência de entendimentos familiares. Por outro lado, faço notar que o nome de Bárbara de um dos ramos tenha sido dado a uma das filhas de Luís Soares Barbosa do outro ramo.) A conjugação dos apelidos de Soares e Barbosa deu-se na geração dos pais de Fernando Luís (ou simplesmente Luís) Soares Barbosa e de José Luís Soares Barbosa, respectivamente nas pessoas de Violante Rosa Soares Barbosa, mãe de Fernando Luís e Luís Soares Barbosa, pai de José Luís.
Encontrei na obra de um dos biógrafos do poeta Bocage uma nota que indicia uma ligação parental a menos que não passe de simples coincidência histórica. Diz-se nessa obra que Gil Francisco Barbosa do Bocage tinha vendido um prédio que lhe tinha sido legados por seus tios eclesiásticos, em Abril de 1799.
A mim afigura-se pouco provável que duas famílias distintas com o mesmo patronímico, na mesma época, tivessem tios eclesiásticos, Antónios e Jerónimos, com património bastante para deixar aos sobrinhos. Não é crível que num país pobre, quando a Coroa era relapsa a pagar os honorários dos militares que serviam no seu exército, os padres amealhassem fortuna.
Sobre a condição da Coroa como má pagadora, constam na biografia do Bocage dois exemplos eloquentes: um requerimento do coronel-de-mar-e-guerra Gil l'Hedois du Bocage a solicitar a tença por 17 anos ao serviço no exército e uma procuração da sogra e cunhada de Gil Francisco Barbosa du Bocage passada a este para que pudesse requer a sua alteza real o pagamento dos honorários devidos ao Brigadeiro João Homem da Cunha d'Eça.
Haja ou não parentesco, o certo é que os Soares Barbosa se nobilitaram no uso da toga e da borla e capelo, coisa que não é irrelevante numa época em que Portugal tinha ao seu serviço embaixadores analfabetos, a fazer fé nas declarações de um dos maiores vultos da intelectualidade portuguesa do século XVIII: Luís António Verney.
Voltarei a tratar de outras questões da família Soares Barbosa, como, por exemplo, as prisões dos Soares Barbosa, a passagem do séquito real por Ansião, a oposição familiar entre miguelistas e liberais e outras histórias.

Fontes

Livro do Padre José Eduardo Reis Coutinho 1986
Livro Ilustres Ansianenses do Dr Manuel Dias
Genea de Jose Frazão
Foral Manuelino de Maria Margarida Sobral Neto
https://issuu.com/mariorui1/docs/ansiao_dossier: 

http://maltez.info/biografia/melo%20freire.pdf
Livro de Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas  de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes
Livro dos Soares Barbosa http://www.textiverso.com/
https://www.dicionariodenomesproprios.com.br/soares/ 
https://geneall.net/pt/forum/45587/ascendencia-francesa/ 

domingo, 31 de outubro de 2021

Lagar Maria Vitória em S. João de Brito, Ansião

 O nome do Lagar no feminino, afinal retrata o nome das filhas do casal seu  donatário - Maria e Vitória.

O primeiro conhecimento deste Lagar pela publicidade que ostenta a propriedade que foi do Prof Carlos Reis em S .João de Brito.
Entrada franca do Lagar
A minha decisão foi ponderada na panóplia conhecida  sempre acompanhada  com "cunhas" que abomino a que acresce o nome do Lagar no feminino, a privilegiar a Mulher e a tradição dos meus pais sempre lagararem a sul, em Martim Vaqueiro lagar que foi do Sr. Anastácio Monteiro, pessoa que era muito acolhedora.

A primeira etapa na chegada ao lagar

Despejar os sacos de azeitona. A hora estava marcada 9.15 mn , aconteceu  às 9,25.

Na foto o Sr. Capitão de Fragata Cândido Simões, da Ramalheira, a falar com o meu marido conhecimento do Arsenal do Alfeite.

Se atender que há gente que agenda dando a perspectiva de quilos mas, depois entregam mais o que  provoca demora na produção de azeite e claro atrasa os utilizadores seguintes.


O primeiro mecanismo da entrada da azeitona, sopragem de excedentes de folhas, lavagem e condução para a produção de azeite.

Local da produção oliva
Eficiência a culminar no dito popular - Cinco estrelas!
De realçar o carinho no atendimento desde o agendamento, tramitação, e pagamento 
Percebemos que o grau aumenta se manter vários dias a sacagem da azeitona no plástico, como manda a norma -, o calor amolece e começa a fermentar .
O azeite estava a sair entre o grau  0,4 e 0,5. 
Adorei. Encontramos ainda o Valdemar Dias da Gramatinha, que já não via pessoalmente desde o dia do seu casamento, em 1978. Está muito bem, elegante e jovem, excede as fotos que nos apresenta no facebook.
A esposa minha amiga Rosalinda trata-o bem.
Que mais dizer» Venham fazer o vosso azeite aqui. Vão gostar!
Ninguém me pediu nada, prezo o gosto de falar bem e, se não gosto faço critica construtiva. Assim é o dever e obrigação de um bom cidadão.
Há gente trabalhadora e com perfil em S. João de Brito a continuar a dar cartas à vila de Ansião, de onde sempre aportou gente que engrandeceu o crescimento em várias vertentes.

Pedi autorização para fotografar o lagar. 

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

A Confraria de Nossa Senhora da Paz na Constantina, Ansião

Resumo publicado no Jornal Serras de Ansião

Primazia do primeiro conhecimento no livro Perspetiva Global da Arqueologia Histórica e Arte da Vila e do Concelho de Ansião, de 1986, do Padre José Eduardo Reis Coutinho. 

Seguido do livro da Confraria do Dr. Manuel Augusto Dias, que o meu amigo Henrique Dias, enviou em  PDF em 2019. Mais tarde, a Dra. Teresa Falcão ofertou-me um exemplar na biblioteca.

