quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Pussos de S. Pedro em chão no Prazo da Torre da Murta

 A caminho da Corte da Ordem, topónimo que lhe advêm dos Templários 

Cruzamento para o Murtal, a bela casa, quem teria sido o seu dono?
A caminho da igreja de S. Pedro de Pussos, distingui um Cruzeiro que não fotografei 

Igreja de S. Pedro de Pussos 
Na rotunda das Mouriscas, tomei a direção sul para o Rego da Murta, em boa estrada, que antes foi romana e depois medieval. Passei ao lado de grandes infraestruturas fabris, que achei estranho ali terem sido projetadas, num lugar extenso, plano de olival secular...  Porem logo a estrada estreita ligeiramente e não vi saída para a igreja. Será em  S. Domingos, onde devia ter entrado para ver se ainda existe o açude na ribeira da Murta e o lagar que tem encastrado uma pedra visigótica, que o Sr. Padre Jacinto Nunes referiu ter sido do mosteiro e, dali  a caminho da igreja, o que falta apurar . 
Segui em frente, passei por outros topónimos com nomes de Santos, e em Vale Rodrigo, que foi um castro, em estrada estreitissima, contornei  a várzea da Murta, até ao entroncamento do Tojal.

Igreja implantada num morro baixo, rodeada por planura
Mais pequeno que o da Ateanha, no concelho de Ansião. 
Confesso, nunca aqui tinha vindo e fiquei um pouco desiludida, pela falta de aglomerado de casario junto da igreja ...
A frontaria lembra a igreja do Zambujal, em Condeixa, da mesma época
Lavrado na porta de madeira
Cheguei de Almada ainda cedo para almoçar nos Cabaços e fui espreitar a Missa
Desconheço quem é o nobre aqui sepultado
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Mísula com o Santo Condestável, D. Nuno Álvares Pereira 
Velhinha pia batismal
Sacristia
Calçada na frontaria do adro com calhaus rolados  em desenho artístico

Dizem que a calçada portuguesa nasceu no castelo de S. Jorge em finais do séc. XIX. 
Debalde esta parece ser mais antiga, da altura da edificação da igreja em 1790...
Degraus em pedra antigos em meia lua
A  escadaria mais recente, já a pedir requalificação, com muitos degraus partidos, seria antes um morro que as pessoas tinham de subir...muito estranho, embora o local para edificação da igreja seja soberano, altaneiro, belo, a acessibilidade para crianças e idosos não era facilitada e isso estranhei.

Painéis azulejares do orago S. Pedro e ao Santo Condestável
Deslindar o passado

Sobre a quinta do Tojal, estranhava não ter entrada pela estrada principal ( porque esta via é a mais recente), antes pela atual estrada secundária, ainda longe do entroncamento, do Tojal, mas, já existente no passado . Vim a coligir mais na leitura da marcação do prazo da Torre da Murta em 1504 .

Excerto do PDF A ASCENDÊNCIA CORREIA DA SILVA DE CARVALHO, DOS SENHORES DO PRAZO DA TORRE DA MURTA E DO MORGADO DO TORRÃO  do Dr. Miguel Gorjão-Henriques, séc. XVI, retirado de AB: 91 a 94 

(...) As hortas dos Franciscões e dali torna a subir pela ladeira acima do Tojal, até junto das casas dos ditos Franciscões. 
Indicia que as hortas eram abaixo da estrada vinda de Pias e do curso da Ribeira da Murta, até há uma ponte (...)  e dali torna a descer pela dita ladeira até abaixo até á dita água da Fonte chamada Pellomens - onde se curtem peles - e dali torna a subir pelo outeiro do Barreiro pelo caminho do concelho acima que vai de Vila Verde e Castel Ventoso até à Farroeira.
Quem seriam esses Franciscões, na centúria de 500 ? Frades da ordem de S.Francisco que teriam vivido onde hoje está impklantado o palacio do Tojal,  a par de outra ordem que existiu mais antiga de S.Domingos .

Excerto do Arceadiago de Penela da Dra Maria Alegria Fernandes Marqueshttps://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/39669/1/O%20arcediagado%20de%20Penela%20na%20Idade%20Media.pdf

(...) Lembrar o testemunho de Fr. Luís de Sousa, que, na sua História de S. Domingos , recolhe a tradição de ter existido um mosteiro da sua Ordem entre Leiria e o lugar do Beco, aliás, onde, ao tempo em que escrevia, se achava uma igreja (qual?!), “de três naves, cercada de edifícios arruinados: em que ainda se enxergão sinais de claustros, e officinas grandes. Chamão-lhe o mosteiro, e persevera tradição, que foi nosso (...)” 

