terça-feira, 17 de outubro de 2017

A matriz de Ansião não é uma construção de raiz !

Resumo em parte publicado no Jornal Serras de Ansião em maio de 1922

Foto da Praça do Município de Ansião com o povo junto do marco fontanário
De 1903 quando Alberto Pimentel esteve em Ansião 
Desconheço outra foto mais antiga com esta vista  da Igreja matriz

Foto será de 1908 ?
Pela semelhança de outra do terreiro de Nossa Senhora da Guia do Avelar, com a mesma menção da legenda no postal, ou então  de 1915 a data de outras tiradas na vila.
A foto revela  usos e costumes do povo; o traje comprido das mulheres, a carroça estacionada na Praça do Município na frente da casa do Sr. Franco com duas  mulheres na varanda -  a mãe dele e a irmã? O marco fontanário a seguir à última  árvore para poente. Na porta da casa do Adrianito da Praça, o bacalhau estendido e não se percebe o que mais, as árvores bem podadas a talão, homens, mulheres e crianças. No adro não se consegue perceber o que se encontrava junto do muro a norte.
O prédio da familia Veiga que se encontra à esquerda, no gaveto foi a cocheira, nesta altura já era casa.

Partilha do saudoso Américo Antunes do Moinho das Moutas
Reprodução da foto acima  de quadro do seu cunhado João Silva, também conhecido por João Ferreiro,  desconhecia esta faceta de pintor, aqui dada a conhecer .
A Igreja paroquial vista em diferentes perspetivas no tempo da Praça do Município
Nesta foto calcetada a calhaus, a primitiva calçada de Ansião pela mão do mestre natural do Bairro de Santo António, cujo pai foi juiz na Cabeça do Bairro - António Freire da Paz, por andar com uma moeda de pataco no bolso foi alcunhado de "António Pataca" de seu nome António Freire da Paz.
Outra transformação da Praça do Município
Panorâmica em 2008
Presentemente foi de novo requalificada a Praça do Município
Vista da Travessa da Misericórdia

Estela pétrea
Na matriz, no lado direito ao cimo depois da capela do Calvário
                           
Esta lápide foi por mim publicitada depois de valorizar a leitura do padre Coutinho no seu livro de 1986, pela menção na pág. 46, a nota em rodapé « reza a tradição que a igreja foi fundada por uma Dona Domingas, facto a que, de certo, se relaciona a lápide que, ao cimo, do lado direito, na parede perpetua as Duas Missas de obrigação que a confraria tem "para sempre por alma de Domingas Freire", a quem celebra a memória.»
No meu Blog veio a originar mais tarde boa discussão, pese o meu estar de autodidata nas longas conversas com o Renato Paz, sobre a Domingas Freire, sua avoenga.  Veio imediatamente de Leiria a Ansião, para ver a estela. Nessa altura, partilhou-me os ramos da sua árvore genealógica, desta sua ascendente. 
 
O Renato Freire da Paz solicitou interpretação da estela ao Professor catedrático da Universidade de Letras do Porto. A epígrafe diz:
1/ TEM ESTA . S(anta) . CON
2/ FRARIA DVAS
3/ M(issas) DOBRIGACAÕ
4/ P(era) SEMPRE PELA
5/ ALMA DE DOMIN
6/ GAS FREIRE
"Pelo tipo de letra deve ser do século XVII. Atendendo ao que me diz, que tem o registo de casamento de Domingas Freire em 1668, será um pouco posterior a essa data, mas nem tem de ser muito mais tardia. Com esta cronologia não é uma inscrição medieval, mas sim de Época Moderna." Professor Doutor Mario Jorge Barroca, Departamento de Ciências e Técnicas do Património / Department of Heritage Studies
Faculdade de Letras da Universidade do Porto / Oporto University's Faculty of Arts and Humanities, 24.02. 21."
 
A razão da encastração da estela?
Domingas Freire deixou verba para a reza de duas missas. Se atender que na instituição de capelas, em todas com elevado numero de missas , a contraponto aqui apenas duas, leva a presumir que seria irmã fundadora da Irmandade ou da Confraria das Almas, se atender que  tinha mulheres . 

Filipe Rosado de Borba, descobriu o meu Blog
Na referência a esta estela e a Domingas Freire
Diz-se seu  descendente " João Freire filho de João Rodrigues casou em 1665 com Domingas Freire em Ansião"

O apelido "Freire da Paz" de origem judaica, aportado a Ansião na centúria de 500, na suspeita vindo de um ramo dos Freire d'Andrada de Pedrogão Grande (?).
Os seus  ascendentes no meu tempo viviam na Praça do Município , os irmãos Freire da Paz -, António, Adolfo, Artur, Ilídio e Jaime.

Sobre a fundação da  matriz em 1593
Seguramente não se deve a esta senhora Domingas Freire, a construção da igreja .
Trata-se de uma requalificação e, não um templo edificado de raiz. Coligi a contratação da reconstrução na obra dos Mestres de obras do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. 
O sítio da igreja tem implantação estratégica, na frente o corredor romano, de ligeiro alto à planura envolvente, onde existiria uma ruína de um podium romano (?). Se atender a existência  de palcos catalogados de habitts romanos, a escassos metros na zona da Misericórdia, com descoberta de um pequeno silo entupido de lixo onde foi feito um prédio no gaveto da travessa da Misericórdia. Recentemente reparei nas colunas do corpo da igreja, e sendo feitas em várias pedras unidas, bem podiam ter sido reutilizadas, sem estudo. A que se junta no enfiamento para norte, no jardim que foi da Sra D. Maria Amélia Rego, onde haviam outras desirmanadas pequenas como outra na Constantina, aventando romanas (?). 

Sobre as  técnicas de construção no Mosteiro de Santa Cruz
Excerto  file:///C:/Users/User/Downloads/Craveiro_Renascimento%20em%20Coimbra_Vol_1.pdf
De Maria de Lurdes Craveiro 

«(...) Em Junho de 1593, Jerónimo Francisco testemunha o contrato de Simão Fernandes para a reconstrução da capela-mor e sacristia da igreja de Ansião sem que, explicitamente, se mencione o autor da traça, mas a sua presença na qualidade de “mestre das obras” indicia a sua responsabilidade no projecto. Na sequência da visitação do bispo, a igreja sofreria grande remodelação: a capela-mor e sacristia sob a tutela do mosteiro de Santa Cruz, o corpo a cargo dos fregueses da igreja. A abóbada esquartelada da capela-mor mantém-se com os “dous cruseiros e duas formas, e tres rompantes”. A cimalha que a suporta sobrevive também com a “moldura della ... de hum capitel dórico por que os capiteis que se ham dasentar sobre as colunas do arco cruseiro, hão de ser a mesma simalha que hadandar por dentro da capella”, tal como o arco cruzeiro com “duas collunas com seus redopillares por detras com seus capiteis e vazas e o arco leuara hua volta sobre as collunas, e sobre esta volta Ja a outra que tomara a grossura da parede, e esta leuara hua moldura ... e da mesma manra terão o arco e frestas seus perfis por fora e pº dentro”. Um esquema que transportava um sentido compositivo anterior, agora na versão desornamentada, e se iria prolongar pelo século seguinte. O corpo da igreja mantém uma estrutura espacial seguramente anterior, de três naves definidas por arcarias assentes sobre colunas dóricas. Até que ponto a orientação de Jerónimo Francisco e o trabalho de Simão Fernandes aí se verificaram é de difícil apuramento mas os capitéis das colunas apresentam idêntica molduragem imposta nos capitéis do arco cruzeiro pressentindo-se a mesma campanha de obras. O portal principal, também datado de 1593, numa variante simplificada do portal do Paço Episcopal de Coimbra, acaba por evidenciar os mesmos ingredientes. Agora com o nicho vazio. Note-se a semelhança entre o tratamento “vegetalista” das volutas do piso superior da loggia episcopal e os capitéis das colunas do primeiro piso do colégio de Santo Agostinho. O frontão curvo e ladeado por frontão curvo e ladeado por dois pequenos pináculos, compõe-se de duas colunas estriadas diferentemente que sustentam a arquitrave com friso decorado com florões entre os números da data. A mesma ornamentação nos pedestais das colunas e as folhas que prendem as bases são ainda os motivos decorativos que se divulgaram a partir da primeira metade do século. Em 1594, sem que se consiga precisar o âmbito da sua intervenção, Jerónimo Francisco é o responsável por obras em algumas casas no Largo da Feira, recebendo da Universidade 6.000 reais. Ver Doc.  XXXVIII e Doc. XXXVIII.

