Aguadeiros no poço da bomba na Costa |
Tema apaixonante este gosto em falar da Lisboa oriental -, como em
antanho os lisboetas apelidavam Almada, por
a distância ser apenas de meia légua, de ricas quintas na maioria de gente da
fidalguia e nobreza. No Pragal e Monte da Caparica ainda existem vários vestígios arquitetónicos de casas solarengas inseridas em quintas implantadas desde os séculos XV e XIX, épocas em que terão gozado alguma prosperidade, intimamente ligada ao desenvolvimento da viticultura que floresceu por todo o concelho com a cultura do trigo, havendo em toda a arriba ainda vestígios de moinhos de vento.
Ao tempo o Porto Brandão era afamado, catraios levavam gentes e a produção das quintas para abastecer a capital, produtos agrícolas como o
mel, caça de muita variedade desde coelhos a patos, produtos do mar e do
rio -, gentes que no século XVIII vinham desde outubro a dezembro em safra para a pesca, até
que se fixaram pelos areais, vindas de Ílhavo e Algarve, viviam em cabanas armadas com paus de madeira, cobertas a colmo, e usavam barretes pretos, por serem os mais baratos.
Fotos retiradas da visita ao Museu da Cidade de Almada
Fotos retiradas da visita ao Museu da Cidade de Almada
Da Costa era reconhecida a boa sardinha, e o Porto Brandão era conhecido pelo grande número de lagostas, ainda o transporte de lenha e carvão, como fontes de energia para fornos de pão, louça, cal que haviam muitos, ainda para uso doméstico, também madeira de pinho para as naus da Índia, e tábuas de sobreiro para embarcações grandes e pequenas. Tempo de fausto da exploração agrícola, criação de animais, produção de vinho, trigo e fruta dos muitos pomares de romãs e laranjais nas quintas que circundaram Almada.
No século XIX as vinhas sofreram pragas, uma delas a filoxera, viria a fustigar por completo os vinhedos, acabando esta cultura por desaparecer por completo, tendo sido Almada um grande produtor vinícola que chegou a exportar.Por esse fato, associados a outros em meados do século XX, muitas quintas conheceram a decadência com nítida degradação que se deveu aos seus habitantes terem passado de camponeses a operários, também porque a maioria dos filhos dos donatários das quintas seguiram estudos, com isso o abandono gradual da terra e dos seus rendimentos, e o concelho tomou características urbanas.
Fotos retiradas da visita ao Museu da Cidade de Almada de alguns rótulos de marcas de vinhos produzidos e outros engarrafados em Almada
Hoje ainda predomina na paisagem a sumptuosidade de solares abandonados, poucos ainda ativos, muita ruína, e outras simplesmente desapareceram totalmente para dar lugar a urbanizações de baixo custo.
"Há muito que está já em curso a terceira
fase do processo de Revitalização Urbana e Plano Estratégico de Almada Velha
abrangendo uma área de 16,7 hectares no qual se situam grandes áreas
industriais desativadas, o Campus Arqueológico do Almaraz, o Castelo de
Almada e o Núcleo Histórico.
Trepadeiras que crescem desalmadamente pelos muros de quintas da Caparica |
Para todas vão surgir novas experiências
de planeamento participativas iniciadas em 2000, algumas delas sofreram revezes
de substanciais melhorias, num desenvolvimento sustentável envolvendo na
atualidade atores chave: institucionais, económicos, sociais e também ouvindo
as populações com debates temáticos em fóruns."
Fotos retiradas da visita ao Museu da Cidade de Almada
Fotos retiradas da visita ao Museu da Cidade de Almada
Muita criança de enxada nas mãos no terreiro de quinta no Pragal, atrás dela urbanizações a crescer com gruas.
Em baixo Ambiente rural anterior a 1907 do Campo de S. Paulo defronte do Seminário de Almada |
Bairro Amarelo implantado na quinta do Raposo, conhecido por "Pica Pau" na vista para sul, a norte com uma vista sem fim sobre Lisboa, ainda ostenta a ruína em redondo da entrada da quinta de Monte Alvão que foi de Fernão Mendes Pinto. Outras quintas onde foram construídos bairros sociais ; quinta de Santo António da Bela Vista, Quinta de S.Miguel, Quinta de S.Francisco de Borja; quinta das Casadas de Cima, quinta das Moucas, quinta do Bicheiro e o hospital Garcia de Orta na quinta do Bocelinho, entre outras.Fotos retiradas da visita ao Museu da Cidade de Almada
Seria matéria interessante neste século XXI o tempo de se juntarem vontades- IGAPH em parceria com a Câmara, para em consenso na forte aposta da requalificação das arribas que gravitam à volta das urbanizações na coragem de implementar de novo o trigo e a cultura da vinha, ordenada e modernizada, com adega cooperativa. Seria aposta ganha na requalificação de centenas de hetares em abandono total, salpicados, sem ordem por hortas de afros, onde proliferam barracas que se foram agregando à volta das ruínas de casas solarengas e ainda outras a esmo que se perfilam ao longo das estradas.
O desafio de novo apostar nestas culturas por terem sido duas valias aqui "rainhas", mas só gente de visão pode e deve ter capacidade de empreender, porque não falta mão de obra na região. Habitantes que vivem nos bairros sociais nas imediações cultivam as arribas da linha do comboio e do Metro de superfície, apesar da falta de água, a cada ano florescem mais, não sei se o proveito é recompensado na proporção do trabalho árduo de cavar a mãos a terra.
