Gondramaz, o topónimo terá provavelmente influência germânica, cuja origem perde-se nos tempos.
Miguel Torga, médico na região, em 1935 visitava frequentemente Gondramaz, atestando essa vivência mais sofrida. À entrada da Aldeia as boas vindas são-nos dadas com um seu poema numa placa metálica na área de recepção. Miguel Torga, 1941.
“A vida é feita de nadas;
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas Pelo vento;
De casas de moradia Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia Nos beirais; De poeira;
De ver esta maravilha: Meu Pai a erguer uma videira
Como uma Mãe que faz a trança à filha.”
Visitei em família a aldeia de Gondramaz no feriado de 1 de Maio de 2006. Aldeia em xisto nas faldas da serra da Lousã, encravada num dos contrafortes do alto da serra de Miranda do Corvo a uns valentes 9 Kms sempre a subir por estrada estreita e sinuosa, eis que chegamos ao paraíso muito a gosto ainda a placa identificativa das antigas,em cimento, na companhia das antenas de energia renovável em desfile não me chocou!
Também se pode subir pelos carreiros estrategicamente já delineados com sinalética.Gostei de calcorrear as calçadas de xisto, revivi um cenário idílico, transcendente de foro mui emocional, só igualável a um orgasmo seja intelectual ou sexual. Mesmo assim, a um deles, seja qual for.Praticamente a aldeia toda requalificada, e a meu ver muito bem, com muitos motivos de interesse.
Mulher nua em pedra tão desnudada, agressiva, cravada numa das paredes, aventa ao visitante artista escultor, que por lá tem o seu atelier. Noutra parede apenas pequena caras esculpidas, a fazer lembrar escultura visigótica.
Parapeitos das frágeis janelas com ardósias e nelas tachos de barro preto característico de confeccionar a chanfana, ali dispostos em jeito de vasos.
Adorei tal conexidade naquele cenário, tipicamente tão português e o contraste da negrura do barro sem vidragem como manda a tradição.A aldeia é circundada por cerejeiras, vales a perder de vista como se tivessem ali sido semeadas, nascem espontaneamente desde os confins da chamada Terra Quente em Trás os Montes, em jeito de despedida abruptamente até se extinguem no concelho de Alvaiázere depois do Rego da Murta, Areias, mais coisa menos coisa.
Ai Maria Isabel, as fotos que apresenta, aliás, lindas ... lindas! constituem o meu sonho de casa futura, a contrastar pela positiva com os frios e feios apartamentos cheios das ditas "marquises", tipo gaiolas de coelhos, onde vivemos aqui nas cidades!
ResponderExcluirDaqui a mais alguns anos, quando finalmente me consiga reformar, alguma casa de xisto deve sobreviver que me acolha! Espero que não espere em vão!
E escreva o que bem quiser, com a linguagem que bem entender, pois é o seu blog, e, se alguém se melindrar, pois terá bom remédio: não leia!
Quanto a criar o meu blog, deixo isso para os valentes como vós todos, que me vão entretendo com a vossa escrita (um bem haja por isso), que eu sou só comentador.
Manel
Bem haja Manel pelo seu comentário.
ResponderExcluirAdorei, como sempre é um "ecspert" em comentar, admirável!
Gratificante, como depois de 4 anos ainda tive memória para fazer o post.
Quanto ao xisto e ao prazer de possuir uma casa nesse material,aqui deixo um conselho.
Está já em tempo de escolher a zona, o local, a aldeia, vá por mim...
Esse o primeiro passo, depois, quando se encantar, vem o resto, quase por milagre.
Na nossa zona estão a ser todas vendidas nos lugares mais recônditos aos ingleses.
Existe inclusive uma imobiliária com inglesas radicadas que estabelecem contactos com o país de origem e nas aldeias arranjam contactos com um ou dois velhotes que dão as dicas dos proprietários recebendo uma pequena comissão.Se comprar directamente ao particular é muito mais barato.
Na aldeia onde tenho a casa rural, é impressionante a definição onde termina abruptamente o calcário, um intervalo de barro espesso muito vermelho escuro e,imediatamente irrompe o xisto.
Assim, a minha casa é uma mistura de pedra miúda da serra do Anjo da Guarda em calcário com mistura de xisto.Quando os meus sogros a herdaram,fizeram sob minha orientação, algumas obras de remodelação, foi estupidamente rebocada a cimento, uma das características também na aldeia, mas para a pôr como gosto, até conseguia, mas já me roubaram as panelas de ferro que estavam nos jardins e o ano passado entraram lá dentro e apenas levaram as peças de faiança, no total de 50, nem mais nem menos, e fiquei desencantada.
No entanto as casas mais antigas, assim eram todas em xisto reluzente ao sol, encantadoras, já estão em ruínas. A talhe de conversa, agora na Páscoa, estava de volta dos meus jardins e apareceu um tio do meu marido e confidenciou-nos que está em conversações com a casa que herdou onde o seu pai nascera, um pouco mais abaixo. De todas da aldeia, era a minha preferida, toda em xisto de sobrado,as janelas viradas para oeste com muito sol a sorrir para o quintal. E a escadaria à antiga linda de morrer, tanto com ela sonhei...
Só de pensar que vai ser dum desses casais de estrangeiros...doí-me a alma.
A minha madrinha também me confidenciou que tinha vendido a sua casa na aldeia, que conheci, em total ruína por 15.000€. Junto a ela outra foi vendida a um juiz de renome sonante.
Tem de escolher o local...o mais difícil.
antes que não reste nenhuma.
Obrigada e comente sempre, com reparos, que estou cá para aprender também, qualquer coisa.
Um abraço
Isabel