A matriz, a segunda de Ansião, foi requalificada a capela mor e, a sacristia a cargo do Mosteiro de Santa Cruz, com o Mestre de Obras de Fala e, o corpo da igreja a cargo dos fregueses. 

A noticia é bem clara - trata-se de uma requalificação da capela-mor e sacristia, de anterior local de culto romano/visigótico(?) que foi assente no  ligeiro promontório,  pela frente degraus para o adro e no tardoz declive mais alto reporta a podium  romano, sem estudo sendo que a metros para poente está um habitat catalogado, na imediação do tardoz da Misericórdia,  sem  terem especulado a sua abrangência. A vila de Ansião foi privilegiada por dois troços de  estrada romana que se bifurcavam nas Lagoas - um troço para o Vale Mosteiro que depois de 1593, foi reativado com passagem pelo Nabão com a construção da Ponte da Cal em 1648 ,sem se saber se antes aqui houve ponte.

Excerto da Relação do estado das igrejas, confrarias e capelas da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Ansião, redigida pelo Padre José Fernandes Serra  de 1769 ao Cabido e Mitra da Sé de Coimbra retirado das Memórias Paroquiais Setecentistas « (...) Nam tem esta Igreja fábrica serta mais que trezentos reis que lhe dão por um talho de terra que lhe foi doado antigamente, e incerta o que rendem as covas dos defuntos, que é cada um de maior idade trezentos reis, e os de menor idade de sete anos sento, e cinquenta reis; não tem casas de residência, nem passais, nem outro algum legado; tem obrigação de cinco missas pelo dito legado acima, de que se dá conta em vezita (...) Primeiramente he o titulo desta Igreja vulgarmente chamado Nossa Senhora da Conceição; e na apresentação lhe chamam os padroeiros Santa Maria de Ancião. Consta que há duzentos, e dez anos (210)  que era Priorado (1559) e que se conservou Vicariato, até ao ano de mil, e seis sentos e cecenta, e nove (1669), e de então para cá está em Curato;  é do Padroado eclesiástico; são seus actuais Padroeiros os Reverendos Cónegos de Santa Cruz de Coimbra (...) o dízimos estão aplicados todos ao Mosteiro de Santa Cruz que alcançou indulto apostólico para os unir imperpetuum; enquanto foi Priorado eram repartidos entre o dito Mosteiro, e o Prior, e renderam os dízimos foros  e recaem para o Mosteiro trezentos, e sessenta, e seis mil reis (366.000 mil réis), e as suas porpinas, o que tudo passara de quatro sentos, e trinta mil réis; a renda incerta para o pároco terá ano que chegue a cem mil réis, e outro não chegara, a sessenta, mil réis (...) O pároco he Cura anual da apresentação do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Leonardo Gonçalves de Carvalho em 25 de março de 1763 escreve ao Doutor Provizor que o Padroeiro de Ansião são os Frades Cruzios de Coimbra"

Determinante saber a verdadeira definição deVigaria extinta em Ansião em 1577
Priorado até 1559; Vicariato até 1669 ; Curato até 1769 ; Padroeiro de Ansião em 1763
Retira-se desta notícia a existência de um talho de terra doado com a obrigação de cinco missas por alma do benemérito, embora não mencione o seu nome, se questiona se hoje ainda existe o talho de terra, e onde se localiza? 
Menção importante  " não há existência de casas de residência, nem passais, nem outro algum legado". Estranho este padre tão descritivo não fazer menção ao burgo religioso que foi centrado no atual cemiterio, onde foi a primitiva igreja  e demais casario de residência do padre, ao tempo também procurador do Mosteiro de Santa Cruz dos interesses das cinco quintas de Ansião e seus  foreiros, como casario de serviçais, almocatés e sacristão.  Debalde não sei interpretar os últimos dois excertos, nas diferenças  da Extinção da Vigaria em 1577 e Priorado até 1559...

Terramoto de 1755
Excerto do Livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes « (...) 1756 maio, 1, Ansião da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Ansião ao inquérito sobre os efeitos do terramoto de 1755 do Padre Cura João Correa de Azambujal (...) Informando me com pessoas inteligentes , e antigas a respeito dos interrogatórios da ordem de Vossa Excelência achei que o terramoto do dia de Todos os Santos ao ano próximo passado de 1755, principiou pelas 9 horas e meia do mesmo dia e pelas 11 horas do mesmo dia tornou a repetir, mas não com a mesma vehemencia do 1º o que eu também presenciei estando em hum confessionário, e a Igreja desta vila de Ancião teve hum grande balanço do sul para o norte de tal sorte que abriu a torre; com tanta força para a parte do nascente e poente, que se estendeu de todo se arruinava mas tornando-se abrir lhe caiu uma simalha para a parte norte; e caiu sobre o telhado da igreja que o levou abaixo; em a direita; e as naves da mesma igreja se levantarão; e tornarão a por-se em seu lugar, mas sempre lhe cairão no fundo muitos pedaços; e estando a igreja cheia de gente não morreu criatura alguma; arruinaram-se três moradas de casas nesta vila, e em quase todas houve a sua ruína; e não morreu em esta freguesia pessoa alguma com o terramoto; e depois deste dia de Todos os Santos, todos ou quase todos os dias se percebe tremor de terra; e no dia 40, depois do de Todos os Santos, se percebeu um tremor que causou muito grande susto mas não houve perigo algum; e logo no dito dia de Todos os Santos de tarde principiamos a fazer preces nesta igreja e por toda a freguesia que durou e ainda dura a devoção com admiração dos passageiros que passam por esta vila e tem havido sessenta sermões de missão em todo este tempo; e também se fizeram as preces que Vossa Excelência, e se fizeram várias procissões fora desta vila á Senhora da Paz e ao Senhor do Bonfim que está numa capela junto da vila e se trouxe o dito Senhor do Bom Fim em procissão solene para uma capela que está no meio desta vila que é de Nossa Senhora da Conceição e ali esteve a Senhora exposta no lado do mesmo Senhor com sermão de manhã e tarde, e para o efeito se pediu licença ao Dr. Provisor; e pelo rol dos confessados acho haver nesta freguesia o numero de pessoas de hum, e outro sexo mil e duzentas e oitenta e três; sendo destas quinhentos e cinquenta e nove homens; e sete centas e vinte e quatro mulheres e não há mais de que dé notícia.»
O que mudou desde então na fachada da Matriz?
A matriz sofreu grande remodelação no interior e exterior em 1942
Quem teria sido o Mestre de obras ?
Uma das hipóteses tenha sido o tio do meu pai António Rodrigues Valente, natural do Bairro de Santo António, morador no Escampado de S. Miguel , o mestre de obras que  ampliou os Paços de Concelho em 1937.
Pertinentes perguntas por certo contempladas assim como outras novidades no Livro há muito esperado sobre a Religiosidade de Ansião, das suas Igrejas e Capelas depois do séc. XV, gentilmente o Sr. Padre Manuel Ventura Pinho solicitou ao Padre José Eduardo Coutinho, e tarda a sua publicação!
 
Melhorou francamente a frontaria ficando o templo mais airoso com a alteração da janela alta em óculo teralobado de moldura relevada, com gradeamento e acima nasceu um nicho com mísula em pedra com a Imagem pétrea da padroeira Nossa Senhora da Conceição, envolta  em moldura relevada com espirais ao jus de caracol, em azul clarinho a marcara a traça da arquitetura ancestral com a inscrição em latim " I ANVA CLAVSA/ MANT.DIVINO./ PERVIA.SOL" Na minha tradução diz mais ou menos isto - Eu sou claramente divino (a) perante o sol (?)... O telhado de duas águas foi alterado para seis, suportados por mísulas assentes em pedra que emolduram a Cruz, encimada ao centro.

O portal da Igreja 
Apenas permaneceu no tempo da sua origem - o austero portal - diz a autora acima citada numa variante simplificada do portal do Paço Episcopal de Coimbra.
De verga recta encimado por arco de frisos em pedra calcária da região. 
Na cornija a inscrição da data de 1593. 
A ladear o portal duas colunas jónicas, não lhe contei os frisos verticais, devem ser 24 (?) com a base esculpida de grandes flores. 
Os capitéis das colunas apresentam-se simples ao género bizantino pela base circular que sustenta a cimalha quadrada que por sua vez sustenta um fuste encimado por outro capitel quadrado maior, sustentado por um pináculo ao género floral .
A ladear o portal existiam duas placas em pedra (?) que desapareceram...O que diriam?

Torre do campanário 
Sofreu remodelação por altura do terramoto no seu términos, alterada de dois para apenas um campanário, sendo a ultima requalificação em meados do séc. XX .