(...)Deve dizer-se que a localidade de Beco se situa, hoje, no concelho de Ferreira do Zêzere. Mas entre ela e Leiria há um grande espaço, onde ele se poderia situar. Não obstante, não se situa longe de Rego de Murta. Voltamos a questionar-nos acerca da origem de pedras e elementos arquitectónicos que hoje se encontram em igrejas e edifícios desta zona, mormente na igreja de Areias e de Alvaiázere e até na do Beco; cfr. Jacinto M. G. Nunes, ob. cit., supra, n. 23. A igreja do Beco (cujo patrono é Santo Aleixo) ainda hoje é de 3 naves, apoiadas em grossas colunas. À sua volta, nada indicia antigas ruínas nem há memória local de qualquer mosteiro. Diga-se, entretanto, que na freguesia de Rego de Murta há dois nomes muito sintomáticos, a este respeito, o de S. Domingos e o de Carvalhal de S. Bento, bem como na sacristia da igreja se guarda uma imagem, antiga, de S. Domingos, prova de uma qualquer devoção antiga a este santo (...) Acrescente-se que a origem da freguesia de Castanheira de Pera se liga a um processo de desmembramento da de Santa Maria de Pedrógão, no início do séc. XVI, a pedido de moradores de Ribeira de Pera. Estes comprometeram-se, perante o cabido da Sé de Coimbra, a fundar uma igreja na ermida de S. Domingos, existente na Castanheira e que era anexa da igreja de Pedrógão (cfr. Kalidás Barreto, ob. cit ., p. 95-101) Porém, não temos qualquer elemento que nos permita tecer, ou não, alguma ligação entre esta ermida e aquela igreja de S. Domingos que o rol de igrejas do séc. XIII adscreve a Murta. Que esta não poderá ser a que, no séc. XIV, se referencia a Murta (S. Pedro de Rego de Murta), prova-o o facto de se conhecer a fundação desta igreja, no séc. XIII (cfr. supra , nota 36). Mas também se regista a ausência da de S. Domingos de Murta nos documentos do séc. XIV, de que nos servimos neste trabalhoIdentificar-se-ia a igreja do séc. XIII com o antigo mosteiro de Murta, entretanto decaído e reduzido à mais simples expressão de uma ermida, sem outra lembrança? Entre as dúvidas que nos ficam acerca deste problema, sempre se poderá pensar em qualquer processo de transferência de população ou do local de ermida ou igreja, em algum momento, ou na existência de mais de uma povoação com o mesmo nome, entretanto obliterado em alguma delas. Mas são problemas para os quais não achamos resposta, nos dados disponíveis por agora.

Com base nestas considerações, tenho em estudo uma teoria onde se situou o mosteiro, que abordarei a seu tempo a par da via romana.

Após a República foi roteada uma nova estrada a ligar Coimbra/Tomar, que passou por alguns troços da calçada romana  e cortou o Prazo da Torre da Murta. Veio a permitir a um ramo da família Sousa Ribeiro, ali  fez um palacete, nos finais do séc XIX, se não estou enganada e outro ramo ficou na quinta da Cortiça, que a remodelou à laia medieval com uma torre e ameias. 

A ladeira referida será a atual subida para a entrada da quinta do Tojal 
E a fonte de Pellomans? Hoje terá outro nome. 
Depois de Areias, há uma fonte grande de espaldar, seria no passado a Fonte do Rei e,  antes da entrada da quinta do Tojal há outra, como há a nascente o poço da Ordem, atualmente com lavadouro, terai sido um poço de chafurdo com tanque spara cutir peles? O que falta apurar. 
Temos na região o topónimo Rio de Couros, em Ourém, ao apelo de curtição de couros e Ansião, também se curtiam peles. 
A falta de água levou a família Gameiro do Escampado a deslocar-se na centúria de 700 para Torres Novas onde ainda perdura o apelido e a arte .
 

A famosa pedra podre ; mistura de calcário com calcite,  abunda a partir daqui para sul em Chãos é abundante.

O penedo imita uma gruta onde puseram a imagem de S. Pedro
             

Mais uma achega histórica e cultural.

Fontes
Sr. Padre Jacinto Nunes
PDF A ASCENDÊNCIA CORREIA DA SILVA DE CARVALHO, DOS SENHORES DO PRAZO DA TORRE DA MURTA E DO MORGADO DO TORRÃO  do Dr. Miguel Gorjão-Henriques, séc. XVI, retirado de AB: 91 a 94 

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

A casa pública chamada hospital da Misericórdia de Ansião

Resenha publicada no Jornal Serras de Ansião em Setembro de 2023

Investigação iniciada há vários anos, onde deparei com tanto meandro a imperar a decisão de fazer crónicas em separado, algumas ainda em rascunho . Seguidamente vou publicar  A família do médico Dr. Domingos Botelho de Queiroz, de Vila Pouca de Aguiar aportado a Ansião . Foi bastante difícil apurar tanto detalhe, só possível pela teimosia, persistência, e sobretudo por conhecer bem o chão da vila, sendo curiosa, que  me permitiu enxergar uma clareza que antes ninguém viu, com outros a não quererem ver o contexto dos factos, no impacto negativo da historia local. Por envolver a circunstancia da extinção da Misericórdia de Ansião, jamais extinta pela continuidade dos cuidados assistenciais com o segundo hospital. Na usurpação a todo o seu vasto património, facto que não pode, nem deve ser desvirtuado. Foi um tempo crucial à angariação de riqueza, apoiada por influentes no poder, a proporcionar atos de corrupção, nos finais do séc. XIX, em Ansião, desrespeitando o povo - quem tinha fundado as obras da Misericórdia !

Na voz do povo - Tudo o vento levou  ao alegado enriquecimento de foreiros, que ficaram com terrenos rusticos e casas e,  outros,  como o  médico que granjeou em Ansião, a préstimo do sogro que foi foreiro ao Fundo da Rua de um lote da Misericórdia e do “ Visconde da Guarda um correligionário ao se favorecer com bens na vila e presentear os amigos, como o Dr. Domingos de Queiroz também veio a adquirir muita terra dentro e fora da vila”, no Livro Ansianenses Ilustres do Dr. Manuel Dias.

Um verdadeiro jogo oligarca  a permitir ao médico ser dono da quinta da Misericórdia e mais o que não se sabe...

Verdade que não pode, nem deve ser escamoteada! 

A términus, prefaciar  Miguel de Cervantes, o D. Quixote de La Mancha; o  historiador há-de escrevê-las não como deviam ser, mas como foram, sem acrescentar nem tirar à verdade a mínima coisa». 