                       

De exaltar júbilo às suas mesárias, fiéis guardiãs, do seu egrégio espólio;  Alvará de 1624 do rei Filipe III e, o das Feiras Francas de 1697, Compromissos e, Estatutos assinados por apelidos vivos - Freire, Fernandes, Rego, Nunes, Afonso, Viegas, Antunes, Cardoso, Roiz (Rodrigues) Pires, Simões, Borges, André, Mateus, Neno, Luís, Dias. 

Em 1996, o Dr. Manuel Dias correlacionou o arquivo da Confraria, missão difícil e, trabalhosa com muitas horas a interpretar caligrafias, na transcrição documental , pioneira e inédita (…) documentos muito incompletos, sem a morada de onde vinham os novos confrades, nem de quem dava a esmola, pese a grande dificuldade da ortografia  e falta de folhas conseguiu-se fazer levantamento por sexo entre  1661 e 1716 (…) Ao longo de 39 anos analisados, foram identificados 334 Lugares de origem de 2236 confrades (...) Conseguimos apurar 334 Lugares dos quais 254 são de fora do concelho de Ansião. A que correspondem 1578 confrades, dos quais só 29% são da freguesia de Ansião - a que correspondem 426 confrades e 51% das restantes freguesias do concelho, a que correspondem 212 confrades, isto é 9,4% da entrada de novos irmãos com morada conhecida (...) Ao longo de 39 anos analisados , destaque aos 10 Lugares que fornecem maior número de confrades:

                                                                      Pedrogão com 51 

Minde com 149 
Lousã com 81 
Ansião com 64 
Sarzedela com 63 
Sertã com 63 
Constantina com 62
Mira d'Aire com 54  (diz o autor este nome nunca é referenciado mas como os confrades de Mira se  inscrevem sempre com os de Minde, e pela proximidade se concluir que se trata de Mirad'Aire)
Pedrogão Pequeno com 43
Coimbra com 40
Além dos 10 lugares fora de Ansião , podemos apresentar o numero de terras de fora do concelho, de onde , no período referido se inscreveram 20 ou mais confrades 
Pombal 26
Palheiros 25
S Frutuoso - Ceira  25 
Cernache do Bonjardim 25 
Arega 22
Almalaguês 20 
Águas Belas 20 
Reguengo 20
As terras mais distantes indicada como morada dos confrades: Londres e Angola fora de Portugal,
Estremoz , Avis, Abrantes, Coruche, Golegã, Lisboa, e Oliveira do Conde - Carregal do Sal,) que o autor não correlacionou 
(…)  conhecimento mais profundo da comunidade que lhe deu vida (…) na forma de fazer uma “história total” que não exclui nada nem ninguém (...) um dado interessantíssimo em que se escreveu o maior numero de confrades em 1668 com 256 novos confrades, os quais vieram de terras fora do concelho de Ansião- diz o autor que o facto de tanta gente ter vindo à Constantina a Nossa Senhora da Paz esteja relacionado com o Tratado que acabava com as guerras da Restauração, que duravam desde 1640 e foi assinado a 5 de janeiro de 1668 em Madrid.

Clérigos e Famílias mais importantes que se inscreveram na Confraria
1663 Fr e Pª frei (como aparece nos livros - Talvez  Frei Freire Pereira ? 
1663 Capitão José Antunes e esposa Antónia Francisca de Minde - 40 réis
1663 Padre Gregório Miz 10 réis
1666 Dr. Manuel Dias da Silva e sua mulher D Mariana de  Ansião - 50 réis
1666 Padre Manuel Antunes - 10 réis da paroquia de e Pedrogão
1666 Padre D Leandro do Paraíso, frade de Satan Cruz de Coimbra  -20 réis
1666 Padre Luís Domingos Tavares - 20 réis, Tojal Sertã
1667 Padre Manuel Mateus - 20 réis
1667 Padre Gregório Roiz(da paroquia de Havis e se assentou com a sua mãe) de Pedrogão 
1667 Padre Manuel Lopes - 20 réis da paroquia da Aguda
1667 Padre Tomé Antunes -20 réis, da paroquia de Areias
1668 D. Velasquez Sarmento e mãe D. Sebastiana de Almeida e seu filho Dom João Sarmento -100 réis
1668 Prelado Simão Dias 2 oliveiras 
1668 Padre António de Queiroz - 20 réis da paroquia de Miranda
1668 Padre Manuel Roiz - uma oliveira
1669 Padre Manuel Curado - 20 réis da paroquia da Lousã
1672 Padre Gregório Martins de Pedrogão, 50 réis de esmola da paroquia de Palhais (Chão de Couce)
1673 Padre Manuel Pessoa Durão -200 de Ourém 
1674 Francisco de Carvalho (almoxarife das 5 vilas) 250 réis de Chão de Couce 
1675 Padre João - 50 réis de Pedrogão Pequeno
1676 Padre João Alures  200 réis de Miranda do Corvo
1676 Francisco Ferraz Coelho, D Antónia da Costa sua mulher, João Ferraz Velho, seu filho, Francisco Ribeiro? da Azambuja , seu filho, D Isabel da Azambuja, sua filha, Fernando Ribeiro? da Azambuja, seu filho; Helena Coelha sua criada ; Mara dos Santos sua criada; e Domingos Francos eu criado - 450 réis
1676 Padre António Travassos - 50 réis, de Águas Belas 

Prefácio do livro da Confraria de NSPaz pelo Dr. Vítor Faveiro  (...) A história de uma terra e suas gentes, passa, indubitavelmente pelas suas instituições (…) por contribuir, por certo, para um conhecimento mais profundo da comunidade que lhe deu vida (…) na forma de fazer uma “história total” que não exclui nada nem ninguém. A Confraria que, apesar de ser laica, tinha objetivos pios; organizar a devoção a NSPaz.

Aos meus olhos:

Pese registo aquém à temática quase inédita, jamais a temática mereceu Dissertação de Mestrado. 

Cujo conteúdo se mostra incompleto, ao não coligir informação e presumir considerações. A leitura  desenvolve-se com a transcrição dos manuscritos por ordem sequencial de acontecimentos. Ressalta no ceio da Confraria, realidades até hoje em penumbra, e não foram postas a descoberto,  quiçá suscetível a alguns de fé mais arreigada, que em Democracia, muito se respeita. Mas, o passado é oq ue foi e devia ser contado, sem medo! Na verdade muitos livros não se venderam, com exemplares pela Biblioteca depois de terem andado pelo Centro Cultural e,...

