segunda-feira, 27 de abril de 2020

Padre José Rodrigues Portela do Casal de S Braz

Para não se perderem as memórias dos Lugares e das suas gentes
Casa do padre Portela ao alto do Casal de S Braz
Quando soube que esta linda casa tinha sido do Padre Portela, avassalou-me o espírito perceber porque razão o Dr Manuel Dias, historiador, nascido mais acima nas Manguinhas, aqui passou por certo tanta vez para jamais ter aprofundado a vida deste padre , afinal seu vizinho...
A falta deste perspicaz e curioso estar determinou no tempo o esquecimento do que foram as suas gentes, e não devia.Encontrei em 1866 o seu registo como Irmão da Irmandade do Santíssimo Sacramento de Ansião. Tinha interpretado na caligrafia Casal das Sousas... O conterrâneo Armando Duarte  teceu comentário que transcrevo « sobre a reprodução fotográfica da assinatura revela que é do Casal S. Brás, e não do Casal das Sousas. Habituado a ler estes documentos, não tenho dúvidas do que está reproduzido. » A quem se agradece o carinho e a atenção e o rigor que a história nos deve merecer, e me falhou, por não ter a perspicácia neste tipo de documentação.
A casa é bastante antiga, de gente abastada, com  lagar e propriedades.
Filho único de estranhar o terem mandado para o seminário, e assim ficar sem descendência para tanta riqueza. A casa permanece quase intacta, de sobrado, típica traça judaica, com balcão telhado e varandim em ferro, de grandes janelas em guilhotina, e por baixo porta para arrecadações, mui castiça.
Cortesia do Raul Botas 
Hoje a casa que foi do Padre Rodrigues Portela hoje de herdeiros da Srª D Augusta
O Padre Portela era filho único de Manuel Rodrigues Portela e de Ana Marques da Conceição. Família  rica, com muitos terrenos, a maior parte do Casal S. Brás, era do padre. O meu avô materno ( e julgo que o seu pai),assim como a minha avó eram empregados do padre; o meu avô era o boieiro. Como sabe, naquela altura não havia tractores e como o padre tinha muitos terrenos tinha duas juntas de bois era o meu avô( Augusto Mendes Gaspar) o cuidador das terras . O curral dos bois era no espaço contíguo onde actualmente é a minha casa e onde havia um Lagar de Azeite (de varas) e onde ainda se encontram as pedras das prensas. Por morte do padre, como não tinha herdeiros, todos os bens foram "deixados" à governanta e quando da sua morte , cerca de 30 anos após a do padre, os bens ficaram para os empregados , não sei se por vontade própria da governanta se por ordem expressa do padre. foi assim que os bens  ficaram na posse da minha família. Resta acrescentar que a governanta,era madrinha de baptismo de minha MÃE, e de algumas das minhas tias.
Nesta casa viveram os meus avós e nasceu a minha mãe e seus irmãos. Morou lá a minha avó até 1992, ano do seu falecimento o Sr. Mário Tomé e D. Augusta, sua esposa. Já morreram os dois há alguns anos. Essa parte da casa pertence actualmente a um primo meu e a outra parte à minha tia, irmã da minha mãe, ainda viva.   

Eira antiga em pedra
Grande, de chão lajeado, seguramente dos finais da centúria de 500 com a casita de apoio em local altaneiro onde o sol, se fina mais tarde , sobre o lintel  a meia lua  em laje cerâmica.Amei.
A imagem pode conter: árvore, relva, planta, céu, ar livre e natureza
Lageado do chão da eira
O pôr do sol é fantástico...
Apelido Portella em Ansião
Em 1833 aparece um registo de uma mulher Feio Portela .O meu bisavô paterno Elias da Cruz nascido a 2 de junho de 1881 o seu padrinho de batismo foi Anastácio Rodrigues Portella, escrivão da administração do concelho de Ansião e madrinha Maria da Conceição Feio Portella.
O apelido Portela se tenha perdido em Ansião (?) o investigador Dr Miguel Portela com raízes no Alvorge e Figueiró dos Vinhos, sem saber se existe costado.
O padre usou também o apelido Rodrigues, dos mais antigos em Ansião e nos Casais, o mesmo do meu compadre que nasceu a escassos 15 metros desta casa, pese não o ter dado ao seu filho, porque o seu pai deixou de usar o Tomé, alusivo à imigração para S Tomé e Príncipe no final do século XIX para trabalharem como capatazes nas roças de café. Por uma qualquer razão familiar não abonatória, optou pelo apelido Moreira do seu lado materno. Prova inequívoca qualquer pretexto ou razão servia até aos meados do século XX para de livre vontade se alterar a contento o apelido do pai herdado a dar aos filhos .Nesse pressuposto o meu genro devia ser Rodrigues Tomé e é Moreira, e no mesmo os meus netos.