O início do apoio assistencial em Ansião

Estima-se que antes da nacionalidade, viandantes de todas as estirpes nas suas deslocações para ocidente, ou peregrinos no Caminho de Santiago de Compostela, recebiam nos mosteiros, abrigo, comida, e assistência na fadiga e doença. Após a reconquista cristã, o sul da Galiza, veio a ser o Condado Portucalense.  Alguns afoitos, entre judeus sefarditas, iberos, celtas, se foram encaminhando para sul, pelas estradas romanas, agora medievais, se fixando em locais estratégicos e, na nossa região, em complexos ruinais romanos, onde fundaram estalagens e tabernas. A primeira estalagem de Ansião, foi sediada no Vale do Mosteiro, onde admito foi o primeiro burgo social, com  uma enfermaria elementar - uma sala, com enxergas. Em crer, dividida por cortinas. Assim foram retratadas as primeiras enfermarias na pintura. Cujas despesas eram sustentadas pelas esmolas do seu Esmoliadouro!  

Novas estalagens

Temos a noticia, em 1444, o rei concedeu alvará a 4 estalajadeiros , em Ansião. O meu olhar distingue a sua existência desde o  Alto, no Vale Mosteiro, outra defronte da creche da Misericórdia e três no Largo do Bairro de Santo António.  

Localizei uma notícia que nos relata que em meados da centúria de 500, em Ansião, o padre e procurador do Mosteiro - Gaspar Fernandes, muito doente, renuncia por bula, ao cargo da Enfermaria do Mosteiro. Aventa à precipitação e declínio deste burgo sito a poente,  a favorecer a sua transferência para um novo, o atual, em 1593, a data do portal da matriz.

A Misericórdia de Ansião, jamais foi objeto de estudo pelos clássicos

Goodolphim Costa, que muito escreveu sobre as Misericórdias, em Portugal, sem abordagem à de Ansião.

Apenas o Padre José Coutinho aborda no seu livro no ponto 2.1.4.8 Benefícios Públicos

(...) Segundo a noticia O Concelho de Ansião de 1 de janeiro de 1896, e por iniciativa do Dr. Domingos Botelho de Queiroz, começou-se naquela ocasião a angariação  de fundos para a construção de um hospital em Ansião, o que se conseguiu graças aos contribuintes de particulares e aos muitos auxílios recebidos, que ao declinar o séc. XIX, já tinham concretizado tal aspiração.

Lamento desmistificar a noticia sobre o médico

Incrível como a imprensa de Ansião, na altura relatou a favor da corrupção e dos corruptos. Algum proveito também arrecadou!

Por explicar as varias iniciativas de angariação de donativos para custear o novo hospital

(...) a angariação  de fundos para a construção de um hospital em Ansião, o que se conseguiu graças aos contribuintes de particulares e aos muitos auxílios recebidos

Onde foi parar a panóplia de ativos da Misericórdia?

A razão da falta de financiamento para custear o novo hospital ? Além de angariações de dinheiro, doações,  rifas , no excerto do Jornal O Concelho de Ansião, n.º 1, de 01.01.1896 (…) quando se decidiu fundar o Hospital de NSPranto da Misericórdia de Ansião, em Maio de 1895, o Dr. Roberto Augusto Feio de Carvalho era um dos destacados membros da Comissão encarregado dessa importante iniciativa; na lista dos subscritores com mais de 4 bilhetes para a rifa - interessante forma de angariar meios para a criação do Hospital - numa lista de cerca de cem nomes foi o maior subscritor com 250 bilhetes. (…) Por iniciativa do Dr. Domingos Botelho de Queiroz começou a angariação de fundos para a construção de um hospital em Ansião. Construiu-se ao Ribeiro da Vide ao alto de uma elevação do terreno e desde logo contou com a assistência médica do seu fundador o Dr. Domingos Botelho de Queiroz "...

Quando  a  Misericórdia de Ansião, era a maior instituição financeira e proprietária ?

O que aconteceu ao seu património? Supostamente tudo lhe foi usurpado! 

No Diário do Governo nº 176 de 7.8.1879, a Misericórdia de Ancião tinha 200.000 divida pública…

Como jamais foi questionada a razão do primeiro hospital na vila, não ter merecido aposta de requalificação, na  propriedade da Misericórdia . Como ao porquê da sua  transferência para fora de portas, ao tempo, no termo sul da vila? Sem abordagem pela imprensa ao seu  hospital primitivo, teria sido com intenção?

O passado meritório assistencial da Misericordia, a sua pegada na nossa historia, foi arrasada, sem respeito. Incrível, quando similares se mantem bens públicos!  E, isso hoje ainda doí!

O primeiro hospital de Ansião na vila

O seu palco foi onde é hoje a CGD. Então limite  nascente da Quinta de S. Lourenço, num complexo de habitat romano, no coração da vila de Ansião , seguido da Casa, que pese a requalificação, ainda guarda a janela de avental. Em 1701, o jesuíta  Dr. António Santos Coutinho, anexa-lhe uma Albergaria de gaveto, e no tardoz da ermida de Nossa Senhora da Conceição, nasceu a Capela atual. Da  Ermida, resta o seu portal gótico, ainda não classificado! 

O que era traduzido por hospital?

No inicio de 700  Bluteau  lugar publico  em que se curão doentes pobres.

- em finais da centúria Morais mantém a definição , acrescentando-.lhe ainda a acçao de local de abrigo de pobres andantes - casa onde se curão doentes pobres . onde se agasalhão hospedes e viandantes pobres .