Em ênfase a sociedade laica  que instituiu a Confraria

Jamais abordada a chegada de judeus asquenazes fugidos de Espanha depois de 1492, os chamados cristãos novos. A  mistura de genes em gerações e séculos de cruzamento, persiste na região. Evocar povoadores  vindos da Galiza , com raízes de judeus sefarditas,  celtas e, outros povos ali aportados por mar vindos do Mediterrâneos; gregos, italianos e fenícios, entre outros, com os mouros que ficaram após a reconquista cristã. Referenciados clãs judaicos pela  minha bisavó materna Brízida Ferreira, da Mouta Redonda, Pousaflores, que os  transmitiu ao neto - Alberto Afonso Lucas - as  colónias de Fariseus e Galileus nas Cinco Vilas, com menção na Crónica da História de Pousaflores.

Os judeus foram obrigados a professar a religião cristã, senão seriam expulsos de Portugal. Povo de cariz inteligente e letrado, deliberadamente profanaram a Fé Católica, sem a assumir e, a igreja nem se deu conta, ou deu,  mas, como lhe era propicio pela riqueza que se granjeava, tenha fechado olhos...Tratava-se de um povo de oposição ferrenha ao Cristianismo, rendido através dos tempos numa figura de fanáticos e hipócritas que apenas manipulavam as leis para seu interesse e fomentar riqueza. Esse comportamento e modo de viver, deu origem ao termo "fariseu" para  explicar a razão de tanto  milagre e romaria no séc. XVII em suporte na esperança encapuçada de cura milagrosa,  em gente beatizada e analfabeta, por isso o êxito.

O livro do Dr. Manuel Dias, serviu ainda de alavanca ao pedido da Câmara de Ansião, ao IGPAR, para classificação da Capela da Constantina, como Imóvel de Interesse Público. Saiu no Diário de Notícias em 24 de abril de 2013 (…) o valor da Capela enquanto testemunho simbólico ou religioso, estético, técnico e material intrínseco e, a sua conceção arquitetónica e paisagística. Severim Faria, na sua visita em 1625 - chamou-lhe Igreja. 

Contudo desvendar o passado obriga a falar direito do que realmente aconteceu. Na Cronologia dos Monumentos Nacionais não há menção de escavação arqueológica ao morro do sítio da capela que aponta para possível  podium romano? E ainda sobre as colunas do alpendre que foram esculpidas em 4 meses ?O  tempo que demorou ampliar a ermida na capela atual? Quiçá, ou são reutilização ou, vindas de outro podium do sítio da atual matriz, ou não, trata-se de arte de lavrante quinhentista, ao jus do nicho do altar da Senhora e arco triunfal na simbologia aos afetos de anjos alados. Como faltou aprofundar em âmbito antropológico a voz do povo, das suas memórias ao eclético ;  túneis de mouros e de um Menino Jesus em ouro, enterrado à passagem dos franceses....o que parece existe é outro Menino Jesus de terracota... Jaz no adro uma grande pia de água benta, a servidão de lava-mãos – teria sido da primitiva matriz de Ansião - em 1807 as pias de água benta foram consertadas…

Tantas vezes para visitar a Constantina, aconteceu em agosto de 1990 – pasmei, ao galilé de colossal colunata, à laia do rico templo de Diana!

O rei D. Filipe III, de Espanha, assinou os Estatutos da Confraria, em Lisboa e, jamais passou na Constantina, tal como em 1669, o príncipe Cosme de Médicis.

Dissecar excertos  do livro de 1996 a Confraria de Nossa Senhora da Paz 

(...) Em 1786 roubo na capela, vários objectos em ouro foram roubados da NS da Paz durante a noite com arrombamento da porta a norte.» Sem  especificar os objectos roubados.

(...) Em 1811 as invasões francesas na sua passagem a feira de 24 de janeiro não se realizou, nem missas, as casas e alpendes da confraria foram incendiados. 
O autor não fez menção das duas marcas de fogueira, uma no lajeado do alpendre e outra no corpo da capela.

No “O Inventário Artístico de Portugal” de 1955  a respeito, o seguinte desabafo: O sacristão disse que o templo estava muito desmoralizado, e os inventariantes estiveram de acordo. 

(...) A erecção da Confraria de NS da Paz , resultou da necessidade que se sentia, na freguesia de Ansião, de cuidar do culto a N S da Paz e de dar boa arrecadação às esmolas , que eram ofertadas em grande número , em virtude de muita gente que ia, em romagem , à Constantina e Fonte Santa. Foi em Ansião a 17 de outubro de 1623 , estando presentes o juiz do lugar e o juiz da igreja mais «outo homens dos Acordos dos ditos Concelho de Ancião(...) e por elles juizes foi dito aos outo homens dos Acordos, e ao pouo que presente estaua que pois a Sra da Paz lhes fazia tantas merces sendo seruda de os fauorecer comtantos; tam cõntinuos milagres; por essa causa auer muito grande concurso de gente devota que aella vem com suas esmolas e procissões que também vinhão a Senhora ; por conuir ao serviço da dita Senhora ; bem espiritual das suas almas, disserão elles os juizes aos dito outo homens do concelho; mais povo queera bem de todos juntos instituissem ,  ordenasse Confraria à dita Senhora e se escrevessem por seus irmãos e confrades, e de todos se elegessem oficiais.
Logo aí foram empossados pelo juiz do Lugar Thomé Roriz lhes deu juramento dos Santos Evangelhos em que puzerão as mãos , os primeiros oficiais que serviram a Confaria.
Juiz João Freire  o velho. 
Mordomos Gaspar Nunez de Ancian 
Gregório Roriz da Ribeira (da Mata que vem do Alvorge para a Lagarteira)
Escrivão - António Jorge da Constantina.

Os Oficiais da Confraria e, 8 homens dos Acordos. 