Segundo o Sr. Padre Manuel Ventura Pinho 
Arco em cantaria como os outros da igreja. Alguém depois o mandou fechar com argamassa e pedra. Dava para o corpo da Igreja. Embora tenha sido impossível tirar uma foto com o arco direito, pois só indo para cima de umas telhas que ali se guardam, correndo o risco de me aleijar ou partir as telhas.
Atual relógio
Não se vislumbra nenhum relógio de sol, teria desaparecido na reconstrução de 40?
Relógio de quatro mostradores, um por cada fachada, substituto de outro mais antigo em 24 de fevereiro de 1957.Portanto é da minha idade, apenas 3 meses mais novo...Se os meus pais tivessem casado nesta Igreja teria por certo a foto do antigo, debalde casaram em Pousaflores. 
Os sinos em ferro fundido.Desconheço a sua origem onde foram fundidos ou no Engenho da Machuca na Foz d'Alge do mestre francês, José Levache ou José Linhares, na ferraria da Boca da Mata em Alvaiázere ou ...

Notícia retirada do Jornal A Regeneração de Figueiró dos Vinhos de 15 de julho de 1958
«(...) Para aquisição deste relógio muito contribuiu a ação benemérita avultada de um conterrâneo industrial conceituado em S. Paulo no Brasil, natural da Fonte Galega, Manuel Luís Nogueira .»

Relógio fabrico de Braga
Adro
No meu tempo de criança era em saibro com uma sepultura muito branca e descarnada antes do portal, sem dizeres. Julgo que tenha sido do padre José Rodrigues Portela , cujas ossadas foram trasladadas para o passeio público do cemitério, ou não e foi de outro (?).Porque a lápide sepulcral é diferente a antiga era branca e a do cemitério mais cinzenta e com epitáfio.
 
Segundo o Padre Manuel Ventura Pinho
O Dr. Filipe Antunes mandou calcetar o Adro, como sabe, e a pedra foi então levada para o Cemitério, segundo diz o Padre José Eduardo. Quando em setembro de 1966 aqui vim, pois estava a tomar conta da paróquia de Santiago da Guarda, verifiquei que o Adro estava cheio de ervas e era em terra batida. Não dei conta de nenhuma pedra sepulcral nesse Adro. O Dr. Filipe tinha tomado conta da Paróquia de Ansião há poucos dias e onde hoje é a Sacristia nova, estavam muitos restos de caliça e azulejos muito antigos que o Padre anterior tinha mandado retirar da Capela Mor e substituir pelos que hoje lá se encontram. Naquele tempo não se apreciavam como hoje as coisas antigas e o Padre Barata fez então essa asneira.
 
O saibro foi doado pelo meu pai do pinhal da vinha, onde veio a construir a sua casa, a minha irmã .
A calçada foi obra  de calceteiros de Ansião, Manuel Mortinho, filhos e outros.
Acesso ao adro
Portão com lanço de vários degraus corre-lhe pela frente um muro de sustentação com resistente gradeamento em ferro forjado teria sido obra do inicio do século XX, atendendo ao portal do segundo Hospital, ao Ribeiro da Vide ser semelhante pese de porte mais pequeno construído em  1903. O adro com acesso por dois portões para a Rua Dr. Pascoal José de Mello (Freire dos Reis), com o nome completo devia ser agraciado na toponímia e na Escola C+S , porque em Ansião ainda existe sua descendência a viver em chão que foi da Quinta do Bairro que foi do seu  pai (Belchior dos Reis) e não se lhe associa e o devia, além de muitos outros. 
 
Ainda resiste a sul do adro a última árvore que outras iguais foram as primeiras a ser plantadas em espaços públicos no inicio do século XX, no final da década de 40 o meu pai tinha na frente da padaria dos pais uma igual e dela fazia uso para descer e subir de noite sem eles se darem conta, em meados da década de 60 foram praticamente todas removidas sendo substituídas por outras que não vingaram em mais de 20 anos, a lenha das antigas foi comprada pelo meu pai e ardeu na nossa lareira, ficando esta no adro e outra que foi removida este ano na Igreja velha, já hirta de seca!
Os meus netos mais novos - Amélia e Gaspar,  na visita à igreja a olhar o adro...
Pia de água benta
Depois do guarda vento a Matriz apresenta duas pias de água benta em forma de cálice.
A da esquerda é a original, a outra parece-me com muita certeza ter sido mandada fazer à sua semelhança em data posterior ...
               
A  verdadeira original
                   
Existe outra pia pequena cravada na parede junto da porta do sol
Em 1769  - Relação do estado das Igrejas, confrarias e capelas de Ansião do padre José Fernandes da Serra ( ...) «o edifício da Igreja é bastante grande; as paredes são em pedra e cal;tem três naves; o tecto é de madeira; foi forrado de tábuas em forma de guarda pó; uma torre com dois sinos, e esta ameaçando total ruína, como também o tecto da Igreja; uma sacristia muito pequena, e nela um caixão já bem usado; púlpito; fonte baptismal e duas pias de água benta, em bom uso, excepto a pia de água benta da porta do sol que não veda, por estar rota. O altar mor este se vê em forma, e na maior consternação a que podia chegar, pois tem um retábulo muito velho, e sem camarim para se expor o Santíssimo nas festividades; uma urna posta em cima de uns degraus de pedra sem outro algum ornato, e está muito usada, ocupara os ditos degraus a maior parte da dita Capela da parte do Evangelho;tem um retábulo suposto antigo bem regulado pela arquitetura da ordem dórica, e nele colocado um Sacrário da mesma ordem, tudo muito bem dourado, e seguro no qual está o Santíssimo Sacramento com toda a decência;no interior do dito Sacrário está muito bem forrado de cetim de seda incarnado; tem suas cortinas de tela, e galão de fio de prata a pixide tem sua capa da mesma matéria, a qual é só de prata sem ser dourada; da parte de fora da porta tem outras cortinas também de tela, com galões, e franjas de fio de ouro; tem outras de damasco roxo para o tempo da paixão; sua banqueta, e cruz a romana, de estanho fino; cinco toalhas em bom uso duas com renda, e três sem ela; um Missal, em bom uso; uma custódia muito moderna, feita à romana; umas cortinas em damasco encarnado com galões, e franja de tardoz amarelo guarnecendo o arco da dita Capela em bom uso; dois frontais em damasco branco usados, e todos os mais trastes que tinha de prata muito preciosos lhe roubarão... nesta Capela Mor está uma Imagem de Maria Santíssima feita em pedra muito bem esculpida e incarnada;no altar uma banueta, e cruz de estanho a romana, pedra de ara, oito toalhas para o Altar, e para a sagrada comunhão; duas do lavatório todas em bom uso, um cálice, e patena de prata dourado muito antigo, e colher de prata; vestimentas com tudo o necessário, a saber duas brancas uma nova, e a outra já usada, duas incarnadas em bom uso, uma verde, e outra roxa, outra preta todas de damasco em bom uso, excepto uma das encarnadas que é de veludo, cinco capas de asperges de todas as cores de damasco, e muito bom uso, sanguinhos doze em bom uso, cinco mesas de corporais singelas, e três palas em bom uso, três alvas uma quase nova, e as duas muito usadas, e já com algumas roturas, quatro amitos, em bom uso, quatro cordões dois novos, e dois usados, um vaso de estanho muito usado, uma caldeira de latão para água benta muito disforme, um relicário de prata para levar o Santíssimo aos enfermos, um palio de damasco branco; não tem humbella, nem véu de ombros, nem tribulo, e naveta; três ambullas para os santos óleos muito mal seguras, e o cofre aonde estão da mesma sorte, e sem ornato algum, e sem o devido asseio.
Altares da Igreja são sete por todos.
Depois a da Capela do Santíssimo para baixo da mesma parte do Evangelho está a Capela das Almas; nesta se vê uma moldura larga guarnecida de entalhe servido de retábulo a um painel das ditas Almas em que se percebem já muito pouco as figuras, e diante de uma pianha está uma Imagem de S. Nicolau Tolentino feita em pedra muito bem esculpida, e incarnada, e o dourado da dita moldura está todo ressaltado; tem pedra de ara, toalhas quatro, frontais pintados em tábua, um de damasco roxo, e vestimenta do mesmo, tudo em bom uso...»


De grande valia este relato à época  pormenorizado com os Santos da Igreja
Interessante falar do caixão muito usado, pois dava servidão a todos os defuntos...
Na altura teve sete altares, hoje com o altar mor, apenas seis.