Em 1832 escrevia Mouzinho da Silveira os hospitais são destinados para receber e tratar as pessoas de ambos os sexos , que sendo necessitadas e não tendo família , são atacadas de moléstias e de feridas graves e de enfermidades que requerem cuidados e curativo especial.

15 anos depois outro homem José Silvestre Ribeiro - existem em Portugal esses admiráveis e direi até sublimes estabelecimentos pios, os hospitais agasalho para o curativo das suas enfermidades.
“santos estabelecimentos, que em todos os tempos são elles necessários para alivio da humanidade desvalida»

No séc. XIX os muitos regulamentos já preferem doentes a troco de pagamento  , mas os hospitais continuam a ser para os pobres . 

Quem tratava dos enfermos eram leigos o capelão tratava do espírito.

A partir dos meados do séc. XIX,  as Misericórdias mais pequenas, começaram a ser extintas. 

Temos a nota que em 1855, ainda existem no distrito de Leiria 14 Misericórdias ativas, sem referência à de Ansião

Nota de informação negligente, sem credibilidade, pois funcionou mal ou bem pela continuidade dos cuidados assistenciais do novo hospital.

A ultima ata do livro de 1834

Difícil leitura, passível a transmissão de algum erro, que lamento:

Os mesários desta Santa Casa prestam as contas da sua gerência a 2.7.1859 até hoje 27 de novembro de 1878, tendo-se recebido mais que o necessário para a despesa com as esmolas dos pobres do concelho , esmolas e cavalgaduras aos pobres que passam com CARTA DE GUIA em casas de Foreiros instalados para se recolherem com o fim de se reabilitarem para remedirem os Foros, para ficar o saldo de 125.640 Reis a favor do Tesoureiro sem render os eu juro por conta da Confraria por escritura nas notas do tabelião LIMA com mil reis , ficou de liquido na mão do tesoureiro FRANCISCO ANTONIO DE LOURO a quantia de 25.646 reis factor grave ser esponjado (?) .... Ilegível o apelido de quem assina JAIME CRISTOVAO LUIS P...RECEITA 132.340, DESPESA 6700, LIQUIDO 125.640

Acresce a folha solta dentro do livro de 1834 à resposta aos Quesitos 

Constando das instruções a que se refere a  portaria do Ministério dos Negócios de Instrução Publica de 19 de outubro de 1870

- Quem respondeu deu respostas evasivas, com intenção, sem amor ás raízes nem ao passado , um caos em 31 de dezembro de 1870.

1ºLocal, época e circunstância da sua fundação: Ignora-se. Na sua capela, uma inscrição de 1702, que diz que o mestre António dos Santos de Lamego, deixou na santa casa, as missas aos domingos e dias santos, pelas almas dos fundadores.

2º Legislação especial e regulamentos internos porque se regem, data em que foram coordenados e aprovados: Pelo compromisso da Misericórdia de Lisboa

3º Pessoal da Administração - Comissão Administrativa de Presidente, Tesoureiro e Escrivão: Alvará do Governo de 5 de Junho de 1869: Sua nomeação, vencimentos dos que foram retribuídos - 0

4º Capital e prédios rústicos - 0; Prédios urbanos, Uma capela e uma pequena casa arruinada.

INSCRIÇÕES E OUTROS TITULOS DE CREDITO

Um certificado de divida publica nº 7424 no valor de 50.000 reis

Capitais mutuados : 1.270$252 reis

5º receita ordinária : Foros, pensões e rendas em géneros

Trigo 536,80 litros = 53,362 litros

Em dinheiro 16$38 reis

Juros de títulos de credito 1:50 reis

De capitais mutuados 63$512

Receita extraordinária de subsídios do governo ou quaisquer outras esmolas - não há

6º despesa pela media dos últimos anos obrigatória e facultativa

assuntos da caza e da capela com as missas 72.000 reis, facultativa 13.200

7º Contas Tribunal as que as tem prestado em 1841, o regedor despesas tem sido varias impercetível

8º Dividas ativas e passivas :1.027.840 reis .....impercetível 398.88 reis é falida

9º Estado em que se acham os edifícios e obras de que carecem para sua conservação: A capela achou-se em estado miserável e a casa onde se acharão os pobres que passam com conta de guia  completamente arruinada

10º Estatística das pessoas socorridas e do movimento da população dos últimos 3 anos económicos com esmolas mensais: não se percebe o que ficou escrito.

Esmolas de botica, em cada ano esmolas de passageiros e aluguer de bestas e cavalgaduras nada foi escrito

11º Condições especiais a cada classe dos estabelecimentos

12º Misericórdia, encargos pios tratamento de doentes

Socorros nos domicílios e mais obras de caridade próprias da instituição, não as houve nos últimos 5 anos

13 Hospital , não

Enfermarias – não há

Quadros noológicos dos enfermos: não há


A Misericórdia de Ansião, foi uma instituição publica, fundada nos meados da centúria de 600

Presume que após a extinção das Ordens Religiosas em 1834, a terra do mosteiro foi vendida  e outra dada a alguns e,  os pobres, sem nada. Motivou forte emigração para o Brasil e outros países. A quinat de S. Lourenço com o enclave da quinta da Misericórdia de Ansião, cujos lotes limitantes foram  vendidas em haste pública a terceiros . 
Além desta grande propriedade, a Misericórdia de Ansião, detinha demais património constituído por lotes rústicos e casas na vila, presumo por via à garantia de empréstimos; cuja receita; foros e juros, pagavam as despesas mensais, exaradas num livro da Misericórdia de 1834: em 1839 gastou com carpinteiros no hospital 1.800 reis; pobres com carta de guia, cavalgaduras e esmolas doentes e a pé, 6.890 réis; em 1842 com pobres e presos na caza do hospital com azeite para luzes, esteiras e lenha para se aquecerem, 820 reis.