(...) A Confraria fundou-se com 70 Irmãos  sempre com numero crescente de confrades sem fazer exigência aos critérios de admissão e aos estatutos  na distinção de irmãos e de irmãs como outra Confraria da mesma Diocese - Marmeleira , em Mortágua.

 Irmãos fundadores da Irmandade de NSPaz 
Pista importante que documenta os mais ilustres nessa época.
(...) A  crónica de Severim Faria, na visita à Constantina, com o tio, o Chantre de Évora, tendo ficado na vila na casa de D. Cristóvão Manoel, quem tinha a comenda de Ansião, em 1625. Fala de João Freire o velho - o juiz com o poder na igreja, que instituiu uma capela em 1603, descrita nas Memórias Paroquiais. 
Os Mordomos da Confraria: Gaspar Nunez de Ansião e Gregório Roiz da Ribeira(Açor) 
O escrivão António Jorge da Constantina.  Lhes deu juramento o juiz da vintena da Sarzedela a que a comuna da Constantina estava sujeita Thomé Roiz (...) depois aparece Leonardo Freire mor de Ansião, depreendo capitão mor, assinaram - Leonardo Freire, André Fernandes( fez uma capela particular na matriz de Ansião, onde foi sepultado com a esposa), João Freire, Simão do Rego, Gaspar Nunez, P,o(Pedro Viegas, Francisco Freire, Miguel João,João Aº (António) , Manoel Antunez, Manoel Frz queimado (pode ser alcunha),Damião Cardozo, António Roiz, Simão Pirez, Fr.co(Francisco João, António Simois, Miguel Antunez, P.o frz (Pedro Francisco?)Simão Nunez, Luís daureau Borges, Manoel Cerveira, Antº(António) Jorge, Manoel Freire, António Dias quabaço (alcunha?) , António Vicente, Domingos João de casal, Manoel Freire da Sarzedela, João Freire das Lagoas, Simão Bras, o novo, Ruy Piz o velho, Simão Matheus, António Nunez, Simão Afonso ( correlacionei-o irmão de mais dois, todos escreveram carta ao papa para fundar a igreja no Avelar julgo 1603), P.o Glz, Domingos João. 

Dissecar a Associação dos Irmãos na Confraria

A fundação da  Confraria de NSPaz aconteceu a 17 de outubro de 1623 , após 67 dias do Milagre da Fonte Santa  . Se admita com as comunidades laicas da Constantina e da vila, unidas a cimentar o milagre, sem pejo, a profanar a religião cristã a engodo de águas santas, no poço de chafurdo romano, que existia na via secundária romana, agora medieval. Honra a qualquer terra é agraciar o viajante com oferta de água fresca e jamais receber esmola a cura milagrosa encapuçada sem dó nem piedade! 

Os Irmãos,  eram compostos por homens de maior estatuto financeiro e os de menor condição - os chamados Irmãos mecânicos. A Fundação formou-se com homens da Constantina, Sarzedela, Casal, Lagoas, Maxial, Ribeira (Açor) e os da vila

Em 1623, era irmão da Confraria - Simão Afonso - um de 3 manos que enviaram carta ao Papa para fundação da Igreja no Avelar. Em 1681, temos o registo de falecimento na sua casa de Ansião, de um frade da Ordem de S. Domingos. Quiçá vindo dos Mosteiros da sua Ordem; Pêra, Alge passou por Ansião por casa do amigo e seguiria para o do Rego da Murta, debalde não sabemos se ainda nesta data estava ativo. Simão Afonso seria abastado, com moinhos de água, para acolher gente do clero. Já o seu descendente João Afonso, da vila, na centúria de 800, foi assistido na doença várias vezes pela Casa da Misericórdia de Ansião e, depois a sua viúva. Julga-se perdido o apelido na freguesia; que o carrego da minha mãe, com origem em Pousaflores e, vivo, em Chão de Couce.

Temos em 1668 - a doação de 100 réis, de Dom Velasquez Sarmento e mãe D. Sebastiana de Almeida e, seu filho Dom João Sarmento. Família que carece de estudo genealógico com origem no Espinhal. Em Ansião, viveram na Quinta do Vale Mosteiro de Baixo, Fonte Galega e, Quinta de Além da Ponte, com jazigo no cemitério. A negação à digitalização dos sepultamentos a grande lacuna, em mais se investigar.

Admite-se que João Freire o velho, juiz da igreja foi o mentor que levou a Imagem da Virgem que fora espólio da primitiva matriz, para a Constantina, onde foi batizada ao culto de NSPaz, nascido em Toledo. A crónica de Severim Faria de 1625 retrata o episódio enviesado e distorcido da realidade, ao acusar o povo da Constantina de a ter ido de noite buscar à sacristia, para os ansos não se darem conta...o que depreendo das entrelinhas, aqui fica a ressalva da  sua ilibação.