Excerto do Padre Manuel Ventura Pinho
« Com a extinção das Ordens Religiosas, os bens dos conventos e dos mosteiros foram dados a amigos ou correligionários, ou vendidos ao desbarato, pelo que acho verosímil afirmar que muitas peças de culto religioso da residência dos párocos/frades que servia a paróquia de Ansião pertença do Mosteiro de Santa Cruz. E devem ter tido o mesmo destino outras da Igreja de Ansião.»
 
Ansião não foi exceção. Recordo vagamente em pequena ter sido colocado o chão de madeira na igreja, julgo que o passeio em pedra ao meio, o seja em invocar o antigo, mas sem me recordar como o era antes , já seria madeira e antes tenha sido pedra  e com a passagem dos invasores franceses, sem se saber se aqui estiveram, é provável e as marcas perderam-se, além do roubo das alfaias religiosas em prata. Pior foi com a implantação da República, em muitas terras atiraram fora as Imagens e outros objetos de culto. Em Ansião não existe registo, apenas se sabe que a casa do padre, o antigo correio velho, foi nacionalizada.
Em Ansião existem pelo menos três Imagens com devoção Mariana
Nossa Senhora do Rosário
Nossa Senhora d'Ó( foi da capela particular da matriz da Quinta das Sarzedas)
Nossa Senhora (da Paz) Virgem, a que foi dado este nome depois que foi para a Constantina
Sendo as duas últimas com origem em Toledo (Espanha).
 
Excerto da crónica de Severim Faria de 1625
«(...) A Imagem de Nossa Senhora  foi levada numa noite da Matriz de Ansião onde estava guardada na sacristia para a Constantina, para os ansos não se darem conta, pois eram muito ligados a esta Senhora, estando a Imagem desnudada e escura , a pintaram e vestiram que a colocaram no altar da ampliada Capela após o Milagre da Fonte Santa, pois ali aportavam muitos peregrinos que deixavam esmolas.» A Imagem de roca de Nossa Senhora  foi levada da sacristia, pelo juiz da igreja  João Freire o velho, quem tinha poder para a levar para a Constantina. O estado descritivo teria sido espolio da primitiva igreja que  teria sofrido um incêndio.
 
O primitivo orago da Matriz de Santa Maria  continuou depois de 1593
A primitiva Igreja de Santa Maria em Ansião, sita a poente ao alto do cerrado de Nossa Senhora da Lapa, admito na junção do muro velho com o novo do cemitério. Com o alargamento do cemiterio em 1969, o terreno era da minha avó paterna Piedade da Cruz,  chamado Ribeiro da Igreja. 
Segundo historiadores a igreja já existia na década de 1259. 

Excerto da Wikipédia « (...) Em 25 de Março de 1646 o Rei D. João IV para agradecer a restauração da independência do domínio espanhol em Vila Viçosa na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, ofereceu a coroa portuguesa a Nossa Senhora, colocando-a a seus pés proclamou-a Padroeira Portugal. O acto da proclamação alargou-se a todo o País, com o povo a celebrar, pelas ruas, entoando cânticos de júbilo.» 
 
Mas,  não se saber quando foi efetivamente dedicada a NSConceição  «(...) Em 1763 a resposta ao bispado de Coimbra do Prior Leonardo Gonçalves de Carvalho o orago desta freguesia é de Nossa Senhora da Conceição, ainda que o padroeiro lhe chama Santa Maria de Ançião»
 
 Retábulo da Capela Mor da Matriz de Nossa Senhora da Conceição
A inspiração tenha sido a rivalizar o retábulo do Mestre Malhoa de Chão de Couce de 1933, de Nossa Senhora da Consolação induz-me atrevida a dizer se tenha inspirado na obra de Nossa Senhora da Conceição  do artista barroco espanhol Bartolomé Esteban Murillo.
O retábulo da igreja matriz de Ansião em nada fica atrás do de Malhoa, foi executado em  1968 por um pintor que trabalhava na CUF - o Sr. Inácio, funcionário deslocalizado do Barreiro e aqui radicado, conta 87 anos e vive em Águeda.Ainda me recordo deste altar mor em escadinhas...
A Capela Mor 
«(...) A abóbada esquartelada da capela-mor mantém-se com os “dous cruseiros e duas formas, e tres rompantes”. A cimalha que a suporta sobrevive também com a “moldura della ... de hum capitel dórico por que os capiteis que se ham dasentar sobre as colunas do arco cruseiro, hão de ser a mesma simalha que hadandar por dentro da capella”, tal como o arco cruzeiro com “duas collunas com seus redopillares por detras com seus capiteis e vazas e o arco leuara hua volta sobre as collunas, e sobre esta volta Ja a outra que tomara a grossura da parede, e esta leuara hua moldura  e da mesma manra terão o arco e frestas seus perfis por fora e pº dentro».
Separada da nave central por um arco triunfal de volta perfeita com cobertura em abobada de caixotões em cantaria com molduras em gesso e ao centro flores.
                     
O chão da Capela Mor em lajeado, na frente no meu tempo de criança tinha uma platibanda em balaústre de madeira com portinhola. Foi retirada quando foi colocado um novo altar mais à frente.Também me lembro da missa ser dita em latim e de ver o pároco a fazer uso do altar mor.
No meu tempo havia um belo reposteiro em veludo vermelho com folhos a cobrir o arco, mais tarde retirado. Ainda são visíveis as roldanas de suporte.
Duas belas Telas na Capela Mor
Graças à partilha da Página do Facebook da Igreja de Ansião, do Padre Manuel Manuel Pinho
«(...) Pertencem à igreja de Ansião e estiveram já muito sujos, rotos e estragados. Pelo ano 1986, encontrei-os, um na arrecadação por detrás do altar-mor da igreja de Ansião e outro numa arrecadação da casa onde hoje é o Centro Paroquial.
O da Virgem parece-me seiscentista e o da Anunciação, setecentista. Mas não tenho formação para o afirmar. Um e outro em muito mau estado! Mas felizmente não foram parar ao lixo.
Mandei-os restaurar e hoje são preciosidades da nossa igreja! 

O da Anunciação do Anjo a Nossa Senhora esteve mesmo em exposição em Coimbra, creio que no ano 2000, levado pelas mãos do Padre José Eduardo, um conhecedor e admirador das coisas antigas, que quando os viu na Igreja ficou admirado e me perguntou onde é que eu os tinha adquirido!
Uma lição todos podemos tirar deste facto:
Não atiremos para o lixo coisas antigas - cerâmicas, fotos, quadros, imagens, vestes, etc. - pois podem ser preciosidades!»


Na relação do então pároco José Fernandes da Serra, refere que a igreja tem 5 painéis da vida de Nossa Senhora atribuídos ao pintor Grão Vasco (...) Quem sabe se os dois quadros que achei arrecadados e mandei restaurar não pertenciam a este conjunto de pinturas?!»
Concerteza que sim, lamentavelmente faltam três!
Vista do interior da igreja matriz de Ansião
O interior da Matriz de Ansião ostenta três naves divididas entre si por cinco arcos em alvenaria que assentam sobre colunas toscanas sob pavimento em madeira renovado.

Segundo o Sr. Padre Manuel Ventura
A última vez que foi mudado o soalho da igreja de Ansião aconteceu no verão de 2010, portanto há apenas 10 anos. O soalho que estava antes apresentava-se já deteriorado e ninguém que então interroguei se lembrava de quando teria sido posto. O chão era de terra movediça para se poderem fazer os sepultamentos, pois só na segunda metade do século XIX se deixaram de fazer enterramentos nesta Igreja ou no Adro, quando não havia lugar nela. Junto foto do chão que então tirei, para memória futura.
Excertos do Livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas extraída do Dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso em 1747 Anciam «(...)A Igreja paroquial, de três naves, está no meio da vila: o seu orago é Nossa Senhora da Conceição: tem seis altares, o maior, o da Senhora do Rosário, o da Senhora da Conceição, o do Santíssimo Sacramento, o das Almas, e o do Espírito Santo; todos com suas Irmandades, excepto o primeiro.»

Do lado esquerdo uma Capela do Santíssimo Sacramento
 O  lustre em cristal
Partilha da foto da Página do Facebook da Igreja de Ansião.
Ao centro a Helena que ofereceu o lustre

Citar mensagem de cortesia do Padre Manuel Ventura Pinho «(...) A senhora de idade e mãe das três raparigas chamava-se Maria da Conceição M. Vaz com as suas filhas: a do centro chamava-se Helena e ofereceu o candeeiro de cristal que está na igreja de Ansião, assim como várias outras coisas de valor à mesma igreja; a da esquerda chamava-se Carlota e a da direita, Sofia. Viveram na rua dos Bombeiros Voluntários, em frente ao sr. Antero Morgado e junto à barbearia, até casarem. Uma casou com um rapaz da Sarzedela, outra com um jovem de Além da Ponte, e outra com um tio de Ansião que tinha o Café do Corvo em Coimbra, nome dado a essa rua, por via da imagem dum corvo que estava na frontaria desse café. Segundo me dizem, era uma família muito religiosa e que deram bom testemunho de Fé por onde passaram.»