O Padre Portela paroquiou a igreja da Torre de Vale Todos e depois Ansião nos finais do século XIX. Excerto de acta municipal, transcrita pelo Dr Manuel Dias, nos Ilustres Ansianenses sobre o Dr Domingos Botelho de Queiroz  

«(...)Uma outra obra, que se ficou a dever, igualmente, a este insigne medico Dr Domingos Botelho de Queiroz, ainda na década de 1890 , foi o alargamento do cemitério de Ansião, após a compra de um terreno confinante com o mesmo - Um olival chamado o S. Lourenço. 
Compra essa que voltou a estar na origem  de várias acusações a imprensa contra o Dr Botelho de Queiroz.»

«(...) tinha sido acusado de usurpar terrenos públicos e profanar sepulturas (...)

« (...) conceder licença ao Dr Domingos Botelho de Queiroz para rectificar e alinhar  o muro do seu quintal, junto da rua Direita desta vila.»

(Para mim a defesa bem alicerçada para sair ganhador o médico ) do Pároco José Rodrigues Portella a 4.12.1895, que o tinha já casado em Ansião

« (...)  1º não me consta que o terreno com oliveiras , próximo do cemitério d'esta vila, cujo domínio útil V. comprou a José Maria Pereira de Carvalho tivesse vedação ou signal que indicasse ter sido destinado a enterramento de cadáveres;
2º que esse terreno é considerado profanado há mais de 40 anos;
3º que não podendo precisar o ano, mas em 1879, pouco mais ou menos, anos antes de V. fazer a compra, ao poente do cemitério vi, em uma escavação, que tinha sido feita quando se construiu a estrada próxima , ossos humanos,que mandei remover para o cemitério;
4º que a parte do dito terreno com que, há anos, foi ampliado o cemitério, foi comprada pela Junta da Paroquia desta freguesia ao falecido José Maria Carvalho, sendo presidente da mesma Junta Manuel Freire dos Santos.»

« (...) o Dr Domingos Botelho de Queiroz era um grande proprietário dentro e nos limites da vila de Ansião.»

« (...) talvez tenha sido esse um dos motivos por que colaborou no alargamento do cemitério e de algumas ruas na vila. »

A venda em haste pública dos bens afectos ao Mosteiro de Santa Cruz beneficiou directa e indirectamente a família e o próprio  médico Dr Domingos Botelho de Queiroz, ao adquirir  dentro e fora da vila , terras do Mosteiro e a particulares. O imbróglio  refere-se a uma grande quinta com limite a poente com a estrada real, a norte a margem da ribeira do Nabão, a nascente a Rua Direita,  e a sul o baldio do Ribeiro da Vide, estando na mesma inserido  o cemitério medieval, para  ali voltar em 1875 até hoje, conforme ostenta o portão de ferro. O médico mandou murar a quinta a poente a entestar com o caminho, ainda recordo os altos muros, onde foram encontradas ossadas humanas gerando  grande confusão no povo a sua profanação. Este mau estar foi solucionado pela  Junta da Paroquia ao adquirir essa fasquia de  terreno com barreira natural alta com a estrada real onde se veio a construir a capela e ao lado, a sul,  foram construídos o jazigo da família do Dr Domingos Botelho e o do cunhado Dr Alberto Lima. Portanto aventa tratar-se de acordo entre cavalheiros, em que as partes saíram satisfeitas.  Agora a certeza se colaborou assim tão bem com as expropriações para abertura de novas acessibilidades, ao Fundo da Rua e Rua Combatentes Grande Guerra, não acredito, embora logo o viesse a beneficiar com a venda de lotes a entestar essas vias. Mais tarde outra expropriação  da vila, para o Ribeiro da Vide, esta sim,  onde ficou atestado na toponímia...Já tinha passado um mau bocado com intrigas do povo não sendo letrado, sem o ser destituído, enxergava longe  os ganhos só para alguns e o médico neles incluído, e claro  não aprovava...

O Padre Portela, que tanto o defendeu  não foi atestado na toponímia !
Antes de o adro ter sido calcetado nos finais de 60, inicio de 70, havia uma pedra sepulcral na entrada do portal da igreja descarnada do saibro, mas não recordo que tivesse inscrição. Assim, e a não ter ficado no adro  de quem seria  a sepultura - se deste padre ou de outro. 
A sua sepultura está no passeio público quase logo na entrada do cemitério de Ansião. Faleceu a 7 de fevereiro de 1912 e o assento diz que foi no cemitério publico. O povo dizia que foi sepultado no adro da matriz , defronte do portal, ainda recordo o saibro descarnado da pedra. Debalde a laje do cemitério não é a mesma,  que se encontra no passeio público do cemitério. Alvitra que a  laje que se encontrava no adro foi de outra pessoa.
Desconheço se teve oratório em casa ou vinha rezar à capela de S Brás

2 comentários:

  1. Bom dia! Vai desculpar-me, mas a reprodução fotográfica da assinatura revela que é do Casal S. Brás, e não do Casal das Sousas. Habituado a ler estes documentos, não tenho dúvidas do que está reproduzido. As melhores saudações! Armando Duarte

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