A Misericórdia continuou  com receita de pagamentos de foros e pagamento de despesas, em data mais tardia e, por outro lado, o médico exerceu medicina no obsoleto hospital da vila, até se transferir para o novo no Ribeiro da Vide.  Atestado por Alberto Pimentel: no momento que vos escrevo 1902, está-se a construir o Hospital da Misericórdia, sob a invocação a NSPranto. 

A Misericordia chegou aos finais do séc. XIX, com acumulação de dividas de foreiros. 
Depreende-se num livro de 1834 que um provedor se autofinanciou, cuja viúva ia amortizando a divida, sem ser totalmente regularizada . 
O comando das rédeas da Misericórdia, sem rigor sobre os devedores, pese a supervisão de contas pelo Regedor.  Foi um acumular de anos de más condutas, a gerar conflito e declínio - uma casa com cofre, à mão...ditou mau governo da Misericórdia, sendo dada como extinta - sendo que sempre funcionou com altos e baixos com a  assistencia no velho hospital, seguida pelo novo. 
Nessa turvilhão, sem comando de mão firme, houve alegada usurpação aos seus bens, pelos foreiros que ficaram com terrenos e casas a foro (aluguer) deixando de pagar renda, e mais tarde registaram os bens em seu nome, o que se pressupõe, pelo menos uns 3 ou 4 consegui identificar no terreno . 

A concluir, a Misericórdia foi reformulada com o segundo hospital.

Nesta turbilhão de interesses e usurpação, alguns ansianenses mais lúcidos chamaram o Conselheiro António José da Silva, para colocar ordem em Ansião. 
Veio a instaurar a Comarca na vila, no que foi o solar do Senhor de Ansião, D. Luís de Menezes, alegando melhores condições para a acolher, que a velha Casa da Câmara no Bairro de Santo António. 
Jogou a fisgado oligarca – a cajadada que matou dois coelhos. 
Em testamento,  deixou ao Hospital uma casa que valia mais de três contos e, mais 500$000 réis . Falta saber quem a comprou e por quanto? 
Em crer, lavou mãos como Pilatos; ""como a água extingue o fogo, a esmola extingue a culpa" a jus do pensamento de 1827 de José Agostinho de Macedo; com isto a Religião alcança hum triunfo". 

O Conselheiro decidiu retirar o poder da Casa da Câmara e a cadeia, do Bairro de Santo António, ali sediado desde os meados da centúria de 600 , criando conflitos que tinham de ser sanados. E, sim,  foram caladas as vozes pela chegada do novo hospital. Cujo sucesso teve mão colaborante do médico a pregão ao bom ar dos pinheiros para a saúde,  ainda os conheci enfezados...Em troca, recebeu alegadamente o casario da sede e quinta da Misericórdia, até ao Bonfim. Cartada jogada a contento da oligarquia com visão imobiliária da quinta de que veio a ser donatário! Pese o desconhecimento  documental da transmissão, se por aquisição a baixo preço ou, simplesmente dada pelo poder local. A família detém muitas escrituras, que podem explicar as transações.

De uma forma ou de outra foi ação reprovável que se condena! 

Eram bens do povo! Deviam continuar públicos! 

Sobre a  citaçãos exarada no livro ilustres Ansianenses do Dr. Manuel Dias :  O médico acedeu pela primeira vez a uma expropriação amigável para cortar a sua quinta e se abrir a rua da vila para o baldio do Ribeiro da Vide. 

Relatos de críticas da impresa e de particulares 

O Dr. Manuel Dias relata numa ata da câmara; um barbeiro veio a instaurar-lhe um processo judicial, debalde o medico agarrou-se a testemunhas credenciadas a ganho da demanda, e o barbeiro, que sabia de tudo, pois ouvia as conversas quando fazia barbas e cortava cabelos, foi desterrado para Setúbal..

Já o padre Portela, que o casou por duas  vezes, melhor do que  ninguém teria percebido  o seu alegado espirito de olho gordo para angariar riqueza fácil. O padre livrou-o de acusações publicas, quando o médico mandou abrir caboucos para murar a quinta junto do cemitério, foi acusado de profanar sepulturas. O  padre comprou essa fasquia, através da Junta da Paróquia,  onde veio a fazer a atual capela e, o médico e o cunhado acabaram por fazer jazigos a sul da mesma...nunca deu ponto sem nó...

Posteriormente o médico adquiriu propriedades que tinham sido  licitadas em haste publica (do mosteiro), a um tal Pereira, como há sua viúva Maria Francisca, a limitar a sua quinta (da Misericórdia). Na voz do povo, foi o maior proprietário da vila e fora dela; desde a margem sul do Nabão, a entestar a Rua Direita, para poente até ao Ribeiro da Vide, com o cemitério inserido, e outros lotes fora da vila que desconheço. Fortuna adquirida pela via legal e outra alegadamente por via indevida, que lhe permitiu a venda de lotes, para as Escolas, Casa dos Magistrados, Pensão do Melado entre demais, seguido da viúva, e demais família . 

Que legado o poder de Ansião deixou à Misericórdia? 

Uma língua de  chão de baldio, em baixio com morro inóspito a sul, onde veio a ser sediado o hospital, ao Ribeiro da Vide . O términus da quinta de S. Lourenço, que era de alguém - a ganho de dividendos, pelas novas acessibilidades abertas, a entestar no morro da capela de Sto. António, que foi desirmanado por ladeira, para se fazer a entrada do hospital e, a norte aberto caminho para os Escampados. 