Confraria da Constantina com o Alvará Régio de Filipe IV de 30.10.1624
1.ª página 
«Eu El Reyfaço saber aos que este Alvará virem que os officiaes da confraria da nossa senhora da paz do Lugar da Constantina na freguesia de Ansião termo da cidade de Coimbra me emviarão dizer por sua petição que a dita comfraria hia em grande augmento por causa das grandes maravilhas e mylagres que a Virgem nossa senhora obrava cada dia e pêra que o serviço da senhora se podesse conservar e se fizesse com a perfeição que comvinha ordenarão por comum consentimento de todos o Compromisso que oferecido o qual corregedor e provedor daquella comarca vira e aprovara como constava do assento que disso sejizera Pedindo me lhes fizesse merçe de lho mandar confirmar, E visto seu Requerimento e a informação que se ouve pello doutor Diogo ferreira de Carvalho dezembargador da casa da suplicação que vio o dito Compromisso e he o atras escrito em onze meãs folhas como esta e querendo lhes fazer graça e merçe hey por bem e me apraz de lhes confirmar como de feito por este Alvora confirmo hey por confirmado o dito compromisso na forma e nossa maneira que neíle se contem e quero que assise cumpra eguarde como nelíe se declara e mando a todos os dezembargadores, corregedores, provedores, ouvidores, juizes, justiças officiaes e pessoas a que o conhecimento disto pertencer que assi o cumprão e guardem ejaçam inteiramente comprir e guardar. E me praz que valha tenha Jorça e vigor como sejbra carta Jeita em meu nome por mim assinada sem embargo de ordenação do segundo Livro titolo corenta em contrario Pedro Alvarez o fez em Lisboa a trinta de Outubro de mil seiscentos e vinte e quatro. Manoel Jugundez o Jez escrever.
Segue- se a assinatura de Filipe IV do Alvará que Vossa Magestade he por bem de confirmar aos officiaes da confraria de nossa senhora da paz do Lugar da Constantina freguesia de Ansião termo da cidade de Coimbra, este Compromisso na forma que nelle se contem pello mandado acima declarado. Seguem-se duas assinaturas».
Primeiro Compromisso da Confraria da Constantina 
«CAP.° 1 do Recebimento dos Irmãos nesta Confraria
Todos os Fieis Christãos; que por serviço de Nossa Snrã da paz se quizer meter por irmão desta sancta Confraria será assentado no Livro della, e dará cada hum de entrada conforme sua possibilidade, que a menos será de cada hum vinte reis e sendo pobre dez reis, e quando falecer deixe a dita Confraria de seus bens o que quizer, e será participante em todos os benefícios que o Senhor Deos e o Padre Sancto o Papa nosso Senhor outorga aos confrades que nesta confraria entrão
CAP.° II da pena que averão, os que não aceitarem o Serviço da Confraria
Ordenamos e estatuímos, que cada hum dos ditos irmãos que sair por official desta Confraria se não escuse do cargo que lhe for lançado e aquelle que o recuzar sem legitimo impedimento pagara sinco arráteis de cera se for mordomo ou Escrivão, mas se for Juiz dez arráteis de cera em pena de não aceitarem o serviço da dita confraria.
CAP.° III da ordem que avera no dizer das Missas
Nesta Confraria como dito he avera hum Juiz, dous mordomos, hum Escrivão, e hum Cappelão o qual dirá missa pellos irmãos confrades e benfeitores desta Sancta confraria, e caza e vivos e defunctos, todos os dias de Nossa Snra que ha pella roda do anno, e Domingos e Sanctos delle e assi mais os primeiros Domingos de cada mes se dirá nua missa em memoria dos doze Apóstolos de Christo para que roguem a Deos por nós pecadores tudo a custa da Confraria, e os officiaes que servirem darão candeas ou vellas aos confrades que terão acezas em suas mãos, emquanto estiverem a dita missa e o Capellão antes do Prefacio ao tomar do lavatório será obrigado a dizer pellos vivos e defunctos e benfeitores desta caza a oração do Padre nosso, e Ave Maria, e os confrades prezentes o rezarão também pedindo ao Senhor Deos haja por seu Sancto serviço aver misericórdia das almas de nossos irmãos e confrades vivos e defunctos.
CAP.° IIII Como por ordem do Juiz se mandarão dizer as missas 
O Juiz terá cuidado de mandar dizer as missas sobreditas para que a Senhora seja bem servida e assi tudo o mais que he bem parecer, conforme a possibilidade da dita confraria e para honra de Deos e de nossa Senhora e proveitos de nossas almas e dos defunctos.
CAP.° V que o Juiz que se elleger tenha as partes que se requerem
Na elleição do Juiz se terá muita consideração para que se elleja pessoa que tenha as partes que para o dito cargo se requerem: e a mesma se terá na elleição dos demais officiaes, e ao fazer delles se lerá este capitulo aos cabiduães que os hande elleger
CAP.° VI de como se ellegerão os seis cabiduães, e os mais offíciaes que hande servir a Confraria
Mais ordenamos que em cada hum anno se ellejão primeiramente seis homens dos irmãos da Confraria de boa e sam consciência e fama que sejão Cabiduães elleitores e que estes ellejão os ditos offíciaes como dito he, e o Juiz Velho da confraria lhe dará juramento para que bem e verdadeiramente sirvão seus offícios, que na dita Confraria me forem dados guardando primeiramente o Serviço de Deos e de Nossa Senhora e bem do prol commum segundo suas consciencias: estes seis homens se hande elleger em cada hum anno pello dia de Nossa Senhora da Paz para a dita elleição como dito he.
CAP.° VII da obrigação dos mordomos e como terão em seu poder as pessas e ornamentos da Confraria
Ordenamos que os mordomos que servirem e ao diante forem terão em seu poder todas as pessas ou prata e mais ornamentos e as demais couzas da Confraria que se terá dentro em hum caixão que mandarão fazer para terem as cousas sobre ditas da Confraria e terão muito cuidado e lembrança destas e de todas as mais cousas que lhe pertencem convém a saber de mandarem pedir para as missas de Nossa Senhora e suas obras na qual igreja e hermida avera alem disso huã caixa para nella os Romeyros e fieis christãos deitarem esmola para as obras de Nossa Senhora a qual terá duas chaves com boas fechaduras differentes-huã das quaes terá o Juiz da dita Confraria e outra hum dos mordomos e isto em quanto servirem o seu anno e terão muito cuidado de mandarem fazer, e pôr em recado todas as cousas que pertencem a Confraria e de as mandar fazer e comprar cada huã em seu tempos sob penna de pagarem de suas cazas a Confraria tudo aquillo que por sua negligencia ou culpa se perder; e de tudo o que Receberem e despenderem lhe será tomada conta pello Juiz e officiaes que de novo entrarem a servir a Senhora da Paz, a qual darão tanto que acabarem de servir seu anno dentro em quinze dias ao mais tardar, sob penna de mil reis para a cera e obras da Confraria.
CAP.° VIII como as cousas da Confraria se arrendarão ou arrematarão
a quem por ellas mais der
Todos os bens que ouver da Confraria se arrematarão em pregão a quem por elles mais der e o que Renderem se carregara em termo apartado no livro das Receitas desta Confraria.
CAP.° IX de que avendo duvida na elleição se ellegera por votos de toda a Irmandade o Capellão
Ordenamos que avendo duvidas entre os seis elleitores Cabiduães, Juiz e officiaes da Confraria sobre a elleição do Cappellão dela, se ellegera a mais votos de todos os irmãos e confrades para que não aja scandalo entre os officiaes e se faça o que for mais proveito da Confraria porque assi entendemos será a Senhora mais bem servida.
E Porque de todo o conteúdo neste Compromisso somos contentes Pedimos a Vossa Magestade nos faça merçe de o mandar confirmar e mandar que o Juiz da dita Confraria tenha poder e auctoridade para obrigar ou executar nas pennas sobreditas aos irmãos que não quizerem aceitar os cargos e officios que nesta Confraria da Senhora da Paz lhe forem dados, E, R, M.»