O marido desta senhora Maria da Conceição Vaz
Professor José Maria Vaz
Fez o exame de admissão em 1923 entre outros, ao poeta Políbio Gomes dos Santos e ao sobrinho o Dr. Alfredo Simões Lopes Silveira que viveu na casa que julgo foi dele e também o jazigo.
Todos carregam apelidos de origem judaica.

Altares tardios
Ao cimo do corpo da Igreja em cada uma das naves laterais existem dois altares tardios em talha dourada. Sobre a noticia acima do padre Padre Luís Cardoso em 1747(...) uma Capela da Senhora da Conceição, com seu retábulo metido num arco com suficiente altura, e proporção, e já tem algumas faltas de dourado.

Altar de Nossa Senhora da Conceição
Imagem de roca vestida
Nossa Senhora da Conceição

No final de 2022 a igreja decidiu restaurar os altares de madeira 

Ninguém sabia que no seu tardoz estavam tronos primitivos, que em 1747 ainda existiam

A minha crónica publicada no Jornal Serras de Ansião em janeiro de 2023

Apelo de Ano Novo aos membros do Conselho Municipal de Cultura; um órgão colegial de natureza consultiva, informativa e de articulação e cooperação para as questões relacionadas com a cultura no Concelho. A unir a Missão Autárquica, Juntas de Freguesia, Associações, e a Igreja, a pôr em prática o compromisso de trabalharem em rede, a zelo e respeito, do legado herdado, a deixar aos vindouros, sem lugar a críticas!

Grito cultural à introspeção ao património público e religioso, no concelho de Ansião

Recordo anos de culto na Igreja e Ansião, sem entender porquês, a mirar os azulejos e, em todos via diferenças. Elevo estima aos seus representantes do passado e, ao Sr. Padre João Fernando. O que não invalida solicitar satisfação cívica às condutas de restauro ao património e espólio religioso - apanágio a sensibilizar cultura e à falta dela! Penhoro este falar, não sou hipócrita, insegura, cega, gaga, nem rival, à cultura e amor a Ansião!

 Além da informação à paróquia, desconheço se foi lançada discussão aos membros conselheiros, como à perspetiva ao que se poderia vir a encontrar? Constatei que a retirada dos altares pôs a descoberto antigos tronos; um em concavidade não centrado e, um segundo estruturado em arco com vestígios de policromia vermelha. Cujas ombreiras tem pedras reutilizadas. Dada a implantação da matriz em complexo ruinal, cenário possível a pedras visigóticas, se foi ponderado averiguar? Pela herança viva nos concelhos limítrofes – em lamento Ansião, ainda sem localizar alguma…Obriga à perspetiva de se acordar para esta nova realidade, sem desperdiçar o novo património arqueológico, como saber se foi fotografado para estudo bibliográfico. Como auspicia saber se foi alvo de avaliação à sua reabilitação, com apelo a Mecenas? A recolocação de um dos altares, implícita dizer, que o novo achado vai continuar ignorado e, pergunto - não incomoda a Igreja nem os paroquianos - a todos é indiferente? Despida de franqueza, defendo o novo achado, em prol do alegado restauro a brilho pechisbeque, ao feliz erudito dourado velho. Como destoa a patine, plástica, fosca, sem candura angelical … A NSConceição, em roca alude minguou, pese o belo laço do vestido, já a roda não cai, em graça… Onde são úteis estes altares? Espólio do futuro museu municipal!

Alegações culturais que dirijo a convite dos ansianenses a respeitarem as cinzas de avoengos, na Igreja e no adro. Não há mal sem remédio, assim queira o povo mudança e, nada se perde, e tudo se transforma a contento, em ganho e mais património!

Perdi as fotos deste altar antigo...Após o restauro o altar à direita ...

A brutal semelhança das Imagens 
Nossa Senhora da Conceição da matriz de Ansião, mais pequena, quiçá foi o orago de NSConceição que foi da Misericórdia de Ansião e, de NSPaz na Constantina, maior,  e ainda com NSGuia no Avelar teriam sido todas feitas na mesma oficina de santeiro , não estando estudadas também se desconhece a oficina e datação.

Avelar
Nossa Senhora da Guia
Julga-se que veio da igreja da Aguda, por isso mais antiga à data da igreja.
                                           Resultado de imagem para avelar a igreja e a imagem de nossa senhora da guia
Nossa Senhora da Paz
Constantina
A Imagem é maior que a Imagem da matriz de Ansião. Fora espólio da igreja antiga de Ansião. A imagem da atual matriz tenha sido da ermida, que veio a ser suprimida apenas permanecendo  hoje o portal gótico no tardoz da Misericórdia.




Excerto do Livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas de 1769 Relação do estado das Igrejas, confrarias e capelas de Ansião do Padre José Fernandes da Serra 
«(...) Da parte da Epistola depois do Arco Cruzeiro segue uma Capela da Senhora da Conceição, com seu retábulo metido num arco com suficiente altura, e proporção, e já tem algumas faltas de dourado, e nela uma Imagem da dita Senhora em vulto feita em pau e esta inculcando toda a devoção, muito bem esculpida, e incarnada; tem cinco painéis da vida de Nossa Senhora tão antigos que dizem é obra do insigne pintor o Grande Vasco; tem cortinas de damasco encarnado com galões, e franjas de tardoz amarelo guarnecendo o arco da dita Capela, pedra de ara, cinco toalhas em bom uso, um frontal em damasco branco, e outro roxo usados, uma banqueta, e Cruz de estanho fino, cálices, e patena de prata tudo dourado...»

Dornes
Se a igreja é quinhentista, a imagem pode ser desta época ou anterior de outro culto, ou então esculpida ao jus de outras mais antigas. 
Altar de Nossa Senhora de Fátima

Excerto do Livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas de 1769 Relação do estado das Igrejas, confrarias e capelas de Ansião do Padre José Fernandes da Serra «(...)  Depois do Arco do Cruzeiro a par do Evangelho está uma Capela da Nossa Senhora do Rosário com seu retábulo metido em um arco com suficiente altura, e proporção; está muito bem pintado e dourado a Imagem da dita Senhora, em vulto feita em pau, que pelo peso parece de pedra muito bem esculpida, e incarnada; neste Altar necessita de uma banqueta para por castiçais; tem dois de estanho a romana, Cruz de pau, pedra de ara, cálice, e patena de prata, a copa do cálice dourada, toalhas três em bom uso, dois frontais de damasco, um branco, e outro incarnado quase novos um roxo em bom uso, umas cortinas do mesmo incarnadas com galão e franjas guarnecendo o Arco da dita capela...»

Atualmente o altar está dedicado a Nossa Senhora de Fátima, antes foi de Nossa Senhora do Rosário. Em 1769, era uma capela com um retábulo metido num arco com suficiente altura e proporção. Seria um arco de pedra com uma reentrância na parede, onde estaria esse retábulo com uma imagem e um altar.
Impressionante, já não recordava ter escrito esta dedução, que é afinal assertiva!

«(...) Tinha algumas oliveiras dispersas e uma terra que lhe davam alguns poucos rendimentos para pagar a um capelão que celebrasse as missas a que estava obrigada.
Estávamos numa altura em que havia fartura de padres, pois naqueles tempos mesmo o pároco não podia celebrar cada dia mais que uma Missa. Por isso é que Ansião ainda tinha nas primeiras décadas do século vinte um padre para celebrar a Missa das Almas ao domingo na Igreja da Misericórdia, para além do pároco que celebra 
as missas a que estava obrigada. »
 O altar antigo




Os meus netos Gaspar e Amélia a testemunhar o achado que volta a ficar escondido!
                      
                          
Um povo unido é quem mais ordena. 
A tomada de posição, a seu clamor, sujeita a pressão, a autarquia, no avanço ao Museu – em luta vitoriosa a comando do povo de Ansião! 
 
Perdido o púlpito e o coro alto, merece carinho a arte sacra mutilada. A Igreja de Avelar expõe na ala museológica parte de um Cristo - em fé, cita ao topónimo Santo Velho. O nosso definha, sem merecido platô, alude, espólio da primitiva igreja!
 