No arquivo da Câmara  um relatório urbanístico de 1960

Projeto com fotos do hospital, outra com o  barracão da Misericórdia, onde hoje é o Lar, na minha meninice ali viveu o zelador da Misericórdia, o Ti Miguel, dormia num sobrado de madeira e o burro em chão de terra. Outra foto da capela de Santo António e do escadatório que já englobava a intenção de ali nascer um jardim público. A fonte é de 1897, quando foi roteada a estrada para a Barreira.

Hoje a visão sobre o Ribeiro da Vide é grandiosa, em relação a 1960, que não saiu do papel. 
Muito se desenvolveu o Ribeiro da Vide para melhor! 
Com espaço para melhorar!
Algumas criticas tem resultado positivo, como o corte do pinheiro que nasceu torto a nascente da escadaria, já a árvore de folha perene ao cimo do talhão onde é a nascente da fonte, continua a crescer para o céu, como no gaveto do adro com a Santa Casa da Misericórdia 2 choupos, de alto porte. Já deviam ter sido removidos.  A ventania é que os tem partido, porem a sua robustez tem haver com o veio de água que ali passa. Quando as canalizações da Misericórdia forem entupidas como aconteceu com outro choupo no adro ao atravessar a casa da minha mãe até à caixa do esgoto que estava repleta de mil raízes adventícias ...  O certo é serem removidos para engrandecer aquele canto com sustentação do costado norte do adro, em cimento armado para servir no futuro de palco para eventos a realizar naquele largo .

Falta ainda um parque de estacionamento, por se mostrar deficitário e se encontrar amiúde na estrada carros estacionados, que dificultam  o transito. Excelente, o baixio a nascente do palácio da justiça, com oliveiras enfezadas, em chão de saibro empedernido, onde foi escavado o leito do ribeiro do Cimo da Rua, sem apelo nem a piscina nem construção. Seria ideal para o parque, e favorecer o restante do lote, mais elevado para construção.

O  que resta do espólio livresco da Misericórdia ?

O cartório da sua fundação julga-se desaparecido. Nada se sabe sobre a fundação, confraria, e Irmandade.  Apenas restam opas, estandarte e a sua bela Bandeira. 

A Misericórdia guarda espólio de 3 livros antigos localizados há poucos anos, como o cartório  recente desde a fundação do Lar e da Creche, com dois livros do arquivo municipal, a merecer atitude à digitalização. 

No passado a  investigação deficiente ditou a errónea citação no site da Misericórdia  (...) Apesar de não existir qualquer documento escrito, em arquivo, relativamente à data da fundação da Santa Casa da Misericórdia de Ansião, devido a um incêndio que destruiu toda a documentação de mais de um século de vida, temos alguns registos arquitetónicos e legendas gravadas que nos permitem afirmar que esta instituição já existia no início do século XVIII (1702). 

Estela na capela da Misericórdia de Ansião com data 1702

Refere o obreiro da obra, do Mestre jesuíta Dr. António dos Santos Coutinho. 

O ano é do pedido para dizer Missa na atual capela da Misericórdia, concluída em 1701.

                               

Análogo erro exarado nas Memórias Paroquiais, na notícia de 1721, do juiz Manuel Rodrigues, a Casa da Misericórdia e Hospital foram fundados pello povo haverá sincoenta anos

Arroja para o ano de 1671. 

Abriu antes. Apresenta-se mais confiável que a pioneira Casa do hospital de Ansião, nasceu primeiro, decorridos cem anos do concílio de Trento de 1545, pelo  registo da morte de um pobre em 1648

Em baixo o registo do ano de 1648 e em segundo plano o registo da morte de um pobre no hospital 

(...) Aliás situação análoga  a algumas novas Misericórdias, que surgem na chancelaria, entre 1557 a 1580, que irromperam em terras mais pequenas e, entre 1641 a 30 de julho de 1750 , dia da morte de D. João V, época de matizes diversificadas surgindo mais 77 misericórdias, sobretudo “nas Beiras, Estremadura e Alentejo. O Minho, Trás-os-Montes e o Algarve conheceram menos novidades. Em 1640, as principais cidades e vilas de Portugal tinham a sua  Misericórdia. 

Na centúria  de 600, foi fundada a Misericórdia de Ansião. Em crer, foi fundada entre 1640/8, com mais certeza, entre 1646 a 1648.  Pelo excerto abaixo, assente na origem do culto a NSConceição . A Misericórdia de Ansião teve o seu primeiro culto na ermida a NSConceição, a juntar o registo do óbito acima referido

Dissertação de Mestrado de Francisco José Pegacha Pardal

Uma Devoção de Grandes e Pequenos: Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa nos séculos XII e XVIII

(...) nas cortes de 1646, D. João IV declarou Nossa Senhora da Conceição como padroeira de Portugal. Na mesma ocasião, foi criada uma esmola para a igreja matriz de Vila Viçosa, considerado o primeiro templo dedicado àquela invocação, na Península Ibérica. Consolidava-se assim, uma devoção que já era muito estimada pela casa ducal de Bragança, que, ao chegar ao trono, se empenhou em promovê-la. À semelhança da família real, também a Corte se devotou à padroeira de Portugal, tanto nos seus oratórios e capelas particulares, como em Vila Viçosa. A igreja matriz de Vila Viçosa, nos séculos XVII e XVIII, manteve a devoção à padroeira com considerável requinte, através das duas confrarias; a Confraria de Nossa Senhora da Conceição, que passou por um vasto número de joias e peças ornamentais, além de casas e de propriedades agrícolas, que, através de contratos de exploração, se traduziram numa das suas fontes de receitaTambém os grupos sociais mais baixos, como os camponeses alentejanos, se devotaram à Imaculada Conceição. Remetendo para curas de doenças, legados em testamento ou contribuições para a festa da padroeira, muitas das esmolas eram oferecidas de acordo com as posses dos devotos, passando por joias, vestuário, ramos de flores ou géneros (azeite, cereais, gado, fruta e legumes). 