Todos os investidores sairiam vencedores, porque os jovens destes bairros nada ou pouco fazem, sendo preciso pô-los a trabalhar na sorte de ainda haver os mais velhos habituados ao trabalho da terra, uma mais valia, a aproveitar a baixo custo.
Quinta da Rabicha em Lisboa com o mesmo engenho que era uso em Almada |
Ainda existem em muita quinta poços grandes
em diâmetro, apetrechados de engenhos de ferro, ou o que resta deles -, noras encravadas em
quatro pilares. A água era tirada à força de animais atrelados que
faziam os alcatruzes encher e vazar por condutas em viadutos , outras tinham engenhos em lata, o moinho
de vento, como eu via em miúda nos filmes Westerns.
Na esquerda do portão de entrada foi a capela transformada em arrecadação(?). Em baixo o moinho de tirar água
Quinta dos Condes de S. Miguel
Ainda funciona, o tanque está sempre com água e as hortas dos afro verdes, airosas e frescas |
Quinta de Santa RitaNa Estrada do Casquilho a seguir à quinta da Bela Vista defronte da quinta de S. Miguel
O nome Santa Rita que estava na cimalha da porta já desapareceu...
O fausto mirante ao jeito japonês com telhados sobrepostos, já abatido
Quinta de S. Francisco de Borja na Caparica
O que resta do seu poço e nora
Existe a lembrança de memórias de outras quintas cujas casas ou ruínas foram deitadas abaixo para a construção de Bairros Sociais; Alcaniça e Bicheiro restam incompletas o nome nas placas das ruas.
Restos de varandim em ferro forjado típico do séc. XVIII |
Vista do jardim da Quinta de Nossa Senhora da Conceição , avista-se aquinta de 1776 que se situa defronte da estrada do Casquilho
Quinta Nossa Senhora da Conceição
Foi propriedade da UGT. Agora julgo pertence à Associação de montanhismo(?).
Quinta Nossa Senhora da Conceição
Foi propriedade da UGT. Agora julgo pertence à Associação de montanhismo(?).
Mantém a tradição das janelas abertas ...
Ostenta um pombal em formato de moinho.
O celeiro do trigo foi transformado num salão das "Testemunhas de Jeová"
O poço da quinta de Nossa Senhora da Conceição
Quinta da Boa Esperança ( II (?)
Em meados do século XX, por volta dos anos 40? Supostamente algum herdeiro da quinta sita uns metros atrás com data de 1776 fez mais à frente uma casa nova, com o depósito elevado de águas onde mandou colocar o nome da quinta, o mesmo ao lado de um portão um painel em azulejos ,e do outro lado as iniciais do donatário, o Sr Horácio?
Quinta da Boa Esperança ( II (?)
Em meados do século XX, por volta dos anos 40? Supostamente algum herdeiro da quinta sita uns metros atrás com data de 1776 fez mais à frente uma casa nova, com o depósito elevado de águas onde mandou colocar o nome da quinta, o mesmo ao lado de um portão um painel em azulejos ,e do outro lado as iniciais do donatário, o Sr Horácio?
Desta quinta resta o que as fotos evidenciam com
o portal e o azulejo alusivo do
nome Fomega-, novo, porque bem me lembro do antigo azulejo, com a
menção correta "FUMEGA" que
deveria ter prevalecido, tal incúria só acontece por analfabetação dos pintores,
fenómeno áscoro que lamento de vez em quando observar em publicidade e outras. No tempo o casario foi sendo absorvido sem estética, num
amontoado onde no r/c
funciona um restaurante/tasca com peixe grelhado. Na frontaria ainda visível a
argola em ferro onde se prendiam os cavalos.
O poço da quinta que
estava desativado, foi selado recentemente.
Evidencia pelo nome, que o dono enricou no Brasil. Os azulejos do painel com o nome da quinta já lhe faltam letras, e é pena vir a perder-se. Resta o portal e ruína dos cómodos agrícolas, atendendo às janelas pequenas com grades viradas para a rua.Por dentro não sei se ainda existe a casa original ou outra(?).
Pior sorte a desta quinta apesar do lugar altaneiro com vista sobre a Arrábida e Mar da Palha, de beleza em vastidão, imensurável. Completamente em ruína, só de paredes erguidas, em seu redor anexos e casas baixas-, evidencia após o abandono, que serviçais sem os donos por perto, começaram a fazer as suas casas como puderam para viver, apanágio que se observa em muitas outras quintas na região, não sendo contudo assim agregadas à casa mãe, se observam pela orla da extrema da quinta, com a estrada ou mesmo de permeio nos terrenos dela.
Derreter olhares no telhado no casario no tardoz da igreja com remate em semi círculos airosos, outro com baluartes em faiança de excepcional beleza e,...
Monte da Caparica
Muro feito com Mós de moinhos na travessa da igreja no Monte de Caparica.
FONTES
http://www.setubalnarede.pt/
http://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/1154/1/Ruralidade%20em%20Almada%20e%20Seixal.pdf
Fotos retiradas da visita ao Museu da Cidade de Almada
http://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/1154/1/Ruralidade%20em%20Almada%20e%20Seixal.pdf
Fotos retiradas da visita ao Museu da Cidade de Almada
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