 
Capela do Santíssimo Sacramento
Segundo o Sr. Padre Manuel Ventura Pinho «(...) Onde hoje é o altar do Sagrado Coração de Jesus estava outrora a Capela do Santíssimo. Tinha um altar e um retábulo com colunas dóricas com um sacrário, tudo muito bem dourado e asseado. Conserva-se ainda na igreja de Ansião um sacrário antigo, que serve para a adoração da quinta-feira santa. Presumo que seja esse mesmo que fazia parte daquele conjunto. Agora está nesse sítio o retábulo e altar que vemos na foto que junto e que não tem lugar para sacrário. A seguir a essa capela havia no século dezoito uma Capela das Almas com um altar e um painel com uma pintura alusiva já muito esbatida.
Do lado direito de quem entra – de frente do batistério – haveria outrora uma sala ou capela, pois dentro da torre vê-se um arco de cantaria tapado – mas não encontrei menção da mesma em lado nenhum.
»

Vista da Igreja
Já sem o púlpito de madeira, ficaram as marcas na coluna de pedra que deviam ter sido tapadas com pó de pedra e jamais cimento...
Num excerto das MP de 1769 do padre Jozé Fernandes da Serra (...) a Capella das Almas;nesta se ve huma muldura larga guarnecida de emtalho servido de retabulo a hum painel das dita Almas que se percebem já munto pouco as figuras, e deante em huma pienha esta huma Imagem de Sam Niculáu Tolentino feita em pedra munto bem esculpida, e incarnada, e o dourado da dita muldura esta todo resaltado; tem pedra de ara, toalhas quatro, frontaes pintados em taboa, um de damasco roixo,e vestimenta do mesmo, tudo em bom uzo;consiste o seu rendimento, em oliveiras, e carvalhos dispersos, que tudo lhe rendera cada hum anno pouco mais ou menos deéz mil réis, e avera anno que não chegue; não tem mais obrigassão que duas Missas por um talho de terra com suas oliveiras que lhe foi doado antigamente.

Capela do Santo Cristo
Foi particular  pese ter a  Imagem do Santo Cristo  pertença da Igreja de Ansião que vulgarmente chamamos Calvário 
Capela particular era administrador Gaspar Godinho da Silva Sequeira Mendanha, tem obrigação de 14 Missas, cada hum anno.  Este administrador  viveu na  quinta das Sarzedas, com um ramo na quinta dos Sequeiras, na Ribeira do Açor com capela que foi descontinuada após a Republica e demolida há anos. 

Excerto do Livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas (...)  que tem um lagar e fazendas para a sua manutenção e celebração de 14 Missas anuais. Se em 1769 o padre diz que o administrador desta capela é Gaspar Godinho da Silva e Sequeira Mendanha reporta para a família que viveu na Quinta das Sarzedas, hoje Sarzeda, a sul da vila de Ansião com lagar que hoje ainda existe em ruína.  Nesta Quinta das Sarzedas nasceu em 1738 a nobre Mariana Josefa Pimentel de Almeida da Silva e Sequeira Ponce de Leão de Mendanha , filha de Gaspar Godinho de Nisa e Reis Capitão Mor de Ansião e de Josefa Silva e Sequeira Ponce Leão e MendanhaCasou com Suplício José Pimentel de Almeida nascido em Montemor-o-Velho.  
 
Nas Memórias Paroquiais de 1769 Relação do estado das Igrejas, confrarias e capelas de Ansião do Padre José Fernandes Serra « (...) Depois desta segue-se a Capela em que está um Santo Cristo, feita de abóbada sem algum ornato, e tem mais as Imagens da Senhora do Ó e S. Roque feitas em pedra bem esculpidas, e a de Santo André feita em pau necessitam de ser incarnadas; esta Capela é particular; é seu administrador atual Gaspar Godinho da Silva e Sequeira Mendanhatodas as Imagens nela colocadas lhe pertencem excepto o Santo Cristo que dizem é da Igreja; tem uma toalha, dois frontais de ostentação já muito usados, umas cortinas em damasco encarnado em bom uso, e não tem mais ornamentos alguns; já ficou prevista que o administrador mandasse fazer um retábulo quando lhe o noticiei respondeu que quando os Padres Cruzios fizeram também a tribuna que na mesma se lhe mandava, que então faria ele o retábulo.»

Obra de arte, a NSD’O foi da capela, nesta matriz, do capitão-mor Gaspar Godinho da Silva e Sequeira Mendanha, da Quinta das Sarzedas. Sem bibliografia, foi esquecida na memória do povo. Actual Sarzeda, cuja ermida NSEsperança, foi arredada para novo palco. Só choca a omissão às sepulturas da centúria de 600, da família nobre Ponce Leão. Cuja identidade não se pode perder, na nossa história. Sugiro assinalar o sítio da ermida na calçada a moldura de cor diferente com menção à família.

No dia do meu juízo final no adeus à matriz amada, na presença de NSD’Ó, pela graça concedida – ser mãe. Orelhas moucas, nem sonhem matar este sonho, ressuscitarei e, arrasto-os à morte de susto, cegos devotos à literacia cultural e à indolência!
 
A Senhora  d'Ó 
Alvitra ter sido herança vinda de Montemor o Velho . 
O S .Roque em pedra, com a cabeça decepada, quiçá, por  altura da Republica.
O Santo André de madeira. 
O que falta? A Imagem de Nossa Senhora d'O já foi  alvo de vistoria para estudo por técnicos de historia e arte que trouxe a Ansião, a Dra Carla Varela e o Dr. Paulo Fernandes . Aventa ser da escola coimbrã do  Mestre Pêro, pelo rosto oval e os cabelos em caracol. 
                                              
As semelhanças
Nossa Senhora d´Ó da Igreja do castelo de Montemor o Velho 
 Virgem da Igreja de Podentes actualmente exposta no Museu Machado de Castro em Coimbra

Santo Cristo ou Calvário
Escultura  em baixo-relevo em pedra, pintado em policromia .

Segundo um testemunho do Sr. Padre Manuel Ventura Pinho 
« (...) Lembro-me, como se fosse hoje, do Padre José Eduardo ter estado a olhar durante uns 10 minutos muito de perto esta escultura, dias antes de ser ordenado padre. E no fim disse-me mais ou menos isto: «Esta escultura não era daqui! Deve ter sido trazida para aqui da igreja velha. Veja como ao retirá-la donde estava, partiram a cabeça aos anjos!... Quem foi o desastrado que fez tal serviço e nem ao menos se lembrou de trazer as cabeças partidas e de as colocar onde sempre deviam ter estado?!...» 
Corroboro inteiramente o que o Padre José Eduardo um dia lhe confidenciou sobre não terem guardado as cabeças dos anjos, o que qualquer um de nós o teria feito...Há grande probabilidade de se tratar da igreja primitiva,  tenha sido seu espólio, o que faz sentido na reutilização dos materiais. Ou não e seja daqui.
Depois da descoberta em 2020 que a capela mor foi reconstruída em aventar antes foi um culto romano/visigótico e o Calvário com as esculturas masculina e feminina de patrícios romanos, aventar  mais se deveria averiguar  do passado desta terra de Ansião e do seu património religioso ! 

Um olhar muito atento à posterior
Capela que serve de palco ao coro quando em exercício do canto se mostra iluminada por forte lâmpada. Em dia de Pascoa assisti à missa ao seu endireito a julgar que os meus netos me presenteavam com a sua presença para verem o avô paterno no coro. Debalde com ligeiro atraso ficaram mais abaixo. Consegui graças à luz distinguir a policromia da beleza da escultura e descortinei na base à direita esculpida uma pequena igreja com a torre do campanário do sino ladeada por duas árvores, sendo eu amante da faiança portuguesa logo me reportou para esta pintura tão vastamente pintada em Coimbra e em Gaia nas muitas fábricas desde o séc. XIX e claro muitos pintores foram acrescentado outros pormenores da sua criatividade.

Calvário
       
                Moldura do calvário ao jus da  escultura romana...
Segundo a Dra Carla Varela a moldura  ao estilo grotesco das grutas de Roma
             
                            
Segundo a investigadora Dra  Carla Fernandes que levei a Ansião para apreciar a imagem de NSD'O, ao lhe mostrar este Calvário exclamou - Jerusalém de João de Ruão
Mal a missa terminou a iluminação foi desligada tendo perguntado onde era o interruptor, de novo com luz apreciei outras maravilhas; o remate do Calvário na parte inferior com duas belas esculturas de rostos na esquerda de um patrício romano e na direita de uma bela romana, segundo a Dra Carla Fernandes, ao gosto neo clássico dos feitos históricos de Roma. A parte superior  é encimado por anjos nus a que já faltam as cabeças. Nas laterais o Calvário é esculpido por caras de anjos assentes em capitéis.
Capela particular mandada construir por André Fernandes e sua esposa

Segundo o Padre José Eduardo Reis Coutinho 
« em 1608, André Fernandes e a sua mulher Catarina Fernandes, abriram-lhe outra capela lateral com arco de cantaria ... em que as sepulturas são, provavelmente, as dos proprietários, a quem se refere a lápide no chão.»