O  segundo hospital da Misericórdia foi inaugurado em 1903

Entrada de belo portal em colunas de pedra, análogo à  da matriz, embora mais pequeno. Resta o degrau da porta principal, reutilizado  na capela de Santo António.

Em 1912, o hospital era gerido por uma comissão administrativa.

Nas Memórias Paroquiais temos a referênciao hospital no sentido da palavra, verdadeiramente entendido como instituição de natureza médica, e não como casa de assistência a viajantes ou peregrinos pobres ou doentes, teve-o Ansião só nos finais de 800 e nos inícios do séc. XX. 

Ao terreiro  do que foi o segundo Hospital de Ansião
Euzinha, a menina sorridente vestida de chapéu, em dia de casamento da prima Albertina Silva!
Com a juventude da altura que me lembro ; "Toino peleiro", Carlitos Parolo, Necas, Prima Júlia, irmã da noiva, ", manas do Cimo da Rua, filhas do "Ti Abílio Ferreiro" a prima "Luzita do canhoto", duas manas do Casal das Peras, filhas da ilhoa,  a minha amiga Tina e o resto não sei.
                               
O destino do casario que foi a sede da Misericórdia na vila?

Graças às memórias do Sr. Júlio Rodrigues; o seu avô “Manuel Rodrigues 29” vindo do Brasil, comprou ao médico Botelho de Queiroz a quinta da Misericórdia até ao Bonfim e, instala-se na casa que fora o hospital, junto ao celeiro, de seus herdeiros e irmã

A prova contundente que a quinta da Misericordia estava na mão do médico!

A que junto as minhas a caminho da escola e  Colégio, todos os dias pelo passeio a contornar a casa que fora o hospital. Nunca lá entrei, apenas fiz entrega de um telegrama de pêsames. Guardo o inebriar perfume dos cachos lilases da glicínia de grossas pernadas a enleio da escada de pedra e, a poente pátio em calçada com pérgula de ferro forjado, enlaçada de trepadeiras. Juntei as conversas da minha mãe no turno ad meia noite no correio velho, que me falava que as gentes dos lados do Pessegueiro, na sua vinda à  vila, ao mercado ou tratar de outros assuntos, deixavam os seus animais, burros e mulas, numa cavalariça velha no quintal que foi do Sr. Alfredo Simões. Afinal tinha sido a cavalariça da albergaria da Misericórdia .

No quintal havia uma cisterna defronte da casa onde viveu o Dr. Melo – um poço carapuça. 

Prospeção Arqueológica do Concelho de Ansião

Excerto em https://arqueologia.patrimoniocultural.pt
Ansião - Travessa da Misericórdia 
Sítio (15544)

Tipo Mancha de Ocupação
Distrito/Concelho/Freguesia Leiria/Ansião/Ansião
Período Romano
Descrição


Os vestígios arqueológicos apareceram no local onde se estava a realizar a escavação para fazer as fundações de um edifício e do qual resultou um corte com cerca de 20m de comprimento. No mesmo era visível uma camada superficial de 50/60 cm de profundidade de cor cinzenta escura onde abundavam vários fragmentos de cerâmica romana. Neste mesmo corte e um pouco mais á frente apareceu uma caleira construída com blocos e lajes de calcário de média dimensão em alvenaria, estando ligados entre si por uma argamassa muito arenosa e pouco consistente. No limite deste mesmo corte apareceu uma espécie de "silo" com o mesmo tipo de construção e com um diâmetro e profundidade de 1 por 1m, o qual foi cortado ao meio pelo desaterro efetuado. Este encontrava-se entulhado com materiais deste século (plásticos e garrafas) e no lado direito do mesmo apareceu uma mancha avermelhada distinta da que se lhe sobrepõe e da que está por baixo.
Meio Terrestre
Acesso o edifício faz esquina com a Travessa da Misericórdia e com a Avenida Dr. Victor Faveiro e localiza-se nas traseiras da Câmara Municipal de Ansião.
Espólio Cerâmica comum e de construção de época romana.

Em 2010, a classificação a metros de um habitat romano, pelo achado de uma calha de pedra, sem especulação ao local de descarga – nessa, ou noutra, que ainda existe e, abasteceu o hospital e o avô do Carlos Silva – a quem agradeço a cortesia de que a água era içada pela janela a norte, a meias com a albergaria e, por fim a pensão da minha prima Quitas.

Graças à amizade com Henrique Dias, a quem solicitei ajuda em genealogia, foi enxergado mais: 

Coligi num PDF que me enviou  sobre a Brasonaria de Pombal, do Dr. Pedro França, um ramo Veiga, na Quinta das Lagoas. 

Noutra nota sobre  fabricas de papel, coligi a noticia  de Gustavo Matos Sequeira; em 1833 menciona José Joaquim de Paula foi obrigado a fugir da sua fábrica de papel de Góis, por motivos políticos

Num livro da Misericórdia de 1834, coligi que o seu seu genro, o Comendador Dr. Francisco António da Veiga, entre 1860 a 1869 pagou foros à Casa da Misericórdia de Ansião.