Esta é que é a Imagem da verdadeira Nossa Senhora da Paz

A Confraria solicitou alvará para duas Feiras Francas

(...) O alvará régio para duas Feiras Francas  a realizar a 24 de janeiro e a 2 de julho de cada ano no Rocio da Capela foi concedido por D Pedro II a 25 de junho de 1697. 

Ação mercantil  com tradições de património imaterial  ao rei pinhão e à Rainha Santa Isabel,  a evocar a memoria da sua passagem por Ansião.  

Com panóplia de vendedores de várias origens. Na centúria de 800, vinham de Soure, ao enxergar tamanha riqueza, credível levaram a semente dando início ao ritual - Ramo de Pinhões ao Divino Espírito Santo - andor enfeitado com pinhões, há mais de 200 anos. De igual modo, foi plantada  a semente em Oliveira do Conde, hoje Carregal do Sal, de onde também eram assíduos vendedores nas feiras na venda de tanino e, claro se tenham alastrado ao Alto Alentejo, por serviçais dos Senhorios na região abaixo do Tejo. 

A  transcrição sobre o vendedor aforô Manoel António Roriz Guimaes

Se entenda apelido com origem da terra de origem. 
Em  Ansião e, a escassos quilómetros a sul da Freixianda, em Rio de Couros, houve prática da arte de curtir peles,  trazida de Guimarães, onde era rainha, arte deixada dos mouros,  ainda hoje com grande evidência em Fez, no norte de África. Curiosamente a festa do bôlo, massa de pão, cozido nos fornos como Abiul, Avelar, que ainda existem, também aqui houve essa tradição, como em Pombal e Santiago de Litém.

O apelido Guimarães
Desconheço  como o meu ascendente  António Joaquim Bastos Guimarães, nascido em Fafe, educado na Roda de Guimarães, veio para  Maças de D. Maria. Aportou à Cabeça do Bairro, em Ansião , como Oficial de Diligências no Tribunal na Casa da Câmara. O apelido perdeu-se em Ansião , ainda vivo em Figueiró dos Vinhos.

Retirei excerto sobre a arte de curtir couros em Guimarães
https://bloguedominho.blogs.sapo.pt/
(...) Noutros tempos as pesadas fazendas – assim eram denominados os couros - eram submetidas a complexos e demorados processos de transformação. Em condições de trabalho muito precárias e estando em permanente contacto com a água, homens de forte compleição física revolviam as peles mergulhadas em tanques  de granito rasos ao chão, como no norte de África ainda se usam para a tinturaria. Os curtidores eliminavam os pêlos e as gorduras, com auxílio de ferrelhas, preparando as fazendas para durante meses receberem a curtimenta propriamente dita.
As cascas de carvalho, retiradas das árvores que abundam nas serras altas de Fafe, ofereciam o tanino à operação que era orientada pelo saber transmitido de geração em geração.
Descalços, ao sol ou à chuva, os curtidores tinham um trabalho árduo, sujo e mal-cheiroso. A sua experiência e sabedoria eram, no entanto, fundamentais para o conhecimento das implicações das condições climatéricas na temperatura das águas onde repousavam as peles em banhos tanantes.
Seguia-se o enxugo muitas vezes ao ar livre, ocupando as bermas da via pública.
Cabia aos surradores o processo de acabamento, antes dos couros serem colocados a secar em arejados barracões de madeira, construídos sobre oficinas ou paredes-meias com as modestas habitações operárias, ou até nos quintais dos edifícios burgueses.
Sabendo que ao longo de séculos, as matérias-primas desta indústria foram os couros do gado bovino abatido no norte. Seguiram-se as peles oriundas do Brasil e de Angola e Moçambique.
O negócio era rentável e despertava o interesse e o investimento de pessoas oriundas de todas as classes sociais, tendo-se tornado numa atividade que muito contribuiu para a projeção económica de Guimarães e para o desenvolvimento de outras atividades como a industria do calçado. 

Em plena época medieval,  que foi propícia a milagres e águas santas, para mais tarde se admitir com a perda de receita vir a singrar o pinhão - alimento trazido por gente vinda do Mediterrâneo - era duradoiro e vendável. O cultivo da pinheira, além do fruto - o pinhão, a sua casca rica em taninos, era usada para curtir couros na indústria que floresceu em Guimarães, desde a Idade Média, fora das antigas muralhas junto ao rio que atravessa a Cidade, numa zona outrora conhecida por burgo de Couros e onde atualmente ainda persistem os vestígios dessa ligação antiga à manufatura das peles.
Os curtumes explicam a migração interna na vinda de gente do norte que trouxeram a  herança dos curtumes para Ansião. Contudo, a falta de água os tenha feito mudar na centúria de 700, para Torres Novas, pela ligação que existia com o Duque de Aveiro, em ter ali o Senhorio e quintas em Ansião. Hoje, a industria dos couros, floresce ainda em Pernes. 
Nas Memórias Paroquiais temos um um individuo de apelido Freire Gameiro - instituiu uma capela na vila de Ansião - mas,  assistia às missas em Torres Novas. Se correlacionar o apelido Gameiro, com raízes vindas de Ansião, no pai da locutora Fátima Lopes, de quem conheci o tio - o padre Ricardo Gameiro na Cova da Piedade - a alta estatura e olhão a filões de oportunidades, e ainda o cariz altivo se admita com genes judaicos.
Resquícios dessa herança recordo o meu pai curtir uma pele de uma cabrita e,  de a ver esticada em canas, a lembrar um estandarte.