Amo a arquitetura desta capela escultórica . 

Dignificar as suas sepulturas, é as manter nuas - a exaltar a riqueza da pedra! 

Foi mais tarde alterada para Capela do Divino Espírito Santo

 Admito que as pianhas de espaldar eram dos tronos dos altares agora redescobertos .

Neste excerto do Livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas de 1769 Relação do estado das Igrejas, confrarias e capelas de Ansião do Padre José Fernandes Serra «(...) Depois segue uma Capela do Divino Espírito, com seu retábulo bem dourado nele colocada uma Imagem da Santíssima Trindade feita em pedra, mais um Santo Cristo, Nossa Senhora ao pé da Cruz, o Evangelista, tudo feito numa pedra, e no mesmo Altar as Imagens de S. Sebastião e Santo António ( pode ser Aniano) todas feitas em vulto de pedra muito bem esculpidas, e tem alguma coisa a incarnação desbotada; tem pedra de ara, toalhas quatro, um frontal com parte de damasco branco, e outras de veludo encarnado, um de damasco roxo tudo com bom uso; tem mais dois pintados em pau, dois castiçais, e cruz de estanho à romana, cáliz, e patena de prata, um pontifical de seda, e veludo roxo muito bom, três alvas, amitos e cordões...»
 
Encontra-se em reservas 
Uma imagem quinhentista do Divino Espírito Santo em pedra , bonita mas molesta  falta uma parte da asa da pomba, um S. Sebastião, um Santo António, mais um Santo Cristo, a Nossa Senhora ao pé da Cruz, e o Evangelista, tudo feito numa pedra, não recordo de ter visto.
 
Apresenta-se a capela com arco de cantaria lavrado e teto também de pedra, decorada com uma Imagem pétrea de Santo Aniano, do século XVII, em nicho ao lado da Cruz, e outra imagem de Santa Teresinha do Menino Jesus.
Um horror, a alcatifa a tapar as sepulturas!
Azulejaria
Nas Informações ao Bispado de Coimbra  não encontrei referência ao revestimento da Capela Mor com azulejos hispano árabes em azul e branco, atribuídos ao séc. XVI, aquando da sua origem. O que se estranha. Pertinente afirmar ou foi lapso do padre que era parco em descrições, mas também porque se perdeu a carta das Memórias Paroquiais de 1758, e assim os azulejos podiam não ser originalmente desta Matriz, e o tenham sido da primitiva (?), e os tenham recolhido pela valia , porque  do espólio de Imagens parece credível que sim. 
Nas grandes obras ocorridas na Matriz em 1942 se diz que foram removidos ficando décadas arrumados, e nos anos 70, do séc. XX, ao tempo do pároco Filipe Antunes dos Santos supostamente foram vendidos ... E a capela mor foi revestida por azulejos em cor monocromática azul e branco.

Azulejos de oficina de Lisboa
Pela cor do barro amarelado, visível atrás da porta da entrada um que se encontra partido, a sua produção pode ser atribuída a uma oficina de Lisboa . Desconheço se a Igreja detém em arquivo fatura do pagamento ou da encomenda à fabrica.
Lamentavel como ainda não foi com massa reparado...
 Esmoliadouro para as Confrarias
Confrarias
Citar excerto do Livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas
Em 1769 Relação do estado das Igrejas, confrarias e capelas de Ansião do Padre José Fernandes Serra"(...) Tem esta Igreja quatro Confrarias; Almas; Nossa Senhora da Conceição; Divino Espírito Santo e Sagrado Coração de Jesus... A do Santíssimo desde o seu principio sempre deu contas não no juízo da provedoria como as demais, sempre as deu na visita ao Reverendo Doutor visitador, e só do ano de 1766 para cá a obrigaram a da-la no juízo da provedoria, e para esta causa tem havido algumas discussões, e menos fervor nos Irmãos, e Confrades, as mais, e esta também não sei, se lhe oculta alguma coisa na sua administração...Nesta Igreja não há mais obrigação de Missas mais que as declaradas nas Confrarias... "

Confraria do Santíssimo Sacramento, a única ainda activa...
Nasceu em 1584 segundo um documento do arquivo distrital de Leiria.
Foi efectuado pedido ao Governo Civil de Leiria o seu Registo em 21.12.1872.
A propósito desta Confraria uma nota do Bispado de Coimbra
 
 A relação do mesmo padre Serra em 1774 sobre Confrarias das Almas; tem 18$000
(...) Tem esta Igreja coatro Confrarias, e todas levão o seu rendimento nos seus respetivos lugares; a das Almas, a da Senhora da Conceissão e a do Devino Espírito Santo senpre derão contas no juízo da prevodoria(sic), e a do santíssimo desde o seu princepio (sic)sempre as deu na vezita ao Reverendo Doutor vizitador, e só do anno de mil, e sete centos, e cecenta, e ceis para cá a obrigarão a dallas no juízo da prevedoria, e por esta cauza tem havido algumas dissencõens, e menos fervor nos Irmaos e Confrades, as mais, e esta também não sei, se lhe oculta alguma couza na sua admenistrassão. (...) e muntos ja nem se sabe aonde vão as fazendas em que estam impostas, por não terem os asentos as clarezas devidas, e so vindo ordem para esta avirguassão poderey dar execussão a ella, para ver se se pode alcanssar alguma clareza, e nesta materia, e em tudo o mais farei o que Voss Senhoria determinar, e sempre a tal avirguassão sera munto deficultoza, pella razão de não haver qum diga aonde vão as tais fazendas.

Citar excerto da Revista Portuguesa de História Vol 2 pág 237
"(...) Em 1834, na véspera da entrada vitoriosa do exército liberal de D. Pedro, o bispo D. Fr. Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré por ser partidário miguelista fugiu da cidade de Coimbra provocando uma divisão na Igreja diocesana entre as duas facções - foi o chamado "cisma de Coimbra" ... o bispo ausente mandou entregar a administração diocesana ao doutor o padre José Rodrigues Feio que fora escrivão da Misericórdia outra sede nevrálgica do poder, seu seguidor durante o exílio ..."

Registo da Confraria do Santíssimo Sacramento da Vila de Ansião 
Pedido ao Governo Civil de Leiria em 21.12.1872
Assina em 1831 o Fr Joaquim da Nazaré , Bispo Conde
O padre promotor do Bispo (?) o bispo de Coimbra nesta altura estava preso e foi substituído pelo padre José Rodrigues Feio
Assinado José Rodrigues Feio em 1831

 
 
No final do Livro da Confraria por as páginas não terem linhas a sua linhagem foi feita sem preceito algum para mencionar os dados dos confrades e a sua assinatura...
O horror das linhas traçadas  sem estética nem rigor...
 
Interessante o conhecimento de apelidos que se perderam no tempo em Ansião
Assinam pela Confraria do Santíssimo Sacramento da Vila de Ansião 
Em 1831
António de Freire Reis, do Casal das Peras
Em 1838 
José Veríssimo Mendes Lima, de Ansião
Francisco António D'Edra
Em 1839
 Belchior José Joaquim Filho, do Bairro de Santo António
Francisco António d'Edra, de Ansião
Manuel Moreira, Casal de Viegas
Em 1842 
João dos Reis-Matos
António Joaquim Bastos Guimarães, solteiro do Bairro de Santo António ( meu avoengo)
Em 1865 
Francisco Roiz da Paz, casado Constantina
Francisco Roiz Maneira, casado da Fonte Galega
Pedro Tenreiro, do Bairro de Santo António
Em 1866
Dom João de Mascarenhas Vellasquez Sarmento e d'Alarcão, solteiro de Além da Ponte
Em 1871
Albino Roiz Chisostovão, casado das Lagoas
Maria Serralheira  do  Escampado de Santa Marta
José Francisco  do Escampado Belchior

Os Compromissos da Confraria 
Foram passados a papel selado em português da altura a 25.05.1924.
O notário Pedro Augusto Figueiredo Veiga então morador na casa de paredes meias com o adro a sul, hoje do Porfírio.
Assinaram os Confrades
José Gomes da Silva
Casimiro Mateus
António dos Santos
Domingos Mendes Calado
Miguel Gomes das Neves
Guilherme Mendes da Silva 
Manuel Bernardino Pires Serra
António Gomes da Silva
Manuel Rodrigues das Neves
António Rodrigues Maneira
António Maneira da Silva
José Duarte
João Rodrigues
Vogal - António Rodrigues
Vogal - Alfredo Duarte da Paz
Vogal - Casimiro Mateus
Tesoureiro - António dos Santos
Padre - Manuel Maria Gaspar Furtado

Os Estatutos da Confraria foram transcritos a 25.01.1928 no tempo do Padre Manuel Maria Gaspar Furtado
Livro da Confraria do Santíssimo Sacramento
Relíquia que a meu ver deveria estar na posse do Arquivo Distrital de Leiria para digitalizar e não se perder.
Foi há anos que soube da sua existência e na altura o fotografei .
 