Por fim, como a família do médico ainda mantém o casario ao Fundo da Rua, onde estimo o comendador foi foreiro, no prédio com lintel 1670, que teve capela. 

Foi entroncado o médico Dr. Botelho de Queiroz casado em 1ªs núpcias na Quinta das Lagoas, cuja esposa faleceu de parto. Sem filhos, o médico foi para Lisboa onde esteve 9 anos.  Voltou a Ansião para casar pela 2ª vez, com uma prima direita da primeira mulher – Matilde, filha do comendador Dr. Francisco Veiga

O casal teve morada ao Fundo da Rua, na casa adoçada à 1ª, com lintel 1852. 

Uma das duas  casas mencionadas ao Fundo da Rua, foi comprada a um Paredes. Mais um apelido para deslindar em Ansião .Coligi no livro Freguesia de Eiras, A sua historia do séc. X ao XXI, de João Carlos Santos Pinho  ( aparece um Fabião Soares de Paredes, em 1729 ). Incita que o apelido veio do norte, de Paredes. Em Pousaflores existe o topónimo Paredes - algum povoador do norte ali fixado. 

Em crer em Ansião, esse tal Paredes, teria sido foreiro de um Morgadio vindo do Porto Largo , Moinho das Moutas, a entestar com a Rua Direita ao Fundo da Rua. Em data anterior foi aforada  por gente vinda do Porto. Com a extinção dos morgadios pelo rei D. Luís, é suposto que  o tal Paredes, teria ficado com a quinta a quem o médico teria comprado mais tarde uma das casas , presumo que a outra era do lote que o sogro foi foreiro da Misericordia . Na década de 30 do séc. XX, esse tal Paredes vende ao pai do Sr. Júlio e  do Sr. José Silva, grandes  lotes à imediação do Fundo da Rua. Como fez doação do campo, para se jogar à bola, na Mata. Na escritura deve constar o seu nome, para mais se vir a saber sobre este individuo. Cheguei ao individup Paredes, graças a uma dica do Sr. Fernando Silva, a quem agradeço a cortesia da partilha. 

Parâmetros do poder, à dissentânea homenagem ao médico e mais tarde agraciado na toponímia em 1925. contrapeso no fiel da balança, o contributo de José Lucas Afonso Lopes, que reabriu o hospital/ maternidade, salvando crianças - debalde esquecido até hoje na toponímia, pese créditos à laia de António Soares Barbosa; o conceito de beneficência reaproxima a caridade faz da vida futura esperança com que se não procure a recompensa dos socorros na admiração, ou aplauso dos homens. Moral, enobrecida e apoiada pela Religião, nos inspira uma beneficência sincera para com os nossos semelhantes .

Recordar a construção do novo Hospital em 1902, ao Ribeiro da Vide

Fechou nos anos 20 do séc. XX, com a morte do médico. 

Ministério do Interior - Direcção Geral de Assistência

Aprova o quadro e respectivos vencimentos do pessoal da Misericórdia e Hospital de Nossa Senhora do Pranto, concelho de Ancião

Há falta de informação para este periodo.

Reabriu nos finais de 1950, com o Dr. Fernando Travassos chegado a Ansião. 

Nos finais de 1951, acabado de ser apetrechado com novo equipamento cirúrgico oferecido pelo ministro de obras públicas, o Eng.º Ulrich, vindo em 1949 a Ansião. Porém, sem intervenção mestra no telhado, eram muitas as beiras a cair em alguidares e o frio insuportável, temperado com latas de brasas que a minha tia Maria, punha para o Dr. Travassos se aquecer. Não aguentou a falta de condições e  abandonou o hospital. 

Jornal a Regeneração nº 771 de 1.1.1951 de Figueiró dos Vinhos, partilha de Henrique Dias

O hospital voltou a reabrir nos finais da década de 60, do séc. XX, graças à vontade de um grande impulsionador primo direito da minha mãe, José Lucas Afonso Gomes, homem que partiu cedo e tanta falta fez a Ansião. A sua lata visão e sentido de fazer obra publica. Desse tempo recordo a criada a "Alice do Ribeirinho" nas horas vagas era uma bordadeira de mão cheia , a minha mãe fez-lhe encomenda de dois conjuntos de naperons em linha fina, um deles estreei-o no dia do meu casamento, o outro foi para o enxoval da minha irmã, vendo-me mais tarde desgostosa pela perda dos meus, ofereceu-me os dela. E, uma enfermeira permanente.

A morte precoce de José Lucas, deixa o hospital sem comando firme , foi sol de pouca dura, voltou a encerrar, sem voz que se afirmasse na obsessão e luta para o liderar e afirmar na  sua continuidade em Ansião. Hoje, o povo de Ansião sem hospital, tem de se deslocar 10 km até ao Avelar, 19 até Pombal ou 42 até Coimbra. Inadmissível, um Hospital que nasceu nesta vila por volta de 1648!

Acredito na premissa do ditado popular - "não há duas sem três" para acreditar se no passado houveram dois Hospitais em Ansião, ainda vai haver um tempo de ver nascer um terceiro.

A CGD de Ansião alheia ao palco que ali existiu no passado, eleva a cultura ao desterrar placa no seu jardim, perpetuando a memória futura ao sítio do primeiro hospital de Ansião!

Fontes

Livro das Memorias Paroquiais
Livro do padre Coutinho de 1986
Livro da Misericórdia de Ansião de 1834
Brasonaria de Pombal do Dr. Pedro França
Fabrica de papel em Gois por Gustavo Matos Sequeira
Pesquisas de Henrique Dias
Livro Freguesia de Eiras, A sua historia do séc. X ao XXI, de João Carlos Santos Pinho

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