Por datar o início do conceito da Banca em Ansião
O cariz  agiota das comunidades laicas , debalde afirmadas cristãs, para não ter incómodos, de gente da Constantina e da vila de Ansião. A acreditação do milagre da Fonte Santa, fomentou a chegada de muitos doentes na procura de cura, romeiros e novos confrades. As esmolas eram tantas, que logo decidiram ampliar a pequena ermida na Constantina, capela atual, que se devia chamar igreja, pela monumentalidade. Povo que implementou  pelo menos no séc. XVIII , o início do sistema da Banca, concedendo empréstimos, a juro de 5% . Por apurar se o conceito foi implantado nesta Confraria, ou noutra anterior da Casa da Misericórdia de Ansião? Como não se sabe em Portugal, qual a terra, que primeiramente introduziu a técnica de cobrar juros, para rentabilizar recursos financeiros, rotulada de ajuda humanitária? Fenómeno bancário documentado, foi exercido na Constantina, e na Misericórdia de Ansião, fenómeno  desconhecido de muitos como de investigadores. Jamais valorada na sociedade laica que a concebeu e, se aclame – ainda se mantém viva entre particulares, em Ansião!

O ativo financeiro correlacionado no livro da Confraria

(...) em 25-06 de 1697, o alvará das feiras francas, a conceder autorização aos oficiais da Confraria  para cobrança do terrádego aos feirantes, alugava tábuas, alpendres e ainda disponibilizava duas casas. Mercadores pagam 300 reis, Tendeiros, Sombreireiros, Cortidores. ourivices, 100 res , demenos conta cinquenta, unindo carros e cavalgaduras , e ainda a cabessa com as costas, 20 reis.

(...) alguns aforamentos entre 1815/8 de vendedores que se deslocavam de longe desde Tomar, chegavam de antevéspera ou véspera para arranjar melhores locais. 

(...) Aforão nove lugares de Vala (de Ourique)- que o autor não conseguiu decifrar (?) Jozé da Cruz Marto; Manoel Marquez Loirenço e da outra banda Joze Marquez Loirenço; aforão José Pedro de Condeixa, em 1815 dois lugares pegados à capella; aforô Manoel António Roriz Guimaes o lugar pegado à loja de baetas de João Batista de Soire da parte de tras em 24 de janeiro de 1817; aforô Sr Joze Caetano de Soire hum alpender o de cima o Lugar do meio - 1.000 por cada um , 23 de janeiro de 1815. 

(...) Esmolas a forasteiros suplicadas , em género (milho, trigo etc,  que depois era vendido) com outras em dinheiro a juntar com as esmolas da caixa da Capela, azeite de 223 oliveiras e lande de 6 carvalhos, e rendas de três fazendas; Poizão, Linhares e Vale das Caeiras. Com capital a juro (julga-se de 1774 até 1853 no total de 148.100 réis, que, à taxa de 5% dava um  juro de 7.400 réis ao ano. Passou nesse ano para 348.100 réis, com o legado de 200.000 réis, passando a 17.500 réis/ano. Em 1850 a Confraria com o recebimento de um  legado de 200 000 réis reforçou a carteira no total de 350.000. Lamenta-se a falta de menção de quem fez a doação, seria de pessoa importante.

 (…) uma das mais antigas instituições de Ansião. Se comprova no registo paroquial (…) a 9 de julho de 1600 batizou António Martins, capelão da confraria da minha igreja - mais tarde aparece denominada por Confraria velha.


Notas curiosas que se retiram do livro                             
(...) Em 1775 venda do olival do Rossio em volta da capela por preço muito inferior ao valor real que provocou grande consternação por muitos irmãos...» 
Segundo o autor João Freire seria  irmão de Francisco Freire, ambos dos Netos, este em 1775 Mordomo da Confraria e  nesta data João Freire aproveitando-se da função do seu irmão ser o Mordomo, comprou o olival do Rossio da Capela, sem ter dinheiro contraindo um empréstimo de 57.600 réis  de valor inferior , quando valia 150.000 réis. 
Denota o jogo oportunista no seio do interesse familiar em  obter beneficio, furando o conceito dos Estatutos da  Confraria - para um irmão  privilegiar um familiar direto, um seu irmão de sangue, em detrimento de toda a Irmandade da Confraria.
Assiste-se ao mesmo sofisma implantado com a fidelização do Milagre da Fonte Santa, no imediato ampliar a ermida na Constantina, em templo recorde (4 meses), engrandecida  com telheiro para acoitar romeiros, quando o certo seria ter erigida no Lugar onde nasceu o  Milagre.
Por último, a venda do olival por  valor inferior ao do mercado e, o comprador sem capital  a ser financiado pela Confraria,  onde o irmão teria voz firme para a sua aprovação.
O episódio, retrata o início do conceito da Banca, no concelho de Ansião, introduzido pela comunidade judaica  na Constantina que a documentação da  Confraria o legitima - mas o autor não correlacionou, e, na minha actividade bancária correlacionar com  extraordinária facilidade .

(...) Em 1774 aparecem nomes  a quem foi dado empréstimos
Manuel Roriz Valente ; Manuel Simões; João Freire;Lucas Pereira Pegado; Manuel Roriz; João Pires; Maria dos Anjos, viúva de António Freire; Luísa Maria, viúva; João de Barros; Maria Godinha; Manuel Roriz da Paz; Manuel da Costa;José Mendes ; António Duarte Faveiro; Joaquim Marques; José da Silva; Narciso Caetano; Francisco Dias e,... 
Sobre Manuel Roriz Valente - faz parte da minha árvore genealógica com raízes na Constantina e Sarzedela.