 
 
O público Notário Thomé da Cruz
Apelido " Cruz" do meu bisavô paterno Elias da Cruz de Ansião, o pai era de Tornado, Alvaiázere, ferrador no Bairro de Santo António, onde casou e nasceram os filhos.Não sei se tem afinidade?
A pia do baptistério
No lado esquerdo do templo, logo à entrada, o baptistério encerrado em Capela de arco alteado, com pia baptismal seiscentista de seis lados cada um ostenta esculpida uma cara de anjo assente em coluna facetada. Coberta por uma bela toalha com bordado Richelieu.
Alteração da pia pequena no tempo do padre Filipe
Sacristia
Um Crucifixo centrado com Nossa Senhora de Fátima ,vários castiçais e outras duas belas Imagens
Imagens
Santa Filomena mutilada, falta-lhe uma mão e Nossa Senhora do Carmo com os escapulários numa das mãos e noutra o Menino, também a necessitar de restauro.
Nossa Senhora do Rosário com o escapulário
A fonte da sacristia em pedra
Porta do sol
Sita a nascente . No meu tempo de criança os homens saiam pela porta do sol, raros os que saiam pelo portal da frente, só os namorados ás escondidas dos pais é que trocavam cartas nessa altura, mas antes davam sinal da missiva elevando a mão à face e mexendo na orelha ou no cabelo...
 
Janela com gradeamento igual há que existem na Capela da Misericórdia e outra que foi da primeira cadeia de Ansião, no vulgo mosteiro
O tardoz da Igreja Matriz de Ansião com vista para a Mata Municipal com as suas belas pinheiras e prédios

A Casa Paroquial 
Citar noticia no Jornal Cinco Vilas em março de 1970 « (...) obra notável que o espírito empreendedor  e dinamismo  tendo recebido do povo perto de 300 contos para a aquisição do lote e da sua construção com jantar no ginásio do Externato António Soares Barbosa, com cerca de 100 confraternizantes (...)»
Recordo a inauguração e o jantar onde fui.

A norte de paredes meias com a Igreja o Centro Paroquial, na casa que foi de Georgina Veiga
Natal de 2015
Missa vespertina, o Menino Jesus foi o meu neto Vicente ainda não tinha dois meses.
O presépio da paróquia de Ansião
A menina que fez o papel de Nossa Senhora de beleza e candura excelsa, bem merecia ser distinguida por pintor que no pincel a deixasse retratada em retábulo ou Imagem sacra ao jus do retábulo de Ansião e de Chão de Couce.
Doçura de menina
                      
A manjedoura onde esteve deitado  o meu neto Vicente durante a homilia
 A família paterna e materna presentes, não fosse a chegada de uma criança uma riqueza!
A foto com os figurantes - Nossa Senhora, S. José e o Anjo anunciador
O coro na missa cantou e encantou, parabéns a todos
Recital na igreja com foto retirada da sua página facebook 
Em noite de Reis pela Filarmónica de Santa Cecília de Ansião
Interessante a Igreja abrir portas para a orquestra brilhar. 
Momentos de presépio
A sul da matriz, a casa do relojoeiro Porfírio  foi de Pedro Figueiredo Veiga
No tardoz da Igreja apenas um pequeno espaço e sanitários.
Reconheço que por viver há 40 anos fora de Ansião, não eduquei a minha filha nos preceitos da religião católica, a que professo, sem o ser praticante, embora jamais adormeça sem rezar as minhas orações e ser visita frequente dos seus templos, o seja por falta de transparência, omissão de factos relatados no Evangelho e da conduta menos assertiva de padres que conheci . Também hora já tardia para o Papa alterar para quem o quiser a possibilidade de casar. Fatores a negligenciar para não a educar na frequência da catequese e até no ato de rezar. Porém, ela própria fez a sua escolha, aprendeu as rezas e nos fins de semana em deslocação a Ansião, apesar do tempo escasso e com dois filhos muito pequenos, 2 e 3 anos, tem ido à Missa com eles para irem ver o Jesus...Só posso e devo ficar grata!
Fez uma boa escolha!
Mas ela, a minha única filha querida, mulher de bom senso e virtudes, só pode ser filha de Deus!
O Vicente com 3 anos e a Laura com 2 já este ano na minha casa de Almada onde tenho uma foto da mãe deles com um ano de idade, junto a uma imagem da Rainha Santa Isabel, que me foi oferecida quando fiz 50 anos e ainda um Menino Jesus deitado numa almofadinha, onde me respondem  prazenteiros em uníssono - é o Jesus!

Conheci o Sr. Arcipreste no tempo em que a  missa era em latim, no altar mor
Está sepultado no cemitério de Ansião

As Memórias Paroquiais Setecentistas «(...) A resposta do pároco da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Ansião de 1758, perdeu-se...»Ou nunca chegou, pois naquele tempo os mensageiros de correio se dividiam em etapas nas estradas principais com entrega e recebimento e até chegar ao destino sofriam assaltos, intempéries de chuva e vento e ainda atolados a passar ribeiras e lama, muitas cartas  se perderam, ainda assim bem pode estar arquivada na Torre do Tombo junto a outra terra; Ança, não é a primeira vez que tal erro crasso se verifica. O mesmo aconteceu com o Foral de Ansião, recentemente encontrado, apesar de não conter todos os fólios.
Por certo aquando da passagem dos desertores do Buçaco em outubro de 1810 nesta Igreja Matriz fizerem estragos e a saquearam, mas disso não há conhecimento, e o chão foi alterado para madeira perdendo a sua identidade primitiva, falta ver o chão da capela mor. Já na Capela da Misericórdia fizeram duas fogueiras, disso resistem as  marcas no lajeado de pedra onde o roubo de instrumentos em prata foi perentória.
Em 1911 deu-se a separação da Igreja e do Estado, em Ansião a documentação foi entregue ao Estado que a arquivou no Tribunal, mas em 1937 sofreu um incêndio e perdeu-se.
É muita infelicidade para Ansião tanta perca documental do seu passado!

                                        Espaço Museológico de arte sacra em Ansião
Merece atenção a missão autárquica ter um olhar sobre o que faz falta em Ansião!
Um Museu!
Legitimar o passado e o que de valor ainda existe em dever de coligação da Autarquia com a Igreja  em dar as mãos para vire a ser dedicado uma ala à religiosidade do seu povo, à sua arte sacra, desde sempre apanágio marcante desta região, assim como outras alas; Fotografia antiga das suas gentes, costumes e tradições. Em lugar seguro, porque ladrões andam sempre na mira do alheio, mas sobretudo para serem conhecidas e valorizadas em porta aberta ao turismo!
Se para isso houver forte vontade, da paróquia acredito que sim e do Sr. Bispo de Coimbra também, bem se poderiam candidatar no âmbito da Regeneração Urbana, estabelecendo para isso protocolo a Igreja com o Município de Ansião e o Instituto Politécnico de Tomar para recuperar Imagens - Nossa Senhora d'Ó; Nossa Senhora do Rosário; S. Nicolau Tolentino; S. Roque entre  outras  e ainda as que se encontram espalhadas pelas paróquias em igual estado e outras em agonia e penúria...

 
FONTES
Livro de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas
Jornal A Regeneração de Figueiró dos Vinhos de 15 de julho de 1958.
Mensagens do Padre Manuel Ventura Pinho

Livro do Padre José Eduardo Coutinho 

http://viajandonotempo.blogs.sapo.pt/8494.html
Wikipédia
https://student.dei.uc.pt/~bmelo/noronha.html
http://ansianensesilustres.blogs.sapo.pt/1791.html 
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/14444
/1/A%20hierarquia%20da%20Igreja%20e%20o%20liberalismo.pdf
Revista Portuguesa de História Vol 2 pág 237
Livro da Confraria do Santíssimo Sacramento 
Uma foto goole 
Uma foto Memórias de Ansião de Américo Antunes

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