(...) com base numa certidão lavrada em 1776 passada à ordem do Provedor pelo escrivão da Confraria Alexandre de Barros e Santos, e pelo Mordomo da mesma João da Silva, muitas vezes, os Mordomos eram negligentes , ou não se queriam dar ao trabalho burocrático , ou ainda, pretendiam escapar ao pagamento da décima, não registando  no notário estes contratos de empréstimos, daí que tivessem sido advertidos   várias vezes para este facto. A "actividade financeira" era útil para ambas as partes: para as pessoas que contraiam os empréstimos , porque assim podiam satisfazer necessidades imediatas de capital, por um juro bastante baixo e para a Confraria que, deste modo rentabilizava , em segurança, o seu dinheiro.
Na Constantina - 7 empréstimos
Netos - 1 mas atinge 1%3 do total do capital emprestado
Loureiros - 1 empréstimo
Ansião - 1
De Ansião - Maria Godinha- em 1776 encontrava-se em litigo no juízo de Ansião  
O capital a juro da Confraria era de 138.026 réis e com ele 145.326 réis =7.300 réis que devia
A Confraria aceitava mulheres como confrades. Contudo se admitirmos que o ganho de direitos - como o simples ato de abrir uma conta bancária,  só foi possível após o 25 de abril - acaso seria abençoada de belos olhos azuis como Jesus?

O valor dos empréstimos até meados do século XIX rondou neste e noutros beneficiários, viúvos e filhos o montante de 148.000 réis, o que dava um  juro de 7.400 réis ao ano no ano de 1850.

(...) O maior número de confrades de Pedrogão Grande, auspicia origem do apelido Freire, aportado a Ansião, da família nobre de Miguel Leitão Freire d’ Andrade? Ou de um ramo que veio de Soure?

Não deslindei no livro do Dr. Manuel Dias, referência ao Mestre Jesuíta António dos Santos Coutinho, que instituiu em 1696, um Morgadio em Ansião, com capelas aos seus limites, para não se perder a memória da passagem da Rainha Santa Isabel. Porém, não aparece como confrade, nem menção de esmola, nem de outrem do seu apelido – pese o arquivo incompleto, e tendo a sua família exercido cargos na Misericórdia de Ansião, acaso seriam de um outro clã,  a não se identificar com a ideologia cimentada no milagre da Fonte Santa, ou não, a rivalidade era cimentada no dinheiro? A Feira Franca dedicada à Rainha Santa Isabel a 2 de julho, com alvará régio a 25 de junho de 1697. Agora - quem foi o pioneiro a perpetuar a sua memória em terras de Ansião? O Mestre Jesuíta ou, a Confraria da Constantina?

A câmara de Ansião, pós a retirada das Feiras Francas da Constantina para a vila, não procedeu aos pagamentos prometidos em ata, o que explica um hiato de 98 anos do fraco rendimento sem a receita do terrado, a ditar o abandono sem manutenção da capela em obras de benfeitoria. 

O povo da Constantina ainda guarda a amargura da retirada das feiras, e claro da perda da receita. Foi prometida pela camara, mas, jamais cumprida. Em verdade alguma razão houve, que hoje se antevê, se analisarmos o dinheiro que andava emprestado, que não foi pago nem os juros. Alguém ficou com o dinheiro, como o ouro,  entregue em promessas. A ilação que se retira se atender ao  rico património, que se desvaneceu e degradou, com agravo dos párocos que passaram por Ansião, a não lhe destacar o seu valor. Exceção do Sr. Padre Manuel Ventura Pinho, na primeira vez que a visitou logo enxergou o real património, e claro se deu alerta para ser hoje um Monumento de Interesse Nacional! Pelo que fez pela preservação do património religioso em Ansião a que se junta a partilha a dando a conhecer ao Mundo, merecia estar atestado na toponímia. 

Conclusão

A Confraria desempenhou papel fulcral na troca cultural alicerçada numa instituição de âmbito religioso, com romaria e peregrinação a NSPaz, cujos devotos eram maioritariamente da região centro, vindos ao chamariz do banho para curar maleitas. Já os confrades, vinham também pedir concessão de crédito. Os pobres e mendigos, procuravam apoio e ajuda solidária. Gáudio a ação mercantil, pela panóplia de oferta: tecelagem, peleiros – alcunha viva em Ansião, todo  aquele que comprava peles de coelho para vender para as fábricas de chapéus e julgo para os xailes da Lomba da Casa, tanoeiros e ferreiros do Pereiro, de Pousaflores, oleiros de Miranda do Corvo, paneiros de Soure, baetas de Condeixa, ourives de Febres e Cantanhede, curtidores de Guimarães ( em Ansião havia o hábito de curtir peles, recordo do meu pai curtir a de um cabrito, de a ver esticada com canas no sotão) , chapeleiros de Braga, sedas de Bragança, etc. 

Nos finais do séc. XIX deu-se a mudança das feiras francas para a vila. Perdeu-se a sua identidade cultural. Resistem noutros moldes - a feira dos Pinhões e as festas na Constantina.

Por fim comparar na mesma Diocese, a que foi a Irmandade da Senhora do Carmo da Marmeleira de Mortágua, com estudo em 1987, da Dra Guilhermina Mota - em verdade – a Confraria da Senhora da Paz – apresenta-se em imerecido patamar inferior. A exigir maior investigação, divulgação e acreditação, pela secular dimensão oferecida tanto aos de casa como aos de fora. Igual descrédito a falta de menção das suas Feiras Francas, no livro - Feiras no Portugal Medieval de Paulo Morgado e Cunha de 2019 e, já antes, em 1982, no estudo de Virgínia Rau.

Fechar ao apelo da mensagem exarada no livro pelo ex. presidente autárquico Dr. Fernando Marques (...) Estudos da História Local, são sempre da maior importância para a região a quem dizem respeito e para a historiografia geral, pois são contributos indispensáveis ao conhecimento de nós próprios e do nosso passado. 

Sugere-se para a comemoração dos 400 anos - a reedição do livro - vestido de nova abordagem, estudo antropológico à acreditação do Milagre, curas a banhos, confraria, devoção a NSPaz e feiras francas.


Excertos retirados do livro do Dr Manuel Dias








FONTES
O livro  Perspetiva Global da Arqueologia Histórica e Arte da Vila e do Concelho de Ansião, de 1986, do Padre José Eduardo Reis Coutinho
Livro da Confraria de NSdaPaz de 1996 do Dr Manuel Dias
Memórias Paroquiais
Informação de Henrique Dias
https://bloguedominho.blogs.sapo.pt/

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